Uma nova Ordem



Já era tarde quando Harry, Ron e Hermione chegaram ao largo Grimmauld para um merecido descanso. Foram recebidos por Lupin, que estava lendo tranqüilamente na sala uma última revista sobre a Copa Mundial de Quadribol, enquanto Tonks, agora adormecida, colava suas figurinhas no álbum com o mesmo tema.

- Muito bem, quem irá me contar o que aconteceu? De onde vocês vieram? Estão péssimos, parece até que rolaram na terra.

- Mais ou menos isso - disse Ron, e Lupin continuou olhando sem entender, esperando uma resposta mais conclusiva. Harry continuava sem falar, mas desta vez sentiu que precisava ser ele o portador da notícia.

- Resumindo, fomos à Godric's Hollow e descobrimos que os Comensais gostam de fazer festinhas na casa que era dos meus pais e, além disso, também se divertem removendo seus corpos do lugar.

Lupin ficou aterrorizado.

- Remover seus corpos...? Corpos de quem? Não vai me dizer que eles...

- Sim - interrompeu Harry - Eles removeram os corpos dos meus pais do cemitério onde estavam enterrados. E no lugar deixaram isto.

Harry estendeu a mão e a abriu, mostrando um medalhão muito antigo, mas indiscutivelmente original, que pertenceu à família Black. Lupin olhou aterrorizado e, fechando a mão de Harry novamente, disse:

- Vocês estão muito cansados hoje. Creio que uma noite de sono ajudará e amanhã poderemos saber a história inteira. Vamos, subam, seus quartos ainda estão arrumados. Apenas tomem cuidado para não acordar ninguém. Eu vou ficar por aqui mesmo - estou sem sono. E Harry - disse, interrompendo a subida dos garotos - Procure dormir MESMO.

Harry, Ron e Hermione subiram devagar as escadas e chegaram aos seus quartos. Se despediram com um "boa noite" sussurrado e entraram. Harry sentou-se na cama e colocou o medalhão sobre o criado-mudo. Quisera nunca tê-lo encontrado. Adormeceu antes mesmo de se lembrar o que aquilo significava.



Os passarinhos já cantavam quando Harry começou a despertar sentindo algo estranho em seu rosto. Quando levantou e colocou seus óculos, viu que era Gina lhe acordando com um beijo, enquanto Edwiges piava de felicidade na janela. O sorriso da menina fez Harry esquecer todos os problemas que tinha e se concentrar apenas em dizer o quanto estava feliz por ela estar ali.

- Puxa, finalmente você acordou! Ou será que estava fingindo...? - disse Gina, arrumando a franja de Harry.

- Quem dera estivesse fingindo - ele riu - Mas estava dormindo mesmo.

- Ainda bem que está aqui. Todos sentiram a sua falta.

Os dois se olharam com carinho, até que foram interrompidos pelos gritos de Molly chamando-os pela milésima vez para almoçar.

- Almoçar?! - disse Harry, espantado - Que horas são?

- Não importa - disse Gina, rindo - Você precisava descansar, então mamãe deixou que você ficasse dormindo até mais tarde. Mas acho que agora você tem que descer e falar com o pessoal, parecem todos bem ansiosos. O que aconteceu?

- É uma longa história... Mas creio que depois do almoço uma conversa resolverá tudo.

Os dois desceram correndo para evitar outro grito da sra. Weasley sobre o almoço esfriar ou coisas do tipo, e Harry tremeu quando Gina segurou em sua cintura enquanto desciam.

- Gina, eu...

- Eu sei! - disse ela - Mas você não pode me obrigar a deixar de gostar de você. Estava com saudades, só isso.

Os dois ficaram encabulados e Harry sorriu, lembrando que deveriam ir para a mesa almoçar. A cozinha estava cheia de gente. Hermione parecia acordada há horas, enquanto Ron tinha a mesma cara de sono que ele. A sra. Weasley logo arrumou lugar para os dois sentarem e todos pareceram satisfeitos - provavelmente estavam esperando Harry levantar há um bom tempo e, agora, finalmente matavam a fome. Todos pareciam felizes com a volta do trio, exceto Lupin, que sabia vagamente o que tinha acontecido. Quando terminaram de almoçar, Lupin sugeriu a todos que fossem para a sala para que os três contassem o que fizeram durante o período em que ficaram longe. Harry e Hermione se olharam, ficando claro no olhar da amiga que ele deveria ser forte naquele momento para recapitular o que aconteceu.

Todos foram para a sala e, lentamente, Harry contou o que passaram na vila em que morreram seus pais. Era ocasionalmente interrompido por gemidos e exclamações diversas da sra. Weasley, que a essa altura já estava desabando de tanto chorar, em meio a frases como "isso é tão cruel" ou "eles não mereciam uma coisa dessas".

- Então é isso - disse Harry, concluindo a história nitidamente perturbado - E aqui está o medalhão da família Black, o horcrux original.

Todos se inclinaram para olhar o objeto, que foi passando de mãos em mãos. Arthur perguntou:

- E o que pensa fazer com ele, Harry?

- Não sei. Devo destruí-lo, mas não sei como.

- Não sabemos nem quem é R.A.B. - interrompeu Hermione - Talvez, se soubéssemos, teríamos alguma dica.

Todos pareceram concordar. Mas como descobrir quem era essa pessoa, ou essas pessoas? Não tinham a menor idéia do que se tratava. Enquanto Harry se perdia com os pensamentos, iniciou-se uma grande discussão para tentar descobrir o paradeiro dos corpos de Lilian e Tiago. Ninguém imaginava o que Voldemort queria com os corpos, e onde estariam agora. Tudo o que sabiam é que tinha sido provavelmente o ato mais cruel que ele poderia ter feito até então.

- Chega, CHEGA! - gritou Lupin levantando no meio da discussão - Isso aqui está uma bagunça sem... Desculpem, mas isso está uma bagunça sem Dumbledore.

Todos abaixaram a cabeça tristes. Estavam evitando, desde sua morte, falar sobre o que aconteceu. Harry despertou de seus pensamentos e prestou atenção em cada um deles. A sra. Weasley continuava chorando, mas não era a única - de repente, todos estavam com lágrimas nos olhos.

- Harry... - disse Lupin, colocando a mão em seu ombro - Você era provavelmente uma pessoa a quem Dumbledore amava e confiava. Acho justo e, se todos concordarem, acho que você deveria ser o novo chefe da Ordem.

Harry olhou assustado para Lupin e, em seguida, para todos os outros.

- E-eu? Não, mas, não posso... Quer dizer...

- Harry, você já provou ser capaz. Muito mais capaz do que qualquer um de nós aqui.

- É uma grande responsabilidade - disse a sra. Weasley.

- E tenho certeza de que ele dará conta - retrucou Arthur.

- Mas...

- Harry, você sabe que isso é o correto. Você aceita?

Harry olhou para todos os rostos que agora olhavam em sua direção com extrema expectativa. Ele não sabia o que fazer. Achava que estavam lhe conferindo uma responsabilidade muito grande, maior do que poderia imaginar. Não sabia se deveria aceitar ou não, mas então lembrou de Dumbledore na caverna, quando disse:

- Não estou com medo. Estou com você.

E, apesar de ter falhado, sabia que o professor confiava muito nele. Sabia que era um cargo de grande importância, mas sentiu, repentinamente, que aquilo era o certo a ser feito. Então, respirando fundo e tomando toda a coragem do mundo, ele disse:

- Está bem. Eu aceito.

As mãos de Lupin apertaram seu ombro com força e ele fechou os olhos, satisfeito pela decisão do garoto.

- Bem, então qual é a primeira decisão do novo chefe da Ordem da Fênix?

Harry não precisou pensar muito para chegar à conclusão.

- Vamos procurar mais nesta casa sobre o medalhão. Se ele era da família Black, encontraremos algo aqui.

Todos concordaram e imediatamente se separaram para procurar qualquer pista que remetesse ao objeto ou à família Black. Qualquer informação poderia ser útil. Vasculharam a casa toda até tarde, em vão, pois nada encontraram. Já passara da meia-noite quando resolveram dormir e descansar para a longa jornada no dia seguinte. Harry, Gina, Hermione e Ron foram para o quarto de Harry, onde ficaram conversando sobre os acontecimentos até adormecerem.

O sol da manhã seguinte entrou logo pela janela acordando Hermione, que dormira sem querer no colo de Ron, que também despertara. Ambos levantaram cruzando olhares encabulados, mas fingindo que nada tinha acontecido. Com exceção dos cabelos embaraçados de Hermione e o fato de estarem com as roupas do dia anterior, ninguém desconfiaria que adormeceram juntos. Gina também adormecera ali, ao lado da cama de Harry, e este ainda dormia com o braço para fora da cama, como se tivesse feito carinho nos cabelos da menina durante a noite inteira. Harry e Hermione saíram em silêncio do quarto e ficaram felizes que ninguém os tenha visto. Cada um foi para o seu aposento se preparar para o café que Molly já preparava na cozinha, segundo o barulho de talheres e pratos.

Gina logo depois também levantou e, beijando os cabelos de Harry, saiu do quarto para se trocar. Harry continuou dormindo até ser acordado por Lupin, que parecia nem ao menos ter dormido.

- Harry, Harry, acorde, por favor.

- Ãhn, o que, ah... - Harry sentou-se na cama colocando os óculos e olhando para Remus, que parecia extasiado.

- Encontrei, Harry, encontrei!

- O quê?

Lupin colocou um enorme livro velho no colo de Harry, cheio de recortes de jornais de anos atrás. Em um deles, Harry leu a nota:

"Fora encontrado morto esta manhã o sr. Regulus Arcturus Black, herdeiro da antiga e tradicional família Black. Aparentemente, ele foi vítima da maldição mortal, mas é desconhecido seu assassino. O Ministério continua investigando o caso. O Profeta Diário lamenta esta terrível morte e deseja à família Black os nossos sinceros pésames."

- Mas... Regulus é o irmão do Sirius!

- Sim, Harry. E veja a data da morte: 31 de outubro de 1981.

- O que... Isso quer dizer?

- Regulus foi assassinado no mesmo dia que os seus pais.

- Mas então...

- Sim, Harry - disse Lupin calmamente - Voldemort pode ter matado Regulus para fazer um horcrux.

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