Di Lua



- Neville, tenha calma, as pessoas...

- NÃO! Eu não me importo! – gritou o garoto, interrompendo Hermione – Eu vou matá-lo! Eu vou matá-lo!

Harry e Ron seguraram Neville, que estava desesperado e começou a correr em direção ao nada. Todas as pessoas em volta olhavam espantadas. Algumas comentavam baixinho, outras exclamavam frases como “que horror” ou “como pode”. Harry não teve outra alternativa.

- Vamos levá-lo daqui.

- Eu não vou para lugar nenhum! – gritou Neville – Quero ficar com a minha avó!

- Neville, ela... – Harry suspirou antes de dizer, segurando os braços do amigo – Ela está morta. Não adianta ficar aqui. Vamos embora, essas pessoas... Você nem as conhece. Somos seus amigos, estamos aqui com você. Venha, vamos, você pode ficar em casa por enquanto.

Neville ainda tinha lágrimas nos olhos, e durante alguns segundos fitou seus sapatos, agora cheios de lama do jardim. Tinha chovido durante a manhã e agora o tempo parecia fechar novamente. Ele levantou a cabeça e se viu sozinho no mundo. Sua avó tinha ido embora, seus pais não o reconheciam e ele não sabia quem eram aquelas pessoas em sua casa. Sentiu a mão de Harry em seu ombro e percebeu que, ao menos, tinha amigos que estavam com ele. Respirando profundamente, virou-se e disse:

- Vou pegar o Trevo.

Harry, Ron, Gina e Hermione sorriram. A situação era desesperadora, mas estavam juntos e esse era o fio da esperança. Em poucos minutos, Neville voltou com o sapo no bolso e determinado a seguir adiante.

- Vamos? – disse, abrindo um sorriso.

Todos olharam satisfeitos por verem Neville melhor. Harry e o garoto trocaram um olhar de cumplicidade e, depois de alguns segundos, saíram pelo mesmo caminho florido que agora os levava para fora da casa dos Longbottom.





Ao chegarem ao largo Grimmauld, os garotos contam a todos o que aconteceu com a avó de Neville e, depois da janta, todos concordaram que seria melhor que eles descansassem. Ron e Harry acharam melhor colocar todas as camas no quarto de Sirius, que agora pertencia à Harry, e deram uma rápida explicação a Neville sobre o que era a Ordem enquanto arrumavam os lençóis. Agora que eram maiores de idade e poderiam fazer magia fora da escola, as tarefas domésticas tinham ficado mais fáceis. Ao terminarem, Neville deitou em seu colchão ao lado da cama de Rony e começou a folhear o álbum de figurinhas do Campeonato Mundial de Quadribol que Tonks tão animadamente completara. Ron tinha ido ao banheiro e Harry estava vestindo suas meias quando Neville lhe chamou.

- Harry.

- Ãhn?

- Obrigada. Por me deixar ficar aqui, sabe?

- De nada. Você pode ficar aqui o quanto quiser.

- Fico feliz de ter amigos como você, Rony e Hermione – levantou-se, sentando-se ao lado de Harry – Você me promete uma coisa?

- Er... Claro. O quê?

- Deixar que eu ajude você a matar Voldemort – Harry abriu a boca para falar algo, mas Neville fez um sinal para que não falasse nada - Não tenho escolha.

Harry engoliu seco. Neville sabia dos planos a respeito de Voldemort e era inevitável tê-lo sempre com eles de agora em diante. Depois de tudo o que lhe aconteceu, não pdoeria negar. Sua resposta positiva resultou em um abraço do amigo, que depois deitou-se e dormiu como uma criança. Harry desceu e contou a Lupin o que acontecera no hospital e sobre os pais de Neville. Depois da morte de Sirius e Dumbledore, ele era a pessoa em que mais se apoiava, na Ordem da Fênix.

- O que você acha que está acontecendo, Harry? – perguntou Lupin, após o garoto lhe contar tudo o que acontecera.

- Não sei. Não tenho idéia. Vamos conversar com a professora Minerva amanhã, ainda precisamos destruir o medalhão.

- Você precisa, Harry.

- Como assim?

- Sabe, Harry... – disse Lupin, se ajeitando na poltrona mal iluminada da sala – Você tem bons amigos que estão com você. Fico feliz que me considera um deles – disse, sorrindo – Mas há certas coisas que você deve fazer sozinho. Sua vitória sobre Voldemort beneficiará todo o mundo bruxo, mas é algo que cabe a você. Nós podemos ajudar, Harry, e certamente iremos. Mas é algo seu. Somente você sabe as razões para acabar com Voldemort. Acredito que o destino deste medalhão deva ser somente seu por direito.

Após terminar a conversa, Harry absorveu cada palavra dita por Remo naquela noite. Sabia o que o amigo quis lhe dizer, pois ele pensava nisso o tempo todo. Passou a noite em claro olhando as estrelas pela janela e esperando que elas pudessem lhe dar as respostas que ele procurava.





A chuva decidiu voltar na manhã seguinte, mas nada impediria o regresso dos quatro estudantes a Hogwarts. Mesmo contrariada, Gina resolveu ficar com seus pais e aguardar notícias. Não poderiam viajar de outra maneira, a não ser de trem, pois todas as lareiras estavam sendo vigiadas e o pó de flu se tornou artigo ilegal no Beco Diagonal. Eram tempos difíceis. Ao chegarem na estação, passaram pela plataforma 9 e ½ e entraram no expresso para Hogwarts. Ao contrário das vezes em que estavam lá nos outros anos, o trem estava vazio. Estavam presentes, além deles, apenas algumas pessoas que ficariam em Hogsmeade, mas mesmo assim não contavam mais de vinte.

- É triste mesmo. E pensar que, neste mesmo horário, o trem poderia estar cheio de estudantes e, há tão pouco tempo, estávamos preocupados com o que o Malfoy poderia estar aprontando.

- Pois é, Mione – disse Harry, sentando-se – E mesmo assim ele aprontou, não é mesmo?

Todos deram com os ombros, esperando o trem partir. Estava frio, o tempo chuvoso e os casacos e cachecóis pareciam não ser o suficiente. Passando a mão no vidro que estava embaçado, Rony levou um susto ao ver uma enorme coruja marrom do lado de fora, com um pergaminho no bico.

- AI!

- Que foi? – perguntou Neville, já olhando para a janela e vendo o porque de tanto susto.

- Uma coruja! Deixem-na entrar! – disse Harry – Abram a janela, rápido, o trem já vai sair!

Ao abrirem a janela, a coruja despencou no colo de Rony, meio tonta e totalmente encharcada. Trazia no bico um pequeno pergaminho, sem endereçar a ninguém. Confusos, esperaram Harry abrir e ler em voz alta:



“Não desconfiariam de algo tão óbvio quanto uma coruja, não é mesmo?

Cada passo de vocês está sendo marcado. E eu estarei aí antes mesmo que qualquer um possa respirar.”



Os quatro olharam assustados.

- O quê? Mas... O QUE É ISSO? – disse Ron, engasgando com um feijãozinho que tinha acabado de colocar na boca.

- Quem sabe que iríamos a Hogwarts? – perguntou Hermione, desesperada – Neville, você contou a alguém?

- Eu não, não falei com ninguém, só com vocês!

O trem tinha dado seu último apito e começava a andar em direção a Hogwarts. A viagem era longa e agora eles tinham esse pequeno enigma para resolverem. Não tinham a menor idéia de quem poderia ter enviado aquela coruja, mas algo era certo: coisa boa não era.

Estavam discutindo todas as possibilidades quando escutaram um baque no mesmo vagão em que estavam. Por alguns segundos, Hermione deu um sermão sobre terem escolhido um vagão vazio e o perigo de estarem isolados caso alguma coisa acontecesse.

- Ssssh! – disse Harry aos outros – Escutei alguma coisa. NOX!

Todos ficaram quietos e apagaram a luz do gabinete onde estavam. Ron lamentou-se infinitamente por não ter trazido as orelhas extensíveis de Fred e Jorge, pois lhe seriam muito úteis agora. Parecia que alguém estava entrando no vagão, vindo do outro. Bem baixinho, mas perfeitamente audível, escutaram:

- Muito obrigada, senhor. Eu me viro por aqui!

Harry olhou para os outros três e disse:

- Eu conheço essa voz!

Sem ao menos dar tempo de todos respirarem, uma figura parou na porta do gabinete, olhando curiosa pelo vidro. Todos reconheceram na hora e respiraram aliviados.

- LUNA!

A porta se abriu em meio a gritos de “lumos” e tudo ficou claro novamente.

- Ah, vejo que receberam a minha coruja – ela disse – Esta é Plitz, a coruja de meu pai. Peguei emprestada depois que a minha... Bem, deixa pra lá! Harry, você está mais alto! Ron, nossa! Puxa vida! – Hermione olhava sem graça para uma empolgada Luna – E quem mais? Neville, que bom! Hermione!

- Ta, mas espera aí – disse Hermione, acabando com a festa – Como você sabia que estávamos indo para Hogwarts?

Todos pararam de sorrir repentinamente e olharam para Luna esperando uma resposta.

- Oras, como assim? Depois dizem que a maluca sou eu... – disse ela, rindo – Nós estudamos em Hogwarts, Hermione. Es-tu-da-mos. Fazemos isso todos os anos.

- Mas Hogwarts não vai abrir este ano – disse Hermione, ainda desconfiada – Vai dizer que você não sabia?

- Ah, claro que eu tinha ouvido falar nisso, mas não acreditei. Sabem como é, não? Papai sempre me conta sobre as conspirações do Ministério sobre todos os assuntos. Se eles disseram que Hogwarts ia fechar, era para evitar que os alunos fossem. Mas eles não me enganam! Sei que Hogwarts abrirá novamente apenas para os espertos como nós.

Ela não parecia estar mentindo e, conhecendo-a como conheciam, puderam ter certeza. A viagem prosseguiu com Harry contando a todos quais seriam seus planos. Deveriam chegar a Hogwarts e perguntar à professora McGonagall tudo o que ela poderia saber sobre Tom Riddle. Qualquer informação que tivessem era melhor do que nada. Além disso, tinham sérias desconfianças de que Voldemort poderia ter escondido um de seus horcruxes na escola, enquanto ainda estudava lá. Na Câmara Secreta, talvez. Ou quando Draco entrou com os Comensais. Eram muitas as possibilidades, e todas foram discutidas durante a viagem. Ao chegarem em Hogsmeade, mandaram Edwiges levar a mensagem para a professora avisando que estavam chegando, mas ao chegar na escola Hagrid estava lá para recebê-los.

- Oh, Harry, Ron, Mione! Que bom vê-los novamente! E vejam só quem também está aqui, o jovem Longbottom e minha querida aluna Lovegood! Vamos, vamos, ainda está chovendo forte. A professora McGonagall os aguarda no salão principal.

A escola nunca estivera tão vazia. O clima frio de fato ajudara a compor o ambiente triste, mas eles nunca tinham entrado no salão principal sem todo aquela multidão de estudantes e o clima aconchegante com as mesas repletas de comida. Agora, tudo o que restava era uma mesa com alguns pratos e uma solitária McGonagall esperando-os para jantar. Junto a ela estavam o zelador Filch e a professora Trewlaney.

A professora McGonagall os fitou com tristeza nos olhos e os recebeu sem calor, convidando-os para sentar e jantarem. Todos ficaram em silêncio, até Hagrid quebrar o clima contando que Grope já estava até levando comida a Aragogue.

- Ah, não, Rony, as aranhas não o mordem. Elas sequer pensam em chegar perto do Gropinho. Ele parece ser muito simpático com elas.

Harry e Ron trocaram olhares imaginando o quão simpático deveria ser o irmão gigante de Hagrid com aquelas aranhas. Quando todos terminaram, Minerva chamou Harry para conversar em sua sala, que antes pertencera a Dumbledore. Os outros subiram para seus quartos, já arrumados pelos elfos de Hogwarts. Harry notou quando Rony segurou Hermione na escada, depois de um escorregão, e sorriu.

- Geléia de lesma! - disse a professora McGonagall, e a escada com a enorme fênix se abrira para que os dois pudessem entrar.

Foi difícil para Harry entrar na sala que antes pertencera a Dumbledore. Na verdade, tudo estava exatamente como era antes, com exceção de alguns artigos pessoais da nova diretora, que pouco interferiam no ambiente.

- Sei o que está pensando – ela disse – Preferi deixar assim, para conservar a sala. Alvo Dumbledore pode ter ido embora, mas sempre estará aqui. Achei que esta era uma maneira de demonstrar minha crença nisso.

Harry sorriu para a professora e obedeceu quando ela fez um sinal para que ele se sentasse.

- E então?

A professora Minerva colocara a cabeça apoiada sobre as duas mãos na mesa, esperando uma explicação de Harry sobre o fato de estarem ali.

- E-então o quê?

- Por que vieram a Hogwarts? Suponho que tenham algum plano.

- Bom, sim, nós temos... Mas... – Harry titubeou. Eles tinham um plano sim, mas no momento parecia que ele não fazia muito sentido. Afinal, se a professora McGonagall tivesse algo importante a dizer, teria dito antes de perguntar a ele o que pretendiam – Bem, nós pensamos que... Talvez... A senhora pudesse nos ajudar, dar alguma dica, sobre o paradeiro dos horcruxes de Voldemort. Suspeitamos que aqui na escola possamos encontrar alguma coisa, porque aqui era como uma casa para Tom Riddle em sua época de estudante.

McGonagall continuou fitando Harry, que obviamente aguardava uma resposta. A situação já estava ficando angustiante quando ela tirou de uma gaveta um pedaço de pergaminho não muito velho, e desdobrou para que Harry lesse.

- Leia – ela disse.

Harry pegou a carta na mão e olhou novamente para a professora, até finalmente ler em voz alta o seu conteúdo:


“Minerva,

Creio que esta tenha sido a minha hora de partir. Deixo esta carta, pois ainda há muito a ser feito em minha ausência e cabe a você fazer grande parte. Acredito que fará um bom trabalho como a nova diretora de Hogwarts. Se me permite dizer, sugiro que escolha um vice-diretor à altura do que o colégio representa, mas confio a você tal escolha.

Há um pedido a mais que gostaria de lhe fazer e espero que não se incomode. Nós tivemos uma conversa há poucos dias de eu escrever este bilhete lhe contando sobre as providências tomadas por Voldemort para que não pudesse morrer. Eu lhe peço encarecidamente, Minerva, que ajude Harry Potter a encontrar o que procura. Leve-o à Sala dos Troféus.

Sem mais, e em paz,

Alvo Dumbledore”


Harry parecia não acreditar no que acabara de ler. Era uma carta de Dumbledore, escrita antes de ele morrer, mas já sabendo o que lhe aconteceria?

- O quê, mas, quando? Quando ele escreveu este bilhete?

- Bom, não sei ao certo – disse a professora, levantando-se da cadeira – Mas a conversa que ele cita nós tivemos dois dias antes de sua morte, então creio que tenha sido no mesmo período. Ele deixou a carta junto aos documentos que apenas os diretores de Hogwarts têm posse, pois isso garantiria que apenas eu pudesse ter acesso a ela. E eu só vi esta manhã, pois precisava tomar providências com relação à abertura da escola.

- A escola abrirá novamente? – perguntou Harry, surpreso mas contente.

- Creio que sim – disse a professora, não tão contente assim – Mas não este ano. O período de início das aulas já passou e, de qualquer forma, não acredito que os pais deixariam seus filhos estudarem aqui depois da morte de Dumbledore e com todos os acontecimentos recentes. Durante este tempo, esta pausa necessária, reformularemos todo o funcionamento da escola e planejaremos tudo conforme o necessário. Mas...

- Mas?

- Mas há providências mais importantes a serem tomadas antes, Potter. Vamos.

- Onde?

- Na Sala dos Troféus.

Harry já conhecia a Sala dos Troféus. Esteve lá no primeiro ano, conferindo os troféus ganhos pela Grifinória e vendo a foto de seu pai no time de Quadribol. Ao chegarem, a professora Minerva dirigiu-se a uma estante em especial. Harry estranhou a determinação da professora, mas logo a seguiu.

- Eu já estive aqui hoje, Potter, logo após ler a carta, e acredito que o que esteja procurando seja isto aqui.

Ela abriu a porta de vidro da estante com a varinha e trouxe às mãos de Harry um troféu muito antigo, feito de bronze, que levava o brasão de Hogwarts em sua cúpula. Ele olhou para o troféu sem entender, até perceber que, em sua base, havia uma inscrição bem fraca, quase apagada pelo tempo, em que estava escrito:


“Tom Marvolo Riddle
Por serviços prestados à escola”


- O quê? A senhora está me dizendo que Tom Riddle recebeu um troféu de serviços prestados a Hogwarts? Mas por quê?

- Quando a câmara secreta foi aberta pela primeira vez – disse Minerva, com lágrimas nos olhos – Todos acreditaram em Tom quando ele denunciou Hagrid como o responsável. E ele recebeu da escola este troféu, o mesmo que você e Ronald Weasley receberam por salvar Gina do basilisco, quando a câmara foi aberta outra vez - Harry passou os olhos por um troféu que estava na prateleira mais alta, com os seus nomes.

- E a senhora acha que este seja um horcrux de Voldemort? – a professora deu um gemido ao ouvir aquele nome em voz alta, ecoando pela sala vazia.

- Assim pensava, quando vim aqui esta manhã – ela disse – Mas foi aí que encontrei isto.

Ela mostrou a Harry a parte inferior do troféu, na base, onde existia uma mancha prateada.

- Mas isto é...

- Sangue de unicórnio – ela respondeu, aflita – Dumbledore havia dito sobre suas desconfianças de que não este troféu seja o horcrux, mas que ele seja uma pista de que o verdadeiro horcrux estivesse, na verdade, entre os unicórnios.

- Mas como pode? Na floresta negra?

- Sim. Dumbledore desconfiava que Voldemort o tivesse colocado lá quando veio em busca da pedra filosofal e matou uma série de unicórnios. O que mais me assusta, é o fato de ele ter marcado este troféu com o sangue aqui dentro, em Hogwarts.

- Quirrell!

- Exatamente. E, se ele fez isso, também é provável que queira que descobrissem o local onde o verdadeiro horcrux está escondido, o que não é nada bom, Potter. Deve haver algo extremamente perigoso nesse local, provavelmente para que a pessoa que tente pegá-lo não saia de lá com vida.

Harry virou o troféu mais uma vez para observá-lo, mas, de repente, sua cicatriz começou a queimar e ele pôs a mão na testa, reclamando de dor e se escorando na parede do castelo. As dores ficavam cada vez mais intensas e ninguém sabia exatamente porque aquilo estava acontecendo. A professora Minerva saiu correndo para chamar Madame Ponfrey e ordenou a Harry que não saísse de onde estava. Aos poucos, suas mãos foram ficando molhadas de sangue e sua visão foi desaparecendo. Em menos de três segundos, se viu deitado na grama do cemitério de Godric’s Hollow, com o rosto cheio de barro e os cabelos molhados pela chuva.

Em alguns instantes, Ron, Hermione, Luna e Neville aparataram ao seu lado e correram para lhe ajudar.

- Bem que a professora McGonagall disse que ele estava aqui, mas o que está acontecendo? – perguntou Neville, desesperado.

- Não sei, venham, vamos tirá-lo da chuva – disse Hermione – Vejam, tem uma árvore ali, vamos!

Os quatro carregaram Harry com cuidado. Ela estava semi-acordado e sua cicatriz sangrava como nunca antes. Ele estava fraco. Não sentia mais seus braços nem suas pernas. Sua visão estava embaçada. Os amigos o colocaram embaixo da árvore, mas grandes gotas ainda caíam em seu rosto. O forte vento frio o estava sufocando, e Harry sentiu que iria morrer. Não agüentava mais, queria dizer algo, mas ao mesmo tempo não sentiu nenhuma vontade de lutar contra a morte. Pensou em seus pais. A imagem dos dois sorrindo para ele contrastava com os gritos de seus amigos ao fundo, desesperados para que ele fosse salvo.

- Não vai dar, não vai dar! Precisamos de ajuda aqui!

- Não temos ajuda aqui! Vamos aparatar em Hogwarts de novo!

- Não vai dar, ele está muito ferido!

- Corra, Neville, encontre algumas ervas para darmos a ele!

Harry continuava vivo. Ele podia ouvir seus amigos, mas suas vozes estavam perdendo a potência e ficando cada vez mais baixas... Ele estava ali, no cemitério de Godric’s Hollow mais uma vez, sem saber exatamente porque, mas sabia que, ao menos, morreria no mesmo lugar em que seus pais morreram para lhe salvar. Era até irônico pensar que viveu dezessete anos para voltar ao mesmo lugar, como se nada mais tivesse importado. Tudo o que ele fez até agora, nada, nada tinha significado coisa alguma. Ele morreria ali, sem matar Voldemort, sem vingar seus pais, e tudo acabaria da mesma forma antes mesmo de começar.

- Ele está fechando os olhos!

- HARRY! Acorde, por favor, mantenha os olhos abertos!

A voz de Hermione fez os olhos de Harry abrirem novamente. E, a poucos metros dali, ele pôde ver uma figura que se aproximava caminhando lentamente. Sua visão estava embaçada e a chuva forte aumentava sua invisibilidade, mas à medida que foi chegando mais perto ele apertou os olhos para ver melhor e reconheceu a imagem de Severo Snape vindo em sua direção. E, nada mais lhe restando, ele simplesmente fechou os olhos e esperou ser levado embora desta vida para sempre.

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