Coiote de Prata



... O ruivo se deitou na cama e esfregou os olhos com força. Madame Zayra era uma vidente. “Qual relacionamento essa tal Zayra tem com a Mione?” ele pensou. Por que uma coisa era certa: Hermione havia ficado perturbada com a menção do nome dela pela manhã, e já o havia dito em voz alta, quando dormiram juntos no Largo Grimauld.


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Draco abriu os olhos lentamente quando sentiu um toque morno sobre sua testa.
Olhos cinzentos dele entraram e saíram de foco varias vezes até que ele reconhecesse a loira diante dele.

- Onde estou? – Ele perguntou com a voz falha.

- Na barraca novamente. – Astória respondeu retirando a toalha morna da testa do loiro. – Você estava desmaiado desde que chegou umas horas atrás.

- O que houve? – Ele perguntou sentindo o corpo dolorido.

- Dementadores atacaram, Harry os espantou e trouxe você de volta.

Com raiva, Draco constatou que sua vida havia sido salva outra vez por Harry Potter. Ele correu os olhos pelo quarto, havia chaleiras encantadas que cuspiam baforadas de ar quente de tempos em tempos, toalhas molhadas em água morna, velas flutuando pelo ar.

- Pra que isso tudo? – O sonserino perguntou afastando uma toalha molhada que Astória estava prestes a colocar sobre a testa dele.

- Você estava frio feito um cadáver desde que chegou, achei melhor te manter aquecido. – Ela respondeu corando de leve.

Penosamente Draco se forçou a sentar, sentindo dores no corpo inteiro ele conseguiu levantar o suficiente, mas quando as cobertas que o cobriam caíram ele percebeu que estava nu. Ele voltou a se deitar e puxou as cobertas para cima rapidamente.

- Por que estou pelado? – Draco perguntou tentando claramente esconder o embaraço na voz.

Astória até tentou esconder um sorrisinho. – Suas roupas estavam encharcadas então eu as tirei... Eu separei um conjunto de vestes limpas pra quando você acordasse. – Astória viu que ele ainda estava desconfortável. – Não precisa sentir vergonha... Não tem nada ai que eu não tenha visto na noite passada.

Draco definitivamente corou.

- Como foi que você as conseguiu? – Astória perguntou timidamente.

O sonserino olhou para a garota, confuso sem entender.

- As cicatrizes. – Astória completou claramente envergonhada da pergunta.

Ele ainda demorou vários segundos pra perceber do que ela estava falando, quando percebeu, afastou as cobertas o suficiente para revelar várias cicatrizes finas no peito e nos braços nus.

- Te assustam ou algo parecido? – Ele perguntou. Astória negou veemente com um aceno de cabeça. - Potter as fez. Há muito tempo atrás. – Draco sentenciou sombriamente.

Astória ficou assustada com a descoberta, mas preferiu ficar calada.

- Você deve estar cansada, devia deitar e tentar dormir. – falou Draco cobrindo-se novamente.

- Não, eu gostei de cuidar de você. Me mantem distraída. – Ela respondeu, levando a toalha morna em direção ao loiro mais uma vez.

- Por que você sempre tenta cuidar de mim, me defender? – Draco perguntou quando a toalha o alcançou.

- Você é tudo que me resta... Desde que meus pais... – A voz dela foi morrendo.

Draco tirou rápido a toalha da testa e rolou de qualquer jeito para o lado. – Vá dormir. Estou bem.

Astória estranhou o comportamento frio dele, ficou olhando alguns instantes, sem coragem para dizer mais nada ela deitou-se e tentou dormir.


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Rony correu apressado entre os corredores de mármore, ele estava sozinho e sentia excitação palpitando no coração. Ele subia sem nem ao menos notar, numa longa escada em espiral, cada vez mais alto, cada vez mais longe...
Ele parou de súbito.
Diante dele uma gigantesca porta feita de ouro maciço se erguia. Ele esticou o braço, a porta se abriu, um brilho intenso o cegou... Quando os olhos se acostumaram com a claridade uma sombra o engoliu...
Era como um enorme morcego o encobrindo, asas esqueléticas e negras que se estendiam a uma grande distanciam batiam lentamente voando na direção dele, uma voz fria e arranhada sussurrou lentamente.

- Me dê essa caixa, e ela não vai sair machucada.


 Ele ouviu com clareza a voz de Hermione gritando alto, um grito pavoroso de dor.


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Rony se ergueu de uma vez, estava deitado no quarto da barraca, de inicio ele se sentiu aliviado, tudo havia sido um sonho. Foi só quando ele percebeu que ainda ouvia os gritos de Hermione que ele notou que havia algo errado.
Ele saltou da cama e correu o mais depressa que pode, mancando dolorosamente sem as muletas, em direção dos gritos, que aparentemente vinham do lado de fora. Ele encontrou Hermione sentada no chão do lado de fora da barraca gritando expressando o que claramente parecia sofrimento.

- Mione! – Rony a agarrou pelos braços e a fez encará-lo, e foi com surpresa que ele viu que ela estava dormindo, gritando enquanto dormia sentada. Ele a balançou de leve, Hermione abriu os olhos e imediatamente parou de gritar.

- Rony? O que houve?

- Mione você estava gritando! – Ele falou quase tão apavorado quanto ela.

- Eu... Acho que adormeci... Tive outro pesadelo... – Ela balbuciou.

- Isso não são pesadelos normais Mione! – Rony exclamou. – Parecia que você estava em transe...

- Foi só um pesadelo Rony... Eu dormi fazendo a vigília com o Harry...

Rony olhou em volta sem entender. - Mione... Onde está o Harry? – O ruivo perguntou olhando por toda parte ao redor.

Hermione apenas piscou abobada encarando o lugar onde Harry estivera sentado na noite anterior.

- Mione... Você entra e se deita no quarto, eu vou procurar o Harry... – Ele sacou a varinha que sempre mantinha no bolso da calça. – Acorde a Astória, e vocês duas fiquem em alerta.

Ele começou a se afastar, indo em direção a costa, com a varinha em punho, ao olhar pra trás viu que Hermione continuava a olhar para ele atônita e assustada. – Eu vou voltar! – Rony gritou. – Vá pra dentro da barraca onde é mais seguro!

Hermione seguiu assustada para dentro, Rony continuou avançando, mancando precariamente, arrastando a perna enfaixada de forma dolorosa, as muletas ainda na barraca, com a varinha erguida ele se aproximou cada vez mais da costa, o barulho das ondas cada vez mais alto. Parado de pé entre os pedaços de barcos velhos espalhados pela praia estava Harry, parado displicentemente com as mãos enfiadas no bolso.

- Mas que inferno sangrento você está fazendo? – Rony disse abaixando a varinha. – Quase me matou de susto! O que você está fazendo aqui?

- Desculpe. – Harry disse sem olhar o ruivo. – Eu já estava voltando.

- O que você ta fazendo aqui? – Rony repetiu a medida que chegava ao lado do amigo.

- Tem alguém nos seguindo... Provavelmente desde a noite em que chegamos. – Harry sentenciou.

- O que? – Rony ergueu a varinha um pouco mais alto novamente. – Tem certeza?

Harry confirmou com um aceno de cabeça. – Tenho visto um vulto nos vigiando desde que chegamos, ontem no cemitério também... E o bisbilhoscópio que eu guardo no meu quarto não para de apitar tem um tempo.

- Pode ser só a sua imaginação... – Rony começou a falar, mas Harry apontou para uma área afastada dos restos de madeira molhada que pertenceram a barcos. A certa distancia o que claramente era uma fogueira começava a se apagar. 

- Tinha alguém com acampamento montado aqui. – Harry falou. – Mas fugiram quando me aproximei...

- Por que não nos avisou que estávamos sendo vigiados? – Rony perguntou indo analisar a fogueira de perto.

- Você e Draco não paravam de discutir, Hermione tendo os pesadelos, procurar pela chave no cemitério... – Harry esfregou os olhos cansados por debaixo dos óculos de aro redondo. - Já tínhamos muito com o que nos preocupar.

- Esse é o tipo de coisa com o qual nós temos que nos preocupar! – Rony exclamou.

- Eu sei... Desculpe-me. – Harry chutou a areia da encosta. – Muita coisa na cabeça... Não tenho raciocinado direito ultimamente.

- Tem vezes que eu acho que essa cicatriz na sua testa causou algum dano cerebral! – Rony debochou afastando-se da fogueira recém apagada e começando a caminhar de volta para a barraca. – Dessa vez a responsabilidade não é inteiramente sua, não precisa ficar guardando esse tipo de coisa pra você... Estamos juntos nessa tarefa companheiro. Somos parceiros se lembra? Aurores do Ministério. Eu e você.

Harry começou a caminhar ao lado de Rony, ajudando ele a andar sem as muletas, meio envergonhado, meio aliviado com a afirmação do amigo. Estavam em silencio, foi só quando se aproximaram o suficiente da barraca que Rony quebrou o silencio.

- Quem quer que esteja nos vigiando não tem muita habilidade pra isso... Afinal você notou a presença deles há dias... – Rony disse quando parou abruptamente. – Alem disso não tomaram muito cuidado em esconder os rastros do próprio acampamento.

- Ou então queriam que eu notasse, e queriam que eu os achasse. – Harry olhou outra vez em volta.

- Acho que você estava certo... – Rony não desgrudava os olhos da barraca. – É melhor não falarmos sobre essa pessoa que tem nos vigiado... Hermione já anda muito abalada só com os pesadelos.

- Ela teve outros pesadelos? – Harry perguntou preocupado.

- É. – Rony disse baixo. – Na verdade ela diz que é o mesmo pesadelo, que fica se repetindo.

Harry ergueu uma das sobrancelhas e perdeu um pouco da cor do rosto dele. – O que ela vê nos pesadelos? – Ele perguntou coma voz meio falha.

- Eu ferido... – Rony disse com a voz morrendo. – Me vê sofrendo acidentes... – Rony encarou o amigo, e percebeu que Harry parecia estar pensando freneticamente em alguma coisa, conhecia bem essa expressão, ele usava muito na época de Hogwarts. – Eu tenho que te perguntar... Você contou a mais alguém que eu me feri lutando contra uma acromântula antes de voltar a Londres?

- Não! – Harry exclamou surpreso. – É assunto confidencial do Departamento de Aurores. E sua família me mataria se soubesse que eu deixei você enfrentado acromântulas sozinho por ai!

- Hermione sabia... – Rony disse. – Ela sonhou com isso, ela me contou há alguns dias... – O ruivo engoliu em seco. – E ela sonha com todos os meus outros acidentes também. Você acha que ela está prevendo o futuro?

- Não. – Harry disse. – Acho que é algo pior.

O tom sombrio fez com que um calafrio percorresse a espinha de Rony.

- Você se lembra de quando eu tinha pesadelos que se repetiam, na época de Hogwarts? – Harry falou.

- As portas no departamento de Mistérios. – Rony completou.

- Naquela época eu achei que estivesse fazendo previsões, vendo informações essenciais... Mas na verdade...

- Você-Sabe-Quem estava manipulando sua mente. – Rony disse chegando ao mesmo pensamento de Harry. – Você acha que tem alguém tentando invadir a cabeça da Mione?

- Exato. – Harry concluiu.

- Então talvez tenha sido assim que descobriram o local e hora que partiríamos de Londres. – Rony passou preocupadamente uma das mãos pelos cabelos ruivos.

- Alguém deve estar usando esses sonhos pra assustar a Mione e conseguir informações sobre as chaves.

- Se é de informação que eles estão atrás, eles invadiram a mente certa! – Rony tentou manter a calma. – Hermione é uma enciclopédia ambulante! Deve ser um Legimens poderoso pra invadir a mente dela a distância, Você-Sabe-Quem só conseguia fazer isso com você por que vocês tinham um elo... Ou então ele é um Legimens que tem tido chance de se aproximar da Mione.

- O espião no acampamento? – Harry perguntou.

- Talvez. – Rony indagou. – Mas na verdade eu estava pensando naquela serpentezinha que nós abrigamos na nossa barraca.

- Draco? Ele já sabe o suficiente sem precisar invadir a mente da Mione...

- Mesmo assim não confio nele. – Rony lançou um olhar desgostoso para a barraca.

- Tente falar com ela... – Harry foi falando devagar. – Tentar alertá-la, sem revelar nada... Se realmente tem alguém invadindo a cabeça dela, temos que ter cuidado com o que falamos perto da Mione a partir de agora. - Harry respirou pesadamente. – Será possível que as coisas ainda podem ficar piores? – Ele foi entrando na barraca, deixando Rony para trás.

Rony engoliu em seco. Havia como as coisas ficarem piores. O ruivo havia achado melhor não contar a Harry o fato de que já havia sonhado três vezes com salões de mármore e portões de ouro que se abriam quando ele se aproximava. Seria possível que alguém também estivesse tentando invadir a mente dele?


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- De agora em diante só iremos procurar pela chave pela manhã... – Rony ouviu Harry anunciando quando ele entrou pela barraca. – É mais seguro assim. Vamos treinar feitiços todas as tardes agora... Astória precisa aprender a duelar, e Draco precisa aprender a conjurar o Patrono.

Draco, que estava sentado à mesa junto a Hermione e Astória olhou de maneira fria para Harry.

- Rony já estará recuperado da queda na semana que vem... Ele vai se revezar comigo nas vigias e na procura pela chave...

- Eu também quero procurar pela chave. – Hermione falou, levando a mão ao ar como se Harry fosse um professor de Hogwarts e ela quisesse que ele a notasse. – Assim você não precisa fazer vigia; procurar a chave e treinar feitiços todos os dias Harry... Nós nos alternamos.

Rony se forçou a acreditar que Hermione só estava dizendo isso para ajudar Harry, tentou ignorar o fato de que ela provavelmente só estava buscando uma desculpa para ficar sozinha com Draco, e continuar com seus segredinhos.

- Certo. – Harry anunciou novamente. – Já que o Draco está se recuperando da noite passada, nós não iremos procurar a chave hoje. Todos descansem e se alimentem bem... Durante a tarde vamos treinar feitiços.

Ninguém pareceu ter alguma objeção, Harry caminhou alguns passos e desabou sobre uma pequena poltrona no canto da barraca. Hermione abriu mais uma vez o velho livro de Necromancia sobre a mesa e começou a ler, Draco ajudava Astória a preparar o café. Rony olhava distraidamente para Hermione, ela estava com olheiras fundas e parecia extremamente cansada, Harry fazia a vigia e procurava as chaves todos os dias e não aparentava estar tão cansado quanto ela... Algo definitivamente errado estava acontecendo com Hermione. Quando ela passou a pagina Rony sentiu um embrulho no estomago, tamanha foi à surpresa do que ele viu.

- O que é isso Mione? – ele apontou para o velho livro.

- O que? – Hermione se assustou. – Do que está falando?

- Isso desenhado no seu livro! – Ele apontou freneticamente outra vez.

Todos agora lançavam olhares curiosos ao livro. Em uma das paginas amareladas um desenho de algo que parecia inconfundivelmente com um morcego com asas mais longas que o normal. Rony sentiu um calafrio mórbido percorrendo sua espinha.

- Isso? – Hermione perguntou incrédula. – É um símbolo, um brasão... Representa uma pessoa, como aquele sete invertido do Fazel...

- E o que isso representa? – Rony perguntou tentando esconder a urgência da informação.

- Bom... Vocês todos se lembram da história do Fazel certo? – Hermione olhou ao redor. - Ele e o um grupo de bruxos viajou o mundo há trezentos anos aprendendo culturas, descobrindo novos feitiços e curas para doenças mágicas... Lembra-se que o circulo com um sete invertido no centro era o emblema que representava o Fazel? Pois então... Esse emblema representa outro dos bruxos que o acompanhava.

- Que bruxo? – Harry perguntou, sentindo curiosidade.

- O Necromante. Calen Dept. – Hermione declarou solenemente. – No livro o chamam simplesmente de “O Necromante”, é assim com todos os companheiros do Fazel; Todos com títulos e brasões... “O Mestre dos Mares”, “Rei Das Bestas”, “Contemplador das Estrelas”, “Senhor dos Duelos”, “O Resoluto”, “O Astuto”...

Ela foi passando as paginas revelando várias imagens de brasões multicoloridos.

- Pessoas sempre dão títulos a grandes bruxos. – Draco falou enquanto observava Astória preparando chá distraída. – As pessoas chamavam Salazar Sonserina de “Língua de Serpente” não é mesmo?

- É... – Hermione concordou, a contragosto, com a ‘grandiosidade’ de Salazar Sonserina. - O livro conta que até o próprio Fazel tinha um titulo: “A Fênix do Oeste”.

Harry sorriu. – Dorian disse que Fazel teve uma briga com o necromante do grupo dele, ele disse que o nome do necromante era Calen... Eu me lembro disso por que Dorian falava com admiração tão grande dele, afinal ele também é um necromante.

- Exato! – Hermione exclamou. – É o que diz a lenda... Fazel criou um cálice mágico... Mas Calen, “O Necromante”, queria os poderes do cálice só pra ele. Eles duelaram, Fazel venceu e escondeu o cálice, para que Calen jamais pudesse roubá-lo.

- E selou o cálice com sete portões mágicos. – Harry disse.

- E por conta disso nos colocou nessa situação deplorável. – Draco completou.

- O que aconteceu com “O Necromante” depois de perder o duelo? – Rony perguntou muito sério.

- Desapareceu. – Hermione falou. – Ninguém sabe ao certo o que houve com ele. Mas por que o interesse?

- Nada. – Rony disse depressa. – Me pareceu um símbolo estranho... Nada mais.

Dizendo isso, Rony se ergueu pesadamente, e foi se afastando arrastando a perna. – Eu vou me deitar. – Ele falou. – Minhas perna ainda doí um bocado. Quando forem treinar os feitiços me chamem...

E dizendo isso ele entrou no quarto que dividia com Hermione.

Ele desabou mais uma vez sobre a cama, a cabeça pesada e cheia de pensamentos truncados. Ele tinha certeza... Havia visto aquele grande morcego, mais de uma vez agora... Era ele invadindo os sonhos dele e de Mione.

- Qual o problema?

Rony se assustou, Hermione entrou sorrateiramente no quarto.

- Problema nenhum... Só estou cansado. – Rony sentenciou.

- Claro que há um problema... – Hermione sentou-se na beirada da cama, ao lado de Rony. – Você se levantou sem tomar café da manhã... Obviamente há algo errado.

Hermione segurou uma risadinha, Rony se manteve sério.

- Estou preocupado com os seus sonhos. – O ruivo falou encarando de maneira tão penetrante Hermione que ela se sentiu compelida a desviar o olhar.

- São só sonhos Rony...

- Hermione, você estava em transe hoje pela manhã! – Rony insistiu. – Parecia possuída.

Hermione girou a cabeça tão rápido para encarar Rony que ele soube imediatamente que havia acertado em cheio.

- Você não é idiota Hermione... – Rony disse num tom mais calmo. – Tenho certeza que você também já pensou nessa possibilidade...

- Realmente. – Hermione foi deitando ao lado de Rony, ela se aninhou num abraço com ele. – Sonhos recorrentes são sinal de uma tentativa de invasão da mente. Eu já havia pensado nessa possibilidade.

- E você não está preocupada?

- Não. – Ela respondeu, e Rony olhou surpreso para ela. – Eu sei que são apenas sonhos. Não vou me deixar levar como aconteceu com o Harry quando Você-Sabe-Quem invadiu a cabeça dele. Eu sei que quando eu acordo está tudo bem com você... Você continua vivo e comigo.

Eles ficaram num silêncio por um tempo.

- Sabe que não podemos passar mais informações completas a você não é mesmo? – Rony perguntou, tentando ao máximo imprimir carinho e compreensão na voz.

- Sim eu sei. – Hermione respondeu sem muito entusiasmo. – É por isso que eu nunca saio da barraca para procurar as chaves. Tenho medo que descubram nossa localização.

- Então... Aonde você vai com o Draco quando saem para procurar as chaves?

- Desculpe, mas eu não vou dizer. – Hermione disse de maneira resoluta. - Mas não precisa se preocupar. O que faço com Draco quando saio daqui é algo que vai ajudar todos nós.

- Tem algo haver com Madame Zayra? – Rony se arriscou ao perguntar tão imprudentemente.

Hermione ficou imóvel, parecia que até a respiração dela havia parado.

- Eu notei que você ficou perturbada com o nome ontem... E você o disse uma vez durante um sonho...

- Nunca mais repita esse nome Ronald. – Hermione sentenciou.

Ele se calou. Hermione sentou-se numa cadeira de madeira ao lado da cama, abriu seu velho livro de necromancia. Ficaram cerca de meia hora sem falar absolutamente nada... Rony simplesmente não sabia mais o que dizer. Naquele silêncio incomodo, lançava olhares de esguelha para Mione.

- O que eu faço com o Draco quando saio pra procurar as chaves, só diz respeito a mim e a ele. – Hermione cortou o silencio tão repentinamente que Rony se assustou.

- Eu perguntei por preocupação Hermione. – Rony disse friamente.

- Eu não preciso da sua preocupação Ronald! Justamente o contrário! Eu preciso que você pare de se peocupar. – Hermione se ergueu de um pulo e saiu do quarto deixando um Rony estático para trás.


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Duas semanas se passaram, o clima úmido e cheio de ventos da Escócia deu lugar a uma interminável chuva torrencial. Duas vezes por semana, Harry e Draco iam até o cemitério durante o dia e procuravam por pistas novas, Draco e Hermione saiam apenas durante um dia da semana para tratar de seus negócios secretos... Rony não havia conseguido ainda descobrir o que era; num certo dia até tentou segui-los, mas quando chegou ao topo de uma colina onde jurou tê-los visto subindo, eles desapareceram. Por algum motivo desconhecido, Hermione insistia em varar noite lendo na barraca ou fazendo a vigília todos os dias que ela voltava com Draco da colina.

Depois da conversa com Hermione sobre Zayra, ela e Rony não haviam trocado mais nenhuma palavra um com o outro durante todos esses dias. Ela constantemente evitava o ruivo, e até se mudou para o quarto de Astória, forçando o ruivo a dividir o quarto com Harry. Rony se perguntava quando Harry iria começar a se intrometer e tentar descobrir por que seus dois melhores amigos não estavam se falando, mas a julgar pela aparência dele, Rony teve certeza de que Harry não iria fazer isso. Harry estava mais magro e abatido do que o de costume, na maior parte do tempo ele ficava dormindo, ou assinando documentos que chegavam eventualmente por corujas. Procurar essas chaves estava finalmente o cansando.

Agora mais do que nunca, Rony reparou, Draco e Astória estavam próximos um do outro, nos momentos que tinham vagos, Rony percebeu, eles passavam juntos, Astória sempre falando, Draco calado apenas escutando.

Rony estava completamente recuperado das lesões, e insistia em visitar o cemitério com Harry e Draco, mas o amigo insistia que ele ainda “precisava descansar”. Rony suspeitou que isso fosse uma ordem de Hermione sendo transmitida através de Harry... Ele achou melhor não desobedecer, já era um pequeno passo para fazer as pazes com ela.
Entre os segredos e estudos de Hermione, as corujas do ministério para Harry, e a procura incansável pelas chaves, eles encontraram tempo para treinar feitiços e duelos.

- Ai! – Hermione exclamou quando um feitiço de Astória a jogou pelo ar e a fez aterrissar de bunda no chão, numa poça de lama que a chuva formou.

Astória soltou uma risada fina e debochada. – Parece Hermione, que eu finalmente consegui te desarmar! – A loira comemorou seu feito.

- Você fez bem mais que isso Astória! – Harry disse ajudando Mione a se levantar. – Eu sei que você tem progredido muito em duelos nas ultimas semanas... Mas até onde eu me lembre eu não te ensinei isso!

- Isso foi uma maldição estonteante... – Hermione falou esfregando com força o traseiro. – Desarma o oponente do mesmo jeito que um expeliarmus... Mas acrescenta uma pancada forte no peito pra nocautear.

- Draco me ensinou. – Astória revelou um pouco tímida. Harry olhou desgostoso a certa distancia, no breu da chuva ele viu Draco fazendo um movimento de varinha, mas tudo que produzia era uma nuvem prateada e disforme.

- Ele ainda não conseguiu conjurar um Patrono? – Hermione sussurrou no ouvido de Harry.

- Não. – O rapaz respondeu.

Draco respirava fundo, fechava os olhos e se concentrava alguns segundos, então fazia um movimento de varinha, mas como em todas às vezes, tudo que acontecia era a nuvem prateada que se formava diante dele e desaparecia.

- Eu não consigo entender... – Harry falou baixo para que somente Hermione ouvisse. – Astória aprendeu a conjurar um Patrono em poucos dias... Mas Draco, simplesmente não parece capaz.

Eles viram Astória se aproximando de Draco, felicíssima, contando como havia acabado de desarmar Mione com a azaração que ele havia ensinado. Ele sorriu, e deu um aceno positivo de cabeça, Astória parecia tão feliz que parecia prestes a pular.

- A comida está pronta! – Rony saiu de dentro da barraca anunciando, segurando uma frigideira chamuscada de onde uma fumaça negra subia. – Eu acho que tá pronta...

Astória se despediu de Draco com um beijo estalado na bochecha e entrou na barraca, seguida por Hermione e Harry, eles viram sobre a mesa uma tigela cheia do que parecia carne com batatas levemente queimadas.

- Acho que passaram um pouco do ponto... – Rony disse meio que se desculpando – Nunca fui bom em feitiços domésticos...

- Comparado ao que eu comia quando morava com meus tios, isso é um banquete companheiro... – Harry falou, secando a água da chuva com a ponta da varinha e sentando-se a mesa.

- Draco vai continuar treinando lá fora? – Hermione sentou-se ao lado de Harry, tentando ao máximo ignorar a existência de Rony.

- Sim... – Astória falou, ainda retirando o casaco e secando a poça d’água que havia feito ao entrar. – Ele ta decidido a conseguir fazer o Patrono hoje...

- É bom que ele se lembre que tem de sair pra procurar a chave dentro de meia hora... – Hermione disse lançando um olhar carrancudo para o lado de fora da barraca.

- Deixe-o em paz Mione... Vamos nos atrasar de um jeito ou de outro... – Harry foi falando enquanto retirava vários documentos de uma pasta que estava próxima a mesa. – Eu ainda tenho montes de coisas pra resolver.

- Mas será possível que o ministério não vai te deixar em paz nem mesmo aqui? – Rony reclamou juntando-se aos três.

- Eu tenho que assinar todos esses relatórios... – Harry nem se quer olhava para os outros enquanto escrevia. – Tem muita coisa acontecendo... Depois do Dorian fugir do Ministério e roubar uma coisa da sala do tempo, Azkaban foi invadida, tivemos quatro dementadores ilegais aqui na Escócia, essas malditas chaves que temos de procurar...

- Nós vamos resolver isso... – Rony tentou acalmar o amigo.

- E desde que veio a publico que o chefe do departamento de Aurores estava de “férias” na Escócia... – Harry falou com desagrado. – Aumentaram o numero de ataques de comensais da morte fugitivos na Inglaterra.

Todos se calaram sem saber o que dizer. Essa situação já era o ruim o bastante, agora havia pessoas se aproveitando da ausência de Harry para atacar a Inglaterra.

- Sobre o que são os relatórios que você está preenchendo? – Rony perguntou pra desviar o assunto rapidamente.

- Dorian Blake. – Harry disse, fazendo com que Hermione quase derramasse a concha de carne e batatas que levava a uma tigela.

- O que dizem? – Hermione falou fingindo desinteresse.

- Ele foi avistado...

- Onde? – Ela perguntou rápido cortando Harry.

- Na Inglaterra... – Harry continuava a preencher os documentos. – No dia que nós partimos ele visitou o irmão mais novo pela manhã... Ficou vinte minutos lá falando sobre a infância dos dois e depois se despediu. O irmão dele, William Blake prestou depoimento há alguns dias.

- Então os Aurores do Ministério ainda estão à procura dele? – Rony perguntou.

- Não... Na verdade não. – Harry falou. – todos estão mais preocupados em descobrir como quatro dementadores atravessaram da Inglaterra para a Escócia ilegalmente.

- Isso já aconteceu antes! – Rony exclamou. – Quando eles ficam mais soltos saem por ai procurando gente pra sugar a felicidade... Lembra que dois atacaram você na rua dos alfeneiros anos atrás?

- É diferente. – Hermione disse. – Aqueles dementadores que atacaram o Harry estavam lá caçando gente para sugar a felicidade... Estavam lá por ordens do Você-Sabe-Quem.

- E qual é a grande diferença? – Rony indagou novamente. – Eles podem ter se desgarrado dos outros dementadores de azkaban e vieram até aqui se alimentar...

- Não Ronald, não podem. – A garota disse rispidamente. – Escócia fica longe demais, eles morreriam de fome no caminho.

Rony arregalou os olhos surpreso. – Dementadores podem morrer de fome?

- Sim. – Hermione falou desinteressada.

- Por isso o Ministério acha que alguém os enviou até aqui atrás de nós. – Harry murmurou rabiscando nos documentos com a pena.

Nesse momento, Draco, entrou bufando, encharcado da cabeça aos pés ele caminhou até o quarto em que estivera dormindo nas ultimas noites.

- Coma alguma coisa, vamos procurar as chaves quando você estiver pronto. – Hermione falou.

- Não estou com fome. – E sem nem olhar para a mesa, o sonserino deixou os três para trás. Harry e Hermione trocaram um olhar significativo. E Astória se levantou veloz.

- Eu falo com ele. – Terminem de comer. – E dizendo isso, a loira se levantou e caminhou lentamente, parando um instante na porta do quarto, talvez criando coragem antes de entrar.


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Astória entrou no quarto, e encontrou Draco sentado na cama, ainda molhado, uma poça d’água começando a se formar embaixo dele.

- Qual o problema Draco? – Astória falou sacando a varinha e secando o loiro com um jato de ar morno.

- Problema algum! – Draco vociferou empurrando a varinha dela pra longe com uma das mãos. – Pare de tentar cuidar de mim.

Astória abaixou a varinha e sentou-se ao lado dele, ela olhou diretamente para o loiro antes de dizer alguma coisa. – Eu sei que você está nervoso, mas isso não te dá direito algum de descontar em mim. – Draco ficou calado, olhando a poça debaixo dele, tremendo um pouco de frio, vendo as gotas escorrer do rosto para o chão. – Você está assim por que não está conseguindo conjurar o patrono não é mesmo?

Draco não respondeu.

- É por que você não consegue dormir?

- Como você sabe disso? – Draco indagou.

- Eu vejo você se levantando durante noite... – Astória desviou o olhar corando um pouco.

- Eu tenho tido pesadelos... Desde de os dementadores. – Draco respirou fundo. – Isso tem me atrapalhado a conjurar o patrono. Eu fico lembrando dos pesadelos... De coisas que eu fiz há muito tempo atrás.

- Você só precisa se concentrar um pouco mais...

- Eu não... – Draco falou entre dentes, tentando conter a irritação. – Eu não consigo achar uma lembrança feliz. Eu estou colocando esforço nisso, tentando achar uma lembrança feliz... Mas não acho que eu tenha alguma.

- Não precisa ser exatamente uma lembrança, - Astória fez um gesto de varinha, e no segundo seguinte, uma raposa de prateada, com longas patas finas irrompeu da ponta e flutuou de maneira fantasmagórica ao redor deles. – Eu só penso em coisas... Coisas que me deixam feliz.

- Que coisas? – O loiro perguntou, acompanhado a raposa com os olhos.

- Meus pais, você... Mikaela e Yuri sofrendo enquanto morrem. - Draco arriscou um olhar para a loira, e viu aquele estranho estalo de fúria brilhando no olhar dela, ele abaixou a cabeça e se limitou a olhar para o vazio. – Você não pode desistir de tentar Draco. – Astória disse. – Você vai conseguir... Eu acredito que vai. – Ela tocou gentilmente o rosto molhado dele, ele por sua vez, apenas afagou a mão dela. – Agora se arrume, você e Hermione saem daqui a alguns minutos pra procurar a chave. - Ela se esticou e beijou Draco, depois foi se afastando e saindo do quarto.


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- Então, - Rony falou baixo para Harry, quando Hermione se levantou e foi até o quarto dela. - Dessa vez Hermione vai acompanhar você e o Draco?

Harry concordou com um aceno sem desgrudar os olhos dos pergaminhos que assinava.

- Pode me fazer um favor? – o ruivo pediu, esticando-se para ver se Hermione não estava ouvindo o que ele falava. – Fica de olho nos dois...

Harry ergueu os olhos e encarou o ruivo.

- Eles têm um segredo, e eu quero descobrir qual é. – Rony disse com firmeza. – Se notar algo de diferente me conte.

- Eu também tenho tentado descobrir, - Harry olhou por cima do ombro para ver se ninguém olhava. – Tudo que sei é que eles treinam alguma coisa numa colina perto daqui...

- Estou pronta... Onde está o Draco? – Hermione anunciou saindo do quarto. Harry e Rony se afastaram e tentaram parecerem os mais inocentes possíveis. Hermione ergueu uma sobrancelha.

Draco saiu do quarto ainda encharcado. – Eu estou pronto... Vamos de uma vez, você termina com essa papelada depois Potter.

Harry olhou rapidamente de maneira sagaz para Rony e se levantou. – É, vamos de uma vez... – Achou que seria a melhor maneira de cortar a conversa antes que Hermione criasse suspeitas.

Eles saíram em direção da chuva, deixando Astória (que se despediu timidamente da entrada da barraca) e Rony para trás. Os dois ficaram em silencio por um tempo, ouvindo a chuva grossa caindo no teto da barraca.

- Então, o que faremos enquanto eles não voltam? – Astória se apressou em dizer pra quebrar o silencio. – Treinamos mais feitiços, ou quem sabe uma partida de xadrez de bruxo? Hermione me contou que você é bom nisso...

Rony não pode conter um sorriso torto típico. Hermione elogiando um talento dele aos outros? Quem diria. – E você acha que pode jogar contra mim? – Rony perguntou com o ego ligeiramente inflado.

- Eu jogo xadrez com meu pai desde os cinco anos Sr. Weasley, não me subestime. – Astória, falou com voz embargada de uma cortesia zombeteira.

O ruivo deu uma risadinha leve, e se levantou apoiado na bengala. – Eu vou buscar meu tabuleiro. – Ele falou. Sempre levava o tabuleiro em qualquer viagem, costume que ele adquiriu desde a época de Hogwarts. Mesmo não dormindo mais com Hermione sua mala de viagem continuava lá no quarto dela, ele entrou despreocupado e estava a meio caminho de se abaixar para pegar o malão, quando reparou num brilho prateado que vinha de cima da cama que Hermione usava.

Os olhos de Rony se arregalaram de espanto, e ele sentiu uma vontade incontrolável de fazer algo que sabia que o deixaria com mais problemas com Mione, mas ele precisava dar uma olhada. Hermione havia esquecido sua bolsinha de fundo extensivo sobre a cama, e uma misteriosa luz prateada emanava lá de dentro.


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- Expliquem outra vez... – Draco reclamava a plenos pulmões – Por que não estamos usando nenhum feitiço pra repelir essa maldita chuva?

- Não podemos arriscar que os trouxas nos vejam andando completamente secos no meio de uma tempestade. – Hermione falou pelo que pareceu a milésima vez.

- Que se danem os trouxas Granger! – Draco voltou a gritar em meio à chuva forte que caía pesadamente sobre ele. – não tem ninguém nessas colinas! Só aquele cemitério!

- E no cemitério temos Angus, o coveiro. – Harry disse ríspido.

- O coveiro que se... – Draco parou abruptamente. Harry não precisou perguntar, ele olhou de esguelha para o loiro e viu o semblante de pânico refletido no rosto dele. Harry sentiu o frio se intensificando e soube imediatamente...

- Dementadores... Por perto. – Hermione falou com a voz tremula.

- O que faremos? Fugimos? – Draco disse com uma voz difícil de identificar através da chuva.

Nesse momento, mesmo com a chuva forte, eles escutaram um grito de dor agudo e penetrante que vinha do topo da colina.

- Não podemos, - Harry se adiantou. – Tem alguém que precisa de ajuda. – E antes que Hermione ou Draco pudessem fazer alguma coisa, Harry imediatamente se pôs a correr, subindo a colina a passadas rápidas ele alcançou o portão de ferro do cemitério rapidamente, Hermione logo atrás em seu encalço e Draco ainda demorou alguns segundos antes de chegar lá. Do portão os três viram uma figura caída, que era claramente Angus, o coveiro, sobre ele, três dementadores flutuavam fantasmagoricamente em círculos, e logo ao lado de Angus, de pé estava um bruxo que era completamente ignorado pelos dementadores.

Os olhos de Harry se arregalaram. Ajudando os dementadores, torturando com feitiços e gritando com o coveiro estava Nigel Benjamim.


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- Você demorou. – Astória disse quando Rony retornou mancando com a bengala.

- Hã? – Ele respondeu meio confuso.

- Você demorou, quase dez minutos pra encontrar o tabuleiro de xadrez.

- Ah, sim. – Rony disse rápido confirmando. – Isso... É, tava meio difícil de encontrar.

- Certo. E onde está? – Ela perguntou olhando para as mãos do ruivo.

- Onde está o que? – Ele retrucou ainda sem entender.

- O Xadrez Ronald. – Astória disse ríspida, perdendo a paciência.

Rony olhou ao redor, como se esperasse que um tabuleiro de xadrez de bruxo fosse se materializar de repente. Ele respirou fundo. – Desculpe, eu esqueci no quarto. Eu volto em um instante.

- Rony, você está bem? – Astória disse meio tímida. – Eu sei que você anda meio estranho desde que brigou com a Hermione, mas...

- Eu só... – Ele respirou profundamente outra vez. – Você sabe o que ela e o Draco fazem quando saem juntos? O que eles escondem?

- Escondem? Eles saem pra procurar as chaves... Não é? – Ela olhou desconfiada. – Você acha que eles andam fazendo alguma outra coisa? – Astória, imaginou imediatamente Draco e Hermione trocando um beijo intenso, e sentiu uma aversão imediata a imagem; - Você acha que eles têm um caso... – As palavras escaparam à boca dela.

- Não. Quanto a isso, eu tenho certeza de que eles não têm nenhuma relação amorosa. – Ele deu as costas e foi caminhando até o quarto outra vez. – Eu agora tenho certeza de que é algo muito mais complicado que isso.

Astória ficou lá muito mais confusa e desconfiada do que antes.


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Os dementadores imediatamente viraram as faces encapuzadas na direção do portão onde Harry, Draco e Hermione haviam surgido. Nigel os encarou com olhos arregalados. Eles sacaram as varinhas, preparando-se para o ataque.

- O que vocês estão esperando? – Nigel gritou de maneira quase demente. – Ataquem seus imbecis! Tragam-me a chave! Ataquem a garota!

E imediatamente os dementadores deixaram o corpo tremulo e caído do coveiro e flutuaram velozmente contra Harry e os outros no portão. Ele jamais havia visto algo assim. Os dementadores obedeciam completamente os comandos de Nigel. Os dementadores sobrevoaram por cima do portão e cercaram Hermione, ignorando completamente Draco e Harry. A garota até tentou, mas não foi capaz de conjurar o patrono, ou feitiço algum, ela apenas deixou a varinha cair, ela desabou de joelhos cobrindo o rosto com as mãos.

- Alohomora! – Draco exclamou, abrindo o portão e correndo em direção de Nigel, Harry suspeitou, para se afastar o máximo possível dos dementadores. – Estupefaça! – O sonserino gritou outra vez, mas Nigel se atirou atrás de uma lápide esquivando-se do feitiço.

Harry viu os olhos de Hermione girando nos orbes, ela caiu desmaiada. Ele ergueu a varinha e se concentrou por um instante, pensou no seu primeiro beijo com Gina, quando ela havia ganhado a taça de quadribol no seu sexto ano de Hogwarts. O patrono Irrompeu da varinha. O veado prateado investiu contra os dementadores, eles recuaram diante do brilho dele.

- Expelliarmus! – Nigel vociferou de trás da lápide apontando de qualquer maneira a varinha na direção de Harry. A varinha dele voou, caindo alguns metros de distancia. O patrono se dissipou numa nuvem de fumaça prateada, sem a varinha, a conexão que Harry possuía havia sido cortada.

Ele se atirou na direção da varinha, tentando encontrá-la em meio à chuva, ele a avistou a poucos metros, mas antes que pudesse alcançá-la, ele sentiu os finos e frios dedos do dementador apertando com força o seu pescoço, ele estrangulava Harry, forçando-o a encará-lo. O rapaz sufocou sucumbindo, ao frio e a tristeza, ele já conseguia ouvir os gritos distantes da mãe...

Draco olhou por cima do ombro e viu Harry e Hermione totalmente rendidos pelos dementadores, Ele voltou a apontar a varinha para Nigel, mas ele pode ver, mesmo através da chuva, Nigel apenas sorriu de maneira sádica e aparatou desaparecendo completamente. O loiro voltou a encarar os dementadores, e por vários instantes ele ficou apenas paralisado, relutante, ele ergueu a varinha e exclamou o mais alto e claro que pode:

- Expecto Patronum!

A intensa luz prateada explodiu da ponta da varinha, fazendo com que o braço inteiro dele vibrasse, ele sentiu uma sensação quente irradiando da varinha para o corpo inteiro dele. O patrono atacou de maneira voraz. Os três dementadores se afastaram imediatamente protegendo-se do brilho intenso e prateado que ele irradiava. Harry ficou no chão tentando recuperar o fôlego, o patrono retornou. Draco viu claramente o enorme coiote de prata passando ao redor dele antes de desaparecer.

Draco caminhou lentamente na direção de Harry, e por um momento, ele achou que o sonserino fosse ajudá-lo a se levantar, mas ele ficou lá parado encarando. Com muito custo arfando e tremendo, Harry recolheu a varinha e encarou Draco.

- Você conseguiu... – Harry olhou cheio de admiração para o loiro. – Você conjurou o patrono.

- É, - Draco olhou para a própria varinha sem acreditar no que havia acontecido. – Um pensamento simplesmente apareceu na minha cabeça e eu... Conjurei.

- No que você pensou? – Harry perguntou ainda tentando recuperar o fôlego.

- Em deixar vocês dois pra trás e fugir. – Draco disse sombriamente.

- Obrigado. Eu acho. – Harry respondeu sem saber se Draco estava ou não brincando. Ele caminhou cambaleante até onde Hermione estava. A garota ainda continuava desacordada, ele recolheu a varinha dela e com muito custo a ergueu do chão. – É melhor que voltemos para a barraca... Hermione precisa de cuidados.

- O que faremos com o trouxa? – Draco apontou para o coveiro, que continuava caído tremulo no meio do cemitério.

- Vamos levar conosco. Nós tratamos dele, depois alteramos a memória... Procedimento padrão do Ministério. – Harry afirmou categoricamente.

Draco bufou, e claramente desgostoso ele se dirigiu até o coveiro e o ergueu nos ombros. Com dois estalos barulhentos, eles aparataram de volta a barraca.


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