Amanhecer



. . .  - Antes, nós precisamos dormir... – Foi Draco quem falou. – Minha mansão ainda esta interditada como área perigosa e ela... – Ele apontou para a garota adormecida sobre a mesa. – acho que não restou nenhum lugar pra ela... Conhece algum lugar seguro onde nós possamos passar a noite?

Harry se concentrou um pouco. – Acho que sei de um lugar perfeito.

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 - Eu estou indo! – Uma voz irritada gritou do lado de dentro. Há cerca de quinze minutos Harry batia com força na porta do Caldeirão Furado. Hermione estava fortemente agarrada ao braço de Rony, e atrás de todos fechando o grupo, Draco, carregando a garota loira nos braços, a garota que havia perdido tudo em uma única noite trágica.

- É bom que seja importante... Já passam das três! – Continuou a voz irritada. Quando a porta se abriu o grupo imediatamente reconheceu o rosto arredondado com leves marcas de cicatrizes. Ele já não era mais um garoto gordinho, sua saúde era impecável, tinha agora a mesma altura que Rony.

- Olá Neville... – Disse Harry o mais educadamente que pode.

- Harry? – Neville perguntou numa mistura de sonolento e irritado. – O que, em nome de Merlin, você está fazendo aqui a essa hora da noite?

- Precisamos de ajuda companheiro. – Rony falou.

- Rony? – O rosto redondo do rapaz se iluminou num sorriso quando ele se atirou num abraço sobre o ruivo. – Por onde você esteve? Faz anos que eu não te vejo!

- Resolvendo alguns problemas para o ministério... – O ruivo respondeu abraçando de volta o velho amigo. – Nós realmente precisamos entrar Neville...

- Claro... Entrem... – Ele se afastou para que os outros entrassem, foi nesse momento que ele notou a presença de Draco Malfoy. – O que ele está fazendo aqui? – Ele perguntou sem nenhum receio de esconder o desgosto na voz.

- É uma longa historia Longbotton... – Draco disse abrindo caminho e entrando com a garota no colo. – Tudo que você precisa saber é que dessa vez, estamos do mesmo lado...

Draco acomodou a garota sobre uma das mesas do Caldeirão Furado, Harry, Rony e Hermione conversavam com Neville.

- Como anda a vida como professor companheiro? – Rony perguntou com genuína curiosidade.

- Realmente boa, foi uma surpresa quando a prof. Sprout me indicou quando ela se aposentou... É claro que estou aproveitando as férias de Hogwarts pra passar mais tempo com a Anna... – Neville lançou um olhar para Draco e a garota deitada sobre a mesa. – Mas falamos sobre isso depois... Alguém poderia me explicar o que vocês estão fazendo aqui a essa hora da noite, e acompanhados do Malfoy, ainda por cima!

- É um assunto do departamento de Aurores que estamos resolvendo... – falou Harry. – Precisamos de um lugar seguro para esconder o Malfoy e aquela garota... Esse foi o primeiro lugar que me ocorreu...

- Hummm... Assunto do departamento de Aurores... – Neville pareceu se concentrar por alguns instantes. – Vocês podiam esconder o Malfoy em Azkaban! Não seria mais seguro? – Ele disse de maneira brincalhona, abrindo um largo sorriso no rosto arredondado.

- Bem que gostaríamos companheiro... – Rony disse solenemente dando uma leve tapa nas costas de Neville.

- Muito engraçado... – Draco já havia se certificado de que a garota estava bem, agora ele se juntava ao grupo. – Vai nos ajudar Longbotton? – o loiro disse rispidamente.

- Sim eu vou... – Neville respondeu encarando Draco nos olhos. – Vou ajudar por que meus amigos estão pedindo.

A boca de Draco chegou a se abrir, provavelmente pronta a soltar algum comentário ríspido sobre Neville, mas antes que ele pudesse dizer algo, uma voz suave se fez audível entrando no aposento.

- Quem é há essa hora querido? – Os cabelos loiros estavam amarrados de qualquer jeito num coque, mesmo usando um grosso roupão de lã era fácil notar a protuberante barriga: estava no meio do que deveria ser o sexto ou sétimo mês da gravidez.

- Só o Harry querida... Volte a dormir, não faz bem pra você levantar tão tarde da noite. – Neville disse carinhosamente.

- Bobagem! – Ela respondeu sorrindo e cumprimentando todos na sala. – Talvez o Harry possa me explicar por que ele acordou o meu marido no meio da madrugada durante as férias... – Ela lançou um sorriso. – Enquanto ele se explica eu vou preparar algo pra vocês comerem.

- Desculpe Anna... – Harry ia dizendo enquanto ela apontava a varinha para o balcão onde copos e garrafas planaram pelo ar e aterrissaram sobre uma das mesas. – Mas foi uma questão urgente... – Harry falou sem graça.

- Não se preocupe Harry... – Ela disse quando fez com que facas passassem geléia em torradas e depois saltassem dentro de pratos na mesma mesa onde havia copos e garrafas. – Sempre que você almoça aqui esse lugar enche de clientes, esse é o mínimo que posso fazer. – Ela sorriu cordial.

Após terminar os estudos em Hogwarts, Anna Abbot investiu uma boa quantidade de galeões para comprar o Caldeirão Furado de seu antigo dono, o velho Tom. Ela e Neville haviam se casado a cerca de dois anos, moravam juntos no andar de cima do Caldeirão, e apesar do trabalho em Hogwarts tomar quase todo o tempo de Neville, ele sempre arrumava tempo durante as folgas e feriados para passar com Anna. Harry não se lembrava de ver os dois tão felizes em todo o tempo em que os conhecia.

- Agradeço pela comida... – Draco falou – Mas essa garota teve um dia horrível, - Ele apontou para a loira deitada sobre uma das mesas - e eu só vou me sentir bem quando ela estiver realmente descansando numa cama confortável...

- Bom... – Neville disse consultando um livro desgastado que estava no balcão. – É época de férias, então temos somente um quarto livre durante a semana... Tem algum problema?

Todos encararam Draco, o loiro pigarreou alto limpando a garganta, lançou um olhar para a garota loira deitada sobre uma das mesas. – Não... Problema algum... É melhor assim, quando ela acordar vai estar confusa... É bom que um de nós esteja por perto para acalmá-la e explicar tudo.

- Certo, então é um problema a menos pra resolvermos... – Disse Rony se sentado a mesa e pegando varias torradas com geléia.

- Ótimo... – Neville se adiantou. – Me acompanhe Malfoy, eu vou mostrar o quarto. – Ele olhou para Harry. – Algo mais que eu possa fazer por vocês?

- Tudo bem companheiro... – Falou Rony com a boca cheia de torradas. – Você já está fazendo mais do que devia...

Neville sorriu para os amigos antes de guiar Draco escada acima, em direção ao quarto. Harry e Hermione sentaram-se a mesa junto com Rony, o ruivo era o único que atacava as torradas e o suco de abobora, Mione ainda estava muito assustada e estranhamente calada, e Harry parecia estar com os pensamentos em outro lugar.

- Como você consegue comer num momento como esse? – Hermione perguntou a Rony depois de alguns minutos.

- Eu raciocínio melhor de estomago cheio. – O ruivo respondeu com uma torrada a meio caminho da boca. – Você deveria experimentar... – Ele levou a torrada para perto do rosto de Mione, por um momento ela se sentiu meio tímida, mas depois se esticou e abocanhou o petisco da mão de Rony. Ele sorriu e deu um beijo estalado na bochecha dela. – Você deveria comer também companheiro... – Ele se dirigiu a Harry. – Você teve um dia longo, aposto que está faminto... Harry? Está me ouvindo?

- O que? – Harry parecia ter acabado de acordar de um transe. – Desculpa Rony... Eu estava com a cabeça em outro lugar... – Harry olhava atentamente Anna chegando com outra garrafa de suco de abobora. – Neville está certo... Você não deveria estar acordada tão tarde... – Harry falou quando ela sentou-se a mesa.

- Não se preocupe... Eu tenho acordado praticamente todas as noites durante a madrugada por causa de enjôos... – Ela repousou as mãos sobre a barriga. – Já estou acostumada.

- Quantos meses de gravidez? – Harry perguntou interessado.

- Sete... – Anna respondeu prontamente. – Se tudo ocorrer como o esperado deve chegar ao inicio de julho...

Harry sorriu ao notar que ela acariciava ternamente o ventre. – Neville deve estar muito feliz...

- Muito! – Ela falou – Ele pediu para Diretora McGonagall para estender as férias dele em mais dois meses pra que ele estivesse por perto depois do nascimento! Ainda nem nasceu e ele já faz planos sobre a ida do garoto pra Hogwarts!

Passos vindos do andar de cima indicaram que Draco e Neville retornavam, Harry levantou-se penosamente e se dirigiu até Neville.

- Já está tarde e nós abusamos demais da hospitalidade de vocês. – Ele estendeu a mão, que Neville apertou com força. – Voltaremos amanhã durante o almoço, se houver algum problema envie uma coruja para mim, certo? – Neville acenou positivamente com a cabeça. Harry virou-se e foi seguindo para a saída, despedindo-se de Anna no caminho. – A comida estava ótima Anna... Desculpe novamente pelo incômodo...

- Não se preocupe... – Ela falou – É sempre um prazer Harry.

Rony e Hermione despediram-se de Anna e Neville, lançaram um olhar significativo para Draco e depois acompanharam Harry para o lado de fora, onde ele respirou profundamente antes de aparatar. Hermione teve certeza de que era a única que sabia o porquê de Harry ter se tornado tão aéreo repentinamente. Ela sabia que a visão de Anna grávida havia feito Harry pensar, e ele percebeu algo que ainda não havia lhe ocorrido. Rony segurou a mão de Hermione e eles aparataram juntos.


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Gina havia passado a tarde toda sentada no sofá da sala, ocasionalmente lançando olhares para o relógio que ficava no alto da lareira do Largo Grimmauld. Assim como o relógio da família Weasley esse não marcava as horas, e sim o estado dos moradores da casa, ela assistiu apreensiva o ponteiro que indicava Harry saltar de “viajando” para “duelando”, e por alguns minutos (que pra ela pareceram horas) o ponteiro esteve em “risco de vida”. Agora o relógio marcava “retornando para casa” e ela esperava ansiosa. Quando a porta da frente se abriu ela saltou do sofá e se atirou sobre Harry, ele a ergueu do chão, segurando-a pela cintura ele a beijou o mais apaixonadamente que pode, um dos braços dela envolvia o pescoço do garoto, o outro apoiado no ombro tinha a mão enfiada nos cabelos negros dele.

Rony limpou a garganta da maneira mais barulhenta que pode – Será que vocês dois poderiam esperar eu sair pra fazer isso? – O ruivo entrou logo atrás de Harry seguido por Hermione. Harry e Gina se afastaram e imediatamente a garota tomou um aspecto amedrontador, que de certa maneira lembrava à senhora Weasley.

- Onde vocês estiveram o dia todo? Eu estive morta de preocupação! Chegam no meio da madrugada! No que vocês estavam pensando? – A ruiva disse num fôlego só.

- Eu sei Gina... Desculpe-me – Falou Harry. – As coisas saíram de controle no ministério, não pude chegar cedo.

- Você podia ter mandado uma coruja ou algo do tipo! – Ela voltou a abraçá-lo. – Eu fiquei preocupada.

- Eu sei meu amor. – Harry beijou o topo da cabeça da ruiva, depois, sem soltar do abraço, lançou um olhar para os amigos. – Eu vou precisar de um momento sozinho com a Gina... Tem vários quartos de hospede na casa, sintam-se à-vontade para usar qualquer um deles. – Ele começou a subir as escadas levando uma muito confusa Gina pela mão. – Se precisarem de qualquer coisa, eu tenho certeza de que o Monstro vai ficar feliz em ajudar... Boa noite. – E eles saíram, dobrando ao corredor em direção as escadas.

Nem Rony nem Hermione ficaram surpresos com a atitude do amigo, afinal, Harry teria de contar a Gina que iria viajar para Escócia o mais breve possível, e conhecendo Harry, os dois sabiam que ele iria querer saber a opinião de Gina antes de qualquer coisa.

Rony respirou profundamente – Vamos... Já é tarde e teremos que levantar cedo amanhã. – Ele ofereceu a mão a Hermione, e juntos eles seguiram até a área da casa com quartos extras. Eles pararam diante de dois quartos, Hermione abriu a porta do primeiro e foi se adiantando.

- Boa noite. – Falou o ruivo, despedindo-se beijando a bochecha da garota.

Ele já havia caminhado dois passos em direção ao outro quarto quando a voz fraca de Hermione se fez audível. – Rony... – ela encarava os próprios pés. – Dorme comigo essa noite?

O ruivo apreciou por um momento a timidez de Hermione. Ela havia corado levemente, e lançava olhares de esguelha, com a cabeça abaixada, esperando a resposta dele. Ele deu um típico sorriso torto (que fez o coração dela disparar), e voltou, abraçando-a pela cintura eles entraram juntos no quarto.


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Draco estava sentado numa poltrona que ficava no quarto do Caldeirão Furado, ele observava atentamente a garota de cabelos loiros dormindo na cama de dossel. Draco não conseguia dormir, por algum motivo o dia movimentado parecia ter despertado seus sentidos.
Se ele havia gastado uma fortuna tentando limpar o nome da família e fazer com que a comunidade bruxa esquecesse os erros de seu passado, ele agora recebera uma chance e tanto. Ele iria ajudar Harry Potter, não importa o quão perigoso fosse o caminho... Ele sentia que devia fazer isso, tudo se encaixava perfeitamente. Ajudar Harry seria de certa forma um renascer para Draco Malfoy. Ele soltaria algumas informações aqui e ali, um pouco de fofoca nos lugares certos, e em pouco tempo todos saberiam que Draco Malfoy estava ajudando Harry Potter no departamento de Aurores do Ministério. Assim que a notícia se espalhasse, era questão de tempo até as pessoas começarem a dúvidar da lealdade dos Malfoy a Voldemort. As pessoas começariam a achar que Draco sempre fora um espião duplo; não era necessáriamente verdade, mas faria maravilhas pelo nome dos Malfoy. E se deveria redimir-se dos erros, iria começar protegendo a todo custo uma vida inocente. Naquela noite, enquanto a garota loira dormia, Draco fez um juramento silencioso. Jurou que não deixaria mais nada de mal acontecer àquela garota. Ele se sentia responsável pela morte dos pais dela, e em honra a memória deles ele iria cuidar da filha.
Ele observou o sono dela, queria ter certeza de que ela dormia tranqüila. Os olhos cinzentos de Draco percorreram o corpo da garota, a pele extremamente alva parecia brilhar com a luz do luar que entrava pela janela, os cabelos longos, louros platinados espalhados por todo o travesseiro, os lábios carnudos e rosados semi-abertos... Draco engoliu em seco ao reparar nos seios fartos que ficavam evidentes com a respiração compassada da garota.
Ela se moveu algumas vezes, seus olhos se comprimiram, depois piscaram diversas vezes se acostumando à claridade. Ela havia despertado. Quando os olhos verdes dela pousaram sobre Draco ela se afastou num pulo, puxando os lençóis para perto do corpo, e olhando todas as direções, lembrando irresistivelmente um animal pequeno que é acuado por um predador.

- Fica calma! – Draco se ergueu da poltrona em que estava e foi caminhando lentamente em direção da garota. – Eu não vou fazer nada a você...

- Onde eu estou? – Ela perguntou assustada, a voz saindo fraca e quase inaudível.

- Você está bem... Está no Caldeirão Furado... – A garota olhava em todas as direções, o pavor mais do que evidente nos olhos dela. – Sua casa foi atacada por bruxos das Trevas, eu entrei lá e te salvei... Nós te trouxemos pra cá por que achamos que era mais seguro...

- Quem é você? – Ela perguntou analisando Draco dos pés a cabeça.

- Meu nome é Draco Malfoy... – Ele se sentou próximo a garota. (ela se afastou mais). – Minha casa também foi atacada.

Ela olhou por todo o quarto novamente, e enquanto o fazia Draco pode notar que os olhos dela iam se enchendo cada vez mais da lagrimas. – Onde estão meus pais? – Ela perguntou com um tom desesperado. Draco encarou os olhos verdes e marejados dela. Ele não sabia como responder, ele abriu a boca algumas vezes tentando achar as palavras, mas por fim, apenas respirou profundamente e abaixou a cabeça de maneira significativa. Não foi preciso mais nada para que a garota compreendesse exatamente o que havia acontecido. Sua mente foi trabalhando, e aos poucos o choque de acordar num lugar desconhecido foi passando, e as memórias retornando. Como num filme ela pode ver a mãe sendo atingida pelo feitiço proferido pela bruxa loura e magra, ela pode ver o corpo do pai pendendo sem vida na cadeira depois que o bruxo grande com a cicatriz no rosto a torturou... Eles estavam mortos.
Ela cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar alto, nem se quer se importando que Draco estivesse ali. Draco não soube ao certo o que fazer, nem o que dizer. Ele apenas colocou uma das mãos sobre a cabeça dela e falou baixinho, mais pra ele do que pra ela:

- Vai ficar tudo bem... Eu vou cuidar de você...


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 - Você está diferente... – Rony disse enquanto retirava travesseiros e cobertores do armário que ficava no quarto de hospedes. – Desde que saímos da floresta... Você está calada.

Hermione abaixou a cabeça evitando olhar para Rony quando falou – Eu só estou cansada.

O ruivo sentou-se na cama, e foi tirando os sapatos. – Você nunca conseguiu mentir pra mim Mione... – Ele se voltou pra ela. – Me diz o que houve...

- Não foi nada Rony...

Rony suspirou lentamente, derrotado. Se Hermione não queria dizer o motivo do estranho silencio, ela deveria ter um motivo pra isso. “Talvez eu esteja imaginando coisas”. Pensou ele consigo mesmo.

- Qual pijama você quer? – Ela perguntou, despertando Rony dos pensamentos.

- O que? – ele indagou sem compreender. Hermione tinha uma das mãos enfiadas numa bolsinha de trocados, que Rony reconheceu imediatamente como a bolsinha com capacidade expandida que ela havia encantado durante a caça as Horcruxes.

- Você me disse que não era seguro ficar no meu apartamento... – A garota foi dizendo enquanto procurava algo na bolsa. – Então eu fui lá e peguei todo tipo de coisa que achei que fosse precisar no caso de ficar longe por muito tempo...

- Que tipo de coisa? – O ruivo perguntou.

- Livros, escova de cabelo, escova de dente, roupas, um caldeirão...

- E um pijama meu? – Rony perguntou cortando Hermione, que corou violentamente.

- Bem... – Ela foi dizendo – Eu tenho que estar preparada para tudo! Nunca se sabe quando nós dois vamos passar a noite fora...

Ele sorriu pra ela antes de se deitar sobre a cama. – Aceito qualquer pijama...

Ela procurou por mais algum tempo depois retirou uma muda de roupas azul escura de dentro da bolsa e entregou a Rony, o ruivo foi em direção ao banheiro que havia no quarto para se trocar. Ele se vestiu lentamente, sorrindo pra si mesmo.
“Quatro anos sem nos ver... E agora estamos dormindo juntos como se nenhum dia tivesse se passado”. O ruivo pensava. “Como foi que eu agüentei tanto tempo longe da minha Mione?” Parou um momento. Mesmo em pensamento, ficou surpreendido por ter se referido a Hermione como “dele”. Ele a amava, e disso não tinha duvidas, mas nunca havia pensado seriamente sobre isso, haviam ficado separados por muito tempo, não puderam fazer planos sobre eles, e agora Rony achava que não deveria perder tempo algum... Hermione era a única que ele realmente amava, e ele a amaria pelo resto dos dias dele.
Tinha uma vida toda pra isso.




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Quando Rony saiu do banheiro Hermione já havia trocado de roupa. Ela usava uma camisola de cor perolada, com alças finas, a extensão da camisola chegava até a metade das coxas de Hermione. O ruivo estacou por alguns instantes na porta do banheiro, admirando a beleza dela, deitada sobre a cama, com os cachos cheios espalhados pelo travesseiro.

- Seu queixo está caído Sr. Weasley... – Hermione disse quando notou a boca de Rony, aberta de maneira cômica, ele se apressou em fechá-la, dando um sorriso desconcertado, e ficando com as orelhas extremamente vermelhas. – Se você continuar a me olhar desse jeito, acho que vou ficar sem graça Rony...

- Desculpe... É que você está tão... – Rony abriu e fechou a boca varias vezes procurando a palavra. – Tão... Uau...

Ela corou um pouco, depois indicou um lugar na cama ao lado dela. Rony caminhou lentamente, deitou-se e a puxou para um beijo. Hermione colocou uma das mãos livres na nuca do ruivo, os dedos emaranhados nos cabelos cor de fogo, e antes que ela percebesse, estavam puxando o corpo dele para mais próximo, isso forçou Rony há rolar um pouco, deitando por cima dela. Rony foi descendo o beijo, plantando beijos lentos na lateral do pescoço dela. A cada beijo, Hermione sentia um arrepio percorrendo o corpo inteiro dela, sem notar o que estava fazendo, a garota colocou as mãos sobre as costas de Rony apertando forte, e a cada arrepio ocasionado pelos beijos do ruivo ela apertava mais. Rony parou os beijos e se afastou um pouco, o suficiente para encarar o rosto dela, Hermione estava corada e ofegante, seus cabelos cheios estavam espalhados, os lábios mais rosados e levemente inchados pelo beijo.

- Por que você parou? – Hermione perguntou confusa, acariciando o rosto dele. – Eu apertei muito forte? Eu te machuquei?

- Não... – Rony apressou-se em dizer. – Eu tive que parar pra dizer que te amo...

Ela sorriu emocionada, nem se quer encontrando palavras para respondê-lo. – Eu também te amo. – Hermione respondeu displicente, beijando novamente os lábios dele.


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Várias horas haviam se passado, o único som que houvera naquele quarto do Caldeirão Furado foi o de fungados e soluços do choro da garota. Draco permaneceu calado o tempo todo.

- Por que eles nos atacaram? – A garota perguntou erguendo a cabeça repentinamente, os olhos verdes brilhando devido a lagrimas.

- Eles estavam à procura de uma posse da sua família... Algo que eles consideram valioso... – Draco falou evitando o olhar dela.

Imediatamente ela levou uma das mãos até o pescoço, ela tateou ao redor dele, como se procurasse por algo. – O anel da família! – Ela disse – Papai disse que estava na família a gerações!

- Foi exatamente o que levaram... – falou o loiro, ainda sem olhar nos olhos dela, temendo quais seriam as próximas perguntas.

Ela permaneceu tateando o pescoço, algumas lagrimas solitárias ainda rolavam pelo rosto dela. – Quem eram eles? – Ela perguntou com uma voz estranhamente decidida, o que fez com que Draco finalmente a encarasse.

- Bruxos das trevas... – Ele disse voltando a desviar o olhar. – Eles se denominam o Circulo de Fazel... Ao menos foi o que me disseram...

Ela respirou profundamente. – Quem eram os dois que comandavam o ataque? – Ela perguntou com ainda mais decisão na voz.

- Sei pouco sobre eles...

- Me diga o que sabe. – Ela falou esfregando o rosto com as costas da mão.

A força imprimida na voz dela era tanta que Draco nem se quer ousou não responder. – Dois procurados pelo ministério... Yuri e Mikaela... – Ele esfregou com força os olhos. – É tudo que sei sobre eles.

- Pra que eles precisam do anel? Não tem grande valor de venda...

Draco levantou-se da cama, caminhou em direção a uma jarra de água que se encontrava numa mesinha não muito longe. – Suas perguntas vão ser todas respondidas amanha... Agora você precisa descansar...

- Eu não quero descansar. – Ela falou ríspida. – Eles mataram meus pais. Tenho o direito de saber o motivo...

Draco bebeu um gole da água, e respirou profundamente tentando desviar o assunto. – Amanhã pessoas que sabem mais do que eu estarão aqui, eles vão ser capazes de responder melhor a sua pergunta. – Ele foi caminhando evitando a todo custo olhá-la nos olhos.

- Qual seu nome? – Draco perguntou sentando-se novamente na poltrona em que estivera enquanto velava o sono da garota.

- Astória... Astória Greengrass... – A garota respondeu, limpando novamente as lagrimas que escorriam pelo rosto.

- Quantos anos você tem?

- Dezoito. – Ela respondeu a claramente a contragosto.

- Então você terminou seus estudos em Hogwarts? – Draco perguntou.

Ela confirmou num aceno de cabeça, uma expressão que Draco não conseguiu identificar no rosto dela.

- Olhe Astória... – O loiro foi dizendo – Eu sinto muito... Eu não consegui... Eu não fui capaz de chegar a tempo. Eu não consegui salvar seus pais... – Ele abaixou a cabeça, sentindo-se derrotado. – Me perdoe... Eu fiz o melhor que pude pra tirar todos vocês vivos de lá...

Ela observou o semblante de Draco por alguns instantes. Ele aparentava estar extremamente cansado, os cabelos loiros estavam desalinhados e bagunçados, olheiras fundas emolduravam os olhos cinzentos. – Não foi sua culpa. – Astória disse.

Draco sentiu um puxão no estomago semelhante ao que se sente ao aparatar.

“A culpa é minha!” Ele pensou. “fui eu quem disse onde a chave estava... Fui eu quem indicou o caminho... Estão mortos por minha causa...”.
Os pensamentos de Draco foram cortados quando ele sentiu um toque morno e gentil sobre uma das mãos dele. Ele não percebeu que Astória havia se levantando, ela se ajoelhou diante dele, ela segurava uma das mãos dele quando disse:

- Obrigado por ter me tirado de lá... Eu jamais vou me esquecer disso. – Ela repousou a cabeça no colo dele, os soluços recomeçaram, Draco soube que ela havia começado a chorar novamente. – Não foi sua culpa... Você fez o que podia... Onde quer que eles estejam eu sei que eles estão felizes por que você me salvou...

Draco engoliu em seco. Será que um dia ele teria forças para contar a Astória que foi por culpa dele que os pais dela haviam morrido?


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- Agora que estamos sozinhos você vai me dizer onde esteve o dia todo! – Gina disse quando Harry fechou a porta do quarto. – E nem adianta dizer que esteve ocupado no ministério! O relógio da sala indicou que você esteve em perigo de vida!

Harry bufou, praguejando contra si mesmo por ter comprado aquele relógio.

- É melhor você se sentar Gina... – Harry sentou-se na cama e indicou um lugar pra ela – O que eu tenho pra dizer é sério...

- Você está me assustando... – A ruiva falou, no rosto uma expressão que causou profunda dor em Harry.

- Sente-se Gina... Eu vou explicar tudo. – Ele indicou novamente um lugar ao lado dele. Gina caminhou lentamente e sentou-se ao lado do marido, olhando direto nos olhos verdes dele, o que a fez notar que estavam ligeiramente marejados.

- O departamento de Aurores está à procura de um grupo de bruxos das trevas foragidos... – Ele foi dizendo sem olhar no rosto dela. – Por isso Rony esteve longe todo esse tempo, ele estava no encalço deles...

- Harry... – Ela começou a dizer, mas Harry fez um sinal para que ela se calasse.

- Foram eles que atacaram seus pais... – Ele continuou – Eles já mataram algumas pessoas, e vão continuar matando até conseguir o que querem...

- O que eles querem? – Ela perguntou.

- Reunir sete objetos mágicos... Com eles reunidos eles serão capazes de realizar um ritual... – Ele fez uma pausa significativa. – É sobre isso que eu quero falar. Nós temos um desses objetos, e eles têm outro... E descobrimos a localização do próximo.

Ela fechou os olhos e respirou profundamente. Havia compreendido o que Harry queria dizer.

- O próximo objeto está na Escócia... Quando chegarmos lá saberemos onde estão os próximos...

Gina mantinha os olhos fechados e balançava a cabeça negativamente. Não queria mais ouvir. – Meu irmão também é Auror! Ele que vá buscar isso!

- Eu não posso Gina! – Harry disse ajoelhando-se diante dela. – Eu não quero ser tão egoísta! Eu não posso deixar toda essa responsabilidade sobre o Rony!

- Por quanto tempo você vai ficar fora? – Ela perguntou, notando que os olhos começaram a arder incomodamente.

- Eu não sei...

- Você vai correr risco de vida enquanto estiver nessa viagem?

- Gina, eu não sei ao certo... – Ele abaixou a face.

- Diga-me a verdade Harry...

Ele sabia que não conseguiria mentir, sabia também que a verdade seria dura demais para Gina.

- A uma grande chance de encontrarmos outros membros do grupo de bruxos das trevas caçando os objetos... Minha vida pode estar em risco. – Ele não olhou para ela em nenhum momento em que disse isso.

- Isso é injusto Harry! – Gina sentiu uma lagrima solitária descendo pelo rosto – Você mais do que ninguém sofreu durante a guerra! Por que você tem que se meter em mais problemas? Por que você tem que partir nessa viagem?

- Se os bruxos das trevas reunirem todos os objetos... Eles irão fazer o ritual... Eles terão um poder incalculável... – Ele enterrou a cabeça no colo dela. – Pessoas irão morrer Gina...

- Eu não quero você correndo riscos! – Ela exclamou chorando. – Eu não quero que você vá...

- E eu não quero ir Gina... – Ele abraçou a cintura dela, a cabeça deitada no colo da ruiva. – Eu não quero te deixar aqui... Não agora! Nós vamos ter um filho Gina! Eu queria poder estar com você durante toda a gravidez... Queria estar aqui pra cuidar de você... Mas eu não posso Gina... Eu tenho que ir... Eu, mais do que qualquer um, não posso deixar outra guerra acontecer. Eu não irei deixar nenhum inocente morrer se eu puder evitar. – Ele ergueu o rosto para encará-la. Gina tinha algumas lagrimas caindo pelo rosto. – Mas eu só vou sair dessa casa se você me permitir... Se você me pedir pra ficar, eu ficarei... Ficarei e cuidarei de você.

Ela tocou gentilmente as laterais do rosto de Harry com as duas mãos. – Você jamais conseguiria ficar aqui comigo... Você é heróico demais pra isso, é sua natureza... Você jamais deixaria Rony correndo perigo enquanto você fica aqui de braços cruzados. E é por isso que eu te amo. – Ela plantou um beijo sobre a cabeça dele. – Eu sei que não importa o que eu disser você vai partir nessa viagem... E eu vou ficar aqui te esperando. Eu e seu filho.

Harry apertou mais o abraço que dava ao redor da cintura dela. – Eu te amo Gina... E eu preciso da sua ajuda. Eu não sei o que fazer. – Os olhos verdes dele olharam fundo nos castanhos dela.

- Vamos dar uma festa... – Ela forçou um sorriso. – Uma festa de despedida... Pra você e meu irmão. – ela acariciava o rosto dele enquanto falava. – Reuniremos toda a família, vamos anunciar minha gravidez... Você vai partir, vai fazer o que tem de fazer, e depois vai voltar pra mim... E eu estarei aqui pra você.

- É o que você quer? – Harry perguntou.

- É o que você fará. – Ela o fez levantar. – Me dói muito ficar longe de você, mas é o certo. E você sabe disso.

- Gina...

- Calado senhor Potter... – Ela também se levantou. – Você é um herói, e nada pode mudar isso. – Ela o beijou com ternura. – Apenas prometa que vai voltar inteiro pra mim...

- Vou voltar inteiro pra vocês. – Ele tocou de carinhosamente a barriga dela.

Ela forçou um sorriso e beijou Harry intensamente. E durante aquele beijo Harry sentiu a sensação mais maravilhosa de todas. Foi como se todos os medos, todas as incertezas, a preocupação... Tudo havia desaparecido. Gina o amava e o esperaria, e isso era tudo que importava.


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Um frasco cheio de uma poção venenosa atravessava o ar na direção dela, Rony se atirava entre o projétil, ele é acertado em cheio pelo frasco bem no meio de peito. Uma pequena explosão e uma nuvem fétida de fumaça e o corpo de Rony cai desacordado no chão.

Rony sendo levado numa maca por uma equipe de medibruxos, a camisa fora rasgada, revelando uma cicatriz próxima ao coração, ao redor as veias enegrecidas pelo veneno do frasco.

Hermione apontava uma varinha na direção de Rony, ela tentava se controlar, mas uma voz maléfica sussurrava em seu ouvido. Ela mandava Hermione matar o ruivo.

Uma gargalhada sinistra, proferida por uma velha senhora que usava um lenço com moedas de prata adornadas. Em seguida o tilintar de ossos caindo sobre uma bacia.

Gina gritando, Harry caído tentando alcançar algo desesperadamente. Rony ensangüentado num chão de mármore. Os olhos sem vida contemplando o vazio... Morto.

“Se algo acontecer... Será sua culpa”.


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Hermione abriu os olhos assustada.

Já havia amanhecido e a primeira coisa que ela fez foi verificar se Rony ainda estava lá ao lado dela. O ruivo roncava audível ferrado num sono pesado. Ela se levantou, tomando o maior cuidado para não acordar o ruivo, foi andando na ponta dos pés, até o banheiro onde lavou o rosto. Ela encarou a face molhada no espelho.
“Você está indo longe demais...” ela pensou encarando o próprio reflexo. “Você está se deixando levar! Está colocando a vida dele em risco!”.

Ela deu alguns passos, parou no arco da porta do banheiro, de longe ela observou Rony dormindo.

“Se eu for mais cuidadosa com minha impulsividade? Se eu evitar me deixar levar pela emoção...” Mione pensou. “Se eu me negar a ficar mais intima... Será que ele vai agüentar ficar comigo? Será que eu vou agüentar ficar longe dele?” diversos pensamentos passaram velozes na cabeça dela.

- Bom dia... – Falou Rony sonolento da cama. Ele havia acordado, e Hermione, tão absorta em seus pensamentos nem havia notado.

- Bom dia. – Ela respondeu. – Temos que nos arrumar, o dia vai ser longo e quase não dormimos. – Hermione ruborizou de leve. Rony não pode evitar um sorriso maroto de se formar. Ele se ergueu penosamente, passou por ela dando um beijo estalado na bochecha, entrou no banheiro, onde primeiramente lavou o rosto. Hermione já havia dado as costas e saia do banheiro quando o ruivo lhe fez uma pergunta, a ultima pergunta que Hermione esperava ouvir.

- O que é Zayra? – Rony perguntou ainda lavando o rosto.

- O que? – Ela indagou sentindo-se zonza parada no arco da porta.

- Zayra... Você repetiu essa palavra algumas vezes enquanto dormia... – Rony disse, olhando para as costas de Hermione, sem saber qual era a expressão no rosto dela.

- Não tenho idéia do que pode ser isso... – Ela disse virando-se sorrindo para encarar o ruivo. – Provavelmente eu estava tendo algum sonho maluco... – Ela fechou a porta, deixando Rony sozinho para terminar a higiene matinal.

No quarto ela respirou profundamente para evitar chorar, e sentiu um remorso ao constatar que mais uma vez havia mentido para Rony.


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Draco caminhou penosamente em direção a porta quando o som das batidas se tornou audível. Astória esfregou o rosto com força, chorou pelo resto da noite toda.

- Harry acabou de chegar... – Falou Neville quando Draco abriu a porta. – Ele quer falar com você e com a garota...

- Diga que descerei em alguns minutos. – Falou o loiro fechando a porta rispidamente na cara de Neville. Ele esfregou os olhos com força, não havia conseguido dormir a noite inteira.

- Harry? – Astória perguntou. – Quem é esse?

- Ele também estava lá tentando te salvar... É ele quem vai contar tudo que você quiser saber... – Ele deu as costas pra garota. – Eu vou descer primeiro, quando você se sentir pronta pode descer. – Ele saiu sem nem ao menos esperar a resposta dela.

Ele se demorou no corredor por alguns instantes, tentando recompor as energias, e da melhor maneira que pode, ajeitar as vestes sujas e rasgadas e assentar os cabelos loiros que agora estavam despenteados. Depois seguiu para o andar abaixo, não demorou nem um segundo para avistar Harry, Rony, Hermione, e um homem loiro que ele nunca havia visto comendo juntos numa mesa afastada do resto das pessoas. Draco sentou-se sem cumprimentar ninguém. – A garota já está descendo. – Ele se serviu de um pouco de café. – A noite foi difícil pra ela...

- Espero que ela não demore... – Falou o homem loiro que Draco desconhecia. – Tenho assuntos importantes pra tratar com ela.

- Quem é esse? – Draco perguntou apontando de qualquer jeito para o desconhecido.

- Esse é o Nigel... – Harry respondeu. – Trabalha no setor de cooperação entre Aurores e o departamento de Execução de Leis Mágicas...

Nigel ofereceu a mão para ser apertada, mas Draco ignorou completamente o gesto.

- Você está uma droga Malfoy... – Disse Rony notando que as roupas de Draco estavam extremamente amassadas, seus cabelos desalinhados, e olheiras fundas se destacavam no rosto fino dele.

- Não que isso seja da sua conta Weasley... – Draco pegou uma torrada na tigela que estava por perto. – Mas minha casa foi atacada e destruída, o corte no meu braço não cicatrizou muito bem, corri risco de vida duas vezes ontem, e eu estava preocupado demais para dormir, afinal eu estava tomando conta de uma garota que perdeu a família inteira numa única tarde... Parece-me bem obvio que a essa altura eu estaria “uma droga”.

Rony fechou a cara, detestava ser repreendido por Malfoy, mas dessa vez tinha de dar o braço a torcer, ele estava certo.

- Ao menos agora conhecemos a pessoa que salvamos... – Draco disse. – Eu conversei um pouco com ela, ela disse que se chama...

- Astória Greengrass... – Harry completou.

- Como você sabia? – Draco perguntou confuso.

- Nigel pesquisou o endereço essa manhã... – Harry indicou o companheiro. – É exatamente por isso que ele está aqui...

- Veja bem... – Nigel foi dizendo. – Tenho que falar com ela, ela é uma pessoa muito importante, e nós não podemos deixar isso vir a publico compreende?

- Importante? – Draco indagou.

- Muito! – Falou Nigel surpreso. – A família dela, os Greengrass, é riquíssima! Eles são donos de uma boa parte de todos os negócios lucrativos do mundo mágico! – Ele começou a contar nos dedos. – São donos de parte do correio coruja, de algumas colunas do profeta diário, financiaram algumas lojas do beco diagonal e do exterior... Acho que eles até são parte donos de um time de quadribol!

- Uau... – Rony disse.

- Nossa convidada chegou. – Hermione disse indicando Astória, que descia a escada embrulhada no casaco de Draco. A loira rapidamente identificou Draco entre os presentes e se dirigiu a mesa, Ela sentou-se timidamente, os olhos extremamente vermelhos por ter chorado tanto na noite anterior, ela lançou um olhar rápido e assustado para todos sentados, demorando-se mais em Harry.

- Bom dia senhorita Greengrass. – Harry disse.

- Você é Harry Potter! – Ela exclamou espantada, olhando diretamente para a cicatriz na testa dele.

Harry apressou-se em mexer nos cabelos, tentando inutilmente esconder a cicatriz. - É, eu sou... Esses são Ronald Weasley, auror do ministério; Nigel Benjamin, também é auror; Hermione Granger, do departamento de excecução de leis mágicas.

- Você também estava lá tentando salvar minha família? – Astória perguntou.

- Sim estava... – Ele disse. – Sinto muito pelos seus pais...

A loira abaixou depressa a cabeça e respirou fundo, não queria chorar na frente de tantas pessoas.

- Sua casa já foi interditada... – Harry falou o mais delicadamente que pode. – Você pode voltar lá e pegar tudo que você precise no tempo em que ficar aqui no Caldeirão Furado, se preferir podemos mandar alguem de confiança do ministério para fazer isso...

- Eu não vou voltar lá. – Ela disse sem olhar para ninguém. – Nunca mais... - Todos trocaram olhares nervosos na mesa. - Aquela era só a casa de campo do papai... Encontrem alguem interessado em comprar a propriedade, vendam tudo que tem lá dentro... Eu não me importo. Comprarei coisas novas e voltarei para a nossa mansão.

- Nesse caso... – Nigel disse. – Temos algumas medidas legais a tomar. – Astória olhou confusa para Nigel. – Seus pais deixaram tudo para a senhorita... Uma fortuna grande... Sociedade majoritária em diversos negócios... Agora é tudo seu.

- Eu... – Ela começou a dizer.

- O ministério vai indicar alguém para colocar tudo nos conformes até que você se sinta bem para assumir os negócios... – Nigel acalmou a garota.

- Pouco me importa o dinheiro dos meus pais! – Ela exclamou com a voz saindo mais aguda do que pretendia. – Eu quero saber por que eles morreram! Quem os matou? É isso que eu quero!

- Olha... – Rony foi dizendo – Sabemos que você está abalada com essa situação, mas é um assunto delicado, não podemos revelar todos os detalhes...

- Parem de me tratar como criança! – Ela gritou, chamando a atenção de alguns clientes do Caldeirão, Neville, que estava no balcão, olhou assustado para a mesa deles. – Eu quero saber o porquê!

- Sua família possuía um artefato mágico que é necessário para realizar um ritual antigo... – Draco falou. – Um grupo de bruxos das trevas está reunindo esses artefatos. Ainda precisam de mais seis.

- Malfoy! – Rony exclamou, olhando ao redor para certificar-se de que ninguém o havia escutado. – Isso é assunto do ministério!

- Ela tem o direito de saber Weasley! – Draco disse calmamente.

- É perigoso pra ela saber! – Rony vociferou.

- Que tipo de ritual? – Astória interrompeu antes que eles começassem uma briga.

Malfoy lançou um olhar significativo para Rony, mas foi Harry quem falou. – Eles precisam de sete artefatos, que vão servir como chave para abrir sete portões mágicos... – Ele lançou um olhar para Rony. – Malfoy está certo, ela merece saber.

- Eu não acredito que você acabou de concordar com o Malfoy! – Rony exclamou.

- Rony acalme-se um pouco! – Hermione disse baixo para o ruivo. Rony por sua vez, cruzou os braços e se distanciou um pouco da mesa irritado.

- Certo... Se eles querem contar... O problema é deles se vão envolver mais uma pessoa nisso! – O ruivo disse.

- Por que eles querem abrir esses sete portões? – Astória perguntou, ignorando os protestos de Rony.

- Tem um cálice muito importante lá dentro... – Draco respondeu.

- O que o cálice faz? – Ela perguntou.

- Não temos certeza... – Hermione respondeu, procurando alguma coisa dentro da bolsinha extensível. – Mas é provável que tenha algo com a imortalidade... – Ela retirou um livro gasto de dentro da bolsa e abriu diante de todos na mesa. Todos olharam surpresos para o livro.

- É o mesmo livro que Dorian nos mostrou! – Rony exclamou. – Como você conseguiu isso?

- Eu... Eu... – Ela folheou as paginas rápido. – Eu decorei o titulo do livro, comprei enquanto vocês estavam na mansão Malfoy... Foi difícil achar, mas achei que seria útil.

Todos pareceram acreditar, Hermione achou que essa pequena mentira não faria mal. 

- Bom, a maior parte das coisas que sabemos sobre o cálice são apenas especulações e lendas...

- Ela indicou um desenho do cálice no livro. – Sabemos que foi criado por um bruxo poderoso chamado Fazel... Aqui diz que qualquer liquido que é colocado no cálice se torna uma poderosa poção, capaz de curar qualquer doença e ferimento...

Os olhos verdes de Astória fitaram o desenho do cálice, que parecia não possuir adornos, exceto por uma fênix esculpida em suas laterais, e um sete invertido no centro.

- O cálice supostamente também é capaz de acordar um grande numero de Inferi... – Hermione continuou a dizer. – O suficiente para formar um exército... – Ela fez uma pausa. – Alguns historiadores acreditam que o cálice também é capaz de trazer uma pessoa da morte.

- O que? – Astória perguntou espantada.

- Nenhum feitiço pode trazer alguém dos mortos Mione... – Harry falou. – Você sabe muito bem disso.

- Eu sei! – Hermione respondeu. – Mas como eu disse, a maioria das coisas que sabemos sobre o cálice são apenas lendas...

- O anel que levaram da minha família era uma das chaves? – Astória perguntou.

- Sim... – Harry respondeu. – Eles têm uma chave, nós temos outra... Ainda faltam cinco.

- Como eles sabiam que o anel estava com minha família? – A garota perguntou confusa.

Todos trocaram olhares nervosos, Draco falou antes que qualquer um pudesse dizer qualquer coisa. – Eles roubaram um espelho da minha casa... Um espelho que indica onde estão as próximas chaves. Ninguém ousou contradizer a explicação do loiro. Mesmo sabendo que foi o próprio Draco quem usou o espelho e deu a localização da família de Astória.

- Nós também temos um pedaço do mesmo espelho que eles usaram... – Draco continuou. – Vamos reunir as chaves antes deles.

- Quando vocês vão atrás da próxima chave? – A loira perguntou mudando totalmente de expressão.

- O Ministério precisa de algum tempo, entrar em contato com algumas pessoas, para tentar financiar os galeões necessãrios para uma chave de portal para a Escócia, - Nigel disse prontamente. – É lá que a chave está. Quando tivermos o dinheiro vamos enviar uma excursão até lá. Pode demorar alguns meses. - Todos ficaram calados por alguns instantes.

- Eu e Harry vamos fazer todo o possível para capturar os desgraçados que atacaram sua família... – Rony disse quebrando o silencio.

- E eu vou com eles. – Hermione falou subitamente.

- O que? – Harry e Rony disseram juntos.

- Eu vou com vocês. – Ela falou decidida. – Eu estou tão envolvida nisso quanto vocês! - E, como vão estar viajando para o exterior, o ministério insiste que alguem do departamento de execução de leis mágicas esteja lá para evitar algum incidente internacional... Eu andei cobrando uns favores, então... Irei com vocês.

- Vai ser perigoso Mione! – Rony falou.

- Eu estive com vocês durante todos os desafios que já enfrentaram. – Ela fechou o livro e guardou dentro da bolsa. – Eu estava na batalha de Hogwarts! Eu acho que eu tenho noção do perigo que vou correr Ronald...

- Esse é um bom momento para dizer que também irei... – Draco disse.

- Não! – Harry exclamou. – Já é suficientemente ruim a Mione envolvida nisso!

- Vocês todos já estariam mortos se não fosse por mim! – Draco exclamou se exaltando. – Alem disso, caso você não se lembre, sou eu quem está com o espelho que vai encontrar as outras chaves... Ainda é minha posse, e eu decido se entrego ou não para o ministério. – O loiro abriu um sorriso malicioso.

- Isso só pode ser uma brincadeira... – Rony disse cobrindo o rosto com as mãos.

- Por que? - Harry perguntou. - Por que acompanhar a gente?

- Tenho meus motivos. - Draco disse com calma.

- Se ele vai, então não vejo alternativa se não acompanhar vocês. – Astória disse.

- Esperam um instante! – Harry exclamou. – Isso não é nenhuma viagem de férias! Rony e eu vamos por que somos aurores e esse é nosso trabalho!

- O senhor Nigel, acabou de me informar que você precisam passar por uma tremenda burocracia para conseguir dinheiro para a viagem. - Astória estreitou os olhos maldosamente. - Eu posso facilitar o processo. Eu arco com todos os custos; Em troca eu exijo ir junto... Podem dizer que quero ficar de olho em como meu dinheiro está sendo gasto.

- Todos nós acabamos metidos nisso de maneiras diferentes! – Hermione respondeu.

- Não importa o quanto você discuta isso Potter... – Draco falou olhando fundo nos olhos verdes de Harry. – Nós vamos acompanhar vocês... E não me importa o quão perigoso vai ser o caminho, nada vai me impedir de reunir todas aquelas chaves.


 Harry respirou fundo. As coisas tinham acabado de tomar um rumo inesperado.




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