Baile de Outono



N/a: Estava no meio do capítulo quando vi: 7.129 palavras.
Pensei: MEUDEUSMEUDEUSMEUDEUSMEU.DEUS.
Tentei terminar sem colocar muita coisa insignificante, diminuindo as músicas e alguns diálogos, mesmo assim deu 13 mil palavras. Pensei em dividir o capítulo, mas aí ficaria sem graça, ENTAOOOO ESTÁ AQUIIII O TÃO ESPERADO BAILE DE OUTONO. E TEM ED SHEERAN UHULLL
As músicas, que estão pela metade, só com algumas partes, são essas: 
A Sky Full Of Stars - Coldplay, Hear Your Me - Jimmy Eat World -, Tenerife Sea - Ed Sheeran, Don‘t look back in anger - Oasis, The a Team - Ed Sheeran (NESSA ORDEM). 
E é isso, gente. 
Deixem um comments aí, please, falando do que achou do baile etc e tal. 
Boa leitura e até o próximo capítulo. 

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– Ainda dá tempo?


Ao ouvir essas palavras, Malfoy se virou pra mim, meio surpreso por me ver ali, Hermione Granger, aceitando seu convite, mas ele sorriu.


Malfoy ainda me olhava, se divertindo com a situação já, esperando eu continuar. Esperando eu dizer uma das coisas mais difícies pra mim.


– Ainda dá tempo de aceitar seu convite? – olhei pra baixo, meio envergonhada, sabendo que ele poderia rir e dizer que não, não dava mais tempo, mas, fitando o chão, eu vi a mão dele sendo estendida pra mim, como se aquele fosse o pedido dele.


– Dança comigo, Granger – e ele sorria. Era impossível sair correndo desesperada depois disso. E seria mentira se eu dissesse que aquele sorriso não mexia comigo.


Finalmente o olhei.


– Vai me beijar na frente de todos? – perguntei na vã tentativa de disfarçar meu nervosismo.


– Você sabe. Você vai ter que pedir.


– Então você não vai me beijar na frente de todos – respondi, dando de ombros.


– Como quiser.


Adoraria dizer que um beijo não aconteceu. Mas aí eu estaria mentindo e não haveria graça ter saído do quarto para ir aquele baile.


**


Querido presente de Gina Weasley,


Três horas na frente do espelho, errando maquiagens, seguindo instruções de revistas trouxas e feitiços de Lilá para dar um trato no meu cabelo, fiquei me perguntando por que mesmo deixei Violet me levar para o lado negro da força, onde envolvia o Baile e vestidos que mal me deixam respirar.


Não lembro mesmo meus motivos para aceitar ir ao baile nem se eu estava consciente ou não para concordar, mas ficar olhando meu vestido pelo espelho e comentando mentalmente o quão lindo ele era me fez reunir todas as revistas que tinha naquela Sala Comunal, todos os feitiços que Lilá tinha escondido em seu malão – e, acredite, eram muitos! – e as maquiagens que tinham naquele quarto.


Foi quando eu estava usando um dos vários feitiços da Lilá para alisar meu cabelo, que me deparei pensando naquela doninha loira herdeira dos Malfoy. Pois é, o Draco.


Não sei bem porque estou falando mais ainda dele nesse diário, não sei porque vou esclarecer mais uma vez essa noite porque odeio ele.


E eu odeio ele.


Me odeio por me pegar pensando nele.


Odeio quando trocamos olhares no jantar, no Salão Principal.


Odeio como ele sorri debochado e diz meu nome.


Odeio o jeito que ele anda, confiável e otimista, como se nada abalasse ele.


Odeio quando ele contraria aquele maxilar quando brigamos e não me xinga de volta.


Odeio como ele passa a mão naquele cabelo loiro quando está nervoso.


Odeio como ele fica convencido quando está certo.


Odeio quando ele paga de compreensivo e me da lição de moral.


Odeio quando ele diz que eu o amo.


Odeio reparar essas coisas.


Ficar pensando nisso me fez errar um feitiço para alisar meu cabelo. Foco, Hermione, Malfoy é o de menos.


Desisti de exigir que meu cabelo fique liso, o deixando cachear por conta própria, para me preocupar com um penteado depois. Comecei procurar nas revistas uma maquiagem que dê certo com o vestido que eu arranjara, achando que essa seria a parte mais fácil. Mas, não, não era a parte mais fácil.


Enquanto passava um delineador preto no olho (espero que seja esse mesmo o nome), tentado manter a concentração para que nada saia errado, fiquei me perguntando novamente por que tinha concordado ir aquele baile.


Mas eu ainda duvido que Merlin queira me ver bem, então, ao fazer a parte mais difícil da coisa, me deparei com uma Ginevra Weasley entrando no quarto, procurando por Lilá.


– Não faço ideia – respondi quando a ruiva perguntou onde a Lilá tinha se metido. Também me perguntei onde diabos aquele loira estava, porque, bem, se ela estivesse naquele quarto, pelo menos me ajudando, Ginevra Weasley não concordaria em esperar ela, como eu tinha dito.


Não sei se a ruiva sabe, mas quando uma pessoa diz “se quiser esperar ela...” não quer dizer que você tem mesmo que esperar o sujeito ali, e você até pode dizer que volta depois, porque, sério, a pessoa nem vai se importar, já que foi por pura educação que ela disse aquilo. E, você, Ginevra Weasley, deveria ser educada o suficiente para negar minha proposta e voltar depois.


Foi observando aquela ruiva pelo espelho, sentada na cama de Lilá, olhando cada canto do quarto, que me fez desconcentrar e errar ao passar aquele negócio no meu olho. Irritada, peguei o papel higiênico que estava na mesinha e passei no borro, tirando todo o lápis.


– Ah, você usa esse diário – Gina disse, meio sorrindo, olhando você, diário, em cima da minha cama. – Achei que não tinha gostado.


VOCÊ NÃO FAZ IDEIA, RUIVA, DE COMO E PARA QUE EU USO ESSE DIÁRIO. AS PALAVRAS ESCRITAS AÍ, OS MEUS MOMENTOS DE RAIVA E NERVOSO. SÉRIO. VOCÊ NÃO FAZ IDEIA MESMO DO QUE EU ESCREVO NESSE PRESENTE QUE VOCÊ ME DEU.


– É, eu escrevo nele... às vezes – novamente, eu errei por onde o lápis deveria passar, fazendo um risco na minha bochecha. Peguei outro papel e passei onde estava manchado.


Ouvi a ruiva rir.


– Quer ajuda com isso aí?


Virei-me, lentamente, para onde ela estava sentada, imaginando se ria ou não.


Vagamente, veio a lembrança de quando estávamos no quarto ano, quando teve o Baile de Inverno na véspera de Natal. Aquele que eu fui com Krum, mas queria mesmo era que Harry me convidasse logo de uma vez; o que não aconteceu. Quando eu me arrumei, naquele dia, a ruiva também aparecera no quarto e me ajudara com meu cabelo. Naquela época, éramos amigas e contávamos tudo uma para a outra, quando combinávamos que não daríamos umas de garotas-que-façam-com-que-a-vida-gire-em-torno-do-namorado como muitas de Hogwarts. E, olha a ironia, paramos de conversar por um garoto. Fazia o quê? Uns dois anos?


– Quero – assenti, quase chorando pela nostalgia. Maldito sentimental.


Gina sorriu e foi toda animada para onde eu estava. Ela pegou o pincel com certa cautela e começou seu trabalho.


Fiquei imaginado se ela enfiaria aquilo no meu olho. Parece cruel, mas seria uma coisa que eu cogitaria se estivesse trabalhando nos olhos dela. Sim, parece muito cruel.


– Ei, me desculpe por perder. Sei que você não gosta muito do Malfoy e não queria que ele ganhasse. Embora tenha sido a Mallette quem duelou – ela deu de ombros, trocando de olho.


Eu estava ocupada demais manteando a expressão, por isso não fiquei de queixo caído.


NÃO GOSTA MUITO? É ASSIM ENTÃO QUE AS PESSOAS VEEM MINHA CAUSA COM A SERPENTE?


– Já resolvi isso – eu sorri, ao lembrar da cena. Exceto pela parte que o Malfoy confunde um ultimato com uma oportunidade a mais de me deixar perturbada. – Vai com quem?


Ok, essa era uma pergunta insignificante e desnecessária, uma vez que fora eu quem incentivara Harry Potter a chama-la, e o próprio me contara como fizera isso, mas o silêncio entre Gina e eu sempre me incomoda. Me faz lembrar que ambas sentem o mesmo em relação a Harry, só que ela se deu bem e eu... não.


– Harry me convidou – ela respondeu casualmente, mas meio cautelosa. Não, Ginevra, eu não vou te atacar em território escolar, fique tranquila. – E você? Vai com quem?


Antes que eu pudesse responder, uma Lilá Brown bastante animada entrou no quarto acompanhada de Parvati. Elas traziam três vestidos. Um rosa, outro roxo e um laranja, que eu imaginei pertencer a Gina.


Gina terminou de passar aquele instrumento mortífero em mim, e se afastou um pouco para observa-me. Depois sorriu e me fez virar para o espelho.


Lilá me convenceu de usar um batom vermelho e sombra preta, já que "combina com o vestido e fica sexy".


Parvati, aquela que agradeço eternamente, fez Lilá e Gina saírem do quarto e irem se arrumar no quarto do 5º ano e me deixarem sozinha com meus feitiços, minha varinha e um cabelo para arrumar.


Esse era o filme de terror do ano.


Depois de muitas lutas, desespero, sangue, guerra e emoções, eu finalmente consegui. Deixei-o preso num rabo-de-cavalo de lado, baixo, como uma revista trouxa indicava. Rezei para que minha franja, a única coisa que eu consegui alisar com sucesso, permanecesse.


Então veio a parte mais sofrida da luta: colocar o vestido.


Era vermelho e tinha desenhos de rendas na parte de cima (se Violet estivesse aqui, ela me corrigiria: "Rendas francesas, Granger") e deixava meus braços completamente nus. A saia descia lisa, graciosa e... Vermelha.


(Bom, a saia era lisa e não chamava muita atenção, mas Violet se juntou com Lilá e Parvati e elas praticamente me obrigaram a usar um saiote. Então agora a saia do vestido está um pouco mais cheia, e com uma saia amais).


Parvati disse que aquele era um vestido parecido com um que uma cantora trouxa usou num evento trouxa e ambas concordamos que, vindo de Violet, não seria supressa se o vestido ali em minhas mãos fosse o que a cantora usou.


Me olhei pela décima vez no espelho, avaliando-me. Avaliando meu cabelo, minha maquiagem, e meu vestido.


É, Hermione, você está linda. Respira, respira, respira.


Aprendi essa noite: só porque o vestido é lindo, não quer dizer que vá ser confortável. E como aquele vestido era apertado!


Peguei a máscara que tinha escolhido com Luna e saí do quarto, respirando e inspirando mais nervosa do que o normal.


Encontrei com Rony e Harry na Sala Comunal. Os dois estavam lindos com aqueles ternos, coletes e gravatas que insisti para que colocassem – essa é uma das vantagens de ter os dois como amigos; eles não me deixam sofrer sozinha. Porque se pudesse ir de uniforme nesse baile, eu iria.


Não sei onde Harry conseguira uma cartola daquelas, e nem onde Rony encontrara aquele smoking pingüim, mas eu tive que parar na escada, me encostar no corrimão e observar a cena engraçada de Ronald Weasley lutar com uma gravata borboleta. Mas, assim como Harry que colocava a cartola, ele parou de fazer o que quer que esteja fazendo naquela gravata e olhou para onde eu estava, boquiaberto


– Waw – palavras de Ronald Weasley.


– Waw – palavras de Harry Potter.


– Como estou? – palavras minhas.


– Waw – palavras de Ronald Weasley.


– Nossa – palavras de Harry Potter, pouco antes de piscar, voltando para a realidade – Você está linda, Mione.


– Não está muito... vermelho?


– Não – Harry balançou a cabeça – Tá linda.


Eu sorri e me virei para Ronald, que ainda me olhava boquiaberto e com um tipo de laço na gravata, como um cadarço. Fiz um nó borboleta na gravata.


– Agora sim.


– Obrigado – disse ele, colocando a máscara dourada no rosto.


Harry colocou sua máscara e me ofereceu o braço. Ron fez o mesmo.


– Pronta? – Harry perguntou.


Assenti: – Pronta.


E, daquele jeito, seguimos para o Salão Principal onde acontecia o Baile de Outono.


**


Draco Malfoy passou a mão mais uma vez em seu cabelo loiro, deixando-o todo bagunçado por questão de nervoso.


Novamente ele parou de frente ao espelho no dormitório masculino para verificar como estava.


Smoking, gravata, colete, máscara e... cabelo bagunçado.


Ele pegou o pente de um dos amigos e passou, tentando manter a calma, em seu cabelo loiro. Quando viu que estava careta demais, passou novamente, até chegar a conclusão de que estava fazendo aquilo por pirraça mesmo.


É claro que ele estava lindo e perfeito. Ele era o Malfoy, ué.


Os amigos, que ainda estavam perdidos em questão de smoking, terno, gravata e nós de gravatas demorariam ainda naquele dormitório e Draco já estava impaciente sem motivos, então ele saiu do Salão da Sonserina e foi para o Salão Principal, onde acontecia o Baile de Outono.


Ver Argo Filch, engravatado, com o cabelo arrumado e com sua gata Norra perto da escadaria do Salão, fez Draco se perguntar de quem foi a brilhante ideia de colocar o zelador para anunciar a entrada de cada casal. E a) por que mesmo tinha decidido ir naquele baile, b) quem fora o infeliz que inventou os bailes e c) por que esse infeliz resolveu inventar que também deveria haver casais para esses bailes.


O Malfoy passou a mão no cabelo loiro novamente, completamente irritado: Filch lhe perguntara quem era seu par.


Antes que Draco respondesse, ele viu, de relance, uma garota de vestido vermelho atravessar o salão acompanhada de dois garotos – e um deles até tinha uma cartola.


Draco riu.


Quem será a fanática por Godric Gryffindor?


Apenas quando a garota se virou para dizer algo para o garoto ruivo que Draco a reconheceu..


Ah, claro, Granger.


– Então...? – Filch insistiu.


– Vou depois – o Malfoy respondeu, ainda olhando para a garota de vermelho. – Ela veio acompanhada deles?


Filch olhou para dentro do salão, para a direção que Draco apontava. O zelador olhou na longa lista que tinha nas mãos e balançou a cabeça em resposta.


– A srta. Granger veio sozinha.


– Ah – Draco deu de ombros, fingindo não se importar.


O Malfoy se virou, pronto para voltar para sua Sala Comunal, onde decidira que esperaria pelos amigos. Não tinha par mesmo, tinha que fazer o mesmo que Hermione: ir acompanhada dos amigos.


É, será uma longa noite.


**


Procurei Malfoy nas pessoas que ainda olharam pasmos para nós três e me surpreendi por ter feito isso e ter ficado decepcionada com o resultado.


As pessoas apontavam e cochichavam para quem esteja ao lado, e teve até algumas que nem foram tão discretas.


“Merlin, se não é a Hermione Granger”, “Nossa, como ela está linda”, “Que vestido! Merlin...”, “Ela veio com quem mesmo?”, “Ela veio sozinha, seu idiota”. Mais ou menos assim.


Vi que os garotos sonserinos ainda não tinham chegado, e nem Malfoy. Tentei manter a calma ou me livrar da sensação de curiosidade.


Não me importa se ele veio ou não; ele não era meu par.


Harry e Ron foram para a escadaria, esperar por Luna e Gina, enquanto eu tentava localizar Lilá, Parvati ou até mesmo Violet, mas, assim como todos ali naquele salão, olhei para o grupo de pessoas que entravam pela porta.


Eu juro, tentei disfarçar, mas teve gente que nem pareceu se importar de fazer isso e ainda apontavam e falavam.


"Waw como o Draco tá gostoso!", "MEUMERLIN Pena que o Niall tem par!", "Mas o Paul veio sozinho", "Mallette deve ter se arrependido de dispensar ele, olha como ele está um pedaço de mal caminho!!!", "Malfoy veio com quem mesmo?", "verdade, Malfoy veio com quem?" Tipo isso.


E parecia mais uma cena de filme. Do tipo: "os anfitriões chegaram. Que comece a festa". Mas era mais uma realidade de pertencer a casa de Salazar: "os sonserinos chegaram. Que comece a festa!".


Não tem como duvidar, eles chamam atenção por onde quer que passam.


Augustus, Paul, Malfoy, Samuel, Niall e Brian de braços dados com Violet atravessaram o salão vestidos com seus smokings importados e suas máscaras negras e/ou verdes.


Chegava até ser perigoso olha-los, já que estavam completamente lindos.


Violet, a única não vestida de preto, usava um tomara-que-caia roxo que não marcava a cintura, com lantejoulas na parte de cima (e ela diria: "paetês, Hermione, paetês"). Ela arrumou o cabelo num coque baixo, meio solto, e sua máscara era branca – como se Violet precisasse se mais motivos para chamar atenção.


Ela acenou para mim da mesa da Sonserina, assim como os garotos que sorriam traquinas e piscavam – DEPOIS DESSA, EU CONTEI UNS TRÊS GRUPINHOS DE GAROTAS QUE ME OLHARAM FEIO. Malfoy, que eu cheguei pensar que me olharia daquele jeito que só ele sabe me olhar após uma briga... Sorriu. E até levantou a taça como forma de cumprimento. Eu acenei com a cabeça em resposta.


É, será uma longa noite.


Detestaria deixar de ignorar esse fato, mas é como se a cena martelasse em minha cabeça, insistindo para que eu escreva. Então lá vai.


Malfoy – aquela puto loiro herdeiro dos Malfoy e animal de estimação de Voldermot, comparça da cobra dele, Nagini ARGGH SIM ELE! – estava de smoking preta com uma longa capa preta e uma máscara verde escura, que chegava ser confundia com o preto (sei disso porque era possível notar a cor da máscara com aquele rosto centímetros do meu. Nada a declarar). Lindo. Sem dúvidas, lindo. O cabelo dele estava meio bagunçado, algumas garotas diriam que é apenas o charme dele, mas eu convivi um pouco com Malfoy para dizer que aquilo significava nervosismo.


E eu tinha até pena do infeliz que tinha deixado Malfoy nesse estado.


Ah, não, espera. Fui eu.


Minha lamentação foi interrompida por Dumbledore, que estava de pé perto da mesa dos professores com o mesmo estilo de roupa de sempre e com o mesmo sorriso maroto.


– Boa noite, Senhoras e Senhores – ele disse para chamar a atenção – Bem-vindos! Bem-vindos a mais um baile de Halloween, o Baile de Outono. Organizado pela Professora McGonagall – Dumbledore foi interrompido por palmas que soaram para a professora. Ela se levantou, acenou meio corada e voltou ao seu lugar, ainda corada – essa noite teremos duas das maiores bandas do mundo mágico. Recebam muito bem os integrantes da banda As Esquisitonas – mais palmas e até gritos soaram pelo castelo. Achei que algumas garotas iriam desmaiar quando o vocalista se levantou da mesa dos professores e acenou para os fãs enlouquecidos – E King‘s! – e mais palmas, e mais gritos, e mais comemorações. Até os garotos gritaram daquele jeitos deles, machões. Uma garota atrás de mim gritou EU TE AMO para o vocalista, quando ele levantou para nos cumprimentar. – Mas, enquanto a banda não se prepara, eu convido os monitores-chefes, os monitores, os sub-monitores e seus pares para a primeira valsa da noite.


Entrei em pânico.


Eu só não caí dura ali no meio do salão, porque o vestido não permitia, senão era provável. Mas não pude conter o grito de desespero, e os olhares das pessoas a minha volta, pensando se eu era louca.


Aquilo já era um fato concreto para todos ali: eu não tinha par.


Disseram para mim que era feminismo, mas não!, não é feminismo. Acontece que eu nem estava pensando em comparecer a esse baile – meus planos eram aparecer no local que estava acontecendo a festa dos calouros e me entupir de doces ou até mesmo ficar na sala comunal me entupindo de doces, por mim tanto faz, desde que tenha doces. E eu nem cheguei dar uma resposta para a única pessoa sã que me convidou. Então, bom, resumindo: teria que fazer alguém dançar comigo.


Vi Kevin Dean, sub-monitor da Corvinal, e sua acompanhante entrarem na roda formada ali. Jake Bauer, monitor da Lufa-lufa e sua acompanhante, fizeram o mesmo. Procurei Ron no meio da multidão, pensando que poderia chamá-lo para a dança, mas lembrei que ele estava com Luna e que ela era a monitora da Corvinal – não demorou muito para eu ver esses dois entrando na roda. Então pensei em Harry.


Ok, ele estava com Gina, mas Harry não negaria uma ajuda, né? Tomara.


Procurei ele na multidão de vestidos e smokings, e o encontrei do outro lado do salão; longe o bastante para eu chegar lá a tempo. Mas eu fui, né, porque sou uma criatura ingênua.


Tentei ao máximo não procurar por Malfoy, que deveria ter chamado Violet para a valsa, mas ver Pansy Parkinson atravessar o salão com seu vestido verde-esmeralda e ir de encontro ao loiro que a esperava no meio da roda, me fez parar para observar a cena.


Detestei a sensação que tive ao vê-los juntos.


Já tinha esquecido de que não tinha par e só não fiquei assistindo com desprezo aquela cena, porque senti olhares em mim, esperando alguma reação. Claro, eu era monitora-chefe, era meu dever comparecer naquela roda. Então puxei Augustus, o sonserino mais perto de mim, para a roda.


– Olha, Hermione, eu sei que estou incrivelmente gostoso nesse smoking e que você está incrivelmente linda nesse vestido e eu não deveria te dar um fora, mas eu tenho par – Augustus, o cara que passou na fila da beleza umas quinhentas vezes, deu um sorrisinho maroto pra mim. Um sorriso que me deixou constrangida, não porque ele estava incrivelmente gostoso mesmo naquele smoking, mas porque a acompanhante dele, uma menina bonitinha da Corvinal me olhava feio do outro lado do salão.


– Ah, desculpe... É que você era o que estava mais perto e... – me xinguei por ter dito isso, mas o olhar de "morre, vadia" vindo daquela corvina estava me deixando nervosa. Quer dizer, eu estava acostumada com esse tipo de olhar, principalmente vindo da talzinha Alice Carvin, que ainda me olha assim nas aulas de Herbologia, e pelos grupinhos que me olham com desprezo por causa dos sonserinos, só que aquela garota de vestido azul, acompanhante de Augustus, um garoto incrivelmente lindo dançando comigo, estava me dando medo. Cogitei a ideia de larga-lo ali e assumir logo de uma vez que eu não tenho par. – Meu Merlin, Augustus!, ela vai me matar.


Augustus riu: – Relaxa, eu tenho meus jeitos de consola-la.


(N/a: não sei se já mencionei isso, mas Augustus Taylor Elgort é em homenagem a Augustus Waters, e, por uma não incrível coincidência, muito parecido com Ansel Elgort, ator do filme.)


Eu ri nervosa.


– Então... boatos de que a senhorita negou um convite vindo do Malfoy...


– A notícia já está se espalhando por Hogwarts?


– Por Hogwarts eu não sei, mas pela Sonserina sim.


– O que, tecnicamente, é pior.


– Ah, que isso, desse jeito as meninas vão parar de te olhar daquele jeito.


– O jeito como ela está me olhando? – eu acenei com a cabeça para a corvina de azul. Não me dei ao trabalho de perguntar o nome ou tentar reconhece-la através da máscara, duvido muito que Augustus sabia.


– Ela vai superar – Augustus respondeu, meio que duvidando do que dissera. Nessa hora, os pares oficiais iam entrando na roda, que já não era mais uma roda, valsando como nós. A garota corvina fez sinal para Augustus e o questionou de testa frangida, exigindo que ele vá até ela, mas meu amigo canalha não deu a perceber que iria até lá.


– Ou não – eu disse quando a garota literalmente bateu o pé nervosa e foi para a saída.


– Arraso corações.


– Quer ir lá? Acho que não exigem mais os monitores aqui – eu fiz careta, mas vi todos os monitores ali valsando. Eu só queria sentar logo e comer alguma coisa logo.


– E perder a chance de te convencer a aceitar Draco? Não mesmo! – ele riu. Está falando sério?


– Ah, não...


– Ah, sim. Ele te convidou.


– E...?


– Sim ou não?


– Isso é realmente necessário?


– Convidou? – ele insistiu, me olhando de sobrancelha arqueada.


– Convidou! – quase gritei.


– E você disse não – aquilo definitivamente não era uma pergunta.


– Eu não disse não.


– Mas não disse sim.


– Também. Mas não era um não.


– Malfoy entendeu aquilo como um não.


– Malfoy não entende muita coisa – rebati.


– Ui – Augustus fez careta – Essa doeu.


– Quantas coisas foram quebradas na sala comunal da Sonserina? – perguntei irônica, imaginado a cena.


– Praticamente tudo do quarto da monitoria e do dormitório masculino. – Se tem uma coisa difícil de interpretar com esses garotos, é se eles estão falando sério ou não. Eles dizem as coisas, mas sorriem de uma forma ironica, uma coisa que, se outra pessoa normal fizer, você já espera o "RÁ! VOCÊ ACREDITOU". Mas descobri que sonserinos não são pessoas normais. – Mas é para isso que serve o Reparo, né? Estou virando expecialista no negócio já.


Bufei: – Ele parece muito bem ali dançando com a Parkinson.


– Queria ser Legilimens, mas Legilimens não posso ser... – Augustus citava. Não dei atenção.


– E, olha aquilo!, por que não vão para um quarto logo de uma vez?


– Ciúmes. Sentimento causado pelo receio de perder, para outrem, o afeto da pessoa amada. Manifestação desse sentimento? Despeito invejoso – e eu estava sendo ignorada. Que absurdo.


– Argh, não estou com ciúmes.


– Mas Legilimens não posso ser, pois o Legilimens...


– Não estou com ciúmes.


Augustus riu: – Okay. Mas, hã, ele não esperava que você dissesse não ao convite dele, sabe?


– Eu não disse não.


Augustus deu de ombros: – Então ainda dá tempo de aceitar.


– Não posso aceitar – Augustus arqueou as sobrancelhas pela resposta. Expliquei. – Quer dizer, ele me vê como vê essas garotas que são apaixonadas por ele.


– Então você não aceitou por orgulho?


– Não, não foi isso – balancei a cabeça. – Ele acha que pode me ter quando quer... Entende?


– Isso se chama orgulho.


– Ok! Foi por orgulho! Sou como uma figurinha de Quadribol que não completa o álbum dele!


– Metaforicamente falando, você seria a figurinha do Havena McQueen.


O apanhador favorito de Draco do time de Quadribol favorito de Draco. Sabia disso porque, uma vez na biblioteca, Malfoy encontrou um livro que falava desse time e ele fez questão de me informar de que o Havena McQueen era o melhor apanhador de todos os tempos. Quando li o livro, dias depois dele devolver, cheguei à conclusão de que McQueen fora mesmo nomeado melhor, e Draco nunca mais me deixou esquecer disso porque, afinal, eu tinha duvidado dele.


– Mas que seria facilmente substituída por Turn Old – me surpreendi por saber um pouco de Quadribol. Turn Old era o apanhador substituto do Havena, me surpreendi mais ainda quando me lembrei disso.


– Só para você ter ideia, sabidinha, quando o Old substituiu McQueen, o time perdeu feio.


– Certo... Mas mesmo assim Malfoy não me colocaria no álbum dele.


– Draco colocaria orgulhosamente em alguma lugar daquela bagunça que ele chama de quarto.


– Não, Augustus, sou uma figurinha repetida.


– Pois Draco guardaria qualquer coisa que seja do Havena – Augustus disse e logo notei que não estávamos mais falando de Quadribol. – E ele não colocaria em seu álbum mesmo, porque é importante.


A música, que até pouco, era lenta e valsante, foi substituída por um som que também era sucesso entre os trouxas. A Sky Full Of Stars, ou coisa parecida.


Cheguei pensar que Augustus iria atrás da sua acompanhante corvina, mas ele continuou ali comigo, e até me girou com o ritmo da música que tocava. Também não vi nenhum casalzinho saindo da pista, então fiquei por lá mesmo.


Augustus era um cara legal, ele me lembrava Ronald às vezes. Era a versão inteligente e sonserina do meu amigo Weasley.


‘Cause you‘re a sky, ‘cause you‘re a sky full of stars


“Porque você é um céu, você é um céu cheio de estrelas”


I‘m going to give you my heart


“Eu vou lhe dar meu coração


‘Cause you‘re a sky, ‘cause you‘re a sky full of stars


“Porque você é um céu, você é céu um cheio de estrelas”


‘Cause you light up the path


“E porque você ilumina o caminho”


– Há outras figurinhas pelo mundo mágico – questionei. Não, não queria deixar Augustus vencer essa discussão.


– Mas o Draco só quer a do Havena.


– Mas o Havena não está disponível – estávamos falando metaforicamente de Quadribol?


– Draco vai caçar essa figurinha pelo Mundo Mágico, porque ele só quer a figurinha do Havena.


I don‘t care


“Eu não me importo”


Go on and tear me apart


Vá em frente e me magoe”


I don‘t care if you do


“Eu não me importo se você o fizer”


‘Cause in a sky, ‘cause in a sky full of stars


“Porque em um céu, um céu cheio de estrelas”


I think I saw you


“Eu acho que eu te vi”


– A figurinha não tem escolha, né? – perguntei, meio vacilante.


– Claro que não.


– Malfoy poderia deixar de ser mimado, porque a figurinha...


– A figurinha só é importante para ele – Augustus sorria. O que subitamente me lembrou do Draco. Procurei ele pelo salão e o vi com Violet, rindo e dançando com ela... como eu estava com Augustus.


‘Cause you‘re a sky, ‘cause you‘re a sky full of stars


“Porque você é um céu, você é céu um cheio de estrelas”


I want to die in your arms


“Eu quero morrer em seus braços”


‘Cause you get lighter


“Porque você se ilumina”


The more it gets dark


“Quanto mais fica escuro”


I‘m going to give you my heart


“Eu vou lhe dar meu coração”


– Augustus, eu...


– Você deveria aceitar – ele disse por fim.


Quando não respondi, olhando ainda para os dois no meio da pista, rindo e conversando, Augustus continuou.


– Deixa de lado essa aposta. Ele deixou quando te convidou, vai por mim. Ele está tentando, pelo menos. Só dançou com a Pansy porque não tinha outra opção mesmo. Violet tinha encorajado ele a te chamar, mas ele não quis né... Já tinha levando muitos foras de você, Hermione, ele também tem seu orgulho. Esquece.Essa.Aposta. – essa última parte foi dita lentamente, como se eu fosse um menino de 10 que queria uma pista de corrida de Natal e ele a tia que deu meias da Calvin Klein e queria explicar que aquilo era Calvin Klein.


And I don‘t care


“E eu não me importo”


Go on and tear me apart


Vá em frente e me magoe”


I don‘t care if you do


“Eu não me importo se você o fizer”


‘Cause in a sky, ‘cause in a sky full of stars


“Porque em um céu, um céu cheio de estrelas”


I think I saw you


“Eu acho que eu te vi”


I think I saw you


“Eu acho que eu te vi”


– Não.


– Ah, Merlin, por que?


– Porque, não, em nenhum momento ele esqueceu dessa aposta.


– Vocês são mais parecidos do que pensam.


Eu o olhei de sobrancelha arqueada.


– Quero dizer teimosos.


‘Cause you‘re a sky


“Porque você é um céu”


You‘re a sky full of stars


“Você é um céu cheio de estrelas”


– Muito obrigada pela comparação.


– Violet tinha razão – ele dissera, mas para si do que pra mim – Você é complicada.


Such a heavenly view


“Tal visão celestião”


It such a heavenly view


“É uma visão tão celestial”


Augustus me girou, antes que eu pudesse responder. E assim a música terminou. O pessoal bateu palmas para a banda, assim como eu e Augustus. Começou outra música e resolvi incentiva-lo a ir atrás de sua acompanhante.


– Então... você, como monitora-chefe, deve saber de algum lugar privado essa noite, né? – bati no ombro dele, ele riu.


– A Sala Comunal da Sonserina – mesmo assim, respondi.


– Não temos permissão de levar uma pessoa de outra casa lá. Você acha que somos grifinórios, é? Que lá é a casa da mãe Morgana? A toca dos Weasley??


– Ah, certo, desculpe – revirei os olhos.


Augustus sorriu e me puxou para um abraço meio desajeitado. Eu já disse que ele é a versão sonserina do Ronald?


– Você tem até meia-noite para aceitar. Sem pressão.


– E se eu não aceitar?


– Ouvi falar que McGonagall já está pensando no Baile de Inverno. Em dezembro. Você vai esperar até dezembro para dançar Don‘t go away com o amor da sua vida?!


– Ele não é o amor da minha vida.


– É isso que você vai descobrir essa noite. Mas, relaxa, ainda haverá o Baile de Primavera, o Baile de Verão...


– Há esses bailes em Hogwarts?


– Hermione, faremos até o Baile de Júpiter se fosse necessário para vocês dois se resolverem.


Então, se eu não disse, Augustus Taylor Elgort é a versão sonserina de Ronald Weasley.


E eu quase chorei. Quase.


– Muito lindo da sua parte – respondi, passando a mão no olho, evitando borrar a maquiagem.


– Para de enrolar. Vai atrás dele.


Suspirei.


– E se ele disser não? Isso pode acontecer, sabe?


Augustus riu: – Eu duvido.


– E se...


– Não, ele não veio com a Pansy.


– Argh, quanta insistência. Eu sei, Elgort, que você tá no grupo do “SIM, DRACO VAI CONQUISTAR A GRANGER”.


– É, eu to sim. Mas realmente quero ver vocês juntos. E, se Violet não te contou, há uma brecha nessa aposta... e eu também faço parte dessa brecha.


Parei para calcular a informação que eu tinha ali.


– Malfoy sabe dessa brecha?


– Não. E já acho que tá na hora de vocês se chamarem pelo nome mesmo – Augustus continuou – Violet disse que se "tivemos amor à vida" – (ele realmente fez aspas no ar e foi a única vez que ele me soltou desde que arrastei ele para a pista) – não contaríamos. Achamos justo, porque, afinal, quando Draco foi desafiado, ninguém te contou.


– Muito justo.


Augustus balançou a cabeça: – Realmente muito parecidos.


Bati no braço dele.


– Você não tem que ir atrás da corvina que quer meu pescoço não?


– Sim, mas amigos em primeiro lugar, certo? – ele riu e me abraçou com só um braço.


Quando ele estava quase que saindo da pista, como eu queria sair também, ele se virou e gritou pra mim.


– Ainda dá tempo, Hermione.


É, Hermione, ainda dá tempo.


Não, Hermione, desiste da ideia.


Você tem que ir lá, Hermione.


É isso que ele quer Hermione.


E é isso o que você quer, Hermione.


Argh, subconsciente desgraçado.


Fiquei mais umas duas músicas ali na pista, dançando com gente que eu nunca conversei nesses 6 anos de Hogwarts, mas que me conheciam muito bem – observação: eram lufanas.


Depois foi anunciado o jantar e eu fui para a mesa que o sexto ano da Grifinória e Gina (!) estavam. Lilá sem Samuel, Ron sem Luna, Neville sem seu par (que era uma garota da Lufa-Lufa), Dino sem seu par (que era uma grifinória mesmo, do quinto ano), Harry com Gina, Simas com Parvati (SIM! ELE CONVIDOU ELA) e... eu.


Não me senti tão ruim assim porque afinal Ron e Lilá ainda estavam lá comigo, tinha Neville e Dino para fazer piadinhas dos vestidos bufantes e tinha pudim. Viu só? Minha noite tinha tudo para ser boa, e eu não me deixaria abalar só porque deveria ter aceitado vir com Malfoy... Até me pegar pensando como seria se eu estivesse vindo com ele.


Primeiramente, teríamos dançados juntos a valsa dos monitores, depois ele me faria ficar ali até terminar A Sky Full Of Stars e nos juntaríamos aos sonserinos e seus pares antes do jantar ser servido. Paul nos chamaria para a mesa da Sonserina, mas eu iria para onde meus amigos e Gina (!) estariam. E eu não me sentiria como se tivesse perdido alguma coisa, como se todos tivessem algo e eu não porque, bem, perdi antes de chegar – Já disse que isso é meu diário e que não precisa fazer sentido além de pra mim, e, pra mim, isso faz sentido – E quando Parvati e Simas começarem a se agarrar, Neville ir atrás de seu par, Lilá e Ron também deixarem a mesa para puxar Samuel e Luna para essa dança, Dino ir com Gina para a mesa do quinto ano e só sobrar Harry, eu, Parvati&Simas, Malfoy vai chegar por trás, colocar as mãos em meus olhos e aí eu vou tira-las e ver que era ele. Aí ele vai me arrastar para a pista de dança, que alias, está tocando Don’t Go Away. E ele canta junto e tudo parece perfeito. Eu não tenho que ficar sozinha na mesa com Harry, observando os amassos de Parvati&Simas, com aquele negócio no peito chamado solidão e arrependimento.


E a voz de Augustus martelando na minha cabeça falando que é orgulho.


E eu odeio com todas as forças do meu ser quando Malfoy faz parte do meu neverland.


No meu neverland eu não ficaria com Harry sozinha na mesa, no estranho clima entre Parvati&Simas.


Mas NÃO ESTAMOS no meu neverland.


– Nunca deixe eu ser assim com Gina.


Nós dois observávamos a cena que acontecia diante dos nossos olhos, sem qualquer cautela ou vergonha. Porque, hã, quem deveria ter cautela e vergonha era Simas e Parvati que quase faziam sexo na mesa. Agora entendo porque os calouros (primeiro, segundo, terceiro e quarto ano) não tinham permissão de ficar no Salão Principal para o Baile – e porque McGonagall planejara uma outra festa para eles, o que acho muito injusto, já que ninguém se disponibilizou a fazer isso quando estávamos no terceiro ano.


– Ok – respondi para Harry.


– Olha, se estão tão incomodados – a primeira vez que ouvi a voz de Simas naquela noite foi para dar uma passa fora em Harry e eu. Como se fosse necessário fazer um convite para sairmos daquela mesa. Mas por que diabos ainda estávamos lá??


– Ah, perdão, não queríamos interromper esse momento entre vocês – vi Parvati me lançar um sorriso tímido, como se suplicasse para eu sair logo daquela mesa. Harry riu e se levantou, balançando a cabeça para eu ir junto. Antes que eu o seguisse, me abaixei e fiquei entre o casal que ainda não tinham voltado a se beijar – Por que não vão para a Sala Comunal? – eu tentei mostrar meu melhor sorriso (sexy e simpático, dizia Lilá) ao passar o batom vermelho para Parvati. Os dois se entreolharam e Parvati murmurou um “obrigada”. Não os vi pelo resto da noite.


Harry me esperava.


Aquela era uma cena que eu já havia cansado de imaginar, e nas vezes que a imaginava, ficava pensando qual seria minha reação. Eu só não achava que sentiria uma roda-gigante no estômago.


– Me concede a honra?


There‘s no one in town I know
(Não há ninguém na cidade que eu conheça)
You gave us some place to go
(Você nos deu algum lugar para sair)
I never said thank you for that
(Eu nunca disse obrigado por isso)
I thought I might get one more chance
(Eu pensei que poderia ter mais uma chance)
What would you think of me now
(O que você pensaria de mim agora?)
So lucky, so strong, so proud?
(Tão sortudo, tão forte, tão orgulhoso?)
I never said thank you for that
(Eu nunca disse obrigado por isso)
Now I‘ll never have a chance
(Agora eu nunca terei uma chance)


Eu peguei sua mão e Harry me girou lentamente antes de passar sua outra pelas minhas costas. Coloquei minha mão em seu ombro.


Não estávamos valsando ou algo do tipo, só balançado conforme a música tocava e, aos poucos, a letra começava fazer sentido naquele instante.


Me encostei em seu ombro.


– Gina não se importaria?


May angels lead you in
(Os anjos podem te conduzir pra dentro)
Hear you me my friends
(Ouçam-me meus amigos)
On sleepless roads, the sleepless go
(Nas estradas sem sono, sem sono eu vou)
May angels lead you in
(Os anjos podem te conduzir para dentro)


E quem se importa, Hermione? Aquele era o momento de vocês! O momento que por vezes você sonhava e esperava. Apenas cale a boca, menina.


Harry riu nas minhas costas: – Não, acredito que não.


Que bom, porque eu não largaria Harry tão cedo. Ele era meu antes dela chegar, e vai continuar ser meu, até o momento que ela vai permanecer em sua vida. O que, por mim, não duraria muito.


– Você está linda, Hermione.


– Você também, Harry.


Ele riu, e, Merlin, como a risada dele era boa de se ouvir.


– Eu sei.


– Ah, que convencido! A ruiva está libertando uma parte de você que eu não sabia que existia.


– É, nem eu.


Ele gostava dela. Gostava mesmo, Não era frescura de jovem. Era amor mesmo. Era o amor que ele nunca viu em mim. Era o que eu sentia por ele. Era o que ele nunca vai saber. Era o que eu não contaria.


So what would you think of me now
(Então o que você pensa de mim agora?)
So lucky, so strong, so proud?
(Tão sortudo, tão forte, tão orgulhoso?)
I never said thank you for that
(Eu nunca disse obrigado por isso)
Now I‘ll never have a chance
(Agora eu nunca terei uma chance)


Eu me peguei chorando. Chorando no ombro de Harry, ouvindo aquela música. Desviei o olhar, já que eu poderia ver Harry de relance pelo meu ombro, e acabei olhando para Malfoy.


Ele estava com Violet, imaginei que a francesa chamaria ele para dançar essa música que ela tanto gosta. E eles estavam do mesmo jeito que Harry e eu, abraçados, mas Malfoy olhava pra mim. Na verdade, ele me encarava, e matinha aquele olhar preocupado que só ele sabe fazer.


Ele murmurou alguma coisa, mas não foi para Violet, porque ele ainda me olhava. Fiquei desejando que não seja pra mim, mas foi. Foi pra mim, diário. Aaah e o que era? Era a parte da música. So lucky, so strong, so proud. Tão sortudo, tão forte, tão orgulhoso.


Balancei a cabeça em resposta. E ele continuou me olhando.


May angels lead you in
(Os anjos podem te conduzir pra dentro)
Hear you me my friends
(Ouçam-me meus amigos)
On sleepless roads, the sleepless go
(Nas estradas sem sono, sem sono eu vou)
May angels lead you in
(Os anjos podem te conduzir para dentro)


Virei-me para Harry.


Detestei comparar meus sentimentos diante dele e de Malfoy, mas foi o que fiz.


Aquela era a segunda vez que eu me dava conta dos meus sentimentos modificados por ele. Sentimentos que eu nunca conseguiria decifrar diante de Draco. Aquela era a diferença entre eles. Eu sempre teria certeza com Harry. Não importa o que aconteça; eu o amava. Sempre amei. E era recíproco, disso eu tinha certeza. Não, não era vontade de agarra-lo, dizer que o amava enquanto nos beijamos – confesso que nunca vou ver romance nisso, porque sua língua está na boca do cara ele está dizendo que te ama. Cadê o romance disso??? – O amor que eu tinha por ele era a vontade de permanecer ali, e ele poderia me dizer qualquer coisa de Gina que eu não me abalaria – ainda estou trabalhando nessa parte –, eu não sentiria ciúmes, mas eu compreenderia. Por que? Porque amigos fazem isso. Porque ele faria o mesmo por mim.


And if you were with me tonight
(E se você estivesse comigo esta noite)
I‘d sing to you just one more time
(Eu cantaria pra você só mais uma vez)
A song for a heart so big
(Uma canção para um coração tão grande)
God couldn‘t let it live
(Deus não poderia deixá-lo viver)


Gina resolveu se importar antes que a música terminasse. Sim, ela chamou por Harry. Antes que Harry dissesse alguma coisa, eu me despedi dos dois e fiquei observando o amor da minha vida e melhor amigo ir para o meio da pista junto de sua amada, uma garota ruiva que já foi minha melhor amiga.


Eles ficaram perto de onde Malfoy e Violet estavam. Eu vi Malfoy revirar os olhos e dei risada, ele sorriu de volta ao me ver. Bom, era um começo.


Senti alguém chegar por trás e me virei, ficando de cara com Ronald, meu Augustus original.


– Você dança só com Harry ou eu vou ter a oportunidade também?


Sorri.


– Ah, eu acho que só com Harry mesmo.


May angels lead you in
(Os anjos podem te conduzir pra dentro)
Hear you me my friends
(Ouçam-me meus amigos)
On sleepless roads, the sleepless go
(Nas estradas sem sono, sem sono eu vou)
May angels lead you in
(Os anjos podem te conduzir para dentro)


Ron fez careta e me puxou de volta para a pista.


– Preciso te dizer uma coisa – Ron começou. – Sobre o Malfoy – oh não. Mesmo xingando Luna (porque eu sabia que tinha sido uma conspiração dela), eu assenti para que ele continuasse. – Minha vontade mesmo é de arrebentar a cara dele se, o que eu espero, acontecer, mas, porque te amo muito e porque você é minha amiga, não vou fazer isso. Vou tentar me controlar da mesma forma que me controlei com Harry... mentira, nunca me controlei diante da noticia de que eles estavam juntos. Mas vamos lá, eu vou pronunciar as palavras mais difíceis na minha vida... Seja lá qual for sua escolha, vou estar com você. Te apoiar, ficar feliz por você, te aconselhar de como funciona muitas coisas nos músculos masculinos – (eu ri nessa parte, mesmo que já tinha lágrimas nos olhos novamente) –, doar meu ombro para você quando preciso e esquecer toda essa coisa de me controlar, porque se aquele cafajeste fizer qualquer coisa que te machuque... Tá, parei... Hã, eu vou aceitar vocês. Sei que isso não é uma escolha minha. Eu só quero deixar claro que você sempre sempre sempreeee vai ter meu apoio. E, sim, eu odeio ele e acho que foi uma sacanagem você se apaixonar por ele.


May angels lead you in
(Os anjos podem te conduzir pra dentro)
Hear you me my friends
(Ouçam-me meus amigos)
On sleepless roads, the sleepless go
(Nas estradas sem sono, sem sono eu vou)
May angels lead you in
(Os anjos podem te conduzir para dentro)


– Se houver algum Natal que você vai chegar na minha casa com minis Hermione e minis Draco carregando presentes, eu não vou querer usar a faca da cozinha contra seu namorado, se é ele que te faz feliz, Hermione. Sim, eu sei, é muito estranho ir para esse assunto uma vez que você não estão nem juntos ainda, mas não é sobre o relacionamento de vocês que eu quero falar. Só quero falar que não importa o que aconteça, onde vamos estar, quem fez isso e aquilo... eu vou ficar ao seu lado. Ter se apaixonado por um semi-comensal foi uma das coisas mais sem juízo que você fez, só que, MEU MERLIN, EU ESTOU FELIZ POR VOCÊ. Não particularmente agora, porque você deveria ter entrado por aquela porta com ele, como, tenho certeza, você já imaginou. Ele gosta de você, e você gosta dele. Por que ainda não estão juntos?


Porque eu tenho medo do recíproco. Era o que eu queria responder para Ronald que estava mesmo querendo saber a resposta.


– Como pode saber se ele gosta mesmo de mim? – me vi perguntando. Tá bom, a curiosidade matou a coruja.


– Acha mesmo que eu falaria tudo isso dele se não tivesse certeza? – Rom deu de ombros. – E, bem, eu devo isso a ele.


– Ronald... – eu comecei, e percebi que não sabia mesmo o que falar. Eu era complicada, como Augustus tinha dito. Aquilo que tínhamos era complicado. E que diabos tínhamos mesmo?


– Só quero que você seja feliz. Ei, você é minha irmã caçula, eu faria qualquer coisa por você.


Olá, lágrimas, quanto tempo?!


– Ah, não chora – Ronald riu. Ele passou a mão, cuidadosamente, para limpar aquela lágrima intrometida que tinha escorrido.


– Não sei o que fazer, Ronald.


Rony riu: – Vou ter que refazer meu discurso? Você ainda não compreendeu? Você, Hermione Jane Granger, é uma das poucas garotas que consegue ficar acordada numa aula de História da Magia, fazer anotações e ainda ensinar e manjar da matéria, mas não entende quando seu melhor amigo fala que está na hora de SEGUIR SEU CORAÇÃO.


Eu parei. Pensei. Repensei. Repensei o repensado. Abracei Ronald.


– Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada.


– Foram sete – ele mostrou o sete nas mãos.


– Você deve ter ficado um tempão na frente do espelho treinando o que falar, então merece um a mais mesmo.


– Mereço dois a mais porque seu suposto pretendente é um Malfoy.


– Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada.


– Foram nove – ele mostrou o nove nas mãos.


– Um para cada ano com você e os outros três de recompensa por esse discurso.


Ronald fingiu limpar uma lágrima. Dei um tapa na cabeça ruiva dele quando Luna apareceu. Deixei os dois com aquela música do King‘s e até incentivei Luna para uma dança com Ronald. Ele fizilou o olhar pra mim, mostrei a língua e fui atrás de Violet.


You look so wonderful in your dress


(Você está tão maravilhosa neste vestido)


I love your hair like that


(Eu amo seu cabelo deste jeito)


The way it falls on the side of your neck


(O jeito como cai ao lado de seu pescoço)


Down your shoulders and back


(E sobre seus ombros e costas)


Resolvi perguntar para Brian, que estava numa rodinha entre os outros sonserinos, onde, por uma coincidência ou não, Draco também estava.


– Banheiro – Brian disse assim que me aproximei.


– Mas eu não disse nada.


– Você ia perguntar da Violet – ele disse indiferente.


– Sim...


– Então. Ela está no banheiro.


– Certo, obrigada – me virei para ir ao banheiro, só que a pronunciação de Samuel na roda me fez voltar.


– Sabe a Hermione Granger?


– Sei – Niall respondeu, meio que rindo.


– Pois é, só nos procura para saber da Violet.


– Mallette? – e eu tinha certeza que aquela atuação de perplexidade vinha do Malfoy.


– A própria – Samuel concordou – E ela chega aqui, pergunta onde a Violet está e depois sai mundo a fora... Nem fala "oi", "como vai você?", "sério? Como foi?", "Que bom que você foi aceito em Harvard", essas coisas.


– Oi, Samuel – eu disse por fim. Samuel ficou me olhando de sobrancelha arqueada. – Como vai?


– E, sabe, Niall, ela esperava que falamos indiretamente com ela, para que ela diga alguma coisa logo de uma vez.


– Que bom que você foi aceito em Harvard – balancei a cabeça. Não esperava que Samuel correria para me abraçar depois disso.


– Meus pais vão me deserdar – ele disse no meu ombro. Eu ri.


– Não, eles vão se orgulhar de você – dei tapinhas em suas costas.


Samuel Willins, um dos únicos bruxos de 16 anos que tem vaga garantida em Harvard, uma faculdade trouxa. A faculdade trouxa, para ser sincera.


– Você acha? – senti que estava abraçada com um menino de 8 anos, não um de 16.


– Acho.


Finalmente, ele me soltou. Sorrindo daquele jeito meio cínico. Conhecia muito bem aquele sorriso.


– Não vai mais fugir da gente só porque está de bico com Draco.


– Não vou mais fugir de vocês só porque estou de bico com Malfoy.


Outro sorriso cínico. Outro abraço.


– Agora vem, você está com cara de que não bebeu ainda.


– Deve ser porque eu não bebi ainda – revirei os olhos.


Samuel me passou um copo com cerveja amanteigada e fiquei ali com eles, bebendo, rindo, conversado, falando também dos vestidos bufantes, falando qual era nossas músicas favoritas do King‘s e de As Esquisitonas. Não me lembro da ultima vez que me reuni assim com eles para falar sobre bobagens de bobagens, e, naquele momento, eu fiz um juramento silencioso de que não deixaria esses amigos de lado.


Violet chegou quando eu estava no meu terceiro copo. Já tinha até esquecido dela. Aos poucos, Augustus foi chegando, junto com Paul, que parecia muito animado com sua acompanhante. O clima tenso entre ele e Violet não existia mais – mesmo que tenha durado apenas um dia –, e os dois pareciam muito bem fazendo piadinhas de si. Augustus mentiu quando disse que poderia consolar sua acompanhante. A corvina que ele tinha convidado para aquela noite resolveu voltar com seu ex, o que agora não é mais ex. Então agora Augustus estava sozinho, e era culpa minha.


– Aceite o convite de Draco. Aí eu te desculpo, porque toda aquela conversa vai valer a pena – foi o que meu amigo sonserino disse quando pedi desculpas. Por sorte, ninguém ouviu, ou soube o motivo por eu ter corado.


Não demorou muito para Lilá aparecer, junto com Padma (que estava com Brian desde o ataque). A garota que Paul estava, Maggie – uma corvina do quinto ano, loira e bonitinha – também apareceu para chamá-lo, mas, assim como Lilá e Padma, ficou com a gente. A garota que Niall tinha convidado passou todo o tempo com as amigas, sendo que apareceu por lá apenas uma vez e foi para arrastar Niall para dançar "AQUELA MÚSICA PERFEITA" – sim, ela gritou.


Violet não tinha mesmo conseguido falar com o John, como eu esperava, e também não parecia se importar com isso, porque agora ela tinha seu Romeu. E o nome desse Romeu? Isaac (chame-o de Zac) Leviton, apanhador gostosão da Corvinal, e amigo de John. (Sem comentários.) Mas minha amiga francesa parecia feliz e é isso que importa, né? E Zac era um cara legal. Ele conseguiu ficar um bom tempo ali com a gente, sob os olhares ameaçadores de Brian e Malfoy, sem transparecer medo ou pânico. Bateu o recorde de Paul.


You looked so wonderful in your dress


(Você estava tão maravilhosa em seu vestido)


I loved your hair like that


(Eu amei seu cabelo daquele jeito)


And in the moment I knew you better


(E no momento, eu te conheci melhor)


Houve um momento, que eu esperava que terminasse logo, em que todos ali resolveram sair para dançar a música que tocava. Xinguei todos quando me deixaram apenas com Malfoy, sem saber o que fazer. E eu sabia que era proposital, e cheguei pensar que era coisa dele, mas a serpente me olhou, dando de ombros.


Resolvi brincar com o arranjo de flores ali da mesa, já que o silêncio sempre vai ser uma coisa que me incomodaria. Estava só reduzindo as flores do arranjo da mesa em pó quando ouvi aquela voz me chamar.


– "Não faça isso! Não faça isso, Granger!" Gritam as flores. – Malfoy falou enquanto puxava uma cadeira e sentava-se mais perto de mim.


– "Me salve! Me salve, Malfoy" elas gritam – eu ri jogando umas pétalas nele.


Malfoy riu junto comigo e pegou uma flor, a única que tinha sobrado do arranjo que eu ainda não despedacei por completo. Era uma margarida e uma de suas pétalas estava quase caindo. Malfoy não chegou reparar, ou viu e não se importou, só sei que do mesmo jeito ele colocou a margarida no meu cabelo, atrás da orelha.


– Assim fica melhor.


Peguei uma das colheres que estava na mesa, que aparentemente não foi usada e vi como estava. Arrumei a pétala que estava desfigurada.


– Assim fica melhor – concordei, largando a colher.


– Então... Como tem sido essas horas sem o gostosão aqui?


– De paz e tranqüilidade – respondi, entrando na brincadeira. – Et sans moi?


– Um completo tédio.


Retire retire retire retire retire retire retire retire o que disse.


Malfoy jogou algumas pétalas que estavam na mesa em mim quando pareceu que entrei em estado beta novamente. Joguei de volta.


– Claro, claro, sou o sol que ilumina seus dias obscuros.


– É, pode ser – ele pegou uma flor que estava com três pétalas e foi arrancando uma por uma. Quando ele ergueu a cabeça, desviei o olhar, esperando que ele não tenha notado que eu prestava atenção – Está se resolvendo com o Potter Fedido?


– Estava dançando com a Parkinson? – perguntei rapidamente, como se fosse automático.


Malfoy deu de ombros: – Ela é sub-monitora da Sonserina, caso não se lembre.


Cruzei os braços: – Isso não é motivo.


– Ei, não tenho culpa se a Mallette resolveu ir ao banheiro "checar a maquiagem" justo na hora que Dumbledore chamou os monitores.


– Mas justo a Parkinson, Malfoy?


– Ah, nem vem reclamar. Se não aceitou meu convite, devo deixar claro que posso chamar quem eu quiser, até que você perceba de uma vez por todas que me ama... e aceite.


O encarei, de olhos semicerrados, torturando-o mentalmente. Que coisa divertida de se fazer.


– Sim, estou muito bem com o Harry, obrigada por perguntar.


– Ah, isso – Malfoy aproximou a cadeira da minha, divertido – agora sim estamos fazendo progresso. E o Weasley? Está te enchendo muito?


– Não, fique tranquilo, ninguém vai te substituir – dei tapinhas no ombro dele.


– Ah, obrigado – Malfoy levou a mão ao peito, fazendo drama.


– E então, já se resolveu com a Carvin? – PÉSSIMA PERGUNTA, HERMIONE, PÉSSIMA.


– Alice? – ele riu – Águas passadas. Mas acho que você deveria ficar esperta... Ela quer seu pescoço.


– Vai ter que entrar na fila.


Malfoy jogou em mim mais uma pétala branca da margarida.


– E como está sua noite?


– Solitária.


– Que triste.


– Muito – balancei a cabeça. – O acha do Zac?


– Ah, Isaac Leviton – assim como eu, Malfoy procurou os dois pelo salão. Eles dançavam no meio da pista, rindo de si. – Posso descontar muita coisa nele no próximo jogo.


Me lembrei de Harry falando que os jogos de Quadribol começariam depois do baile e que a Sonserina jogaria contra Corvinal. Lilá e Parvati até que estavam tentando me convencer a ir.


– E se a Violet estiver de azul... – ele frangiu o cenho. Eu ri.


– Tá... E o que você vai fazer?


– Não me provoque, Granger...


– E o que você vai fazer...? – e, Merlin, como eu adorava desafia-lo!


– Posso te obrigar a ir nos treinos para ouvir minhas estratégias. Você iria adorar cada instante.


Eu fiz careta: – E aqueles garotos todos suados gritando como brutamontes. Nossa! Eu amaria.


Malfoy balançou a cabeça: – Quem eu devo chantagear para arrastar você para esse jogo?


– Ronald.


– Não é nesse integrante da família Weasley que eu estava pensando.


– Você não é nem louco.


– Isso é um desafio?


– Mas sabe que eu estava pensando em ir mesmo para te ver... – tentei mudar de assunto, sorrindo cínica –... sendo massacrado pela Corvinal


– Até parece.


Eu ri e joguei mais umas pétalas nele. Uma delas ficou presa em seu cabelo. Fiz sinal para que ele tirasse, mas o gênio não reparou. Então eu estiquei o braço e tirei. Malfoy fiou me olhando, e eu já estava entrando em estado beta de novo.


– Quer dançar?


Desejei que eu pudesse retirar aquelas palavras assim que as disse. Pensando agora, eu deveria ter corrido antes que Malfoy pensasse se ouviu bem. Só que eu fiquei lá, e Malfoy sabe que ouviu muito bem.


– Hermione pedindo uma dança? – ele me olhou de sobrancelha arqueada, quase rindo. Esticou a mão para onde estava a flor que tinha colocado no meu cabelo e tirou a pétala que estava caindo. A flor caiu no meu vestido.


– Não me cham...


– Hermione, Hermione, Hermione, Hermione, Hermione, Hermione, Hermione, Heeer-mioneee.


Ah que irritante.


Malfoy riu quando me viu revirar os olhos : – Só danço com você se aceitar meu convite. Caso contrario...


Ah?


Ah.


Ah não.


Ah-eu tinha levado um fora.


Era essa a sensação? De perplexidade? Era assim então? Era assim que Malfoy ficava quando eu resolvia dar uma de “voz do juízo”? ERA ESSA A SENSAÇÃO MESMO, DIÁRIO?


Claro que é inútil perguntar isso, uma vez que isso é um diário, mas ainda acredito que daqui uns 20 anos eu vou encontrar esse diário e dar para minhas filhas lerem. Isso se até lá eu não morrer solteira e sozinha, nunca se sabe.


Tentei, juro, tentei não me abalar. Tentei não demostrar minha decepção, mas qualquer mané notaria. Dava para notar o quão irritada eu estava também, por ter deixado uma coisas dessas escapar. Por favor, alguém me dá um tiro?


And so Sally can wait


(Então Sally pode esperar)


She knows its too late


(Ela sabe que é tarde demais)


As we‘re walking on by


(Enquanto caminhamos)


My soul slides away


(Minha alma se afasta)


But don‘t look back in anger


(Mas não olhe para trás com raiva)


I heard you say


(Eu ouvi você dizer)


Balancei a cabeça. Era bem provável esse tipo de resposta vindo dele, mas, sério, eu não esperava por isso. Fui me afastando, e só parei quando senti que alguém puxava meu braço. Tinha certeza, só não queria que estivesse realmente certa.


– Ei – ah, não, por favor, cale a boca.


Puxei meu braço com força, mais irritada ainda. POR QUE RAIOS ELE NÃO FICOU ONDE EU O DEIXEI?


– Era isso que você queria?! Então! Aproveite sua noite, Malfoy.


– O quê? Do que você está falando, Granger?


– Eu te pedi! Pedi uma dança – queria parar de gritar, porque já tinha conseguido chamar atenção de alguns grupos ali, mas não conseguia – Era o que você queria, né? E era também para poder me dar um passa-fora!


– Dar um passa-fora? Da onde tirou isso, Granger? Samuel colocou alguma coisa em sua bebida? – (ouvi o próprio gemer do canto, mas nem Malfoy nem eu resolveu dar atenção) – E você pensou que eu aceitaria numa boa? Como, hã, como você NUNCA FAZ?


– Por que será que nunca faço hein?


Take me to the place where you go


(Me leve ao lugar que você vai)


Where nobody knows if it‘s night or day


(Onde ninguém sabe se é noite ou dia)


But please don‘t put your life in the hands


(Mas por favor não ponha a sua vida nas mãos)


Of a Rock n Roll band


(De uma banda de rock n‘roll)


Who‘ll throw it all away


(Que jogará tudo fora)


– Porque é teimosa! Orgulhosa! Estúpida a ponto de não saber o que quer!


– Ahh, e você parece gostar muito dessa estúpida!


Malfoy riu debochado: – E acha mesmo que isso tornaria as coisas mais fáceis?


Meu primeiro pensamento foi: ele não negou.


Depois: ele não vai negar.


E: ele não está negando.


Para só então: saia logo daí, Hermione.


Muitos ali, assim como a figura loira na minha frente, esperavam uma resposta. Eu mesma esperava uma resposta, mas duvidava que viria. Tento entender as vezes por que toda vez que esse tipo de coisa acontece, eu fico vacilante, sem respostas.


Eu me virei pronta para voltar para meu quarto na Grifinória, da onde eu nem deveria ter saído, uma coisa que deixou todos ali surpresos, além de mim mesma. Pois ééé, pela primeira vez desde que o ano letivo começou, eu dei atenção para o melhor conselho do meu subconsciente: sair logo dali.


Mas foi apenas um nome, uma pronunciação de quatro silabas, vindo dele, que me fez recuar.


– Hermione!


Eu tinha vontade de apagar aquele sorriso convencido pregado na cara dele, como se o que ele realmente queria por aquela noite tinha acontecido. E isto era me deixar nervosa, mais do que eu já tinha entrado por aquela porta. O maldito timbre de sua voz, que por vezes me irritava e me acalmava ao mesmo tempo, entregava que ele não se satisfaria com qualquer coisa que eu disser.


I‘m gonna start a revolution from my bed


(Então eu começo uma revolução da minha cama)


‘Cos you said the brains I had went to my head


(Pois você disse que minha esperteza havia subido à minha cabeça)


Step outside cos summertime‘s in bloom


(Pise do lado de fora o verão esta florescendo)


Stand up beside the fireplace


(Fique ao lado da lareira)


Take that look from off your face


(Tire esse olhar do seu rosto)


‘Cos you ain‘t ever gonna burn my heart out


(Você nunca irá queimar meu coração)


 


– Não somos amigos, MALFOY, então não me chame pelo nome.


Adoraria dizer que não grunhi o sobrenome dele, mas estaria mentindo.


Adoraria dizer que o maxilar dele não se contraiu, como se estivesse doido para acertar a mão em mim e em minha teimosia, mas também estaria mentindo.


Pelo menos, o sorriso convencido fora apagado.


– Sério? E o que somos, afinal? – Malfoy me encarou, com as mãos nos bolsos da calça, como se fosse questionar qualque coisa que eu dissesse. E eu sei que questionaria. – Sinto muitíssimo se seus amigos não te tratam como eu te trato. Ou se eu te trato da forma que eles não tratam. Ou até mesmo da forma como você queria ser tratada. Mas se não somos isso... o que somos, Hermione?


GRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR!


Somos o GRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR do mundo, da vida, do universo e do tudo o mais.


– Não somos nada! Não tenho nada com você.


– Mentira – ARGGGG DESGRAÇADO.


So Sally can wait


(Então Sally pode esperar)


She knows its too late


(Ela sabe que é tarde demais)


As she‘s walking on by


(Enquanto ela caminha)


My soul slides away


(Minha alma se afasta)


But don‘t look back in anger


(Mas não olhe para trás com raiva)


I heard you say


(Eu ouvi você dizer)


– Vai pro inferno, Malfoy – sábias palavras, Hermione Granger, sábias palavras.


Ok, não era todos ali naquele salão que assistiam aquilo, era só os grupinhos que estavam mais perto de nós, só que aquelas quatro palavras foi suficiente para eu chamar a atenção de todos ali.


Malfoy, putinha loira, como várias vezes mencionado nessa páginas, ainda com aquelas mãos nos bolsos, mantinha aquele bendito sorriso na cara, que, sinceramente, me fez ter ainda mais vontade de dar uns tabefes nele.


– É simplesmente hilário te ver nervosa comigo.


Eu revirei os olhos ao notar aqueles fofoqueiros nos olhando e sai logo de uma vez daquele cenário tão apreciado pelas fãs de Draco Malfoy. Dessa vez, ele não me chamou nem me impediu.


Mentira, ele me chamou. Mas como eu me recusei atender seu chamado, ele resolveu ir atrás de mim. E tocava aquela bendita música "don‘t look back in anger". Não olhe para trás com raiva. Merda.


– Por que você sempre foge?


– Não sou eu quem sempre foge – retruquei.


– Ah, não?


Parei.


– Às vezes.


– Precisamos conversar.


MAS QUE RAIOS? CONVERSAR SOBRE O QUÊ???


Minha sobrancelha arqueada fez a pergunta silenciosa por mim.


– Sobre as vezes em que você fugiu e não me deu oportunidade de explicar – ele respondeu – Claro que foram muitas e ficaríamos possivelmente a noite toda aqui se eu contasse todas, e é por isso que só vamos esclarecer sobre aquele beijo.


– Não quero falar sobre isso.


– Ok, fique revoltada sem motivos pelo resto de sua vida comigo...


– Tudo bem, volta aqui.


So Sally can wait


(Então Sally pode esperar)


She knows its too late


(Ela sabe que é tarde demais)


As she‘s walking on by


(Enquanto ela caminha)


My soul slides away


(Minha alma se afasta)


But don‘t look back in anger


(Mas não olhe para trás com raiva)


I heard you say


(Eu ouvi você dizer)


E ele voltou, e com um sorriso naquela cara lavada.


– O que foi aquilo? – sério? Nossa "conversa" seria realmente sobre a porcaria do meu impulso? Sobre a vontade que minha boca esteve de beijar a dele? Olha só, eu não responsabilizo pelos meus hormônios.


– Foi um beijo...


– Não, não, essa parte não. A outra parte... em que você teve noção da situação e... saiu.


Duvidei do que vi, mas Malfoy parecia abalado ao dizer isso. É por isso que duvidei do que vi.


– Aquilo foi eu tendo noção mesmo. Juízo. Já ouviu falar? Te beijar, Malfoy, é uma coisa surrealista para nós dois.


– Gosto muito de coisas surrealistas – ele disse.


– Não é certo, Malfoy! – cheguei gritar, mas logo me recompus.


– E quem liga pro certo? Eu só quero... eu só quero ficar com você e foda-se tudo isso.


– Eu ligo pro certo, Draco.


– Mas você poderia deixar isso de lado e dar uma chance para nós dois, Hermione? – ele se aproximou mais de mim, mais decidido. Ah, logo ele me beijaria. Tentei oscilar o que Malfoy dissera e tentar respirar ao mesmo tempo. E, olha, eu consegui.


– Acho que não... eu – eu já estava começando gaguejar por conta da aproximação, sem raciocinar direito. Vi Malfoy contrariar o maxilar e se virar, me dando as costas.


Fechei os olhos lentamente.


Não, não posso.


Mas ele disse, ele disse que poderia.


Não é certo.


E quem liga pro certo?


Você liga pro certo, Hermione.


Acabo de descobrir, pelo meu subconsciente, que nem sempre o certo é que queremos. Essa teoria fez com que eu chamasse por Malfoy, que estava já se distanciando de mim.


– Ainda dá tempo?


So Sally can wait
(Então Sally pode esperar)
She knows it‘s too late as she‘s walking on by
(Ela sabe que é tarde demais enquanto caminha)
My soul slides away
(Minha alma se afasta)
But don‘t look back in anger
(Mas não olhe para trás com raiva)
Don‘t look back in anger
(Não olhe para trás com raiva)
I heard you say
(Eu ouvi você dizer)
At least not today
(Pelo menos não hoje)


Ao ouvir essas palavras, Malfoy se virou pra mim, meio surpreso por me ver ali, Hermione Granger, aceitando seu convite, mas ele sorriu.


Malfoy ainda me olhava, se divertindo com a situação já, esperando eu continuar. Esperando eu dizer uma das coisas mais difícies pra mim.


– Ainda dá tempo de aceitar seu convite? – olhei pra baixo, meio envergonhada, sabendo que ele poderia rir e dizer que não, não dava mais tempo, mas, fitando o chão, eu vi a mão dele sendo estendida pra mim, como se aquele fosse o pedido dele.


– Dança comigo, Granger – e ele sorria. Era impossível sair correndo desesperada depois disso. E seria mentira se eu dissesse que aquele sorriso não mexia comigo.


Finalmente o olhei.


– Vai me beijar na frente de todos? – perguntei na vã tentativa de disfarçar meu nervosismo.


– Você sabe. Você vai ter que pedir.


– Então você não vai me beijar na frente de todos – respondi, dando de ombros.


– Como quiser.


Gostaria que não tivesse sentindo aquela ponta de felicidade no meu peito, e a vontade de beija-lo ali mesmo quando peguei sua mão e me deixei guiar pelo salão.


Faltava 20 minutos para a meia-noite, horário que seria nosso toque de recolher para aquela noite. Eu tinha 20 minutos para fazer com que minha saída do meu quarto valesse a pena. Tinha 20 para ser a "garota que Malfoy levou ao baile". Nunca havia passado pela minha cabeça que em 20 minutos eu teria aquele tipo de sensação.


Tentei não prestar atenção nos olhares em nós dois, e com Malfoy ali me encarando era fácil. Logo, eu não via mais ninguém, e cheguei pensar que era algum feitiço, mas não, eu só estava perdida nos olhos cinzas de Draco, e em como aquele sorriso era lindo quando sincero.


Merda, acabo de me ver sorrindo abobada ao lembrar da cena. As coisas parecem mais lindas quando se está apaixonada, né? Sei lá... Parece que o sol nasce diferente dos outros dias... o que é cientificamente improvável. Todos os dias são iguais. Acho que é por isso que a ciência nunca vai conseguir explicar aquele maldito sentimento chamado amor. Aaah, só estou acabado com meu orgulho pensando nessas bobagens de amor. Ou o que sobrou dele, pelo menos. Certo... olhe aquela poeira perto da cama de Lilá... é meu orgulho.


Tá, parei... vamos voltar a melhor coisa que aconteceu naquela noite.


De primeira, a mão dele estava em minhas costas, e a minha em seu ombro. A outra estava ocupada segundando a mão dele. Ambos sorriam traquinas, felizes, apaixonados... Argh, "apaixonados". Sério, estávamos lindos assim. Tão lindos que até eu que tenho um coração de pedra acharia uma cena bem fofa se estivesse assistindo. Mas, não, eu não estava assistindo, eu estava dançando com o dono do sorriso mais lindo de Hogwarts – Harry também tem um lindo sorriso, mas raramente o vemos –, o que fazia a tristeza de muitas garotas ali, mas eu não me importava muito.


Eu não paro de sorrir para esse diário, me lembrando do momento que Malfoy me puxou mais para perto, a ponto de eu me deixar encostar em seu ombro, sem hesitar.


– Olha, Draco, sobre o beijo...


É, eu realmente tinha tomado coragem para tocar naquele assunto novamente, mas fui interrompida.


– Ah, não, Hermione, não começa.


– Aaah, me deixe explicar – choraminguei como uma mimadinha.


– Explicar o quê? Que não tem controle sobre sua boca?


Odeio quando ele lê meus pensamentos.


– Também – fiz careta.


Malfoy suspirou: – E o que é?


Travei.


Onde estava a coragem que eu tinha reunido para dizer aquilo? Ah, sim, tinha escapado. Encarei Malfoy.


– Quer saber? Deixa pra lá. Não quero mais motivos para brigar.


– Sério? – ele riu.


– O quê?


– Não quer mais motivos para brigar?


– Estou com preguiça de brigar – murmurei.


– Ah, claro. Mas estou curioso... O que você iria falar?


– Já disse: deixa pra lá. Eu não quero brigar.


– Hermione, Hermione, Hermione, você sabe que brigar com você é um dos meus passatempos favoritos, né?


Revirei os olhos.


– Olha minha cara de quem se importa – fiz bico. Em pensar que eu estava até agora dizendo que aquele momento estava lindo.


– Nós não conseguimos ficar muito tempo sem brigar – o vi revirar os olhos.


– Tivemos uma conversa civilizada em seis anos agora pouco – antes de eu estragar tudo???


– Quando você não está gritando e dando escândalos, pode ser bem agradável, Granger – ele alfinetou, me fazendo erguer as sobrancelhas.


– Quando você não está sendo um completo idiota, também é agradável, Malfoy.


– Ah, é? – ele perguntou me puxando mais para si. – Estou sendo um idiota completo dessa maneira?.


Eu corei, e por sorte estávamos no escuro e não poderia ser notado.


– Mais ou menos – sussurrei, sendo incapaz de me soltar.


Ele sorriu maroto pra mim, como se me desafiasse. Senti suas mãos na minha costas, fazendo-me voltar a realidade. Estávamos com os lábios quase colados quando ouvi o sussurro de Malfoy.


– Você tem que pedir – fechei os olhos lentamente, já sabendo do que se tratava. – Vamos lá, Hermione, me peça um beijo – ele sussurrou de novo, não como uma ordem, mas como um pedido. Sabia que ele me beijaria de qualquer jeito.


– Draco, eu... – "eu não sei", era o que eu deveria responder. Ou logo um "não, me solte" de uma vez. Só que eu ainda era incapaz de raciocinar tal coisa.


Então me encostei novamente em seu ombro, deixando o silêncio reinar entre nós.


(Ok, tocava uma música, mas mesmo assim ficamos quietos.)


Tinha certeza que aquele maxilar tinha se contraído.


Eu descobri um coisa naquela hora, ao perceber aquilo. Desejaria que não estivesse concluído aquilo justo naquele momento, sem nem ao menos ter noção dos depois desse baile.


Mas mesmo assim. Eu até que parecia feliz naquela hora.


Que droga!, eu estava supostamente feliz ao lado de um ser que supostamente odiava.


Argh, mas eu cheguei numa infeliz conclusão.


Gostava dele.


Detestava admitir isso, mas gostava mesmo dele. Não sei em que sentido, em que maneira... Só gostava.


Pela primeira vez, pelo menos um pouco, eu já tinha certeza daquilo. É, eu gostava de Draco Malfoy. E esses dias sem ele tem sido horríveis porque, de repente, eu não conseguia mais me ver sem ele... Entende? Eu percebi que era incapaz de apontar precisamente o motivo de tanta certeza, mas soube com a mesma certeza com que sabia meu nome ou a cor do céu ou qualquer palavra escrita em um livro.


Será que ele também sentia isso?


Ergui a cabeça em direção ao rosto dele. Não deveria ter feito aquilo. Malfoy me apertou um pouco mais forte contra si, a ponto de estarmos a pouquíssima coisa de distância, com as respirações juntas até.


Eu duvidava do meu juízo já, e vi que em nenhum momento meu subconsciente gritava pra mim. Ou eu estava tão ligada naqueles olhos cinzas que nem meus pensamentos ouvia, que seja.


Você tem que pedir, Hermione.


Mas eu não posso.


Mas ele disse, ele disse que poderia.


Não é certo.


E quem liga pro certo?


Você liga pro certo, Hermione.


E Ronald disse que era para seguir seu coração.


Se seguisse seu coração todas as vezes...


E então, de repente, estávamos nos beijando.


Quer dizer, ambos fizemos aquilo no mesmo momento, como se estivéssemos lido o pensamento do outro.


Pus a mão em sua bochecha, o trazendo para mais perto, se é que isso era possível. Draco me puxou para cima pela cintura, me deixando na ponta dos pés. Quando os lábios semiabertos dele encontraram os meus, comecei a sentir uma falta de ar totalmente estranha, e não me importei muito. Senti suas mãos se agarrarem mais as minhas costas, como se me impedisse de fugir novamente.


Era bom. Não sei por que tantas vezes fugi daquilo, sendo que era uma coisa perfeita.


Minha cabeça virou lentamente num ato automático, e subi minha mão para seu cabelo novamente, os entrelaçando, puxando ele para mais e mais perto. Ah, que merda, eu estava gostando, sem nem ao menos ter noção que umas cabeças se viraram para olhar aquela cena.


**


Silencio.


Para a surpresa de Hermione Granger, ela correspondeu rapidamente. Para a surpresa de Draco Malfoy, ela não o socou quando correspondeu.


Ronald Weasley e Luna Lovegood pararam para ver o que acontecia entre o Malfoy e Hermione, assim como todos fizeram desde que os dois começaram dançar. Só que aquele beijo fez com que todos parassem de disfarçar para ver aquilo, de perto.


Do outro lado do salão, Augustus Taylor, que também tinha a atenção no amigo beijando Hermione, levantou sua taça para Ronald Weasley, que apenas acenou com a cabeça. Os sonserinos cumprimentaram o Weasley da mesma maneira, sorrindo triunfantes. Violet, que não parecia nem um pouco abalada por conta da aposta, trocou sorrisos cúmplices com Luna e Ronald.


Harry Potter, no canto do salão, ao lado de Gina Weasley, não conseguia esconder a surpresa ao ver o que acontecia. Hermione estava com Malfoy. Era isso que acontecia. Ele teve a inesperada vontade de tirar Hermione de lá, mas devia isso a amiga, que, mesmo não gostando de Gina, nunca fizera uma coisa daquela com ele. Ela sabia o que estava fazendo. Harry, pelo menos esperava. O Potter estranhou quando os sonserinos e Ronald acenaram para ele e Gina, mas levantou seu copo de cerveja em resposta.


Bom, era um começo.


Dumbledore, que assistia aquilo com uma ponta de surpresa, sorriu da mesa dos professores. O diretor se levantou quando viu que todos ali já tinham parado de fazer o que faziam para se aproximar do casal, no meio do salão. Sendo assim, curiosos. Dumbledore fez um feitiço para abafar a conversa do casal. Existem coisas que não devem ser comparadas, que devem ficar apenas entre um casal, aquilo, por exemplo, já tinha público demais envolvido. Pode-se dizer que Alvo Dumbledore era um dos poucos que assistia aquilo com uma ponta de orgulho dos dois. Depois de tantos anos, ele sabia que um dia o Malfoy se resolveria com qualquer um daquele trio... só não imaginava que seria desta maneira.


Um pouco antes de Hermione beijar Malfoy mais uma vez, Ronald notou, que os dois disseram algo um para o outro. O ruivo ficou se perguntando o que seria, mas não foi possível ninguém ali daquele salão, além dos dois saber.


Ele cumprimentou Augustus Elgort mais uma vez; missão cumprida.


**


Foi uma das melhores coisas que aconteceu comigo. Como quando tirei a melhor nota em Poções, uma matéria que chegava ser um desafio simplesmente porque o professor era Severo Snape. Tirar uma nota alta na aula dele é como vencer na vida. Ou quando experimentei cerveja amanteigada pela primeira vez. Coisas assim.


Eu me dei conta de que meus olhos estavam fechados e os abri. Malfoy me encarava, seus olhos cinzas mais próximos que nunca, uma coisa que eu nunca tinha percebido nas outras vezes. Atrás dele estava meia Hogwarts, incluindo os professores, nos olhando. O melhor momento da minha vida foi visto por quase todos alunos de Hogwarts. Maravilha.


É claro que naquela hora eu não me dei conta que deveria me importar, deveria me incomodar, deveria me envergonhar, essas coisas. Eu ainda estava no meu estado beta particular e egoísta.


Draco sorriu pra mim, canalha. É, o sorriso mais perigoso dele, e o que eu mais gostava e detestava ao mesmo tempo. Depende do dia, depende do meu humor.


Depositei um rápido beijo naquele sorriso, deixando nossos narizes roçarem um no outro.


Acho que foi quando começaram as palmas. Sério, o povo que ali estava assistindo aquilo começou bater palmas. Todos ali, até mesmo Snape, simplesmente começaram a bater palmas, e um deles até gritou um “finalmente” (depois descobri que foi Paul) pela multidão.


Draco, sem entender, começou cumprimentar a plateia, sorridente. E então vieram os gritinhos esteáricos das garotas. Revirei os olhos, mas sorri junto com ele, me encostando em seu ombro, enquanto ele cumprimentava os “caras”.


Eu tinha feito. Meu Merlin, eu tinha beijando-o aquele noite. Tinha conseguido fazer com que minha saída do quarto valesse a pena.


– Acho que isso te pertence – ouvi Draco dizer.


Ergui a cabeça e vi que ele estendia a mão segurando a margarida desfigurada que eu tinha deixado cair durante nossa briga. Sorri ao pega-la.


– Obrigada.


Draco se inclinou, tirou minha máscara preta cuidadosamente, depois a sua, sorrindo. Eu vi que todos ali já estavam sem suas máscaras; o Baile de Outono chegou ao fim.


E então, ele me beijaou mais uma vez.


Chegou até ser melhor que o anterior, porque acho que as borboletas tinham diminuído e não tinha mais aquela tensão entre nós. E só tinha nós. Não tinha meu orgulho para eu me preocupar, minhas duvidas, minhas asneiras idiotas. Se é que faz sentido. Minha mão estava em seu braço, apenas como apoio, e a outra em seu peito, perto da gravata borboleta.


Quando o ar já era uma coisa necessária – e um dos motivos por Malfoy ter desgrudado aqueles lábios do meu –, Malfoy resolveu que morderia meu lábio inferior, como fez da ultima vez. Eu passei a mão em seu cabelo, o bagunçando todo por vingança. Me afastei um pouco, rindo ao vê-lo sem saber o que fazer e com o cabelo bagunçado. Ele sorriu e colocou uma mecha do meu rabo-de-cavalo atrás da orelha, colocando a margarida também, pouco antes de me beijar novamente, mas apenas pressionou o lábio no meu. Apenas.


Draco passou a mão pelo meu ombro enquanto a última música da noite tocava. "The a Team", que dizia algo sobre anjos voarem. Só alguns namoradinhos ainda estavam naquela salão, e Draco e eu combinamos que não faríamos parte dessa reunião de recém-criados.


– Angels to fly... To fly...


Draco era meio desafinado, então era realmente uma cena engraçada vê-lo cantando, acredite.


Passei a mão em seu cabelo loiro novamente, meio hesitante sob o olhar ameaçador dele, mas não baguncei mais, só tentei arrumar. O que foi meio inútil, porque ele parecia o Wolverine com aquele penteado que eu fizera só para irrita-lo.


– Fica mais sexy assim – eu disse quando ele fez careta ao olhar como estava.


– Tudo em mim é sexy, querida – ele disse arrumando o penteado.


– Ah, que convencido! Arranja um boné para isso ai – eu apontei para seu cabelo. – Tamanho GG.


– Boné verde. Da Sonserina. O que acha? – ele me cutucou.


– Acho que verde não é sua cor.


– Quer o quê? Vermelho para homenagear Godric... Ou em homenagem a você? – disse ele, mexendo nos fios rebeldes da minha franja.


– É, pode ser. Seria uma linda declaração de amor.


– Meu amor por você não se compara a um boné vermelho, adorada Julieta – eu parei por um instante, sem saber o que fazer. Por sorte, Malfoy não tinha notado o sorriso bobo estampado no meu rosto.


– Mas, oh, Romeu, verde não me agradastes – eu respondi dramaticamente.


Draco riu, mas não disse nada até chegar na escadaria da Grifinória, onde eu tinha certeza que ele não passaria dali.


– Até outras noites, Julieta – ele sussurrou, parando de frente pra mim.


Eu sorri, mexendo no fio rebelde que caia em seus olhos: – Até, Romeu.


Estranha foi a sensação que tive ao soltar sua mão e sentir aquele aperto no peito ao vê-lo sair pelo corredor, com as mãos nos bolsos da calça.


Desviei o olhar, e resolvi que não ficaria plantada ali até não poder ver mais o ponto preto do seu smoking, então fui para a Grifinória.


Consegui dormir de primeira, sem necessitar encarar o teto, contatando carneiros, sussurrando músicas de ninar. Bom, eu estava dormindo incrivelmente bem, até acordar às quatro da manhã, completamente sem sono. Vi que ainda estava com meu vestido vermelho – que, aliás, tinha o cheiro de Draco. Substitui o vestido vermelho, pelo meu confortável pijama de bolinhas amarelas antes de pegar este caderno velho e começar escrever o que acontecera no Baile de Outono. Desde meu sacrifício para me arrumar até aqui, no meu quarto.


E é isso.


Escrevo quando puder, querido presente de Ginevra Weasley.


It‘s too cold outside
“Está muito frio lá fora”
For angels to fly
“Para os anjos voarem”
Angels to fly
“para anjos voarem”
To fly, fly
“Voarem, voarem”
Angels to fly, to fly, to fly
“para os anjos voarem, voarem, voarem”
Angels to die
“Anjos morrem”


 


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