Palavras estranhas



Querido diário,


Eu vou poupar os últimos acontecimentos porque realmente nada que vale a pena escrever aconteceu.


Exceto o que aconteceu no Clube de Duelos.


Bom, depois daquele (ARGH!) beijo, eu evitei Malfoy, correto? Correto. Nem saí direito da Sala Comunal da Grifinória.


Ok, trombamos umas duas vezes no corredor, e a única coisa que aconteceu foi uma troca de olhares de dois nervosos. Não sei por que ele está agindo assim! Mimado.


Enfim, Dumbledore voltou com o Clube de Duelos. Como eu estava a toa e Lilá estava muito animada para ir ver os garotos duelando (isso porque ela tem namorado), eu fui.


Para ser sincera, lá não tinha nada que eu não sabia. Os duelos que eu participava, eu ganhava (ha!). Estava tudo indo muito bem. Eu num canto, conversando com o resto dos grifinórios, olhando os garotos duelarem com Lilá – já esta aqui não subiu no palanque uma única vez para duelar.


Como eu escrevi, estava tudo indo muito bem, até que aquela voz irritante do Seboso ecoou pela sala. Todos olharam na direção em que estávamos. E como eu estava ocupada demais tentando lembrar Lilá de que ela tinha um namorado, não prestei atenção no que o professor disse, então ele repetiu, mais azedo do que o normal:


"Sr. Malfoy e Srta. Granger no palanque", claro! Só podia ser ideia do Seboso. E ele ainda torce aquele nariz grande para dizer meu sobrenome.


Eu procurei Malfoy no meio daquela gente que só sabia olhar para onde eu estava e o vi no canto com Violet e os garotos, conversando por múrmuros. Acredita que ele teve a cara de pau de me olhar de sobrancelha arqueada? Eu tive a vontade de arrancar, lentamente, aquelas sobrancelhas, e ainda guardaria como prêmio.


O Snape ficou olhando de Malfoy pra mim, ainda torcendo aquele nariz.


– Então?


Respirei fundo, e olhei para Malfoy novamente.


Ele ainda estava me encarando e eu começei sentir meu rosto ficar vermelho. De jeito nenhum eu subiria naquele palanque para duelar com ele. Não é medo de perder para essa serpente nem pena, eu simplesmente não conseguia reunir força de vontade para ir até lá. E parecia que Malfoy só daria o primeiro passo se eu também desse. Acredite, se dependesse da minha coragem de Grifinória, ficaríamos ali para sempre, nos encarando numa animada brincadeira de Perde Quem Desviar o Olhar.


Quando lembrou que uns cinqüenta ou mais pares de olhos também acompanhavam aquela nossa comunicação visual, a doninha maldita olhou para o professor e se aproximou do palanque.


(Eu aqueei as sobrancelhas para Malfoy, como que dizendo: ganhei.)


E então olhei para o Seboso que estava quase tendo um infarto aí por não ter respostas.


– Não – ARGH POR QUE QUANDO EU PRECISO PARECER CONFIÁVEL DE MIM, MINHA VOZ VACILA?!


Snape olhou para cima e murmurou alguma coisa, como uma reza, não sei. Entender a mente dele é uma das coisas que não está na minha lista de prioridades.


– Recusando um duelo, Miss Granger? – e deve ser uma mente bastante assustadora. Por que raios ele diz meu sobrenome daquele jeito? Granger. Argh, Snape. Aff, não consigo.


– Eu... – a aceitação, Hermione, a aceitação é o passo para tudo – ... sim.


Ignorei o "Oh" ecoado pela sala. Francamente, esse povo acredita no que lê no Profeta de Hogwarts e no Profeta Diário. Não são as melhores pessoas na qual você tem que tentar ofuscar algo.


– Perdão?


– Eu recuso – foram as palavras mais difícies que tive que dizer em toda minha vida. Vi Malfoy prender o riso.


– Alguma pessoa pode se oferecer para duelar com o Sr. Malfoy? – o Seboso perguntou para a turma.


Adivinha. Adivinha. ADIVINHA QUE INDIVÍDUO RESOLVEU DAR UM PASSO A FRENTE PARA SUBIR NO PALANQUE?!


1) GINEVRA WEASLEY.


2) GINEVRA WEASLEY.


3) GINEVRA WEASLEY.


4) GINEVRA WEASLEY.


PARABÉNS PARA VOCÊ QUE DISSE GINEVRA WEASLEY PORQUE AQUELA PIRRALHA REALMENTE DEU UM PASSO A FRENTE PARA SUBIR NO PALANQUE! SEI QUE AGORA EU SUPEREI O RELACIONAMENTO (SEM GRAÇA) DELES, MAS ESSA RUIVA AINDA ME IRRITA SÓ POR RESPIRAR. PIRRALHA.


É, a Gina subiu mesmo no palanque.


Draco Malfoy, aquela putinha loira, resolveu pagar de cavalheiro auto compreensivo.


– Na verdade, eu também recuso.


Eu juro, diário, que achei que o Snape ia cair duro ali.


Acho que quando ele recuperou a voz, disse: – Alguma pessoa pode se oferecer para duelar contra a Srta. Weasley que se ofereceu para duelar pela Srta. Granger que recusou duelar com o Sr. Malfoy – a ironia corroía cada palavra do Seboso, e ele estava até rindo da situação, diferente das pessoas ali que nos olhavam pasmos. Primeiramente quando Violet resolveu subir no palanque. – Ah!, Srta Mallette! Você vai duelar no lugar do Sr. Malfoy com a Srta. Weasley?


Tá vendo só? Ele não diz o sobrenome da Gina com aquela voz irritantemente azeda dele e nem torce aquele nariz anormalmente grande que tem! Tá vendo só como eu sou deflamada nas aulas de Poções?


Violet respondeu com um forçado sorriso.


– Perfeito – o Seboso desceu do palanque, deixado Violet e Gina de frente uma para a outra. Por que ele não fica ali no meio? Talvez alguma delas mande um feitiço que acerta ele gravemente. – Podem começar.


Não vou descrever o duelo das duas aqui, porque para ser sincera eu estava mais ocupada trocando olhares mortais com aquela doninha loira.


O vi arquear as sobrancelhas, como que dizendo: ganhei.


Eu trinquei os dentes e fingi prestar atenção nas duas que estavam no palanque.


Eu só comecei prestar atenção quando Ron se inclinou para mim e perguntou:


– E então? Está torcendo para quem?


MAL SABE ELE O QUE EU ESCREVO SOBRE GINA NESSE DIÁRIO.


Olhei para o palanque para ver quem estava em vantagem ali antes de responder. Violet era boa em feitiços de ataque, Gina conseguia se defender muito bem e eu era bom nos dois (ha). Segundo minhas contas, Violet logo acertaria Gina e acabava com esse duelo logo de uma vez.


Então eu me vi num dilema horrível. Gina duelava por mim, Violet duelava por Malfoy. Se Violet vencesse, Malfoy venceria. Se Gina vencesse, eu venceria.


Mas/porém eu não quero ver Gina, aquela pirralha, vencer. Mas/porém não quero ver Malfoy vencendo.


Droga, Violet, por que você tinha que duelar para o Malfoy???


Ao imaginar a cena de Malfoy rindo de mim por ter vencido esse duelo sem nem ao menos duelar, eu acabei gritando um "Vai, Gina!" acompanhada pelos outros grifinórios e de alguns ali de outra casa que torciam por ela. Logo, os sonserinos entraram nessa de torcer, e gritaram um "Vai, Violet".


Violet – finalmente! – conseguiu encontrar uma brecha nos feitiços de proteção da Gina e a acertou.


A ruiva caiu para trás no palanque e Harry tentou ir até lá ajudá-la, mas Violet já tinha se aproximado estendendo a mão.


– Bom trabalho, Weasley – TRAIDORAAAA! ESPERO QUE ISSO SEJA SÓ UM ATO DE EDUCAÇÃO, SUA FRANCESA INTROMETIDA!


– Você também, Mallette – Gina respondeu, se levantando.


Snape, aquele morcego velho, subiu no palanque, com aquela cara de nojinho dele, murmurou:


– Precisa trabalhar mais nos feitiços de ataque, Weasley. E você, Mallette, nos feitiços de defesa.


E seguiu com a aula.


Eu ainda não cheguei na parte interessante da coisa, diário. Vou poupar os detalhes da aula e as vezes que eu xinguei Lilá por elogiar a traseira masculina de algum garoto.


(Já que isso é um objeto que vai ficar sob meu domínio para o resto da minha vidinha medíocre até eu resolver dar para alguém ler, vou confessar: nossa! E que traseiras masculinas!)


Aquele jogo, Perde Quem Desviar o Olhar, estava sendo bem levado a sério por Malfoy e eu.


Quando finalmente aquela aula terminou e todos saíram da sala, indo correndo para o Salão Principal, conversando sobre os duelos, o Malfoy mexeu aqueles lábios ridículos num silencioso "Granger" e ainda teve a audácia de sorrir sarcástico.


Eu pensei "ah, to ferrada", mas subi no palanque assim como ele.


– Me deve um duelo – ele disse.


– Verdade – concordei.


Ficamos de frente um para o outro. Ele, sorrindo-quase-gargalhando. Eu, o-olhando-quase-o-matando.


– Primeiro as damas – CINICOOOOOOOOOOOOOO.


– Expelliarmus – eu disse já automaticamente. Malfoy conseguiu desviar a varinha, sorrindo. Tentei novamente – Levicorpus.


Pensei que aquele não daria certo, mas observei triunfante o corpo de Malfoy se levantar pelo tornozelo, o deixando de cabeça para baixo.


Sorri.


– Liberacorpus – ele disse do alto, com certa dificuldade, acabou anulando o feitiço. Merda. – E então? Está afim de querer esclarecer algumas coisas? Serpensortia.


Uma cobra, meio verde meio preta caiu no palanque. Não que eu tenha medo de cobras, a convivência com Malfoy me faz esquecer disso, só que aquela coisa estava abrindo a boca pra mim! E ficava balançando aquela cabecinha na minha direção...


– Vipera Evanesca – gritei. – Achei que nem tocaria no assunto.


– Não gosto de ficar em dívida com você, Granger. Everte Statum.


– Protego – conjurei, antes do feitiço de Malfoy me atingir. – E o que seria? Immobulus.


Malfoy riu: – Impedimenta. Hermione...


Grrrrrrrrrrrrrrrrrrr!


– NÃO ME CHAME PELO PRIMEIRO NOME, MALFOY!!! Aguamenti! – ok, ele estava conseguindo me deixar irritada.


Malfoy levantou os braços, mostrando o uniforme e ele enxarcados.


– Foi um trocadilho? – o pior sorriso estava pregado naquela cara branca: o debochado. Ele balançou a cabeça, como se dissesse espertinha.


– Foi – respondi, fazendo a melhor imitação cínica + inocente dele.


– Hã... Não está na hora de admitir que me ama? Aguamenti – ele conjurou, calmo demais, paciente demais, tranquilo demais, triunfante demais, Malfoy demais.


Eu recebi um maldito jato de água em mim. Respirei fundo quando senti meu corpo todo molhado.


Mordi o lábio, uma coisa que se faz quando você quer controlar a vontade de torturar a pessoa na sua frente.


– Foi um trocadilho? – eu já sentia uma pelinha no lábio inferior.


– Você sabe que sim – COBRA ASQUEROSA! IDIOTA IDIOTA IDIOTA! COMENSAL JR.!!! PROJETO VERDE DE AZKABAN! DONINHA ALBINAAA!


– Eu não faria isso nem nos meus momentos de inconsciência. Orchideous – eu disse. E eu achava que estava irritada quando lancei o contra-feitiço para a cobra desaparecer.


Malfoy riu quando viu o resultado do feitiço: – Flores? Sério?


Sorri sarcástica. Ou tentei.


– Ah, então vamos falar do beijo talvez? – ele disse, olhando as flores ao seus redor. Acho que já iria conjurar um feitiço para fazer aquilo desaparecer.


Sim, eu fiz flores aparecer infileiradas no canto dele, uma coisa que você pode pensar ser inútil... Até usar o feitiço que cria fogo.


Pois é, eu coloquei fogo nas lindas flores infileiradas perto de Malfoy.


– Lacarnun Inflamare – disse eu – Ah, sim, o beijo... O que eu tenho a dizer? Vejamos, que foi um impulso...?


Malfoy deu um salto quando viu as flores sendo queimada pelo fogo. Ele viu eu rir, e logo de recompôs.


– Aguamenti – ele disse, totalmente mal humorado. Quando sorriu para conjurar outro feitiço, cheguei pensar que acabaríamos logo com isso, mas... – Locomotor Mortis.


Droga.


– Impulso? Quer dizer que não resiste a mim?


Eu caí de pernas juntas e tentei me lembrar do contra-feitiço que usei em Neville certa vez, mas não conseguia. Com dificuldade, peguei minha varinha.


– Não, quer dizer que você estava lá, eu estava aqui e aconteceu... – eu falei com certa dificuldade – Você sabe. Mas foi um impulso também quando me beijou na sala da monitoria-chefe...? Rictusempra – e me diverti com as pernas paralisadas assistir Malfoy se contorcer no chão de tanto rir.


Infelizmente, eu lembrei do contra-feitiço no mesmo instante que ele, e logo estávamos nos encarando novamente de cada lado do palanque.


– Não, foi porque eu quis mesmo – (eu só não semicerrei mais os olhos porque não era humanamente possível) o maldito disse –Tarantallegra.


Não.


Não.


Não.


Não.


Não.


Ah, Malfoy, eu ainda te mato.


Soube que aquele duelo era só mais uma das diversões de Malfoy quando ele se aproximou de mim, pegando uma mão minha e me girando a sua volta.


– Me beijar estava na sua lista de prioridades? – eu perguntei, girando novamente.


– Não é desse beijo que estávamos discutindo.


O fato de termos mais de uma relação bocal me incomodava a ponto de trincar os dentes. Ok, foram dois beijos... Não deveria nem ter tido o primeiro.


Imagine a cena, diário, Malfoy rindo da minha cara e eu com a testa TOTALMENTE frangida numa mistura de olhos semicerrados. Se é que essa expressão existia, queria matá-lo do mesmo jeito.


O contra-feitiço deste foi fácil.


Sei que eu acabei de interromper uma coisa que poderia seguir lindozamente pelo castelo e finalmente ser o motivos de, hã, nos resolvermos e transformar Hogwarts num local de paz e harmonia, mas era necessário.


Tomei impulso, já farta daquilo.


– Estuperfaça – murmurei.


Malfoy foi lançado longe, deitado no palanque, sorrindo meio abobado.


– Esperta – ele disse.


– Aprendi com um certo sonserino – me aproximei.


– Ok, você venceu.


Apontei a varinha para ele: – Suas últimas palavras?


– Quer ir ao Baile comigo?


Palavras estranhas.


Quando ele disse isso, eu senti meu cérebro escorrer, meus batimentos cardíacos aumentar, minhas pernas ficarem bambas, meu estômago dar voltas e voltas como se estivesse numa roda-gigante. A minha sobrancelha, que até a pouco estava erguida, se abaixava lentamente numa forma de derrota. Ele me convidara. Ele me convidara para o maldito Baile de Outono.


O.k., eu não esperava por esse tipo de palavras.

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