"Salve-a"




CAPÍTULO 10 – “SALVE-A”

Uma semana. Era o tempo que tinha se passado desde que Draco pediu perdão. Ginny simplesmente não conseguia tirar as palavras de sua cabeça, parecia um sonho. Surreal, impensado, se tornando mais forte quando também relembrava o dia em que haviam terminado. Talvez por isso, desejasse tanto que tudo o que tinha vivido não passasse de um pesadelo. Não queria que mais ninguém sofresse por causa dela, por causa do Malfoy e muito menos por causa do romance dos dois.

Harry estava mais feliz. Às vezes o surpreendia abatido, sentado na mesma poltrona, quando ela descia para ler algum livro por estar sem sono ou, simplesmente, para pensar na vida. Ele apenas sorria tristemente e parecia fazer de propósito para que ela se sentisse culpada. Estava conseguindo. Nunca mais tiveram uma conversa franca, mas Ginny sentia que precisava falar com ele. Não agüentava mais aquela dúvida que estava corroendo seus sentimentos, porque parecia um veneno que a cada dia lhe deixava mais fraca. Precisava se libertar daquilo. Precisava questionar o amigo e ele precisava ser sincero.

Desceu as escadas e avistou Harry no salão vazio. Não estava na poltrona costumeira. Estava sentado no chão, conversando com uma garota, que logo notou ser Hermione. Ela sorria enquanto escutava com muita atenção o que o garoto falava. Pareciam muito bem. Viu que ele segurava as mãos da amiga entre as suas e sentiu uma pontada de inveja. Como gostaria de poder namorar assim, sem precisar se esconder, sem se sentir culpada, sem medos, mentiras. Talvez nunca pudesse ser dessa forma com Malfoy, mas era ele que ela queria, só que metade dela dizia para não perdoá-lo. A outra metade já tinha se rendido.

“Com licença”, falou baixinho.

“Oi, Ginny”, cumprimentou Hermione. “Aconteceu alguma coisa?”

“Nada, Mione. Eu só gostaria de falar com o Harry. Prometo que não vou alugar o seu namorado por muito tempo”, acrescentou depressa e a monitora sorriu.

“Fique a vontade”, pediu, levantando-se. “Eu já pretendia ir dormir. Boa noite, Harry”, despediu-se, dando um terno beijo no namorado.

“Boa noite, Mione”, sorriu. Era uma demonstração sincera de afeto. Ginny conhecia um sorriso ligeiramente parecido vindo dos lábios do slytherin, mas infelizmente eram muito raros.

Ela esperou que a amiga saísse da sala e fosse para o dormitório e, enquanto Hermione subia as escadas, Ginny sentou-se um dos vários sofás vermelhos e confortáveis que existiam naquele ambiente. O outono estava no auge e em breve chegaria a neve. Sentiu um pouco de frio, mas manteve-se firme. Precisava ter uma conversa muito séria com Harry e não queria demonstrar fraqueza antes mesmo que começar a falar.

“Ela já se foi, Ginny”, informou o garoto, levantando-se. “Pode falar agora”.

“Harry, preciso que seja sincero comigo”.

“É tudo o que eu tenho feito nos últimos tempos, se você não percebeu”, ele sentou-se na poltrona de costume. “Mas se o que você quer é um juramento, tudo bem. Eu prometo que serei sincero, Ginny Weasley”.

“Ora, por favor, não seja sarcástico”, ofendeu-se.

“Achei que você estivesse acostumada”, rebateu o rapaz.

“Não vamos discutir, OK? Tudo o que eu quero é que seja sincero comigo”.

“Não precisa nem pedir, Ginny. Vou responder o que você quiser, sim?”, ele parecia cansado. Olhava-a como se estivesse louco para se livrar de um problema.

“Queria te perguntar uma coisa sobre o Malfoy”, ela começou e Harry deu um suspiro longo.

“Tudo bem. O que você quer saber sobre esse imbecil? E não faz essa cara”, ele reclamou ao ver que ela pretendia sair em defesa do slytherin. “Não é porque você está apaixonada pelo Malfoy que ele vai deixar de ser um imbecil”.

“Certo, eu concordo. Tudo bem. Vamos ao que interessa”.

“Estou esperando. Pode perguntar”.

“Por que vocês fizeram aquele trato?”

Harry ficou calado. Como ela descobriu? Ou Malfoy ou Hermione tinha contado. A segunda hipótese ele descartou imediatamente. Sabia que ia piorar tudo, mas de que adiantaria mentir agora? Ela jamais ficaria com ele, principalmente agora, já que estava comprometido. Além do mais, ela nunca mais havia se encontrado com Draco. Não de madrugada, pelo menos, porque ele nunca mais a viu saindo às escondidas.

“Ele não devia ter te contado isso”, sussurrou.

“Então é...”

“Verdade? Sim. É verdade, desta vez ele não mentiu para você”.

“Foi você mesmo que propôs?”, ela perguntou. Em seu olhar só existia súplica e esperança. Falar a verdade só a distanciaria mais e a levaria para mais perto de seu inimigo, mas não iria fugir de sua responsabilidade agora.

“Sim. No dia do último treino, pouco depois de você ter ido para as arquibancadas ele apareceu e...”, Harry parou de falar quando viu que a garota estava ficando mais branca do que já era. Parecia que o sangue estava lhe faltando. “Você está bem?”, perguntou preocupado, levantando-se rapidamente de sua poltrona e indo até ela, sentando-se no sofá.

“Estou melhor do que estive desde aquele jogo. Desde que você pegou o pomo...”

“Me entenda, Ginny. Estava desesperado e fiz o trato mas, o pomo eu peguei sem querer e...”

“Tudo o que eu tinha para perdoar eu já perdoei, Harry. Quem deve pedir perdão agora sou eu”.

“Você me perdoa mesmo?”, perguntou incrédulo. “Até por essa aposta no quadribol e tudo mais?”, ela sorriu e Harry desejou, mais uma vez, que ela parasse com aquilo.

“Você não sabe o quanto eu fico feliz em saber que esse trato realmente existiu, Harry. Talvez seja a notícia mais importante que eu poderia ter recebido”.

“Vocês estão juntos?”, a pergunta saiu sem querer. Ele tentou fingir indiferença, mas não obteve sucesso.

“Não. Aconteceu tanta coisa, Harry... Não vale a pena relembrar, mas só de pensar em que ele foi sincero comigo...”

“Olha Ginny, eu já cansei de te avisar que ele não presta, mas sei que não adianta. Você distorce a realidade e o Malfoy parece um pobre coitado que vive a pedir perdão por suas pequenas falhas. As falhas dele são monstruosas e você sabe disso. Ele matou o Neville!”

“Você não tem provas de que tenha sido ele!”, gritou.

“Ele praticamente confessou.”

“Harry, por favor, eu não quero brigar com você”.

“Eu só queria descobrir o feitiço que ele lançou em você para que ficasse cega desse jeito, porque queria poder usar também. Quem sabe assim você parasse pra refletir e ficasse com quem te ama de verdade”, ele não ficou mais no salão comunal para escutar a resposta. Virou as costas e subiu as escadas de dois em dois degraus.

Ginny ficou parada, sozinha, em frente à lareira. Malfoy tinha falado a verdade. Precisavam conversar mais uma vez. Ela não pediria perdão por ter duvidado, porque não tinha culpa, mas não soube explicar o alívio que sentiu ao confirmar a verdade.

Não entrou em detalhes com Harry. Bastava saber se o trato existiu e se fora o amigo que havia feito a proposta. Seu coração estava acelerado pela ansiedade de poder voltar a ver Dracp, mesmo que ainda não se perdoasse por estar apaixonada por alguém como ele. Era contraditório pensar que quanto mais tentava enfiar em sua cabeça que Draco não era o homem certo para ela, mais ele se instalava em seu coração. E se odiava por isso.

Harry ia entrar em seu dormitório quando sentiu alguém se aproximar. Ao virar-se viu o rosto de Hermione. Não soube identificar a expressão, mas ela parecia preocupada e ansiosa. O abraçou. Estava tremendo quando falou apressada em seu ouvido...

“Tenho que te contar uma coisa”, sussurrou, abraçando Harry com muita força. Como se sua vida dependesse dele.

“Pode falar, Mione”, pediu, inseguro. Nunca tinha visto Hermione daquele jeito, incluindo todos os momentos de terror que passou ao lado da amiga. O que ele via era algo totalmente diferente.

“Me perdoe. Eu não conseguia... Desculpa”, falou apressada, sem conseguir formular frases completas.

“Não conseguia o que?”, ele já estava ficando desesperado.

Hermione de repente o largou. Levou a mão à testa, como alguém que sente uma grande dor de cabeça. Quando voltou a olhar para Harry sua expressão era bem menos tensa. Parecia que estava voltando de um pesadelo.

“Mione, você está bem?”, ele perguntou devagar.

“Não sei... Sinto-me estranha. Eu tive muito medo de repente, Harry. Lembrei de tantas coisas...”

“De que, por exemplo?”, ele a abraçou, tentando tranqüilizá-la.

“Aquela festa, Harry. Isso não me sai da...”, começou, mas o empurrou de novo, com mais força.

“Mione o que você...”

“Ele é o culpado”, gritou. “Eu juro que não tive culpa. Harry foi o Ron... Ele... A Ginny... Salva ela. O Malfoy... Foi o Ron... O Ron...”, ela voltou a se segurar nele. Voltou a ficar histérica. No início Harry ficou com medo de que ela acordasse a casa toda, mas naquele momento só se preocupou com a namorada.

“Mione! O que o Ron fez? Salvar a Ginny eu até entendo, mas o que o Ron...”

“O Neville... O Malfoy é culpado e...”

“Eu sei que foi ele, fique calma”, ele a abraçou de novo. “Por favor, fique calma”.

E mais uma vez a garota se acalmou. O abraço era apertado. Beijou-lhe o pescoço e pediu desculpas baixinho. O que deixou Harry mais confuso.

“Desculpas pelo quê, Mione?”, perguntou no mesmo tom de voz.

“Eu escutei a sua conversa com a Ginny. Mil desculpas. Não sei o que deu em mim. Deveria ter ido para o dormitório”.

“Não precisa se desculpar por isso”, Harry tentou tranqüilizá-la, mas aquele comportamento de Hermione era familiar. Não queria acreditar, mas estava com um pressentimento muito ruim.

“O Malfoy também entrou naquele jogo para perder”, falou, ainda sussurrando.

“O que?!”, ele a encarou, saindo do abraço. “Ele queria que eu ficasse com a Ginny?”

“Sim... Ele gosta dela, Harry. Não queria que ela sofresse por ele, por isso decidiu que a entregaria a você”, ela nem parecia a mesma mulher que falava desesperadamente, momentos antes.

“Então nós dois entramos querendo perder?”, perguntou, incrédulo.

“É o que parece”.

“Sabe o que eu acho, Mione?”, ele perguntou sem muita certeza de que deveria falar aquilo.

“Acho que aquele aprendiz de comensal gosta mesmo da Ginny”, ele esperou pela reação. Não pensava que o que dizia era verdade.

“Também estive pensando nisso, Harry. Acredito que seja melhor que eles fiquem juntos, Mesmo sendo de famílias inimigas eles podem ser...”

“Felizes?”, ele perguntou irônico. “Tem certeza de que era isso o que você iria falar?”

“Era isso mesmo, Harry o que...”

“Você nunca diria isso”, ele a interrompeu. “Por que mudou de idéia sobre eles? Justamente você, que era totalmente contra! O que foi que aconteceu para que sua opinião...”

“Não aconteceu nada, Harry”, sussurrou com raiva. “Apenas cansei de ver você ficar ao meu lado pensando na Ginny”.

“Mas o que... Mione, você aceitou essas condições. Eu fui sincero com você desde o começo”.

“Eu sei, mas tenho esperanças de que, com os dois juntos, você desista. Assim, quem sabe, passe a prestar um pouco mais de atenção em mim”, falou baixo. Era o ataque de ciúmes mais estranho que Harry já tinha visto na vida.

“Não precisa ficar com ciúmes, Mione”.

“Então me dê prova de que merece minha confiança, Harry! Pare de agir como se ela fosse a sua namorada! Deixe a garota em paz”.

“OK! Vou fazer o que deseja, mas...”

“Boa noite, Harry”, concluiu, deu as costas e tomou o rumo de seu dormitório.

Harry ficou sem saber o que fazer. Ficou mais confuso do que poderia ter ficado daquele último mês. Hermione parecia estar louca, mas lembrava-se claramente de alguns colegas falando que mulheres com ciúmes se tornavam perigosas. Tinha acabado de comprovar que era verdade. Mas ainda assim estava estranho e ele sabia que tinha alguma coisa errada. Aquele comportamento de Hermione antes daquele ataque de ciúmes... A última vez que viu alguém agir daquele jeito foi em seu quarto ano.


N/A.: Espero que estejam gostando e peço comentários, para saber o que estão achando, ok?



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