Pôr do sol




CAPÍTULO 13 – PÔR DO SOL

Ao sair da sala de Snape, Malfoy nem ao menos olhou para onde estava indo. Sua cabeça estava voando a procura de saídas que não conseguia enxergar, mas não poderia deixar que seu pai tivesse a prova real de que estava envolvido com Ginny.

Andou sem rumo até que sua passagem foi interrompida por alguém que ele realmente não desejava ver em sua frente para o resto de sua vida. Aquela pessoa estava brincando com fogo e iria se arrepender. Isso ele garantia.

“Que cara de felicidade, Draco! Vejo que conseguiu o que você queria. Agora você pode liquidar com os Weasley como você desejava desde o começo”, o rapaz falou irônico, mas Draco apenas sorriu e tentou passar por Blaise, mas o garoto o deteve.

Draco concluiu que Zabini estava pedindo para ser morto.

“Blaise, me provocando desse jeito só está encurtando a sua vida em pelo menos quarenta anos. Se o que você quer é que eu te mate...”

“Por que está tão irritado? Eu não fiz nada! Apenas contei ao seu pai”.

“Contou mentiras”, falou irritado, a meio tom. “Não sabe do que está falando, mas pelo menos você me fez um favor. Agora tenho a missão mais importante dentro dessa escola e ou acabar com os amigos do Potter e...”

“Vai mesmo?”, interrompeu. “Será que vai ter coragem suficiente para matar a sua Weasley?”

Draco riu com vontade.

“De onde você tirou uma coisa dessas?”, perguntou entre risadas. “Enlouqueceu? Eu nunca...”

“Talvez você se lembre de ontem à tarde. Estava frio lá no lago, não?” Draco garoto parou de sorrir e Zabini percebeu a mudança. “Que idiotice a minha, claro que você não estava com frio! Os braços da Weasley devem ser realmente quentes”.

“O que você pretende com isso, Blaise? O que você quer?”

“Não quero nada, Draco. Você não vai conseguir me comprar com nada, pois minha família é tão rica e desonesta quanto a sua. Somos iguais! Você não tem o que me oferecer. Além do mais, estou me divertindo” ele se encostou na parede e continuou olhando para o loiro. “Quero ver que solução você vai preferir. Será que vai admitir que está apaixonado pela...”

“Não estou apaixonado! Você é tão idiota que não percebe o que está acontecendo na sua cara! Eu estou usando a Wasley para...”

“Não adianta mentir, eu sei que você gosta dela. Já teve tempo demais para fazer alguma coisa contra o Potter e contra a corja dele. No entanto...”, ele não conteve o sorriso. “Vamos, Draco. Admita que está com ela porque gosta!”

“Eu não...”

“Então faça o que seu pai mandou”, sugeriu. Em seguida ele olhou para o relógio que tinha no pulso. “Você tem menos de dez horas para matar a Weasley. E pode apostar... Eu vou adorar ver você tentando se explicar para o seu pai, porque eu sei que você não vai conseguir matar aquela garota”.

Zabini virou as costas. Parecia realmente estar se divertindo. Malfoy sabia que eram iguais. Não poderia suborná-lo. Teria que fazer uma escolha. E desde o primeiro momento já tinha feito... Quando Blaise virou no corredor, Draco correu para o Salão Comunal. Precisava marcar um encontro urgente com Ginny e esse encontro não poderia ser adiado de forma alguma.

A ruiva se surpreendeu ao se deparar com a carta em cima de sua cama.

O que ele quer? Era o que se perguntava.

Tinham marcado para se encontrar apenas no dia seguinte. Não poderiam se ver todos os dias, ou alguém desconfiaria e ela já havia chegado de madrugada na última noite... Como ele queria manter segredo dessa forma? Não poderia mais facilitar.

Abriu a carta e leu apressada. Urgente? O que seria tão urgente? A letra estava rabiscada. A carta parecia ter sido escrita com toda a pressa do mundo e estava borrada pela tinta em diversos pontos.

O que deu no Malfoy?

Não importava. Teria que ir. Um assunto tão urgente não poderia esperar. Ele marcara em uma sala em um dos corredores do primeiro andar, antes do jantar. Ficou curiosa e ao mesmo tempo tinha medo. Não estava com um bom pressentimento.

A garota desceu para o Salão Comunal e nem sequer notou que Harry não tirou os olhos dela um momento sequer. O garoto sabia que ela havia chegado de madrugada... E tinha certeza do motivo. Não conseguia acreditar que a Ginny escondera por mais de dois meses que ainda continuava a namorar o slytherin.

Tudo se encaixava.

Hermione se declarando para ele um dia após a sua vitória no Quadribol; o modo como ela agia estranho; o fato de Malfoy e Ginny continuarem juntos...

Draco não havia cumprido o trato e dera um jeito de fazer com que ele ficasse longe de Ginny. Deu um jeito para que ele ficasse com outra garota e armou para que essa garota fosse Hermione. Malfoy planejara tudo e Harry se sentia um idiota por ter percebido apenas quando já era tarde demais.

Parecia uma sina. Ele sempre descobria tudo quando o momento oportuno já tinha passado. Fora assim quando chegou em Hogwarts e desconfiou de Snape, em seu segundo ano precisou que Ginny corresse um perigo mortal para que a verdade fosse revelada, quase matou Sirius Black por acreditar que era um traidor e por sua causa Cedric...

“Droga”, murmurou, socando o braço da poltrona em que estava sentado.

Sabia que precisava fazer alguma coisa, mas infelizmente não sabia por onde começar. Ginny não acreditaria nele. E talvez ficasse com raiva, o que seria pior. Também não poderia contar com Hermione, já que ela era apenas uma marionete de Malfoy e ele não fazia idéia de como reverter o feitiço. Muito menos poderia contar com Ron, que estava totalmente por fora de toda história, e se dependesse de Harry continuaria sem saber de nada.

Ele ainda cogitou a hipótese de falar com Dumbledore, mas logo essa idéia desapareceu de sua mente. Não iria procurá-lo. O diretor estava muito ocupado com a Ordem, e a guerra que estava acontecendo no mundo mágico estava fazendo com que a velhice do bruxo ficasse mais evidente. Harry se perguntou se o professor conseguiria suportar tudo até o final.

Ele abriu os olhos. Havia cochilado. Estava tão cansado que dormira sem querer. O sol estava desaparecendo entre as montanhas.

Olhou de volta para a sala e não viu Ginny; levantou-se inquieto.

Não estava com um bom pressentimento.

Alguns andares abaixo, Ginny abriu a porta de uma sala. Entrou. Ele já esperava. Nenhum móvel, nenhuma fonte de luz que não fosse os raios de sol entrando pelas janelas abertas em um tom levemente alaranjado.

Draco olhava pela janela, observando o por do sol.

“Está...”

“Atrasada”, ela interrompeu sorrindo. Ele continuou olhando o horizonte. “Eu sei. Peço desculpas. Mas tive que convencer o meu irmão de que não iria comer agora”.

“Não ia dizer que está atrasada”.

“Não?”

“Claro que não. Pela primeira vez você chegou na hora certa”, falou se virando para ela. “Isso soa até irônico”.

“Irônico?”, perguntou enquanto se aproximava do namorado e segurava-lhe a mão. “Não estou entendendo”.

“Já vai entender”.

“Não estou gostando desse mistério, Malfoy. O que é tão urgente para...”

Calou-se. Ela não estava preparada para o que aconteceu. Ele a empurrou e encostou-a na parede, segurando-a firmemente pelo pescoço. Com a outra mão apontava a varinha diretamente para o coração.

Ginny o olhava, assustada. Não fazia o mínimo sentido.

“O que...”

“Cala a boca”, sussurrou.

“Mas...”

“Eu já mandei calar a boca, Weasley!”, gritou. “Sinto dizer, mas olhe bem para esse por do sol. Será o último que verá”.

“Malfoy... O que...”, ela tentava falar, mas estava sem ar.

“Sinto muito. Eu não tenho escolha”.

“Vai me matar?”, ela perguntou, olhando nos olhos dele.

“Ainda tem dúvida?”, ele perguntou, retribuindo o olhar firme.

Ela olhou pela janela e viu que o céu estava alaranjado. Logo seria noite... E era uma noite que não veria chegar.

Levou as duas mãos ao seu pescoço e tocou a mão de Draco. Estava gelada. Permaneceu envolvendo as mãos do garoto nas suas, enquanto ele segurava o seu pescoço. Ela respirou fundo.

“Pode soltar”.

“Não”.

“Não precisa se preocupar, Malfoy”, ela o olhava com determinação. “Eu não vou tentar fugir”.

O garoto ficou surpreso. Esperava que ela chorasse, implorasse pela vida, que declarasse que o que existia entre eles era verdadeiro. Tudo, menos aquelas palavras. Continuaram se encarando por alguns segundos, até que ele a soltou.

O rapaz deu dois passos para trás, sem abaixar a varinha. Ginny continuava parada, com o olhar fixo nele.

“O que você está esperando?”, ela perguntou. “Anda logo!”

“Mas o que...”

“Se quer me matar, faça isso logo! É melhor que eu morra antes que eu acredite que isso é real”.

“Weasley...”

“Por que não me mata logo?”, berrou.

“Para que tanta pressa?”, perguntou angustiado.

“E por que ser tão devagar?”, ela respondeu com uma pergunta. Sua voz saiu trêmula. Fechou os olhos. “Se o que deseja é me torturar com esse jogo, você conseguiu. Anda logo, mate-me!”

“Se é assim que deseja...”

“Espere!”, ela pediu. Abrindo novamente os olhos.

“Que?”

“Só me prometa que não vai doer”.

“Infelizmente não posso prometer. Não sei se isso dói, mas será rápido”.

Ela não respondeu. Apenas fechou os olhos. O céu já não estava mais laranja quando Gina se despediu dele. O tom era quase avermelhado. A noite realmente não tardaria, bem como a sua morte.

Esperou em silêncio. A respiração rápida. Tudo o que via era o escuro de suas pálpebras. Por que ele ainda não tinha feito?

Por quê?

Escutou um barulho estranho. Parecia madeira se partindo. Abriu os olhos e não viu Draco no primeiro momento. Só depois de olhar toda a sala é que o encontrou sentado em um canto, precariamente iluminado pelos últimos raios de luz daquele dia. Do lado oposto da sala, estava jogada no chão a varinha de Draco.

Partida ao meio.

Ginny mordeu os lábios e respirou fundo, aproximando-se. Sentou-se apoiada nas próprias pernas e de frente para o rapaz, que olhava fixamente para baixo.

“Por que não...”

“Não faz perguntas, por favor. Não faça perguntas” implorou, interrompendo a garota. Sua voz soava estranhamente gentil.

“É preciso. Você iria me matar e...”, ela engoliu as palavras que pretendia dizer. “Só desejo saber o que está acontecendo”, murmurou levando sua mão ao rosto dele. “E se você realmente ia me matar, por que não o fez?”

Ele sorriu, mas não era um sorriso feliz. Uma fuga. Irônico.

“Por quê?”, ele a encarou como se não acreditasse que ela tinha perguntado aquilo. “Você ficaria chocada se eu dissesse o porquê”.

“Nada me chocaria mais do que ver o homem que eu amo apontando uma varinha pra mim, dizendo que vai me matar”, falou com firmeza, enquanto segurava as mãos dele entre as suas. “Já te perdoei pelo que aconteceu agora e o que você me disser agora não vai me chocar. Sou capaz de perdoar qualquer coisa. Pode...”

“E se eu te disser que eu sou o responsável por tudo o que aconteceu ano passado? Perdoaria também?”

Ela ficou em silêncio. Apenas o olhava espantada.

“Tudo?”

“Não exatamente. Não cheguei a matar ninguém, mas coordenava tudo usando Imperius. Eu fazia com que matassem por mim.

“O Neville foi você? Quer dizer... Alguém que...”

“O seu irmão”.

“Ron?”

“Seu irmão matou o Longbottom. Eu mesmo o enfeiticei”, sua voz se arrastava e seus olhos não a encaravam.

Ela o abraçou.

Draco se surpreendeu, pois pensava que a garota iria se revoltar. Pensou até na possibilidade dela tentar matá-lo. Não seria impossível, pois ela tinha uma varinha e ele não. Mas ao invés disso... Ela apenas o abraçou.

“Por que está me falando isso agora?”, Ginny perguntou em um sussurro.

“Pensei que fosse tentar me matar se soubesse disso”, desconversou.

“Não importa, Malfoy”, ela o apertou mais em seus braços. “Passou. Por mais doloroso que seja, isso faz parte do seu passado. Eu não namoro o seu passado. Eu perdôo você. Só quero saber do agora! O que está acontecendo? Por que está me falando isso?” perguntou mais uma vez. Sem sair do abraço.

“Porque é preciso que você saiba da minha missão como seguidor do Lord”.

“E qual é?”, perguntou baixinho, saindo do abraço, voltando a fitar seus olhos.

“Eu sou o encarregado... Não era... Mas agora sou...”

“Qual é a missão?”, insistiu.

“Matar você. Você e o seu irmão”.

“Mas...”

“Tinha até o anoitecer para matar você”, ele olhou pela janela e voltou a encará-la. “Acho que é tarde demais”, o céu agora estava em um tom arroxeado e as estrelas já começavam a aparecer. A sala estava quase na total escuridão e Ginny mal podia ver o rosto de Draco.

“E o que acontece agora?”, ela perguntou abraçando-o.

“Eu não sei”, respondeu completamente perdido. Já sabendo que naquela hora seu pai já deveria estar no castelo. “Sinceramente não sei o que vai acontecer... Não é como se isso fosse um conto de fadas, não é?”.

“Por que nossa história não é um conto de fadas? E mesmo que não seja, podemos torná-la e...”

“Contos de fadas têm finais felizes”.

Ginny se afastou um pouco e encarou os olhos cinzentos do rapaz. Pela primeira vez ela viu medo.


No andar de baixo Zabini aguardava ansiosamente por Lucius Malfoy. Não perderia nenhum momento daquela história e Draco pagaria por tê-lo atrapalhado. Estava apenas cumprindo sua parte quando o loiro apareceu e pôs tudo a perder. Sentia-se humilhado e iria se vingar.

Seus pensamentos foram interrompidos por uma voz bastante conhecida lhe chamando.

“Zabini?!”

“Sr. Malfoy, boa...”

“Onde está Draco?”, perguntou sem rodeios.

“Está com ela”, o Sr. Malfoy sorriu, mas o sorriso desapareceu quando Blaise completou o que falava. “Mas não acredito que esteja tentando matá-la...”

“Onde?”, perguntou com raiva.

“Segunda sala à direita. No corredor do primeiro andar e...”

Ele não quis escutar mais nada. Subiu as escadas sem olhar para trás. Se seu filho não tinha coragem para matá-la, ele próprio faria. Zabini ficou parado, olhando o Sr. Malfoy subir as escadas. Suspirou e seguiu para o Salão Principal para o jantar.

Agora sim. O dia estava perfeito.

Do outro lado do hall, quase totalmente oculto pelas sombras, Harry ouviu toda a conversa... E não lhe restavam dúvidas de quem era o “ela” em questão.


Aquele abraço já durava mais de um minuto. Em silêncio. Mas ela não pôde resistir mais.

“Malfoy eu...”

“Ginny”, ele levou um dedo aos lábios dela. Pedindo silêncio.

Ela sorriu. Era a primeira vez que ele a chamava pelo primeiro nome e isso a deixava feliz, mas de novo surgiu o mau pressentimento. Ele não faria nada contra ela, disso Ginny tinha certeza... Então... Por que aquela inquietação?

Seus pensamentos foram interrompidos quando ele a beijou. Draco não queria enfrentar o pai e nem sabia se seria capaz disso. Precisava encontrar outra solução, porque também não conseguiria matá-la. Na verdade até podia se quisesse, mas ele não queria.

Por isso quebrou sua varinha.

Para não cair na tentação de tentar de novo, e dessa vez sua razão prevalecer sobre seus sentimentos.

Ela estava gelada. Draco podia sentir enquanto acariciava sua nuca.

Ela tremia. Podia sentir quando ela o tocava.

Nem estava tão frio assim.

O que está acontecendo?

“Weasley, o que...”, ele não conseguiu completar as palavras do seu pensamento.

Ela simplesmente ignorou a tentativa do rapaz. Não era momento para palavras. Aproximou-se ainda mais dele e não deixou que ele interrompesse o beijo.

Ela não entendia o porquê de estar fazendo aquilo, mas ele retribuía seus carinhos de tal maneira que ela simplesmente se esqueceu de todos os pressentimentos ruins.

Antes ela tivesse confiado em sua intuição.

No momento seguinte, mesmo de olhos fechados, Draco percebeu a claridade. Quando os abriu, viu que a sala estava completamente iluminada. O lustre estava aceso, a porta aberta. Desvencilhou-se do beijo e olhou para os lados.

Seu coração quase parou ao ver Lucius.

Seu pai estava parado, olhando-os com uma expressão de profundo nojo. Ginny olhou para Draco sem saber o que fazer. Esperava que o garoto dissesse alguma coisa, que tentasse explicar...

Explicar o quê?

O Sr. Malfoy vira tudo. Acabara de ver seu filho beijando aquela que deveria matar... O que aconteceria agora?

Ela nem ouviu o que Lucius falou, apenas sentiu na pele a conseqüência daquele feitiço. Parecia que seu corpo estava se rasgando. Mil agulhas perfurando cada milímetro. Sua única reação foi gritar.

Gritar. Era tudo o que conseguia fazer.

A sala encheu-se com seus gritos; não estava mais conseguindo respirar; iria enlouquecer... Então parou.

“Você grita demais, Weasley... ‘Silêncio’”, murmurou e em seguida olhou para Draco, que ainda estava sentado no chão.

Ginny estava a sua frente. Tentando controlar a respiração. Tudo o que havia nos olhos da garota era pânico. Tentando falar, mas sua voz não saía.

“Pai...”

“Mate-a, Draco”, ordenou calmamente. “Ainda há tempo para reparar seu erro”.

“Eu não...”

“Mate-a!”, gritou.

Draco se levantou e ajudou Ginny a ficar de pé. Ela se apoiou na parede que ficava exatamente a frente de onde o Sr. Malfoy estava, mas ele não estava prestando atenção nela; apenas encarava seu filho.

“Já disse que farei isso”, o garoto falava calmamente. “Não precisa ficar nervoso”.

“Está blefando”, murmurou. “Draco... Você não pode me enganar. Eu ensinei praticamente tudo o que você sabe. Principalmente mentir para que seu oponente acredite em você”.

“Você não é o meu oponente, pai”.

“Posso não ser Draco, mas sei que está mentindo. E faz isso muito mal...”, ele fez uma pausa. “Mate-a”.

“Minha varinha... A Weasley a quebrou”.

“Não seja por isso”, o Sr. Malfoy estendeu a sua varinha ao filho. “Use a minha. Pode não ser a mesma coisa para você, mas com certeza funcionará”.

Draco encarou o pai, olhou a varinha; então se voltou para Ginny, que chorava. Ela deu dois passos para frente, meio inseguros, mas fez um sinal de afirmativo com a cabeça. O que dera nela? Será que ela preferia ser morta a vê-lo naquela situação? Não... Ela não podia ser idiota àquele ponto.

Draco pegou a varinha das mãos do pai e se virou. Mais uma vez encarou a garota. Como da primeira vez, mirou no coração, mas não fechou os olhos. Continuava a encará-lo.

Não.

Ele não podia. Draco tentava falar em voz alta, mas não conseguia. Precisava matá-la! Não era tão difícil. Só precisava pronunciar duas palavras e nada mais. Era só uma garota. Gostava dela, mas viriam outras... A Weasley não era a única mulher no mundo. Então... Por quê? Por que ele não conseguia?

Por quê?

“Draco”, Lucius se fez lembrar.

“Não”, murmurou.

“O que você disse?”, perguntou.

“Eu disse que não”.

O Sr. Malfoy avançou sobre o filho e tomou a varinha de suas mãos. Murmurou um feitiço, mas não foi na direção de Ginny.

“Imperius”, Lucius enfeitiçou o seu próprio filho.

Vamos... Draco. Vá até ela... Pegue a varinha da Weasley e mate-a”. Uma voz ordenava dentro de sua cabeça.

O rapaz deu dois passos.

Não”. Era outra voz.

Ele parou.

Pegue a varinha dela e mate-a!” A primeira voz ordenou mais uma vez.

“Não! Eu não quero”.

“Vamos! Mate-a agora!”. A voz do seu pai ecoava forte em seus pensamentos.

- Não! Não vou matá-la! Não quero! Eu a amo! – sua voz ecoou pela sala. Ele havia gritado aquelas palavras... Não acreditou. Não acreditou no que acabara de falar.

E seu pai também não.

“Você resistiu ao meu Imperius”, o Sr. Malfoy estava atônito. “Estaria muito orgulhoso em qualquer situação que não fosse esta”.

“Pai”.

“Cale-se!”, gritou. “Quer maior prova do que esta? Tenho vergonha de você! Como pôde chegar a isso?”

“Pai...”

“Saia de minha frente!”, berrou e em seguida recitou um feitiço que jogou o filho contra a parede. Draco caiu no chão, tonto e dolorido o suficiente para não conseguir levantar.

Ginny continuava sem poder falar. Tentou se aproximar do rapaz caído, mas logo se deu conta de que não poderia fazer isso. Lucius a olhava com extrema raiva e ainda apontava a varinha para ela. Não havia dúvidas de que em segundos estaria morta.

“Por que você?”, ele se aproximou perigosamente. “O que deu no meu filho para se envolver sentimentalmente quando tinha uma missão que ordenava claramente a sua execução?”, ele segurou uma mecha dos cabelos dela. “Como você...”

Ela estava paralisada pelo medo. Os olhos frios de Lucius Malfoy a perfuravam. Aqueles olhos, idênticos aos de Draco, pareciam muito diferentes naquele momento.

Ginny olhou para o rapaz, que estava tentando se levantar se apoiando na parede com dificuldade. Draco olhava para o pai com uma expressão que só vira no rosto dele quando ele estava diante de Harry.

O Sr. Malfoy virou as costas e ela tentou se mexer, mas suas pernas não estavam obedecendo. Olhou para o lado e viu que Draco já estava de pé, mas Lucius parecia não ter percebido. Sua atenção estava inteiramente voltada para ela. Apontou a varinha novamente...

“Quais são as suas últimas palavras?”, perguntou debochando, pois sabia que ela não podia falar. “Nenhuma? Muito bem...”

Ginny fechou os olhos.

“Avada...”, Draco se precipitou e abraçou Ginny. “Kedavra...”

Um raio de luz verde;

Tarde demais para Lucius impedir o feitiço;

Ele só percebeu a loucura cometida pelo filho quando a maldição já tinha deixado a sua varinha.

Ginny mantinha os olhos fechados, mas as lágrimas já escapavam. Estava viva. Sentiu Draco abraçá-la e ouviu o feitiço.

Sentiu ele desabar a sua frente.

Tinha medo do que veria se abrisse os olhos, pois sabia o que precisaria ver... Só não tinha coragem.

Ouviu um barulho. A porta se abriu. Escutou uma voz conhecida e se sentiu aliviada, mas tinha medo de abrir os olhos. Não queria...

“Lucius!”, era a voz de Dumbledore. “O quê...”

“Ginny!”, era a voz de Harry. “Você está bem?”

Ela gostaria de dizer que estava, mas não podia. E não era por causa do feitiço usado pelo Sr. Malfoy. Mesmo que pudesse falar, acreditava que as palavras não iriam sair. Abriu os olhos. Não poderia mais retardar o momento.

Nem sequer olhou para Harry.

A primeira visão que teve foi a do Sr. Malfoy, olhando fixamente para algum ponto no chão, aos pés dela. A varinha ainda erguida...

Baixou sua visão, para ver o que Lucius estava olhando, e apesar de saber o que era não conseguiu impedir que as lágrimas viessem em maior volume aos seus olhos. Levou as mãos à boca. Sentiu-se nauseada. Ele parecia apenas estar dormindo... Exceto pelo fato de que já não respirava mais.

Harry parou a certa distância, apenas observando tudo. Viu Ginny se abaixar e se sentar ao lado de Draco, perguntando-se por que ele estava caído. O gryffindor ainda não sabia que o inimigo havia sito atingido pela maldição da morte.

Minerva logo apareceu na sala e fechou a porta, para evitar que mais alguém aparecesse. Logo em seguida o professor Snape entrou. Lucius, que parecia estar em estado de choque, foi tirado da sala por Snape, a mando de Dumbledore.

O diretor se aproximou de Ginny, que permanecia sentada ao lado do corpo de Draco. Ela acariciava o rosto daquele que nada mais sentia e que nunca mais voltaria a sentir em seus braços.

“Srta. Weasley”, Minerva chamou, mas ela não respondeu.

“Professora o quê...”

“Por favor, Potter. Sem perguntas agora”, reclamou. Os olhos de McGonagall pareciam ligeiramente marejados.

Dumbledore se adiantou e se abaixou diante de Ginny.

“Ginny, creio que seja melhor deixar essa sala”.

Ela o olhou e negou veemente com um aceno de cabeça.

“Por Deus, Weasley! O que aconteceu?”, perguntou Minerva.

Ginny mais uma vez baixou a cabeça, chorando silenciosamente. Levando uma das mãos à garganta. A outra mão segurava as de Draco, que ainda conservavam o seu costumeiro calor.

Minerva pareceu compreender e desfez o feitiço. Logo a sala foi preenchida pelo som de soluços desesperados. Harry se assustou, horrorizado com tamanho desespero, ainda sem entender o porquê daquele choro.

“Ginny, não há nada que possamos fazer. Draco está morto e isso não pode ser mudado”.

“Ele não devia! Não era pra ser ele!”, gritou, olhando para Dumbledore.

O Diretor encarou McGonagall.

“Minerva, Harry... Por favor, nos deixariam a sós por um momento?”

A professora assentiu com um aceno, virou em seus calcanhares e saiu da sala. Mas não sem antes dar uma última olhada à lamentável cena.

“Potter...”, ela chamou.

“Eu não vou sair”, disse firmemente.

“Mas...”

“Tudo bem, Minerva. Harry, você pode ficar. Sei que também está confuso”.

McGonagall saiu e fechou a porta, deixando os três, juntamente com o corpo sem vida de Malfoy, naquela sala. Ginny se recusava a soltar a mão dele e continuava chorando e Harry não sabia o que fazer. Ele sabia como Malfoy era importante para Ginny, mas ainda não entendia o porquê de o próprio pai tê-lo matado.

“Ginny...”, Harry tentou.

“Acorda Malfoy! Por que fez isso?”, ela socava o peito do garoto com a mão que antes estava na garganta. “Burro! Imbecil! Acorda!”, berrava.

“Infelizmente ele não vai acordar, Ginny”, o diretor disse gentilmente. “É melhor você ir para a Ala...”

“Não vou deixá-lo aqui sozinho! Está frio... Ele vai ficar com frio”, a garota estava fora de si, falando como se ele ainda estivesse vivo.

“Ele não ficará sozinho. E também não sentirá frio, prometo. Cuidaremos bem dele, Ginny. Por favor...”, Dumbledore segurou na mão dela que segurava a do rapaz e fez com que ela o largasse. “O Harry vai te acompanhar até a enfermaria”.

“Mas ele...”

“Não vou deixá-lo sozinho... Prometo”.

Ela olhou incerta para Malfoy e depois para Dumbledore. Deu um sorriso sem graça e levantou-se devagar.

“Quando ele acordar, diz que eu estou esperando no nosso lugar secreto”, ela falou baixo, como se não quisesse que mais ninguém escutasse.

Harry estendeu a mão para ela e Ginny aceitou, com um leve sorriso. Saíram da sala deixando Dumbledore cuidando do corpo de Draco e o garoto finalmente começava a entender o que ocorrera ali.

“Harry”, Ginny chamou baixinho, enquanto andavam pelo corredor. Ele a segurando pela cintura.

“Pode falar”.

“Ele me ama”, ela disse sorrindo.

Pela primeira vez Harry se pegou pensando e, infelizmente, admitindo que sim.

Era verdade.

Malfoy a amava.


N/A.: Comentários são bem vindos, não demora nada e nem dói. Não se sitam obrigados a elogiar. Se não gostou do capítulo, pode falar também, pois criticas construtivas também são muito bem vindas, mas se gostou de verdade por favor avise, comente.


N/A.: Comentários são bem vindos, não demora nada e nem dói. Não se sitam obrigados a elogiar. Se não gostou, pode falar também, pois criticas construtivas também são muito bem vindas, mas se gostou de verdade por favor avise, comente.

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Comentários (1)

  • Ingrid Arruda

    sem dó nem piedade você matou o Malfoy,justo quando eu estava comelando a ter dódele e acreditando nele. Essa me pegou de surpresanão tinha outra solução não??  D:   quanta maldade 

    2013-07-17
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