Sentença





CAPÍTULO 12 – SENTENÇA

Ginny tinha ficado com medo. Durante todo o almoço de Natal olhou para a mesa da Slytherin, buscando aquele garoto que havia lhe agredido, mas não encontrou. Draco provavelmente havia causado algum ferimento mais grave no colega de casa.

O que a garota não conseguia entender era que tipo de motivação Zabini teria para fazer aquilo. Ele disse que ia matá-la, mas por quê? Ela não tinha feito nada a ele. Nem o conhecia, para falar a verdade. Tinha cruzado com o garoto pelos corredores, mas jamais falou com ele. Tudo o que conseguiu imaginar foi que Zabini era um dos que propagavam o terrorismo na escola. Foi a única explicação plausível encontrada por ela, o que significava que ele queria matá-la simplesmente porque queria trazer o horror de volta.

“Ginny, você está bem?”, Ron perguntou, preocupado.

“Sim, eu acho que estou”, suspirou.

Harry a olhava pelo canto dos olhos. Sabia que não estava bem. Já tinha percebido desde o momento em que ela entrou no Salão para o almoço e notava como ela não tirava os olhos da mesa da Slytherin. Sabia o que ela estava olhando e sentiu raiva por isso. Ela não havia esquecido. Nem mesmo após dois meses do fim do romance, ela parava de olhar para o Malfoy como se ainda estivessem juntos.

Potter desconhecia que o envolvimento dos dois continuava as escondidas, porque Ginny não dividiu este segredo com mais ninguém. Não tinha se arrependido de ter contado ao Harry no começo do ano letivo, mas sabia que poderia ter evitado muita confusão se não tivesse falado. Não cometeria o mesmo erro. Ficaria em silêncio. Não contaria nada sobre o que tinha ocorrido momentos antes. Jamais saberiam que Malfoy tinha agredido um companheiro de casa para salvá-la.

Foi com esse pensamento na cabeça que Ginny se encontrou com Draco naquela tarde, à margem do lago, que estava congelado. Ele já estava lá quando a ruiva chegou. Sentado na mesma pedra, sério como sempre, e parecia não ter notado que ela havia chegado, mas era apenas uma impressão.

“Atrasada de novo”, falou, sem olhar para ela. Olhando os primeiros flocos de neve do dia.

“Desculpe. Realmente não tive motivos para o atraso”, mentiu. Viera andando cautelosamente pelos corredores, com medo de ser atacada de novo.

“Sobre o que aconteceu hoje de manhã...”

“Obrigada”, falou sorrindo. Interrompendo o loiro.

“Obrigada?” ele virou-se para ela, sem entender.

“Se não fosse você ele teria me matado, Malfoy”, Ginny se aproximou. Estava muito frio, mas um encontro dentro do castelo, naqueles dias sem aula, com os alunos indo e vindo nos corredores, era muito mais perigoso.

“Esquece isso. Ele nunca mais vai importunar você. Prometo. Se ele o fizer, eu o mato”.

“Por que você sempre acha que vai resolver seus problemas matando as pessoas?”, ela perguntou quando já não havia distância entre os dois. Ela acariciou a face de Draco, mas apesar de tocá-lo, não pode sentir a sua pele fria, castigada pelo vento gélido, pois suas luvas não permitiam que sentisse a maciez do rosto dele.

“Por que está me perguntando isso?” ele a segurou pela cintura.

“Porque desde que começamos a nos encontrar, até antes mesmo de você descobrir que a tal garota e Ginny Weasley eram a mesma pessoa, você me ameaçou de morte pelo menos umas dez vezes”, ele sorriu. Era um sorriso espontâneo. Ele realmente achava aquilo engraçado.

“Sério?”, perguntou ainda sorrindo.

“Teria mesmo coragem de me matar?”, perguntou séria, encarando os olhos cinzentos.

O garoto ficou em silêncio. Não queria responder aquilo, porque, se mentisse ela provavelmente ficaria triste, mas se falasse a verdade...

“A essa altura do campeonato, Weasley...”, ele começou. “Eu acho que não conseguiria nem pensar em viver sem você”. O esforço que ele fazia para falar era tão grande que a garota notou que mesmo com aquele frio todo, a face do rapaz estava corada. “Quanto mais pensar em te matar”.

Ela sorriu. Tinha valido a pena. Mesmo tendo passado por tudo o que passou desde que começou com aquela história de amor impossível, tendo sofrido e até apanhado, ter passado por tudo aquilo não era nada. Aquelas palavras eram o conforto que precisava e a última prova que necessitava, porque mesmo que não fosse amor o sentimento que ele possuía,

ela sabia que era importante para aquele slytherin.

Ginny sentiu uma mão de Malfoy, coberta por uma luva preta, tocar-lhe o rosto. Quase pode sentir as lágrimas vindo aos olhos. Não sabia o que estava acontecendo com ela, só que estava feliz como nunca. Alguma coisa dentro dela estava diferente e era uma alegria tão única que sentia vontade de gritar e sair pulando por todo o jardim. Mas decidiu ficar ali. Nos braços dele, onde ele podia alcançá-la, onde ele podia beijá-la.

E foi exatamente isso o que Draco fez. A neve caía, mas eles não sentiam frio. O vento gélido balançava-lhes os cabelos e cortava a face, mas isso não importava. Já tinham um ao outro, não precisavam do resto do mundo, mas deixar de prestar atenção no mundo fez com que nenhum dos dois conseguisse perceber naquele momento alguém os observava. Draco teria notado, com certeza, porém estava tão envolvido que não sentiu nenhuma presença, além da de Ginny. Esse foi o seu segundo erro, no mesmo dia.

Não aconteceU nenhum ataque naquele dia de Natal. Mesmo já tendo enfeitiçado muitos alunos e ensinado as maldições proibidas, os três não entraram em ação. Rookwood não agiria sozinho. Se fosse pego, não queria ser o único expulso, então resolveu ficar quieto. Zabini sumira depois de uma passada rápida na Ala Hospitalar e Malfoy também havia desaparecido por toda a tarde e boa parte da noite. O slytherin só chegou ao dormitório quando passava das duas da madrugada.

No dia seguinte, enquanto conversava com Rookwood sobre uma possível data para por seu plano em prática, Malfoy foi interrompido pelo professor de Poções, que acabava de entrar na Sala Comunal.

“Sr. Malfoy”

“Sim, professor Snape?”

“Seu pai”.

“O que tem ele?”

“Está aguardando o senhor em minha sala”.

Draco não sentiu mais seu estômago. Parecia que tinha ficado completamente oco. Seu pai? O que ele pretendia em Hogwarts? Lucius nunca ia até a escola por banalidades, por isso não acreditava que ele estivesse ali só por que o plano ainda não tinha sido executado. Ficou intrigado.

Levantou-se e foi até o professor de Poções. Na saída da Sala Comunal e encontrou Blaise, que o olhava com extremo desprezo. Claro que estava com raiva. Malfoy se pegou pensando que também estaria morrendo de ódio se tivesse sido atingido covardemente por um de seus companheiros. Andou através dos corredores frios das masmorras até chegar à sala de Snape. Estava muito mais frio naquela manhã. Não sabia se estava nevando, mas o frio era maior do que quando estava a beira daquele lago congelado, ao lado da Weasley.

O professor abriu a porta e fez um gesto para que o rapaz entrasse. O Lucius Malfoy já aguardava, parado de pé, de costas para a porta. Snape a fechou, deixando os dois a sós. Draco olhava o pai. Já estavam quase da mesma altura, o que não diminuía a imponência dele sobre o garoto. O rapaz sempre se sentia diminuído ao lado dele.

“Pai, o que...”

“A conversa que eu vim ter com você é muito séria, Draco”, ele interrompeu. “Necessito que me respondas algumas perguntas”.

“Claro”, assentiu, sentando-se em uma cadeira em frente à mesa de Snape.

“Por que não deixou que Zabini completasse a missão dele?”

“Que?”, Draco não entendia. Quando é que tinha impedido o Blaise de completar... Não. Não podia. Ou podia? Não, claro que não podia. Ele havia lido a missão de Blaise! Era apenas matar trouxas e... “Impedi? Eu não impedi o Blaise de matar trouxa algum”.

“A missão dele não era matar trouxas, Draco”, Lucius falava baixo.

“Não?”, perguntou, inquieto. “ Então o que era?”

“Cometi um leve engano. Enviei a carta de Rookwood para Zabini e a de Zabini para Rookwood, mas concertei o erro no mesmo dia”.

Então o que eu li foi a missão de Rookwood...”, Draco pensou. “Agora me lembro de Blaise dizendo que sua missão era segredo, mas que...

“Qual era a missão?”, perguntou o garoto.

“Aniquilar a família Weasley, visando desestruturar a base aliada de Harry Potter”.

“Os Weasley?”, o garoto levantou-se. Um sorriso se formou nos lábios de Lucius.

“Sim, Draco. Por que a surpresa?”, perguntou parecendo já saber a resposta.

Draco ficou quieto por dois segundos, mas esse mínimo tempo foi suficiente para seu pai ter certeza.

“Mas apenas dois dos Weasley continuam aqui! Por que perder tempo com eles?”

“E por que não matá-los? Como falei, isso enfraqueceria o Potter. Os que estão fora desta escola também serão bem tratados”.

Draco ficou mais tempo calado agora. Tinha certeza que já havia deixado transparecer alguma coisa ao pai. Certeza. Precisava contornar o jogo.

“Não sabia que era a missão dele”.

“Mas isso não justifica você ter salvado aquela ruiva”, rebateu, rispidamente.

“Eu não a salvei!”, gritou em resposta.

“Não foi o que Blaise me contou”, Lucius falou, sua voz soando venenosa. “O que está acontecendo, Draco? Tem algo que você deseja me contar?”

A última coisa que o rapaz pensaria em falar era sobre o seu relacionamento com a Weasley. O que diria agora? Não poderia pensar muito.

“Por que ele e não eu?”, perguntou de improviso.

“O que? Explique-se”.

“Por que essa missão ficou a cargo do Blaise, quando deveria ser minha?”, perguntou, sem olhar para o pai.

O sorriso do senhor Malfoy se alargou. A conversa estava tomando o rumo que ele havia planejado.

“Talvez”, começou com um tom de voz calmo. “Porque você não fosse capaz de lidar com eles. Não com o mais velho. Ele eu sei que você mataria, mas não acreditei que tivesse coragem de matar a caçula”.

“E por que não seria?”

“Talvez”, continuou. “Pelo fato de você estar envolvido com ela. Talvez...”, ele se apoiou nas costas da cadeira e falou ao ouvido do garoto. “Seja por você ter sujado o nome de sua família ao ter se apaixonado por ela”.

Como ele sabia? Era um segredo só dos dois! Nem o Potter acreditava mais que os dois estivessem juntos e a Granger estava sob a maldição Imperius. Seu pai só podia estar jogando com ele. Só podia ser um jogo. Uma armadilha. Draco decidiu que não cairia nela.

“Eu não tenho nada com aquela fedelha, pai. Fico revoltado pelo fato de não ter depositado confiança em mim para matá-los”, falou olhando para o pai, que agora estava do lado da mesa do professor.

“É mesmo?”

“Sim. Como não sabia da missão de Blaise, fiquei irritado quando o vi atacando a Weasley. Não pensei duas vezes e o impossibilitei. O Potter e aquela corja são meus”, falou o mais firmemente que conseguiu.

Um sorriso se formou nos lábios de Lucius.

“É mesmo, Draco?”, perguntou em um tom calmo, mas que parecia feliz.

“Sim”, confirmou.

“Então que sua vontade seja feita”, disse com simplicidade.

“O que?”.

“A partir de hoje, a sua missão é acabar com a família Weasley. Se quiser se divertir mais pode acabar com os amiguinhos do Potter também, mas os Weasley primeiro. A garotinha, primeiro”.

“Mas...”

“E hoje! Você tem até o anoitecer para matar a caçula dessa família que desonra as demais de sangue puro”.

“Pai eu...”

“Se não fizer isso, Draco, serei obrigado a acreditar no que ouvi de Zabini. E eu confesso que não gostei nem um pouco”, ele se dirigiu à porta e a abriu. “Não precisa se preocupar em me avisar quando já tiver cumprido a sua parte. Estarei por perto. Voltarei no fim da tarde”.

Lucius saiu. Draco ficou sentado olhando para as prateleiras, cheias de vidros com os mais variados conteúdos, da sala do seu professor de Poções. Indiretamente tinha acabado de decretar a sentença de morte da Weasley e ele próprio seria o carrasco.

 


N/A.: Comentários são bem vindos, não demora nada e nem dói. Não se sitam obrigados a elogiar. Se não gostou, pode falar também, pois criticas construtivas também são muito bem vindas, mas se gostou de verdade por favor avise, comente.

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