Still raining



Still raining


Eles estavam ali há eternidades. Havia um mundo inteiro lá fora, e tudo o que importava era o edredom velho que os protegia do ar frio da noite londrina. Ela não tentava falar nada naqueles momentos, mas sempre acabava falhando na própria missão. Ela sentia essa necessidade de estar tão perto dele quanto possível. Sentiu-o se mover e virou o rosto apenas para observá-lo afastar o edredom, pegar um cigarro e um isqueiro na mesa de cabeceira e se dirigir à janela do pequeno apartamento.


Ele levou o cigarro aos lábios e tragou longamente. As brasas queimavam devagar, o movimento dos lábios dele eram quase hipnotizante. Ele virou as costas para ela, abriu mais a janela e se fechou naquele mundo que era só dele. Ela não queria isso. Rapidamente, levantou-se da cama, trazendo o edredom consigo, e se aproximou dele. Quando estava parada ao seu lado, com os pés diretamente sobre o piso frio, se sentiu mais distante dele que nunca antes. Silenciosamente, ele lhe ofereceu o cigarro. Ela aceitou e o levou aos lábios, tragando levemente, pensando que jamais teria a mesma desenvoltura. Chovia lá fora.


"Hoje é dia dos namorados. Sabia disso?"


Ele apenas acenou levemente, tomando novamente o cigarro de suas mãos. Com certo receio, ela se aproximou mais dele, ficando parada à sua frente. Era engraçado que quisesse chamar sua atenção, pois nem em seu campo de visão estava, sendo bem mais baixa que ele.


Ele tragou e exalou a fumaça, e ela não pôde deixar de comparar o silêncio tenso do quarto ao tempo chuvoso que fazia logo depois daquela janela. Sentindo o olhar dela, talvez, ele desviou o olhar dos prédios adiante para o rosto dela. Quando os orbes cinzas a fitaram com vinte sentimentos diferentes, a fumaça que se esvaía se fundiu ao cinza de seus olhos, e ela sentiu o coração falhar.


Sem nada dizer, ela apenas passou o edredom ao redor dele, encaixando-se em seu abraço, de modo que estavam, agora, os dois enrolados no edredom de frente a janela. Ela deixou o corpo recostar-se ao dele, sabendo que não cairia. E lá ficaram, sendo consumidos um pelo outro na mesma proporção que a fumava se esvaia no ar londrino.


Chovia lá fora, e tudo o que importava era o edredom que os protegia do resto do mundo.

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