In your sleep



In your sleep


1ª vez.
Ele abriu os olhos. Havia um buquê de flores murchas, um maço de cigarros e um isqueiro vermelho na mesa de cabeceira. Ela dormia com a cabeça apoiada em seu peito, sem medos, sem preocupações. O edredom mal cobria suas costas nuas. Ela tinha os cabelos espalhados por todo o seu peito e ele instintivamente começou a desfazer os nós. O relógio do outro lado do pequeno quarto mudou de 11h59 do dia 14 de fevereiro para 00h00min do dia 15. Arrumou o edredom sobre eles. Voltou a fechar os olhos.


2ª vez.
Ele não conseguia simplesmente dormir com ela ao seu lado. Era demais, era tudo intenso demais. Ele não conseguia ser como ela, ou ser o que ela queria que ele fosse. Não ainda. Fechou os olhos rapidamente, como se tentasse negar a si mesmo o quanto precisava vê-la, tê-la perto de si. Puxou o cobertor todo para si, como se isso fosse protegê-lo da intensidade dela.


3ª vez.
Ela se moveu em seu sono. Não para longe dele, apenas para uma posição mais confortável. Colocou uma das pernas entre as dele, uma das mãos sob a bochecha esquerda e voltou a respirar serenamente. Ele sentiu frio só de imaginar que ela fosse se afastar dele, e o alívio que sentiu quando constatou o contrário foi inédito. Ele sorriu.


4ª vez.
Ela estava tão em paz nos braços dele. Impossivelmente em paz. Vinha da confiança? Da fé que ela tinha nele? Fé era algo que nunca teve, mas ao lado ele quase voltava a acreditar. Ela era assim: o fazia querer mudar, para ela, com ela. O perfume dela embaixo das suas narinas – morango, baunilha e flor – era uma recompensa que ele nunca esperou ter, que não merecia, mas que o incentivava a mudar.


E ele finalmente sorri, arruma o edredom sobre os dois, fecha os olhos e não os volta a abrir naquela noite, com a certeza que ela o ama e, mesmo que não fizesse diferença ou fosse tarde demais, ele a amava também.

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