Traição



Capítulo 17. Traição


Às vezes parecia que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto,
Até chegar o dia em que tentamos ter demais,
Vendendo fácil o que não tinha preço.
- Andrea Doria, Renato Russo


"...Eu matei um homem hoje. Nunca tinha lançado um Avada Kedavra em um ser humano antes. Acho que só tive coragem porque achei que ia morrer. Falei o feitiço de olhos fechados e só percebi o que tinha feito quando o corpo caiu ao meu lado. Acho que nunca vou esquecer daqueles olhos arregalados, até a boca estava aberta, como se ele tivesse morrido antes de completar a expressão de surpresa.


Moody foi seriamente atingido por uma azaração bem no meio do rosto, acho que ele vai perder um olho e uma parte do nariz. Nunca tinha visto antes um ferimento assim, não consiguo acelerar a cicatrização com nenhum feitiço de cura, talvez só Dumbledore possa fazer alguma coisa, mas ele não está aqui.


Ouvi dizer que as coisas por aí não estão tranqüilas, mas devem estar bem melhores que aqui. Espero que pelo menos Hogwarts ainda esteja a salvo.


A boa notícia é que eu logo estarei de volta. Só tenho que fazer uma coisa antes de voltar, e sei que estou um pouco mais forte agora. Mas se eu voar para a Inglaterra você com certeza vai ficar brava,lembro que ficou falando horas nos meus ouvidos da última vez em que eu fiz uma viagem desse tipo de vassoura. Então, prometo ir sem voar.


Me espere, vou tentar estar de volta para o Dia das Bruxas.


Aine Bagman"


Lílian dobrou a carta da amiga que fizera ainda em Hogwarts, se sentindo subitamente pequena. Aine sempre fora uma menina frágil, sempre à sombra dela e de Marlene. Mesmo assim, ela estava lutando, combatendo gigantes e comensais aliados de Voldemort na França. Seria uma ironia, se não fosse trágico, que ela própria,que tinha se destacado espetacularmente no Clube de Duelos na escola, agora estivesse confinada, prisioneira da própria segurança.


Vários dos seus antigos colegas de escola estavam mortos. Quem imaginaria isso naquela época em que se reuniam no Três Vassouras para comemorar o fim dos exames? E, mesmo se soubessem, poderiam ter agido de maneira diferente? Poderiam ter mudado alguma coisa, ou teriam deixado que as mesmas coisas acontecessem?


Por que tudo tinha que acontecer assim? Por que não podiam ser jovens normais e viver, despreocupada e descompromissadamente, aquela que deveria ser a fase mais livre e esperançosa da vida?


Ninguém poderia saber ao certo. Ainda assim, a maior parte das pessoas que conhecia não temia lutar e arriscar a vida no campo de batalha, mas morrer sem ter feito nada. Ela também temia. Temia que tudo acabasse e só lhes restassem as lembranças alegres para lhe assombrar pelo resto da vida. Lílian tinha medo de sobreviver. Muito medo.


Ela desviou os olhos da carta e deu com Tiago sentado diante da cadeira alta de Harry, onde o bebê fazia sua tentativa de se alimentar por conta própria. Já espalhara o mingal do café da manhã por toda a mesa e agora se preocupava em sujar o pai. Tiago não ligava, apenas olhava para o filho repetindo sério e insistentemente:


- Papai... vamos, diga papai.


Ela sorriu com a cena e se aproximou, pronta para levar Harry para tomar banho. Nos últimos meses, ela vinha observando o filho crescendo e aprendendo em todas as direções, se tornando uma criança ativa, alegre, agitada e, muitas vezes, inoportuna - um mini-tormento encantador sempre fazendo travessuras pela casa e, ocasionalmente, afanando a varinha dela ou a de Tiago para executar suas primeiras experiâncias com magia (fazer flutuar móveis, explodir insetos e atirar coisas pelas janelas eram suas atividades favoritas atualmente).


Assim que o bebê a viu, arregalou o olhos verdes e agitou os bracinhos dizendo alegremente:


- Mamãe! Mamãe!


Tiago fez uma careta quanto Lílian ergueu Harry da cadeira, olhando para ela como se ela tivesse armado aquilo tudo.


- O que foi? Eu não tenho culpa se ele aprendeu a falar "mamãe" primeiro.


- Mamãe! - Harry fechou as mãos imundas de mingal nas mechas de Lílian e ela fez uma exclamação de desgosto. - O que você tem que adora puxar meu cabelo? - ela reclamou.


- É coisa de Potter - respondeu Tiago. - Essa atração inexplicável por cabelos ruivos - completou, abraçando a esposa (sujando-a de mingau) e roubando-lhe um beijo por cima dos cabelos bagunçados de Harry.


- Não! - ela tentou recuar, mas Tiago a prendeu. - Tiago, eu acabei de tomar banho.


- Ti... Tiago - fez Harry, puxando os óculos do pai e colocando-o na boca.


- Ei! Não me chame de Tiago, eu sou seu pai! - ele tirou Harry dos braços de Lílian e o sustentou diante de si fazendo cara de bravo.


Como resposta o bebê lhe atirou a colher (que tinha permanecido em sua mão) e estendeu os braços para a mãe, rindo.

oooo 


- Não espere conseguir muita coisa dele. Esse é o soldado de Dumbledore mais patético que já capturamos - a voz grave ecoou nas paredes, acima do som de três pares de saltos batendo continuamente contra a pedra úmida. Uma pequena tocha emitia luz bruxurelante, produzindo reflexos alaranjados nos cabelos platinados do bruxo que abria o cortejo. Seus olhos azuis aquosos se destacavam como lanternas na penumbra. - Ele vem nos fornecendo informações há cerca de um ano, mas agora receio que não esteja mais disposto a colaborar.


- E os Potter? - perguntou a esguia figura que ia ao lado do bruxo. Mesmo envolta em um véu preto que lhe cobria completamente o rosto, era possível lhe adivinhar as feições altivas pela maneira régia de andar, como se seus pés mal tocassem o chão sob a capa cinzenta.


- Nós ainda não os encontramos - respondeu. - Colocamos todos os comensais livres à procura deles, mas há rumores estranhos.


- Que tipo de rumores, Lúcio? - perguntou a mulher, fixando o bruxo. Lúcio olhou para ela desconfiado. Sentira no tom de voz da bruxa muito mais do que simples autoridade, mas também um feixe carregado de magia penetrando sua mente sob a forma de um formigamento estranho na parte de trás da cabeça.


- Não precisa usar sua Oclumência em mim, Belatrix, não tenho interesse nenhum em lhe esconder nada - falou Lúcio, carrancudo.


A mulher inclinou levemente a cabeça, mas não pareceu se abalar realmente. Virou a cabeça em direção ao terceiro bruxo do grupo, que apenas revirou os olhos com impaciência.


- Certo - falou. - Quais são os rumores a respeito dos Potter?


- Eles dizem - começou Lúcio - que se encontrarem a criança certamente acabarão mortos.


- Isso é coisa que aquele velho caduco inventou para intimidar vocês! - ralhou Belatrix. - Ou vocês ousam acreditar que Voldermot será vencido por dois bruxos fracotes e seu filhote sangue-ruim?


Nenhum dos dois se atreveu a responder, preferindo trocar olhares desconfiados, como se Bellatrix soubesse de algo que eles não sabiam.


Pararam defronte uma porta de metal corroído pela ferrugem. Lúcio Malfoy puxou uma fina corrente prateada de dentro das vestes, escolheu uma das várias chaves presas ao mesmo e a inseriu na fechadura. Uma série de trinques metálicos se seguiu, como as engenhocas de um boneco quando se dá corda, e a porta saltou para frente, um segundo antes de Lúcio pular para traz e evitar ser arremessado longe pelo peso do metal maciço.


- Pedigrew? - chamou - Tem alguém aqui que quer vê-lo.


Belatrix se precipitou cela a dentro, sua silhueta se projetando assustadoramente contra a luz que vinha do corredor. Ela puxou a varinha de um bolso lateral das vestes e jogou o véu para traz revelando os cabelos escuros em contraste com a pele clara e delicada do rosto de proporções harmônicas.


- Black? Você é Belatrix Black, não é? - perguntou o prisioneiro, espremido junto à parede.


- Perceptivo, você... - sibilou ela, sorrindo sinistramente. - Nosso Lord gostaria de saber algumas coisas sobre os Potter. Soubemos que você é próximo deles.


- Eu não vou falar! Não vou dizer mais nada a vocês! - guinchou Pedro, escondendo o rosto nas mãos numa tosca tentativa de evitar que ela invadisse sua mente.


- Ora, vamos, Pedigrew - continuou ela, aproximando-se com a varinha em punho. Sua voz era branda como quem tentava convencer uma criança, mas o brilho em seus olhos revelava que ela não queria realmente que ele falasse logo, ansiosa que estava para usar de um pouco de seu "poder de persuasão".


O terceiro bruxo do cortejo se precipitou pela porta e Belatrix o mirou decepcionada quando ele disse:


- Pelo menos uma decisão inteligente você tem que tomar na vida, Pedigrew. Quer morrer sendo esse bruxo medíocre, eternamente à sombra do Black e do Potter, sempre vendo os dois vencerem em tudo enquanto você tem que se esforçar tanto pra conseguir dois N.I.E.M.'s?


- Q-quem é você pra saber disso? - gaguejou Pedro, tirando as mãos do rosto e olhando para o bruxo. Contra a luz, foi capaz de distinguir um cabelo escorrido e sem brilho, feições carrancudas, a testa protuberante e o nariz torto, voltado para baixo como um gancho. - Seb... Snape?


- Não acredito que não sabia que eu era um comensal... - sibilou o bruxo ao perceber a expressão surpresa do prisioneiro. - Dumbledore certamente sabe. Não me diga que eles não te deixam nem mesmo escutar as conversas.


Pedro mirou Snape com uma raiva crescente. E não era por estar sendo tratado como um animal, preso em uma masmorra escura onde sua magia não funcionava. Não era por ter sido capturado por erro tão idiota que ninguém acreditaria se ele contasse. Tampouco era porque ninguém da Ordem se preocupara em resgatá-lo até agora.


Era, sim, porque o que Severo Snape estava dizendo era uma coisa que ele próprio já pensara diversas Tiago, Sírius e Remo nunca o trataram como igual. Mesmo quando provara que não era um idiota completo, conseguindo com muito esforço realizar sua transfiguração completa em rato, mesmo quando mostrara sua coragem se associando à Ordem da Fênix, mesmo se fosse forte agora e resistisse às torturas dos comensais para ser fiel aos seus amigos, ele sabia que nunca seria tratado como igual. Sempre seria o Pedro desajeitado, medíocre, incapaz de dar sequer um passo sem a ajuda dos amigos generosos e inteligentes.


- Bom, sendo assim tão inútil - resmungou Belatrix -, nem vou me dar ao trabalho de torturá-lo ou tentar invadir sua mente. Sugiro que o levemos para o ninho de basiliscos, McNair me contou que a primeira ninhada está prestes a nascer e vão precisar de carne fresca.


- Não! Eu sei que posso dizer alguma coisa, alguma coisa útil! - gritou Pedro.


- Como o quê? - perguntou a bruxa, estreitando perigosamente os olhos e ele soube que não havia mais como mudar de idéia. Acabara de dar a ela um bom motivo para torturá-lo e ela seria capaz de matá-lo para lhe arrancar algo, mesmo que ele não tivesse nada a contar.


Ainda assim, Pedro sabia que, se simplesmente abrisse o jogo, eles o matariam logo que tivessem o que queriam. Precisava ser útil vivo se quisesse escapar dali.


- O que eu ganharia se contasse a vocês?


- Você teria o privilégio de morrer de maneira instantânea e indolor - respondeu Belatrix, girando a varinha nos dedos.


- Acho que vou esperar por uma oferta melhor, então.


- Você VAI me dizer! Cru...


- Espere um minuto, Bella - Snape segurou o braço da bruxa no ar, um segundo antes de ela lançar a Maldição. - Posso? - ela o olhou com desagrado e puxou o braço, fazendo um sinal desdenhoso para que fizesse o que tinha que fazer de uma vez. Snape assentiu e encarou Pedro: - Você ficará vivo se nos der as informações. Melhor que isso, você ficará livre para vigiar os passos daquela Ordem patética por nós.


- Severo, você não pode estar querendo...


- Estou querendo isso sim, Bella.


- Mas ele é um verme! - bradou Bellatrix, revoltada. - Fale alguma coisa, Lúcio, você não pode estar compactuando com isso.


- Ele está certo. Precisamos de alguém bem infiltrado do lado de Dumbledore. Eu sei que temos os espiões, mas veja o caso dos Potter. Meses de buscas e ninguém tem nem uma única pista. Precisamos é de alguém da confiança deles, alguém que possamos controlar pela Marca Negra - falou Malfoy, esboçando um sorriso.


Bellatrix cruzou os braços e fechou a cara.


- Está bem - falou ela, contrariada. - Só não tente nos enganar. Saberemos de cada um dos seus passos até que Voldemort consiga o que quer.


Rabicho levantou a cabeça pela primeira vez, encarando seus carrascos nos olhos.


- Aceito.


Bellatrix desabotoou o primeiro botão da capa e seu pescoço ficou à mostra. Mesmo no escuro, Rabicho conseguiu divisar uma tatuagem junto ao ombro direito da bruxa, uma caveira verde-esmeralda de cuja boca escancarada saia uma cobra. Ela apontou a varinha para a caveira dizendo:


- Solicitamos Vossa presença, mestre, Lord Voldermot.

oooo 


Quando Tiago entrou no quarto para se deitar já passara da meia noite. Lílian dormia tranqüilamente com o braço passando por cima de Harry, que adormecera com o dedo na boca. Fora mais uma noite em que o menino resistira ao sono até a completa exaustão.


Tiago não mencionava isso à esposa, mas desconfiava que a agitação de Harry tinha um bocado a ver com a insegurança que ela vinha demonstrando ultimamente, sempre andando pelos cantos, mirando o vazio com os olhos desfocados por vários minutos, e lhe perguntando com insistência se ele realmente acreditava que o feitiço do Fidelius ia protegê-los.


- Nunca tive tanta certeza de nada em toda a minha vida - ele respondia, sempre sorrindo, mas seu sorriso nunca era correspondido.


Naquela noite, Tiago ficara tarde revendo antigos relatórios da Ordem e recebendo chamadas pela lareira a todo instante. Pra completar, Rabicho não se comunicava com ninguém há quase uma semana e, por mais que Sirius insistisse que o amigo tivesse apenas dormido demais ou esquecido como acionar a rede de Flú, para Tiago aquilo era algo para se preocupar. Afinal, ele já sabia há várias semanas que fariam o Feitiço do Fidelius e garantira que estaria presente.


O fato é que o plano de Sirius não poderia ser posto em prática se Pedro não fosse encontrado imediatamente. O prazo máximo para a realização do Feitiço era o Dia das Bruxas. Até lá tinham onze dias.


Foi quando Tiago ouviu um barulho, como o de alguém usando os nós dos dedos para bater numa vidraça. Já adivinhando o que era, apanhou um velho espelho de latão que estivera debaixo de algumas capas de viagem numa poltrona azul num canto do quarto. Em vez de sua própria imagem, viu a face de Sírius abrindo um sorriso.


- Eu o achei - falou Sírius. - Com certeza até dia trinta e um teremos tudo pronto.

oooo 


Remo se ergueu sobre os cotovelos e ficou mirando pela janela do quarto o céu talhado de núvens, manchadas de vermelho pelos raios do sol que nascia. Por um instante tivera a nítida certeza de que alguém estava deitado ao seu lado na cama de dossel, mas fora apenas mais um sonho.


Um sonho com aquela garota de cabelos cor de ébano.


Marlene sempre fora rápida em tudo. Nascera dois meses antes do que deveria, causando grande consternação na família McKinnon, sentimento esse que não durou quando ficou claro que a menina sobreviveria, apesar de tudo. Andara cedo e revelara seus dotes de magia muito precocemente, para grande alívio da avó, que temia que o fruto do amor proibido de sua filhapudesse se revelar um aborto.


Ela sempre gostava de surpreender, fazendo tudo à frente dos outros, mas Remo nunca tinha imaginado que ela morreria antes de ele tivesse tido a chance de pedi-la em casamento. Nunca sequer tinha tido medo disso. Mas, no fim, ela era apenas um ser humano e nada mais, não importava o quanto parecesse maior e mais forte que todos eles.


Fora difícil abrir os olhos no primeiro dia após a partida dela, assim como nos dias seguintes. Desde que Marlene havia ido embora, Remo sempre imaginava que quando acordasse ela estaria ao seu lado, como havia estado tantas já haviam se passado e a dor continuava lá, sendo dia após dia remoída com raiva.


Mas não era uma raiva imbecil. Remo não era de ter sentimentos cegos. Sua raiva era mais o desejo silencioso de que os culpados por aquela guerra idiota tivessem ficado satisfeitos, que estivessem aproveitando bem o sofrimento que estavam causando. Porque ele não descansaria até poder colocar as mãos em quem fizera aquilo com sua vida.


- Vamos, levanta que hoje você vai sair daí! - ele ainda podia ouvir a voz cândida de Marlene, como se o eco dela estivesse preso em seus ouvidos. Se fechasse os olhos, era capaz também de vê-la, com dezessete anos, abrindo as cortinas de sua cama na torre da Grinfinória sem nem se importar se ele estava ou não vestido.


- De jeito nenhum, eu não vou sair - ele se lembrava de ter respondido.


- Ah, vai sim. Tá na hora de você voltar a ser o velho Remo. Vamos, só uma volta na sala comunal não vai te matar! - ela insistia, colocando as mãos na cintura num gesto que a fazia parecer bem intimidante.


- Mas vai ficar todo mundo me olhando.


- E daí? Eles não sabem de nada, Dumbledore proibiu Snape de contar a quem quer que fosse. Vamos lá, você tem que comer um pouco - ela o puxava pelo braço, obrigando-o a ficar sentado na cama.


- Não estou com fome.


- Madame Ponfrey disse que você tem que se alimentar bem depois disso tudo. Vem comigo, vai, eu faço até aviãozinho se você quiser - e ele via o sorriso maravilhoso dela.


- Você é doida! - Remo ainda tentava parecer contrariado, mas não resistia, ela já tinha vencido e ele já estava de pé e pronto para descer. Ainda que tudo o que quisesse fosse dormir, dormir e só acordar pra comer quando já não agüentasse mais, dormir até esquecer que existia.


Talvez, se não fosse por ela, ele realmente teria feito isso naquele dia. E agora, mais do que nunca, ele queria poder mergulhar num sono anestesiante, um sonho em que pudesse reviver seus momentos felizes. Um sonho em que nenhum de seus amigos o tratava com desconfiança nem ele tinha motivo para desconfiar de nenhum deles.


Remo mirou mais uma vez as núvens, núvens que, ele sabia, encobriam uma lua que em poucos dias atingiria seu formato de plena esfera prateada no céu. O sol nascia, expulsando a escuridão da noite e tingindo as paredes brancas do quarto de alaranjado.


E ele não se sentiu bem com a sensação de mais um dia começando. Ultimamente os dias começando para ele eram apenas a constatação de que estava um dia mais distante de suas lembranças felizes. A palavra "triste" parecia soar ínfima se comparada ao que sentia por dentro.

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