Epílogo. Dias seguintes



Epílogo. Dias seguintes


"Só os mortos viram o fim da guerra."
- Platão


- Agora diga, seu rato desprezível! Diga por que fez aquilo! Eu não vou matá-lo sem antes ouvir da sua boca o que ganhou entregando seus melhores amigos àquele monstro.


Pedro girava os olhos alucinado. Só um beco. Fechado. Varais e mais varais cheios de roupas se estendiam acima, tampando a visão do céu. Sirius estava diante da única saída.


Idiota. Nunca fora bom em lembrar de caminhos. O mapa Maroto fora particularmente útil para o inútil Rabicho. O menos visível dos Marotos, o menos inteligente, o que tirava as menores notas. O que era menor em tudo. Unir-se às trevas não o deixara maior. Continuava sendo o pequeno rato.


Mas havia uma luz, a luz de sua liberdade vinha de um bueiro aos pés de Sirius. Pessoas enchiam a rua adiante – era hora de irem para o trabalho. Eram testemunhas, testemunhas trouxas que acreditavam piamente no que quer que viam - ou no que achavam que viam.


Se ele pudesse, se conseguisse distrair Sirius por tempo suficiente, se pudesse fazer com que os trouxas acreditassem que era Sirius quem estava sendo acuado... Ele podia tentar algo, aprendera muito com os comensais, mas nunca esquecera de suas traquinagens na escola. Da forma como Remo era especialista em usar de astúcia para virar uma acusação contra o acusador.


- Sirius! – gritou Pedro, deixando a voz transparecer o medo que sentia. Esse medo era bom para sua encenação. – Como você pôde, Sirius? Lílian e Tiago, você os matou!


As pessoas na rua começaram a parar para ver o que era a gritaria. Cabeças emergiram das janelas, pessoas espiando atrás de cortinas, senhoras comentando aos cochichos umas com as outras. E o espanto naqueles olhos duros e enérgicos de Sirius Black. Ele estava com os braços estendidos ao longo do corpo, completamente sem ação.


- Eu não posso acreditar, Sirius... Como você pôde?


Sirius de repente pareceu sair do estado de perplexidade e começou a rir. Aquela risada sinistra que em tudo lembrava o sadismo de sua prima, Bellatrix Lestrange. Pensar nisso fez Pedro quase desistir de tudo. Os Black's não eram o tipo de pessoa com quem se pudesse brincar e, ainda que Sirius há muito tivesse deixado a família, ainda havia muito de um Black nele.


- É, Pedro, acho que fui eu sim – falou Sirius, serenamente. – Eu matei Lílian e Tiago! Sabe por quê? Porque eu confiei em você! Eu confiei num rato desgraçado!


Sirius ergueu a varinha, mas Pedro já tinha a sua pronta, escondida às costas. Ele foi mais rápido que Black – ele vencera, pela primeira vez na vida, estava um passo à frente.


Sirius foi jogado de borco na calçada pela onda de choque e, quando abriu os olhos, teve tempo de ver apenas a ponta de um fino rabo de rato desaparecendo pelas grades de um bueiro. Ele segurou a cabeça dolorida com as duas mãos e soltou uma escandalosa gargalhada.


Um dedo envolto em vestes ensangüentadas. Rabicho realmente estava ficando mais esperto. O estreito beco estava todo destruído. O asfalto se desfizera um milhares de pedaços, deixando em seu lugar uma enorme cratera aberta, tão profunda que chegava até os encanamentos de esgoto da cidade. As paredes dos prédios que cercavam o beco ruíam em chamas. Pessoas gritando, corpos pendendo das janelas semi-destruídas dos apartamentos.


Rato. Era isso que um rato fazia: fugia.


E essa constatação fez com que Sirius risse ainda mais.


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- Como assim estão mortos? Sírius não fez o feitiço? - o corpo de Andrômeda Tonks se projetava para fora da lareira de pedra gasta da sala escura do apartamento de Remo Lupin. Sua expressão estava incrédula.


- Fez... Dumbledore me garantiu que fez - falou Remo, afundando na poltrona desbotada, fazendo ranger as molas enferrujadas e levantando uma nuvem de pó.


- Então como? - os olhos vibrantes da bruxa perscrutaram os dele.


- Sirius nos traiu.


A imagem de Andrômeda abaixou alguns centímetros na lareira e ela mirou Remo, entre perplexa e descrente.


- Não é possível! Sírius não faria isso, eu conheço meu primo, ele teria preferido morrer a fazer algo assim, você tem que dizer a eles, Remo, vocês são os melhores ami...


- Andrômeda, escute! - ele exclamou, infeliz. - Ele matou!


- Ele... matou? - repetiu a jovem, atônita.


- Sim, Sírius matou. Pedro o perseguiu, insano de desespero, deve ter achado que podia prender Sirius sozinho e se vingar. Sirius explodiu tudo, matou Pedro e mais doze trouxas. Fudge falou que ele está... demente... Foi preso essa tarde sem resistência, só ficava rindo como um doido no meio da rua destruída e dizendo que tinha matado Tiago e Lílian. Deve ter enlouquecido com a queda de Voldemort.


- Não fale esse nome! – protestou Andrômeda. – E Sírius nunca iria se aliar à gente como ele, você sabe muito bem disso.


- Não sei de nada... O irmão dele andou metido com Comensais, por que ele não?


- Porque Sírius é o exato oposto do que Régulo era! Raciocina um pouco, Remo, o que ele ganharia com isso? - suplicou Andrômeda, exasperada, balançando o rosto enfaticamente a cada palavra.


- Não me pergunte – Lupin desviou os olhos, mirando a parede amarelada.


- E a Marlene, Remo? Você conhece Sírius, você acha que ele seria capaz de se aliar às pessoas que foram responsáveis pela morte dela?


- Eu não sei... Ele gostava da Marlene, mas ela não queria nada com ele, e aquele atentado à família McKinnon foi todo muito estranho. Pode muito bem ter sido vingança, eu já disse que ele não está normal – retrucou Remo, sacudindo a cabeça.


- Você é que não está normal! Sírius NUNCA seria capaz...


- Você é que não quer ver, Andrômeda! - Lupin a interrompeu. - Não sou eu que estou dizendo, Sírius confessou!


- Mas ele é inocente, eu sei.


- Se ele é inocente, por que confessou?


- Sírius não é um assassino - concluiu Andrômeda, num suspiro, como se a conversa a fizesse perder o ar. - Remo, você... você não conhece Sírius como eu conheço, ele nunca se aliaria a Você-Sabe-Quem... e nunca entregaria Lílian e Tiago.


- Diga isso a Pedro e aos doze trouxas que ele matou! E ao Harry, como você acha que ele vai se sentir em saber que a pessoa em que seus pais mais confiavam foi o responsável pela morte deles?


Andrômeda suspirou mais uma vez, de olhos fechados, as narinas infladas e os lábios crispados de contrariedade.


- Com quem... com quem Harry vai ficar? Marlene está morta e Sírius...


- Está em Azkaban.


- Já? Você não disse que ele foi preso hoje à tarde, como pode já ter sido julgado?


- Não houve julgamento. Crouch o condenou sem julgamento, junto com mais dez comensais presos só hoje.


- Mas como...? - murmurou Andrômeda com um tom de pânico na voz. - Como alguém pode ir pra Azkaban sem julgamento?


- Sírius confessou, dezenas de pessoas o viram gritar que matou Lílian e Tiago, não tem como ninguém sensato acreditar que ele é inocente, Andy! E Dumbledore já cuidou de Harry. Foi morar com os tios trouxas.


- Espere um minuto, tios trouxas, você disse? Eu sempre soube que Dumbledore é meio desmiolado, mas... Harry com os trouxas, o que ele está pensando? Tem um monte de gente do nosso povo que ia receber Harry como se fosse um filho...


- Como se fosse um deus, você quer dizer, não é? - resmungou Remo. - Dumbledore está certo, está todo mundo maluco com essa história. Já pensou no que seria de uma criança que crescesse desse jeito?


Andrômeda abaixou a cabeça, fixando o olhar em algum ponto do chão empoeirado.


- Certo... Ted está chegando, vou ter que contar a ele... Nimphandora vai ficar muito triste... - e desapareceu nas chamas sem se despedir.


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- Londres, estação King Cross!


A jovem loira de cabelos cortados na altura do queixo desceu o pequeno lance de escadas que separava o vagão do piso da plataforma. Carregava consigo uma mala de couro marrom gasto e uma gaiola com uma coruja banca de igreja empoleirada. Era fim da tarde do dia primeiro de novembro de 1981.


Olhou ao redor procurando um rosto conhecido na plataforma alvoroçada, até encontrar um senhor muito velho, com barbas platinadas crescidas até a altura do cinto. Alvo Dumbledore. Sua presença ali era de alguma forma reconfortante e desesperadora ao mesmo tempo. Ela sentiu as lágrimas verterem por seu rosto rosado, com a constatação de que os boatos que ouvira no trem, afinal, eram verdadeiros.


Sem dizer nada, a garota, Aine Bagman, abraçou seu velho professor. Ele apenas ficou passando os dedos pelos cabelos crespos da jovem até que ela parou de soluçar e recuperou o fôlego.


- Eu... eu quase não consegui acreditar quando me disseram no trem... é tudo verdade? Sobre Lílian e Tiago terem...?


Dumbledore balançou a cabeça positivamente, os olhos azuis levemente embaçados por trás dos óculos de maia-lua.


- Mas Harry... Harry sobreviveu - ela soluçou novamente. - Como isso é possível?


- Bom, nem Voldemort pode pensar em tudo. Suponho que Lílian tenha conseguido pensar em algo que nem ele, nem nenhum de nós, pensou.


- Lily sempre conseguiu ser bastante criativa quando queria - suspirou Aine, os olhos azuis transbordando de lágrimas contidas.


- Sabe de uma coisa? Devíamos ir agora, tenho certeza que ainda tem muita gente levantando canecos por aí e seria uma pena nos privarmos desta excelente desculpa para tomar parte numa boa dose de bagunça - disse Dumbledore, tirando a mala e a gaiola das mãos de Aine e acomodando-as num carrinho de bagagens. - Diggle andou até fazendo suas cascatas brilhantes...


- Alguns de nós nunca vão aprender a ser discretos - murmurou a jovem, sorrindo levemente.


- É difícil pedir que sejam discretos quando finalmente os anos de trevas acabaram.


- Então o senhor acha que esse foi mesmo o fim?


- Provavelmente - falou o velho professor.


- Então ele... Voldemort realmente morreu? - perguntou Aine, tremendo um pouco ao pronunciar o nome do bruxo. - No sentido humano da palavra, eu digo - acrescentou.


- Presumo que nem mesmo eu possa responder a essa pergunta. Não sei o que vai acontecer daqui pra frente. Ou ele realmente morreu, no sentido humano da palavra, ou existirá ainda por um bom tempo de algum modo. Se isso realmente acontecer, temo que não existirão muitas coisas capazes de pará-lo.


- Então o sacrifício deles... o sacrifício de Lílian e Tiago terá sido em vão...


- De maneira nenhuma - discordou Dumbledore. - Não importa o que aconteça daqui pra frente, o sacrifício deles jamais terá sido em vão. Lílian Potter não apenas parou Riddle e salvou Harry, ela fez muito mais.


- Como assim, professor? - Aine fitou Dumbledore com os pequenos olhos claros.


- Lílian e Tiago Potter marcaram cada um de nós - falou, enquanto os dois andavam para fora da estação. - Se quer saber minha opinião pessoal, acredito que Voldemort voltará, e o exemplo deles continuará entre nós até o final.


Saíram na Londres ensolarada de outono, uma chuva fina banhando a cidade, trouxas e mais trouxas atulhando as ruas em direção às suas casas, as calçadas cobertas de folhas amareladas.


- Vou te deixar na casa dos Tonks e depois vou me encontrar com Hagrid - disse Dumbledore. - Temos o destino do pequeno Harry pra cuidar antes do fim desse dia... desse dia tão terrível e feliz ao mesmo tempo.


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Remo Lupin olhou para os caixões enquanto eram baixados lado a lado nas covas. Não era definitivamente um bom momento para lembranças, e ainda assim não havia como evitá-las. Sua visão estava turva de lágrimas, mas ele tentava se manter firme, mesmo que Aine Bagman, ao seu lado, não ajudasse muito, soluçando sem parar.


Mais adiante, ele podia ver Andrômeda com o marido. As pessoas mantinham uma distância do casal, lançando aos dois olhares hostis, como se eles fossem culpados por tudo. A pequena Nyphandora, com os cabelos transfigurados num cinzento sem graça, apertava um lenço com força no rosto vermelho.


Por todo o país, bruxos ainda festejavam a queda de Voldermot e levantavam brindes em homenagem ao bebê de olhos verdes e cabelos revoltos que agora era um pequeno herói para os bruxos de todo o mundo. Estavam transformando a história toda num mito, já tinha gente falando em criar um Dia Oficial de Harry Potter. Tudo parecia mais um carnaval, não, um circo dos horrores, e Lílian e Tiago, vítimas da tragédia, eram a atração principal.


Remo só podia imaginar como aquela criança iria encarar os acontecimentos que envolveram a morte dos pais, quando tivesse idade para refletir sobre o assunto. Porque ele sabia. Sabia que Harry era a vítima de tudo, não o herói trágico que as pessoas estavam querendo pintar. Era apenas uma criança, indefesa e órfã, vítima da maldade humana, condenado a imaginar como tudo poderia ter sido. Assim como todos os que restaram.


Não, definitivamente não havia motivos pra comemorar. Harry fora levado por Dumbledore para viver com os parentes trouxas, talvez só se desse conta do quanto se tornara importante no mundo bruxo quando recebesse a carta de Hogwarts. Porque é claro que ele receberia. E então veria o castelo de centenas de torres, o lago espelhado habitado pela lula gigante, o salão principal iluminado por milhares de velas flutuantes, os fantasmas perolados passeando pelos corredores escuros; aquele lugar que os fizera tão felizes apesar de tudo.


Ele se pegou lembrando do mapa que ele e os amigos haviam feito no terceiro ano. Perguntava-se se ele ainda estava guardado com Filch. Pensava se alguém algum dia se interessaria em saber quem eram Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas. De repente, aquele mapa parecia ser a única prova de que seus dias juntos em Hogwarts tinham realmente existido.


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O tempo passa. E isso foi o que Andrômeda Black Tonks reaprendeu naqueles dias. O tempo passou e o choque foi diminuindo. Num piscar de olhos já fazia quase dois meses da noite fatídica do Dia das Bruxas e a prisão de Sírius já se transformara numa espécie de lenda insana.


Alguns ainda tentaram fazer algo pelo suposto traidor, mandado para Azkaban sem direito a nem mesmo um julgamento, mas todas as evidências - o Feitiço Fedelius, o assassinato de Pedro Pedigrew, a explosão na rua trouxa - depunham contra ele. Nem Remo Lupin, reconhecidamente um de seus melhores amigos desde os tempos da escola, acreditava na possibilidade de Black ser inocente. Andrômeda acreditava. Mas as pessoas sempre tinham dito que ela era ingênua. Que fosse. Mas não conseguia imaginar Sirius fazendo aquilo.


Em questão de semanas todo o torpor de terror em que viveram o mundo mágico nos últimos onze anos, havia se dissipado como névoa, os seguidores de Voldemort debandaram, o Ministério da Magia estava se recompondo e há pouco iniciara uma severa perseguição aos comensais.


Não demorou muito para que a morte dos Potter e a queda de Voldemort virasse assunto usual de conversas. A história fora tantas vezes recontada e enfeitada em tantos pontos que já havia que acreditasse que o bebê Harry Potter, atualmente de paradeiro desconhecido, tinha poderes fora do comum. Diziam que era um herói, um milagre e coisas do gênero.


Muitos realmente acreditavam que o bruxo das trevas se fora, que estava definitivamente derrotado e acabado. Outros insistiam que ele voltaria a se erguer. Dezenas de començais foram interrogados e diversos de seus quartéis generais foram vasculhados. Era quase certo que Voldermot tomara providências para se proteger da morte humana, o que fazia muito sentido levando-se em conta que era um dos maiores bruxos das trevas que já existira.


Por um bom tempo, ninguém se preocuparia muito com isso. Harry estava protegido pela magia de Lílian e sempre se podia contar com Dumbledore e mais algumas dezenas de velhos amigos dos Potter para vigiá-lo. Não que isso fosse realmente necessário, o garoto estava eternamente protegido contra a maioria dos tipos de magia negra. Estava impregnado da potente magia antiga, nem mesmo Voldermot em seus dias de auge poderia contornar algo assim. Ou pelo menos era o que supunham.


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Aine resolveu voltar para casa uma semana antes do natal, apesar da insistência dos Tonks para que permanecesse com eles por mais tempo. Andrômeda acabou entendendo que a amiga precisava fazer aquilo.


Aine ainda estava fraca com tudo que acontecera. Sua vida parecia ter entrado num turbilhão e, no momento, precisava desesperadamente de um pouco de paz para recolocar tudo em ordem.


As duas desaparataram no apartamento de Aine, de mãos dadas. Era cedo ainda e a sala estava cheia de fachos de luz branca que atravessavam as cortinas. Os móveis ainda estavam cobertos com lençóis brancos, exatamente como tinham sido deixados meses antes, quando Aine partira para a França. A poeira acumulada no chão era suficiente pra que seus passos deixassem pegadas quando Andrômeda caminhou para uma poltrona, onde desabou pesadamente.


Aine a seguiu, se sentando na mesinha de centro, o olhar perdido nas paredes vazias. Com a mão trêmula, puxou o lençol que cobria o aparador, descobrindo uma boa quantidade de porta-retratos. As duas amigas desviaram os olhares dos rostos sorridentes que acenavam daquelas molduras douradas.


- Talvez Dumbledore tenha tomado a decisão certa no final das contas – murmurou Aine, se erguendo da mesa e cuidando da tarefa de puxar todos os lençóis de cima dos móveis. – Talvez Harry fique melhor com os trouxas...


Mais e mais, retratos emergiam, empoeirados, sobre os móveis. Não eram tantos assim, mas, por algum motivo, pareciam não acabar nunca. Andrômeda abaixou a cabeça e fungou alto. Ali estavam todos os seus amigos, muitos deixados para trás em todos aqueles anos de guerra. Lílian sorria de um deles usando os óculos de Tiago, enquanto o próprio a erguia no ar num um rodopio. No porta-retratos logo ao lado, uma Lílian de treze anos sacudia a franja comprida para longe dos olhos ao mesmo tempo em que lançava um olhar mal-humorado a Tiago, que entrava na fotografia de surpresa e a puxara para uma pose juntos.


Ali estavam também Remo, adoentado como sempre, Pedro, com a boca estufada, cheia de bolos de caldeirão, Sirius, revirando os olhos maliciosamente para Marlene, que sacudia ameaçadoramente o bastão de batedor. Mais adiante, havia Marlene com o pequeno Harry no colo, o bebê lhe agarrando os cabelos compridos muito escuros da madrinha enquanto ela tentava manter um sorriso amarelo.


Andrômeda voltou a si com a sensação de um peso caindo sobre seus ombros. Aine tinha se agarrado ao seu pescoço, como tantas vezes fizera em Hogwarts. Andrômeda a abraçou de volta, ainda que tivesse a nítida sensação de que o abraço parecia fraco. Faltava algo. Faltavam duas pessoas nele.


Lílian Evans, Marlene MacKinnon, Andrômeda Black e Aine Bagman. Montadas na moto gigante de Sirius, fazendo poses engraçadas para a pessoa que as fotografava. Lily soprou um beijo no ar. Era pra Tiago. Mas Andrômeda e Aine sentiram como se fosse para elas. Da moldura ao lado, Harry Potter sorria, mostrando quatro pequenos dentes brancos. Os olhos verdes de Lily. Os cabelos bagunçados de Tiago.


- Ele vai ficar bem, não vai, Andy? – murmurou Aine, baixinho.


- Ele tem sorte – foi a resposta de Andy.


Subitamente, uma forte rajada de vento fez as janelas abrirem com estrondo e as cortinas esvoaçaram, fazendo entrar na casa um perfume de lírios. Aine e Andrômeda se sobressaltaram. Era como se Lílian estivesse aparecendo diante delas. Puderam sentir a presença da amiga, com aquele olhar profundo e inteligente, aquela atitude mandona e o sorriso cativante e (por que não?) teimoso, que só ela podia dar.


Aine sorriu pela primeira vez desde que voltara à Inglaterra:


- Lily vai cuidar dele.


E, embora ainda estivessem completamente engolfadas pela dor mais profunda que já tinham sentido em suas vidas, Aine Bagman e Andrômeda Tonks souberam, naquele momento, que essa esperança seria capaz de iluminar seus espíritos e que, de algum modo, sobreviveriam.


Fim.

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