Os suspeitos



CAPÍTULO 8 - Os suspeitos

Depois de alguns minutos, os quatro saíram da sala e, com passos apressados, correram até o grupo de alunos. Hagrid comandava o grupo, já que segurava o corpo sem vida de Crabbe. Os passos do gigante eram difíceis de acompanhar. Enquanto Hagrid andava, os outros tinham que correr.
Logo chegaram na ala hospitalar. Madame Pomfrey, que estava organizando uns frascos de medicamentos no armário, levou um susto quando todos apareceram. Olhou para todos e depois viu o corpo de Crabbe.
-Ah, já posso imaginar – disse ela, indo até Hagrid. – Um dia isso iria acontecer. Eu falei que esse garoto ia passar mal de tanto comer! Demorou, mas aconteceu.
-Ele não passou mal, Madame Pomfrey – falou Hagrid, com a voz trêmula. – Olhe bem para ele.
Madame Pomfrey baixou os olhos para o menino. Levou as mãos à boca, tamanho foi o susto ao encarar o corpo inerte de Crabbe, pálido, com os olhos fechados, mergulhado num sono do qual jamais acordaria.
-Minha nossa! Meu Deus! – exclamava a enfermeira. – Um assassinato em Hogwarts! Minha nossa! Ah, que tragédia! Por favor, Hagrid, coloque o corpo do pobrezinho aqui nessa cama.
Hagrid colocou cuidadosamente o corpo de Crabbe na cama indicada. Rapidamente, os alunos fizeram um círculo ao redor.
Madame Pomfrey passou mais uma vez a mão na testa, que começara a pingar de suor devido ao nervosismo, e olhou para cada um dos alunos:
-Se fosse em outras condições, diria que estão atrapalhando. Porém, preciso do relato detalhado de quais foram as reações que esse menino teve antes de morrer e porque acreditam que ele foi assassinado. Quem poderia me explicar?
Hagrid adiantou-se e falou:
-Creio que os jovens Malfoy e Wallace poderão nos contar melhor. Eles eram amigos do garoto e estavam com ele, durante a maior parte do tempo, inclusive quando ele começou a passar mal.
Madame Pomfrey virou-se para Draco e Kevin.
-Bem, então... Quero que me expliquem como tudo começou.
Após um ou dois minutos de silêncio, com Draco e Kevin se entreolhando, como se não soubessem como começar, a enfermeira se irritou, batendo fortemente as mãos na cintura.
-Por favor, comecem logo! Nunca imaginei que a lerdeza de você, Draco, era tão grande assim. Já é um paspalho quando se machuca, pois faz um escarcéu danado! Quando eu preciso de sua ajuda, nem sabe o que dizer. Você, garoto, nem conheço, mas parece que tem as mesmas qualidades do seu amigo!
Os rostos pálidos de Draco e Kevin adquiriram uma forte tonalidade de vermelho. Kevin, passando impaciente as mãos pelos cabelos negros, começou a relatar como tudo aconteceu:
-A verdade é que não vimos quase nada. Num instante, Crabbe estava ao nosso lado, e, em outro, começou a empalidecer e levar a mão à garganta, como se estivesse se sentindo muito mal. Até brincamos com ele, dizendo que estava ruim depois de tanto tomar suco, e...
-Então ele caiu no chão, morto.
-Isso mesmo – murmurou Draco, abismado pelo fato de que Madame Pomfrey havia completado a frase inacabada. – Porém, antes disso, ele deu um grito e derrubou o copo de suco no chão. Foi com o grito e com o barulho dos cacos se espatifando que todos os outros olharam em nossa direção.
-Um grito... É, é isso mesmo – falou Madame Pomfrey, para si mesma.
-Então a senhora já sabe do que Crabbe morreu? – perguntou Hagrid.
-Se, como o garoto branquelo disse – começou a enfermeira, fazendo Kevin ruborizar ainda mais – que o falecido segurava um copo de suco antes de morrer, ele realmente foi assassinado por envenenamento.
-Oh, minha nossa! – exclamou Hagrid, levando as mãos à boca. – Veneno!
-Sim, Hagrid, veneno. E é um dos mais potentes que existe. Atende pelo nome de cianureto, ou ácido cianídrico. O cianureto é tão potente que causa a morte da pessoa poucos segundos depois de ser ingerido.
Todos ficaram chocados. Hermione adiantou-se.
-A Profa. Sprout nunca comentou nada, mas, por acaso, o cianureto é proveniente de alguma planta?
-Não – respondeu Madame Pomfrey, prontamente. – Aliás, por isso mesmo, não consigo imaginar onde esse bruxo cruel que matou o garoto conseguiu obter o veneno.
-Se ele foi capaz de driblar as diversas pessoas que estavam naquela sala e jogar veneno no copo de suco sem ser visto, é capaz de fazer qualquer coisa, sem sombra de dúvida – comentou a Profa. Jane.
Um silêncio assombroso tomou conta da enfermaria novamente.
-Agora, é melhor vocês irem para suas casas – recomendou Hagrid. – Lá estarão em segurança.
Os alunos começaram a sair da enfermaria. Draco e Kevin deram um último olhar para Crabbe e depois saíram.
No mesmo corredor da enfermaria, Hermione soltou um cochicho a Harry e Rony, desacreditando nas palavras de Hagrid:
-Pra mim, nenhum lugar é seguro o bastante para barrar esse maluco. Nenhum.
Uma corrente de ar frio veio ao encontro dos três, causando um intenso calafrio, que era um misto do frio e do medo que tomava conta de cada um.

* * *

Aquecida pelas labaredas ardentes da lareira do salão comunal da Grifinória, Úrsula não sentia frio. Porém, o frio que possuía em seu coração e em sua alma era demasiado intenso.
Caminhava de um lado para o outro, impaciente. Seu grande amor, Rony Weasley, ainda não aparecera. Além disso, estava com a curiosidade a mil para saber porque alguns alunos foram chamados pelo diretor. Essa resposta, infelizmente, não seria obtida através do ruivo que abrasava seu coração. Draco responderia prontamente o que quer que perguntasse.
A lembrança de Draco fez com que recordasse do plano maquiavélico. Com seu olhar bondoso, verificou todos os cantos da sala comunal, até avistar Gina Weasley. Com os cabelos dourados balançando de um lado para o outro, foi ao encontro da menina, que fazia algumas lições, sentada numa mesa em um canto.
Úrsula sentou-se ao lado da menina e, quando Gina levantou os olhos, deu de cara com o rosto mais amigável que já tinha visto.
-Como vai, Gina? – perguntou Úrsula, docemente.
-Vou bem. Claro, sempre existem alguns problemas, mas...
-Ah, eu compreendo muito bem quais são os seus problemas. É tudo por causa do Harry, não é?
Gina suspirou. Hesitou por alguns instantes, pensando bem se devia se abrir com uma garota que nem conhecia direito. Mas Úrsula era simpática, e tinha cara de ser uma pessoa fiel aos segredos dos outros.
-É, Úrsula, é por causa dele. Tento esquece-lo, namoro outros garotos, mas... ele não sai da minha mente.
-Eu compreendo... Também já sofri por amor.
-É mesmo? – perguntou Gina.
-É. Acho que todo mundo sofre por amor, ao menos uma vez na vida. O meu caso, como o seu, foi um amor que não era correspondido. Mas eu não fiquei me lamentando por muito tempo. Ele não gostava de mim, então parti para outra.
-Sério?
-Sério. Não podia ficar perdendo meu tempo por alguém que não gostava de mim. A vida é curta. Aí, tinha um menino loiro, o Luck, que gostava de mim, e eu não perdi tempo: fui para os braços dele. E começamos a namorar. Foi muito bom.
-E você nem sentia saudades do outro?
-Não. O Luck era quem me amava. Eu só tinha olhos para ele. Por isso, Gina, eu também espero que você encontre alguém que goste de você. O Harry e você formariam um belo casal, mas... Você é tão meiga, tão simpática, que merecia alguém que te amasse de verdade.
Gina sorriu.
-Obrigado pelo conselho, Úrsula. E eu não sou tão meiga nem tão simpática quanto você. Aliás, ninguém dessa escola é.
-Imagine. Eu só quero o bem das pessoas. Bom, até mais.
Úrsula voltou para o lugar onde estava, próximo à lareira. Olhando para a lareira, seus olhos chamuscavam, refletindo as labaredas, que crepitavam violentamente.
-Tolinha – murmurou baixinho para si mesma. – Vai cair que nem um patinho nas garras do Malfoy. Idiota!
Naquele instante, os alunos da Grifinória, que haviam sido chamados pelo diretor, entravam na sala comunal. Com um discreto olhar de raiva e furor, Úrsula olhava para sua grande rival, Hermione Granger. E, em sussurros igualmente discretos e praticamente inaudíveis para qualquer pessoa da sala comunal, murmurou, com rancor:
-Você também vai cair em garras, só que nas minhas, sua imbecil. Fica arrastando as asas para o meu amor. Você não perde por esperar.

* * *

Harry, Rony e Hermione, após terem dispensado os curiosos colegas, que queriam saber o motivo do chamado, subiram a escada em caracol. Como ainda era demasiado cedo e todos os garotos ainda estavam circulando pelo salão comunal, os três resolveram conversar no dormitório dos meninos.
Harry suspirou ao entrar no quarto.
-É muito estranho entrar aqui de novo – disse ele. – Não tenho boas recordações depois que quase fui assassinado.
Rony e Hermione sentaram-se na cama de Harry. O garoto sentou-se em frente aos amigos e começou a falar com, para enorme surpresa, um ligeiro sorriso transpassado nos lábios.
-O assassino deu um passo em falso – disse, com um tom de triunfo na voz.
Rony e Mione se entreolharam.
-Desculpe, Harry – começou Hermione – mas... Não compreendo.
-Como pode considerar o assassinato de Crabbe um passo em falso? – indagou Rony.
-Deixe-me explicar – falou Harry. – Lembram-se de que, antes do jantar, eu lhes avisei que dependendo da forma com que Michael Evans agisse, nós não precisaríamos mais desconfiar de todo mundo?
Subitamente, Hermione sorriu.
-Ah, mas é claro! Harry, agora ficou tudo mais fácil!
-Nem tanto, Hermione. Ainda temos uma longa lista pela frente.
Rony encarava os dois.
-Será que ninguém pode me explicar direitinho essa história? Por que, até agora, não entendi nada do que vocês estão querendo dizer.
-Rony – pôs-se Harry a explicar – antes desse atentado contra o Crabbe tínhamos que desconfiar de todo mundo. Porém, Crabbe foi assassinado numa sala com um grupo limitado de pessoas. Quem o envenenou só podia estar naquele lugar. Logo, o assassino é uma das pessoas que estavam no local do crime.
Rony pareceu levar alguns instantes para digerir a informação, mas logo, assim como os outros, também abriu um enorme sorriso.
-Estão vendo? Qualquer pessoa lá dentro, exceto nós três e o Professor Dumbledore, claro, pode ser o assassino de Crabbe.
-Mas... – advertiu Hermione. – Todas as pessoas foram chamadas para aquela sala por causa da lista enviada pelo próprio assassino. Então...
-O assassino colocou o nome dele no nome da lista das vítimas... Exatamente, Mione! – exclamou Harry, eufórico. – Colocando o próprio nome entre as possíveis vítimas, provavelmente pensava ficar livre de qualquer suspeita. No entanto, cometeu esse equívoco desastroso, que provocou o contrário.
-Mas é meio estranho – murmurou Rony, confuso. – Se matando alguém ele estaria demonstrando que era um dos nomes que estava na lista, por que mataria então?
-Não se esqueçam de que Michael Evans era jovem quando teve a alma aprisionada naquele amuleto. Lembram da conversa que eu ouvi no vestiário, depois da morte do Professor Snape? Quem falava com ele era o Michael Evans, e ele usava a própria voz, pois tenho certeza de nunca tê-la ouvido aqui em Hogwarts. E era voz de adolescente, jovem. Isso nos leva a acreditar que, por estar trancafiado no amuleto, Evans não envelheceu.
-E o que isso tem a ver com a minha pergunta? – perguntou Rony, de sobrancelhas franzidas.
-Um jovem pode cometer erros absurdos, pois não tem experiência de vida. Nós mesmos, quantas vezes não fazemos bobagens, por sermos inexperientes? Michael, apesar de ter a mente fria, ainda é jovem. Imaturo. Por isso, cometeu esse grave erro. Quero dizer, grave erro para ele, por que para nós, só vai fazer bem.
-Bom, agora que temos os nossos suspeitos... o que iremos fazer? – indagou Hermione, ansiosa.
-A lista – respondeu Harry, encaminhando-se até um pedaço de pergaminho largado na mesa-de-cabeceira. – Rony, vê se meu tinteiro está aí embaixo da cama. Ah, e minha pena também.
Rony abaixou-se e encontrou o vidro de tinta e a pena. Harry soprou o pó, apoiou o pergaminho na cama, molhou a pena no tinteiro e começou a escrever, mirado pelos aguçados olhares de Rony e Hermione.

“SUSPEITOS”:

Kevin Wallace
Gina Weasley
Cho Chang
Christian Baker
James Smith
Charles Sheppard
Jennifer Yumi
Laurie Sawyer
Profa. Jane
Dino Thomas
Rúbeo Hagrid
Draco Malfoy
Padma Patil
Parvati Patil

-Isso não é nada bom... – murmurou Rony, balançando levemente a cabeça.
Harry e Hermione o fitaram, incrédulos pela afirmação.
-Uma Weasley na lista de suspeitos... Será que não podemos tirar o nome de Gina? Vocês a conhecem, não existem motivos para desconfiar dela, e...
-Rony, relaxe – acalmou-o Harry. – Infelizmente, temos que desconfiar de todos. Lembre-se de quem está controlando a pessoa é Michael Evans. Por isso, qualquer um da nossa lista pode ser ele.
-A reputação da minha família vai por água abaixo...
-Fique calmo! Ninguém saberá dessa nossa lista de suspeitos. Muito menos o Evans. Se o Michael descobre que já estamos trilhando o caminho até ele... Estamos perdidos! Por isso, o melhor é ficarmos quietos e só tocarmos nesse assunto entre nós. Não contem nada pra ninguém, principalmente para algum dos nomes que estão nessa lista.
-Então, agora que já temos a lista dos nomes... Qual será o próximo passo? – perguntou Hermione.
-O próximo passo é estudarmos as possibilidades. Quais eram as possibilidades de cada uma das pessoas que estão na lista de terem se aproximado do copo de suco e jogado o veneno?
Pensaram por alguns segundos.
-Acho que todos tiveram uma chance – opinou Hermione. – Que eu saiba, todos se aproximaram da mesa em algum instante.
-Será que não há pelo menos um que não tenha chegado perto? – raciocinava Harry, esperançoso.
-Receio que não – declarou Rony. – Não poderemos eliminar ninguém da lista de suspeitos.
-Droga! – exclamou Harry. – Mas haverá outra oportunidade. Pena que, para essa oportunidade acontecer, um novo assassinato deverá ocorrer.
-Tomara que não seja nenhum de nós três – murmurou Rony, apavorado, suando frio.
-Quem pode garantir? – falou Harry nervosamente. – Nosso nome está naquela lista. Eu já escapei uma vez, mas ele deixou bem claro que não vai desistir. Qualquer um da lista pode ser a próxima vítima de Michael Evans. Não sabemos qual a ordem que ele está seguindo.
-E, mesmo se soubéssemos, no seu caso não adiantaria muito, Harry – disse Hermione.
-Por que?
-Você está fora das regras que o Michael segue, Harry – continuou a garota. – Não haverá ordem para você morrer. Você era para ter sido a terceira vítima, depois da Pansy e do Snape. Como sobreviveu, ele pulou você e foi para a que seria a quarta, ou seja, o Crabbe. Michael escreveu na lista que sua morte seria um enigma ainda maior e que isso ocorreria com qualquer sobrevivente. Ou seja, ele não dará pistas de como quem sobreviver irá morrer, e nem seguirá a ordem que ele estabeleceu. No caso dos sobreviventes, as regras serão cortadas.
Harry balançou a cabeça, em sinal de compreensão. No entanto, ao invés de falar alguma coisa, havia fixado o olhar ao longe. Parecia estar envolto em pensamentos. Finalmente pareceu sair do transe, e estalou fortemente os dedos.
-Essa história de regras me fez pensar em algo...
-No que, Harry? – perguntou Rony, com olhar desconfiado.
-Se, entre as regras estabelecidas por Michael, todas as vítimas devem receber um enigma sobre sua morte, onde estarão os de Pansy e do Professor Snape?
-Boa pergunta, Harry, mas... Onde está querendo chegar?
-É simples, Hermione. Muito simples. Quem sobrevive não recebe enigma de como será a próxima tentativa do assassino. Isso faz parte do jogo macabro do Michael. Se Pansy ou o Professor Snape tivessem recebido algum bilhete ameaçador, com certeza mostrariam ao Professor Dumbledore, com medo. Se eles não demonstraram nenhuma reação, é porque...
-Eram sobreviventes!
-Isso mesmo!
-Mas o Michael saiu do amuleto na noite do Dia das Bruxas, a Marca Negra nos demonstra isso. E Pansy foi assassinada naquela noite. Não havia como ela ser sobrevivente, muito menos o Snape, que, se tivesse sido ameaçado, teria alertado o diretor.
-Isso que me intriga, Hermione – falou Harry. – Como eles poderiam ser sobreviventes se morreram poucas horas depois de Michael ser libertado?
-Essa história está ficando cada vez mais complicada... – murmurou Rony, bocejando. – Melhor irmos dormir e deixar isso pra lá, pelo menos por hoje. Parece que cada vez que a gente avança, mais volta pra trás.
-Essa é a mesma impressão que eu tenho – disse Hermione, olhando vagamente para o céu estrelado que cintilava do lado de fora da janela do dormitório.

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