O fim



CAPÍTULO 43 - O fim


Michael olhou ameaçador diretamente para Harry. O garoto entendeu que ele estava destinado a ser a primeira vítima.


                Com o rosto contorcido pela maldade, Michael levantou o enorme machado, em posição de ataque. E sorriu. Um sorriso enviesado, um sorriso maldoso, provocativo, mostrando para Harry a sua felicidade.


                E o garoto sabia que Michael tinha razões de sobra para tamanha felicidade. Estava dentro dos seus territórios, um lugar conhecido somente por Voldemort e pelos Comensais, um lugar onde ninguém apareceria para ajudá-los, pois ninguém que quisesse fazer algo assim conhecia aquele lugar.


                E, mesmo que aparecesse alguém, dificilmente chegaria com vida até eles. Havia os monstros, os heliopatas, as árvores que se transformavam, e todo o tipo de ilusão que aquele lugar maldito era capaz de criar.


                Todos estavam incapacitados pela dor. Harry viu, através daquele machado, o seu fim.


                Dali a poucos segundos estaria morto. A lâmina ameaçadora iria descer a qualquer momento, decepar alguma parte do seu corpo, jorrando o sangue.


                Foi aí que a voz de Kevin Wallace, ainda forçada, soou no mausoléu.


                -Eu peguei algo numa sala anterior a essa – murmurou ele. – Em cima de uma almofada vermelha.


                Quando as palavras “almofada vermelha” soaram no ouvido de Michael Evans, Harry reparou o impacto surpreendente que causaram no assassino. Os olhos ameaçadores transformaram-se em olhos de pânico, arregalados. A boca, antes contorcida em um sorriso, agora se contorcia num esgar de surpresa.


                Harry lembrou-se da sala em que havia passado, fugindo do monstro. Havia uma almofada vermelha sobre um pilar, no meio da sala, mas ele nem deu atenção. O que haveria em cima daquela almofada?


                As mãos de Michael sobre o machado vacilaram. Ele virou os olhos lentamente para Kevin, e Harry o acompanhou. Quando olhou para as mãos de Kevin, entendeu.


                Kevin segurava, por cima da manga das vestes, um objeto circular, de bronze, que tinha ao centro a figura assustadora de um crânio com uma língua de serpente.


                O amuleto da maldição de Michael.


                Por um momento, a esperança pairou no peito de Harry. Ali estava o amuleto. Se o destruíssem, tudo acabaria. E poderiam destruí-lo, afinal, Kevin conseguia tocá-lo, somente quem conseguisse tocá-lo poderia destruí-lo, alguém com o coração maligno...


                Mas essa esperança passou rapidamente, quando sua mente o cutucou, dizendo para que prestasse mais atenção. Kevin estava com o amuleto sim, mas este não tocava sua pele. Ele o segurava por cima do pano das vestes. Ou seja, deve ter levado um choque quando tentou pegá-lo. E depois o apanhou com as vestes por cima.


                O fio de esperança quebrou-se.


                Michael pareceu ter pensado a mesma coisa de início. Que Kevin conseguira tocar no amuleto sem se ferir. Mas pareceu aliviado ao ver que não havia contato com a pele do garoto, e que ele tremia ligeiramente, como se tivesse receio de tocá-lo. Michael sentiu-se triunfante ao perceber que Kevin não podia tocar no amuleto, o que significava que não podia quebrá-lo.


                Ele gargalhou.


                -Como você é ridículo, Kevin Wallace – debochou Michael. – Não adianta ficar segurando o amuleto. Ele não terá utilidade em suas mãos. Você não pode tocá-lo.


                E riu mais e mais. Hary olhou dele para Kevin, que tinha uma expressão aturdida. Ele levantou o amuleto, com a mão ainda envolta nas vestes, e arremessou-o para Draco.


                -Talvez eu não possa, mas Draco sim.


                Harry viu o objeto voando até Draco. Michael nem deu atenção. Estava sossegado, como se tivesse a mais absoluta certeza de que todos ali levariam choque ao tocar no amuleto.


                Harry teve uma pontade de esperança ao ver o objeto voando até Malfoy. O garoto já aprontara poucas e boas, e ele não estranharia se o contato com o objeto maligno não fosse nocivo à pele dele.


                Mas foi.


                No instante em que Draco o apanhou, ele o jogou longe. Draco caiu no chão novamente, balançando as mãos e gritando de dor. Parecia até que fora atingido novamente pela Maldição Cruciatus.


                Harry suspirou. Ali, naquele mausoléu, a única pessoa que não tinha um caráter totalmente íntegro era Draco. Se ele não podia tocar no amuleto, ninguém ali poderia.


                -A maldição sobre objeto é algo realmente muito habilidoso – falou Michael, após a sessão de gargalhadas triunfais. – Nenhum de vocês poderá quebrar o amuleto. Ninguém possui um coração maligno, muito menos o ódio complementar que necessita para quebrá-lo. As únicas chances de vocês eram Kevin e Draco, mas vejo que os sonserinos estão muito dóceis ultimamente. E, mesmo se não estivessem, estão se borrando de medo, morrendo de medo, que o amuleto não iria sequer arranhar-se.


                E riu novamente, ampliando as gargalhadas em ecos estrondosos.


                -Somente eu sou realmente mal aqui dentro... E, posso lhes garantir, não tenho a mínima vontade de quebrar o meu amuleto.


                Naquele momento, Úrsula acordou. Rony virou os olhos para a garota. Ela forçou um pouco a vista, esfregou os olhos. Olhou ao redor, confusa. Lentamente, ergueu o corpo, esfregando mais e mais os olhos, e indireitou-se. Olhou para todo o mausoléu, para as pessoas que a cercavam.


                Todos perceberam que a garota levantara. Michael deu de ombros, ignorando-a, assim como os outros, que grudaram novamente os olhos no louco homicida, que já ajeitava o machado novamente.


                Todos a ignoraram. Menos Rony.


                Uma idéia magnífica tomou conta da mente do garoto. Uma idéia espetacular, brilhante. Mas que necessitava de muito cuidado. Se Michael percebesse...


                Rony olhou de esguelha para o assassino. Ele continuava zombando de Harry, brandindo ameaças, e ajeitando o machado. Completamente distraído.


                Discretamente, Rony olhou para baixo e mirou o amuleto, que estava jogado próximo aos seus pés. Mesmo após a queda, o amuleto estava intacto. Ele ajeitou o pé e chutou-o na direção de Úrsula. O amuleto parou próximo a garota, que o mirou, curiosa, e depois olhou para Rony.


                Úrsula sorriu, apaixonada, olhando para seu grande amor.


                -O que é isso, querido?


                Para pavor de Rony, Úrsula perguntou em voz alta, chamando a atenção de todos, inclusive Michael. O assassino vacilou no olhar, pressentindo o que Rony pretendia fazer. Harry e Hermione também compreenderam o plano de Rony.


                Michael abaixou o machado e puxou a varinha do bolso. Apontou-a diretamente para Rony, que arregalou os olhos.


                -Boa tentativa, Weasley. Mas receio ter que interrompê-la.


                Porém, antes que brandisse o feitiço sobre Rony, Harry tomou coragem e avançou sobre ele. Foi uma idéia maluca, mas Harry percebeu que não podia mais seguir à razão. Era desespero puro. Ele via na idéia de Rony a única chance de saírem vivos dali, a única chance de restaurar a paz, a única chance de acabar com Michael Evans e impedir que ele retomasse seu corpo.


                Harry conseguiu derrubar Michael no chão. Não foi difícil, afinal, ele ocupava o corpo de Christian Baker, que tinha mais ou menos as mesmas medidas de Harry. Com a queda, a varinha escapou dos dedos de Michael. O machado, porém, continuou seguro em suas mãos.


                Rony engoliu em seco. Olhou para Mione, que lhe piscou um olho. Tudo dependia dele agora.


                -Úrsula – começou ele, pensando em alguma coisa para dizer, mas tinha que ser rápido, Harry lutava com o assassino, o assassino ainda tinha o machado, oh, ele vai tentar matar Harry, precisava ser rápido, Úrsula o olhava, apaixonada. – Eu... Eu decidi que quero ficar com você.


                Úrsula suspirou.


                -O problema é que...


                (preciso incluir esse amuleto nessa história...)


                eu descobri uma artimanha horrível de Hermione – ele fingiu um olhar de fúria para a amiga. – Ela... ela... Assim como você fez com a Poção do Amor...


                Rony olhou desesperado para Harry e Michael. Michael tentava de todas as formas levantar o machado e acertar Harry, que estava pendurado em suas costas, com os braços em volta de seu pescoço. Draco e Kevin, receosos, foram até lá ajudar.


                -Ela tentou – recomeçou Rony – prender o meu amor somente para ela... E... Conseguiu! Realmente conseguiu...


                Draco e Kevin tentavam, desesperadamente, tirar o machado das mãos de Michael, mas a força dele era muito grande. Os dedos pareciam estar colados ao cabo.


                -Ela usou magia poderosa e lançou uma... uma... Maldição do Amor, é, isso, uma Maldição do Amor dentro desse amuleto, esse amuleto que está aí no chão.


                Os olhos enlouquecidos de Úrsula fitaram novamente o objeto. Ela o examinou, depois olhou novamente para Rony.


                -Você está enganado, querido. Esse amuleto é o que libertou Michael Evans.


                Rony engoliu em seco novamente. Úrsula havia percebido. Ele olhou novamente para Hermione, desesperado, à procura de ajuda. Mione resolveu colaborar e, fingindo desespero, gritou:


                -É, REALMENTE, ESSE É O AMULETO DA MALDIÇÃO DE MICHAEL, NÃO ACREDITE NELE, ÚRSULA.


                Rony entendeu a jogada e olhou para Úrsula.


                -Está vendo? Ela não quer que você o destrua. Esse amuleto parece ser o de Michael Evans, mas é o que ela prendeu o meu coração para amar somente ela.


                Úrsula hesitou por um momento, mas, em sua profunda loucura, abaixou-se lentamente, estendendo a mão para o amuleto.


                -NÃO FAÇA ISSO, EU NÃO PRENDI O AMOR DE RONY AÍ.


                O efeito que eles esperavam. Úrsula soltou uma risada gélida, e olhou ameaçadora para Hermione.


                -Finalmente, Rony será meu. Minhas tentativas não fracassaram. Você já era, Granger.


                E ela pegou o amuleto. Normalmente, como se segurasse qualquer coisa. Sem efeito algum. Sem nenhum choque, sem nada, apenas o olhar de ódio que não saiu de Hermione.


                Rony lançou um olhar para a briga no chão. Michael, que estava distraído, arregalou os olhos ao ver que Úrsula apanhara o amuleto.


                -SUA IDIOTA, NÃO ACREDITE – mas não conseguiu terminar a frase, pois levou um soco de Kevin.


                -NÃO FAÇA ISSO, ÚRSULA, RONY É MEU, TEM QUE SER MEU – berrava Hermione, sobrepondo-se aos gritos de Michael e tentando criar o mais profundo ódio em Úrsula.


                E estava conseguindo. Com as pupilas dilatadas, Úrsula a fitava. Ela levantou a mão, pronta para arremessar o amuleto no chão.


                -SUA VACA IMUNDA – berrou Hermione. – NÃO DESTRUA ESSE AMULETO, SENÃO RONY NÃO IRÁ MAIS ME QUERER.


                -É ISSO O QUE EU MAIS QUERO – vociferou Úrsula de volta. – EU VOU DESTRUIR ESSA PORCARIA E O AMOR DE RONY POR VOCÊ TAMBÉM!


                Michael conseguiu se libertar dos garotos. Os olhos de Rony se arregalaram. Harry, Kevin e Draco pularam em cima do assassino, tentando evitar que ele avançasse. Mas Michael estava com o machado seguro em suas mãos, e ameaçou-os com um movimento da arma, fazendo com que o trio recuasse.


                E avançou. O nariz ensangüentado, o rosto lívido de pânico. Hermione aumentou o escândalo, precisava agir rapidamente, ou ele tomaria o amuleto das mãos de Úrsula.


                E a garota fez o que considerou a última chance.


                Hermione fingiu que ia avançar para evitar a destruição. Ela e Michael, avançando para Úrsula, mas, em sua loucura, a garota considerou Hermione mais perigosa, pondo o amor por Rony acima de tudo.


Úrsula não perdeu tempo e gritou:


                -AGORA, ELE NÃO IRÁ GOSTAR MAIS DE VOCÊ, HERMIONE.


                Com fúria, com uma fúria enorme, ela jogou o amuleto no chão.


                Pareceu que descia lentamente. Toda a balbúrdia cessou. Os olhos de cada um acompanharam a descida do objeto de bronze, a trajetória de encontro ao solo...


                -NÃO – berrou Michael.


                O ódio de Úrsula realmente estava fulminante.


                Pois o amuleto encontrou o solo e se espatifou em pedaços.


Os cacos de bronze voaram por todos os lados.


Uma forte luz prateada irradiou-se do corpo de Christian Baker no mesmo momento em que o amuleto se partiu. Uma alma, sim, uma alma prateada, a alma de Michael, pairou sobre o corpo, berrando, se debatendo...


E explodiu.


Explodiu em pedaços de luz prateada, assim como os cacos do amuleto.


E os fiapinhos desapareceram com o vento.


Era o fim da maldição de Michael Evans.


 


* * *


 


                Um silêncio seguiu-se ao barulho dos cacos e aos gritos da alma de Michael Evans. Um silêncio que tranqüilizou a alma de todos, que pareceu tirar um peso da alma de cada um.


                O bastão com o crânio na ponta começou a brilhar em seguida, atraindo novamente a atenção de todos. Pelos olhos do crânio, a alma prateada da Sra. Hubbard saiu, voando em direção à porta, indo embora, acompanhando o movimento do vento. Harry supôs que estivesse indo de encontro ao próprio corpo, que estaria em algum lugar...


                Úrsula, apesar de toda a sua loucura, percebeu que a mãe havia alcançado a liberdade e sorriu.


                -Finalmente, mamãe... Livre... Papai ficará tão contente – murmurou ela, que levantou os olhos para Rony em seguida. – Por que você me enganou, meu amor? Por que mentiu, dizendo que aquele não era o amuleto da maldição de Michael?


                Rony olhou indeciso para os amigos. Depois olhou novamente para a garota, que cobrava uma resposta. Torceu os dedos, pensando em alguma coisa convincente para dizer.


                -Foi bom, por um lado, o que você fez. Mamãe não merecia mais ficar ali. Obrigado, meu amor. No mundo todo só você e ela importam para mim. Papai, nem tanto... Mas ele me ajudou também. O problema será convencê-lo de manter seus parentes no emprego. Terei que mentir, mais ainda não sei como. Como convencê-lo de que Voldemort ainda ordenou a contratação dos Weasley?


                -Como é que é? – indagou Rony, com a testa franzida. – Quer dizer que, para empregar meu pai e meus irmãos, você disse para o seu pai que era uma ordem de Voldemort?


                -Sim – falou Úrsula, entusiasmada, batendo palminhas. – Viu o que eu sou capaz de fazer por você? Ele acreditou, é claro, achou que era necessária a contratação para manter a alma de minha mãe segura, ele estranhou de ínicio, é claro, mas eu disse que Voldemort precisava dos Weasley por perto, para vigiá-los.


                Rony estava abobalhado. A loucura de Úrsula não tinha limites.


                -Agora ficaremos juntos para sempre – ela aproximou-se dele e tocou-lhe o rosto. Rony a olhava com uma expressão enojada, mas ela parecia nem perceber. – Você não liga mais pra ela mesmo – e olhou com desdém para Mione. – Agora somos eu e você.


                Sem perder tempo, Úrsula colou os lábios nos de Rony.


                Experimentou aquela sensação que tanto imaginou como seria... A sua boca, que fora reservada para a daquele garoto, finalmente a encontrava. Grudavam-se, esfregavam-se, lábio com lábio, uma sensação maravilhosa, Úrsula nunca imaginara que fosse tão intensa...


                Seu Rony estava ali, rosto colado contra o seu, selando o encontro dos lábios, se existiam almas gêmeas, aqueles eram lábios gêmeos, ela tinha certeza, pois a sensação era muito intensa...


                Não durou mais do que três segundos, mas para Úrsula, o breve momento tornou-se imenso, um momento de sonho.


                -NÃO – vociferou Rony, empurrando-a.


                Úrsula não compreendeu. Rony atravessou o mausoléu e foi até Hermione, a grande rival de Úrsula.


                Ele passou um braço sobre o ombro de Mione, e os dois ficaram juntinhos, olhando para a garota.


                -Meu grande amor é a Mione.


                Aquelas palavras causaram um efeito devastador em Úrsula, tanto que fez com que Rony se arrependesse logo depois de tê-las dito. Lágrimas surgiram nos olhos da garota, que expressava uma revolta sem tamanho.


                -Então aquela história de amuleto com a “Maldição do Amor” era uma mentira? – perguntou ela. – RESPONDAM!


                Todos estavam mudos, de olhos arregalados.


                -Tudo para que eu quebrasse aquela porcaria de amuleto! – berrou ela. – RONY, VOCÊ ME ENGANOU!!


                Hermione colava-se mais ao garoto, como se pedisse proteção. Harry, vendo o estado dos dois, tentou ajudar, apaziguar a situação.


                -Úrsula, tenha calma – pediu.


                A garota virou a cabeça rapidamente para ele. A onda dourada de cabelos pareceu flutuar com o movimento. E aqueles olhos grudaram-se em Harry.


                -NÃO ME PEÇA CALMA, POTTER – vociferou ela. – E nem pense em me julgar, pois saiba que a sua namoradinha anda fazendo coisas muito piores quando você não está perto dela.


                Harry olhou para Gina. A namorada mexeu-se inquietamente ante o seu olhar.


                -Pois saiba que ela anda traindo você! E sabe com quem? Com Draco Malfoy!


                Harry olhou novamente para Gina. Ela fitava o chão. Depois olhou para Draco, que tinha o olhar postado em algum ponto da parede. Mas ele não podia acreditar em Úrsula. Ela armara tanto para afastar Rony e Hermione... Por que acreditaria numa coisa que ela dissesse? Se tudo o que saía daquela boca era uma armação?


                Decidido, ele olhou para a garota.


                -Por que acreditaria nisso? Não tente me enganar. Eu sei que é mentira!


                Para surpresa do garoto, o sorriso da garota não desapareceu, como ocorreu todas as vezes que alguma armação dela era descoberta. Não. Ele continuou cruel, branco, brilhante, mas decididamente cruel.


                -É a mais absoluta verdade. Mas, se você não confia em mim, saiba que houve outra testemunha dessa traição que ocorreu aqui, nesse templo. Uma testemunha que estava em minhas mãos naquele momento – Harry olhou para Mione, que estava cabisbaixa – mas que agora não está mais, portanto tem opinião livre. Pergunte para ela se estou mentindo.


                -Hermione – começou Harry. A amiga levantou os olhos, que, para surpresa de Harry, estavam úmidos. – É verdade o que a Úrsula está dizendo?


                Mione mordeu o lábio.


                -VAMOS, HERMIONE! RESPONDA! – berrou Úrsula. – DIGA O QUE VOCÊ VIU! VOCÊ NÃO É TODA CERTINHA? DONA DA VERDADE? POIS ENTÃO DIGA O QUE VOCÊ VIU!


 


* * *


 


Duas lágrimas rolaram pelo rosto de Hermione, que olhou para Gina, tão nervosa quanto ela. Depois, olhou para Harry. Os olhos verdes do amigo clamavam pela verdade. Ela não conseguiria mentir diante do olhar decidido do amigo, que confiava tanto nela.


                -DIGA A VERDADE! – insistiu Úrsula. – SEJA LEAL À SUA AMIZADE. DIGA A TRAIÇÃO QUE VOCÊ PRESENCIOU.


                Hermione suspirou. E confirmou:


                -É verdade.


                Harry passou a mão sobre os cabelos, inconformado. Enquanto estava desnorteado, enquanto sua mente tentava assimilar que aquela traição realmente ocorreu, as palavras gélidas de Úrsula, provocativas, ecoavam em seus ouvidos.


                -Ela traiu você, Harry Potter, e com quem? Draco Malfoy, seu rival de longa data! E foi um grande beijo, um beijo, digamos, apaixonado, dado com vontade. Com sofreguidão... Apaixonado... Draco e Gina, Gina e Draco...


                Ela riu. Gina chorava em seu canto, assim como Hermione. Draco mantinha-se sério, e Harry sentia um vazio por dentro, uma tristeza misturada com decepção.


                -Está vendo, Harry? – novamente a voz perturbadora, a voz de Úrsula Hubbard. – Existem pessoas capazes de coisas piores do que eu por amor. E havia uma pessoa dessas bem do seu lado.


                Finalmente ele olhou para Gina. Lágrimas se formavam em seus olhos.


                -Por que você fez isso comigo? Estávamos começando tão bem. Tão felizes. Por que, Gina?


                -Perdão – pediu a garota com a voz fraca, sufocada pelas lágrimas.


                -Não. Não vai dar. É o fim, Gina. Isso passou dos limites do aceitável. Draco Malfoy... Eu pensei que você o tinha esquecido!


                -Foi um deslize – murmurou ela.


                -Não quero saber – interrompeu Harry inconformado. – É o fim, Gina. O fim do nosso namoro. Acabou.


                Úrsula observou satisfeita o efeito que ela esperava para sua artimanha.


                -Não espere o mesmo de nós dois, Úrsula – desafiou Rony, nervoso pela atitude maligna da garota. – Eu nunca mais quero saber de você. E, nós dois, você não conseguirá separar. Nada conseguirá separar eu e a Hermione.


                Úrsula sorriu e respondeu, lenta e friamente:


                -A não ser a morte.


 


* * *


 


                Todos se assustaram ao ouvirem as palavras da garota. Palavras pronunciadas em um claro sinal de ameaça. Hermione e Rony estremeceram.


                -Úrsula – começou Rony, engolindo em seco, arrependido de a ter provocado. – Não faça uma besteira... Pense bem...


                -Pensar bem? – perguntou a jovem transtornada. – Eu andei pensando bem por muito tempo, pensando em novas e novas artimanhas para separá-los. E nada adiantou. Você não consegue esquece-la de jeito nenhum! Nem me amar! Qual a única maneira? Qual é? Claro que é a morte. A morte, que separa os casais. Só com a Hermione a sete palmos debaixo da terra para separar vocês dois!


                -Úrsula, isso é loucura – tentou alertar Rony, tarde demais.


                A garota avançara na direção de Hermione como um touro enraivecido. Esticou os braços e apertou os ombros de Hermione com furor, empurrando a garota impotente de encontro com a parede. A cabeça de Mione chocou-se com força, e a garota sentiu uma grande dor espalhando-se pelo crânio.


                -SINTA A DOR... SINTA! – berrou Úrsula. Mione tentava desvencilhar-se, mas a força de Úrsula era impressionante. Novamente o crânio de Hermione chocou-se com a parede. Ela sentiu-se entontecer.


Cerrou os olhos e percebeu que o impacto só não foi maior pela chegada dos amigos, que tentavam conter Úrsula, segurando os braços dela.


-Solte-a, pare com isso – pediu Rony, puxando o braço da louca.


-Úrsula, isso é loucura – disse Harry, ajudando Rony. – Kevin, Draco, venham aqui ajudar também, ou ela vai matar a Mione!


A dupla aproximou-se, fazendo força no mesmo braço que Harry e Rony. Úrsula segurava a cabeça de Hermione pelos lados, firmemente a prendendo pelos cabelos. Um novo movimento estava a caminho, mas, por mais furiosa que estivesse, não pôde com a força dos quatro rapazes.


Eles retiraram uma das mãos, que já ia retornar para a cabeça de Mione, mas foi contida por Kevin. Os outros três cuidaram de soltar a outra mão. Novamente, a força de Úrsula não foi párea. Finalmente eles conseguiram segurar as mãos da garota, afastando-a de Hermione, que estava ofegante, encostada na parede.


Rony foi até a namorada, preocupado.


-Você está bem?


-Um pouco zonza... e minha cabeça está dolorida... Mas vai passar, poderia ter sido pior... Obrigada.


-Fiquei tão preocupado – disse Rony, enlaçando a garota num abraço carinhoso.


Novamente, a ação que Rony tomou foi um erro. Aquilo recarregou o ódio de Úrsula, que estava imobilizada por Harry, Draco e Kevin. Com um chute para trás, ela levou a nocaute o imobilizador às suas costas, atingindo o baixo ventre. Era Kevin Wallace, que logo caiu de dor. Harry e Rony seguraram mais firmemente os braços dela. Porém, rapidamente, Úrsula provou que duas pessoas realmente não conseguiam conte-la, desvencilhou-se dos dois, e foi novamente em direção ao casal assustado, embora seus olhos fulminassem apenas Hermione, novamente como um touro, como se Hermione fosse um lenço vermelho.


Rony colocou-se à frente de Mione, para defende-la.


-Você não tocará nela, Úrsula – vociferou ele. – Só passando por cima de mim.


-Desculpe, querido, mas é isso que eu terei que fazer – ela socou o rosto de Rony e depois o empurrou com força para o lado, limpando o caminho até a sua rival.


Os olhos das duas encontraram-se. Mione gelou. Podia sentir as faíscas de ódio indo até os olhos dela. Mione olhou discretamente por trás de Úrsula, vendo que Harry, Kevin e Draco vinham em sua direção, ajudar. Estaria salva.


Como ela supôs, Úrsula a segurou pelos cabelos. Mas enganou-se ao esperar uma nova tentativa de mata-la batendo o seu crânio contra a parede. Úrsula simplesmente segurou firme em seus cabelos e começou a andar bem rápido.


O corpo de Hermione foi obrigado a acompanhar. O corpo deslizou pela parede e acompanhou a jovem enraivecida. A dor nos cabelos era enorme. Lágrimas de dor escaparam pelos olhos de Hermione, que via os amigos aproximando-se, enquanto deslizava pelo chão de pedra.


Úrsula parecia não ligar para nada do que estava acontecendo. Apenas caminhava com Hermione. As duas fizeram a curva para passarem pela porta. Úrsula virou com tudo para o lado oposto no lado de fora, e a cabeça de Hermione chocou-se furiosamente contra a lateral da porta.


Ela sentiu o nariz arder e um jorro de sangue começar a escorrer. Seu corpo ficara preso, e Úrsula continuava investindo, como se tentasse avançar.


-Que droga – reclamou ela, vendo que Hermione ficara presa.


A cada vez que tentava avançar, a cabeça de Mione chocava-se contra a lateral. O sangue já se espalhava pelo rosto, e ela sentia novos ardores na testa e na boca. Úrsula a segurava como se segurasse um boneco.


Ela sentiu mãos a puxarem do lado oposto ao de Úrsula. Eram os garotos tentando salva-la.


-Ai, ai – berrava Mione, já que Úrsula não largava dos seus cabelos, e a pressão que os garotos faziam aumentava ainda mais a dor.


Harry pareceu perceber o fato, pois mandou que os garotos parassem.


-Temos que nos concentrar em Úrsula – falou ele.


O rosto de Mione passou pelo batente da porta e ela foi arrastada um pouco mais, levando consigo um rastro de sangue. Seu olhar era vago, ela sentia dores por toda a cabeça, umas pontadas desagradáveis nas costas.


Subitamente parou de ser arrastada.


-PAREM AGORA – berrou Úrsula para os garotos.


Todos obedeceram. Esqueceram-se completamente de recuperarem as varinhas nos bolsos de Michael e esqueceram-se também que Úrsula estava desmaiada quando ele as tomou de cada um deles. Agora, pelo esquecimento de todos, Úrsula era a única que estava armada, e com a varinha apontada para todos eles.


-Fiquem parados – ordenou ela. – Você, Hermione, levante-se.


Hermione continuou caída. As dores eram fortes demais, intensas, e sua cabeça rodopiava.


-LEVANTE-SE – gritou Úrsula.


Hermione continou lá, esparramada, sentindo o sangue ainda fluindo dos cortes. Uma nova pontada de dor percorreu suas terminações nervosas quando ela foi obrigada a levantar-se.


-Eu... mandei... você... LEVANTAR! – falou Úrsula, enquanto a levantava, segurando-a pelos cabelos. Mione ajoelhou-se, tonta. A pressão nos cabelos continou e, gemendo de dor, ela levantou lentamente, sentindo como se os cabelos estivessem sendo arrancados de sua cabeça.


Por seu olhar zonzo, ela viu o porque do pânico dos amigos, o porque da ânsia desesperada de liberta-la das garras de Úrsula.


Elas estavam na beirada do poço de espinhos.


Por seu olhar ligeiramente embaçado, ela via as pontas afiadas daqueles espinhos metálicos, com corpos compridos, semelhantes a lanças gigantes. As pontas afiadas brilhavam, preparadíssimas.


Sim, preparadíssimas, pois Mione não teve dúvidas da intenção de Úrsula ali, principalmente após a ameaça pronunciada na outra sala.


Ela iria jogar Hermione lá dentro.


-Está vendo onde você vai parar? – sussurrou a voz de Úrsula. Aquele hálito quente próximo ao ouvido provocou um arrepio de medo em Hermione. – Alguns desses espinhos atravessarão partes do seu corpo. Nem sei se você terá tempo de sentir as pontas perfurando sua pele, atravessando seus órgãos, mas eu espero que sinta. Sim, que sinta muita dor. Eu não queria fazer isso Hermione, não, não queria...


Ela estava um pouco ao lado de Mione, ainda segurando-a pelos cabelos. Um empurrãozinho e Hermione despencaria.


-Mas é necessário. Só assim Rony poderá esquece-la. Essa é a única alternativa para tirar você do meu caminho.


Mione ouviu o suspiro da garota e pressentiu que aquele seria o momento.


Rony pressentiu a mesma coisa e foi até as duas. Estava pondo em risco a vida de Hermione, mas ela já estava em risco, e, com a sua ajuda, talvez houvesse probabilidades de dar certo.


Ele surpreendeu Úrsula, que deu um salto de surpresa, largando o cabelo de Mione.


A garota perdeu o equilíbrio, e seu corpo foi caindo lentamente em direção ao poço de espinhos.


Rony, agilmente, correu e pegou o corpo desequilibrado de Hermione pela cintura. Ele a enlaçou e tomou impulso para trás, evitando que os dois caíssem no poço.


Os dois, juntinhos, caíram no chão. Foi Úrsula quem os separou, enraivecida. Com a força sobrenatural novamente surgindo, ela chutou o rosto de Rony. O garoto sentiu novamente a dor espalhar-se pela face e mais líquido vermelho espalhar-se pela mesma.


-Desculpe, meu amor, mas isso é necessário.


A dor era terrível. No meio de toda aquela dor, ele viu que Hermione levava dois chutes no rosto.


-EU VOU ACABAR COM VOCÊ – vociferava Úrsula, o cuspe voando a cada sílaba, os chutes ecoando nos ouvidos de Rony como se fossem aplicados nele mesmo. – EU PRECISO ACABAR COM VOCÊ.


Hermione, incapacitada, caiu ajoelhada no chão, descabelada, fraca. As lágrimas misturavam-se com o sangue. O olhar dela encontrou com o de Rony. Era um olhar triste, clamando para que aquele pesadelo definitivamente acabasse.


Rony ajoelhou-se também, tentando se levantar. Hermione, apesar de espancada, não perdeu a honra e levantou-se, unindo cada força que ainda restava, desafiando Úrsula.


Entre seus olhos, cujas pálpebras estavam umedecidas por sangue, ela viu que a louca havia se distanciado um pouco, mas ainda a fitava com o mesmo olhar desnorteado, apontando a varinha para Harry, Kevin e Draco, que os observava.


Harry fez menção de avançar e recuou antes de ser estuporado. O feitiço talvez o atingisse com furor e ele poderia voar para o poço. Não podia arriscar, nem ele nem os outros.


-É melhor ficarem aí mesmo – vociferou Úrsula. – Isso tem que ser resolvido entre nós três, as partes envolvidas.


O trio engoliu em seco.


Rony tentou levantar-se novamente, mas foi nocauteado por outro chute de Úrsula, que lhe atingiu o queixo. Ele cambaleou para trás e caiu. Metade do seu corpo ficou no solo e a outra metade ficou rente ao poço de espinhos. Assustado, ele endireitou-se, entendendo subitamente qual era a intenção de Úrsula ao nocautea-lo.


Ela queria que ele ficasse machucado e não pudesse evitar que empurrasse Mione.


-É aqui, é desse jeito, que tudo vai terminar, Hermione – falou Úrsula. – O começo foi bom para você, mas agora será a minha vez de conquistar o amor. Aqui é o fim.


Úrsula tomou impulso e começou a correr. Correr até o corpo molenga de Hermione.


-E os dois viveram felizes, até que a morte os separe! – berrou a louca. – E a morte sou eu.


Mione tomou consciência do que ocorria, mas estava demasiado fraca para poder reagir. A morte estava vindo através daqueles cabelos dourados que esvoaçavam, através daquele rosto bondoso, e ela não tinha forças para lutar...


Úrsula estava perto... tão perto... aquele era o fim... Úrsula finalmente atingira o seu objetivo...


Rony, ao contrário da namorada, por mais surrado que estivesse, lutou contra as limitações.


Hermione sentiu o corpo de Rony contra o seu, jogando-a para o lado, praticamente arremessando-a, quando Úrsula estava a poucos passos de empurrá-la.


Úrsula chegou atrasada, tropeçando no tornozelo de Rony, que estava caindo no chão junto com Mione.


Não houve nem tempo para equilibrar-se.


Ela caiu com tudo no poço de espinhos.


Houve o ruído da carne sendo atravessada.


O ruído do sangue sendo esguichado em grande volume.


E depois, somente o silêncio...


O silêncio da morte.


O silêncio que sinalizava que aquele era o fim.


O fim de uma vida de loucuras, amor e maldade. O fim de Úrsula Hubbard.


 


* * *


 


Aninhada nos braços de Rony, Hermione ouviu todos esses ruídos com um embrulho no estômago.


Harry, Draco e Kevin se encontravam na borda, olhando para baixo, estupefatos. Gina Weasley estava na porta, ainda com os olhos inchados, mas também procurando enxergar o que tinha acontecido.


Mione engoliu em seco e levantou-se, fraca, olhando para o poço.


Afinal, precisava ver para acreditar que o pesadelo teve fim. Todos eles precisavam, mas para ela era uma necessidade muito maior confirmar que tudo havia acabado.


Rony acompanhou-a, envolvendo os ombros dela. Os dois engoliram em seco ao verem a cena brutal que se mostrava no poço.


Ali estava Úrsula Hubbard, com os olhos arregalados, a massa de cabelos dourados esparramados, misturados com a massa de líquido vermelho. Vários espinhos a perfuraram. Havia um no meio do rosto, outros em diversos locais, todos acompanhados por bolas de sangue que atravessaram o tecido da roupa. Nem era possível reconhece-la mais. O corpo estava transformado, acabado, como se nem fosse um ser humano.


Uma das lanças perfurara o meio do peito de Úrsula.


Bem na altura do coração.


Um espinho que perfurara aquele coração que foi capaz de amar demais, mas que também foi capaz de transformar esse amor em ódio e maldade.


 


* * *


 


         -Acabou – suspirou Mione, chorando nos ombros do namorado. Rony, carinhoso, beijou a cabeça da namorada.


                -Precisamos sair daqui – falou Harry, olhando somente para Rony, Hermione e Kevin, evitando Draco e Gina. A decepção fora demasiado intensa para que ele os tratasse como se nada tivesse acontecido.


                -Tudo foi resolvido aqui dentro, mas não sabemos como anda o ataque em Hogsmeade – lembrou Kevin. – Não será arriscado sairmos?


                -Acredito que tanto lá fora como aqui dentro, estamos correndo os mesmos riscos – opinou Harry. – Lembrem-se do que vimos no mausoléu. Voldemort dentro do Jardim das Ilusões, lançando a maldição sobre o amuleto, elogiando o local... Eles conhecem esse lugar secreto. E o plano era que Michael recuperasse o corpo hoje mesmo, para que se juntasse aos outros. Provavelmente eles virão para cá.


                -Nesse caso, é melhor sairmos o quanto antes – disse Rony. – Podemos chegar ao castelo em segurança.


                -Eu espero que sim – falou Harry. – Por hoje chega. Já houve riscos e surpresas demais.


                Ele lançou um olhar de esguelha para Gina, que fingiu não ter notado. Ela deu as costas para eles, olhando para dentro do mausoléu.


                -E o corpo dele? – perguntou. – O que acontecerá agora?


                -Retornará para a decomposição normal – respondeu Harry.


                -E o pobre James Smith, Harry? – perguntou Mione. – Ele foi enganado por Úrsula, não tinha culpa de nada...


                -Acredito que não tem mais jeito. Quando o amuleto foi quebrado, creio que não só a alma de Michael explodiu, mas a que estava dentro do amuleto também, ou seja, a de James. E, mesmo que pudesse sair, não haveria jeito. O corpo dele foi fulminado por um Avada Kedavra.


                -E Christian?


                -Bom, apesar de Michael usar o corpo dele a partir da mata, ele o matou no corpo de James. Infelizmente, nada podemos fazer.


                -Pobre Christian – suspirou Padma Patil. – Era tão fascinado pela história de Michael Evans, era o único do grupo que acreditava nele, e, vejam só, foi morto pelo ídolo, que estava ao seu lado, dentro do seu melhor amigo, e ele nem percebeu...


                -Agora é melhor sairmos – disse Harry. – Espero que saiamos em segurança. Temos que chegar até Dumbledore e contar sobre tudo o que descobrimos. E sobre as vítimas fatais também...


                -O problema é como sairemos. Esqueceram que o chão abriu-se e viemos parar aqui embaixo? – lembrou Rony, assustando a todos, que haviam esquecido desse detalhe.


                -Realmente – concordou Mione.


                -Eu entrei com aquela fera, aquele bicho gosmento, querendo me devorar – falou Kevin. – Falando sério, não lembro do caminho, estava ocupado demais em tentar sobreviver...


                Harry estalou os dedos.


                -A passagem por trás do caixão, por onde Michael estava nos espionando!


                Dito isso, os sete entraram novamente no mausoléu. Draco lembrou das varinhas, e eles tiveram que ir até o corpo esparramado de Christian Baker, e procurar nos bolsos dele por suas respectivas varinhas. Depois, encaminharam-se para o fundo. Todos espiaram o corpo no caixão, que continuava da mesma maneira – e, com um alívio no peito, eles lembraram que ele continuaria ali, até sobrar somente o pó.


                A passagem estava entreaberta. Harry deu um empurrãozinho de leve, e ela abriu-se totalmente, revelando uma total escuridão.


                -Alguém que esteja com a mão ilesa poderia ajudar na iluminação? – perguntou ele, com um sorrisinho.


                Padma adiantou-se, ordenou Lumus e, pela luz que saía da varinha, Harry encontrou uma parede logo após a entrada. Ou seja, estavam num apertado corredor. Ele apontou a varinha para a direita, e encontrou outra parede pedra. Apontou para a esquerda, e não havia parede que barrasse o caminho. Ele se abria ainda mais, mergulhando na escuridão.


                -Esquerda – apontou ele.


                Padma seguiu na frente com a varinha, Harry foi logo atrás, seguido por Rony, Hermione, Draco, Kevin e Gina.


                Finalmente surgiu uma luz mais à frente. Eles seguiram, ansiosos, e saíram num pequeno compartimento fracamente iluminado, com uma cadeira, uma escrivaninha e uma prateleira.


                Harry espiou a escrivaninha, e encontrou papéis cheio de desenhos coloridos. No primeiro estava o desenho de um garoto gordo caído, com um copo de suco na mão.


                -Esse é um desenho do Crabbe? – perguntou Draco.


                Harry não respondeu, mas virou para o próximo desenho. Com os olhos arregalados, eles observaram que eram os desenhos de como seria a morte de cada um. Os planos de Michael para cada um, cujo conteúdo ele passou depois para a lista negra.


                Acima de cada desenho, havia o nome.


 


                HERMIONE GRANGER


        No desenho, havia uma menina sobre uma cama, com um cálice ao lado. Do cálice, saía uma seta: Sonífero. Após ela beber, no outro desenho ela estava com os olhos fechados, e o assassino aparecia, com um travesseiro na mão, que era comprimido contra o rosto dela.  Fecharás os olhos e não despertarás. O sono da morte te dominará.


                KEVIN WALLACE


        Um garoto com a boca aberta, com expressão de assombro. Michael estava bem na frente, com a máscara de carnaval, segurando uma faca rente ao pescoço de Kevin. Uma seta para baixo indicava a continuação. Nela, a faca estava cortando o pescoço de Kevin, pois saía uma quantidade enorme de sangue do pescoço. Uma seta indicava: veia jugular. Nada de profano irás dizer, pois, dominado de sangue, não conseguirás viver.


        HARRY POTTER


        O desenho de uma armadura, com uma lança enorme na mão. A lança descia na outra parte, e era cravada no garoto. Por ter escapado, sua morte será um enigma ainda maior, mais envolvente. Assim ocorrerá com qualquer sobrevivente.


        GINA WEASLEY


        Era o desenho de uma sala de aula qualquer, e Gina estava sozinha. Michael brandia um feitiço, e, no outro desenho, havia chamas de diversos lados. Cabelos cor de fogo, sangue cor de fogo. Ambos se misturarão, tu não terás perdão.


        CHO CHANG


        Aquele estranho objeto cheio de lâminas era atirado e perfurava o desenho da garota com olhos puxados. De lâminas afiadas ele é formado. Ele gira rapidamente. Tome muito cuidado, quando o sol se pôr no Oriente.


        CHRISTIAN BAKER


        Na primeira figura, um garoto recortando papéis. Deles saía uma seta: reportagens sobre mim. Na outra, ele cravava a tesoura no corpo de Christian, na barriga e depois no peito. Aquilo que mais utilizaste, trará seu calvário, sua dor.


        JAMES SMITH


Só estava escrito: Avada Kedavra, deve parecer com a minha morte há dezesseis anos. Tu irás morrer, na escuridão, sem sangue te deixarei, sem dó te matarei.


RONALD WEASLEY


Michael tinha as mãos em torno do pescoço da figura do garoto de cabelos vermelhos, o estrangulando. Sua morte será feita com minhas próprias mãos.


CHARLES SHEPPARD


Uma cobra escreverdeada saía da varinha de Michael. Uma seta apontava para o próximo passo: a cobra enlaçava o garoto. No último passo, ela o mordia. Tu honrarás teu lar e por causa dele morrerás.


JENNIFER YUMI


Uma enorme estaca atravessava o corpo da garota e, no outro desenho, setas saíam dos balaços, indicando balaços errantes. De sua descendência vem a inteligência. Use-a para tentar descobrir como morrerás, pois eu não direi.


LAURIE SAWYER


Michael estava próximo ao pescoço do desenho de uma garota, e enfiava um dardo no pescoço dela. Embaixo, um desenho mais próximo do dardo, de onde saía a indicação da ponta: veneno. Seu corpo será tomado pelo veneno, após a picada cheia de dor.


JANE REYNOLDS


Havia uma grama verde, e Michael estava sobre a professora, com uma enorme faca. Um círculo negro destacava o centro, como que indicando o local que ele devia atingir. Na outra parte do desenho, fios de um vermelho vivo imitavam tripas. Sangrarão suas tripas, sob um sol ardente, seu sangue às gramíneas se misturará.


DINO THOMAS


Um simples desenho, no qual um jovem de olhos arregalados estava dentro da água azulada, com os pulsos e pernas amarrados. Ar, ar, ar... Onde estarás? O procurarás e não o encontrarás. Logo abaixo, uma observação: Obs: Não esquecer do sangue.


RÚBEO HAGRID


O desenho barbudo de Hagrid era atacado por um dos monstros semelhantes a lagartixas do Jardim das Ilusões. E, pelo riacho que cortava o desenho, eles notaram que ele estava no jardim. Alcançarás a dor por meio do que mais gostaste – detalhe: “bichos, monstros”.


DRACO MALFOY


O bonequinho loiro do desenho também estava nas dependências do Jardim, mais precisamente no templo, pois eles viam o formato do saguão. Estava cercado por diversos mascarados, que usavam máscaras carnavalescas semelhantes a do próprio Michael. Um deles, porém, tinha uma faca na mão – ou seja, o próprio Michael, cercado por outros, que deviam ser ilusões criadas pelo Jardim. Como dispuseste de máscaras para viver, assim, também, por elas, irás morrer.


PARVATI/PADMA PATIL


Na primeira figura, duas garotas olhavam assustadas para o desenho de Michael, que segurava um machado em posição de ataque. Na última, as duas cabeças voavam, acompanhadas de um rastro de sangue. Não terei dó. Serão dois coelhos com uma cajadada só.


 


-Então foi aqui, e desse jeito, que ele criou os enigmas – falou Harry, após eles observarem o desenho das gêmeas. – Desenhando um a um, detalhadamente.


-O estranho é não ter o do Professor Snape e o de Pansy – lembrou Draco, justamente dos dois Sonserinos.


-Ah isso explica uma coisa – falou Harry, olhando para Rony e Hermione, que estavam agarradinhos. – Lembram que, após o envio da lista de enigmas, através do meu, que dizia que os sobreviventes não saberiam como iriam morrer, nós supomos que Snape e Pansy, de alguma forma, eram sobreviventes? Nós apenas nos complicamos... Vejam! Michael apenas não tinha criado os enigmas ainda. Tanto que meu incidente com a flecha dourada nem está aqui, e foi depois de Snape.


-Conclusão: esse detalhe não tinha a mínima importância, e a gente apenas encontrou mais coisas para encurarem as nossas mentes já encucadas – falou Rony, divertido, parecendo que estava tentando animar o ambiente e esquecer tudo de ruim que acontecera momentos antes.


-Foi aqui que ele criou todo o seu joguinho da morte – disse Harry. – Agora vejo que o nosso caminho termina aqui. Se ele entrou aqui por outro caminho que não foi o que nós entramos, então deve haver uma passagem para a superfície... Ah, achei!


Um alçapão abria-se no teto do cubículo. Em seguida, os olhos de Harry pousaram numa escadinha de pedaços de madeira, pregados na parede, que levavam direto para a passagem.


-É por aqui, vamos – falou ele, novamente sentindo-se como um “líder” que os outros esperavam seguir. Harry estendeu as mãos para se apoiar no primeiro degrau, mas se lembrou de sua mão quebrada.


-Vai ser difícil para você subir aí, Harry – falou Mione.


-Mas eu tenho que subir. Olha, vou ter que subir apenas com uma das mãos. Estou com receio de cair lá de cima... Por favor, alguém suba bem atrás de mim, para o caso de acontecer algum incidente.


Ele respirou fundo e estendeu a mão para o segundo degrau, pousando os pés no primeiro. Tomou impulso para avançar. Conseguiu, com muito custo, subir um degrau. Suas costelas ardiam com pontadas agudas, e a mão esquerda, obrigada a sustentar todo o esforço físico, começava a protestar com uma dorzinha chata. Mas Harry concentrou-se no objetivo de sair dali, depositou todo o seu pensamento e a sua força nesse propósito. Isso deu gás para que ele avançasse, passando por cima da dor, subindo degrau após degrau, Rony subindo logo atrás. Finalmente a escada terminou e eles saíram em um aposento apertadíssimo. Logo depois surgiram Hermione, Gina, Padma, Kevin e Draco.


-Onde estamos? – perguntou Padma, ofegante, acendendo a varinha novamente e iluminando o pequenino aposento, que estava apertado e abafado com os sete corpos que se espremiam dentro dele.


-Provavelmente este é um compartimento secreto, igual à parede do mausoléu – opinou Harry.


-Se for igual, basta empurrar – falou Rony, colocando a mão sobre a pedra. Ela deslizou suavemente, revelando a eles o saguão dourado do templo, que agora não tinha mais as enormes paredes que despencaram do teto.


Essa lembrança estava viva nas mentes de todos, que hesitaram em sair do espaço secreto.


-Será que se sairmos... Ficaremos presos e cairemos novamente? – perguntou Mione, traduzindo a hesitação de todos em palavras.


-Acho que não – respondeu Harry.


-Não sei porque, mas esse “acho” está um tanto incômodo para mim... – falou Rony.


-Ok, acredito que não – consertou Harry. – Afinal, Kevin e Draco passaram pelo saguão antes de todos chegarmos e nenhuma parede despencou. Creio que o que aconteceu foi ordem do Michael, ou ele acionou discretamente uma alavanca, afinal, estava ao nosso lado.


-Mas um monstro nojento me pegou – recordou Kevin.


-Falando em monstros – disse Padma – será que estamos livres de todos eles após a maldição de Michael terminar?


-Não – respondeu Mione. – Isso não tem nada a ver com a maldição. O lugar já criava ilusões, mas foi incrementado com maldades por Voldemort, assim como vimos na lembrança de Michael.


-Então corremos os mesmos riscos? – perguntou Draco, num tom de receio.


-Sim – falou Hermione. – Mas temos que sair. De qualquer jeito. É melhor nos apressarmos antes que uma dessas criaturas apareça.


Eles atravessaram o saguão às pressas. Esqueceram-se das paredes que caíram do teto da outra vez, passaram despreocupados em relação a isso, já que agora a maior preocupação era que encontrassem uma criatura gosmenta com fome, ávida por sangue, pelo corpo deles.


Nada ocorreu na travessia do saguão. As escadas de pedra, antes tomadas por espinhos, estavam lisinhas, e eles também as desceram com tranqüilidade.


Foi no final da escadaria que algo estranho ocorreu.


O corpo de cada um bambeou. Instintivamente, eles levaram as mãos à testa, confusos. Uma dor lancinante percorreu cada cérebro. As visões tornaram-se embaçadas.


E todos eles não estavam mais no Jardim das Ilusões.


Estavam num deserto.


Na mente de Harry, ele via Gina, sorrindo para ele, chamando-o para acompanha-la...


“Não... Não estou vendo isso... Isso é uma ilusão... Isso é uma mentira... Essa não é Gina, eu não estou aqui”.


Harry concentrou-se, não querendo iludir-se:


-ISSO NÃO ESTÁ ACONTECENDO – berrou ele, e a Gina falsa e o deserto desapareceram num furacão de cores.


Ele olhou ao redor. Todos estavam com expressões de bobos. Com assombro, ele compreendeu o que precisavam fazer para destruir aquele poder horrível do jardim.


-Nem tudo o que parece é. Devemos acreditar nisso! – exclamou ele.


Harry bateu na cabeça de cada um deles, despertando-os, confusos. Mas notou que precisava ser rápido. Novas imagens teimavam em entrar em sua mente novamente.


-Devemos acreditar que isso não existe – falou ele, com ênfase nas palavras.


-O que?


-Para destruir as ilusões, para destruir a magia desse jardim. Vamos, todos de mãos dadas!


Eles deram-se as mãos, um ao lado do outro. Aquele era o momento de esquecer desavenças, e unir-se no mesmo propósito. Todos eles, juntos.


-Fechem os olhos, e concentrem-se.


Eles concentraram-se. Ouviram os passos dos monstros, o esgar deles, mas o poder da mente, de alguma forma, fez com que o barulho desaparecesse. Um calor aproximou-se, os heliopatas estavam perto, mas eles não conseguiram toca-los, e, de repente, o calor desapareceu. Eles continuaram com as mentes concentradas de que tudo aquilo não existia, e podiam ouvir coisas morrendo, as ilusões perdendo as forças, a magia daquele lugar se dissipando devido à força de vontade de sete jovens mentes.


Tudo de ruim que existia ali estava se acabando. Eles sentiam isso.


Quando nenhum ruído foi ouvido, eles abriram os olhos.


Sentiram gotas de chuva caindo do céu, gotas refrescantes, e por trás da cortina de pingos de água, eles viam o mesmo templo dourado, mas este agora estava diferente, de uma forma que nenhum deles podia explicar.


A terrível magia do templo havia se acabado.


E eles sentiram-se seguros. Começaram a caminhar pelo jardim, no mais absoluto silêncio, em direção a saída, mantendo aquele mesmo contato, enquanto a chuva encharcava os corpos.


Aquela água era bem vinda por todos. Na grama molhada, os passos respingavam nas poças, subindo gotículas. O som da chuva, o frescor da água, limpava a alma de cada um. Eles sentiam aquilo como o sinal de que tudo estava acabado, que a paz finalmente chegara.


Uma purificação para todos os corações daqueles jovens que, de mãos dadas, molhados, com água pingando pelos cabelos, caminhavam para a saída do jardim.


 


* * *


 


Foi muito curioso quando eles perceberam que, fora dos limites dos jardins, não havia sequer uma garoa. A chuva se limitara ao Jardim, como se tivesse vindo somente para eles.


Embora a preocupação com os bruxos de Hogsmeade, tanto da guarda quanto da população, fosse grande, todos – sim, porque, depois da união no jardim, a decisão não cabia somente a Harry – decidiram correr até o castelo de Hogwarts. Havia muitos ferimentos a serem tratados, e o perigo por ali ainda podia ser grande.


Na estrada, Harry arriscou um olhar na direção do povoado. Um silêncio inquietante pairava sobre ele. Um silêncio que o deixou nauseado, e o atingiu mais do que se ele tivesse ouvido gritos.


Um silêncio que lembrava a morte.


 


* * *


 


-Então, resumindo, vocês descobriram que Michael Evans era o pseudônimo de Régulo Black, que Voldemort prendeu a alma da mãe de Úrsula num bastão, obrigou a garota a ajuda-lo, ela convenceu James Smith, um falso corajoso que aceitou em troca de benefícios, ele libertou a alma de Régulo, que foi para o corpo dele e ficou até essa noite, quando ele trocou de corpo e entrou no de Christian Baker, aí vocês enganaram Úrsula que, com ódio, destruiu o amuleto, e também morreu logo depois, tentando assassinar Hermione.


                Era Dumbledore quem resumia o que ouvira dos sete garotos exaustos e molhados, que estavam em sua sala, e o haviam procurado assim que entraram no castelo.


                -Sim – confirmou Harry. – Isso foi tudo. Achei bom procurar o senhor, mesmo que os culpados não possam mais ser presos. E os corpos de algumas vítimas estão lá no templo, assim como o de Úrsula, Christian Baker e o do próprio Michael.


                -Fico grato por terem vindo aqui – falou o diretor. – Pegaremos os corpos e contarei a todos quem era o culpado das mortes. Quanto a Úrsula, eu sei que Rony e Hermione não a jogaram naquele poço, mas isso poderia gerar certas perguntas. É melhor que seja divulgado que ela morreu pelas mesmas mãos que todos os outros, pelas mãos de Michael Evans.


                -Mas o senhor acredita na gente, não é?


                -Claro que sim, srta Granger. Eu vi muito sobre Úrsula naquela sala. Não duvido que ela foi capaz de tentar joga-la no poço de lanças.


                -É que é um pouco difícil de acreditar, nós compreendemos – falou Mione. – Afinal, Úrsula se meteu nessa história de Michael Evans por amor à mãe. Quem não conheceu o outro lado dela poderia pensar que ela não teria coragem de me matar.


                -Mas Úrsula realmente não era má pessoa – disse Dumbledore, serenamente, transmitindo sabedoria. – Ela amava demais, o amor que ela devotava pela mãe era muito grande, mas, sobretudo, o que ela devotava por Rony. O esforço que ela fez por Rony foi muito grande. Envolveu-se em tramóias, assassinato, tentou infringir as leis da magia com uma Poção do Amor, quebrou o amuleto, tentou matar Hermione... Tudo por amor. Se Úrsula fosse uma pessoa gananciosa, que me perdoem os dois sonserinos presentes, ela nunca seria selecionada para a Grifinória, e sim para Sonserina. Tudo o que ela fez foi por causa de Rony.


                O rapaz deu um suspiro prolongado.


                -Sei que é difícil aceitar, mas não se culpe por tudo o que ela fez. Você não teve culpa. Não amava Úrsula, o que podia fazer? Acredito que esse amor doentio iria continuar por anos e anos. Não gostaria de dizer isso, mas a verdade é que a morte era o único destino para Úrsula. Estava muito enlouquecida pelo amor, e não iria desistir. A única coisa que poderia segura-la era a morte. Uma mulher apaixonada de uma forma tão intensa, mesmo que seja uma adolescente, pode ser muito prejudicial.


                -Eu convivi com ela de uns tempos pra cá – disse Malfoy – e fui notando as transformações... Ela realmente tornou-se uma pessoa transtornada. E, após a morte de Rogério, ela ficou um pouco nervosa, como se receasse... Mas hoje tenho certeza que não hesitaria em matar Hermione. Estava indo mata-la, aliás, mas aí caiu.


                -As pessoas mudam, sr Malfoy. Transformam-se, infelizmente, algumas, para pior. Outras nos surpreendem – os olhos azuis pousaram em Harry. – Você me surpreendeu muito, Harry, revelando uma característica para mim desconhecida. Você foi um sábio detetive, encontrou as respostas. Assim como seus inseparáveis amigos, claro, Rony e Hermione. Nesse primeiro contato que tiveram com investigações, vocês foram incríveis! Confiei muito em vocês, algo me dizia que vocês descobririam tudo. Até que Michael era Régulo vocês descobriram, sem que eu precisasse contar! Realmente astutos e inteligentes.


                Os três sorriram.


                -Todos que estão aqui, nesta sala, devem respirar aliviados. São vencedores, sobreviventes de um terrível massacre. Correram riscos em todos os momentos desde que Michael foi libertado. Felizmente, estão aqui. Vivos. Devem passar por cima de qualquer desavença que haja entre vocês, pois estão unidos pela vitória. Continuem sempre unidos, pois, através da maldição de Michael, vocês puderam perceber como a vida é frágil. Vivam em harmonia para que, no momento da partida, nada de mal exista dentro de voces. Se a maldição foi feita para Michael aprender a matar, eu espero que ela os tenha ensinado a amar.


                “Acho que eu já falei demais. Olhem para vocês, parecem exaustos! É melhor irem dormir. Deixem as preocupações de lado por um momento. Tiveram um dia cheio, e creio que pareça ser o mais longo de suas vidas. Um capítulo amargo de suas vidas, que até terminou bem, mas que deve ter valido como nove!”.


                -Realmente, parece ter passado vários dias – concordou Mione, relembrando a fuga em Azkaban e todo o resto.


                -Vão descansar. O repouso será um bálsamo para o corpo de cada um de vocês.


 


* * *


 


                Os sobreviventes foram descansar daquele longo dia. Sim, sobreviventes, eles tinham o orgulho de pensar neles próprios com essa palavra. Acalmava, os fazia suspirar de alívio.


                Os únicos em desconforto eram Harry, Draco e Gina.


                Harry, abraçado com o travesseiro, apertando a fronha, pensava, com os olhos úmidos, por que Gina traíra no templo.


                Draco, com as mãos cruzadas debaixo da nuca, fitando o teto do dormitório, pensava qual seria a decisão da bela jovem. Como ela reagiria após o beijo, após ser desmascarada na frente de Harry?


                Gina olhava-se no pequenino espelho que retirara de sua bolsinha. Fitava os próprios olhos, ainda inchados pelas lágrimas, seu rosto, e sentia vergonha da própria imagem refletida. Sentia-se um lixo por ter traído o namorado.


                Mas seu coração, seu sentimento, era um ponto de interrogação para ela mesma.


                Tanto por Harry quanto por Draco seu coração batia forte.


                Como se decidir entre o garoto de óculos redondos e o garoto de cabelos dourados?


                Ela não sabia... Não sabia... Mas tinha que se decidir.


                Mergulhando nos próprios olhos refletidos, ela tentava compreender o abismo de seu coração, tentava escolher, tomar a decisão certa.


                Após muita reflexão, ela fechou o espelho, tomando a decisão mais importante de sua vida.


                A decisão entre Harry e Draco.

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