Conversa reveladora



CAPÍTULO 24 - Conversa reveladora

-Rony? – perguntou Harry, calmamente, ao entrar no dormitório e ver que o amigo estava sentado na cama, com a cabeça escondida entre os joelhos. – Você está bem?
Rony, sem mudar de posição, respondeu, com a voz fraca:
-A vida da minha família... A carreira da minha família... Está tudo praticamente arruinado, Harry. E eu não posso acreditar que é por causa da Hermione...
Harry engoliu em seco. Estava tão decepcionado com a amiga quanto Rony. Apesar de ele saber bem que Hermione às vezes tomava certas atitudes que para ele e Rony não eram necessárias, nunca imaginou que pelo motivo de Gina ter discutido com ela a garota pudesse ter uma atitude tão cruel, que não atingira somente Rony, mas também os Weasley, família esta que sempre tratava tanto ela como Harry da melhor maneira possível.
Harry ainda estava abobalhado. Não conseguia dissolver essa informação. Era praticamente impossível uma atitude como esta vir da Hermione que conhecia. A não ser que Hermione não fosse Hermione... E sim Michael Evans... Harry tentou afastar essa idéia da cabeça. Hermione não era Michael Evans, senão ele teria notado antes algum comportamento diferente nela bem antes.
Comportamento diferente... Harry se prendeu nessas duas palavras. Talvez elas pudessem ajudar na captura do assassino. Por mais inteligente que Michael fosse, ele teria que ter deixado alguma falha. Os seres humanos sejam eles trouxas ou bruxos, estão suscetíveis aos erros. Uma seqüência de assassinatos tão impressionantes que Harry duvidava que Michael Evans não tivesse deixado uma pequena abertura, como um comportamento estranho em relação à pessoa que havia libertado a maldição. Qualquer pessoa tem pequenas características que poucas pessoas conhecem. Nesse aspecto, Michael deve ter deixado escapar alguma falha. Ninguém pode ser tão inteligente.
Harry só perguntou sobre comportamento para Parvati Patil, questionando-a sobre a irmã. Porém, por mais simpática que Parvati fosse, e por mais distante que ela esteja do topo do ranking dos principais suspeitos, ela ainda era uma suspeita. E se estivesse agindo ao lado da irmã, colaborando com Michael Evans? E como acreditar que Padma não tinha mudado em nenhum aspecto, sendo que a informação vinha da irmã dela, alguém que, por mais suspeitas que tivesse, tentaria protege-la?
Harry guardou em sua mente a idéia sobre o comportamento, para ser utilizada na próxima reunião que eles formassem, e voltou sua atenção para o cabisbaixo Rony que, nesses minutos de reflexão de Harry, praticamente não se movera.
-Temos que descer – falou Harry, embora não tivesse certeza se estava mesmo sendo escutado. – São dois tempos de Transfiguração. Depois, temos o tempo livre, pois seriam aulas de Poções e de Defesa contra as Artes das Trevas. Aí você poderá refletir um pouco.
Rony continuou imóvel. Harry, vendo que sua tentativa de persuadir o amigo seria infrutífera, apanhou suas coisas e saiu rapidamente do dormitório. Minerva McGonagall não era o tipo de pessoa que tolerava atrasos.
Quando passou pela sala comunal, viu que Gina estava com a mesma reação do irmão. Embora não tivesse o rosto escondido entre os joelhos, Gina tinha as mãos sobre os olhos, e Harry podia ouvir seus soluços. Teve vontade de ir lá, consola-la, para mostrar-lhe que, se tivesse saído com pessoas que realmente valessem a pena, nada disso teria acontecido. Harry, ao passar pelo buraco do retrato, ficou pensando intrigado se o tipo de pessoa que ele sugeria a Gina em pensamento não fosse ele mesmo...
O que estaria acontecendo com ele? Por que parecia ter pensamentos que vinham surrupiando pedaços de sua mente e atormentando-o, como se eles tivessem vida própria? Como se revelassem sentimentos e vontades contraditórios ao que ele pensava ou sentia realmente? E por que esses pensamentos e vontades só se manifestavam em relação a Gina?
Harry estava devaneando quando esbarrou com Hermione no corredor apinhado de alunos, indo na direção inversa, para as aulas de Aritmancia.
Os dois estancaram e ficaram olhando um para o rosto do outro. Hermione tinha os olhos inchados de tanto chorar e Harry, apesar de chateado, não assumiu uma expressão de raiva.
Permaneceram em silêncio por um ou dois minutos, e quando Hermione falou, foi num tom de voz que demonstrava a tristeza que a garota sentia.
-E... Rony está bem?
Harry baixou os olhos e encarou os próprios pés, sem coragem de olhar muito para o rosto de Hermione.
-Como ele poderia estar? – respondeu Harry, sem alteração. – Ter a foto da irmã publicada num jornal, se agarrando com o filho de um conhecido Comensal da Morte que fugiu de Azkaban... Não é acontecimento para se comemorar, não acha, Hermione?
Harry a encarou. Hermione passou a mão pelos cabelos, depois disse:
-Sei que você não acredita que eu não tenho nada a ver com o que aconteceu, e...
-Seu nome estava lá, Hermione! – interrompeu-a Harry, se alterando. – Você teve tempo de ir dar essa entrevista! Por que Gina teve uma discussão com você, uma pequena discussão, aliás, você precisava fazer isso? Prejudicar o próprio amigo?
-Eu não...
-Não queria prejudica-lo? Só a Gina, não é? Mas você é muito inteligente. Poderia muito bem ter somado dois mais dois e visto que, se todos soubessem do romance de Draco e Gina, a vida dos Weasley seria prejudicada!
Hermione voltou a chorar.
-Sabe, Mione, o fato dos Weasley terem um contato com os Malfoy não soará nada bem... O Sr. Weasley, Carlinhos, Gui, Percy... Todos prejudicados.
Naquele instante, Harry percebeu uma movimentação vinda do fundo do corredor. Levantou a cabeça, tentando ver o que acontecia.
Era Gina, que abria caminho na multidão, segurando na mão um envelope vermelho, com uma aflição bastante evidente.
Harry reconheceu o envelope na hora. Era um berrador, igual ao que Rony já recebera. Era impossível conter um berrador. Naquele instante, o envelope abriu-se, pegando fogo, e Gina parou e encolheu-se, enquanto a voz estridente da Sra. Weasley soava em altos brados por todo o corredor, sobrepondo-se a todos os sons:

“Eu e seu pai estamos completamente decepcionados com você, Gina. Não esperávamos que você pudesse ter qualquer envolvimento com o filho de Lúcio Malfoy! Um foragido da justiça! O que você tem na cabeça, Gina? Você arruinou a nossa família!”.

Harry lançou um olhar de censura para Hermione, como se colocasse toda a culpa na garota. Depois, olhou para Gina, que tremia convulsivamente, mirada por todos os olhares dos alunos que apinhavam o corredor.

“Saiba que seu pai provavelmente perderá o emprego. O Ministro já nos enviou uma correspondência dizendo que a situação será avaliada por um conselho. Mas o que você acha que irá acontecer, Gina? Claro que seu pai perderá o emprego. Ou você acha que ficará bem para o Ministério manter membros de famílias que se relacionam com seguidores d´Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado? E não é só o seu pai não. Percy também será julgado, o que resultará em novas brigas entre seu pai e ele! E Gui e Carlinhos já nos avisaram que os jornais filiados ao Profeta também publicaram a matéria, embora sem o mesmo destaque, mas mesmo assim com o nosso sobrenome, Gina! Estamos praticamente perdidos!”

Gina soluçava a cada nova palavra. A voz da Sra. Weasley amenizou e finalizou, com voz chorosa:

“Espero que você reflita sobre o que fez, Gina. Foi uma grande decepção”.

A voz foi morrendo aos poucos e cessou. Os estudantes estavam imóveis. Após alguns segundos, tudo voltou ao normal. Gina ainda chorava, ouvindo comentários de censura por parte de alguns alunos.
Harry olhou com mais raiva para Hermione, que parecia tão triste quanto Gina.
-Você foi a maior culpada por isso, Mione! Os Weasley já não desfrutavam de uma condição financeira muito boa. Agora, então...
Harry lançou um último olhar para Hermione e retomou o seu caminho.
Hermione acompanhou o amigo com o olhar. Aquilo a frustrava por dentro. Ela não tinha absolutamente nada a ver com a entrevista! Mas seu nome estava lá. Só havia uma explicação: alguém fizera isso por maldade. Mas quem seria capaz disso? Não era possível alguém a odiar tanto a ponto de fazer tal coisa... E o que alguém poderia usufruir dessa situação?
Sentiu-se tentada a ir até Gina e consola-la. Mas como, se a garota acreditava piamente que quem dera a entrevista fora Hermione?
Naquele instante, Úrsula Hubbard chegou até Gina, que estava agachada no chão, chorando, e colocou a mão sobre o ombro da garota.
-Gina, sou eu – falou ela, acariciando os cabelos de Gina. – Eu... Sinto muito. Se quiser, eu conseguirei emprego para todos da sua família. Meu pai tem uma loja no Beco Diagonal, ele pode empregar o seu pai e seus irmãos... Eu vou ajudar vocês, não se preocupe.
Ela abraçou a garota, que se debulhava em lágrimas. Hermione olhava a cena, abismada.
A mesma bondade de Úrsula Hubbard. Uma bondade extremamente excessiva, que intrigava Hermione. Mas, como dissera Rony, “Úrsula era um amor de pessoa”.
Hermione começou a somar dois mais dois, conforme a expressão que Harry utilizara. Tudo começou quando Úrsula aconselhou Gina a ir atrás de outro garoto que não fosse Harry, que ela já fizera isso, e namorara um garoto loiro. Depois, Draco começa a dar me cima de Gina e Kevin dela, sendo que os dois praticamente odiavam pessoas da Grifinória. Parecia que Úrsula estava envolvida de alguma forma nisso tudo... E, em Hogsmeade, Hermione vira a garota falando para Olho-Tonto que ouvira gritos de socorro. Após o flagrante, Kevin vem chamar ela para um passeio, com evidente afobação. Como se quisesse afasta-la.
Draco, Kevin, Úrsula... Tudo que ocorria parecia envolver os três nomes. Será que as suposições de Mione estavam corretas? Afinal, Úrsula era um amor de pessoa... Mas, se suas suspeitas tivessem fundamento, ela iria descobrir. E os motivos também.
Hermione olhou por mais um momento para os cachos dourados da garota que abraçava Gina com demasiado carinho. Ela era muito bondosa. Caminhando em direção à sala de Aritmancia, Hermione ia pensando que não era possível que uma pessoa que estivesse envolvida no fracasso de outra pudesse demonstrar tanto carinho como Úrsula demonstrava por Gina... A não ser que não se tratasse de um ser humano. E sim de um monstro sem coração.

* * *

Rony, apesar de chegar atrasado, comparecera em todas as aulas da manhã. À tarde, como tinham o tempo livre, Rony subiu e ficou dentro do dormitório. Harry, por sua vez, deu uma volta pela biblioteca e depois, na sala comunal, apanhou um pergaminho e começou a escrever o planejamento para a reunião de suspeitos marcada para aquela noite.
Quando anoiteceu, Harry foi até o dormitório perguntar a Rony se ele não iria descer para o jantar e, depois, para a reunião. Rony negou.
-Não quero ver Hermione – falou ele, logo depois se calando e cobrindo-se por inteiro.
Harry resolveu não insistir e desceu até o Salão Principal. Teria que jantar rapidamente, já que todos deviam se reunir antes do término dos outros alunos.
Enquanto comia, Harry lançou um rápido olhar para o lado direito, onde, mais afastada, Hermione jantava sozinha. Kevin logo veio sentar-se ao lado dela. Mione pareceu não gostar nada da idéia.
Harry tomou o último gole do suco de abóbora e logo se levantou. Saiu com a maior discrição do Salão Principal, enquanto os outros, vendo que ele se levantara, também começaram a encaminhar-se até as portas do salão, esperando um momento de intervalo, conforme pedira Harry, para “não levantar suspeitas”.

* * *

Úrsula jantava com animação. Apesar de sentir um pouco a falta de seu amor, que não viera jantar – provavelmente por causa da raiva que sentia – ela desfrutava dessa noite com prazer.
Consolara Gina, levara a garota até o dormitório depois da aula, enfim, estava conquistando a irmã de Rony. Se o garoto descesse, ela continuaria a conquista-lo aos poucos – como uma amiga.
Úrsula saboreava um pudim de chocolate com uma satisfação jamais experimentada. A vitória era dela. Rony nunca mais iria querer ver nem falar com Hermione.
Ela vencera. Tinha vontade de brindar com o mundo todo a sua felicidade.

* * *

Quando todos – menos Rony e Gina – chegaram ao quarto andar, Harry seguiu na frente do grupo, até chegarem no corredor da porta camuflada na parede. Harry observou a parte em que a faca perfurara a porta. Ainda estava tapado. Harry suspirou. Não haviam descoberto a sala secreta.
A mão de Harry dirigiu-se rapidamente à maçaneta, embora não pudesse vê-la. Estava acostumando com a localização exata da sala.
Quando entraram na sala, todos se sentaram em volta do palco circular de madeira. Harry encostou a porta e subiu ao centro do palco. Quando o costumeiro falatório inicial abrandou, Harry começou a discursar:
-Vocês já sabem o incidente que ocorreu com uma das pessoas que se reunia conosco, a Cho. Por isso, nesta noite, todos nós, repito, todos, saíremos juntos.
Draco levantou a mão, um pouco contrariado pelo gesto de gentileza dispensado a Harry:
-Qual será a função dessa reunião idiota? – perguntou, com desprezo. – Aliás, nem sei porque estou aqui, a Gina nem veio, e...
-Se quiser, sai sozinho, Draco – debochou Harry. – Mas vou lhe avisando uma coisa: lá fora está muito escuro.
Draco, que sentia um medo que Harry conhecia muito bem, engoliu em seco e pareceu murchar. Harry sorriu ao ver tal cena e respondeu:
-Essa reunião será bem simples. O tema que quero avaliar nesta noite é mudança de comportamento.
Todos pareceram estranhar. Os murmúrios reiniciaram e Harry interrompeu com um sinal.
-Cada ser humano possui uma característica única, que, geralmente, somente pessoas próximas conhecem...
Harry lembrou-se de Hermione, quando conversou com ela no corredor. Ele olhou para os pés. Hermione passou a mão nos cabelos.
-Existem pequenos gestos que uma pessoa faz, seja quando está inquieta, ou preocupada... Ou uma frase ou expressão que ela diga sempre... Como estamos tratando de um caso onde a pessoa está usando o corpo de outra, é praticamente impossível que essa pessoa saiba exatamente como era a outra.
Harry fitou cada um dos olhos. Todos impassíveis. Michael Evans era, sem dúvida, um ótimo ator. Capaz de esconder reações inesperadas. Mesmo se mordendo por dentro, era capaz de manter a mesma expressão de antes.
Quando passou o olhar por Hermione, Harry viu que os olhos da garota ainda estavam muito vermelhos e inchados. Sentia pena. Mas ainda não tinha coragem de desculpa-la pelo que ela tinha feito com os Weasley.
-Vamos ver qual o sistema que usaremos hoje... – falou ele, pensativo.
James Smith levantou a mão.
-Acho que não há nada de confidencial hoje – opinou o garoto. – Acho que cada um pode dizer um comportamento característico das pessoas presentes que conhece em voz alta.
Todos concordaram com a cabeça. Harry balançou a cabeça, em sinal de negação e apontou para James.
-Se falassem em voz alta, o assassino poderia pegar as informações de um ou de outro... Não, não...Aliás, não tem porque chamar um por um... Talvez alguém não tenha notado nada de estranho no comportamento do amigo... Por isso, quem tiver alguma coisa para contar, é só vir até aqui – Harry apontou para a mesa. Fez sinal para a cabisbaixa Hermione que, apesar dos últimos acontecimentos, iria novamente fazer as anotações. Mione pareceu hesitar por uns momentos, mas o seguiu, apanhando o pergaminho de anotações, a pena e o tinteiro.
Todos permaneceram sentados sobre o palco de madeira. Ninguém parecia querer manifestar-se, talvez por medo de comprometer-se. Harry, inquieto, aguardou mais alguns minutos. Nada. Por fim, pigarreou e disse:
-Acho que ninguém vai se candidatar a ajudar, pelo que estou vendo... Mas, eu compreendo. É o medo. Medo de falar que viu algum comportamento estranho no amigo e ele, caso for realmente o assassino, revidar... Sim, é compreensível... Bom, sendo assim, a reunião está cancelada.
Para desgosto de Harry, quando todos começavam a se levantar, a mão pálida de Draco foi levantada, em sinal de que tinha algo para dizer. Harry suspirou – não esperaria colaboração alguma de Draco – e disse:
-Você percebeu se algum de seus amigos tem se comportado de forma diferente de uns tempos pra cá? Então, por favor, venha até aqui...
Como esperava, Draco parecia estar num daqueles dias onde seu humor era praticamente insuportável.
-Então... – começou Malfoy, ao sentar-se na cadeira em frente à mesa. – Tenho que falar sobre a mudança de comportamento de um amigo que está aqui? Só o Wallace... Os outros claro que não andam comigo, olhe só pra eles...
Harry mordeu o lábio. Tinha que aturar cada coisa para que as reuniões continuassem...
-Então hoje você quer saber sobre mudança de comportamento? Não sei se posso dizer sobre isso... Conheço o Kevin faz poucos meses... Ele veio de outra escola, como você deve saber...
Harry acompanhava a voz seca de Draco com desânimo.
-Kevin... Kevin... A única coisa que eu sei que ele tem costume de fazer é falar mal das pessoas medíocres dessa escola... Tem muitas aqui, sabia?
-Sabia – respondeu Harry com malícia. – Estou conversando com uma agora.
Draco fechou a cara. Harry resolveu que não adiantava mais insistir.
-Não posso acreditar que você levantou a mão e veio até aqui só pra me provocar – falou Harry, com extremo desprezo. – Isso é um caso sério, Draco, se você não percebeu... Até logo, obrigado.
Draco, ainda emburrado, levantou-se e foi até Kevin. Harry levantou-se de sua cadeira e voltou ao centro do palco, acompanhado por Hermione, que nem utilizara o pergaminho.
-Conforme o combinado, sairemos juntos. Quem é da Sonserina, saia com quem é da Sonserina, e assim por diante, em grupos. Se alguém tinha alguma coisa para me dizer e, por medo, não quis, pode me procurar amanhã ou em qualquer outro dia. OK? Então... Vamos!
A porta foi aberta e os grupos foram saindo. O da Sonserina foi o primeiro a sair, formado por Draco, Kevin e Sheppard, que foi um pouco afastado dos outros dois, pois desconfiava deles.
Quando o da Corvinal ia saindo, Harry parou Padma Patil, a segurando pelo braço. A garota levou um susto e arregalou os olhos para Harry.
-Por favor, Padma, preciso trocar umas palavrinhas com você – falou ele, com a voz firme. – Depois acompanharemos você até o seu salão comunal, junto com a Parvati.
A garota lançou um olhar para a irmã gêmea. Parvati balançou a cabeça, como pedindo para que ela atendesse o pedido dele.
Padma entrou novamente na sala. Harry fechou a porta. Agora, lá dentro, só restavam ele, Hermione, Parvati e Padma.
Harry cruzou os braços. Ele e Padma estavam em cima do palco de madeira, um em frente do outro. Hermione observava astutamente. Embora chateado com a garota, Harry lhe pedira para que mantivesse a mão na varinha em todo o momento.
-Por que está me encarando desse jeito? – perguntou Padma, com a voz ligeiramente trêmula.
-Laurie não lhe contou ainda?
-Como assim, Laurie? – perguntou ela, tentando fingir uma calma, mas não conseguindo. – Aquela da Corvinal? Eu nem conheço aquela garota direito...
-Ah eu acho que conhece... E muito bem! Não minta para mim, Padma. Sei muito bem que Laurie fez uma chantagem. Ela desmentiu que tinha visto você com a faca na mão em troca de alguns galeões...
-Isso é um absurdo! – gritou, revoltada. – Não sei porque vim aqui de novo... Você sempre está me acusando...
-Não, na verdade você está se acusando! Pois, se não tivesse culpa no cartório, não teria necessidade alguma de aceitar a chantagem de Laurie e pagar para ela! Porque você desembolsaria galeões se a necessidade não fosse grande?
-Você não tem como provar que eu paguei para Laurie...
-Não tenho... Mas eu sei que pagou. Ela também ficou muito nervosa quando eu sugeri isso. Eu sei que você pagou. Ainda vou provar...
-Provar o que? Que eu matei o Dino, a Pansy, e todos os outros? Eu não matei ninguém!
-Então me explique! Reconheça que estava com uma faca na mão, andando pelos corredores! Estava ou não estava Padma?
Padma, que tremia muito, gritou e saiu rapidamente da sala. Parvati, apavorada, seguiu-a.
Harry respirou fundo. Secou com as mangas das vestes o suor que escorria de sua testa. Realmente perdera o controle.
Olhou para Hermione, que o olhava com assombro. Caminhou até a mesa e sentou-se nela.
-Não houve nenhuma anotação, não é? – perguntou, sem olhar para o rosto da amiga.
-Não – murmurou Mione, relutante. – As anotações continuam as mesmas da outra reunião, sem qualquer alteração...
-Pior que elas nem nos esperaram... Eu acredito na culpa de Padma, mas, mesmo assim, não posso ter certeza. É um perigo as duas andarem sozinhas por aí, e...
De repente, o sangue sumiu do rosto de Harry. Hermione, que olhava para o rosto do garoto, aproximou-se cautelosamente.
-Harry... O que houve? Você está bem?
A voz de Harry foi saindo lentamente. Olhou para o rosto de Hermione. Recitou:
-Serão dois coelhos com uma cajadada só...
Subitamente, Hermione absorveu o que o garoto queria dizer e sentiu o sangue gelar e a cor evaporar-se de sua face. Murmurou:
-Temos que ir logo, Harry...
Os dois se entreolharam e saíram em disparada da sala secreta, fechando a porta camuflada. Os dois puxaram as varinhas de dentro das vestes e deixaram em posição de ataque. Estavam preparados para tudo.
Caminhavam com passos rápidos, embora tomassem o maior cuidado para evitar qualquer ruído. As garotas não poderiam ter ido muito longe. Em seu íntimo, Harry torcia para que nada de ruim tivesse acontecido.
Com os ouvidos apurados, eles ouviam vozes, que, de onde estavam, não podiam entender o que diziam. Eram vozes tensas, que falavam sem parar...
Foram se aproximando, tentando não chamar atenção. Ao dobrarem um corredor, puderam ver duas sombras que vinham do outro corredor, iluminado por archotes. Finalmente, puderam ouvir exatamente cada palavra que as duas vozes igualmente tensas conversavam.
-...como se fosse fácil! – exclamava uma das duas, com a voz bastante estridente. Harry reconheceu na hora como a voz de Laurie Sawyer.
-Não, não posso aceitar! – falou a outra, inconfundivelmente a voz de Padma Patil. – Meus pais só mandam dinheiro de vez em quando! Você já está abusando...
-Quero mais! Ouviu bem? Mais! – a voz de Laurie assumiu um tom que Harry não conhecia.
-Impossível... Você acha que vai tirar minas de galeões através de mim?
-Eu tenho certeza. Você está nas minhas mãos Padma! Ou você quer que eu conte para o insosso do Potter que eu realmente vi você saindo da sala comunal com aquela faca enorme nas mãos?
-Não precisa contar nada para o insosso do Potter, Laurie – falou Harry, surgindo do outro corredor. – Ele já sabe.

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