Perda de controle



CAPÍTULO 27 - Perda de controle

Gina pisava no primeiro degrau da escadaria de mármore quando ouviu uma voz insistente lhe chamando. Estancou e suspirou. Era a voz de Draco.
Virou-se e encarou o garoto, que a olhava, sorrindo. Gina soltou mais um suspiro e foi ao encontro dele. Não precisava mais disfarçar que conversava com ele. Todos já sabiam.
Era a primeira vez que via Draco depois da confusão em Hogsmeade. Não tivera coragem de procura-lo depois do vexame – que pesou somente para o lado dela. Ele também não tinha feito questão de procura-la. Aguardou que ele viesse atrás dela para resolverem a situação.
-O que você quer Draco? – perguntou Gina, sem olha-lo nos olhos.
-Queria conversar com você – falou ele. – Saber como vai ficar nossa relação depois que tudo aconteceu...
-Que tudo aconteceu? – indagou Gina, olhando-o com a testa franzida. – Isso não lhe atingiu Draco. Só atingiu a mim, e a minha família. Você continua na mesma!
-Olha...
-Não tem como continuarmos juntos – disse ela, com sinceridade, interrompendo-o, segurando as lágrimas. – Não dá pra continuar. Nossas famílias são de lados opostos...
-Mas Gina! Eu não tenho culpa se meu pai...
-Eu sei que não tem. Eu confio em você! Mas os outros não. Tudo era para ficar somente entre nós. Mas agora virou fato conhecido por bruxos de diversos países!
Draco ouvia tudo em silêncio. Fizera parte do plano do flagrante. Seu romance com Gina era um plano para irritar Harry. Surpreendentemente, ele estava se sentindo mal ao ouvir Gina falar que estava tudo terminado. Ele sentiu-se surpreso ao descobrir que realmente começou a gostar dela.
-Não posso continuar a decepcionar a minha família por causa de você. Não posso... Eu já estou destruída, com a imagem arruinada. Mas não quero que minha família seja atingida.
-Gina, você não pode jogar tudo para o alto dessa forma – reclamou ele.
-Já estou jogando, Draco. Por favor, não me procure mais, esqueça que eu existo. Acabou.
Gina se afastou, antes que começasse a derramar as lágrimas que se acumulavam em seus olhos. Draco, parado aos pés da escadaria, sentiu seu estômago despencar. Pela primeira vez na vida, sentiu um sentimento bom, diferente de todos que já sentiu na vida. Só agora ele sentia que estava gostando de Gina, justamente no momento que a garota fugiu de suas mãos.
Ao se encaminhar para as masmorras, firmou-se no pensamento de que lutaria para ter Gina de volta. Ele, Draco Malfoy, correndo atrás de uma garota da Grifinória... Ele mesmo não podia acreditar. Mas, dessa vez, o sentimento falou mais alto do que o orgulho.

* * *

-Vocês entregaram o diário de Laurie para o Potter? – perguntou Jennifer, descontrolada. Ela, Christian e James estavam reunidos em um círculo, sentados em grandes almofadas, que ficavam dispostas no salão comunal da Corvinal. – Por que só me contaram agora?
-Porque sabíamos que você ia ficar assim – respondeu James prontamente. – Furiosa.
-Aliás, nem sei por que tanta raiva – falou Christian, perdendo a calma. – O que tem de mais? Achamos que era uma pista importante e levamos até ele.
-Mas vocês não podem ir entregando algo que pertence a uma garota dessa forma – reclamou Jennifer. – Qualquer coisa onde uma garota escreve contém certos assuntos sigilosos.
-Jennifer... Cai na real! – exclamou James. – Laurie está morta!
-Mesmo assim... Temos que respeitar a memória dela! Os segredos dela...
-Espera um pouco – disse James, intrigado. – Você está muito preocupada... Existia, por acaso, naquele caderno, algo que diga respeito ao seu nome?
Jennifer empalideceu.
-Claro que não. Eu... Só quero que todos respeitem minha amiga. Só isso. Mas que droga! Tudo agora é motivo para vocês desconfiarem!
Fechou a cara, emburrada. James e Christian continuaram conversando sobre as estranhas anotações de Laurie.
-Fico intrigado com a morte de Laurie. O pior é que acho que o dardo envenenado foi o mosquito que pensei que tinha passado perto do meu ouvido... Muito estranho. Fora as anotações dela, que também são muito intrigantes... Talvez ela soubesse quem é o assassino – opinou James. – Ela sabia como era o círculo que ele desenhava. Senão, por que desenharia aquilo?
-Tem razão – concordou Christian. – Também acho que...
Parou subitamente de falar, ao perceber que Padma Patil prestava atenção em cada palavra que eles diziam. A garota estava sentada numa mesa próxima, fingindo que fazia algum dever. Porém, disfarçava muito mal. Christian tinha certeza que toda a concentração da garota estava voltada para os dois.
James notou a interrupção do amigo e olhou para Padma.
-Entendi – sussurrou. – É melhor pararmos mesmo. Se ela souber que estamos desconfiados de algo, é capaz de irmos pro cemitério hoje mesmo.
-Tenho certeza que o Potter só está à espera de provas para incrimina-la – falou Christian, no mesmo sussurro. – Laurie deve ter recebido aquele dinheiro dela mesmo. Algo me diz que Harry já confirmou. Por isso que Padma anda tão estranha nos últimos dias.
-Que pena – disse James. – Não queria que ela fosse presa...
-Vai me dizer que ainda gosta dela? – perguntou Christian, abismado.
-Gosto – confessou James, após uns segundos de hesitação. – Acho que devia finalmente investir nela. Estou perdendo tempo.
-Você está louco? Investir em uma garota que é a principal suspeita dos crimes horríveis que estão acontecendo na escola? Que pode ter matado nossa amiga e poderá nos matar?
-Christian, eu preciso ficar com ela. Posso morrer em qualquer momento. Se for mesmo a Padma, ela pode pegar prisão perpétua. Se não investir agora, nunca mais terei chance alguma.
-Seu espírito de aventura às vezes me assusta – falou Christian, suspirando. – Sempre querendo enfrentar os perigos...
-A vida é curta – murmurou James. – E, na verdade, sempre estamos correndo riscos. Ao descer por uma escada, ao voar de vassoura. Parecem atividades simples, normais, mas que também significam riscos muito grandes.
-James, trata-se de uma assassina! – alertou Christian. – Quero dizer, nada foi provado, mas é praticamente óbvio.
-Às vezes o óbvio não é o correto – recitou James. – Sempre gostei dessa expressão, sabia? É uma regra quase sem exceções. Na maioria das vezes, o óbvio é o errado.
-Mas você mesmo disse que é uma regra quase sem exceções. Esse caso pode ser uma exceção. James, coloque na cabeça uma coisa: não existe outra explicação para uma garota sair andando por aí com uma faca, que volta suja de sangue, na noite de um crime. Só pode ser Padma!
-Só acredito quando for provado – disse James. – Por enquanto, não existe certeza de nada. Eu vou investir na Padma. E vou conseguir. Pode acreditar.
-Cuidado – alertou Christian novamente, quando o amigo já ia se levantando.
-Christian, meu amigo... A vida não tem graça se não corremos riscos – falou, ainda aos sussurros, para que Padma não ouvisse.
James foi até ao encontro da garota, que continuava no mesmo lugar fingindo que fazia seu dever. Ao ver que James se aproximava, molhou a pena no tinteiro e começou a escrever.
O garoto fitou o rosto pálido da jovem por um momento. Os lábios de Padma estavam secos, trêmulos. A pena também tremia. James sorriu e falou:
-Está muito ocupada?
Padma levantou os olhos, lentamente. Olhou para o garoto. Sem querer, derrubou o vidro de tinta, que se espatifou no chão, sujando o carpete.
-Calma – pediu James, colocando a mão sobre o braço dela. – Será que não posso tentar lhe acalmar?
Christian, que observava a cena sentado numa das almofadas, balançou discretamente a cabeça. James endoidara.

* * *

Harry e Rony observavam seus horários. Não podiam acreditar. Finalmente teriam a primeira aula de Poções com o novo professor.
-A Úrsula me contou que ele é um grande professor – falou Rony, quando caminhavam para as masmorras. – Muito melhor do que o Snape.
-Para ser melhor do que o Snape não precisava muito – disse Harry. – Aliás, que amizade intensa é essa que você está tendo com a Úrsula?
-Deixa de bobagem, Harry – riu Rony. – Ela é só uma amiga.
Nesse momento, Úrsula Hubbard estava parada no Saguão de Entrada. Observara os garotos se afastando e ficara parada no mesmo lugar, com o pensamento longe. Rogério tinha acabado de sussurrar em seu ouvido as palavras “Eu sei”. Aquele hálito quente nos seus ouvidos, falando as palavras que ela menos queria ouvir... Ele sabia... Ele sabia...
“Não posso perder Rony”, pensava a garota, alucinada, com as mãos sobre a testa que pingava suor. Sentiu o corpo balançar, enfraquecer, e perdeu os sentidos.
Só escuridão... Ela só via escuridão. Via a imagem de Rony se afastando, ao descobrir tudo que ela tinha feito.
“Eu te odeio, Úrsula. Você não presta”, dizia ele, com o olhar maldoso, deixando-a lá, largada, sem ninguém.
Escuridão novamente. Depois, outra imagem envolta em névoa. Hermione, indo ao encontro de Rony, os dois se beijando. Olham para ela e sorriem.
Mais uma vez a escuridão. Agora, ela ouve uma voz, que a chama:
-Úrsula! Acorde Úrsula! Úrsula!
Ela abre os olhos. A luz aparece. Sente as costas doloridas. Está deitada no chão. Levanta a cabeça e dá de cara com o rosto de Gina Weasley. Ao redor das duas, vários alunos, que observavam a cena, curiosos.
Úrsula passou a mão pela testa. Estava suando frio. Olhou para Gina e perguntou:
-O que houve?
-Você desmaiou – respondeu Gina, a olhando com preocupação. – Caiu de repente.
Úrsula olhou para os estudantes que as cercavam. No meio do círculo, bem de frente, ela avistou Hermione Granger, que a fitava com o olhar intrigado. E, para seu terror, Rogério Davies encontrava-se bem perto de Hermione. O garoto, ao ver que Úrsula olhava para ele, mexeu os lábios ameaçadoramente:
-Eu sei. Eu sei.
Úrsula levantou-se num impulso e, desnorteada, amparou-se em Gina para não cair.
-Por favor, Gina, eu... Quero subir. Estou meio tonta ainda. Deve ter sido a minha pressão que baixou. Isso acontece às vezes.
-Vamos – falou Gina. – Você não pode mesmo ir para as aulas hoje. Deve repousar. Pode deixar que falo com os professores.
Úrsula envolveu um dos braços no pescoço de Gina e as duas começaram a subir a escadaria. Quando Úrsula passou por Rogério, um sorriso irônico surgiu no rosto do rapaz. Um sorriso que quase fez Úrsula desmaiar de terror mais uma vez.
Enquanto subiam, Úrsula lembrou-se das visões que tivera durante o desmaio. Preocupada, não se conteve e perguntou para Gina:
-Eu... Falei algo durante o tempo em que estava desmaiada? Eu fiquei delirando?
-Você só repetia seguidamente “não, não, não”. Estava vendo alguma coisa durante o tempo em que ficou inconsciente?
-Claro que não – respondeu Úrsula, aliviada por não ter falado nada de comprometedor.
Aos poucos, ela ia recobrando o controle. Não tinha jeito. Rogério a estava pressionando demais. Precisaria se encontrar com ele e ouvir sua proposta. As informações preciosas que ele tinha eram uma bomba-relógio. Dele dependia a felicidade dela.
Teria que ouvi-lo. Após esse desmaio, ela não tinha mais dúvidas.

* * *

Harry e Rony entraram na sala de Poções. Ao colocarem os pés dentro da sala, já tiveram uma surpresa bastante agradável.
O ambiente funesto e escuro da sala dera lugar a um ambiente bem mais agradável. A iluminação continuava a mesma, porém as estantes haviam ganhado mais vida. Vidros de poções coloridas tomavam conta delas. Cada vidro com sua respectiva etiqueta. O quadro trazia um desenho de cores vivas da poção que eles teriam que preparar naquela aula. De forma surpreendente, o lugar parecia ter se iluminado, ganhado vida.
Sentaram-se e aguardaram o início da aula. O Professor Salles examinava uma poção borbulhante e azulada, num vidrinho que estava em sua mesa. Olhava atentamente através de óculos de aros grossos.
Quando tirou os olhos da poção, já se haviam passado uns três minutos. Olhou para a turma e levantou-se de sua cadeira. Encostou-se na mesa e, sorrindo, balançou as fitas dos seus pulsos – que agora eram douradas – e começou a falar:
-Como vão, alunos do sexto ano? Não me lembro de nenhum dos rostos que estão na minha frente... Claro! Só pode ser nossa primeira aula juntos!
A voz do professor era muito agradável, divertida. Os cabelos despenteados davam-lhe um ar jovem, como se ele fosse mais um dos alunos.
-Receio que vocês não tivessem uma boa imagem do outro professor de Poções... Pude observar nas aulas que dei para as outras classes. Quando me aproximava para ver a solução que eles haviam alcançado, muitos tremiam de medo. Tive um incidente sério no terceiro ano. Um aluno, no nervosismo, bateu em seu caldeirão, que entornou toda a poção numa garota... A menina inchou e virou um balão humano – garanto-lhes que não foi nada agradável.
Alguns alunos esboçaram sorrisos.
-Não sou nenhum monstro, longe disso – continuou o professor. – Gosto de ser amigo de cada um dos alunos meus. Claro que tudo tem seu limite. Serei amigo para aqueles que também forem, mas, para aqueles que geralmente gostam de atrapalhar as aulas – lançou um olhar para Malfoy – irei garantir ótimas punições, quero dizer, ótimas para mim. Para a pessoa não será nada bom – e olhou novamente para Draco.
Harry sentiu uma pontada de felicidade inchando seu peito – o sabor da vingança. O Professor Salles estava fazendo com Draco a mesma coisa que Snape fizera com Harry em sua primeira aula de Poções – lançando frases provocativas, ameaçando-o. Demorou, mas, finalmente, Harry podia desfrutar Draco na mesma situação que ele passara no primeiro ano.
-Hoje prepararemos uma poção que requer a máxima atenção de cada um de vocês. Requer cuidado no manejo dos ingredientes. Trata-se da Poção da Ilusão.
Todos franziram as sobrancelhas.
-Ah o nome é muito curioso – falou o Professor Salles, ao notar a expressão de surpresa dos alunos. – Ela tem esse nome por causa do poder que coloca em nossa mente. Ao beber a poção, o bruxo fica desnorteado, como se estivesse dopado. Têm visões de coisas irreais – e aí mora o perigo. Se for manejada por alguém maldoso, é capaz de causar as mais terríveis visões. Visões que conduzam, por exemplo, um bruxo até a beira de um precipício, ao ter a visão de uma bela moça, por exemplo. Grandes bruxos já caíram por causa dela. Em tempos de guerra, devemos tomar cuidado ao beber qualquer coisa nos campos de batalha. Ensinarei vocês também a verificarem como saber se o líquido é a Poção da Ilusão...
-Não tem como saber sem fazer algum experimento? – perguntou Harry, chocado.
-Não. O nome dela foi bem escolhido. A Poção da Ilusão é capaz de assumir a aparência do líquido que se quiser. Por exemplo.
O professor dirigiu-se até o armário e pegou dois frascos transparentes. Era suco de abóbora. Colocou-os sobre a mesa, depois perguntou aos alunos:
-Aqui estão dois vidros que contém suco de abóbora, certo?
Os estudantes permaneceram com um olhar de dúvida. Balançando os ombros, todos responderam afirmativamente.
-Errado – respondeu o professor. – Nem tudo o que parece ser é na realidade. Isso é uma lei do mundo da magia que vocês devem guardar consigo, principalmente nos tempos em que estamos vivendo. O conteúdo desses frascos parece ser suco de abóbora, mas um deles não é. Um deles é a Poção da Ilusão. Alguém, por acaso, sabe me dizer qual é?
Os alunos continuaram com o mesmo ar de dúvida, exceto Hermione, que havia levantado a mão.
-Por favor, Srta – pediu o professor.
-Para sabermos se uma substância é a Poção da Ilusão, temos que colocar a ponta do dedo no fundo do recipiente, concentrando todo o pensamento. Em poucos instantes, começará a surgir tons de uma leve tonalidade rosa.
-Muito bem! – elogiou o professor. – Depois você me diz o nome de sua casa. São dez pontos merecidos. Mas vale lembrar que muitos bruxos falharam na hora de fazer esse experimento. Se não tiver a concentração total, o líquido não muda de cor.
Simas levantou a mão, perguntando:
-Temos que manter a concentração. Mas o pensamento deve estar direcionado para o que?
-Coisas boas – suspirou o professor. – Pensamentos puros. Coisas boas que já aconteceram em sua vida. Coisas reais, capazes de quebrar a ilusão contida na poção. Outra grande lei do mundo da magia: tudo o que é do mal pode ser quebrado pelo bem. Um bruxo não é feito somente pela magia, e sim pela bondade de espírito que possui. Um bruxo de bom coração pode quebrar certas maldições, efeitos de poções terríveis, como essa pode ser em mãos erradas... Tudo o que é do mal pode ser quebrado pelo bem – citou novamente. – Continuando... Vale lembrar-lhes que a poção só oferece perigo se for preparada por alguém que queira fazer o mal. Afinal, quem escolhe a visão que a pessoa terá é quem a prepara. Tudo depende de um ingrediente.
O professor foi até uma de suas prateleiras e apanhou dois vidrinhos etiquetados.
-Ilusões para o bem: uma pétala de lírio. Ilusões para o mal: duas gotas de saliva de lagarto – falou, mostrando os vidros para a classe. – E, para escolher a forma líquida que a poção terá, bastam três gotas do líquido desejado. Essa que fiz, por exemplo, necessitou de três gotas de suco de abóbora... Bom, agora chega de conversa! Preparem seus caldeirões. Todos os ingredientes estão disponíveis – exceto a saliva de lagarto, é claro. Ninguém irá querer uma poção cheia de ilusões do mal, não é?
Todos começaram a preparar suas poções. Harry achou muito interessante e preparou com a máxima atenção. Quando colocou a pétala de lírio, finalizando, e jogou um pouco da poção num frasco, o Professor Salles voltou a falar, ao ver que todos já tinham terminado.
-Agora, coloquem a ponta do dedo no fundo do frasco e se concentrem na ilusão pura que ele deve conter.
Harry colocou o dedo na poção transparente. Fechou os olhos e tentou se esquecer de tudo o que acontecia ao redor. Imaginou algo que qualquer pessoa gostaria de imaginar... Um passeio por um campo ensolarado, rodeado de árvores, com as pessoas que gosta... Abriu os olhos. A poção ficou rosa e depois, rapidamente, voltou a ficar transparente.
-Isso... Vejo que a maioria conseguiu! – exclamou o professor. – Agora, escolham um dos líquidos que temos aqui. Suco de abóbora, cerveja amanteigada... E pinguem três gotas.
Harry colocou três gotas de cerveja amanteigada. Em cinco segundos a poção tomou a forma da cerveja. Harry sorriu. Aquilo era fascinante.
O sinal tocou, interrompendo a aula. Todos levaram as amostras até o professor.
-Gostei muito do resultado. Vocês foram muito bem...
Um vidro espatifou-se. Todos se sobressaltaram, olhando para trás. Draco Malfoy, pálido, estava sentado, olhando para os cacos. O Professor Salles sorriu.
-Esqueci de avisar que, se tentar colocar ilusões do mal na poção, após a utilização das pétalas, o vidro explode. Mas isso foi bom, serviu de demonstração. São dez pontos a menos para a... Sonserina, não é?
Harry lançou um olhar de desdém para Draco e saiu da sala. Rony, mais atrás, passou por Hermione e não pôde deixar de lançar uma ofensa:
-Não sei porque o seu vidro não explodiu... Garanto que você está cheia de pensamentos ruins!
Hermione baixou a cabeça e saiu da sala, desanimada.

* * *

Naquela tarde, Úrsula finalmente encontrou Rogério em um intervalo entre duas aulas e, desnorteada, totalmente em pânico, parou-o:
-Diga logo sua proposta! Pare de me atormentar... Eu não agüento mais...
Rogério sorriu, zombando dela.
-Se eu soubesse que descobrir os podres dos outros pudesse dar tanto resultado, teria entrado para esse ramo antes, sabia?
-Não enrole! Diga.
-Estou atrasado, querida Úrsula – respondeu ele, com tranqüilidade. – Infelizmente, agora não dá. Olhe, já que você não quer ser vista comigo, vamos marcar para depois do jantar. No quarto andar, pode ser?
Úrsula confirmou com a cabeça, ainda aterrorizada.
-Fique sossegada. Até lá, não contarei sua travessura para ninguém.

* * *

Úrsula não estava mais suportando a grande ameaça de Rogério Davies. Enquanto comia seu purê de batatas, no jantar, o garoto não parava de mexer os lábios ameaçadoramente, com o desdém estampado claramente:
-Eu sei... Eu sei...
Úrsula não parava de passar a mão trêmula sobre a testa, que ficara úmida de suor frio. Tomou um longo gole de suco. Estava à beira de um ataque...
Jennifer Yumi, que estava ao lado de Rogério, o olhou com curiosidade e perguntou:
-Ficou maluco? Está conversando com alguém em outra mesa por leitura labial?
Rogério tirou os olhos de Úrsula e olhou para Jennifer:
-Estou ameaçando uma certa pessoa.
-Ameaçando?
-Exatamente. Eu descobri que não foi a Hermione Granger quem deu aquela entrevista ao Profeta, aquela sobre a Weasley e o Malfoy, e sim outra pessoa que queria prejudica-la.
-Quem foi?
-Não posso contar mais, Jennifer. Quem sabe depois que eu receber minha grana...
-Cuidado. Isso é perigoso.
-Relaxa. Está tudo sob controle. Se ela não me pagar, ela se ferra.
Rogério voltou ao seu jantar, lançando, em alguns momentos, novos olhares para Úrsula. Sabia que ela iria aceitar. Ele podia ver o pânico estampado no rosto dela. Iria conseguir seus galeões!
Quando o Salão Principal começou a esvaziar, Rogério e Úrsula disfarçaram e permaneceram no mesmo lugar. Ao restarem apenas poucos alunos, os dois se levantaram no mesmo momento, embora afastados e sem se olharem.
Subiram a escadaria de mármore, acompanhando os outros alunos. No meio da escadaria, Rogério diminuiu a velocidade dos passos, deixando Úrsula ir em frente. Aguardou alguns instantes e foi até o quarto andar, olhando para todos os lados atentamente, para não ser seguido.
Úrsula o aguardava no patamar. Rogério a fitou por uns momentos, comentando:
-Estou satisfeito com o resultado... Consegui deixar você maluquinha! Fiquei sabendo que você desmaiou... Quando medo, Úrsula Hubbard! – ele gargalhou. – Aí não agüentou e quer ouvir minha proposta. Eu sabia que você não ia agüentar.
Úrsula fitava-o, com ódio.
-Vamos conversar por aqui mesmo?
-Sim – falou Úrsula, emburrada. – Se nos encontrarem aqui, poderemos dar uma desculpa. Se entrássemos em um corredor escuro, nos tornaríamos suspeitos dos assassinatos da escola.
-Ah aliás, esqueci de te perguntar... Você não tem nada a ver com os assassinatos, tem? É porque, depois do que você fez com a Hermione, acho que é capaz de tudo.
Úrsula deu um longo suspiro.
-Será que não podemos ir direto ao ponto? Ou você quer que o Filch nos pegue aqui?
-Calma! – pediu Rogério. – Filch deve estar bem longe daqui. Mas se você deseja isso, tudo bem. Vou dizer a minha proposta.
Úrsula deu outro suspiro, se preparando para o que iria ouvir.
-Seis mil galeões e um emprego para meu pai na loja Utensílios Hubbard.
-Seis mil galeões? – perguntou Úrsula, chocada, como se estivesse certificando-se do que tinha ouvido. – Você está louco? Como eu conseguirei tudo isso?
-Se vira – disse Rogério, rindo. – Peça pro seu pai mandar pelo correio.
-Ele nunca vai ter esse valor todo. A loja rende lucros, mas... Como explicarei pra ele que quero seis mil galeões de uma hora pra outra?
-Sua família é muito rica. Dê um jeito.
-Rogério, entenda! Seis mil... Meu pai nunca me daria tanto dinheiro assim! Olha, que tal mudarmos isso: o emprego pro seu pai eu consigo, até como gerente da filial em Paris. Mas... Seis mil... Que tal se eu pagasse aos poucos?
-Negativo – respondeu o garoto, friamente. – Não tente me enrolar, Úrsula. Não vou alterar minha proposta. Eu quero os seis mil galeões até o final de semana, ou seu amorzinho vai descobrir a verdadeira cobra que existe dentro de você.
Úrsula, apavorada, passava as mãos pelos cabelos dourados. Rogério aproximou-se dela e sussurrou, da maneira que ela mais odiava, próximo aos ouvidos:
-Aceita ou não?
Úrsula hesitou por uns instantes. Respirou fundo e respondeu:
-Não tem como, Rogério. Não tem.
O garoto se irritou e começou a provocar:
-Então, Rony saberá que você deu aquela entrevista em nome de Hermione. Vamos usar a imaginação: o que ele fará ao saber disso? Pense, Úrsula! Primeiro: ir falar um monte pra você. Segundo: cortar qualquer contato. E, conclusão: você nunca terá o Rony, ele te odiará para o resto de sua vida.
Os pensamentos de Úrsula rodopiaram. Novamente, na frente dela, ela via as imagens. Rony dizia “eu te odeio”, corria para os braços de Hermione...
-Você nunca o beijará.
Nas imagens, ela vê Rony beijando os lábios de Hermione... Eles se amam...
-Ele irá esnoba-la. Virará o rosto ao passar por você.
Úrsula sua frio. Seu corpo todo começa a tremer. Ela se apóia no corrimão. Sua respiração fica acelerada. Começa a caminhar de um lado ao outro.
As imagens rodopiam em sua mente. Rony indo embora... Nunca mais querendo vê-la.
-Eu sou o único que pode estragar todos os seus planos. Por isso, eu vou agora contar para ele tudo o que sei – falou Rogério, se preparando para sair. – Ele saberá de tudo, Úrsula. E é agora!
As imagens rodopiaram com mais força. Num impulso, Úrsula olhou com ódio para Rogério, em meio às imagens que surgiam em sua mente. Correu para ele com força e jogou todo o seu ímpeto em direção ao garoto. Com o baque, o corpo de Rogério passou por cima do corrimão e ele caiu no vazio. Não houve tempo sequer de tentar manter o equilíbrio. Um grito ficou sufocado em sua garganta enquanto caía rapidamente em direção à morte.

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