Romance mais do que público



CAPÍTULO 23 - Romance mais do que público

Os flashes das câmeras fotográficas focalizavam o olhar de pavor de Gina. A garota olhava para toda a multidão, que observava ela e Draco como culpados de algum ato horrendo.
-Pensamos ter escutado gritos de pavor – falou Olho-Tonto, o olho mágico olhando com desconfiança para o casal. – Será que vocês podem nos explicar por que pediram ajuda?
-Nós não pedimos – respondeu Gina, aturdida. – Eu... Não sei do que vocês estão falando... Não...
Gina driblou a multidão e saiu em disparada, com a cabeça abaixada, o rosto corado e as lágrimas começando a escorrer pelos olhos. A multidão, revoltada, gritava:
-Que brincadeira de mau gosto!
-Você não tem vergonha, garota?
-Você não presta, menina! Enganando a todos, deixando todos preocupados!
Gina desceu a ladeira, correndo com um esforço que não sabia de onde tirara, sem direção... O que seus pais iriam dizer quando saísse no jornal sua foto, aos beijos, com Draco Malfoy? O pai dele era um Comensal da Morte, inimigo dos membros da Ordem. Mas ela tinha certeza que, apesar do pai ser tão cruel, Draco era diferente. Ele era carinhoso com ela, a amava de verdade. Claro que ele já tinha sido muito arrogante, mas Gina sentia que ele havia mudado.
Mesmo assim, pensava Gina, os outros não sabiam dessa mudança. Os pais com certeza lhe mandariam um berrador, esbravejando a vergonha que era para os Weasley a filha sair no jornal, sendo pivô de um alvoroço em Hogsmeade, aos beijos com o filho de Lúcio Malfoy. Justo ela, que queria tanto que seu romance com Draco ficasse somente entre eles, via que o relacionamento se tornaria mais do que público. Sairia em diversos jornais, talvez até de outros países. Gina sentia uma fama terrível se aproximando dela, e sua reputação indo para o buraco.
Gina correu sem destino pela Hogsmeade deserta. Estava perdida... Não sabia o que fazer, para onde ir, como encarar as pessoas... Seria motivo de chacota pela escola inteira...
Parou ofegante na frente de uma loja, apoiando-se no vidro da vitrine. Olhou para trás, em meio ao mar de lágrimas que cobria seus olhos. Eles ainda não estavam voltando. Não queria vê-los. Não queria ver ninguém. Não tinha coragem para isso.
Fechou os olhos lacrimejantes e se jogou ao chão lentamente, encostada na vitrine. Queria imaginar que o mundo estava assim, vazio...
-Gina! Gina!
Não, o mundo não estava vazio... Ela ouviu a voz feminina lhe chamando. Reconheceu-a na hora como a doce voz de Úrsula Hubbard.
Abriu os olhos. Em meio à visão distorcida pelas lágrimas, divisou a figura de cabelos louros vindo até sua direção. Gina colocou as mãos sobre os olhos. Não tinha coragem de encarar ninguém.
-Gina! – a voz estava bem próxima.
Gina sentiu Úrsula tomando-lhe as mãos úmidas e as segurando. Gina abriu os olhos lentamente e olhou para a garota.
-Gina... Por favor – a voz de Úrsula era suplicante, amigável. – Fique calma.
Gina tirou forças para responder, com a voz fraca:
-Como ficarei calma, Úrsula? Eu estou... arruinada!
-Não diga isso.
-Estou sim... Sei que você quer me consolar, mas... é a verdade! Causei toda essa confusão... Mas eu não queria, Úrsula... Até agora não entendo como essa confusão foi criada!
-É difícil de entender – falou Úrsula. – Foi muito estranho. Alguém gritou pedindo ajuda, e o grito pareceu vir lá de cima. Foi por isso que criou todo esse alvoroço. Afinal, é esperado um ataque aos povoados a qualquer momento. Aí, chegamos lá em cima, e vemos vocês dois se beijando...
-Imagine os jornais amanhã! – exclamou Gina, apavorada. – Vão publicar que foi um alarme falso, e que, na verdade, no local só existiam duas pessoas se beijando. E ainda vão colocar as fotos do flagrante.
-Pelo menos não sabem seu nome – disse Úrsula. – Isso não melhora muito, mas ajuda. Seu nome não ficará tão sujo.
As duas ficaram em silêncio por alguns minutos. A multidão começava a descer a ladeira. Úrsula olhou novamente para Gina.
-Só lhe aviso uma coisa. Tome muito cuidado com algumas pessoas que se dizem ser suas “amigas”. Eu vi certa pessoa rindo de você, na hora do flagrante.
Gina arregalou os olhos, alarmada.
-Ah, eu nem devia estar falando isso... Desculpe-me, Gina, eu... Não quero causar brigas ou confusões...
-Não, Úrsula, agora você vai me contar!
-Esqueça... Só vou lhe avisar novamente: cuidado. Alguém que dizia ser sua amiga pode estar querendo ver você se dar mal. Fique atenta.
Gina levantou-se, limpando a poeira das vestes.
-Obrigado por tudo, Úrsula. Não sei o que seria de mim sem sua ajuda.
As duas abraçaram-se. Gina saiu em disparada, em direção a estrada que levava de volta ao castelo. Úrsula acompanhou-a com o olhar, depois se virou. A rotina de Hogsmeade voltava ao normal. Os vendedores voltavam para suas lojas, enquanto os estudantes voltavam às compras e a guarda à fazer a vigilância.
Olhou para Hermione, que, embora estivesse junto com Harry e Rony, não dava atenção para os dois. Somente para Harry. Úrsula saboreou a cena com triunfo.
“Agora já comecei a conquistar a irmã do meu amor. E vou coloca-la contra Hermione... Aliás, vou começar o próximo passo agora”.
Olhou ao redor, à procura de um dos repórteres que estavam em Hogsmeade. Avistou um logo em frente, fazendo anotações ao lado de um fotógrafo. Discretamente, tentando chamar a mínima atenção possível, Úrsula se encaminhou até o repórter e bateu o ombro contra o dele. Quando ele se virou, a garota mexeu os dedos, chamando-o até um beco. Ela entrou e o repórter veio logo atrás.
-O que é, alguma informação secreta? – perguntou o repórter.
-Sim, não deixa de ser – respondeu Úrsula, com a voz carregada de inocência. – É que... Eu conheço a garota que foi flagrada aos beijos lá na frente da Casa dos Gritos.
-Conhece? – perguntou, animado, o repórter, ajeitando a pena e o bloco de anotações. – Está disposta a dar um depoimento aos nossos jornais?
-Claro... Mas com uma condição. Sei que a matéria do flagrante estará em destaque na primeira página, caso não ocorra mais nenhuma outra notícia interessante... Por isso, quero que o nome dessa garota esteja em destaque na primeira página.
-Só isso? Tudo bem...
-Ótimo. Então. Posso começar?
-Sim. Mas, antes... Qual o nome da garota?
-Gina Weasley... Éramos muito amigas.
-E... O seu nome? Deseja ser identificada?
-Claro – respondeu Úrsula, sem pestanejar. – Sou Hermione Granger.

* * *

Kevin e Draco caminhavam por Hogsmeade, tranqüilamente, com as mãos nos bolsos.
-O plano foi perfeito – falou Kevin, com voz baixa. – Como aquela Úrsula é inteligente.
-Ela é muito inteligente mesmo – concordou Draco. – Mas sem o nosso apoio, o plano não teria dado certo.
-Eu não acho – sussurrou uma voz, de dentro da escuridão de um beco.
Draco e Kevin sobressaltaram-se, mas logo reconheceram a voz. Entraram no beco, e se depararam com Úrsula, que parecia afoita.
-Preciso de sua ajuda novamente, Kevin – pediu ela, apressada.
-Está vendo? Você precisa da gente mesmo – falou Draco. – Sem nós dois você...
-Depois você diz suas bobagens, Malfoy – vociferou Úrsula, depois se virando novamente para Kevin. – Vá rapidamente atrás da Granger, e diga qualquer coisa... Diz que quer passear com ela! Isso. Aí se afaste, fique longe da visão do Harry e do Rony.
-Mas porque...
-Depois eu explico. Mas preciso da Hermione afastada por cerca de dez, quinze minutos... Entendeu?
Kevin balançou a cabeça em sinal de afirmação, embora estivesse contrariado por não saber o motivo de sua tarefa. Saiu do beco rapidamente, deixando lá somente Úrsula e Draco.
-Afinal, pra que afastar a Granger? – perguntou Draco.
-Eu dei um depoimento falando o nome de Gina e um monte de baboseiras sobre ela e o flagrante, dizendo que era a Hermione.
-E afastando-a...
-Harry e Rony pensarão que foi ela quem deu o depoimento.
-Isso é pra afastar o Rony dela? Mas eles já não estão se falando tanto quanto antes.
-Não, Draco. Eles ainda se falam. Assim será mais garantido.
Úrsula assumiu um olhar ameaçador.
-Depois dessa, conquistarei Gina, que poderá me ajudar a conquistar seu irmão. E, provavelmente, o Rony não vai querer ver aquela boboca da Granger nem pintada de ouro. Eu posso até destruir aquela garota... Destruí-la... Mas o Rony vai ser meu.

* * *

Harry, Rony e Hermione saíam do Correio quando foram abordados por Kevin. O garoto abriu um sorriso para Hermione e cumprimentou a jovem.
-Será que você não tem nem um tempinho para o garoto que é louco por você? – perguntou, com a voz arrastada.
Imediatamente Hermione fingiu um sorriso e um olhar apaixonado.
-Claro que tenho – respondeu, oferecendo a mão para que Kevin a tomasse.
Kevin pegou na mão da garota. Hermione virou-se para Harry e Rony:
-Se quiserem esperar, eu não demorarei – avisou, e logo depois foi praticamente puxada para frente por um Kevin muito insistente.
Os dois caminharam e dobraram uma rua. Hermione receava que Kevin pedisse algo que ela não estava nem um pouco disposta a lhe dar: um beijo. Por enquanto, Kevin só segurava sua mão, mas era lógico que ele não iria querer ficar somente nisso.
Olharam algumas vitrines, entraram em algumas lojas. Passados alguns minutos, Kevin parou e ficou olhando para o rosto dela. Colocou a mão sobre a pele do rosto de Hermione. Ela estremeceu.
-Só falta uma coisa para tornar esse momento ainda mais especial – murmurou Kevin, e foi abaixando o rosto lentamente, em direção aos lábios de Hermione.
Ela fechou os olhos. Não podia fazer aquilo... Um beijo sem amor... Será que valia a pena tamanho esforço para que Kevin participasse das reuniões propostas por Harry? Ela até achava Kevin atraente, mas ela não conseguiria beijar alguém sem amor.
Ele estava cada vez mais perto. Não, não podia... Tinha que pensar em alguma coisa, e o mais rápido possível. Alguma coisa...
-Estudantes de Hogwarts! – anunciou uma voz forte, de um dos bruxos que faziam a guarda. – Hora de voltarem ao castelo! O horário permitido está finalizado.
Com o sobressalto pela voz, Kevin abriu os olhos e se afastou. Hermione não conseguiu conter um breve sorriso, enquanto o garoto encarava o chão, nervoso, passando a mão pelos cabelos.
-Fique calmo – pediu Hermione, com falsa piedade. – Outro dia conseguiremos ficar juntos... Mas agora temos que ir. Os vilarejos bruxos estão ameaçados, imagine durante a noite!
-O.k., vamos – reclamou Kevin, tentando segurar novamente a mão de Hermione, mas foi interrompido.
-Lamento, Kevin. Mas eu vou até o Harry e o Rony, eles estão me esperando... Você se importa?
Kevin a olhou, fingindo estar indignado com o que ela iria fazer. Suspirou, e por fim, disse:
-Não... Tudo bem. Eles são seus amigos. Nos vemos na escola.
E, antes que ele pedisse um beijo de despedida, Hermione já ia andando, apressada. Kevin virou-se e voltou para o beco onde Úrsula e Draco ainda o aguardavam.
-E então? Afastou a idiota? – perguntou Úrsula, com demasiada ansiedade.
-Sim. Bem longe do campo de visão do Potter e do Weasley. Agora dá para me explicar o que você pretende com tudo isso?
Úrsula explicou brevemente. Kevin sorriu ao constatar as intenções da garota, sentindo que tinha feito a coisa certa.
-E, pra melhorar ainda mais, ela quis ir até os amigos, sozinha. Ou seja, eles ficarão em dúvida... “Será que Hermione, no tempo em que deixou o Wallace, deu essa entrevista?”.
-E, com o nome dela no jornal e tudo, é claro que vão acreditar – falou Úrsula, irradiando alegria. – Ah eu não vejo a hora de as corujas entregarem os jornais amanhã! Será a entrevista mais interessante já publicada em todos os jornais! A tonta da Granger não perde por esperar...
Discretamente, Úrsula saiu primeiro do beco, juntando-se aos alunos que caminhavam em direção à estrada. Draco e Kevin saíram minutos depois, levando ainda uma bronca de Olho-Tonto Moody pela “lerdeza”.
Quando todos os alunos saíram, e as lojas começavam a baixar as vitrines devido ao horário estabelecido pelo Ministério da Magia, a guarda de Hogsmeade se reuniu em círculo no centro da rua Principal. Olho-Tonto Moody ficou ao centro, enquanto os outros, com as mãos sobre as varinhas, ouviam cada palavra com a máxima atenção.
-Temos que tomar cuidado com alarmes falsos como o ocorrido hoje – falou o bruxo, o olho mágico focalizando cada um dos guardas. – Além do pandemônio causado, Madame Burggis, da loja de fogos de artifício, queimou as partes e está irradiando labaredas de fogo a cada borrifada de gás.
Tonks abafou risadinhas.
-Ao ouvirem algum grito verifiquem discretamente do que se trata, sem causar alvoroço. Fiquem sempre alerta. Hogsmeade é o único povoado inteiramente bruxo da Grã-Bretanha. Não precisa ser muito inteligente para perceber qual será o próximo alvo depois de Allerton Kolen, em Londres.
-Mas o interesse de Você-Sabe-Quem não é uma guerra entre os dois mundos? – perguntou um guarda franzino. – O mágico e o não-mágico? Por que ele atacaria Hogsmeade? Até agora não entendo...
-Hogsmeade fica perto de Hogwarts. Ele tem interesses específicos na escola.
-Até agora não entendo! – repetiu o bruxo. – Não sei porque essa proteção que o Ministro estabeleceu... É por causa do Menino Que Sobreviveu?
-Também... Mas não só por isso. Hogwarts está acomodando um dos mais perigosos servos de Voldemort...
Um calafrio tomou conta dos bruxos do Ministério, que não tinham idéia do que Olho-Tonto estava falando.
-Um servo de Voldemort – adiantou-se uma bruxa gorda. – Como podem manter um servo dele dentro da escola?
-Não sabemos quem é... – respondeu Olho-Tonto, o olho mágico encarando a bruxa. – Ele tem uma face que não é dele. Sei que é difícil de entender... Mas saibam que ele é um perigo. Um servo muito perigoso.
-Ele sabe muitas Artes das Trevas? – perguntou a bruxa. – Esse é o perigo dele?
-Sabe um pouco... Mas isso não é o pior – o olho mágico pareceu arregalar-se. – Ele é dono de uma mente ágil, inteligente, capaz de enganar o mais sábio dos bruxos.
Olho-Tonto girou o olho mágico ameaçadoramente para o grupo que o rodeava.
-Fiquem atentos... E que essa história do servo só fique entre nós. Voldemort pode, e vai, nos atacar a qualquer momento.

* * *

A segunda-feira amanheceu com baixa temperatura, e fortes correntes de ar. Nos corredores da escola, porém, ninguém parecia se dar conta disso. As conversas corriam animadas, e o assunto principal era o flagrante imprevisível de Gina e Draco se beijando.
Na hora do café da manhã – onde a maioria dos estudantes mais conversavam sobre o flagrante do que comiam – as corujas chegaram, despejando nas mesas as correspondências respectivas a cada bruxo.
Hermione, que tomava um copo de suco de abóbora, derramou algumas gotas nas vestes, graças à coruja que trouxera sua correspondência e chegara com impacto.
Hermione apanhou seu exemplar do “Profeta Diário” e pagou. A coruja voou logo após receber as moedas. Como era de se esperar, a matéria de destaque era o mal-entendido em Hogsmeade.

“FALSO ALARME EM HOGSMEADE!”
Pensavam que era Você-Sabe-Quem, mas só se tratava de um casal apaixonado.


Ilustrando a matéria, uma enorme foto de Gina ao lado de Draco. Gina abaixava a cabeça, envergonhada, e Draco parecia aturdido, olhando para os lados em todo o momento.
Hermione cutucou Harry e Rony, mostrando o jornal.
-Vejam! Como era de se esperar, virou primeira página.
-E pensar que minha irmã está envolvida nisso tudo – suspirou Rony. –Não posso acreditar. A reputação dos Weasley está indo para o buraco. É um desgosto.
-Não foi pro buraco não – discordou Harry. – Gina só aparece na foto. O nome dela e o sobrenome não são conhecidos pelos repórteres.
Rony pareceu um pouco mais aliviado ao receber essa informação. Hermione pigarreou e começou a ler a matéria para os amigos ouvirem:

Na tarde de ontem, no único povoado bruxo da Grã-Bretanha, Hogsmeade, houve uma terrível confusão, que depois se descobriu ser no mínimo curiosa.
Eu, o repórter Steven Press, estava no povoado, já que é esperada, em qualquer momento, uma ação de Você-Sabe-Quem e seus seguidores. De repente, um grito de socorro, dizendo que estava em frente à Casa dos Gritos, uma casa mal-assombrada, que fica no ponto mais alto do povoado.
A guarda de Hogsmeade – um grupo de bruxos escolhidos a dedo pelo Ministério para fazer a patrulha das ruas do povoado – foi ajudar a pessoa que estava em perigo – não só eles como todos os estudantes e comerciantes, que foram movidos pela curiosidade.
Ao subirmos a ladeira e chegarmos à Casa dos Gritos, levamos uma surpresa: um casal de estudantes de Hogwarts estava agarrado junto à cerca, aos beijos, com a maior tranqüilidade. Levaram um baita susto – vejam as expressões na foto – e não souberam explicar se foi uma brincadeira de mau gosto.
Mas nós, do Profeta Diário, fomos atrás para trazer aos nossos leitores a notícia completa. Encontramos uma aluna de Hogwarts pronta a nos dar uma entrevista, que relatou, com detalhes, tudo o que aconteceu.
“Eu vi toda a confusão. Ouvi os gritos de socorro, mas logo percebi que se tratava de uma brincadeira. Afinal, reconheci a voz na hora. E confirmei minhas suposições na hora do flagrante. Era Gina Weasley…”.


-Não posso acreditar! – exclamou Rony, interrompendo, fechando o punho e dando um soco violento na mesa. – Quem foi a infeliz que deu essa entrevista?
-Deve estar escrito aqui – falou Harry. – Continue, Mione.
-Onde eu estava... Aqui! “Era Gina Weasley”, diz a aluna do sexto ano, Hermione Granger..." O quê? – sobressaltou-se Mione, jogando o jornal.
Harry e Rony olhavam para ela, boquiabertos. A cor do rosto de Rony esvaiu-se.
-Mione... Você fez isso? Como pôde... ?
Hermione olhava, pasma, de Harry, que estava sem palavras, para Rony, que a encarava com um olhar de extrema decepção.
-Eu sabia que você tinha brigado com a Gina, mas... Isso foi longe demais...
-Mas eu não... Rony acredite em mim. Harry, você também... Eu não dei essa entrevista! – falou Mione, trêmula, levantado-se da mesa.
-É o seu nome aqui, Mione – disse Harry, olhando novamente para a matéria, para ter certeza.
-Você não atingiu somente a Gina, Mione... – continuou Rony, ainda com uma expressão aturdida. – Você... Acabou com o sobrenome de toda a minha família.
-Eu, não...
-Como não, Mione? Seu nome está aqui! Agora, por sua causa, o sobrenome da minha família vai virar motivo de chacota pelos bruxos de todo o mundo!
-Como vocês podem acreditar nisso? – gritou Mione, começando a chorar. – Eu estive o tempo todo com vocês. Como poderia ter dado essa droga de entrevista?
-Você saiu por um momento, com o Kevin – falou Rony.
-Mas eu voltei logo em seguida!
-Como saber? Você voltou sem ele! – continuou Rony. – Você poderia muito bem ter dado essa entrevista no momento em que ele deixou você sozinha! Ou, quem sabe, você foi junto com ele dar essa entrevista, afinal, tanto você quanto ele não prestam!
Hermione continuou murmurando, com voz chorosa:
-Eu não fiz nada... Nada...
Rony voltou sua atenção para a matéria do jornal, que tremia em suas mãos. Continuou a ler, com a voz alta, para Harry ouvir.

“Hermione Granger contou-nos tudo sobre a jovem Weasley, cujo pai, Arthur Weasley, trabalha no Ministério da Magia, na seção de Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas.”

-Você ficou louca, Mione? Vai prejudicar meu pai por causa de uma briga com Gina! – falou Rony que, embora estivesse nervoso, não berrava, mas falava com o tom de voz normal. – Imagine, a filha de um dos funcionários do Ministério aos beijos com o filho de um fugitivo de Azkaban! Irão pensar que meu pai tem relações com os Malfoy... A minha família está arruinada. Até Gui e Carlinhos podem ser prejudicados!
Voltou sua atenção ao jornal, tentando conter as lágrimas que queriam sair.

-Segundo a Srta. Granger, Gina adora se divertir com o pânico dos outros, e não duvida nada que a garota tenha feito o pedido de socorro, para causar aquele alvoroço. “Ela deve até ter se divertido”, falou Hermione. “Estava lá, aos beijos, e ainda por cima causou essa tremenda confusão”.
Hermione ainda nos contou que está brigada com a jovem, mas que não tem intenção de prejudica-la. “Só achei que era bom que as pessoas soubessem a verdade. Sou uma pessoa partidária da verdade acima de tudo”


Rony largou o jornal. Olhou novamente para Hermione, sentindo um aperto forte no peito:
-Partidária da verdade! – falou ele, indignado. – Você sempre estraga tudo com essa sua mania de querer ser sempre a certinha. Mas será que não pensou aqui, no seu amigo? No que isso vai acarretar para eu e minha família?
-Rony, eu nunca daria uma entrevista dessas, eu...
-Adeus, Hermione – pegou o jornal e jogou-o na direção da garota. – Tome! Pegue esse lixo de entrevista. Pra mim, até essa porcaria de jornal vale mais do que você.
Rony levantou-se, chutando o banco de madeira, e saiu do Salão Principal. Gina, com os olhos vermelhos, e com um exemplar do Profeta na mão, acompanhou o irmão com o olhar e logo se levantou para ir atrás dele, não antes de ir até Hermione, que permanecia em pé, ao lado da mesa da Grifinória, chorando.
-Eu odeio você! – ralhou Gina. – Por que essas lágrimas? Arrependimento? Pois agora é tarde! Você já fez a besteira. Nunca mais olhe na minha cara, Hermione, nunca mais!
Gina deu as costas e saiu do Salão. Hermione sentou-se novamente, percebendo que metade do Salão Principal olhava para sua cara, alguns com desgosto.
Hermione virou-se para Harry, que ainda estava pasmo.
-Harry... – murmurou Mione, com a voz fraca. – Você... acredita em mim, não?
Lentamente, Harry suspirou e depois olhou para o rosto lacrimoso de Hermione.
-Desculpe, Mione, mas... Dessa vez você passou dos limites.
Harry levantou-se, deixando Hermione envolta em lágrimas, sozinha, na mesa da Grifinória. Ela não conseguia entender... O que seu nome fazia naquela matéria? Ela não podia compreender...
Na outra ponta da mesa, Úrsula Hubbard sentia tanta alegria que não sabia como esconder tamanha felicidade. Queria brindar com todos a derrota de Hermione e seu triunfo, que era só uma questão de tempo.

* * *

Quando Harry entrou na sala comunal, cabisbaixo pela atitude terrível e inesperada de Hermione, Rony e Gina discutiam.
-Não foi somente a atitude de Hermione que foi terrível, Gina! A sua também! – esbravejava o garoto.
-Mas se não fosse por causa da Hermione, nosso sobrenome não estaria publicado no Profeta e nem em outros três jornais!
-Eu sei. Mas pra mim, tanto você como Hermione são duas decepções – falou Rony, com sinceridade. – Ficar se esfregando com o Draco Malfoy! O que você tem na cabeça, Gina? Draco é o oposto da gente e de nossa família. Nossos pais são da Ordem da Fênix, o dele é Comensal! São lados rivais, Gina!
-Mas eu o amo!
-Ama nada! É fogo de palha! E por causa disso mais o depoimento da Hermione, nosso pai e nossos irmãos provavelmente vão perder o emprego e não conseguirão mais em lugar nenhum.
-Era para ser um romance secreto...
-Mas agora virou um romance público! Aliás, mais do que público Gina. Conhecido em todos os cantos do mundo bruxo! Agora vou subir para o meu dormitório. Quem sabe lá me livro de pessoas tão decepcionantes como você!
Rony subiu as escadas, batendo os pés com força no chão. Harry continuava parado, observando. Gina sentou-se numa poltrona e começou a chorar. Harry observava intrigado...
Por algum motivo, a descoberta do romance entre Draco e Gina o incomodara... Sentiu muita raiva ao flagrar os dois juntos, aos beijos, junto com a multidão... Por que se sentia assim? Não podia ser ciúme... Ou seria?
Antes que a garota levantasse os olhos, Harry passou calmamente pela sala comunal. Talvez o movimento do vento tivesse denunciado sua presença à garota, mas ela não levantou a cabeça. E, por um motivo desconhecido, ele desejou que ela o tivesse visto.

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