Somando dois mais dois



CAPÍTULO 29 - Somando dois mais dois

-Mal posso acreditar que tudo voltou a ser como era antes – suspirou Rony, quando ele, Harry e Hermione conversavam num canto da sala comunal, enrolados por cachecóis, devido à baixa temperatura daquela noite.
-Quase tudo – corrigiu-o Harry.
-É – riu Hermione, envergonhada. Apertou a mão de Rony, e ajeitou a cabeça, que estava sobre o pescoço do garoto. – Fico feliz por você ter... Compreendido o nosso sentimento, Harry.
-Eu não posso dizer que não fiquei surpreso – falou Harry, rindo. Realmente, quando Rony apareceu na sala de Feitiços e lhe deu a notícia, seu queixo quase foi ao chão. – Foi surpreendente – confessou. – Depois que Rony levou uma bronca da McGonagall e continuou a sorrir, já estranhei. Mas... Imaginar que o motivo de toda aquela felicidade era o namoro de vocês dois... Ah, isso eu nunca poderia... Pensei que seria um pedido de desculpas entre amigos. Mas estou feliz por vocês dois. E o que importava a minha opinião? O que importa é o que existe entre vocês.
-Nós sabemos disso, mas... É muito complicado – falou Rony. – Muita gente vai comentar sobre eu e a Hermione. Pelo fato de que éramos amigos e, de repente, estamos namorando! Sei lá... Vai ser muito estranho. Posso lhe assegurar que metade dos alunos que estão nesse salão comunal está falando sobre mim e a Hermione.
-Esqueça os outros, Rony – aconselhou Harry. – Se importem somente com o que existe entre vocês.
-É difícil, mas iremos tentar – disse Hermione, com um grande sorriso nos lábios, irradiando alegria.
-E pensar que até hoje de amanhã estávamos brigados – falou Rony, carinhosamente, para a bela garota que estava com a cabeça sobre ele, ansiando por amor e proteção.
-Tudo por causa daquela confusão com a entre...
Hermione foi interrompida por um baque forte vindo de uma das janelas do salão comunal. Todos se sobressaltaram. A calma foi restabelecida quando bicadas sucessivas foram dadas no vidro e, entre a ventania que assolava os terrenos da escola, eles divisaram uma sombra esbranquiçada, com as asas batendo em grande velocidade: era uma coruja branca.
-É a sua coruja, Harry – avisou Neville, que tinha se aproximado da janela e visto o animal que bicava o vidro.
Harry levantou-se de um pulo e dirigiu-se até a janela. Abriu o vidro e a coruja voou com violência para dentro da sala, quase trombando contra o rosto de Harry. Agitada, ela começou a voar para todos os lados. Harry fechou a janela rapidamente e começou a chamar pela coruja, que derrubava o tinteiro de uma quartanista com suas asas agitadas.
Harry chamou novamente, e a coruja finalmente o atendeu, indo pousar em seu braço. Harry sentiu as patas da coruja o pressionando. Olhou atentamente para ela, examinando, com os olhos, cada parte do corpo da coruja.
-O que houve, Edwiges? – indagou, como se o animal pudesse lhe responder.
Harry sentiu um pingo cair sobre seu braço. Era sangue. O apavoramento tomou conta do garoto. Harry correu até uma mesa próxima e deitou a coruja.
Havia um ferimento sobre o peito do animal, feito com algum objeto pontiagudo. Os olhos de Harry se arregalaram de pavor e de ódio ao ver as duas letras que estavam cortadas na coruja:
M.E.
Deu um soco na mesa, fazendo com que a coruja ficasse novamente em alerta. Deu um longo suspiro e começou a alisar as penas.
-Edwiges – murmurou com dó. Virou-se para Rony e Hermione, que observavam a cena, atônitos. – Vocês podem me ajudar?
Pediu para que os amigos apanhassem os materiais necessários para um simples curativo, enquanto ele ficava cuidando da coruja.
Harry a examinou com mais atenção. Os cortes eram mais profundos do que ele imaginava. Os curativos que pretendia fazer iriam estancar o sangue, mas não iriam ser muito eficientes.
Edwiges soltou um pio sufocado. Harry percebeu que havia um pedacinho de papel pardo para fora do bico da coruja. Com a mão, abriu o bico e apanhou o pequenino pedaço de papel.
Abriu-o e viu o desenho que estava pintado com tinta vermelha. Arregalou os olhos. Era uma cobra – bem mal feita, pois consistia num fio de tinta, onde, na extremidade, saía uma língua. Harry não conseguiu compreender o que aquilo significava.
Naquele instante, Rony e Hermione chegaram, depositando as coisas na mesa. Harry entregou o papel para Hermione, enquanto preparava o curativo em Edwiges.
-O que é isso, Harry? – perguntou a garota.
-Um bilhete. Deixado pelo assassino dentro do bico de Edwiges.
-O que? – perguntou a garota, chocada. – O assassino pegou a Edwiges?
-Pegou. E fez questão de deixar a marca dele. Olhe você mesma – e levantou a coruja, mostrando para a amiga as iniciais gravadas nela.
Hermione estava boquiaberta, assim como Rony.
-Foi muita crueldade – falou ela, quase sem voz. – Como ele pôde cortar a pobrezinha?
-Se ele já matou tanta gente, provavelmente teria muito sangue-frio em machucar uma coruja – murmurou Harry, tapando, nesse momento, os cortes.
Rony olhou ao redor, para ver se alguém os estava escutando. Ao constatar que o movimento na sala comunal já havia voltado ao normal, cochichou para Harry:
-O que significa essa cobra?
-Não faço a mínima idéia – falou Harry, com sinceridade, enquanto acariciava a coruja.
-Que tal... Sonserina? – sugeriu Rony, incerto.
-Não – respondeu Harry. – Por que ele nos mandaria um bilhete que quisesse dizer “Sonserina”?
-Talvez pode ser isso mesmo que ele quer nos dizer, Harry – falou Hermione. – E bem provável.
-Por que? – retrucou Harry, ainda não acreditando. – Se ele fosse nos mandar um bilhete, ou seria com alguma ameaça, ou com a indicação de que mais alguém estava para morrer...
-Exatamente – falou Hermione. – Harry, lembre-se dos enigmas. Um deles falava sobre algo do tipo como... “honrar sua casa”... Sonserina é uma das casas da escola.
Harry tinha o olhar perdido. Começou a balançar a cabeça lentamente, em sinal de afirmação.
-Sim... Era o do... Daquele Sonserino... O tal de Sheppard!
Harry, que sentia no peito uma ansiedade imensa de conseguir salvar a próxima vítima do criminoso, pegou Edwiges e começou a ir em direção ao buraco do retrato. Hermione e Rpny o acompanharam. Harry, para disfarçar, não deixou de falar em voz alta:
-Vamos! Temos que deixar Edwiges com o diretor, para que ele a passe para Hagrid. Ele saberá como cura-la.
Os três passaram pela passagem e, quando esta se fechou, começaram a correr em disparada. Harry tomava cuidado para que Edwiges não se machucasse. Quando dobraram dois corredores, Harry estancou, fazendo com que os amigos parassem também.
-Para onde estamos indo afinal? – perguntou ele, enquanto verificava o estado de Edwiges.
-É – falou Rony, com um olhar pensativo. – Não estou entendendo nada.
-É só usarmos um pouco as nossas cabeças – disse Hermione. – Vejam: ele desenhou uma cobra no papel, que indica a Sonserina, a casa citada no enigma feito para o Charles Sheppard. Como o enigma dizia que ele iria honrar o lar, ele só pode estar levando o coitado para matar perto da entrada para o salão comunal dele.
Harry compreendeu, mas Rony ainda tinha um olhar vago.
-Você ainda se lembra do caminho para ir até o salão comunal da Sonserina? – perguntou Hermione para Harry.
-Acho que sim – respondeu ele, pensativo. – Naquele dia em que eu e Rony fomos parar lá, estávamos muito nervosos... Mas pode ser que eu ainda consiga lembrar.
-Ótimo... Pelo menos que caminho vocês tomaram vocês se lembram, não é?
-Sim... – analisou Harry. – Por aqui – ele virou-se para o amigo. – Rony, se você discordar de alguma direção que eu tomar, nos avise.
Começaram a correr, Harry observando cada corredor atenciosamente. Rony não fez interferências à guia do amigo. Estavam demasiado ansiosos para chegarem logo. Era um risco estarem perambulando pela escola, mas queriam evitar que o assassino cometesse mais um crime.
Mal sabiam que o crime já havia sido cometido.

* * *

Em algum horário, durante à tarde, Charles Sheppard aproveitava um intervalo entre as aulas para apanhar um livro sobre centauros na biblioteca.
Chegou na biblioteca, com tanta pressa que quase levou um tombo. Madame Pince lançou-lhe um olhar de reprovação, e depois voltou seu olhar para o livro aberto que tinha nas mãos.
Charles entrou no meio das fileiras de estantes e começou a fazer sua pesquisa. Era terrível fazer uma pesquisa com pressa. “Parece que o número de livros dobrou!”, pensou, passando a mão pela testa.
Passava o dedo pelas várias lombadas de livros, à procura de um que tivesse um título que se relacionava aos centauros. Quando chegou em um com o título Investigando os Centauros, Charles ouviu um pequeno murmúrio sufocado.
-Madame Pince? – perguntou.
Não houve resposta. Charles balançou os ombros e sacudiu a cabeça, pensando que talvez fosse algo vindo de sua cabeça.
Voltou sua atenção para o livro. Leu as primeiras linhas da introdução, e logo viu que o livro tratava do assunto que precisava.
Crec.
O soalho rangeu. Charles arregalou os olhos. Sua mão deslizou pelo livro, derrubando-o no chão com um estrondo. Não podia ser... Mas aquele passo fora demasiado assustador.
Olhou lentamente para o canto da estante, onde aparecia, naquele momento, um sapato preto. Charles começou a movimentar o corpo para trás. Viu, com grande terror, a máscara se revelando aos poucos, como se tudo aquilo fosse um espetáculo macabro.
Charles sentiu a respiração ofegar e começou a correr. Passou em frente às estantes, ouvindo os passos virem apressados atrás dele. Virou em direção à saída e viu, em frente, Madame Pince, com os braços caídos pela mesa, inconsciente. Ao seu lado, havia um lenço – provavelmente banhado com alguma substância que, no momento em que é exalada, deixa a pessoa inconsciente.
Por mais que aquela cena tivesse lhe causado pânico, ele não podia parar de correr. Sua vida estava em jogo. Saiu da biblioteca e disparou pelo corredor.
-Socorro! – gritou ele. – Socorro!
Não era um lugar deserto. Sabia que logo alguém o ouviria e o salvaria daquele assassino. Quem seria? Ele supôs que se tratasse de Kevin ou Draco.
Parou de correr ao ouvir uma voz familiar vinda da ponta do corredor que tinha acabado de entrar.
-O que houve? – perguntou a pessoa, que acabara de aparecer.
Charles parou de correr e a fitou. Poderia confiar? Essa pessoa estava na lista de suspeitos.
-Eu perguntei o que houve – repetiu, com impaciência.
Charles olhou para trás. Quem estava à sua frente tinha acabado de chegar. Não poderia ser o assassino. E ele não podia ficar pensando por muito tempo.
Charles começou a caminhar em direção à pessoa. De qualquer forma, não havia como ela ser o assassino.
-Temos que correr – falou Charles, afobado, ao se aproximar. – Ele está vindo atrás de mim. Você também corre perigo.
A mão, com violência e uma força brutal, apertou o braço de Charles com força.
-Eu não corro perigo – falou uma voz que Charles não conhecia, mas que era de uma frieza de congelar a espinha. – Porque eu sou Michael Evans.
Os olhos de Charles se arregalaram quando, da boca da pessoa a sua frente, saía a Maldição Imperius.
O feitiço mergulhou Charles numa espécie de escuridão. Ele acordou bem depois, com tapas batendo no seu rosto. Abriu os olhos e olhou ao redor. Estava no corredor de entrada da sala comunal da Sonserina.
-Tu honrarás teu lar, e por causa dele morrerás – recitou a voz fria, num sussurro. – Que seja cumprido o enigma.
O assassino apontou a varinha para o chão e conjurou uma serpente. Charles tentou gritar, mas sua voz não saía. A cobra vinha deslizando pelo chão, o olhando ameaçadoramente com aqueles olhos finos e frios.
Charles recuou o mais que pôde contra a parede, mas a cobra deslizou sobre o seu corpo, enrolando-se e fazendo o garoto suar frio.
Charles estremeceu, e as presas venenosas da cobra cravaram-se contra a sua pele, provocando-lhe uma dor que ele nunca havia sentido antes.
-Doeu muito? – zombou a voz do assassino, enquanto o garoto se contorcia, sem poder falar. – Sinta o veneno correr por suas veias, contaminar o seu sangue, lhe trazer a morte.
O suor frio começou a escorrer pelo rosto de Charles, enquanto ele se debatia. O assassino apontou a varinha para a serpente e ela sumiu. Quando Michael Evans terminou de deixar suas marcas – numa parede do corredor – o garoto já estava morto, com os olhos arregalados e sem vida, com a língua caída pelo canto da boca e o rosto molhado pelo suor.
Michael Evans sorriu, observando a cena. E, para que sua satisfação fosse ainda maior, ele fazia questão de mandar um aviso para o abelhudo Harry Potter, para deixá-lo assustado. Ou melhor, faria com que Harry pensasse que ainda pudesse salvar a vida de Charles Sheppard. Atrairia Harry até ali, e teria o garoto em suas mãos.
Não poderia deixar o corpo de Charles ali, no meio do caminho. Queria que Harry o encontrasse. Para que o garoto fosse até lá, precisaria acreditar que Charles ainda estivesse vivo. Pegou os braços do corpo e o puxou até um canto do corredor. Aquele canto era um verdadeiro breu. Somente alguém que se aproximasse muito poderia enxergar o corpo. Deixou-o lá, aguardando a chegada de Harry Potter.
Enquanto caminhava em direção à sua próxima aula, ele teve a idéia de, no próximo intervalo, ir buscar Edwiges no corujal. Atacaria a coruja do garoto, atingindo-o mais profundamente. Harry Potter iria tentar bancar o herói, e viria diretamente para as suas garras.

* * *

Michael fizera tudo o que tinha planejado. E, por conta de tudo isso, Harry, Rony e Hermione estavam indo em direção à entrada do salão comunal da Sonserina, enfrentando o frio, a escuridão da noite e o perigo.
-Tem certeza que estamos seguindo pelo caminho certo? – perguntou Hermione, insegura, para Harry.
-Acho que sim – respondeu ele.
-Que resposta reconfortante – suspirou a garota.
Os três tremiam de frio a cada passo. Os corredores ali embaixo eram tomados por correntes de ar ainda mais geladas do que o resto do castelo.
Quando chegaram em frente a uma parede de pedra, Harry parou e a apontou.
-É aqui.
Rony concordou com a cabeça. Hermione olhou ao redor, à procura de algum sinal. Tateou pela parede, de cima a baixo. Deu alguns passos para o lado e continuou a tatear. Quando foi mais para o canto e colocou os dedos na superfície de pedra, Hermione sentiu um líquido pegajoso grudar-lhe nos dedos. Sentiu um nojo e começou a chacoalhar as mãos.
-O que houve? – perguntou Rony, se aproximando com Harry.
-Deve ser sangue – disse a garota, apavorada, ainda balançando as mãos para se livrar do líquido que sujara suas mãos.
Harry olhou atentamente para a mão de Hermione, aproximando-a do lugar mais claro do corredor.
-Não é sangue – concluiu ele. – É tinta preta. Veio daquele canto da parede?
Hermione confirmou, ainda assustada. Harry aproximou-se do local.
-Lumus! – e uma luz começou a irradiar da ponta da varinha, iluminando a parede de pedra, que trazia, à tinta preta, as iniciais M.E. e um círculo rodeado de desenhos, sem nenhum X ao centro.
Harry começou a examinar ao redor, com a varinha em punho.
-Onde será que está o corpo? – perguntou Harry, mais para si mesmo. Quando a varinha iluminou o canto do corredor, Harry encontrou o que procurava.
O corpo estava largado no chão, encostado junto à parede. Harry dirigiu o feixe de luz para o rosto do corpo. Era Charles Sheppard. Através da luz que irradiava da varinha, Harry pôde observar que a face ainda estava molhada devido à transpiração. Aparentemente não havia ferimento algum. Fora obra de algum veneno. Conforme o desenho enviado pelo próprio assassino, só podia ser veneno de cobra.
-Está morto – suspirou Harry, com a varinha ainda direcionada para o rosto de Charlie, mostrando para Rony e Hermione.
-Então... Não precisávamos ter vindo? – perguntou Hermione.
-Não – respondeu Harry. – O que não compreendo... É porque ele nos mandou aquele aviso pela Edwiges, se Charles já estava morto...
-Ah, vai ver ele queria nos assustar – opinou Rony, sacudindo os ombros.
-Ou nos atrair até aqui – falou Hermione, com a voz subitamente tensa.
Naquele instante, uma voz fria começou a recitar, num ritmo lento, arrastado:
-Eu invento enigmas
(Os três sentiram o sangue gelar)
Crio o meu jogo da morte
(A voz parecia cada vez mais próxima)
Aviso as vítimas
(Tentaram correr, mas seus pés pareciam estar congelados no chão por causa da tensão)
As vítimas vêm até mim.
Parou. O ar só não mergulhou em silêncio por causa da respiração acelerada que saía dos pulmões de cada um dos três. Fumaças saíam de suas narinas, devido ao frio.
Encolheram-se e olharam para trás. Não havia saída pelo outro lado. Estavam encurralados, sem qualquer perspectiva de fuga. Uma sombra negra, enorme, começava a se formar, vindo do corredor mais adiante – a única saída que eles tinham. A sombra ia avançando com calma, crescendo a cada passo.
Harry, Rony e Hermione sentiam o pavor crescendo. Estavam encurralados. Não havia como fugir dali.
E ele apareceu. Parou no final do corredor e ficou olhando para os três. Trajava vestes negras e a tradicional máscara. Harry imaginou que, por baixo daquela máscara, havia um sorriso nos lábios daquela pessoa. Ele havia conseguido encurralar as três pessoas que provavelmente fariam seus planos irem por água abaixo.
Com as mãos trêmulas, Harry ainda tinha a varinha nas mãos. Com esforço, fez menção de ergue-la, mas foi interrompido pela voz fria.
-Nem pense nisso – sibilou Michael Evans, apontando um enorme bastão em direção ao garoto. Da ponta do bastão prateado havia um crânio, cuja língua se assemelhava a de uma serpente. Da cabeça do crânio saía a ponta da varinha do assassino, apontada diretamente para os três.
Harry baixou a varinha.
-Nunca imaginei que vocês fossem cair nessa – falava Michael, naquele tom ameaçador, carregado de maldade. – É um truque meio ultrapassado.
Harry, Rony e Hermione não conseguiam tirar os olhos do crânio do bastão, que parecia estar cheio de poder único, como se não dependesse da varinha. Eles não conseguiam entender o porque dessa impressão.
-Por favor – falou Harry, quando suas cordas vocais finalmente pareceram voltar a funcionar. – Não nos mate...
-Pra falar a verdade, lamento muito ter que fugir dos enigmas que criei, mas... Vocês estão dando muito trabalho pra mim, ah como estão... Tenho que eliminar vocês de uma vez, para que meu plano seja concretizado.
-Que plano é esse? – perguntou Hermione, subitamente com raiva. – Por que... Justamente nós?
O assassino riu, fazendo os três se encolherem novamente.
-Pelo que vejo, a investigação comandada por vocês não está surtindo efeito – debochou. – Não acredito que nem isso você descobriu, Potter...
-NÃO! – gritou Harry. – Mas irei descobrir.
-Para que gritar? Por acaso é pra chamar a atenção de alguém? Posso garantir-lhes que não será possível... A entrada para o salão comunal da Sonserina tem uma barreira acústica particularmente interessante... Nenhum som externo entra, nenhum interno sai...
-Não é pra chamar a atenção de ninguém – rebateu Harry. – Só para lhe garantir que irei descobrir como você selecionou suas vítimas e, principalmente, qual o corpo que você está agora.
Michael riu novamente.
-E quem disse que vocês sairão vivos daqui? – perguntou ele, ainda mais ameaçador. – Vocês vão morrer aqui mesmo. É a hora do show...
-Espere! – gritou Harry, sobressaltando até os amigos. – Não quero morrer sem saber quem está por trás da máscara.
Novo momento de silêncio. O assassino sacudiu a cabeça.
-Você acha que eu vou revelar minha identidade? – perguntou. – Nem pensar.
-Por que? Tem medo de que eu, o Rony e a Hermione fujam, não é? Não posso acreditar... Pensei que Michael Evans tivesse mais confiança em si mesmo...
Michael bateu o bastão no chão, provocando um forte ruído. Harry estremeceu.
-Não me provoque, Harry Potter! – vociferou ele, levantando o bastão novamente. – Olhe para o passado... É tão simples. Você é que não serve pra nada. É um verdadeiro pateta.
O crânio da ponta do bastão brilhava na direção dos três.
-Não tenho culpa se você, Harry, não soube retroceder no passado... Não encontrou a resposta, nem nunca encontrará.
Rony fechou os olhos. Harry e Hermione não tiravam os olhos do crânio ameaçador.
-Avada Kedavra!
Harry e Hermione jogaram-se no chão, puxando Rony junto. O raio de luz verde passou por cima da cabeça de Rony.
-Ava...
Harry puxou a perna do assassino, fazendo com que ele perdesse o equilíbrio e tombasse no chão, derrubando o bastão. Hermione correu até o objeto e o pegou, antes que tocasse o chão. Rony estava estático, ainda esparramado no solo de pedra.
O assassino se levantou num impulso, mas não pôde completar o movimento, pois seu próprio bastão estava seguro nas mãos de Hermione, e Harry segurava a varinha diretamente para seu rosto.
-Viu como o jogo vira ás vezes? – zombou Harry. – Agora quem está no comando somos nós três.
Rony limpou as vestes e se apoiou na parede para se levantar. Hermione olhava para o crânio prateado do bastão com uma curiosidade evidente.
-Você está sem saída agora – falou Harry, com o ódio pontuado em cada palavra. – Agora tire essa máscara.
O assassino olhou para cada um dos rostos. Não havia escapatória. Como Harry mesmo disse, o jogo tinha virado; agora, quem estava encurralado era ele.
-Ou tira a máscara ou eu não me responsabilizo pelos meus atos – ameaçou o garoto.
-Harry... – murmurou Hermione às suas costas.
-Espere um pouco – respondeu Harry, sem olhar para trás.
-HARRY! – gritou Hermione, desesperada. – O bastão.
-Hermione, dá pra esperar um pouco, e... – Harry forçou a vista. Um brilho prateado vinha de algum lugar do corredor e iluminava a parede em frente. – Que brilho é esse? Apaga isso. Está ofuscando meu olhar.
-É o bastão! – gritou a garota.
Harry deu passos vacilantes para trás. O brilho era muito forte. O assassino também tapava o rosto. Harry não se conteve e olhou para trás.
O brilho irradiava dos dois olhos do crânio. Rony também escondeu os olhos com a mão, assim como Hermione, que tapava os olhos com uma mão e, com a outra, ainda segurava o bastão.
O brilho diminuiu um pouco e uma forma fantasmagórica começou a sair pelos olhos do crânio. Era disforme, mas um rosto parecia estar começando a surgir. Harry viu duas mãos se apoiando nos olhos do crânio, como se quisesse sair lá de dentro e não conseguisse.
-O passado... Olhem para o passado...
A voz era jovem, viva.
-A chave para a resposta está... Perto de vocês... Bem perto... Minha...
-Cale a boca! – gritou Evans, pegando o bastão da mão de Hermione, que nem teve tempo de impedir, pois estava quase hipnotizada pelo que tinha acabado de ver.
O fantasma entrou novamente dentro dos olhos do crânio e a luz forte apagou-se, fazendo com que o corredor retornasse à sua fraca luminosidade.
Harry, ainda boquiaberto, virou-se novamente para o assassino com a varinha em punho. Porém, para sua surpresa, ele havia sumido. Tinha escapado após pegar o bastão, aproveitando os últimos raios de luz.
Harry voltou-se para os amigos. A boca de Hermione ainda estava aberta devido ao susto, e Rony estava colado à parede, pálido.
-O que... foi aquilo? – perguntou Rony.
-Eu não sei – respondeu Harry, com a voz fraca. – Parece que saiu de dentro do bastão.
-E saiu – falou Hermione, tensa. – Eu vi tudo... Como aconteceu...
-Como foi? – perguntou Harry, olhando para os lados, certificando-se de que o assassino tinha mesmo ido embora.
-Eu vi uma luz prateada surgir dentro dos olhos do crânio – murmurava a garota. – De repente, a luz começou a sair. E, de repente, irradiou com uma força muito grande, e... Aquela coisa saiu de dentro deles.
-Fique calma, Mione – pediu ele. – Agora... Vamos voltar para o salão comunal, está bem?
-Vamos – respondeu Rony rapidamente.
Com cuidado, os três voltaram para o salão comunal da Grifinória.
Quando Harry foi se deitar, só conseguia pensar no rosto disforme que saíra do bastão e quisera-lhes avisar alguma coisa. A resposta estava no passado... Aquela coisa só pôde dizer o que o assassino já havia dito. Mas queria dizer mais. Queria ajuda-los.
Olhem para o passado... A chave... Perto... Bem perto...
As palavras dançavam na mente de Harry. No passado... No passado... Bem perto de vocês...

* * *

Úrsula estava próxima à janela do dormitório, encostada ao vidro. Sua respiração o embaçava. Do lado de fora, flocos de neve caíam num ritmo lento. Embora os olhos da garota estivessem voltados para os terrenos da escola, ela tinha a mente voltada para bem longe.
Rony e Hermione.
Ela não podia acreditar. Como Rony perdoara a garota, sendo que pensava ser ela a autora da entrevista ao Profeta Diário?
Úrsula esmurrou o vidro da janela. Fizera de tudo para evitar que aquilo acontecesse. Ao se livrar de Rogério, ela tivera certeza de que nada a impediria de concretizar seu desejo de conquistar Rony.
Rony... Rony...
Como ele pôde fazer isso? Ela ia ajudar a família dele... Havia oferecido emprego, e já até tinha escrito para o pai, pedindo que empregasse o Sr. Weasley.
O beijo...
Úrsula esmurrou o parapeito da janela. Sua mão foi ferida, mas ela nem se importou. A única dor que sentia era no peito. Estava quase sufocando.
Através dos flocos de neve a cena se repetia.
Rony e Hermione se beijando, apaixonados... Ela chegando na hora. Estava atrás dele, e lhe disseram que ele estava por ali. Esperava encontra-lo sorridente, dando-lhe um abraço, talvez o tão esperado e aguardado beijo... Mas não... Os lábios que ela desejava estavam encostados nos da pessoa que ela mais odiava.
Rony e Hermione aos beijos...
Aquilo a atingira como a pontada de uma faca. Olhando para a mão roxa devido ao murro no parapeito, Úrsula sentiu mais uma vez vontade de destruir Hermione Granger.
Rony e Hermione estavam juntos...
Mas isso não significava que era para sempre. Ela ainda tinha chances de vencer. E a batalha ainda não estava perdida.
Ela lutaria até o fim. Nem que tivesse que apelar para os meios mais terríveis, mas ela teria Rony Weasley em suas mãos, e Hermione Granger bem longe.

* * *

Harry, Rony e Hermione ainda estavam tensos quando acordaram. Os três saíam da sala comunal naquele instante, e Rony ia contando os pesadelos que tivera durante a noite.
-Terríveis – resumiu o garoto. – Sonhei com aquele bastão horrível... De repente... aquela coisa... aquele fantasma... Ah, seja lá o que for... Então veio para cima de mim. Nossa! Acordei com o rosto molhado de suor. Foi terrível.
Hermione, que estava de mãos dadas com o namorado, acariciou o rosto do garoto com a outra mão, consolando-o.
-Você pensou sobre o que aconteceu, Harry? – perguntou Mione.
-Ficou claro que queria nos dizer alguma coisa... E para nos ajudar – respondeu Harry, coçando o queixo. – O que é curioso é como algo que pertença ao assassino possa querer nos ajudar?
Os três pensaram no assunto por uns momentos.
O café transcorreu normalmente. Rony e Hermione num clima de paixão e felicidade.
-É tão bom ter você assim, pertinho – suspirou Hermione.
-Também adoro ficar perto de você... – retribuiu Rony, corando.
-Rony – pediu Mione, endireitando-se. – Eu sei que somos tímidos demais, e... Temos vergonha de nos beijarmos na frente dos outros, mas... Preciso que me beije agora.
-Por que? – perguntou Rony, aturdido.
-Não sei, eu... Sinto que preciso aproveitar o tempo que tenho com você...
-Mas nós teremos todo o tempo do mundo, Mione. Nós vamos ficar juntos para sempre. Pode ter certeza.
-Mas é que... Meu coração acordou buscando por você. Com urgência... Sabe...
-Mione...
Ela o beijou. Os dois sentiram um pouco de vergonha, mas Hermione não sabia de onde vinha esse impulso. Ela sentia que precisava ficar perto de Rony. Precisava sentir a boca dele, os braços a envolvendo.
O sinal tocou e os lábios se soltaram. Mione sentiu uma pontada de tristeza, como se os dois nunca mais fossem voltar a se beijar, a se tocar...
Os dois se levantaram, juntamente com Harry – que olhava Gina Weasley saindo do Salão Principal. O trio se separou no Saguão. Rony e Harry iriam para Adivinhação, enquanto Mione iria para a aula de Aritmancia.
-Até logo – despediu-se Rony.
Mione sentiu uma nova angústia quando seus dedos se separaram dos de Rony. Afastou-se olhando para trás. Por que estava assim?
Rony estranhou o comportamento da namorada, mas balançou os ombros e começou a caminhar junto com Harry. Iam adentrando um corredor quando Úrsula Hubbard apareceu, dando pulos de alegria.
-Oi, Rony – cumprimentou a garota, entusiasmada. – Como vai?
-Muito bem – respondeu Rony.
Harry continuou a caminhar, deixando Rony conversando com Úrsula.

* * *

Mione conferia seu material enquanto caminhava. Todos os livros estavam lá, exceto o que havia pegado na biblioteca, que trazia um estudo avançado sobre Aritmancia.
-Ótimo – resmungou. – Deve ter ficado com o Rony.
Voltou-se e começou a caminhar na direção oposta, retornando ao Saguão de Entrada, à procura do namorado.

* * *

“Ainda bem que o otário do Potter nos deixou sozinhos. Finalmente posso conversar a sós com o Rony”, pensava Úrsula, enquanto conversava com o garoto que tanto amava.
-Soube que você e a Hermione estão juntos – falou Úrsula tomando o cuidado para não se tornar indiscreta.
-Sim, estamos. Nossa, estou muito feliz.
“Será que você não percebe que a única garota capaz de te amar de verdade sou eu?”.
-Estou precisando novamente de ajuda em um outro trabalho... Será que você poderia me ajudar? Claro, se nem você e a Hermione se importarem...
-Não, Mione não vai ligar... Ajudarei sim.
Hermione saiu do corredor e viu os dois conversando no Saguão. Os cabelos loiros e cacheados eram inconfundíveis. Úrsula Hubbard.
Hermione fez menção de prosseguir, mas estancou num repente. Ela estivera durante uns dias pensando que Úrsula parecia estar envolvida em tudo o que acontecia. Não entendia o por que até esse momento. Mas...
“Úrsula Hubbard, que é minha amiga de verdade, me aconselhou a partir para outra, e é isso que eu vou fazer! Era o mesmo caso. O menino não ligava pra ela, então ela partiu pra outra e encontrou um loirinho que a amava de verdade! E ela foi feliz com ele! Estou partindo pra outra, Mione, e vou atrás de Draco”.
Gina havia dito isso para ela quando ela alertou-a sobre o romance com o Draco. Úrsula havia feito esse conselho poucos dias antes de Draco paquerar Gina.
“Úrsula disse que achava que eu e você formávamos um belo casal...”, dissera Harry, no dia da morte de Miss Reynolds. “Imagine só! Então, eu acho que essa mania de aconselhar é da própria personalidade dela! Ela é tão meiga que quer ver a felicidade de todo mundo”.
“É um ataque! Eu ouvi gritos! Só podem ser os bruxos das trevas atacando!”. Foi Úrsula quem deu o alerta para Olho-Tonto Moody de que um ataque estava ocorrendo em Hogsmeade, no dia do flagrante em Draco e Gina.
“Eu... Sinto muito. Se quiser, eu conseguirei emprego para todos da sua família. Meu pai tem uma loja no Beco Diagonal, ele pode empregar o seu pai e seus irmãos... Eu vou ajudar vocês, não se preocupe”, falou Úrsula para Gina, no dia em que a garota recebera um berrador da mãe, dizendo que sua família estava arruinada.
Ela não entendia porque tudo parecia envolver Úrsula, Draco e Kevin. As frases ecoavam em seus ouvidos rapidamente. As engrenagens do seu cérebro se moviam, juntando cada fato ao outro, montando o quebra cabeça, somando “dois mais dois”.
Observando a cena entre seu namorado e a garota, o motivo de todas aquelas armações ecoou em sua mente com um estalo.
“RONY!”.

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