Azkaban



CAPÍTULO 36 - Azkaban


Quando Rony entrou na ala hospitalar completamente pálido, Harry percebeu que alguma coisa havia ocorrido.


                A primeira possibilidade que passou pela cabeça dele era de que o time da Grifinória perdera o jogo de quadribol. Afastou a possibilidade. Era muito cedo. Só se Draco fora demasiado rápido e apanhou o pomo de ouro nos primeiros minutos de jogo.


                Rony olhou para Harry com os olhos arregalados. Ao abrir a boca, apenas murmurou:


                -Balaços... loucos... sangue... estaca... garota japonesa... horrível... sangue... muito sangue...


                -Rony, por favor – pediu Harry, recostando no espaldar da cama. – Se acalme! Conte-me tudo com calma. Que história é essa de sangue, balaços, garota japonesa...?


                -É difícil de se acalmar, porque... Foi terrível.


                -Foi... outro assassinato? – perguntou Harry, sentindo a garganta seca.


                -Sim... Na frente de toda a escola, Harry! Na hora em que o jogo iria começar... Nossa, todos os professores, até Dumbledore, estavam lá. Foi no meio do estádio, Harry!


                -Como foi? Ele utilizou os balaços?


                Rony contou tudo para Harry, nos mínimos detalhes.


                -...O que mais me impressionou foi a velocidade dos balaços. Velozes, e furiosos! Avançavam com fúria para Jennifer, a atacavam, depois já faziam a volta para atacar de novo... nossa, saía sangue por todo o lado...


                Rony sentiu o estômago embrulhar novamente ao lembrar... O sangue vermelho e pegajoso saindo pela boca da garota... Os dentes caindo... A estaca fincada no corpo... Poças e mais poças de sangue... O barulho do crânio sendo atingido com fúria pelos balaços furiosos...


                -Só podiam ser balaços errantes – falou Harry. – Que miravam, como você mesmo disse, somente em Jennifer. Assim como Dobby enfeitiçou um para me atingir no segundo ano, Michael Evans fez com esses dois para atingir Jennifer.


                Rony apenas suspirou. Apanhou o copo com água que havia ao lado da cama de Harry e sorveu grandes goles, tentando se livrar do enjôo.


                -O que é de se admirar, é por que matar Jennifer na frente da escola inteira?


                Harry e Rony se sobressaltaram quando a voz de Gina soou em seus ouvidos. Não haviam notado que a garota estava com os olhos abertos.


                -Por que matar na frente de todos, sendo que ele dificilmente faz isso? Tudo bem, Laurie entrou no Salão Principal morrendo, eu lembro. Mas... Ninguém nunca foi realmente assassinado na frente da escola inteira... Só Jennifer!


                Harry e Rony se entreolharam, analisando o pensamento de Gina.


                -Realmente... – concordou Harry.


                -Por que ele quis chamar a atenção da escola inteira? – continuou Gina. – Deve ter algum motivo especial para fazer isso. Afinal, como você falou, Rony, ela já estava com a estaca enfiada no corpo. Iria morrer de qualquer jeito. Mas não. Ele preferiu surra-la com os balaços no meio do estádio lotado, na frente de todos da escola!


                -O intervalo de tempo entre as mortes também é de assustar – falou Harry. – Ele matou Parvati ontem, tentou matar eu e Gina depois, e, no dia seguinte, matou Jennifer!


                -Por que tanta pressa? – indagou Rony. – É verdade, nunca ocorreram mortes tão seguidas...


                -Talvez ele quer acabar logo com tudo – sugeriu Gina.


                -Espere um pouco... Vocês acham que ele tem prazo para matar? – perguntou Rony, desacreditando.


                -O interessante é que a pressa começou só agora – continuou a garota. – Por que matar tão rápido a partir de agora?


                Os três ficaram em silêncio, entreolhando-se. Não podiam compreender. A única coisa que compreendiam era que o perigo estava ainda maior. Se a pressa de Michael para acabar logo com tudo fosse confirmada, mortes sucessivas iriam acontecer.


                -Ele queimou a nossa sala secreta – sugeriu Rony, coçando o queixo. – Talvez tenha ficado furioso com a nossa descoberta.


                -Falando nisso, você salvou alguma coisa? – perguntou Gina, olhando para Harry.


                -Sim. As minhas anotações foram salvas – falou Harry, sorrindo. – Assim como alguns outros papéis sobre o grupo. Guardei nas minhas vestes – ele colocou a mão em um dos bolsos e puxou os papéis, passando-os, em seguida, para Gina.


                -E as nossas varinhas? – perguntou a garota.


                -Não sei... – respondeu Harry. – Não consigo me recordar de ter largado a minha varinha... De alguma forma, ele conseguiu pegar.


                Rony suspirou, mudando de assunto.


                -E a Mione? Como será que ela está?


                -Não sei... – disse Harry, triste. – Ninguém nos informa sobre nada... Deve estar péssima, provavelmente. Azkaban, pelo que dizem, deve ser infernal. Terrível. Mesmo sem os dementadores, ainda deve ser horrível permanecer trancafiada lá. Sabe... tenho até sonhos com ela.


                -Sonhos? – indagou Rony.


                -É, sonhos... Sonhos em que ela está numa cela escura... O mais estranho, Rony, é que nesses sonhos, geralmente aparece... – olhou de relance para Gina, que parecia absorta nos papéis. Ela era a melhor amiga de Úrsula. Não se atreveria a falar na frente dela.


                -Aparece... ? – quis saber Rony.


                -Nada, esquece... É bobagem – mentiu Harry, sorrindo disfarçadamente.


                No entanto, no momento seguinte, percebeu que poderia ter falado sobre Úrsula tranqüilamente para Rony, já que Gina os chamou, excitada, apontando para um dos papéis, sem tirar os olhos dele, demonstrando intensa concentração.


                -Vocês não perceberam nada de errado nesta lista com os nomes separados pelos símbolos?


                Harry e Rony olharam um para o outro, confusos.


                -Não – responderam em coro.


                -Está faltando um nome aqui – falou Gina, decidida, finalmente tirando os olhos dos papéis.


                -Que nome? – perguntou Harry, ansioso.


                -O de Dino Thomas.


 


* * *


 


                A cela escura e fria se encheu de soluços.


                Hermione, sentada no chão, chorava, derramando as lágrimas que ainda restavam em seus olhos. Havia chorado tanto nos últimos dias... Dias que se estendiam pavorosamente... Dias que pareciam anos...


                A cela onde estava não tinha sequer janelas. Era totalmente fechada e escura. O único modo de saber cada dia que passava era pelos horários em que os carcereiros entregavam a comida. Senão, diria com toda a certeza que estava lá há anos.


                No entanto, mesmo se houvessem janelas, Hermione duvidava de que o local melhorasse em algum ponto.


                Estava desnorteada quando chegara em Azkaban, mas lembrava-se do seu aspecto externo. Era como um imenso castelo de pedra, com um aspecto funesto. Cobria quase totalmente a ilha onde se encontrava. As nuvens escuras encobriam o céu à volta da prisão. O sol ficava escondido atrás daquele céu nublado. Os animais que voavam ao redor da ilha eram urubus e morcegos. Não havia nada alegre ali, nada que lembrasse felicidade. Era como um lugar assombrado, criado num pesadelo.


                Sempre ouvira dizer que Azkaban era terrível. E podia confirmar agora. Se já era terrível com os carcereiros escolhidos pelo Ministério, imaginou o quão horrível seria na época em que os dementadores vigiavam os detentos, sugando a felicidade, levando-os à loucura...


                Os carcereiros não sugavam a felicidade, mas também conseguiam retira-la. Tratavam-na com desprezo. A comida era passada por uma pequena abertura na enorme porta de aço, que não era trancada, mas era fortemente protegida por um encantamento que a tornava impossível de se abrir.


                Não havia passeios em Azkaban. Pelo menos ela ainda não tivera nenhum. Desde que foi presa, Hermione só via aquela escuridão da cela, e a pequena claridade que entrava pela abertura para comida da porta. Ainda assim, a iluminação vinda do corredor era fraca, vinda apenas dos archotes.


                Era como morrer, pensou ela. Agora sabia como se sentia um pássaro engaiolado. Pois era assim que ela se sentia. Engaiolada. Recebendo comida e água apenas por aquela abertura. Por ser condenada por todos os assassinatos, Hermione estava numa das celas de segurança máxima.


                Nesse tempo em que estava na prisão, Hermione também notou que os carcereiros de Azkaban não eram nada bonzinhos.


                Ninguém devia se atrever a falar com qualquer um deles. Hermione ouviu um preso, talvez da cela ao lado da sua, pedindo desesperado para se comunicar com sua família. Mione ouviu os passos lentos e fortes do carcereiro. Depois, ouviu a voz arrogante:


                -Você nunca mais se comunicará com sua família.


                E, depois, só o urro forte, um grito que arrepiou Hermione. O preso berrou. Hermione notou um brilho diferente, entrando pela abertura na porta. Depois, só o silêncio e a respiração acelerada do preso.


                O carcereiro, pouco se importando, voltou a patrulhar o corredor. Mione não entendia o porque de colocarem um bruxo os vigiando, afinal, era impossível escapar daquelas celas. Talvez estivessem ali apenas para torturar, para fazer os desobedientes pagarem...


                Encostada na parede gelada e suja de sua cela, Mione só conseguia chorar. Sentia um aperto forte em sua garganta.


                Sentia saudades... Saudades de Harry e... Rony... Rony... Que saudades! Tinham se acertado, estava tudo bem, e, num piscar de olhos, o sonho virou pesadelo, e a garota boazinha virou a má... A doce garota, Úrsula Hubbard, que a colocara ali, naquele lugar terrível, com a alma carregada de ódio, tendo a consciência de que Hermione nunca sairia dali.


                Sentindo o nó em sua garganta aumentar, Mione imaginou se Úrsula teria conseguido fisgar Rony. Se os dois já estariam juntos... Se Rony já a tinha esquecido...


                Talvez Harry e Rony tivessem morrido assassinados por Michael Evans... Talvez já soubessem que ela não tinha nada a ver com aquilo tudo. Que não tinha ferido Úrsula. Que aquela louca tinha cortado ela mesma com sangue-frio.


                Deitou no chão imundo. Estava desesperada.


                Sabia que não agüentaria muito tempo... A morte estava cada vez mais próxima, ela podia sentir... Mais alguns dias, e morreria de desgosto... O odor horrível daquela cela, a sujeira, a escuridão... Estavam a cada dia mais insuportáveis.


                Ouviu passos no corredor de pedra. Talvez algum carcereiro tinha vindo para fazer companhia ao outro. Pouco me importa, pensou Hermione, voltando á sua solitária angústia.


                Os dois começaram a conversar.


                -...Você-Sabe-Quem.


                A palavra despertou Mione de seu devaneio. Atenta, aproximou-se da porta de ferro e colocou o ouvido perto da abertura.


                -Dá pra falar um pouco mais discretamente? – perguntou o outro. – A maioria desses presos já enlouqueceu, mas alguns ainda estão sãos o bastante para entender tudinho!


                -Por que se importar? – resmungou o outro, com a voz rouca. – Eles nunca vão sair daqui mesmo!


                -Está bem, esquece... Continue!


                -Bom, me informaram que ele está querendo atacar o vilarejo de Hogmeade.


                -Ah, isso todos sabemos... O Ministério já colocou guardas lá, desde o ataque a Alerton Kollen. Boatos indicavam um ataque em Hogsmeade, mesmo que lá não existam trouxas, e que tudo indique que ele pretende fazer uma guerra entre trouxas e bruxos... Por que ele iria querer atacar Hogsmeade?


                -Não sei... Talvez queira chegar a Hogwarts...


                -Duvido muito... Com o diretor que a escola tem...


                -Então. Mas o que tenho para lhe dizer é que o ataque em Hogsmeade está se aproximando!


                O outro cochichou algo para ele. Provavelmente pedindo para que diminuísse a voz.


                Cochichos... Hermione não podia escutar mais. Os cochichos se estenderam por algum tempo. “Droga”, pensou.


                De repente, um deles se exaltou, aumentando a voz, e finalmente ela pôde ouvir:


                -...finalmente poderemos voltar a agir!


                -Não posso nem acreditar! – exclamou o outro, igualmente exaltado. – Então, daqui a dois dias...


                -Sim! Amanhã ele se juntará ao Lord. Levará o garoto até ele. Quando o Lord matar o garoto, o poder retornará para nós! Será uma enorme vitória!


                Ele se afastou, rindo.


                Mione, chocada, recuou para o canto de sua cela. Ele se juntará ao Lord. O Lord irá matar o garoto. O poder retornará...


                Ela tinha entendido tudo.


 


* * *


 


                Harry apanhou o pergaminho de anotações da mão de Gina. Releu a lista com os nomes.


                Gina tinha razão. O nome de Dino não estava na lista.


                -Estranho – falou Harry. – Tenho certeza que repassei a lista com cuidado, colocando, ao lado do nome do antigo representante do símbolo, o do herdeiro. O pai ou mãe de Thomas tinha que estar na lista...


                -Se ele estivesse vivo, diria que ele é Michael Evans – disse Rony.


                -É... Mas como ele está morto, deve haver algum outro motivo – continuou Harry.


                -Talvez o Dino fosse uma exceção – sugeriu Gina. – Sei lá... Talvez ele não fosse como todos os outros, e só se encaixasse na lista por algum outro motivo.


                Um instante de silêncio. Harry pegou um dos papéis que estava na mão de Gina.


                -Essas foram as primeiras anotações – disse. – Foi resultado do primeiro interrogatório. Tem umas perguntas aqui que eu anotei, que estavam sem resposta. Mas agora já podemos incluir.


                Harry respondeu as tais questões e depois estendeu o papel para Gina:


 


                “Caso Michael Evans”


               


                Foi libertado de um amuleto por alguém, a mando de Voldemort, na noite de 31 de outubro, Dia das Bruxas. Sabemos que:


 


-Michael é uma das pessoas que está na lista de vítimas, já que só estas estavam presentes no assassinato de Crabbe. CONFIRMADO.


 


-Michael odiava o Professor Snape, uma de suas vítimas, por motivos relacionados ao passado, segundo conversa ouvida nos vestiários. CONFIRMADO. Snape estava na lista dos Jovens Anti-Trevas. O motivo do ódio, no entanto, é DESCONHECIDO.


 


-Michael deixa as iniciais em cada local do seu crime, ao lado de um círculo rodeado de desenhos mal-feitos, alguns com um X e outros sem.CONFIRMADO. O círculo era o símbolo dos Jovens Anti-Trevas.


 


-Ele não mata utilizando feitiços porque, obviamente, o último feitiço realizado por uma varinha pode ser descoberto. CONFIRMADO.


 


-Os registros foram apagados definitivamente da história da escola. Ou seja, o caso foi abafado e escondido totalmente, para torna-lo apenas uma lenda. CONFIRMADO.


 


-Michael segue uma ordem para matar suas vítimas. CONFIRMADO.


 


                O que temos que descobrir?


 


-Por que alguns círculos recebem um X no meio e outros não?Sem resposta.


 


-Qual é a ordem estabelecida para o assassinato das vítimas? A ordem em que os desenhos se dispõem ao redor do círculo.


 


-Por que ele usou uma máscara utilizada nos carnavais venezianos em um ataque e, ao atacar Hermione, usava outra máscara?Sem resposta.


 


-Quem será a próxima vítima?Pela ordem do círculo, provavelmente James Smith.


 


-Por que essas pessoas foram escolhidas para serem assassinadas por ele?Por serem os herdeiros dos participantes ou os próprios participantes dos Jovens Anti-Trevas.


 


-E, essencialmente, qual a identidade do assassino?Sem resposta.


 


 


                -Harry... Acho que essa primeira pergunta pode ser respondida...


                -Como, Gina? Aquela que pergunta por que alguns círculos receberam um X no centro e outros não?


                -Isso. Michael não seguiu uma ordem para os assassinatos? A ordem do círculo? O que um X poderia indicar? Talvez uma falha no círculo... Alguém que ele tenha matado fora da ordem prevista!


                -Faz sentido – concordou Harry.


                -Lembra-se de Miss Reynolds, Harry? – falou Rony, entusiasmado pela colaboração que estava dando ao amigo. – Foi a primeira vez que prestamos atenção ao círculo. Realmente, nele havia um X. E ela morreu antes de nos dar a aula sobre como quebrar uma maldição!


                -É, talvez Michael a matou antes da hora para que ela não nos ensinasse – disse Harry. – Ainda bem que fomos atrás do Christian perguntar sobre isso...


                -Para quebrar uma maldição de amuleto, o objeto tem que ser destruído, não é? – perguntou Gina.


                -Só que o grande problema é que a pessoa que o destrói tem que ter ódio dentro dela, já que bondade e o alto nível de maldade presente no amuleto não se batem – respondeu Harry.


                -Se pudéssemos pelo menos colocar a mão nesse amuleto...


                -Era tudo o que precisávamos, Rony – falou Harry, suspirando. – O tempo está se acabando. Eu estou sentindo isso. Temos pouco tempo para descobrir quem é ele, ou a maldição de Michael Evans será totalmente cumprida!


 


* * *


 


                Úrsula estava trancada dentro de seu quarto, chorando. As colegas de dormitório estavam aproveitando o domingo e, para seu alívio, tinha o dormitório inteiro para chorar, chorar...


                Não tinha conseguido dormir direito. A voz de Rony continuava soando em seu ouvido, negando-a, dizendo que era apaixonado por Hermione...


                Para piorar, teve um pesadelo com Rogério Davies. No pesadelo, Rogério, com o corpo apodrecido, esquelético, as roupas rasgadas, um cadáver em decomposição, vinha em sua direção, furioso por ela o ter empurrado para a morte.


                -Vim pegar você – dizia o cadáver. – Quero leva-la comigo...


                Quando aquelas mãos corroídas pela morte vinham ao encontro de seu pescoço, Úrsula acordou, trêmula. Olhou ao redor do quarto escuro, temendo que Rogério saísse das sombras para mata-la.


                Tudo aquilo era resultado de seu imenso amor por Rony. Tantos planos arquitetados, tantos riscos. Draco vestido de assassino, para Kevin salvar Mione, conquista-la... Resultado: nenhum. A falsa entrevista dada por Hermione... Resultado: Nenhum. A prisão de Hermione... Resultado: nenhum. Nada tinha dado certo.


                Fizera tudo para conquistar aquele garoto. Queria o amor dele, queria tanto...


                Queria o amor sincero. Que ele começasse a ama-la tanto quanto ela o amava.


                Porém, talvez, tivesse que apelar para que isso acontecesse. Recorrer a alguma coisa que mudasse os sentimentos de Rony. Lembrou-se de um comentário do Professor Flitwick sobre o Professor Salles...


                Talvez desse certo. Flitwick comentou com um sorriso sobre isso. Talvez desse certo.


                Com um salto, Úrsula enxugou suas lágrimas e correu para fora do dormitório. Precisava urgentemente encontrar o Professor Salles.


 


* * *


 


                Rony saiu da ala hospitalar, expulso por Madame Pomfrey. Gina e Harry ficaram a sós, deitados em suas camas.


                -Ainda estou um pouco tonta – falou Gina, passando a mão sobre a testa.


                -Vamos esquecer um pouco desses problemas. De tudo de ruim que já aconteceu. Gina... Ontem, antes de ficarmos presos na sala, você iria conversar comigo...


                Gina engoliu em seco.


                -É... Eu ia conversar sobre nós dois, mas, no fim, acabou não dando... – ela tropeçou nas palavras.


                Gina estava sentada de lado em sua cama, bem de frente para Harry.


                -Sabe, refleti muito na nossa conversa... Você falou que eu tinha mudado, lembra? Que eu tinha se tornado uma pessoa arrogante. Mas... Harry, você tem que entender que a Hermione quase destruiu a minha família!


                -Será que foi ela, Gina? – perguntou Harry. – Aquela foto não foi uma montagem. Você realmente estava com Draco. Será que as conseqüências disso não deveriam cair sobre você mesma?


                -Talvez... – admitiu a garota.


                -E outra: Jennifer Yumi havia garantido para Rony que Rogério Davies, seu amigo, aquele que também foi assassinado, havia dito que Mione não deu a entrevista!


                -Isso não faz sentido... Por que alguém perderia tempo dando uma entrevista no nome da Hermione?


                O silêncio pairou.


                -Não sei – admitiu Harry. – Gina, era sobre isso que você queria conversar? Você falou que era sobre nós dois, e isso, definitivamente, não tem nada a ver com nós dois.


                Gina baixou os olhos.


                -Não era sobre isso. É que... Desde aquela noite do nosso beijo... Aquele beijo rápido... Não consigo mais te esquecer, Harry... Nunca consegui, na verdade, mas, tinha me conformado em nunca ter você. Mas aquele beijo ressuscitou o amor que eu sentia, e que estava adormecido aqui dentro.


                Gina estava tão vermelha que, se o momento não fosse tão difícil para Harry, aquilo seria cômico.


                Harry não queria dizer, mas sentia o mesmo. A mesma sensação de um sentimento que retornava. Por muito tempo não dera a mínima para Gina. Mas, a partir do momento em que ela e Draco começaram a namorar, um ciúme crescera dentro dele.


                -Gina, eu... Estou sem palavras – falou Harry. – Eu... Eu...


                -Não precisamos ficar nervosos – disse Gina, tomando a mão do garoto. – Somos amigos, Harry. Sempre fomos. Podemos nos tornar amigos e namorados...


                Harry sorriu. Realmente, com Gina parecia ser mais fácil do que com a Cho. Ele e Gina se conheciam há tempos, ela era irmã do melhor amigo dele...


                Harry sentia a mão quente de Gina na sua. Afastou uma mecha que caía na testa da garota.


                -Eu aceito, Gina – disse, sorrindo, apertando a mão de Gina.


                Seu coração disparou dentro do peito.


                Os dois se beijaram... Mas dessa vez sim foi um beijo de verdade. Gina e Harry pareciam despejar naquele beijo todo o amor guardado por anos. Parecia que aquele era um beijo aguardado durante muito tempo.


                Não conseguiam se desgrudar. Um calor emanava dos corpos, um ardor que saía daquele beijo. Passou-se muito tempo, e os dois não se desgrudavam... Ambas as respirações estavam ofegantes.


                Os lábios se soltaram. Gina olhou profundamente nos olhos verdes de Harry, enquanto ele olhava nos olhos da garota. Sorriram. E abraçaram-se. Um abraço apertado. Harry beijou a testa da garota, e apoiou a cabeça dela no seu peito. Se fosse com Cho, nunca conseguiria fazer isso sem se atrapalhar. A cumplicidade entre ele e Gina era enorme. Como se tivessem sido feitos um para o outro.


                A partir daquele momento, pensou Harry, enquanto afagava os cabelos de Gina e sentia o perfume dos fios avermelhados, ele e Gina faziam parte um do outro.


                Gina, abraçada pelos braços de Harry, pensava a mesma coisa. Só que, em alguns momentos, a imagem de Draco ainda aparecia. O abraço de Draco era muito parecido com o de Harry... O perfume de Harry era mais adocicado, o de Draco era mais forte...


                Para que lembrar de Draco naquele momento? Harry gostava dela, ela podia sentir. E ela também gostava dele, afinal, sempre gostou.


                Draco Malfoy... Era apenas um amigo qualquer que ela namorou por algum tempo.


                Só. Agora Harry Potter era seu grande amor. Draco seria deixado para trás. Deveria ser deixado para trás.


 


* * *


 


                Úrsula procurou pelos corredores o Professor Salles, de Poções. Encontrou alguns professores pelos corredores, mas nada do novo professor.


                Estava desesperada. Sua afobação chegava a chamar a atenção de algumas pessoas. Tinha que encontrar o professor. Essa era sua última chance.


                Ao chegar ao Saguão de Entrada, encontrou o professor, conversando animadamente com o Professor Flitwick. Como todos sabiam, os dois foram grandes amigos no passado e fora através de um comentário do professor de Feitiços que ela teve essa brilhante idéia. Seus planos haviam naufragado, e ela teria que recorrer a essa última artimanha para conquistar Rony.


                Parou próxima aos professores, com a respiração ofegante pelo cansaço.


                -Nossa, o que houve, Srta Hubbard? – perguntou Salles, observando a garota. – Resolveu aproveitar o domingo para uma maratona?


                -Não – respondeu ela, sorrindo, embora estivesse aflita. – É que... Eu preciso que o senhor me passe os ingredientes de uma certa poção...


                O Professor Salles franziu as sobrancelhas e balançou as características fitas que trazia enroladas nos pulsos, que neste dia eram douradas.


                -Alguma poção utilizada em uma de nossas aulas? – perguntou ele. – Você perdeu os ingredientes, é isso?


                -Não... É uma poção diferente... – respondeu Úrsula, gaguejando.


                -Qual é?


                -Só por curiosidade... O Professor Flitwick – apontou para o baixinho – nos contou certa vez que o senhor o ajudou preparando uma certa poção...


                Salles olhou com raiva para Flitwick, que sorriu, sem graça.


                -Sim... Eu conhecia Flitwick e já o ajudei algumas vezes... Mas qual poção é essa? A Poção da Ilusão?


                -Não... A Poção do Amor.


 


* * *


 


                Hermione estava impaciente. Andava de um lado para o outro em sua cela escura. Precisava avisar alguém de que o ataque em Hogsmeade era no dia seguinte!


                Mas como conseguiria? Não tinha visitas. Não tinha nenhum meio de se comunicar com Harry e Rony. Harry... A vida dele corria grave perigo.


                O carcereiro do corredor tinha saído. Talvez outro viesse daqui a pouco. No corredor, só havia silêncio.


                Hermione ouviu, de repente, uma voz rouca vinda da cela ao seu lado. Uma voz de velho, saindo com esforço...


                -Está quase na hora... Quase na hora...


                Hermione não entendia o que aquele velho queria dizer.


                Passos silenciosos nos corredores. Talvez fosse o carcereiro... Hermione não podia dizer com certeza...


                Celas se abrindo... Hermione podia ouvir as celas se abrindo. Os passos no corredor aumentaram. Mais uma cela... E outra... E outra... Abriram a sua cela... Sim! A sua cela estava aberta!


                Hermione espiou para fora, no longo corredor. Um dos carcereiros libertava os presos, que gritavam de felicidade.


                Hermione, perdida no meio dos bruxos, espiou na cela ao lado, a cela do velho. Ele ainda murmurava:


                -O Lorde veio nos salvar... Os servos que faltavam... Finalmente!


                Lorde... Só podia ser Voldemort, pensou Hermione, com uma enorme reviravolta dentro do estômago. Se Voldemort estava organizando aquela nova fuga em massa, isso queria dizer que somente os seus servos iriam embora. Hermione não iria junto, e acabaria ficando por lá.


                A não ser... O velho estava muito fraco... Na pequena claridade, ela podia ver seu rosto, o corpo magro jogado no chão... Ele tentava se levantar.


                Hermione entrou na cela, num ato de desespero. Empurrou o velho, que bateu a cabeça e desmaiou.


                Vestiu todos os trapos e colocou o chapéu velho que estava largado em um canto da cela. Fez uma posição corcunda, apanhou a bengala. Abaixou a aba do chapéu o máximo que pôde, ocultando seu rosto. E saiu, fechando a porta da cela, no mesmo instante em que outro dos carcereiros se aproximava, olhando para ela.


                -Brutus McClaggan? – perguntou, com cinismo, olhando para o “velhote”, de cima a baixo. – Não acredito que ainda está vivo!


                -Estou sim, e pronto para me juntar novamente ao Lorde – falou Hermione, enrouquecendo a voz, tentando imitar a voz do velhote.


                -Então vamos – disse o bruxo, olhando de esguelha para Hermione-McClaggan. – Está um pouco diferente... Bom, mas o que Azkaban não faz?


                O bruxo continuou conferindo nomes. Os que não faziam parte da lista dos servos eram castigados com Maldições Imperdoáveis. Dois bruxos que insistiam foram assassinados à queima-roupa por um Avada Kedavra. Hermione viu os corpos caindo no chão de pedra, mortos, com terríveis expressões em seus rostos.        Hermione cruzou os dedos, com medo de que o verdadeiro McClaggan acordasse. Felizmente, nada aconteceu.


                Os Comensais começaram a seguir, apressados, o carcereiro e o outro bruxo. Evitavam muito barulho, pois poderiam chamar a atenção dos guardas da prisão.


                Hermione sentia um medo enorme. Não confiava muito em seu disfarce... Logo seria descoberta. Porém, talvez eles estivessem indo direto para Hogsmeade. Talvez conseguisse avisar aos amigos sobre o ataque antes que ele acontecesse.


                Atravessaram as enormes portas de madeira podre que ficavam na entrada. Os dois guardas das portas já estavam mortos. Aquilo era um plano elaborado por Voldemort, Mione tinha certeza disso.


                Havia várias Chaves de Portal espalhadas pela ilha. Mione viu presos irem até os caixotes colocados sobre algumas pedras. Correu até um dos caixotes.


Naquele momento, os guardas da prisão viram a fuga e saíram da fortaleza, com as varinhas em punho. Hermione jogou-se no chão, e uma luz esverdeada passou por cima de sua cabeça.  Encolheu-se no meio das pedras. Gritos de pavor eram ouvidos.


Ela foi se arrastando até o caixote. Precisava alcança-lo... As pedras arranhavam suas pernas... Suas forças eram poucas, mas ela precisava resistir... Faltava pouco...


Um dos guardas a viu.


O guarda de Azkaban estava parado bem em sua frente, em pé, com a varinha apontada bem no seu rosto. Olhava com uma expressão cínica.


-Esse é o fim da linha, garota! – exclamou, e, nesse momento, Hermione se deu conta de que o chapéu de McClaggan já havia caído.


Hermione foi se levantando lentamente, com medo. Se reagisse, poderia morrer ali mesmo, naquela ilha nojenta e escura. Urubus já se aproximavam dos corpos mortos dos prisioneiros. Não podia morrer ali.


-Vamos com calma – continuou o guarda. – E não a machucarei.


Um raio de luz verde veio avançando e atingiu em cheio o guarda, que caiu morto instantaneamente. Hermione voltou a se abaixar, quando outro raio passou bem perto.


-Intrusa! Uma intrusa! – gritava a voz do carcereiro.


Mione se arrastou rapidamente, antes que o carcereiro a alcançasse. Colocou um dedo sobre o caixote.


                Depois, tudo começou a rodar, rodar, rodar...

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