Liga dos Malditos



Hermione tentava controlar a respiração, quase inutilmente, enquanto seu coração batia num ritmo frenético e descompassado. Seus olhos estavam úmidos, mas ela não conseguia sequer chorar, só ofegava. Era verdade, sua hipótese sobre Daniel era verdadeira e isso significava uma única coisa: todos, sem exceção, corriam dois grandes perigos.

A menina dava passos firmes, mas não conseguia encarar as pessoas pelas quais passava. Precisava dividir aquilo com alguém, mas não poderia contar, ou estaria colocando mais inocentes no meio da história. A não ser que...

- Christian! – Ela falou baixinho, parando de andar abruptamente, fazendo um primeiranista da Corvinal que vinha distraído no sentido contrário topar com ela.
- Opa, desculpa, Granger... – Ele se lamentou com as bochechas rosadas.

Hermione o ignorou, girando nos seus calcanhares e saindo ligeiramente dali.

- Nossa, acho que ela ficou irritada mesmo... – O garoto comentou com os amigos, seus olhos arregalados de espanto.

Correndo, a menina alcançou um grupo de alunos da Sonserina, que pareciam estar vindo das estufas de Herbologia. Ela passou esbarrando em alguns deles, que resmungaram ofensas pesadas, mas ela estava tensa demais para ouvi-los. Ao passar por três garotas, entretanto, seu caminho foi bloqueado.

- Ei, sua sujeitinha de sangue ruim! – Pansy Parkinson empurrou Hermione pelo ombro, a encarando duramente – Está louca? Me sujar com sua presença...
- Que se passa? – Christian apareceu rapidamente ao lado delas, seu sotaque espanhol perfeito.
- Essa idiota, Juan... Não está enxergando direito! Além de sangue-ruim é cega! – Dafne Greengrass respondeu, jogando os cabelos para o lado, tentando ser sexy para Christian.
- Preciso falar com você, é urgente! – Hermione olhou com urgência para Christian, ignorando completamente as duas garotas.
- Hablar...? – Ele levantou uma das sobrancelhas.
- Que tipo de assunto você teria com “essazinha”, Ramirez? – Pansy fez uma careta de nojo ao falar.
- No és de tu conta... – Ele respondeu secamente, pegando Hermione pelo braço e a arrastando para longe dos demais.

Ela não reagiu, apenas deixou-se guiar por ele, que só parou quando não havia mais nenhum aluno próximo, num canto do corredor próximo a um armário de vassouras, há alguns metros de uma escadaria.

- Se for sobre Daniel... – Ele começou, sua expressão era de completo pânico.
- Eu sei quem... Ou melhor, o que Daniel é!

Christian perdeu toda a cor do rosto, deixando o queixo cair.

- Hermione... Por tudo o que há de mais sagrado... – Ele começou, mas ela levantou a mão, fazendo com que ele se calasse.
- Eu não sei qual é a do Daniel, eu não sei porque estou me metendo nisso, mas o que eu sei é que não confio nele, e se você não me der um ótimo motivo para isso... Eu não vou confiar em você também. Então... Já estou marcada, já sei do segredo... Pode me contar tudo. Começando agora.

Enquanto Christian tentava pensar no que dizer a Hermione, Harry sentia vontade de gritar dentro da Ala Hospitalar.

- Daniel, não é bem assim, deixa que eu explico... – Ele tentou.
- Isso explica um bocado de coisas... – Daniel refletia, andando de um lado para o outro, como se qualquer palavra de Harry ali fosse simplesmente insignificante – As visões, a ligação, a parte sua parte má...
- Minha parte má? – Harry arregalou os olhos.
- A parte de você que quer distância dos seus amigos, a mesma parte de você que lançou o feitiço em Rony... – Daniel respondeu sem olhar para ele.
- Mas afinal de contas, o que ele é? – Remo parecia impaciente.

Daniel parou de andar, olhando atentamente para Remo.

- Ele é uma Horcrux de Voldemort – Disse, como se ser uma horcrux fosse algo super normal.
- QUÊ? – Remo sentiu o pulso acelerar.
- Ei! – Harry levantou da maca, sentindo-se agora mais firme, finalmente – Você falou o nome dele!
- O nome de Voldemort? – Daniel riu – Ora, me diga quantas vezes você também o falou?
- Mas me proibiram de falar! – Harry protestou como uma criança que não aceita um castigo.
- Os dois, podem parar? – Remo os interrompeu duramente – Daniel, isso é grave, muito grave... Como ele pode ser uma Horcrux?

Harry sentou-se novamente. Seria uma longa história... Daniel fez um resumo perfeito, e isso o fez pensar que em poucos minutos em sua mente, o rapaz conseguira explorar sua vida inteira. Contou sobre as outras Horcruxes, sobre os únicos que sabiam, sobre a caçada que Harry fizera com Dumbledore e também sobre a ajuda de Draco com a última Horcrux encontrada, a taça de Helga Hufflepuff, que estave o tempo todo em seu cofre de família e que agora só restavam duas Horcruxes a serem destruídas: a cobra Nagini, o “bichinho de estimação” de Lord Voldemort e... Harry Potter. Todo o segredo de um ano exposto de forma vergonhosa em um resumo de aproximadamente 3 minutos.

“Ótimo. Simplesmente... Ótimo!” pensou Harry.

- Merlin nos defenda... – Remo balbuciou, olhando para Harry, após o choque inicial da descoberta que o havia deixado afônico.
- Bem vindo ao clube, Harry... – Daniel sorriu amargamente – Acho que podemos considerá-lo um de nós...
- Um de nós? – Harry repetiu, tentando entender qual a graça disso.

Antes de responder qualquer coisa, Daniel olhou para Remo, ainda com uma expressão de incredulidade no rosto. O homem olhou de Harry para ele, acenando com a cabeça um “sim” como se soubesse exatamente o que Daniel queria dizer. Com seu consentimento, Daniel deu uns dois passos na direção de Harry, parando com seus olhos num tom claro de marrom e sem brilho nenhum imersos nos verdes de Harry.

- Harry... Eu disse que apenas quem era tão maldito quanto eu poderia saber dos meus segredos... Então, nada mais justo que contá-los a você... Já que descobri os seus de modo tão evasivo...

***

Passos pesados ecoavam pelo recinto escuro, enquanto a luz do luar era ocultada por uma nuvem pesada e cinza, que anunciava um temporal dentro em breve. Não parecia ter qualquer presença humana por ali, considerando o silêncio que pairava, somente sendo interrompido por aqueles passos. Contudo, há alguns metros adiante, uma figura encapuzada virou-se tão levemente, que parecia estar levitando. Um riso sinistro se fez ouvir ao mesmo tempo que os passos cessaram.

- Então, meu mais fiel seguidor... – A mesma voz da gargalhada falou, arrastado, quase um silvo – Fez o que eu pedi?
- Claro, Milorde... – O outro se curvou numa reverência.
- Muito bom... Muito bom... E o que descobriu sobre eles?
- São completamente estúpidos no quesito Defesa Contra as Artes das Trevas... O Brasil é considerado um país neutro, e o Diretor de Korõaran acha que pode simplesmente ignorar as Forças das Trevas, dando aos seus alunos medíocres aulinhas de “como se defender na selva” com os índios da região... Resumindo: alvo fácil, não representam perigo... Exceto por... – O homem fez uma pausa.
- Exceto por...? – O outro pressionou.
- Exceto por um deles... É professor de lá, mas não é brasileiro... A família dele o serviu por muitos anos, Milorde... Lembra-se dos Silverstorms?
- Ahh, claro... O homem era Inglês e a mulher, acho que Portuguesa ou Espanhola... Não?
- Portuguesa... – Lembrou o homem – Eles passavam algumas temporadas em Portugal quando as coisas ficavam mais... Difíceis.
- Sempre foram uns covardes... Fugiram quando houve minha queda... Não me diga que é um deles?
- Digo sim, buscaram auxílio no Brasil... E digo mais... O filho dos Silverstorms é professor de Korõaran, ninguém desconfia que ele foi um Comensal da Morte como os pais, pois, como eu disse... Eles não acreditam nisso... Ingênuos. Ele tem enganado a todos por lá. É o único que sabe sobre Artes das Trevas...
- Ele era um dos meus...? – A figura sombria andou lentamente, fitando a lua – Então, ele pode sentir nosso chamado?
- Possivelmente... – O homem deu de ombros – Eles tinham a Marca Negra.
- Se é assim – A leve figura virou-se, pegando o braço do outro homem, erguendo a manga de suas vestes e tocando sem piedade a Marca Negra de seu braço – Vamos avisá-lo que estamos chegando... E ele é o primeiro da minha lista de boas-vindas...

- Liah...?

Os alunos estavam perplexos, olhando para a professora de adivinhação, que parara com uma xícara na mão, olhando para o nada, como se tivesse sido acertada por um feitiço “Petrificus Totalis”. Uma aluna que estava mais próxima a chamou, mas parecia que ela estava realmente enfeitiçada, até que a xícara em sua mão caiu, se espatifando em vários pedaços, ao mesmo tempo em que Liah levava as mãos à boca e seus olhos se enchiam de lágrimas.

- Julio... – Ela sussurrou, girando nos calcanhares e saindo correndo da sala.

A pequena mulher correu tão rápido que os alunos a perderam de vista logo. Ela só parou quando chegou numa sala, onde Julio estava de costas para ela, assim que alcançou a porta.

- Julio! Julio, por Rudá...! – Ela estava em pânico.

O namorado se virou lentamente, os olhos vermelhos, como se estivesse chorando, mas não havia lágrimas. A expressão sempre tão serena de Julio dera lugar a uma expressão que era um misto de ódio e desespero.

- Liah... Eles me descobriram, não foi? – Julio arregaçou a manga da veste, esticando o braço para a namorada. – Eles estão me chamando...
- NÃO! NÃO VOU DEIXAR...
- Eu... Preciso... Eu posso colocar todos em risco...
- Julio, se você for, eu vou com você! – Liah se jogou nos braços dele, chorando copiosamente.
- Nunca! Nunca! Você não pode! Vai ficar aqui, aqui, entendeu? – Julio pegou Liah pelos ombros, sacudindo-a com rispidez – Eu não posso imaginar você naquele... Não! Não mesmo!
- Não vai! Por mim, Julio, não vá! Eu preciso de você, fique, nós vamos lutar juntos...
- Liah, você não entende... Eles são muitos, são poderosos... Eu não posso ensinar nem um centésimo do que eles sabem para os alunos em tão pouco tempo!
- Não interessa! Julio, eu não posso viver sem você!
- Minha presença aqui está ameaçando todos em Korõaran...
- Vamos falar com Bernardo, a gente dá um jeito de adiar esse maldito torneio! Mas não faça essa besteira, Julio! Eu te amo, te amo! – Liah se agarrou com força no namorado, que a abraçou apertado.

- Eu sou um homem morto, Liah... Se eu for ou se eu ficar...
- Então fique, e eu morro com você...

***

Harry não sabia o que pensar. O ar estava mais pesado, era quase impossível respirar. Daniel o olhava curiosamente. Acabara de dar muitas informações ao mesmo tempo e sabia que talvez tivesse exagerado, enquanto Remo simplesmente estava pálido como se fosse desmaiar. O garoto inspirou todo o ar que conseguiu para verbalizar sua perplexidade.

- Daniel, isso é... Estranho!
- Eu sou estranho – Daniel corrigiu.
- Sério...! Eu nunca pensei... – Harry olhou para Remo e dele para Daniel novamente – Vocês dois...! Merlin! Como é isso?
- Harry, eu não contei isso para te deixar mais nervoso, eu contei para que você entenda meus motivos, o porque eu tenho que mentir, porque eu tenho um pacto com a Ordem e porque eu confio em Amanda.
- Não é perigoso? Digo... Você, com os outros alunos...? – A cabeça de Harry estava rodando. – E para... Remo?
- Ele é tão perigoso quanto eu... Sou para ele, ou para qualquer um aqui... – Remo comentou, quase sem voz.
- Não exagera... Eu sou mais perigoso que Remo, eu admito... Mas tenho como me controlar bem... Ainda não houve mortes em Hogwarts, certo? – Daniel ironizou.

Harry o olhou com uma cara, não achando graça nenhuma. Logo depois, arregalou os olhos, como se tivesse acabado de lembrar de algo extremamente bizarro.

- Hermione! Ela sabe! Oh...
- É, isso é um problema... – Daniel refletiu.
- Um problema? – Harry falou com voz esganiçada – Isso é TERRÍVEL!
- Nem tanto... Amanda e Christian também sabem... E Sophie... Bom, Sophie soube do pior jeito...

O garoto sentiu uma pontada no coração pela menção do nome de Sophie.

- Não me diga que Sophie também...? Não... – Dessa vez, Harry parecia querer desmaiar.
- Não, não... Ela não – Daniel tentou o tranqüilizar.
- E como seria o “pior jeito” então?
- Eu a ataquei.
- COMO? – Harry deu um berro.
- Atacando... Oras... Mas eu consegui me controlar a tempo... Se eu a tivesse matado... Eu não teria me perdoado nunca...

Harry parecia um bicho acuado. Se ele já sentia medo de Daniel, agora estava apavorado, como se até as palavras dele fizessem mal. Tentou se levantar, ignorando a vertigem que sentia. Olhou para os dois ali presentes e andou até a porta.

- Certo, temos um trato então – Harry falou, chegando até seu destino – Somos a liga dos malditos... Espero que os segredos já tenham acabado... Eu não estava satisfeito com todas as coisas sendo omitidas de mim, como se eu fosse um perigo... – E olhou para Daniel – Temos coisas muito mais perigosas para nos preocuparmos...
- Harry, você está com medo de mim? – Daniel perguntou, sua voz era serena, nenhum pouco abalado.

“Claro, óbvio, desde sempre...”

- Nenhum pouco. – Mentiu – Afinal... Eu sou um dos malditos, certo? Estou pensando em Hermione...
- Não se preocupe... Eu sei o que fazer, se é que ela ainda lembra de algo... – Daniel disse, confiante.

***

Christian sentiu o chão fugir ao entregar todos os segredos de Daniel numa vez só. Hermione, por sua vez, estava estarrecida, tanto que não conseguia sequer falar. Os dois haviam se enfiado dentro de um armário de vassouras para conversar, afinal, assuntos tão complexos não poderiam ser tratados assim, no meio do corredor, com os alunos curiosos sobre um aluno da Sonserina e uma aluna da Grifinória numa conversa em particular.

- Hermione... – Christian falava num sussurro – Você sabe o que isso representa, digo, você conhecer essa história?
- Sei... Mas você também a conhece e nada te aconteceu até hoje...
- É o que você pensa... Você não tem idéia do que minha mãe, Sophie e eu já passamos!
- Mas... Por que então vocês continuam o apoiando? Eu não entendo!
- Você nunca vai entender isso... Mas... Olha... Eu preciso fazer só mais uma coisinha... E logo você vai ficar menos preocupada...

- Quê...?

Num gesto muito rápido, tão rápido que não deu nem chances de defesa para Hermione, Christian sacou a varinha, apontando diretamente para sua testa. Na fração de segundo seguinte, a menina bateu num baque seco, desacordada, no chão entre as vassouras.

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