O Clube da Luta



Durante à noite passada, Harry sentiu um desconforto horrível que se estendeu durante todo o dia. E agora, na última aula, sentiu-se muito mais intensamente incomodado. Sua cicatriz estava latejando, nada de muito grave, mas na aula de Transfiguração – na qual sentia ainda mais vazio por não ter Sophie ao seu lado, como de costume – Pediu a Ninfadora que o liberasse, pois se sentia indisposto demais.

- Quer ir à Ala Hospitalar? – Ela o perguntou em tom de preocupação.
- Não, é só uma dorzinha de cabeça, passa logo... – Ele mentiu.
- Ah... Vai lá... Então...

Harry deixou a sala sob olhares curiosos. Rony acenou com a cabeça, olhar questionador, mas Harry fez um aceno de “tudo certo”. Hermione, por sua vez, nem olhara para ele. Estivera o tempo todo calada, não respondeu a nenhuma questão na aula – de nenhuma aula, isso era muito estranho – e agora seus olhos estavam fixos no horizonte, provavelmente nem prestando atenção na aula ela estava. Harry registrou mentalmente aquele estado estranho da amiga para se preocupar mais tarde, quando estivessem juntos novamente. Na verdade, desde o dia anterior, no qual ela havia falado com Daniel, ela estava daquela forma, e o pior: fugindo de perguntas, absorta em livros na biblioteca e dizendo “estou bem, parem com essa teoria da conspiração, por favor” sempre que Rony ou ele tentavam sondar seu comportamento duvidoso.

O garoto saiu da sala, caminhando lentamente. Agora, sua cabeça estava rodando, e ele sentia como se uma banda de Heavy Metal estivesse dando um show no interior do seu crânio. Sua visão ficou desfocada. Tirou os óculos, limpando as lentes na manga da veste, mas ao encaixá-lo novamente acima do nariz, diversos pontos vermelhos apareceram na sua frente, seguidos por um tremor de joelhos e uma dor aguda na testa. Ele parou, ofegante e desnorteado, se apoiando com as costas na parede. Seu corpo cedeu ao peso devido a suas pernas bambas, ele escorregou e caiu sentado no chão. E tudo ficou escuro.

Na frente de seus olhos, novas cores e formas se faziam, embora envoltos em névoa. Então ele viu.

Draco, preso, sob a mira de dois comensais da morte, que riam malignamente por debaixo de suas máscaras. Ele estava com ódio no olhar, olhando diretamente para Harry, que sentia um imenso prazer em vê-lo dispor de tanto ódio.

- E agradeça, pequeno Malfoy, por ainda estar vivo – Harry falou entre os dentes, num silvo quase ofídico. – Eu, seu Lorde, sei ser muito piedoso...
- Onde estão meus pais? – Draco perguntou, a voz trêmula de desespero.
- Saudade dos papais, neném? – Uma voz feminina caçoou.

Harry virou-se para a dona daquela voz, sorrindo em triunfo. Um vulto de cabelos longos e dourados se aproximava, sem vestes de comensal, com um sorriso maquiavélico e olhos brilhando de excitação. Era uma mulher linda, Harry pensou, e o que tinha de linda, tinha de eficiente. Era seu braço direito, sua fidelidade a ele estava acima de qualquer suspeita. “E eu duvidei dela no começo...” refletiu, quando a viu se inclinar para Draco, cuja expressão era de um animal acuado e ferido dentro da jaula de um circo fajuto.

- Sua mãezinha está chorando muito... Oh, coitada da minha amiga... – A mulher fingiu decepção – Eu dizia a ela: Cissa, meu bem, cai fora do Lucio, ele não te merece... E agora, olha isso... Um filho traidor e fraco que saiu ao pai e colocou a vida de todos em xeque. Que triste fim da minha amiguinha Narcisa...
- SUA CADELA! – Draco gritou, batendo com a mão na cela enfeitiçada e sendo arremessado ao chão devido a descarga elétrica que levara.

Amanda Stonebreaker gargalhou, uma risada musical. Os outros comensais a acompanharam, e também Harry riu. E sentiu-se tão bem por aquela situação... Os traidores, tendo o que mereciam: dor, humilhação, choro, mais dor...

- Você é desprezível, Amanda. – Outra voz falou, seca e rígida.
- Ah, não fale assim! – A mulher encenou comoção – Eu nem vou dormir a noite, tamanho o trauma que suas palavras me deixaram...
- Eu confiei em você, Amanda... Meu pai confiou... A Ordem estava certa o tempo todo! Você não presta... Draco está certo, você é uma cadela...
- Au-au – Amanda debochou.

Harry fitou a garota que acabara de desafiar Amanda. Sentiria ódio dela, se não sentisse satisfação em vê-la ali, presa junto com Draco.

- Eu teria tanto prazer em matar uma garotinha impertinente como você... – Harry falou com vontade – Mas, mais prazer ainda eu terei quando eu fizer isso na frente de Harry Potter... Será que ele vai chorar quando vir a namoradinha dele sangrando? Será que ele vai implorar pela sua vida medíocre, ou será que ele vai pensar que você foi só mais uma?

Os incríveis olhos verdes da menina o encararam sem temor, e repletos de ódio. Harry sentia prazer por aquele ódio. O ódio torna a pessoa irracional, a faz voltar aos seus instintos mais primitivos.

Harry sentiu um calafrio na nuca: Era de Sophie que ele sentia ódio. Mas não era ele, era...

- VOLDEMORT! – Ele gritou.

Madame Pomfrey deu uma breve corridinha até onde o garoto estava, ofegante e suando frio. Harry olhou ao redor vendo tudo embaçado, trêmulo, sua cabeça rodava.

- Calma, querido! – A mulher tinha os olhos arregalados, pelo impacto do nome – Calma! Está tudo bem!
- Onde...? – Harry sussurrou, levando inconscientemente a mão à testa – Céus...!
- Tudo bem, o Sr. Carter te viu caído no corredor e o trouxe...

Harry ouviu passos leves, olhando para seu lado direito, vendo um vulto que parecia ser Daniel. Tateou a mesinha ao lado, procurando pelos seus óculos. Madame Pomfrey entendeu o que ele queria e se antecipou, pegando ela mesmo os óculos do menino e o entregando em sua mão. Ele os colocou, levantando o olhar para Daniel, vendo que estava o fitando com uma expressão ao mesmo tempo severa e preocupada.

- Bem vindo de volta, belo adormecido... – Daniel brincou em despeito a sua nítida preocupação.
- Eu não... Sei... – Harry não sabia o que dizer.
- Bom, vou aproveitar que Sr. Potter acordou para ir falar com Minerva... – Madame Pomfrey estranhamente parecia querer sair dali. O nome de Voldemort trazia esse tipo de comportamento – O Sr. Carter vai fazer companhia a você, qualquer coisa...
- Pode deixar, Madame Pomfrey... – Daniel sorriu para a bruxa – Eu vou manter meus dois olhos nele.

Os dois rapazes acompanharam a mulher sair da sala com os olhos. Quando a porta bateu atrás dela, Daniel respirou pesadamente, como se até aquele momento ele nem estivesse inalando e expirando. Toda a falsa máscara de “está tudo bem” caiu. Os olhos dele estavam estranhamente tensos quando ele encarou Harry duramente.

- Uma visão... Agora eu entendo porque você fugiu do assunto de controlar sua mente naquele dia...
- Cala a boca! – Harry bradou, se colocando sentado na maca, já que se sentiu tonto demais para levantar-se. – CALA SUA BOCA! Eu não te devo satisfações, mas você me deve!

Daniel não parecia abalado pelo repentino ataque de Harry. Pelo contrário, ajeitou-se, cruzando os braços na frente do corpo, sem desviar em nenhum momento seus olhos dos de Harry, que agora lutava contra suas pernas bambas para ficar de pé.

- Sim, em que posso ajudá-lo? – Daniel falou tom prestativo, mas repleto de ironia.
- Sua ironia não vai aliviar...
- Harry... – Ele o interrompeu – Anda, o que você quer saber?
- Eu vi a sua protegida, Amanda... Servindo de conselheira de Voldemort, braço direito dele... Maltratando Draco e Sophie! Agora, me diz, Daniel Carter... O que você sabe sobre isso! ANDA!

Harry analisou a expressão de Daniel. Por mais que ele fosse firme e irritantemente confiante de si, Harry contou com a sorte de uma declaração dessa promover um choque, mas Daniel não se moveu, não alterou a expressão, não respirou. Parecia que Harry não perguntara nada mais do que “será que vai chover?” para um surdo-mudo. Quando Daniel falou, pouco após a pergunta, ele tinha um tom sereno e uma voz de seda.

- Eu sei tanto quanto qualquer um aqui, Harry. Amanda é maior de idade, emancipada, dona de seu próprio nariz e ela decide a quem servir ou não. Por mais que isso me doa, por mais que eu tenha dispensado amizade por ela, eu nada posso fazer a não ser lamentar que ela tenha se entregado a esse caminho.

Daniel era um insuportável pacifista, sua tranqüilidade era algo irritante e tirava qualquer um do sério, Harry pensou, decidindo se era viável dar um murro no rapaz. Contou até 10 para conter o seu impulso, lembrando que no caso de um duelo, ele não estaria nas melhores condições e nem sabia onde poderia estar sua varinha àquela altura.

- Certo, e você pode me dar um bom... Ou melhor, um excelente motivo, para eu não achar que você a está ajudando? – Harry perguntou no tom mais debochado que pode, e nem de perto parecia a calmaria das palavras de Daniel.

Daniel deu de ombros, erguendo uma sobrancelha.

- Eu não posso te convencer a acreditar em mim, então, não vou te dar motivo nenhum. Se você não confia em mim, eu só tenho a lamentar.

Os dedos de Harry se fecharam com força contra os punhos.

- Isso não é tão simples, Daniel! Você está dentro de uma Ordem!
- E...? – Daniel estava testando assumidamente a paciência de Harry.
- Como “e”? – Ele estava incrédulo com tamanha petulância – Você tem noção de que eles acreditam, confiam em você?
- Ora, por que então você não levanta daí e vai lá contar para Remo o que você viu? – Daniel o desafiou.
- Mas não precisa nem duvidar que eu vou mesmo!

Harry foi tomado por uma descarga de adrenalina que o fez levantar rapidamente, num pulo. O que ele não esperava é que ao fazer o movimento tão rápido, pudesse bambear e cair, os joelhos cedendo ao esforço ligeiro. Quando ele estava muito próximo ao chão, os braços de Daniel se fecharam contra seus ombros e o levantaram, mais rápido do que a queda, talvez. Isso tudo em questão de milésimos de segundos.

Daniel colocou Harry de pé, analisando a face pálida do garoto, que tinha um olhar de incredulidade.

- Você consegue ficar de pé? Dá pra andar sem se estatelar? – Daniel perguntou, tirando as mãos do ombro dele.

Harry estava mudo.

- Ok, Harry... – O garoto suspirou profundamente – Eu pretendia me oferecer para ajudar no seu controle de mente, já que assumidamente você não vai com a cara de Snape... Mas, se não acredita em mim... Não confiaria sua mente a alguém que não te inspire confiança.

- Espera... – Harry sentou-se novamente na maca – Você? Me ajudar? No controle da mente? Como é isso?
- Bom... Eu sou... Digamos... Bom em oclumência.
- Me conta uma novidade, como algo no qual você não é bom...

Daniel riu. Isso deixou o sangue de Harry fervendo.

- Certo... Harry, eu vou te contar uma coisa sobre mim, talvez não ajude muito, mas... Acho que é cabível. Posso me sentar? – Daniel apontou para a maca. Harry fez uma expressão de indiferença.

O rapaz tomou assento ao seu lado, tão levemente que parecia uma garota. Ele mantinha o olhar para a porta da Ala Hospitalar, não como se evitasse Harry, mas como se estivesse se recordando de algo bom, visto o sorriso que começava a surgir nos seus lábios.

- Até os meus 15 anos, eu achava a vida um saco. Eu reclamava de tudo, eu sentia que ninguém gostava de mim. Eu não tinha amigos, era tímido, solitário... Tudo o que eu queria era morrer. Meus pais, minha irmã e eu tínhamos o costume de viajar para West Palm Beach nas nossas férias, nos passávamos por uma família trouxa comum, sabe? Para curtir o sol...
- Sei... – Harry tentava achar algum nexo no que ele dizia.
- Então, numa dessas férias, eu me apaixonei por uma garota. Ela era linda, eu me recordo até hoje de como os olhos dela tinha uma cor linda de marrom, os cabelos dela tinha perfume de flores... Ela se apaixonou por mim também, sabe? Mas tinha um porém...
- Qual porém?

- Ela era trouxa e três anos mais velha que eu. Meus pais me criticaram, me puniram, me proibiram de vê-la. Minha irmã, no entanto, me apoiou. Lucy era simplesmente fantástica...
- Lucy? A garota?
- Ah, não... Lucile era minha irmã... A garota era Mariana.
- Mariana... Não parece um nome americano... – Harry comentou.
- Ela não era norte-americana, era do sul. Falava inglês com um sotaque lindo, tinha a pele bronzeada... Mariana era linda. Lucy me ajudou a fugir, pela primeira vez eu me senti de fato vivo, sabe? Perto da Mariana eu sentia vontade de viver novamente. Incrível como somos imprudentes quando somos novos, não é? Eu estava disposto a fugir, eu arrumei uma bolsa, dei um beijo em Lucy e saí pela janela...

Os olhos de Daniel de repente rolaram até Harry. Havia uma emoção indecifrável, como se ele quisesse chorar, mas não havia lágrimas ou brilho nos seus olhos.

- Quando eu cheguei para encontrar Mariana, ela estava lá, e disse que não ia mais fugir, pois estava perdidamente apaixonada por outro. Ela me dispensou, duramente. Disse que eu era um menininho bobo que acreditava em tudo que contavam, mandou eu procurar alguém da minha idade para brincar de casinha.
- Nossa... – Harry deixou o queixo cair.
- Eu nunca mais vou esquecer aquelas palavras...
- Mas...? O que houve depois?
- Eu estava transtornado, claro, eu senti tanto ódio de mim mesmo, que a primeira coisa que eu fiz depois do fora que eu levei foi cortar meus pulsos.

- QUÊ? – Harry arregalou os olhos – Cortou... Os pulsos?
- Foi, eu tentei me matar. Mas felizmente, alguém me achou e me levou para um hospital. Eu estava já inconsciente, devido à hemorragia. Quando eu acordei, havia um psiquiatra que foi encarregado de cuidar de mim, trouxas costumam fazer isso pelos suicidas... Ele era um homem incrível, dedicado, sabe? E ele conversou muito comigo, conquistou minha confiança e amizade. Na realidade... Não foi meu pai quem me deu o “Pequeno Príncipe”, foi esse doutor.

- Sério?
- Sério, ele era a figura paterna que eu não tinha, entende? Meu pai era muito rígido, durão... Ele só me criticava... Ele não, ele era meu amigo e não pedia nada em troca. Meus pais me tiraram imediatamente do hospital e me proibiram de falar novamente com o psiquiatra, achavam isso idiotice, eu era um bruxo, não precisava disso.
- Certo... Mas, por que você está me contando tudo isso? – Harry balançou a cabeça, como se tentasse assimilar as palavras com a situação.

- Eu não terminei... – Daniel sorriu de canto – Quando eu fiz 17 anos... Bom, eu... Quer dizer, eu... Não podia contar com meus pais... Eu estava louco para completar a maior idade e sair da casa... Eu ainda me correspondia com meu amigo trouxa, mesmo contra a vontade dos meus pais. Eu fui encontrá-lo. Ele me recebeu de braços abertos... Eu aprendi muito com ele, por isso eu sei tanto sobre trouxas. Entende agora?

Daniel sorriu, um sorriso perfeito e em plena harmonia com seu rosto. Harry balançou a cabeça positivamente. Via pura sinceridade naquelas palavras, ele não estava mentindo, não mesmo.

- O que eu queria que você pensasse, Harry, é que a ajuda vem de onde menos esperamos. Eu esperava ser feliz com Mariana, mas eu precisei me decepcionar com ela para encontrar o meu melhor amigo. Ele sim, ele me valeu nos meus piores momentos. Eu também não acreditava nele no começo, eu o olhava e pensava “puxa, quem esse trouxa pensa que é para tentar entender minha mente?” Mas ironicamente ele se tornou a pessoa que me salvou de mim mesmo.
- Eu entendo Dan... – Harry sentiu-se corar.

Daniel tinha um estranho dom de reverter a situação: Agora, Harry se sentia o vilão. Daniel era o bom moço. Sentiu vergonha de desconfiar dele. Talvez, ele estivesse encenando, mas não podia ser... Eram muito sinceras aquelas palavras.

- Eu não vou pedir para você confiar em mim, Harry, porque eu entendo seu lado. No seu lugar, eu também ficaria sob ressalva, mas... Pense nisso. E... Eu não menti quando escrevi aquela dedicatória... Meu pai era de fato o meu amigo trouxa.

Ele levantou-se, sorrindo para Harry, que não fez menção de sair dali. Daniel acenou com a cabeça e girou nos calcanhares, e foi saindo. Harry voltou por um momento ao seu pesadelo, e sentiu-se novamente gelar.

- Espera... – Harry pediu.
- O quê?
- Sophie... Draco... Estão presos!
- Certo... Vamos comunicar à Ordem... Descanse um pouco mais, eu peço para Remo vir conversar com você.

Daniel saiu, fechando delicadamente a porta atrás dele, deixando Harry ligeiramente intrigado. Era tão complicado, tudo indicava que Daniel não era de confiança, por mais que Remo confiasse cegamente nele. Mas algo nele era tão misterioso e tão claro ao mesmo tempo. Harry não conseguia organizar os pensamentos: a imagem de Sophie decepcionada com Amanda – parte disso era boa, Sophie realmente não estava do lado deles, de Draco em pânico por seus pais, de Voldemort repleto de felicidade pelos seus maus feitos, e ainda, a caça por horcruxes, a qual ele não estava mais se dedicando... E agora, de Daniel e sua serenidade nos momentos de crise.

Vai ver, essa era a doença dele, ser paciente, inteligente, educado, convincente, fazer com que os outros acreditem nele quando tudo vai de contra, se persuasivo... Reverter a sua condição de vilão para mocinho...

Harry deu um suspiro pesado. Seria pedir demais ser um garoto normal? Talvez, ele entendesse Daniel, ou talvez quisesse realmente entender, já que sua vontade também era sair dali correndo e renunciar a tudo e todos.

***
Os alunos de Korãran estavam eufóricos, faziam uma fila indiana, colocando seus nomes numa longa lista de inscrição para as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. Alguns murmuravam palavras de desgosto quando eram barrados por não serem do 6º ou 7º ano. Julio teve muito trabalho para organizar a confusão.

- Eu peço a compreensão de todos, mas não podemos treinar os alunos abaixo do 6º ano! Não insistam! – Ele falou, amplificando a voz com o feitiço “sonorus”.

Cauã estava escrevendo seu nome na lista que Liah cuidava, sentada com uma postura invejável atrás da mesa. Após registrar sua inscrição, ele sorriu para Liah, que correspondeu com aquele seu mais lindo sorriso também.

- Sabe como estamos chamando esse “treinamento” – Cauã fez aspas com os dedos ao dizer a última palavra – Que Julio está propondo?
- Não... Eu não vi isso ainda... – Ela brincou – Como?
- “Clube da luta”

Liah fez uma expressão confusa. Como assim “clube da luta”?

- Não entendi, por quê?
- Ah, estão dizendo por aí que Julio vai nos ensinar a lutar contra bruxos e criaturas das trevas...
- Quem disse isso? – Julio apareceu, cruzando os braços e olhando para Cauã, com uma expressão tão confusa como a da namorada.
- Ué... – Cauã deu de ombros – Estão falando...
- Pois não é bem assim... Eu vou ensinar algumas coisas de DCAT sim, mas não sobre luta...

- Então, que graça tem? Pensei que nós iríamos lutar contra Lobos Malditos, bruxos maus, Curupiras...
- Lobos malditos? Curupiras? – Liah riu.
- É... – Cauã gargalhou – Eu não consigo me livrar das lendas... Isso que dá ser da tribo...
- Desculpa, mas não temos nenhum lobo maldito ou Curupira para você lutar contra, Cauã... – Julio fingiu decepção.

Liah, entretanto, olhou para baixo, ligeiramente constrangida. Ela sabia que não era bem verdade. Embora os nomes usados fossem de lendas do folclore brasileiro, ela sabia exatamente do que ele estava falando.

Cauã ainda ria com Julio, mas fechou o riso quando viu Liz se curvando sobre a mesa, assinando seu nome na lista. Ele a encarou, confuso.

- O que deu em você para querer aprender... Magia? – Ele perguntou, incrédulo.

Liz o olhou de canto de olho.

- Ah, desculpa, eu tinha que pedir permissão a você, Pajé?
- Aprendeu isso com a Rosário? Vejo que está aproveitando suas aulas de poções...
- Não leva a mal não, Cauã, mas eu não te devo satisfações...

A garota virou-se para Julio, que parecia ligeiramente sem graça pelo fora que ela dera em Cauã.

- Eu tive aulas de Defesa Contras as Artes das Trevas na minha outra escola, eu não sei muito sobre maldições imperdoáveis, mas se te interessa saber, eu tirei “excede expectativas” nas provas sobre criaturas das trevas.
- Ah, ótimo! – Julio sorriu timidamente – Você pode nos ajudar...
- Espera... – Cauã se meteu – Você não disse que não haveria Lobos Malditos e Curupiras?

Liz franziu as sobrancelhas, sua curiosidade a fez esquecer que estava brava com o rapaz.

- O que é Lobo Maldito e Curupira?
- Você não sabe? – Ele parecia decepcionado.
- Não... Eu cheguei aqui ano passado, “remember”?
- ah, é verdade... – Julio olhou para Cauã se relance – Esses nomes são de criaturas que você conhece, mas aqui temos lendas sobre elas. Isso é ensinado no primeiro ano, Tarso que ensina.
- Aliás, erro meu... – Liah comentou, com um sorrisinho amarelo – Eu devia ter pedido para ele te ensinar sobre as lendas do folclore brasileiro... Mas eu acho que Cauã pode te contar, não é Cauã? Afinal, ele é descendente indígena, sabe das lendas melhor que ninguém.

Cauã conteve um sorrisinho de vitória e seu impulso de beijar Liah pela ajudinha. Liz, por outro lado, mirou Liah como se quisesse avançar nela. Liah sorria sonsamente, feliz por ajudar um casal em crise. “Rudá ficará muito feliz por sua serva na preservação do amor...” ela pensou.

- Vai ser um prazer, podemos começar as aulas agora mesmo, “adorable” Miss Mary Elizabeth Smith... – o garoto se curvou numa reverência formal. Julio e Liah riram.
- Liz... Só Liz... E que seja... – A garota revirou os olhos.

Ela queria odiar Cauã, mas era praticamente impossível, agora mesmo, o jeito que ele usou falar com ela, era cômico. E sua curiosidade também não ajudava, era tão grande que ela temia aquele ditado brasileiro que dizia “a curiosidade matou o gato”.

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