Nuvens.



Enfim, capítulo betado!

Parabéns pelo ótima estréia no novo trabalho, Rick! rsrs.

E aproveito para agradacer, em especial, a Ray Evans Potter, que sem obrigação alguma, se ofereceu para revisar o capítulo e se saiu muito bem! Obrigada Ray!

Sem mais, vamos ao que interessa.

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Capítulo 23: Nuvens.



Harry Potter é um nome que já causa frisson nas comunidades bruxas do mundo todo há mais de dezenove anos. O pequeno bebê, de apenas um ano de idade, já era aclamado como o grande salvador do mundo mágico mesmo antes de aprender a andar. A simples idéia de que uma criança indefesa tivesse destruído o maior bruxo das trevas de todos os tempos era algo que encantava e assombrava em igual proporção a população mágica. E imaginar que esse pequeno herói teria que viver sob as sombras da ausência dos pais, mortos de maneira impiedosa, despertava o instinto maternal de qualquer bruxa. Famílias bruxas teriam dado verdadeiras fortunas para criar o pequeno Harry Potter como se fosse seu próprio filho, e foi a partir desse anseio que surgiu a grande pergunta: Onde estava o menino-que-sobreviveu? Desde o fatídico dia do assassinato da família Potter que o único herdeiro sobrevivente havia desaparecido. Ninguém sabia o paradeiro do menino, ninguém conhecia seu rosto. Apenas tinham conhecimento de sua famosa cicatriz em forma de raio na testa, sua única herança daquele dia sangrento; a marca de suas perdas, de sua fama, e de sua - até então desconhecida - ligação com Voldemort.

Dumbledore, que todos achavam ser o único bruxo que detinha conhecimento sobre o paradeiro do pequeno Harry, e também, diziam algumas línguas mais audaciosas, mentor e protetor do menino, jamais dera informações convincentes sobre o assunto e na maioria das vezes eram apenas notícias vagas, muito pouco esclarecedoras e menos ainda satisfatórias. Quase sempre dizia somente que o garoto estava sendo bem cuidado e protegido. Restava à população aguardar o momento em que ele ingressaria em Hogwarts para iniciar seus estudos mágicos, pois ninguém tinha duvidas de que o garotinho seria um bruxo poderoso. O que ninguém imaginava era que o pequeno herói do mundo mágico estava sendo criado a contragosto pelos tios trouxas, dormindo em um armário sob a escada e sendo tratado de forma hedionda.

O ano da chegada de Harry Potter à Hogwarts e sua inclusão no mundo mágico foi um espetáculo digno de contemplação, bem como todos os anos subseqüentes. Porém, a aparição do menino inocente, assustado e deslumbrado, com apenas onze anos de idade, trouxe consigo as nuvens negras do medo. Justo quando Harry ingressara naquele novo e desconhecido mundo, Lord Voldemort, até então tido como morto, resolvera ressurgir mesmo sob uma forma incorpórea, trazendo à tona o já esquecido gosto gélido e amargo do pavor, fazendo com que os bruxos deixassem de ver Harry com um herói, e sim como uma ameaça aos bons outonos de paz. O menino-que-sobreviveu, outrora proclamado, passou a ser acusadoramente apontado e muitas vezes difamado. Poucos eram aqueles que não viam estranheza em um garoto que sentia dores na cicatriz, tinha visões involuntárias, desmaiava na presença de dementadores e falava com cobras. E menos ainda aqueles que admiravam o jovem que salvara a pedra filosofal aos onze anos, matara um basilisco aos doze, produzira um patrono corpóreo aos treze e escapara da morte mais vezes do que era estatisticamente possível.

Harry Potter foi amado e odiado, aclamado e difamado, admirado e invejado. Mas poucas vezes ele foi compreendido. Poucos eram aqueles que se preocupavam com a pessoa Harry Potter. E era a essa pequena parcela de pessoas que Harry dedicava sua vida, pois tinha certeza que, sem eles, teria definhado. Sem seus dois melhores amigos e os Weasley, ele não poderia estar ali, caminhando naquele lugar apinhado de gente elegante e embebido em um clima tão contagiante de felicidade e esperança. Sabia que era apontado e observado, mas nem se importava se o era por admiração ou antipatia. Só o que sentia era que estar ali, naquele lugar que tanto amava e que hoje era seu lar, cercado por seus amigos e por sua família, com a única missão de buscar uma cerveja amanteigada para Gina e voltar para o lado dela, era algo que o deixava feliz em demasia.

Harry olhava para os lados procurando um garçom que estivesse por perto, mas como não viu nenhum, resolveu ir até a mesa de bebidas. Desviava de um ou outro bruxo enquanto caminhava, e pensou em ir falar com Andrômeda Tonks, que estava com Teddy no colo, sentada na mesma mesa que Minerva McGonaghal; porém acelerou o passo quando ouviu tia Muriel gritar seu nome e na pressa de se afastar quase deu com a testa em uma grande garrafa de champanhe que flutuava por ali. Aliviado por ter conseguido se livrar da bruxa idosa, se aproximou da mesa de bebidas, pegou uma taça e retirou a tampa da garrafa de cerveja amanteigada mais próxima.

Estava despejando a bebida no recipiente de cristal quando sentiu um puxão brusco na parte detrás de seu paletó; quase no mesmo instante começou a ser arrastado dali, o que fez-lo derrubar boa parte da cerveja na mesa. Tropeçava nos próprios pés devido a forma rude com que estava sendo levado dali, mas não relutou e se deixou conduzir pela jovem que o puxava resoluta. Somente quando já estava dentro da cozinha d’A Toca foi que se recusou a andar mais.

- Quer me explicar o que foi isso? – Harry perguntou meio irritado, afastando a mão dela.

- Quero conversar com você!

- E não dava pra ter me dito isso civilizadamente? Era realmente necessário vir me arrastando pra cá como se eu tivesse feito algo de errado?

Hermione olhou pra ele e pôs as mãos na cintura.

- Acontece que eu ainda não sei se você fez algo de errado. Por isso te trouxe aqui!

De irritado, Harry passou a ficar confuso. Observou mais detidamente a expressão da amiga e percebeu que o assunto realmente deveria ser sério.

- Certo! Me diga, o que eu fiz dessa vez? – ele falou mais calmo apontando na direção da mesa da cozinha, que estava vazia.

Os dois caminharam até lá e sentaram-se um de frente para o outro. Só então Hermione prosseguiu:

- É sobre a Katheryn.

- O que tem ela? – Harry perguntou, deixando a garrafa e a taça que tinha nas mãos sobre a mesa e parecendo mais confuso do que nunca; esperava qualquer coisa, menos que o assunto da conversa fosse Katheryn.

- Como você bem sabe, eu acabei esquecendo algumas coisas que aconteceram na sexta por conta daquelas doses extras de cerveja trouxa. – Hermione sacudiu a cabeça rapidamente – Mas isso não vem ao caso. Acontece que eu me recordo de algumas coisas, e uma delas em particular me intriga.

Harry não falou nada, apenas fez sinal com a mão para que Hermione prosseguisse. Queria entender sobre o que ela estava falando.

- Harry, eu realmente simpatizei com a Katheryn. Sem dúvidas ela é uma pessoa interessante. Mas ela também é muito bonita e... bom... – Hermione debruçou-se um pouco sobre a mesa para se aproximar mais de Harry – Na sexta ficou claro pra mim. Ela está interessada em você! – concluiu taxativa.

- O que? O que você quer dizer com isso?

-Exatamente o que você ouviu!

Harry, mais uma vez, analisou atentamente o rosto de Hermione, quase aguardando que ela gritasse “brincadeirinha!”. Mas a expressão dela estava séria demais. Harry não queria se convencer daquilo, mas o que estava quase o exasperando era o fato de raramente Hermione errar sobre algo, principalmente nesse aspecto, onde ela era bem mais desperta e sagaz do que ele.

- Como você pode estar tão certa do que está dizendo? Você sequer a conhece direito! – teimou.

- Ah, faça-me o favor! – Hermione revirou os olhos impaciente – Basta olhar pra ela que fica evidente. Depois que chegamos naquele bar percebi que ela olhava pra você insistentemente, embora tentasse disfarçar. Apesar disso, o que me deu certeza foi outra coisa, e é sobre isso que eu gostaria de conversar. – Harry novamente não se manifestou; Hermione continuou – Lembra quando Neil, Rony e eu levantamos para dançar e vocês dois ficaram sozinhos? – Harry afirmou rapidamente com a cabeça – Então, estávamos todos bem descontraídos, principalmente a Katheryn, que sem dúvidas era a mais animada. Mas quando voltamos para a mesa, ela parecia outra. – disse com uma expressão pensativa – Ela estava mais calada e parecia desconfortável.

- Sério? Eu juro que não percebi!

Hermione rolou os olhos para o céu, perguntando mentalmente às forças divinas se um dia elas teriam piedade da santa ignorância masculina. Respirou fundo, lutando para afastar a vontade de dar uns tabefes no rosto do amigo pra ver se ele conseguia ser um pouco menos distraído, e continuou:

- Eu, no início, achei que vocês tinham discutido, mas logo percebi que não. Outra coisa, um pouco mais complicada tinha acontecido ali.

Hermione fitou o amigo interrogativamente.

- Que foi? – ele perguntou desconfiado.

- Então?

- Então o que?

- O que houve entre vocês ali?

- Nada! Eu já disse que não notei mudança no comportamento dela. Inclusive, depois que vocês voltaram, é que vocês duas começaram aquela festinha particular com as cervejas trouxas, não?

- Pelo menos isso! – disse Hermione com as bochechas discretamente coradas, preferindo não responder a provocação – Então você percebeu que foi a partir desse momento que Katheryn começou a beber descontroladamente? Você notou que ela estava tentando, de alguma forma, se soltar novamente?

- Não! – respondeu assombrado, incapaz de acreditar que Hermione havia captado tudo aquilo.

- Ah, Harry! – Hermione deu um suspiro piedoso – Vocês homens deveriam ser mais atentos.

- Hermione, é sério! Não aconteceu nada demais ali. Nós dois apenas conversamos. Ela apenas me falou sobre os pais e sua formatura na academia de aurores francesa.

- E você? O que contou a ela?

- Bom, - disse meio atordoado com a insistência da amiga – acho que falei sobre meu interesse em me tornar auror, a falta que Gina me faz, a maneira que conheci Rony e você...

- Espera! – Hermione o interrompeu e tinha no rosto aquela expressão de alguém que entende algo aparentemente complicado – Vocês conversaram sobre a Gina?

- Sim, ela me fez algumas perguntas sobre a Gina. – Harry respondeu um pouco ríspido, visivelmente aborrecido – Mas o que tem de errado nisso?

No entanto, Hermione não o ouvia mais. Sua mente hiperativa já havia sido transportada para uma linha de raciocínio bem mais complexa que Harry provavelmente não conseguiria alcançar. Seu olhar ficou vago e distante.

- Então foi isso! Sim, tenho certeza que foi! Ela ficou mais arredia depois de ouvir Harry falar sobre Gina. – sussurrava baixinho, como se falasse consigo mesma – Claro!

- Hermione, quer parar? – Harry pediu com a voz cansada.

- Não! – ela disse tão alto e com tanta convicção que fez Harry ter um sobressalto – Eu não vou parar até você entender o porquê da minha preocupação.

- Ótimo! Maravilha! Então explica logo o porquê dessa preocupação.

- Gina!

- Gina? – Harry se sentiu desnorteado no meio de todas aquelas informações.

- Não podemos deixar que Gina e Katheryn se encontrem. Eu preciso ter uma conversinha com a Katheryn antes da Gina chegar.

- Sério! Você está exagerando!

- Harry, a Gina é esperta! Ela vai notar as intenções da Katheryn pra cima de você em alguns poucos minutos de conversa. E você conhece a Gina. Sabe como ela reage quando algo a incomoda. Lembra da Sally?

Harry definitivamente desarmou a postura defensiva e ficou mais reflexivo.

- Acho que é tarde demais. – disse um pouco mais temeroso, porém ainda sem dar razão ao princípio de pânico de Hermione – Gina já está aqui.

- O quê? – Hermione saltou da cadeira e ficou de pé – Harry, não podemos deixar as duas se encontrarem!

- Tarde demais também. Acabei de deixar as duas juntas na mesa.

Hermione, com o olhar desfocado, deixou seu corpo cair lentamente sobre a cadeira novamente.

- Olha Hermione, eu ouvi tudo o que você disse, mas não entendo o motivo de tanto alvoroço. Primeiro porque acho absurda essa idéia da Katheryn estar interessada em mim. E segundo porque, mesmo que isso fosse verdade, Gina sabe que eu jamais olharia para outra garota.

Hermione quase sorriu com a última frase que ouviu, porém manteve a expressão.

- Pode ser que você tenha razão e que eu esteja exagerando, mas sei o que estou dizendo. É impossível não perceber o interesse da Katheryn em você!

- Rony não notou nada! – Harry tentou argumentar.

- Neil provavelmente também não. – retrucou Hermione com um olhar desdenhoso e superior – Sabe por quê? Porque são homens, e homens são verdadeiros fiascos nesses assuntos e costumam agir como animais acerebrados.

Harry achou melhor ignorar o comentário, até porque ele não discordava completamente.

- Quer saber, não sei como você pode afirmar isso com tanta convicção. Pelo que me lembro, você estava bêbada e ontem acordou com sérios sintomas de amnésia alcoólica para agora chegar aqui e dizer tanta coisa com tantos detalhes e certeza!

Hermione se pôs de pé novamente. Sua expressão demonstrava uma grande indignação.

- Você me conhece, sabe que se eu não tivesse certeza do que estou dizendo não contaria nada!

- É, da mesma maneira que fez quando dizia ter certeza que o Malfoy não estava aprontando nada demais no nosso sexto ano, enquanto ele planejava a morte de Dumbledore e quase matou o Rony e a Cátia; ou quem sabe quando você estava certa de que as Relíquias da Morte eram apenas lendas usadas em contos infantis enquanto eu tinha uma guardada dentro do casaco!

Hermione chegou a abrir a boca, mas não emitiu nenhum som. Ela deu as costas a Harry e caminhou com passos firmes e ligeiros em direção à porta.

Harry não precisou olhar nos olhos da amiga para saber que havia sido grosseiro. Pensou em chamá-la, mas antes mesmo que o fizesse, Hermione parou.

- Gina já sabe sobre a nossa animada comemoraçãozinha de sexta? – perguntou de costas para ele.

Harry sentiu garras afiadas cravarem-se em seu peito rasgando-lhe a carne ao lembrar-se daquele olhar indagador que recebera de Gina quando Katheryn comentou sobre o assunto.

- Não, eu... bem... acabei esquecendo de contar, mas...

Hermione virou o rosto lentamente e olhou para ele.

- Que bom! Fico muito feliz de saber que você está encrencado! – disse venenosamente antes de se virar e sair.

Harry ficou ali, parado, imaginando o sorriso que deveria estar estampado no rosto de Hermione. Não a culpava por isso, afinal, havia sido muito indelicado e rude com ela, e ele já sabia muito bem o quanto as mulheres podem ser cruéis quando querem.



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Quando Harry voltou à mesa, o clima ali estava mais tranqüilo do que esperava. Rony, Neville e Luna pareciam estar discutindo sobre alguma planta de nome estranho. Hermione, Ana e Gina ouviam Katheryn relatar uma perseguição que participara na França a um bruxo das trevas “amador”, como dizia a auror. Harry, que chegara sorrateiro, aproveitou para se aproximar de Gina e tocou levemente em seu braço.

- Pode vir comigo? – sussurrou, fingindo não notar o olhar ferino de Hermione.

Gina se levantou, pediu licença e segurou a mão que Harry lhe oferecia. Harry a conduzia para um lugar mais afastado da festa e ela percebeu que estava sendo levada para perto da mesma árvore que Luna estivera com o pai há algum tempo.

O tronco da grande árvore era tão robusto que escondia perfeitamente os dois das vistas dos mais curiosos da festa. A noite também já se aproximava, tingindo o céu com um azul-escuro e fazendo aparecerem as primeiras estrelas, espalhando uma escassa penumbra nos pontos do jardim não iluminados pelas luzes da festa; fato que também serviu para dar um pouco mais de privacidade ao casal.

Gina escorou as costas no tronco da árvore e fitou Harry com o rosto quase inexpressivo.

- Tome. – disse Harry.

- Obrigada! – a ruiva agradeceu aceitando a taça de bebida que ele lhe oferecia, mas ela sequer provou seu conteúdo; continuou olhando para ele da mesma forma.

- Acho que você deve estar cheia de perguntas na cabeça, não é? – Harry perguntou, sustentando bravamente o olhar de Gina.

- Não! Apenas uma: por que você não me contou?

Harry não precisava perguntar sobre o que ela estava falando, já que ele sabia muito bem do que se tratava. De certa forma ele se sentiu mais tranqüilo com a pergunta, pois ela demonstrava estar querendo conversar e lhe dando a oportunidade de se explicar antes de acusá-lo. E algo no tom da voz dela o fez sentir mais seguro e confiante.

- Sinceramente? Eu acabei esquecendo de escrever lhe contando. – disse de maneira franca – No outro dia a Sra. Weasley mal nos deixou respirar com a organização da casa para o casamento. Mas, se você quiser, posso lhe contar tudo agora.

Gina fez um discreto movimento com a cabeça e tomou um gole de sua bebida. Então Harry narrou todo o ocorrido, desde a invasão eufórica de Hermione à sala de treinamento com a notícia da promoção até a bronca da Sra. Weasley quando eles chegaram n’A Toca. Gina não o interrompeu, mas não conseguiu evitar algumas risadinhas no decorrer da história.

- Então era a isso que Hermione se referia na carta. – disse risonha.

- A isso o que? – quis saber Harry, curioso.

- Hermione me escreveu no sábado contando sobre a promoção no ministério e disse que tinha algo que iria me contar hoje pessoalmente e que eu não iria acreditar. – Gina riu e tomou mais um gole de sua cerveja amanteigada – Ela tinha razão! É difícil até de imaginar Hermione Granger bêbada. Isso deveria ser relatado nos livros de História da Magia Moderna como um dos marcos do novo século.

Harry a acompanhou nas risadas por alguns instantes. Forçou um pouco a vista para tentar enxergar melhor o rosto dela, pois a escuridão já se adensava ao redor. Aproximou-se um pouco mais, tocou o rosto dela com a mão direita e com a outra fez carinho na nuca dela por entre os cabelos vermelhos. Quando ela fechou os olhos sob seu toque, sem deixar de sorrir, Harry não conseguiu esperar passarem nem dois segundos a mais para encostar seus lábios nos dela.

Gina retribuiu o beijo. Precisava daquela proximidade, do calor daquele corpo. Sentiu suas costas serem ainda mais pressionadas sobre o tronco da árvore, machucando um pouco a pele desnuda pelo decote, mas nem deu muita atenção a isso. Mérlin, como ela amava aquele beijo, como sentia falta daquilo!

Harry se afastou um pouco, mas não abriu os olhos. Parecia estar em transe. Gina, porém, abriu os seus. Amava-o, não tinha dúvidas disso, mas ela sempre se julgou muito segura, e aquele sentimento que brotava dentro dela era muito incomodo, sufocava-a. Era diferente das outras vezes, pois dessa vez ela se sentia ameaçada, sentia medo. Mas era um medo diferente, inexplicável. Ciúmes? Medo de perder Harry? Sim, também; entretanto era mais que apenas isso. Estava tudo tão confuso. Não soube por que, mas ela precisava conversar, se abrir com Harry.

- Ela é muito bonita mesmo! – disse Gina, e quase no mesmo instante viu novamente aquelas íris extremamente verdes iluminarem um pouco a escuridão.

- O que? – perguntou Harry meio atordoado.

- Katheryn! Ela é mais bonita do que eu imaginava!

Harry deu um sorriso inclinado que Gina julgou o mais envolvente que já havia visto naqueles lábios.

- Mas não tanto quanto você. – ele disse escorregando os dedos por entre os cabelos dela.

Gina sorriu levemente, deleitada pelas palavras do namorado e tendo, momentaneamente, suas aflições serenadas. Mais do que nunca ela sentiu que estar perto de Harry era essencial.

- Quando você nos deixou sozinhas na mesa, ela me falou um pouco sobre o treinamento de vocês no ministério, mas não conversamos muito bem. Rony logo se juntou a nós e o assunto mudou completamente. – Gina ficou reflexiva – Não sei! Algo nos olhos dela me incomoda!

- Também me incomodava no início, por isso conversei com ela no ministério. Ela é uma pessoa legal!

Gina se esforçou para dar um sorriso cúmplice, mas seus lábios quase não a obedeceram. Passou seus braços ao redor do tórax de Harry e o abraçou, encostando seu rosto no peito dele. Fechou os olhos e suspirou quando sentiu as mãos dele passeando pelo pequeno pedaço de pele que estava descoberto em suas costas. Não queria mais falar sobre Katheryn.



















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As semanas seguintes vieram junto a um clima tempestuoso e desbotado. Por vários dias seguidos, as manhãs inglesas despertaram acinzentadas, num prelúdio aos temporais que se arrastariam até o início das noites. O sol, tímido nessa época do ano, raramente era visto. Capas, botas, cachecóis e guarda-chuvas eram itens obrigatórios para os que necessitavam ou se aventuravam a sair de casa.

Mesmo com o tempo melancólico, os dias seguiam agitados na residência dos Weasley. Em meados de Setembro, a ausência do sol e a as gotas de chuva que tamborilavam nos vidros das janelas d’A Toca não tornou o dia menos iluminado, pois Teddy Tonks Lupin resolvera chamar a Sra. Weasley de ‘vovó’, o que reduziu Molly às lágrimas e a deixou com um humor contagiante nos dias conseguintes. Fleur, que felizmente não se enciumou com o ocorrido, já exibia sinais discretos da gravidez e quanto mais seu estado desenvolvia, mas bela a loura parecia.

O primeiro fim de semana de Outubro marcou a data do segundo jogo de Gina pelas Harpias de Holyhead. Dessa vez, a ruiva pôde contar com a presença de grande parte da família, inclusive de Percy e Audrey que enfim, haviam retornado da aparentemente interminável lua-de-mel na África.

- Percy fez questão de falar pessoalmente com o ministro sul-africano. – dissera Audrey com ar de tédio.

- Querida, eu já expliquei que isso fora importante para estreitar laços entre os governos bruxos. – comentou Percy tentando suavizar a informação – Quando eu trabalhei no Departamento de Cooperação Internacional em Magia conheci o assistente pessoal do ministro africano durante uma reunião do Conselho Internacional dos Bruxos e isso nos facilitou o contato. Não poderíamos perder essa oportunidade.

- Poderíamos? Ah, Percy! Você realmente é um caso perdido! – disse Audrey dando um suspiro irritado – Nem mesmo a lua-de-mel afastou sua cabeça do trabalho.

- Seria bem mais fácil um bruxo receber um abraço carinhoso de um dementador. – brincou Jorge.

As Harpias tornaram a vencer o jogo, mas dessa vez o placar foi bem mais elástico e apontou 280X60 quando a apanhadora galesa capturou o pomo-de-ouro e encerrou a partida. Gina, porém, não teve permissão para ir pra casa dessa vez e, após uma animada visita ao camarote da família – patrocinado pelas ‘Gemialidades Weasley’ – teve de retornar para o centro de treinamento com o restante do time. No entanto, apenas após uma rigorosa vistoria de Molly - que passara a maior parte do jogo amassando a barra do vestido e resmungando infortúnios aos batedores da equipe adversária - para constatar que não faltava nenhum pedaço da filha, é que a caçula ruiva foi liberada.



Harry e Rony, na semana após o jogo, passavam praticamente o dia todo mergulhados nos livros, pois o dia dos testes finais da primeira etapa do treinamento de aurores estava se aproximando. Rony chegara a pedir licença de seus afazeres na loja de logros para poder acompanhar o ritmo pesado de estudos e treinos. Katheryn não estava sendo clemente com os rapazes e fazia sessões cada vez mais intensas de treinamento. A auror justificava, dizendo com seu habitual sorriso, que não poderia entregar seus pupilos despreparados para um novo treinador, pois sua reputação também estava em jogo.

Na véspera dos testes dos rapazes, Molly chamara Harry em particular até a sala de estar após o jantar e, assim que sentaram no velho sofá, dissera que não havia mais como adiar a saída do rapaz d’A Toca.

- Hoje, Audrey, Hermione e eu fizemos os últimos ajustes no seu apartamento. Ele já está completamente mobiliado com os móveis que você escolheu e também já está limpo; então, não vejo mais como atrasar sua saída desta casa. – ela disse olhando para o lado oposto ao que Harry estava, nitidamente escondendo seu rosto das vistas do rapaz.

- Muito obrigado, Sra. Weasley! Eu nem sei como agradecer. – falou Harry sentindo algo estranho. Era uma mistura de alegria e consternação, de segurança e temor. Somente agora, que estava a um passo de construir uma nova vida, percebia que talvez ele preferisse essa. Apenas nesse momento, após receber essa notícia, de olhar para aquela casa acolhedora e para o rosto decepcionado da Sra. Weasley, que ele notava que talvez não devesse sair dali, que o melhor seria ter a companhia daquelas pessoas.

- Molly! - disse ela suavemente.

A voz da Sra. Weasley arrancou Harry de seus pensamentos. Com um olhar confuso, fitou a bruxa, que já não escondia seu rosto e o permitia ver seus olhos castanhos, tão bonitos e vivazes quanto os de Gina, mas que no momento encontravam-se opacos e marejados.

- Já está na hora de você começar a me chamar de Molly, não acha? – ela perguntou com um sorriso doce.

Harry tentou retribuir o carinho que ela lhe transmitia naquele sorriso, mas, por algum motivo inexplicável, não conseguiu. Estava inseguro, pois não tinha certeza se estava preparado para um novo recomeço.

- Não precisa ter medo, querido! – novamente a voz dela o trouxe à realidade – Você sabe que sempre estaremos aqui, quando você precisar, não sabe?

Harry, um pouco desconcertado, limpou a lágrima que rolou pelo rosto sardento da única bruxa que lhe dispensou um amor próximo ao de uma mãe para com um filho mesmo não tendo nenhuma ligação de sangue ou obrigação de fazê-lo. Somente quando Molly segurou seu rosto com as mãos e lhe dirigiu um olhar maternal, foi que Harry conseguiu concordar.

Molly, cuidadosamente, fez-lo descansar a cabeça em suas pernas, então se pôs a acariciar os cabelos dele. Um carinho e alento que já havia dado a todos os seus filhos. Tinha uma afeição tão grande por Harry que nem mesmo sabia explicar. Ela entendia que por trás de todos aqueles títulos que ele recebera no decorrer de sua vida, morava uma criança assustada, insegura, que foi forçada a amadurecer cedo demais, que sofreu mais do que alguém poderia suportar, que precisou fazer escolhas difíceis e abdicar de coisas que considerava essênciais. Um menino que não teve tempo de assimilar e entender as perdas que sofrera, e que precisou ignorar o sentimento de culpa que lhe corroia por isso. Enfim, uma criança especial, que mesmo com tudo que passou, cresceu e se tornou um adulto admirável, mas que nem por isso deixava de necessitar de carinho.

- Eu pensei que você ficaria feliz com a notícia. – disse ela calmamente.

- Eu também. – ele respondeu sinceramente, sentindo-se bem com o carinho que recebia – Mas acho que não será fácil ir embora daqui. Depois de Hogwarts, esse é o único lugar em que me sinto bem.

- Assim como Hogwarts, A Toca sempre será seu lar, meu filho!

Após ouvir aquilo, Harry respirou fundo e fechou os olhos lentamente. A segurança voltando a circular em seu sangue aos poucos.

- Obrigado, Molly!

Molly continuou mais um tempo ali, realizando aquela tarefa agradável, tentando convencer a si mesma de que o tempo passa para todos, e que não havia alternativa a não ser se conformar que teria de ver mais um lugar vazio na mesa de sua casa na hora das refeições. Seu sorriso singelo fez as marcas do tempo se acentuarem em seu rosto bondoso.


















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Mesmo estando irremediavelmente cansada, atarefada e abatida, Katheryn sorria enquanto lia um pergaminho. Tinha dispensado Harry, Rony e Neil há poucos minutos e estava em sua sala no ministério corrigindo o exame teórico de seus ‘aprendizes’, que havia sido realizado naquele dia. O teste prático, que também acontecera naquela manhã, porém terminara um pouco mais tarde do que o previsto, fora uma surpresa agradável para a auror. Todos seus três alunos haviam sido exemplares em seus testes e lhe deram mais trabalho nos duelos do que ela imaginara. O fato, no entanto, estava longe de deixá-la desgostosa. Agora, enquanto lia o teste teórico de Rony, sua satisfação crescera ainda mais.

- Posso saber o motivo desse belo sorriso?

Katheryn baixou um pouco o pergaminho que tinha nas mãos e olhou rapidamente para a porta. Revelou um sorriso ainda maior ao reconhecer o rosto de Merina.

- Tia Nina! Que surpresa!

- Não estou atrapalhando, estou? – perguntou Merina entrando e observando a sala.

- Ne vous inquiétez pás¹, Nina! – respondeu animada, apontando a cadeira vazia em frente à escrivaninha em que estava sentada.

- Hum, merci²! – agradeceu a loura sentando e deixando a bolsa sobre a escrivaninha – Mas, por favor, meu francês anda bem destreinado para ser posto à prova agora!

- Tudo bem! – Katheryn riu.

- Trabalhando?

- Corrigindo alguns testes.

- E, por acaso, esses testes eram o motivo daquele sorriso?

- Esse em particular, sim! – Katheryn pegou novamente o pergaminho e passou os olhos rapidamente em seu conteúdo – É bom vermos o quanto as pessoas podem nos surpreender. – completou, deixando o pergaminho sobre a mesa, o que permitiu que Merina lesse o nome “Ronald Weasley” escrito no cabeçalho - Bom, e posso saber que ventos a trazem até o ministério? Pelo que me lembro, você não é muito adepta a passeios, principalmente se eles tiverem de afastá-la de Godrics Hollow e de seu adorado hotel.

- Precisava esticar um pouco as pernas, então pensei em vir vê-la em seu novo ambiente de trabalho! – Merina tornou a olhar ao redor do ambiente – Este lugar é muito sério pra você, mas bastante agradável.

Katheryn, no entanto, olhava fixamente para o rosto de Merina.

- Nina, você é uma péssima mentirosa!

Merina se voltou à sobrinha e deu um sorriso inclinado.

- Não meu bem, falava sério! Se as paredes fossem num tom um pouco mais colorido, talvez esta sala...

- Você sabe que não estou falando disso! – Katheryn a interrompeu.

Merina ficou repentinamente séria e encarou duramente os olhos da jovem à sua frente. Inclinou discretamente o corpo para frente e diminuiu o tom da voz.

- Você também sabe que eu detesto que faça isso comigo. – falou apontando para os atentos olhos azuis da sobrinha.

- Eu não posso evitar, tia!

Após isso, Merina tornou a se recostar na cadeira de maneira a ficar mais confortável. Sabia que Katheryn estudava seus olhos na tentativa de descobrir algo, mas aquilo não a preocupava. Procurou mentalmente a melhor maneira de tocar no assunto que a levara até ali. Conhecia bem a sobrinha, e sabia que ela não admitiria nada caso se sentisse pressionada.

- Eu realmente não queria ter de me intrometer nisso!

- O que está preocupando você? – perguntou Katheryn com um olhar desconfiado.

- Harry!

A auror arregalou os olhos e sua expressão se alterou instantaneamente quando se pôs de pé rapidamente.

- O que aconteceu com ele? – perguntou aflita - Não tem meia hora que ele saiu daqui!

Merina deixou um sorriso triste se desenhar em seu rosto.

- Quando aconteceu Katheryn?

Katheryn, agora confusa com a postura da tia, pareceu ainda mais preocupada.

- Por Mérlin Nina, quando aconteceu o que? Do que você está falando?

- Quando você se apaixonou por ele? Pelo Harry?

Katheryn abriu levemente a boca, mas se planejava dizer alguma coisa, mudou de idéia, pois som nenhum saiu dali. Seus lábios permaneceram entreabertos e seus olhos fixos no rosto da tia quando seu corpo desabou, pesadamente, sobre a cadeira.

- O q-que? – perguntou atordoada.

- Não, Katheryn. Não finja que não entendeu! Não pra mim!

- Tia, de onde você tirou essa idéia? – replicou a auror um pouco desconcertada, mas parcialmente recomposta – Eu jamais me apaixonaria pelo Harry!

- E por que não? Ele é bonito, inteligente e simpático. Não seria nenhum absurdo.

Katheryn tornou a levantar e dessa vez saiu de trás da escrivaninha. Contornou o móvel e começou a caminhar lentamente pela sala.

- Claro que seria! – retrucou com voz firme – Ele é especial sim, e interessante. Mas somos apenas amigos. E, além disso, Harry tem namorada. E ele mesmo me disse que a ama muito.

- Pare de tentar mentir pra mim, é perda de tempo! – Merina também se pôs de pé, mas não saiu de onde estava – Sua boca mente, mas seus olhos não! Eles são expressivos demais pra isso!

- Eu não tenho porque mentir pra você! – disse um pouco nervosa.

- Exatamente! E por isso eu não entendo porque você está fazendo justamente isso. – a loura deixou transparecer certa mágoa na voz – Mas já que você não admite, eu poderia lhe fazer uma pergunta? – Katheryn parou de andar, mas permaneceu de costas para a tia. Merina entendeu o silêncio da sobrinha como um ‘sim’ – Ontem, em seu apartamento, estava guardando algumas roupas quando encontrei, dentro de uma das suas gavetas, uma gravata muito parecida com a que Harry estava usando no dia do casamento de Percy Weasley. Como ela foi parar lá?

O corpo de Katheryn ficou rígido e ela, lentamente, foi se virando até ficar de frente para a tia. Seu olhar estava carregado de culpa. Estava encurralada, não adiantaria mais tentar fugir da realidade.

- Eu... eu, guardei apenas. Ele a tirou e a deixou em cima da mesa quando saiu para dançar com Ginevra no dia do casamento, então eu apenas guardei. – disse numa última tentativa de escapar daquela situação.

- No seu apartamento? – Merina se aproximou mais e passou a mão nos cabelos negros da jovem, que, mesmo com o semblante abatido, a fitava firmemente – Kathy, você sabe que pode se abrir comigo. Eu realmente não queria me intrometer, mas conheço você! Conheço a pessoa maravilhosa que você é e imagino o quão mal você deve estar se sentindo por isso. Notei seu interesse nele apenas vendo a forma como você o olhava. E a culpa que vejo em seus olhos agora, foi a mesma que vi aquele dia, e é isso que realmente me preocupa. Eu não conversei antes com você porque achei que, talvez, tivesse interpretado as coisas equivocadamente; porém, a sua insistência em sempre citar o nome dele em nossas conversas e a forma como falava... – Merina suspirou – Acontece que, depois de ontem, percebi que precisava fazer alguma coisa.

- Eu... – Katheryn não baixou a cabeça. Sua voz não estava tão firme quanto seu olhar, mas quando ela falou, o fez sem hesitar – Eu me apaixonei de repente tia. Sequer percebi quando aconteceu, talvez tenha sido desde o início, na primeira vez que o vi, mas não posso afirmar. O que tenho certeza é que foi algo que fugiu do meu controle. Eu não queria, não quero!

- Tenho certeza disso, e sei que existe uma solução, querida!

- Claro que existe! Eu preciso esquecê-lo! Não quero atrapalhar o relacionamento dele com Ginevra.

- Nem sei se você poderia, meu bem. – disse Merina com um sorriso doce – Conheço-os há mais tempo que você e, pela forma como aqueles dois se gostam, dificilmente alguém conseguiria tumultuar aquela relação. – Merina segurou o rosto da sobrinha entre as mãos e disse com firmeza – Não quero vê-la sofrer por isso! Está me ouvindo, mocinha? Hoje foi seu último dia como treinadora do grupo dele, então aproveite essa distância para ocupar sua cabeça com outras coisas. Deixe esses olhinhos brilharem novamente. Você é tão jovem, bonita e inteligente... tenho certeza que pretendentes não lhe faltam.

Katheryn conseguiu sorrir quando Merina a beijou na testa e a abraçou. Nas últimas semanas, havia sentido uma falta tremenda da mãe, sua melhor amiga e confidente. Mas a presença da tia conseguiu acalentar sua angústia e afrouxar um pouco aquele aperto em seu peito.

- Merci d’être venus³, Nina! – falou Katheryn, parecendo bem mais tranqüila.

- Pour rien, ma fille! – disse Merina, alisando os longos cabelos da sobrinha.
























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- Jeff Robinson? Você disse que ele é Canadense?

- Exatamente! Ele parece já ser bem experiente, pelas coisas que nos disse hoje. Já ouviu falar dele?

- Ah, não... acho que não! – respondeu Hermione tentando desconversar, embora suas bochechas tenham ficado levemente coradas – Então, ele tem sido um bom professor? – perguntou rapidamente, dobrando um moletom verde com um pomo bordado na frente, provavelmente uma das criações de Natal da Sra. Weasley, e o deixando sobre uma grande pilha de roupas sobre a cama.

Era uma fria manhã de sábado n’A Toca e Harry, Rony e Hermione estavam no quarto do ruivo, conversando sobre os acontecimentos da semana e arrumando as coisas de Harry para a mudança, que seria naquele mesmo dia.

Desde a segunda, dia em que os rapazes realizaram seus testes, eles não tinham tido tempo de conversarem. No dia seguinte aos testes, Rony e Harry souberam que haviam sido aprovados, juntamente com Neil e passado para a próxima etapa do treinamento. Rony não tivera a mesma sorte que Harry no exame prático, porém, para surpresa e orgulho de Hermione, fora muito superior ao amigo no teste teórico. No mesmo dia, o grupo aprovado recebeu as felicitações de Katheryn e foram apresentados ao seu novo treinador, o canadense Jeff Robinson. O auror deveria ter uma idade aproximada a de Gui, primogênito dos Weasley, e, diferente de Katheryn, aparentava ser bastante sério e formal. Porém, para contentamento do grupo, o auror vinha sendo dinâmico e comunicativo em suas aulas.

O fato de a cada dia o treinamento se tornar mais árduo e trazer uma crescente gama de informações, tornava o tempo que o trio tinha para se reunir e conversar cada vez mais escassos. Harry sentia que seu cérebro já estava tão lotado de informações que corria sérios riscos de estourar a qualquer momento, e o fato de, todos os dias, Hermione lembrá-lo que estavam apenas no começo e que a tendência era ficar ainda pior, não ajudava em nada a atenuar suas fortes dores de cabeça noturnas. Rony, que fora praticamente intimado por Jorge a retomar suas funções na loja de logros, andava tão esgotado que muitas noites chegava n’A Toca e apenas se jogava na cama, adormecendo instantaneamente, e deixando sua mãe seriamente preocupada pelo filho sequer lembrar de comer alguma coisa. Hermione era a mais tranqüila dos três. Vez ou outra era vista andando apressada pelos corredores do ministério com pastas e documentos nos braços, mas na maior parte do tempo ficava exilada em sua nova sala. Porém, no fim do expediente, diferentemente de Harry e Rony, sempre estava com a mesma boa aparência com que chegava e anormalmente tranqüila. “Pena que dessa vez vocês não possam simplesmente copiar meus deveres, não acham?”, dissera certo dia, quando saía para almoço, ao ver as olheiras dos amigos. Harry e Rony precisavam engolir, a muito custo, a resposta que lhes subiam a garganta cada vez que viam o sorriso de satisfação da morena quando se encontravam no ministério. Mas apesar de todo o cansaço que vinham sentindo, Harry e Rony se mostravam bastante satisfeitos com os treinamentos.

A mudança de Harry, no entanto, fora o assunto da semana por entre as paredes d’A Toca. As recomendações do Sr. Weasley, antes bastante casuais, agora eram recitadas pelo bruxo com uma seriedade digna de zelo. Já a Sra. Weasley parecia estar às vésperas do casamento de mais um filho, tamanha era atenção que dispensava a cada detalhe. No meio da semana chegara a dar um pulo da cadeira na hora do jantar, assustando a todos, principalmente o esposo que chegou a imaginar que ela pudesse estar tendo um chilique. Mas o jantar só voltou a transcorrer com normalidade quando a bruxa explicou que havia esquecido de dizer a Harry que não conseguira encontrar um feitiço que fizesse funcionar a “caixa grande e branca que servia para gelar alimentos”, que ele havia comprado e deixado na cozinha. Mas Harry logo se apressou a explicar que a ‘geladeira’ não funcionava com feitiços e sim com eletricidade, fato que fez os olhos do Sr. Weasley brilharem de excitação e o bruxo logo engatou um longo monólogo sobre as coisas que havia aprendido sobre a “ecleticidade”, segundo ele, a mais incrível invenção dos trouxas depois dos aviões.

- Eu tenho gostado bastante das aulas, mas o achei muito ligado em teorias. – falou Harry, respondendo a pergunta de Hermione enquanto guardava as roupas que a amiga já havia dobrado dentro de um malão muito parecido ao que usava em Hogwarts – Ele explica cada movimento que realiza com citações de livros.

- E qual o problema? – questionou Hermione enrolando um par de meias – Acho isso bastante didático. E é prova de que a pessoa realmente sabe o que está fazendo.

- Ah, qual é!? Eu acho tudo isso um saco, e desnecessário se levarmos em conta que logo que ele termina a explicação, ou nós não entendemos uma palavra, ou não nos lembramos de mais nada! – replicou Rony, que estava preguiçosamente esticado sobre sua cama, jogando no ar e aparando de volta o apagueiro que herdara de Dumbledore – Nesse ponto achava as aulas da Katheryn bem mais interessantes. Mas o que salva o cara é que ele realmente é rápido. Eu não conseguiria lançar um feitiço, explicar sua origem, citar o ano de sua invenção e o livro em que foi divulgado enquanto estivesse duelando com três pessoas.

- Ainda acho importante sabermos tudo sobre o que vamos aprender. Assim, não corremos o risco de acertar alguém com um feitiço que sequer sabemos o efeito. – disse Hermione olhando significativamente para Harry, que rolou os olhos, mas achou melhor não retorquir a alfinetada.

- Ah, supera isso Hermione! – reclamou Rony – E agradeça pela Gina não estar aqui e te ouvir falar sobre isso.

- Por quê?

- Porque da última vez que você tentou fazer o Harry se sentir culpado por ter acertado aquele feitiço do livro do príncipe no Malfoy, a Gina só faltou grudar sua boca com um feitiço. E ela é boa nisso!– Rony riu da cara que Hermione fez.

- Por falar em Malfoy, você tem ouvido pelo ministério os comentários de que os negócios da família dele vêm andando de mal a pior, Mione? – perguntou Harry depois de aparar o par de meias que ela jogara pra ele e guardá-la no malão.

Hermione sentou na cama, ao lado de Rony.

- Eu tenho ouvido algumas coisas. Mas não posso dizer que estou surpresa, afinal, depois de tudo que aconteceu, era de se esperar que o sobrenome “Malfoy” já não causasse o mesmo efeito de antigamente. A popularidade deles está em baixa, se querem saber.

- Aposto como Lúcio Malfoy deve estar desesperado vendo toda sua fortuna evaporar. – disse Rony, parecendo deliciado com o assunto – Quem sabe assim ele e o filhote de doninha não baixam aqueles topetes louros. Sabe, eu não estranharia se o Draco aparecesse casado com uma bruxa puro-sangue rica a qualquer momento. Seria bem a cara de Lúcio Malfoy planejar algo assim.

- Não sei. - disse Harry pensativo - Eu posso me estar iludindo, mas... acho que acredito que os Malfoy possam ter se arrependido de alguns erros que cometeram e... ah, não me olha com essa cara, Rony!

- Ouça o que você está dizendo cara! – disse Rony se sentando na cama – Cara, você acha que Lucio Malfoy faz o perfil de gente que se arrepende de alguma coisa? E o Draco? Aquele idiota passou todo o tempo que tinha livre infernizando nossa vida em Hogwarts e quase conseguiu me matar! E ainda tem Narcisa Malfoy, que ajudou Belatriz Lestrange a criar a emboscada que matou o Sirius!

- Harry, me desculpe! Mas eu concordo com o Rony! – interveio Hermione, o que fez Rony se empertigar - Não consigo ver a família Malfoy se afundando em compunção. Eles sempre foram muito egoístas, arrogantes e cruéis. Pessoas assim não mudam tão facilmente.

- Eu sei! – Harry largou a peça de roupa que tinha nas mãos e sentou em sua cama de armar, de frente para os amigos – E entendo o motivo de vocês pensarem assim. Acreditem, eu também pensei em tudo isso no dia do julgamento, mas... – Harry baixou a cabeça e fitou suas mãos – Vocês não estavam na torre de astronomia no dia da morte de Dumbledore. Também não estavam no ministério no dia do julgamento e nem nos jardins de Hogwarts na nossa formatura. Vocês não presenciaram o que eu presenciei. De alguma forma, ver Draco apontando a varinha para Dumbledore, desesperado, incapaz de matá-lo; ou ouvir a forma como ele falara comigo no dia da nossa formatura... – ergueu a cabeça e tornou a fitar os amigos – Se vocês tivessem visto os Malfoy no dia do julgamento, talvez parassem para pensar melhor. Não quero defendê-los, até porque continuo não gostando deles; mas agora, ao invés de ódio, sinto pena. E mesmo sabendo todo o mal que eles causaram, sinto que fiz a coisa certa quando dei aquele depoimento no ano passado.

Os três permaneceram calados, apenas se observando por um tempo. Pela cabeça de cada um, passavam pensamentos semelhantes, mesmo que por ângulos amplamente distintos. Ouviram a Sra. Weasley os chamarem para o almoço, e somente então, Rony e Hermione deram um sorriso de compreensão a Harry.




--




Os horários das refeições, em geral, eram sempre muito animados n’A Toca. Naquele dia, como não podia ser diferente, a mesa estava com quase todos os seus lugares ocupados e repleta das iguarias suculentas que Molly Weasley era perita em preparar. Apenas Carlinhos, Gina e Angelina não estavam presentes.

- Angelina precisou ficar em casa com a mãe, que adoeceu. – disse Jorge, justificando a ausência da noiva – Mas ela pediu que eu lhe dissesse, Harry, que assim que ela puder irá lhe visitar. Bom, ela também lhe mandou beijos, mas vocês não estão esperando que eu realmente faça isso, né?

Mesmo que o motivo da reunião familiar naquele sábado tenha sido selar a saída de Harry d’A Toca, todos ali conversavam animadamente. Harry, mais confiante após a conversa com Molly, estava bastante entusiasmado, principalmente por que Rony e Hermione iriam passar o fim de semana com ele em seu novo lar, o que o fazia com que ele se sentisse bem melhor. Ao final da refeição, vários copos de suco de abóbora e cerveja amanteigada se ergueram no momento de brindar a sorte de Harry em sua nova casa. Ninguém ali se despediu, até porque, não consideravam a saída de Harry dali como um ‘adeus’.





















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Maravilhoso!

Foi assim que Harry avaliou o trabalho que Molly, Audrey e Hermione haviam feito em seu apartamento. Assim que colocou os pés ali, achou que tivesse entrado no lugar errado. Olhou cuidadosamente cada cômodo, sempre acompanhado de um, igualmente maravilhado Rony – mais por não conhecer metade de todos os aparelhos eletrônicos que estavam espalhados por ali – e de uma ansiosa Hermione.

- Cara, acho que venho morar com você! – comentou o ruivo, apertando um dos botões do microondas – Tenho certeza que não tinha um desses na casa dos seus pais na Austrália, Mione.

Mas Hermione estava com os olhos brilhando em expectativa na direção de Harry.

- Você gostou mesmo?

- Mas é claro, Mione! Gostei de tudo! Tenho certeza que a Gina também irá adorar! – respondeu Harry inocentemente, mas Rony logo fechou a cara, porém não fez comentários – Foi você quem fez isso, né? – indagou risonho, abrindo a geladeira e a encontrando abarrotada de coisas.

- Sim, fui eu. Se eu não estivesse por aqui, a Sra. Weasley teria queimado todos os eletrodomésticos.

O apartamento era de um tamanho razoável. A decoração, escolhida pessoalmente por Harry, com a ajuda de Hermione e de Fleur – que fizera questão de dar sua contribuição nesse aspecto – era toda em tons de marrom e bege, com alguns detalhes com um pouco mais de cor. Possuía uma ampla sala de estar, que ficava no mesmo ambiente da sala de jantar, onde uma longa mesa com oito lugares estava disposta. “Já pensando nas visitas da família, não é?”, comentou Rony ao ver o tamanho da mesa.

Os dois quartos do apartamento eram pequenos, no entanto, a decoração simples, porém moderna, lhes conferiam um ar aconchegante. A suíte era, sem dúvida, o lugar mais confortável da casa. A cama de casal era espaçosa e repleta de almofadas. Uma poltrona de leitura enfeitava um dos cantos do quarto e um enorme guarda-roupa estava disposto na parede oposta à da poltrona. As cortinas tinham tons semelhantes aos da roupa de cama, dando uma aparência séria ao cômodo.

Algo chamou a atenção de Harry, mas do que qualquer outro detalhe decorativo. Ele caminhou em linha reta até próximo à cama e sentou. Pegou um porta-retrato que estava sobre o criado-mudo e observou, sorridente, Rony, Hermione, Gina e o pequeno Teddy lhe acenando dali; Teddy parecia mais estar espantando um mosquitinho de sua frente do que propriamente acenando, mas Harry gostou mesmo assim.

- Quando vocês tiraram essa foto? – Harry perguntou, sem desgrudar os olhos do objeto.

- No dia do meu aniversário. – respondeu Hermione, que estava abraçada a Rony próximo a porta – Aproveitamos que você tinha ido até a cozinha buscar suco para o Teddy e o Jorge tirou a foto. Gostou?

Harry observou bem os amigos. Os dois sorriam pra ele.

- Se eu disser que não, vocês vão saber que eu estou mentindo, certo?

Os três riram.



--



O mês de Novembro passou com uma velocidade impressionante. Somente quando viu a cidade começar a se colorir de vermelho e branco, e enfeitar-se de luzes, é que Hermione se deu conta de que o Natal estava se aproximando.

Na verdade, desde o final do mês de Novembro que ela andava com a cabeça nos ares. Uma dúvida traiçoeira vinha lhe empatando o sono, dúvida essa que a colocara em um impasse inesperado. Mas sabia que não tinha outra opção a não ser tomar uma decisão, fosse ela a correta ou não. Andava pelo átrio do ministério automaticamente, seus pés a levavam até a área de aparatação de funcionários espontaneamente.

Despertou de suas divagações ao dar de encontro com alguém, o que a fez largar os livros que trazia nos braços.

- Droga! Me desculpe! Eu não vi...

- Tudo bem, Mione! – disse Rony segurando-a pelo braço – Mas como você não me viu? Eu poderia jurar que você estava olhando diretamente pra mim.

- Eu estava! Quer dizer, não! Eu poderia estar olhando, mas eu não estava te vendo. – respondeu um pouco atrapalhada.

- Certo! Eu vou fingir que entendi. – Rony apontou a varinha para os livros no chão – Accio! – ordenou, e no mesmo instante os dois livros voaram obedientes até sua mão.

- Você está bom nisso! – elogiou Hermione, mas Rony não sorriu.

- Hermione, o que está acontecendo com você?

A expressão curiosa e preocupada de Rony acentuou ainda mais a aflição de Hermione. Ela tentou disfarçar com seu sorriso mais convincente.

- Não está acontecendo nada comigo.

- Corta essa! Ultimamente você tem andado muito nervosa e distraída, e da última vez que te vi assim, você estava me escondendo coisas. – disse Rony lembrando o dia em que soube que Hermione havia feito a prova de seleção para estagiar no ministério.

Hermione se perguntou mentalmente desde quando Rony a conhecia tão bem. Até ficaria feliz em outra ocasião, mas a apreensão de saber que não tinha escapatória e que teria de abrir o jogo de vez, não permitia.

- Tudo bem, Rony! Eu não conseguiria mais adiar essa conversa por muito tempo mesmo. – disse tentando recobrar a serenidade – Você poderia vir comigo até em casa? Lá nós podemos conversar mais à vontade.

Rony conhecia bem a namorada, e por saber que não adiantaria insistir no assunto agora, aceitou a proposta sem questioná-la ou deixá-la notar o quanto havia ficado preocupado.


--


- Entra!

Hermione segurava aberta a porta de seu quarto. Assim que Rony passou por ela, fechou-a cuidadosamente e lançou um feitiço de imperturbabilidade.

- Por que lançou esse feitiço? Pelo que vi, seus pais não estão. – Rony questionou sentando na cama.

- Não, mas eles podem chegar a qualquer momento. Na verdade, eles já deveriam estar aqui.

Hermione caminhou até próximo ao guarda-roupa e tirou seus sapatos. Depois, abriu uma das portas do móvel e começou a se livrar das bijuterias. Parecia não ter pressa, mas Rony, que a observava calado, não demonstrava dispor de muita paciência.

- Demorar a me contar, seja lá o que for, não vai tornar as coisas mais fáceis.

Hermione congelou seus movimentos por breves segundos, mas ainda se despiu do casaco antes de caminhar até Rony e sentar ao lado dele.

- Tudo bem, eu vou dizer de uma vez. Mas antes de tudo quero que você saiba que ainda não tem nada decidido.

- Hermione, se você continuar embromando desse jeito, eu vou começar a ficar nervoso.

- Eu recebi uma proposta, Ron. – disparou Hermione com firmeza.

Todos dois estavam sérios de mais, e o silêncio prevaleceu por algum tempo.

- Uma proposta. – Rony repetiu – Que tipo de proposta?

- Amos Diggory recebeu uma correspondência de um ministério estrangeiro elogiando meu projeto e meu trabalho na causa dos elfos domésticos. Eles me ofertaram espaço e um bom salário para difundir a idéia por lá. Além disso, tiveram acesso ao meu histórico escolar, e acharam, por bem, me proporcionar uma bolsa de estudos na melhor instituição de preparação de bruxos legistas do país. Eles acham que eu preciso aprofundar mais especificamente meus conhecimentos. Justificaram dizendo que, se eu tivesse um melhor domínio constitucional, teria mais facilidade em complementar as ações do projeto e disseminá-lo internacionalmente, além de possuir uma formação curricular.

Rony sacudiu de leve a cabeça.

- Isso... isso é bom?

Hermione teve vontade de rir da confusão de Rony.

- Depende do ponto de vista, Ron. Eles estão me oferecendo uma oportunidade irrecusável. Mas se eu aceitar...

- Se você aceitar terá de ir embora, não é? – Rony perguntou, finalmente entendendo o verdadeiro fundamento da conversa.

- Não! Não exatamente! – Hermione se apressou a explicar – Teria de passar algum tempo fora, pelo menos o tempo de duração dos estudos.

- De quanto tempo estamos falando?

Hermione não respondeu imediatamente. Precisava se preparar para o possível ataque que ele teria.

- O curso dura oito meses, mas eles estão propondo uma estadia de um ano, para podermos ter tempo de desenvolver o projeto no país.

Hermione se surpreendeu com o silêncio de Rony, mas o fato dele sequer ter alterado sua expressão a preocupava. A personalidade de Rony não era essa, pois ele sempre fora muito expressivo em suas reações.

- Onde? – ele perguntou sério, e Hermione mordeu o lábio inferior.

- Canadá!

Ao ouvir aquilo, Rony finalmente reagiu. Franziu o cenho como se estivesse se lembrando de algo.

- Canadá? Então foi por isso que você disse que já tinha ouvido falar no Robinson. Ele é auror do ministério canadense.

- O Sr. Diggory me apresentou a ele há alguns dias. Queria que ele conversasse um pouco comigo, tanto sobre o ministério, como sobre a relação entre elfos e bruxos no país.

- Você disse que não o conhecia. – Rony falou um pouco magoado.

- Eu estava confusa, Ron. Ainda estava muito surpresa com tudo isso. E se eu revelasse que o conhecia, você e Harry iriam começar a fazer perguntas. Eu ainda não estava preparada pra conversar sobre isso com você.

Rony baixou a cabeça, reflexivo. Estava muito quieto, contido, e aparentemente calmo. Hermione sabia que aquilo não era comum nele, e que aquela reação inesperada e insólita era, provavelmente, um indício de que aquela conversa havia o abalado mais do que ele estava deixando transparecer.

- Há quanto tempo você sabe disso? – ele continuava fitando o chão.

- Mais ou menos dois meses. E tenho até a véspera do Natal para tomar uma decisão.

- E você passou esse tempo todo sem conversar com ninguém sobre isso?

- Claro que não! Eu já conversei com meus pais. Eles ficaram um pouco receosos, andam muito cuidadosos comigo desde que voltaram da Austrália e souberam da guerra. Disseram que confiavam em mim e que qualquer decisão que eu tomasse, teria o apoio deles. – sorriu um pouco ao lembrar-se da emocionada conversa que tivera com os pais – Eu também escrevi pra Gina e... bom, falei com o Harry na semana passada.

Rony ergueu a cabeça.

- O Harry? Quer dizer que o Harry já sabia?

- Eu...

- Então eu era o único que não sabia da nada? – Rony levantou e caminhou até a janela – Você não confia mesmo em mim, não é?

- Não é nada disso! – retorquiu Hermione com uma pontada de aflição – Eu confio em você, Ron! Mas eu sempre soube que essa conversa seria mais complicada entre nós dois.

- Você acha? – Rony virou de frente pra ela, não se preocupando em esconder sua indignação – E por que seria mais complicada entre nós dois? Ah, não... não diga! Me deixa adivinhar. – disse numa encenação carregada de sarcasmo – Seria porque você acha que eu daria um showzinho de ciúmes? Ou quem sabe você ache que eu não conseguiria compreender o quanto essa viagem seria importante pra você?

Hermione adoraria responder, mas um nó se formara em sua garganta e parecia estar lhe roubando o ar. A vontade de estapear Rony por ele ser tão estúpido só não era superior à sua tristeza por ele ter entendido tudo errado. Sentia as lágrimas querendo brotar de seus olhos, mas fazia força para não permitir.

- Por que você sempre tem que ser tão... tão... trasgo!?

- Eu não faço isso pra machucar você, Hermione. Acontece que você precisa começar a confiar em mim.

- Eu confio! – ela afirmou aumentando a voz.

- Então demonstra! – ele retorquiu com firmeza – Por que eu sempre tenho que ser o último a saber? Por que você insiste em achar que eu não vou conseguir te compreender?

- Eu não penso assim! – Hermione ficou de pé – Se demorei a te procurar para conversar sobre isso, era porque eu estava insegura, pois sabia que seria difícil decidirmos nos impor essa distância. E eu não to falando por você apenas, mas por mim também. Eu não quero ficar longe de você! Mas ao mesmo tempo acho importante aceitar essa oportunidade!

Rony desfez um pouco a postura ofensiva e olhou para o rosto de Hermione.

- Você já decidiu o que fazer? Vai aceitar a proposta?

- Eu, não sei! Preciso pensar mais um pouco!

- Tudo bem! Mas saiba que eu também vou apoiar a sua decisão, afinal, Hermione Granger sempre tem as respostas certas, não é? – Rony não parecia mais irritado.

Hermione ainda ia dizer algo, mas Rony se aproximou, lhe beijou rapidamente no rosto e se retirou do quarto, deixando-a sozinha e ainda mais confusa do que antes.




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Legenda:

1: Ne vous inquiétez pás: Não se preocupe.
2: Merci: Obrigado.
3: Merci d’être Venus: Obrigado por ter vindo.
4: Pour rien, ma fille: Por nada, minha filha.



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N.B: (Rick Gente Boa):

Apesar do cap ter sido pequenininho foi bastante cheio de emoções fortes...quem não ficou com os olhos marejados com o momento mãe e filho do Harry e da Molly?E a revelação bombástica da Katheryn que todos já sabiam...e o clima pesado da suposta separação R/H?Sem falar na quase NC que sempre vemos quando a Lore junta o Harry e a Gina...

Bom é isso pessoal, deixo vocês com a Bella no próximo cap e não se esqueçam!RUMO AO 1º LUGAR DAS MAIS LIDAS!!!!!

P.S:Coment 5000 à vista!!!E até o próximo encontrão galera!!!Fuis.



********


N.A

Lore chegando no castelo real, feliz da vida por mais uma missão cumprida e distribuindo simpatia para seus familiares... Sim, sabem por que? Porque vamos fazer um aninho de família... um aninho de convivência, um aninho me dedicando a escrever essa história pra vocês e pra mim... Um ano de "Como tem que ser"... Um ano de Elite... Um ano de família...

Nossa contagem regressiva começa agora, pois na terça-feira teremos festança por aqui! A Floreios está prestes a presenciar a maior arruaça de toda sua existência! Convido a todos para virem na nossa festinha, em nosso castelo real, para curtirmos todas as surpresas... Posso contar com vocês, né??


Quanto ao capítulo... bom, foi complicado escrevê-lo... Ele apresentou muitos conflitos internos de sentimentos... confusões... é difícil passar isso de uma forma que as pessoas entendam o que está se passando na cabeça e no coração do personagem, mas eu me esforcei, viram? Espero ter conseguido transmitir um pouco do sentimento deles pra vocês! =D...

Katheryn... Bom, tem gente aqui que estava querendo a cabeça da francesa numa bandeja por DESCONFIAR que a garota gostava do meu (O.o...como assim?) Harry. O que dizer agora, que se tem a certeza?

Harry de casa nova... Hermione num dilema... Rony surpreendendo(?)Onde está a Gina?? Bom... respostas no próximo capítulo, que já está esboçadinho e que, acreditem, eu estou louquinhaaaaa pra postar. Porque? Bom... vocês verão. ;**


Já disse que amo vocês? Não? Bom, eu amo vocês... E tbm amo os comentários gigânticos que irei receber... Sim, ainda irei receber, mas já os amo...*suspira e vai sentar, esperando ansiosamente os preciosos coments*


FUI!!

CRACK!


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