Resignação. *REPOSTADO*




Capítulo 1:
 Resignação.


*





Estava exausto. Seu corpo doía por inteiro. Somente agora pôde prestar atenção em si e perceber o quanto estava cansado e dolorido. Seus membros pesavam como chumbo e nunca fora tão difícil e penoso andar. A cabeça latejava e os olhos ardiam, assim como os diversos ferimentos, cortes e hematomas distribuídos por todo seu corpo.


Com dificuldade levantou a cabeça e olhou ao redor. Aquela nem de perto parecia a Hogwarts que ele havia freqüentado por seis anos. Aquela que, para ele, representava muito mais do que somente uma escola de magia e bruxaria, mas sim seu verdadeiro lar. O que ele não teria feito para que a maldita batalha não tivesse ocorrido justamente ali.


O saguão de entrada, onde ele se encontrava no momento, não mais transmitia seu outrora tão admirável ar imponente e majestoso. Boa parte do teto havia desmoronado e as escadas estavam quase em ruínas. As pessoas passavam apressadas por ali, prestando socorro aos feridos e algumas, inclusive, já removendo escombros na tentativa de restaurar o local. Era uma cena dolorosa, mas, apesar disso, uma leveza reconfortante pairava no ar, como uma cortina de seda que flutuava ao redor e envolvia a pele confortavelmente, tentando amenizar a dor latente que todos provavelmente estavam sentindo. Era uma sensação muito parecida com a transmitida pelo canto da fênix, mas que ele não conseguia nomear.


O sol já se fazia bastante presente, mesmo que estivessem ainda nas primeiras horas da manhã. Uma brisa fria e suave alcançou seu rosto fazendo arder ainda mais seus olhos, forçando-o a fechá-los. Cada partícula de seu corpo reclamava de cansaço e dor, mas nada o incomodava mais do que um indesejável aperto agudo que sentia no peito, lhe causando uma sensação de vazio e solidão. “Porque estava se sentindo assim? Não deveria estar se sentindo feliz ou pelo menos aliviado? Tudo estava acabado não estava? Ele deveria estar comemorando com os outros, não é?” Não pôde evitar uma risada a esse pensamento, mas uma risada debochada, fria e sarcástica. Na verdade, chegava a ser cômico imaginar-se festejando em meio a tantas perdas e tanta destruição.


Bufando, decidiu parar com esses pensamentos funestos, afinal, ele sabia que a felicidade viria na hora certa. Cedo ou tarde ela chegaria.


- Harry! - uma voz feminina que ele conhecia bem o chamou, tirando-o de seus devaneios. 


Mas ele não se mexeu, tampouco abriu os olhos. Sabia que ela deveria estar sentindo coisas semelhantes e só chamou seu nome para que ele soubesse que ela estava ali, compartilhando esse momento com ele. Sentiu as mãos delicadas dela em seu ombro transmitindo apoio, e nesse momento agradeceu mudamente por ter aquela garota em sua vida. Ela, que esteve com ele o tempo todo, ajudando, apoiando, e por vezes – com a graça de Merlin - discordando dele, mas sempre ali ao seu lado incondicionalmente. Nesse momento sentiu o laço que os unia mais forte do que nunca, dando-lhe a certeza de que jamais estará sozinho.


Abriu os olhos e constatou que não era o único exausto ali. O rosto de Hermione estava sujo e machucado, e denunciava o esforço que ela fazia para ainda estar de pé.


- Você deveria cuidar desses machucados e descansar, Mione. – disse Harry tirando um graveto dos cabelos dela.


- Ah, sim... vou fazer isso... – disse a garota passando a mão em seu braço empoeirado e cheio de escoriações – mas acho que você precisa mais do que eu. – completou apontando para os hematomas e cortes do amigo.


Harry sorriu cansado.


- Onde está o Rony? – perguntou.


- Ele estava no salão principal com a família, mas a senhora Weasley estava tentando convencer os filhos a irem à ala hospitalar, então... – Hermione parou ao ver Harry baixar a cabeça. Aproximou-se e segurou nas mãos dele. – Harry, por favor, não se sinta culpado... sei que é muito doloroso pra você, mas não se esqueça que o é para todos nós. Imagine então como deve estar sendo para o Rony e a família dele. Então não seja egoísta a ponto de achar que você está sofrendo mais do que eles ou qualquer outra pessoa...


- Eu não acho nada disso!


Hermione o encarou, sacudindo a cabeça.


- Me desculpe! Desculpe mesmo Harry!


Harry olhou para ela novamente, limpou algumas lágrimas que marcavam seu rosto abatido e delicadamente a abraçou. Um abraço cheio de carinho e cumplicidade. Ele sabia que Hermione estava tentando parecer forte para dar apoio a Rony. Mas imaginar encontrar os Weasley e não ver a figura de Fred era uma coisa completamente irreal e dolorida demais para ele também.


Uma pontada particularmente aguda no peito fez-lo lembrar de mais alguém. Um pequeno alguém que precisaria dele mais do que todos: Teddy, que, assim como ele próprio, ficara órfão muito cedo. Mas Harry havia prometido a si mesmo, assim que soube da morte de Lupin e Tonks, que seu afilhado teria um destino diferente do dele. Teddy teria todo o carinho e atenção que ele pudesse oferecer.


Harry lamentava por Tonks. Era ainda tão jovem e assim como Lílian não veria o filho crescer. Doía ainda mais o fato de que jamais veria Remo Lupin novamente, um dos melhores amigos de seu pai, o homem que o ensinou a produzir um patrono corpóreo, o último dos marotos.


- Ah, desculpem queridos, mas estávamos procurando por vocês ha algum tempo. - disse uma voz familiar de mulher.


Harry e Hermione se soltaram lentamente do abraço e se voltaram à dona da voz, percebendo que se tratava de madame Pomfrey, a curandeira de Hogwarts. De início a senhora pareceu um pouco desconcertada por interrompê-los, mas mudou de postura assim que pôde analisar melhor os dois.


- Pelos bigodes de Mérlin, olhem só o estado de vocês!- exclamou parecendo escandalizada e assumindo rapidamente seu tão conhecido e autoritário tom profissional - Como ficam passeando por ai nesse estado?!Vamos agora mesmo para a ala hospitalar cuidar desses machucados!


- Madame Pomfrey, eu posso dar um jeito nisso rápido, são bem superficiais. Agora, o que preciso mesmo é me alimentar e descansar. – disse Hermione cautelosamente, afinal, a expressão da senhora à sua frente era de quem não aceitava contestação. Mas ela precisava ver como Rony estava e, quem sabe, convencê-lo a descansar um pouco também, juntamente com Harry. 


- Ora senhorita Granger, e você por acaso acha que pode fazer isso melhor do que eu? – retrucou a curandeira energicamente.


- A Hermione está realmente boa em poções e feitiços de cura. Se não fosse por ela, eu ou Rony nem estaríamos mais vivos. – disse Harry em auxilio da amiga, que lhe deu um sorriso agradecido.


- Eu não subestimo as capacidades de sua amiga, senhor Potter! Mas acredito que nesse estado ela não poderia fazer muito por si própria. Agora deixem de teimosia e venham comigo! Eu resolvo isso rápido e logo libero vocês para irem descansar em paz. Andem! Ala hospitalar... Agora! – disse, enxotando-os com as mãos.


Os dois apenas se entreolharam, indispostos demais para discutirem com madame Pomfrey.
 

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Comentários (5)

  • Harry W. Potter

    Lore, eu sou muito suspeito pra falar, pois sou um dos seus maiores fãs e pra mim os fatos aconteceram exatamente do jeito que vc escreveu, mas vamos lá:Eu imaginava um pouquinho diferente, pois tinha a parte no livro que eles estão no salão comunal depois do Harry devolver a varinha das varinhas, eu imaginava os 3 saindo e olhando o castelo, tomando ciência de tudo o que havia acontecido por lá, vendo os estragos e até se sentindo mal por tudo aquilo, depois claro, eles iriam se dirigir para a ala hospitalar, pq alguém iria insistir muito pra isso acontecer, mas pra mim, só isso mesmo eu teria feito diferente ^^

    2015-09-04
  • Lore Weasley Potter

    Sempre foi uma das minhas maiores dúvidas e dificuldades: encontrar a forma perfeita de iniciar essa história. Me perguntava se seria melhor começa - la meses, ou mesmo alguns anos após a guerra... mas me dei conta que eu gostaria, como leitora, de saber cada mínimo detalhe. E então foi assim... apenas alguns minutos após o fim da grande batalha, com Harry ainda sentindo o corpo cansado, e todo aquele sentimento conflitante te de alivio e dor... Como você, leitor, imaginou esse momento? 

    2015-09-04
  • Sheila Lopes

    muito lindo este capitulo inicial da fic

    2011-08-16
  • Lore Weasley Potter

    Capítulo devidamente editado e melhorado. Espero, pelo menos...

    2011-07-07
  • Kakaribeiror

    Sorriso colgate, boa essa kkk

    2011-06-04
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