Testes e Surpresas



Por Enquanto e Para Sempre





N/A - Gostaria de avisar que neste capítulo peguei uma boa parte do quinto livro, mas com as minhas modificações, uma vez que estou contando pelo lado de Tonks, não de Harry. Obrigada.



Capítulo Seis - Testes e Surpresas




Tonks acordou lentamente na manhã seguinte. Havia certamente dormido muito mal, e metade da noite fora gasta pensando em por quê ela poderia estar perdendo o sono. Acabou ficando toda a noite acordada, com um pequeno cochilo quando já estava amanhecendo. Mas tão logo recuperou a consciência e lembrou-se de ter ficado na casa de Sirius, lembrou-se também do enigma Remus. Definitivamente, ele tinha algum problema com ela. Nem imaginava o que poderia ser, mas algo tinha. Ele estava sempre por perto, quase que patrulhando-a, vendo se estava tudo bem, como se não acreditasse que ela era capaz de se virar.



Remus não sabia nada mesmo sobre ela. Quando se é um Black bastardo, há muito pelo que passar. Tonks rolou na cama com o pensamento. Não queria se lembrar daquele tipo de coisa agora. Queria apenas chegar a uma conclusão sobre toda aquela proteção de Remus.



Tinha ainda que se levantar, descer até a cozinha e parecer alguém otimista para o pobre Harry, que deveria estar uma pilha de nervos com a audiência disciplinar. Estava mais cansada ainda do que quando se deitara. E ainda teria que dar as caras no Ministério pela tarde. Kingsley estava no turno da manhã por lá. Enquanto isso, ela ficaria no Largo Grimmauld, como Remus dissera, para cuidar das coisas enquanto todos esperavam o resultado da audiência.



Vestiu-se e desceu. Estava ainda muito cedo, não havia quase ninguém em pé. Chegou na cozinha e, depois de um dos seus maiores bocejos, cumprimentou Sirius e Molly, que estavam ali. Ambos um tanto carrancudos. Tonks se perguntou se eles não estariam discutindo antes que ela chegasse.



-O que aconteceu por aqui? - perguntou, debruçando-se na mesa, ensonada. - Não me digam que estiveram, de novo...



-Não aconteceu nada, Ninphadora. - respondeu Molly. Primeiro nome, pensou Tonks, sem corrigi-la. A mulher não sabia nem ao menos mentir.



-Parece ter dormido muito mal, Tonks - disse Sirius, fazendo o possível para puxar assunto.



-Se eu ao menos tivesse dormido... - resmungou ela de volta. - Não preguei o olho... Só cochilei um pouco há meia hora atrás. E pensar que temos ainda aquele esquema de horários naquela maldita porta...



-Shh - censurou Molly. - Harry deve estar descendo daqui a pouco.



-Desculpe - murmurou Tonks meramente, baixando a cabeça. Ouviu então a porta se abrir e a voz de Arthur invadir a cozinha:



-Bom dia a todos - cumprimentou ele, vestindo um terno de risca de giz, um tanto trouxa. - Alguém soube se o Harry já desceu?



-Ainda não - replicou Sirius, casualmente. - E o Aluado? Onde está?



-Bem aqui - disse o próprio Remus, à porta. Ele certamente parecia ter dormido bem melhor do que Tonks, ainda que aparentasse uma certa irritação. Tonks desviou o olhar.



Remus sentou-se ao lado de Sirius, cumprimentando a todos. Tonks ainda estava intrigada sobre ele mas não disse nada a respeito, ao menos não na frente dos outros.



Repentinamente, ela lembrou-se de algo que tinha a que contar aos presentes sobre o Ministério.



-Sabem, eu acho que temos que ficar espertos com outro dos caras de Fudge. - contou ela. - Aquele cara, o Scrimgeour, parece estar farejando algo no ar, ele...



Foi interrompida pela porta que se abriu mais uma vez. Tonks arrumou os cabelos loiros e crespos atrás da orelha e olhou para Harry, parado sob o batente.



-Café da manhã - disse Molly enquanto pegava sua varinha no roupão e corria para as panelas.



-B-bom dia Harry - cumprimentou Tonks, bocejando e notando o olhar contemplativo do garoto em seus cabelos. - Dormiu bem?



-Dormi - respondeu Harry.



-P-passei a noite toda acordada - Tonks contou, com outro de seus maiores bocejos. - Venha se sentar...



Tonks estendeu uma cadeira para o garoto e outra foi ao chão. Ela xingou num sussurro e Remus arrumou-a para ela sem dizer nada.



-O que é que você quer, Harry? - perguntava Molly. - Mingau? Bolinhos? Arenque? Ovos com bacon? Torrada?



-Só... só torrada, obrigado.



Remus estudou Harry de lado e em seguida voltou-se para Tonks:



-Que é que você estava dizendo sobre o Scrimgeour?



-Ah... sim... bem, precisamos ter um pouco mais de cuidado, ele tem feito a Kingsley e a mim perguntas engraçadas...



-Ele é bem o tipo da pessoa que daria um bom espião puxa-saco, pelo pouco que eu lembro dele - resmungou Sirius, mas com os olhos no afilhado.



Arthur, por sua vez, parecia ter notado o sono excessivo de Tonks.



-O que aconteceu, Tonks? - disse ele. - Dormiu tão mal assim?



-Bastante - respondeu ela, se esticando. - Não sei por quê estou tão quebrada... E terei que dizer ao Dumbledore que não posso fazer o turno da noite amanhã, estou simplesmente cansada d-d-demais - concluiu ela, bocejando e sentindo-se muito preguiçosa com isso.



-Eu cubro seu turno - dispôs-se Arthur. - Estou bem, e de qualquer modo tenho um relatório para terminar...



Com o silêncio, todas as atenções voltaram para Harry, que parecia visivelmente incomodado. Arthur foi o primeiro a falar com ele:



-Como é que você está se sentindo?



O garoto da cicatriz encolheu os ombros, sem querer falar.



-Vai terminar logo. - o bruxo do terno risca de giz encorajou-o. - Dentro de algumas horas você será inocentado.



Harry continuou em silêncio.



-A audiência é no meu andar, na sala de Amélia Bones. É a chefe do Departamento de Execução das Leis em Magia, e é quem vai interrogá-lo.



-Amélia Bones é legal, Harry - comentou Tonks com seriedade. - É justa, e vai escutar tudo que você tem a dizer.



-Não perca a calma - Sirius falou subitamente, vendo Harry assentir. - Seja educado e se atenha aos fatos.



Harry assentiu de novo, quando Remus disse:



-A lei está do seu lado. - a voz era baixa. - Até bruxos menores de idade podem usar magia em situações em que há risco de vida.



Tonks observou Molly se aproximar com um pente molhado, e cravá-lo na cabeça do garoto.



Já era hora de ir; Tonks limitou-se a um breve "vai dar tudo certo", sem saber se o encorajamento teria mesmo surtido algum efeito. Harry foi-se com Arthur, depois das despedidas.



Molly respirou fundo, olhando para a porta.



-Acham mesmo que ele vai se dar bem?



-Sim - disseram Tonks e Remus ao mesmo tempo.



-Não. - confessou Sirius. - Tudo anda parecendo muito fácil para o lado do Harry. Não digo nada se aquele Fudge não estiver planejando algum truque sujo de última hora. Ele está destruindo a imagem de Dumbledore e conseguir fazer Harry ser expulso vai coroar suas palavras.



-Não seja pessimista, meu velho - suspirou Remus. - Estamos falando ainda do Harry. Ele já fez coisas bem piores do que se safar de um julgamento do Ministério.



-Só não o deixem saber disso - resmungou Tonks, com outro bocejo. - Ele já andou um tanto irado por ninguém ficar lembrando-o o tempo todo do quanto ele é bom.



-Você fala como se ele fosse um garotinho mimado. - disse Molly, tomando as dores de Harry. - Ele não tem culpa, qualquer um ficaria irritado passando pelo que ele passou...



Espero que ela esteja se referindo à adolescência, e não ao mês sem informações, pensou Tonks, virando os olhos.



~~



Tonks decididamente não teve um dia fácil. Pelo resto da manhã tivera que bancar a adulta controlada, madura e responsável para contrabalançar a ansiedade dos amigos de Harry pelo que seria feito dele na audiência. Ao menos, no final, o garoto foi inocentado e ela pode ir tranqüila para o Ministério naquela tarde.



Mas sua tranqüilidade durou muito pouco tempo. Tão logo sentou-se em sua cadeira, encontrou um memorando. "Patrulhar o Gringotes e examinar feitiços de segurança", dizia.



Ela quase caiu no choro ao ver aquilo. O serviço lhe tomaria a tarde inteira. Talvez até a noite. E depois ela ainda teria que buscar suas coisas na Mansão Black e voltar pra casa.



Lembrou-se de ter visto Emelina e Héstia na entrada do banco bruxo no dia anterior. Então era isso. Estavam fazendo aquilo com todos... Bem, não havia nada a fazer. Ela sabia que o Gringotes estava longe de precisar de segurança extra, mas provavelmente o Ministério estava maluco para arrumar alguma atividade para os aurores. Obviamente, trabalho para eles não faltava, mas o difícil seria convencer o Ministro disso.



Resignada, Tonks tomou o caminho para o banco bruxo. Com toda a certeza, não foi uma tarde divertida; teve que negociar com os duendes do Gringotes sua entrada e até convencê-los de que seu distintivo de auror era verdadeiro, uma hora e meia já havia se passado. Depois, um duende acima do nível do mal humor foi encarregado de guiá-la pelos cofres e corredores, para que ela checasse os sistemas de segurança. O duende acabou deixando escapar que na última semana todos os dias o Ministério estava mandando um ou dois funcionários para fazer uma revista no banco, como se estivessem esperando infrações a qualquer momento.



Tonks ficou tão mal humorada quando seu companheiro, e isso não demorou muito. Provavelmente porque, quando já estava de saída, no início da noite, constatou de que havia causado mais prejuízos do que benefícios ao banco - tinha derrubado estátuas antigas e fizera um certo cofre de alguma família rica abrir-se misteriosamente, derrubando galeões por todos os lados.



Simplesmente não conseguia aceitar que a mesquinhez de Fudge fosse culpada por todo aquele cansaço. Apenas por uma rixa com Dumbledore, na tentativa de provar que não havia risco nenhum no mundo bruxo, ele estava desgastando seus funcionários, que seriam importantíssimos quando ele percebesse a realidade. E por hora, era Tonks que pagava o pato.



Já era noite escura quando pôde ir embora. E teria voltado só no dia seguinte se tivesse insistido em examinar os corredores que guardavam os cofres dos duendes, que ficavam nos dez andares mais a baixo, e cujos donos garantiram que faziam sua própria segurança - e que não precisavam de varinhas humanas inspecionando seu serviço. Tonks não discutiu mais. E nem quis saber se deveria.



Saiu no ar quente da noite, cansada, doida para chegar à Mansão Black, para que depois pudesse voltar para casa e relaxar um pouco. Pensou em como aqueles desgastes de funcionários do Ministro ainda não haviam chegado aos ouvidos de Dumbledore, ao menos não até que ele chamasse Emelina e Héstia.



Lembrou-se da absolvição de Harry também e pensou em como Fudge teria ficado furioso por ter sido contrariado por todo o resto do conselho. E em como passara a manhã toda, ao lado de Sirius, Molly e Remus, tentando acalmar os outros adolescentes.



E nesta mesma manhã, tivera uma impressão que tentara ignorar, mas lhe saltou então à mente: Remus estivera um pouco distante. Um pouco tímido, até, sempre que tinha que dirigir a palavra a ela. Será que estava encabulado por alguma coisa naquela ocasião em que a buscara em sua missão na Travessa do Tranco?



Tonks franziu o cenho. Nunca tinha gastado muito tempo meditando sobre o que Remus poderia pensar dela. Tudo que sabia sobre ele era que tinha uma saúde muito frágil - cujo verdadeiro motivo, obviamente, ele ainda não deixara que caísse sobre os ouvidos dela -, um passado triste e cheio de perdas, uma vida por algum motivo solitária... E por que alguém como ele seria solitário? Tonks não tinha a menor dúvida de que se tratava de um homem atraente. Muito atraente. Ela sentira a tensão da última vez que ficava perto dele. Mas o que poderia haver de tão errado nele, para que Remus não tivesse ninguém?



Ela procurou refrear sua imaginação. Percebeu que não estaria pensando nisso se Remus Lupin não a intrigasse de uma forma especial. Eu acabei de pensar que ele é muito atraente, percebeu. Até meu pai notaria como isso é suspeito.



Ela caminhava nas ruas semi desertas do Beco Diagonal. A maioria das lojas já estava fechada, e ela ainda teria que pegar um pouco de Flu, pois se julgava cansada demais para aparatação.



Eu não acredito que estou me interessando por ele, pensou, olhando dos lados para ver se havia alguém nas redondezas. Eu não sei nada sobre Remus Lupin, afora de que ele é um dos homens de confiança de Dumbledore... Foi quem me trouxe para a Ordem da Fênix...



Tonks estava tendendo a seguir aquela linha de raciocínio bem mais a fundo, quando notou um vulto vestindo uma capa escura passando numa esquina. Muita pressa para uma hora dessas, pensou Tonks, observando com atenção a esquina onde ele sumira.



Sacou a varinha e caminhou lentamente até o local, conseguindo chegar até a calçada sem fazer barulho - o que realmente era um mérito para ela -; felizmente o dono daquela loja tomara a cautela de guardar a plaqueta de sua loja, senão àquela altura do campeonato ela já teria tropeçado.



Tonks transfigurou o cabelo para um preto curto e discreto, e só então espiou pela esquina. Um grande arrepio de medo seguiu-se.



Ela viu três homens vestidos de preto conversando em voz baixa, e um deles, sem o capuz, Tonks reconheceu de imediato: Nott.



Comensais da Morte, ela pensou aterrorizada. Mas aqui?

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