1º Natal de uma velha casa br

1º Natal de uma velha casa br



Naquela noite, o vento parecia bater mais impiedoso contra as velhas janelas que um velho elfo tentava inutilmente fechar com sua magia.
- Deixe, Elber, deixe ficar. Pelo menos o vento vem nos visitar. – a voz rouca vinda da poltrona fez o pequeno ser se virar e respeitosamente retrucar:
- Minha senhora, não podemos deixar assim. O vento está frio, podes adoecer novamente. E Elber sofrerá muito, sofrerá sim, se isso acontecer.
- Meu bom amigo... – a velha sorriu, enquanto o elfo dava um pulinho assustado – Sim, é verdade. Você e os outros elfos são meus únicos e verdadeiros amigos, depois de tudo. Às vezes penso que devia dar-lhes roupas e deixá-los procurar novas vidas.
- Não, minha senhora! Isso não! Não nos obrigará a abandoná-la! – o elfo parecia agora terrificado, mas sua veemência a fez sorrir mais largamente.
Estava prestes a dizer mais alguma coisa, quando uma batida diferente foi ouvida: alguém estava á porta da casa.
- Por Merlim, quem será?
O elfo já sumira dali, para voltar pela porta dali a instantes, trazendo consigo um homem enrolado em uma capa negra.
- Preciso... imensamente... de um favor. – ele disse com voz seca, como se isso fosse adverso à sua personalidade.
A senhora aproximou-se, espantada ao reconhecer o visitante: o neto de seu marido trouxa, de quem não tinha notícias desde a morte de Alvo Dumbledore. Disseram que ele fora seu assassino...
- Severus? O que houve? Pensei que estivesse...
- Em Azkaban. – ele sorriu, melancólico – Não, não estou. Estou ajudando na captura de meus... antigos companheiros, e por isso estou livre... ainda.



- Venha, sei de um lugar onde ele não vai nos achar! – um garotinho magro de pele morena e cabelos encaracolados puxava outro mais claro e gordinho
- Mas... e se ele usar a varinha pra nos localizar? – o outro perguntava, em tom aflito, mas sussurrado.
- Mamãe “mata” ele! Esqueceu? Ele ainda não tem 17 anos...
- Ah, é mesmo! – o garoto bateu na testa, como que chamando a si mesmo de burro, e os dois se desceram a escada escorregando pelo corrimão e sumiram logo depois em uma das portas laterais do vestíbulo.
Não haviam percebido uma velha senhora que surgira no topo da escada e os acompanhara com um olhar divertido. E começou a pensar em quantos anos haviam se passado desde a última vez que vira crianças descer pelo corrimão...
- Vovó, pra onde foram aqueles dois? – Alan Snape interrompeu o curso de suas lembranças, parado ao seu lado, vindo do andar superior.
- Hein? Ah, foram para a estufa, querido.
Ele correu atrás dos garotos menores, enquanto a velha sorria, antes de também acabar de descer as escadas e tomar caminho oposto ao das crianças.
Na sala de estar vitoriana, um grande pinheiro brilhava, enfeitado por luzes enfeitiçadas e guloseimas coloridas brilhava intensa e intermitentemente, enquanto aguardava os pacotes de presentes de Natal.
Elfos domésticos haviam se esmerado para deixar a casa limpa e acolhedora, por puro gosto. Também haviam sofrido como sua senhora os longos anos de silêncio e solidão na velha morada e se sentiam felizes por poderem novamente fazer o que consideravam sua obrigação: manter a casa limpa, preparar refeições quentes e apetitosas, arrumar a bagunça das crianças. Sim, porque novamente, havia crianças correndo pelos corredores, descendo as escadas, brincando no jardim.
Lady Marjorie viu o homem sentado na poltrona próxima ao fogo acolhedor da lareira e sorriu. Ele estava muito diferente do homem amargurado que lhe procurara quase uma década atrás em uma noite de vento frio e cortante...
Snape lhe procurara pra pedir um estranho favor: cuidar de uma criança, caso lhe acontecesse alguma coisa em sua nova e mais uma vez perigosa missão.
E ela o fizera, com imensa satisfação, assim que conseguira ir atrás de notícias. Ficara com Alan em sua companhia, brigando com os burocratas do Ministério que insistiam em colocar o garoto em uma “família bruxa de respeito”, como se ela não fosse respeitável...
Ora, só porque tivera um irmão preso em Azkaban – claro, merecidamente, pois era um pilantra inveterado – e um “neto por afinidade” que fora um comensal e assassino perigoso, não queria dizer que não fosse respeitável! Era viúva de um grande bruxo... claro, ele também não fora “flor que se cheire”...

Sua risada baixa chamou a atenção do ex-comensal, que levantou os olhos do livro que lia apens o suficiente para ver de onde viera aquele som incomum. Vendo que era “apenas ela”, voltou sua atenção para o livro.
Snape não queria se preocupar com nada, apenas gozar suas férias de fim de ano com sossego suficiente, coisa que não pudera fazer em muitos anos.
Na verdade, desde o fim da guerra, vira apenas um Natal – o que passara com a família Laurent, já que a rápida visita que fizera à Toca no ano anterior não podia ser considerada como tal– então, ainda se sentia estranho àquilo tudo.
Mas deixara sua irmã e Lady Marjorie convencê-lo de que seria bom passar o Natal no campo, onde as crianças poderiam brincar na neve. Afinal, aquele seria o primeiro Natal com neve para os filhos adotivos de Serenna.
- Crianças... – Snape murmurara, ao observá-los da janela da sala de estar, poucos minutos antes. Sorrira e se acomodara em sua poltrona favorita, para ler um livro trouxa que Serenna lhe trouxera.
Enquanto isso, sua irmã discutia com as meninas a melhor maneira de pendurar as meias na lareira e a dúvida agora era se penduravam ou não uma para Severus.
- Não achei nenhuma com desenho de morceguinhos pra comprar, acreditam? Não que servissem pra seu tio.
- Por que morcegos, tia Serenna? – Lucy perguntou, curiosa.
- Ah, é que... os fãs trouxas de Harry Potter associam Severus a esse animal... – ela olhou o irmão na poltrona, aparentemente concentrado, e resolveu provocá-lo um pouco – Por que será, Severus?
- Porque são uns idiotas. – ele respondeu sem ao menos levantar os olhos do livro, não estava com humor pra discutir as suposições de trouxas malucos...
Serenna deu uma risadinha e respondeu:
- Deve ser por esse seu humor tão inconfundível... além da forte imagem da capa esvoaçando pelo corredor... Ainda é assim em Hogwarts, Lucy?
- Bem... – a garota olhou de esguela para ele – Eu acho que...
- Pode dizer, Waters, não vou tirar pontos da Lufa-Lufa por sua resposta sincera.
- Ah, Professor! – ela ficou vermelha e murmurou alguma coisa, fazendo Serenna cair na gargalhada, antes de retrucar:
- Ei, estamos em casa. E em famíla! Nada de sobrenomes ou títulos por aqui!
- Ok, “mamãe” – Snape zombou e ela lhe deu um sorriso de escárnio.

Lady Marjorie os observava em silêncio, contente por ver que tudo havia realmente mudado. Ninguém diria que aquela família de formação tão fora do comum fosse uma família realmente feliz, mas ela apostaria todos os seus velhos galeões de que faltava pouco para isso ser totalmente verdade. Pelo menos para uma parte daquela família.
Ela observou sua afilhada com atenção. Sim, era a madrinha de Serenna e ficara muito feliz em saber que Severus conseguira encontrar e trazer a irmã de volta.
Elber, o velho e risonho elfo, veio avisar que o almoço seria servido, e Serenna emitiu com a varinha um chamado para todos os garotos – um pequeno lobo prateado (ou seria uma raposa?) se projetou para fora ao encontro de cada um deles - que vieram correndo em poucos minutos.
Snape a olhou pelo canto do olho, antes de comentar:
- Pra quem tinha tanto medo de cães... seu patrono é interessante.
- Não é um cão! – Serenna respondeu com voz suave, disposta a não acatar a provocação. – É um lobo guará. E nunca tive medo de cães!
- Não, realmente. Só dos que pareciam ursos ou lobisomens...
Ela soltou um breve suspiro, negando-se a discutir com o irmão:
- Mamãe adoraria poder fazer isso! –comentou, sorrindo, lembrando-se de sua mãe adotiva, Beatriz Laurent – Às vezes, chamar todo mundo pro almoço de domingo era uma verdadeira aventura!
Snape desta vez fitou a irmã por alguns momentos, como se esperasse que ela fosse chorar, mas Serenna lhe sorriu e, abraçando os filhos com animação, foi levando-os para mesa enquanto perguntava do que brincavam naquele frio lá fora.
- Ela só quer uma chance de ter uma vida como a deles, não é? – Lady Marjorie perguntou.
Snape deu de ombros, como se não tivesse entendido, mas a velha bruxa explicou:
- Ela ainda não assumiu esse “compromisso” com o Black porque não quer começar a vida com uma imposição. Quer um lar como o que conheceu, com laços de afeto real, porque as pessoas querem estar juntas, não porque são obrigadas por um juramento de sangue.
- Eu sei disso. Por isso não interfiro nesse assunto. – ele respondeu, secamente.
Lady Marjorie parecia querer dizer mais alguma coisa, mas desistiu. Talvez fosse melhor achar um momento para conversar abertamente com Serenna, como uma mãe faria.
- Faça isso. – a resposta curta e seca aos seus pensamentos não a espantou, e ela respondeu simplesmente:
- Farei isso, hoje mesmo.

As crianças estavam agitadas. A perspectiva de acordarem na manhã seguinte e encontrarem seus presentes parecia excitante demais para que conseguissem dormir.
E não eram apenas os mais novos, embora Leonardo e Aline fossem os mais ansiosos e comandassem os outros quatro agitadíssimos companheiros de quarto. Os adolescentes também não conseguiam disfarçar sua curiosidade.
Peter e Lucy quase chegaram a comentar que parecia que estavam em Hogwarts, tendo a mesa do jantar comandada por seu “temível professor de poções”, mas desistiram a um sinal sugestivo de Alan, temendo que ele lhes negasse seu presente tão esperado.
Não. Não poderiam estragar sua primeira tentativa de ser um “Papai Noel” legítimo... e se limitaram a dizer que os elfos de Vovó Marjorie não perdiam para os da escola. O jantar de véspera de Natal fora maravilhoso, e eles nem conseguiam imaginar o que lhes esperava para o dia seguinte.
Enquanto os mais velhos tomavam uma última xícara de chocolate quente, Serenna subiu para dar um jeito nos terríveis diabretes da Cornualha que pareciam ter sido soltos no andar superior.

Em cada uma das três grandes camas de dossel, duas crianças se aconchegavam sonolentas, e Serenna foi a cada uma ajeitando suas cobertas e beijando seus rostinhos risonhos e ansiosos, chegando finalmente ao seus dois filhos.
- Se vocês não dormirem, Papai Noel não vem. – ela disse, carinhosa.
- Como ele faz, mamãe? Ele existe mesmo, né? Se existem bruxos, então... ele também existe. Deve ser um bruxo, para vir pela lareira e deixar os presentes.
- Eu nunca tinha pensado nisso. – ela respondeu. – Só o que sei é que ele não vem enquanto tem criança acordada, portanto: dormindo já! Todos vocês!
- Canta pra gente dormir, mãe! – Aline pediu.
- É, isso mesmo. Mas eu quero música de Natal! – Leo ajuntou.
Serenna olhou para eles, e depois para os demais. Os olhinhos pesados teimavam em ficar abertos, valentes guerreiros contra o sono eminente. Uma canção de ninar poderia ajudar.
- Você pode cantar uma canção de Natal pra nós, mamãe? – A voz doce de Aline fez coro ao pedido do irmão.
Ela olhou para as crianças, pensando em como seria doloroso relembrar uma das velhas canções que seu pai cantava com sua voz forte de barítono. Não. Definitivamente, não conseguiria cantar uma das canções que seu pai gostava tanto. Seria demais pra seu coração repleto de saudade! Mas... o que poderia cantar pra elas?
Lembrou-se do ano anterior, do momento em que desembarcara em Londres, pensando no que encontraria pela frente. E de como a cena de um filme viera à sua mente, junto a um rosto que no momento não reconhecera: o rosto de seu irmão gêmeo, que reencontraria dali a alguns dias para sua grande surpresa. Então, soube o que cantar, afinal. Não era exatamente uma canção de Natal, a letra fora alterada para parecer que sim, mas era essencialmente uma canção de amor, e ao cantá-la, Serenna tentou não pensar no rosto de um certo bruxo a lhe sorrir maroto:
- I feel it in my fingers, I feel it in my toes,
well Christmas is all around me and so the feeling grows
It´s written on the wind, it´s everywhere I go
so if you really love me, come on and let it show.
You know I love you, I always will
my minds made up by the way that I feel
there´s no beginning, there´ll be no end
cause on my love you can depend.
I see your face before me as I lay in my bed
I can not get to thinking, of all the things you said
You gave your promise to me, and I gave mine to you
I need someone beside me in everything I do...


Ela cantara a canção num ritmo bem lento, numa voz tão suave que a última frase soara quase como um sussurro. Enquanto cantava voltara a fazer um carinho em cada um, um gesto sutil de suas mãos estimulando o sono a chegar mais rápido, uma velha magia impregnada em sua voz.
Sorriu, ao ver que todos dormiam, e deixou o quarto em silêncio, indo se juntar aos demais ao lado da lareira, tomando também um delicioso chocolate quente.
Passou pelos três jovens na escada, que se despediram com um beijo no rosto e foi ao encontro do irmão e da velha senhora, que descobrira recentemente ser sua madrinha.
Snape lhe deu aquele meio sorriso com que já se habituara. Ele não era mesmo um homem de sorriso largo ou escandaloso. Lady Marjorie lhe estendeu uma xícara e ela aceitou, sentando-se na poltrona em frente à do irmão.
A noite estava tranquila, até que uma cabeça apareceu na lareira: Sirius Black.
Serenna quase se engasgou com o chocolate, ao ouvir sua voz chamando por ela. Desconcertada, levantou-se da poltrona e foi até lá.
- O que foi, Black? – ela perguntou, ajoelhando-se sem disfarçar a irritação.
- Calma, mulher! Só queria lhe desejar um “Feliz Natal”! – ele sorria com aquele olhar de cachorro perdido inconfundível mesmo nas chamas verdes.
Serenna respirou fundo, antes de responder mais controlada:
- Ah, sim... obrigada! Feliz Natal pra você também.
- Sim. Seria mais feliz se você... se nós... você sabe.
A falsa timidez dele não a convenceu, mas Serenna apenas sorriu, rezando para que seu rubor momentâneo não fosse percebido atráves das chamas ou fosse atribuído ao calor do fogo (embora chamas verdes não queimem).
- Eu não conseguia pensar num presente pra você que não parecesse pretensioso ou exagerado, mas... espero que goste do que eu mandei.
Serenna corou mais fortemente. Não tinha pensado nisso. Pensara em presentes para todos menos para ELE. Que vergonha...
- Olha... se você não me mandou nada – ele pôs o dedo na ferida – Não se preocupe. Você já me deu o maior deles: minha liberdade, minha vida de volta. Sou eternamente grato.
- Hã... tá, tudo bem. – ela gaguejou inconscientemente em português.
Sirius ficou sério por um minuto, e ela pode sentir uma leve decepção em sua expressão. Como se ainda abrigasse a esperança de que ela se preocupasse com ele pelo menos o suficiente para mandar um presente de Natal. O animago soltou um leve suspiro que confirmou suas suspeitas e, depois de estender a Snape e a toda a família os votos de feliz natal, despediu-se, mandando-lhe um beijo travesso.

Depois de alguns minutos de silêncio, em que ela voltara a se sentar e fingia saborear o chocolate já frio, Snape alfinetou:
- Um ponto pro Pulguento.
- Ah, não enche, Severus! – sua resposta irritada o fez levantar a sobrancelha, divertido.
- Esse rapaz é muito sensível – Lady Marjorie interveio, sem ligar para o fato de que um homem de quarenta anso não fosse exatamente um rapaz – Meu primeiro marido não era tão compreensivo....
Ante o silêncio dos dois irmãos, ela continuou..
- Meu primeiro casamento foi um contrato mágico, em que estavam em jogo apenas interesses de meu pai, um velho bruxo de uma velha dinastia esquecida que ainda tinha sonhos de poder e viu no interesse de um bruxo poderoso por mim o caminho para sua própria glória... coitado! – ela suspirou, antes de continuar – os três passos do contrato mágico foram firmados numa mesma noite.
- Três passos? – Serenna indagou.
- Você completou apenas dois – Snape esclareceu.
- Como assim, apenas dois? Quando eu selei algum contrato mágico?
- Por Merlim! – Lady Marjorie exclamou – Severo, ela não sabe?
Serenna observou o irmão sacudir a cabeça em negativa. Depois, fitou a bruxa que fingia uma expressão de quem tinha deixado escapar um grande e perigoso segredo.
- Ok. O que eu ainda não sei? – ela continuava olhando de um para o outro.
- O ritual que permitiu a você alcançar Black e trazê-lo de volta. Eu expliquei a você que permaneceriam ligados para sempre, não se lembra?
- Claro, me lembro disso, mas... – Serenna parou, pensou, então, levou a mão à boca, abafando uma exclamação de espanto. Finalmente, caíra a ficha?
- Minha querida... – Lady Marjorie se aproximou e pegou suas mãos. – Sim, aquele era um ritual muito antigo, quase esquecido, atualmente. O sangue derramado e o beijo selam o compromisso
- Você deve se lembrar de que Lupin explicou a necessidade de um vínculo forte e verdadeiro para obter sucesso naquele resgate. Apenas uma esposa o retiraria do véu. – Snape elucidou.
- Mas eu pensei... quer dizer... eu estou casada com Sirius Black? É por isso que ele não larga do meu pé?
Lady Marjorie sorriu com a expressão, mas balançou a cabeça, dizendo:
- Não inteiramente. Vocês realizaram os dois primeiros passos, mas o casamento ainda não pode ser considerado “completo”. E percebo que este jovem deseja que isto aconteça, mas respeita a sua decisão. Você teve sorte, apesar de tudo.
O sorriso triste não passou despercebido a Serenna. Depois de alguns instantes, Lady Marjorie continuou sua própria história:
- Após o registro legal no Ministério da Magia, meu ilustre marido não quis saber de minha inexperiência por ser tão jovem ou de minhas expectativas quanto a um casamento romântico e um marido gentil... – ela se interrompeu demonstrando dor no olhar distante – mas o terceiro passo do ritual, a consumação, foi realmente inesquecível, mas não exatamente algo que eu possa me lembrar como a mais bela noite de minha vida...
- Sinto muito – Serenna sussurrou, enternecida, ao mesmo tempo que corava violentamente por entender “o que faltava” ao seu próprio contrato mágico.
Snape se moveu, desconfortável. Confidências femininas não eram algo que gostasse de ouvir. Mas entendera o objetivo da sábia mulher e ficou calado, como se nem estivesse ali.
- Não, minha querida, não sofra por acontecimentos tão antigos e que já perderam sua importância. Minha vida foi um inferno, realmente, até que mãos gentis me libertassem desse fardo... Meu marido foi morto em uma batalha pelo poder bruxo, em que lutava do “lado errado”. O bruxo que o matou me prestou um favor inestimável!
Ela se perdeu em suas próprias lembranças por alguns instantes, antes de continuar num tom mais ameno, menos sofrido:
- Depois de alguns anos, eu me casei novamente, com um trouxa, julgando que assim seria mais feliz. Bem... a vida foi mais tranquila, durante algum tempo, mas quando ele descobriu minha verdadeira condição, não foi nada fácil também. Fui excluída do seio da família, expulsa com violência. O engraçado é que... – e ela fitou os dois irmãos com um sorriso estranho – a vida tem realmente caminhos muito estranhos. O filho de meu ex-marido conheceu uma jovem e se casou, sem saber que ela era como a madrasta que ajudara a expulsar do lar: uma bruxa.
Os dois irmãos se entreolharam, antes que ela continuasse.
- Sim, não é engraçado? A jovem Eileen, filha de uma querida colega de escola, me mandou uma carta contando que se casara com meu enteado, e me chamando para ser madrinha de um de seus filhos gêmeos, uma bela menina. E eles tiveram que aceitar minha presença em sua casa novamente.
- Mas nós não a víamos muito – Snape atalhou.
- Não, claro. Depois do rapto de sua irmã, só ocasionalmente eu conseguia burlar o cerco de seu pai e visitar sua mãe. Pobrezinha... Desfaleceu aos poucos, de dor e saudade, esquecendo-se de que você ainda estava ali, precisando dela.
- Isso não tem importância – Snape replicou, irritado.
Lady Marjorie o olhava, penalizada, e Serenna teve um lampejo do que teria sido a vida do irmão. Estendeu a mão, pegando a dele e apertando carinhosamente. Era para ele odiá-la, já que seu desaparecimento acarretara na depressão da mãe e no abandono que provavelmente era a raiz de toda a sua amargura.
Ele lhe sorriu, dizendo através de sua “luz roxa” que isso não era verdadeiro, pois ela o conquistara pelo carinho incondicional ao conhecê-lo e lhe dera outra família, a sua própria.
Lady Marjorie acompanhou o entendimento mudo dos irmãos, sorrindo.
- Creio que agora sim, somos uma família... Embora alguns membros estejam fora... – de repente, ela fitou Snape de forma estranha, antes de perguntar – Você se importaria se eu chamasse meu irmão para o almoço de Natal?
Snape desta vez largou o livro. Olhou para a mulher à sua frente como se ela tivesse dito uma insanidade... Mas respirou lentamente, antes de responder:
- Se você acha que ele não vai fazer nenhuma bobagem... Não por mim, mas pelas crianças.
- Ah, quanto a isso, fique tranqüilo. Ele está bem mais controlado ultimamente.
- Se você tem certeza, por mim, tudo bem.
Serenna olhou de um para o outro, sem entender de quem falavam.
- De quem vocês estão falando? Quem... é seu irmão?
Lady Marjorie a fitou por alguns instantes, antes de pensar um pouco e responder, meio vacilante:
- Acredito que você ainda não conheça... Mundungo Fletcher.

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Isso aí, gente! Finalmente, a Serenna entendeu tudo!
(meio precipitado, o que vocês acham? hihi...)

Ah, a música, é de "Simplesmente Amor", claro que vocês reconheceram.

E o parente novo na área... era uma idéia da outra fic não publicada, que achei divertido usar aqui... Snape parente de Mundungo... quer coisa mais insana? hihi...

Sou um caso perdido...

pra quem não entendeu ainda (mesmo já tendo sido falado em capítulos anteriores) como o Snape foi parar em Hogwarts novamente, aguardem o capítulo novo da Belzinha (Harry Potter e o Segredo de Corvinal - cap 17)

a segunda parte... bem, vou tentar não demorar tanto... mas a Serenna está recebendo corujas com sugestões de presentes pro Almofadinhas... hihi!





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