Um remanescente da família Bla

Um remanescente da família Bla



Gente, depois de um capítulo viajado na maionese mais do que assumido... um capítulo sério (como se eu escrevesse alguma coisa séria...) bem, ele já estava escrito há um tempão, esperando as coisas avançarem um pouco, então... sofreu algumas edições após os últimos capítulos... eu tinha criado uma situação nesse capítulo que estava meio... estranha, mas a Sally acabou criando uma situação semelhante na dela e aí... como foi publicada primeiro, criou um "precendente" que me ajudou aqui... vocês vão entender quando lerem (nem deu tempo de falar com ela a respeito) espero que gostem do capítulo e, claro, do novo personagem (sim, tem personagem novo!)


=================================


Um remanescente da família Black


Serenna encarou o chefe do Departamento. Era sua primeira missão “solo” como representante do Ministério da Magia junto a uma família trouxa cujo filho de onze anos receberia a carta de admissão em Hogwarts para setembro próximo. Estavam ainda em fevereiro, mas ultimamente o Ministério passara a contatar mais cedo as famílias de nascidos-trouxas.


Abriu sua agenda e, ante o olhar assombrado do velho bruxo por usar artefatos trouxas, - uma caneta esferográfica – pôs-se a anotar as informações que recebia.


- Quer dizer que ele é um “nascido-trouxa” completo?


- Na verdade, não. De acordo com nossos registros, sua bisavó materna era...


- Bruxa?


- Não. – o bruxo não pareceu satisfeito por ser interrompido, mas continuou – Ela era um aborto. Sua mãe, uma bruxa, casara-se com um trouxa e não teve filhos bruxos. É a primeira vez que a magia eclode na família.


- Após três gerações. O gene escondido finalmente vem à tona – Serenna murmurou para si mesma, maravilhada – Como os sobrinhos da Ana.


- O que disse?


- Ham? Desculpe, Sr. Atkinson. Estava me lembrando dos sobrinhos de uma amiga minha. Ocorreu um fato semelhante na família.


- Sim, claro. – o velho balançou a cabeça. – Sei a quem a senhorita se refere. Os “sobrinhos” de Agatha Smith.


- O garoto já apresentou algum... episódio de magia?


- Ao que parece, deu sinais de animagia espontânea. Isso é muito raro. Nos dias atuais, só há registro de um caso. (1). Um garoto que está cursando Hogwarts, atualmente.


- Verdade?


 


Meia hora depois, Serenna descia na estação de metrô e consultava um mapa, para certificar-se da localização exata da casa dos Thompson.


Caminhava tranqüilamente pela calçada quando, ao virar a esquina, reconheceu o homem encostado displicentemente no poste a seguir, como se esperasse por ela: Sirius Black.


- Mas será possível? – ela resmungou, contrafeita.


- É realmente um prazer revê-la também, minha querida.


- Não.


- Não... o quê? – seu sorriso irônico e as sobrancelhas erguidas a irritaram profundamente, mas não ia dar sinais disso.


Não estava num de seus melhores dias, e o bruxo logo descobriria isso, se insistisse em continuar acompanhando-a para todo canto, como vinha fazendo desde aquela festa de confraternização do Ministérrio. Fora assim em cada reunião da Ordem em que ela participara – sendo que em uma delas ele atravessara a lareira para buscá-la apenas para provocar Snape. (2). E ficara ainda pior depois do que acontecera em Glastonbury...(3)


- Não sou sua querida. E não. Não é um prazer revê-lo.


Ele arqueou um pouco mais a sobrancelha, visivelmente divertido.


- Ora, pra quem fez tanto empenho em me trazer de volta daquele véu, você tem se mostrado muito fria e distante.


- Olha, era minha tarefa. Eu tinha prometido aos outros.


- E me prometeu – ele a cortou com voz suave – que ficaria ao meu lado...


- Foi necessário, para convencê-lo a me seguir pra fora.


- Que pena... Pensei que tinha sido sincera. E que tinha resolvido me dar uma chance de te mostrar que podemos nos dar bem, juntos. – seu tom desalentado quase a balançou, mas ela não ia se deixar levar.


- Eu não devia ter ouvido a Tonks. – ela respondeu, voltando a caminhar e fingindo ignorar o homem que caminhava ao seu lado.


- Por falar em Tonks – Sirius sorriu de forma perigosamente charmosa – ela me disse o que está gravado nesse colar…


Serenna estacou, pálida de susto. Então ele já sabia! Com um suspiro, murmurou alguma coisa, enquanto o observava buscar dentro da camisa a corrente que usava desde o Natal e ficar brincando com a plaquinha de ouro entre os dedos.


- Desculpe, não ouvi bem. – Sirius parecia disposto a aproveitar bem sua vantagem no jogo.


- Eu… aquilo… isto – ela apontou para a placa entre os dedos dele - foi só uma brincadeira, já que você posa por aí de “eterno cão sem dono”…


- - Sem dona… até conhecer você. E você gostou da idéia de me colocar uma coleira, mesmo que não quisesse… como ela disse mesmo? “Dar bandeira”?


- Ela te contou! – Serenna ficou tão rubra como Rony Weasley quando pego em uma falseta.


- Sim, contou. – Sirius deu uma gargalhada, ao ver a cara embaraçada dela – “Tira o olho que ele já tem dona”… - ele repetiu devagar, olhando para a placa de ouro como se pudesse ler algo ali.


- Desculpe… eu… - Serenna não sabia o que dizer e tentou se afastar, mas ele a puxou de volta.


- Hei, calma! Eu não fiquei bravo, eu gostei de saber que, mesmo não se decidindo claramente, você não quis correr o risco de me perder… E, afinal, você também está usando o presente que te dei. E eu também fiz algo especial nele. – ele pegou sua mão, erguendo-a até perto do rosto, tocando o anel que ela usava., retirando-o com delicadeza de seu dedo. – Está vendo?


Ele soprou suavemente sobre a inscrição interna do anel e, como se fossem folhas superpostas, as letras se afastaram, fazendo com que ela pudesse ler: o “S” transformara-se em dois, e em seguida, “Sirius e Serenna” e o “B” formou o nome “Black.”


Ela fitou-o, admirada, e ele retrucou:


- Estamos quites, princesa. - Então, num gesto repentino, depois de recolocar o anel em seu dedo, beijou a palma de sua mão, que Serenna puxou rapidamente, provocando nele um olhar triste de cortar o coração.


– Você é mesmo pior do que imaginei. – ela retrucou, desconversando e se afastando. Não queria demonstrar o quanto seu gesto, ainda mais que a inscrição no anel, a abalara.


- Humm… com certeza, sou muito mais charmoso do que você imaginou. – Sirius respondeu suavemente.


- Arrogante! – ela retrucou, voltando a caminhar, não querendo dar o braço a torcer.


- Lindo...


- Presunçoso!


- Adorável...


- Insuportável!


Sirius sorriu.


- Confesse, vamos! Aposto que você já era louca por mim, desde que viu aqueles filmes de que falou.


- Já que você tocou no assunto... – ela parou, de repente, e ele estacou a seu lado, teatralmente.


- Sim? – Ele agora estendera tanto o sorriso, que Serenna imaginou um cão aflito por correr atrás de um pedaço de madeira atirado pelo dono, e seria ótimo se pudesse fazê-lo, pensou.


- Você, realmente, não é lá um Gary Oldman....- ela sorriu, debochada.


- Claro que não! Pelo que sei, ele não é tão bonito quanto eu!


- Ah, mas tem um charme... que você é incapaz de superar. Acredite, eu vi todos os seus filmes, quer dizer... menos um. Sei do que estou falando. Ele é... maravilhoso!


- Tem certeza?


Serenna ia retrucar, mas desistiu de continuar uma batalha verbal que só estava distraindo-a de seu objetivo. Sirius pareceu interpretar seu balançar de cabeça e revirar de olhos como um gesto de derrota, porque exclamou:


- Touché!


- Você é incrível, tenho que admitir – ela sorriu com falsa doçura – mas não vai me tirar do sério Sr. Sirius Black. – ela consultou o número da casa em frente à qual tinham parado. – Chegamos. Pode ir embora.


- De jeito nenhum. Não vou deixá-la enfrentar esses trouxas, sozinha. Algo me diz, digamos que seja meu faro canino, que são piores do que aquela família da Lily.


Como para confirmar suas palavras, assim que se aproximaram da porta, ouviram os sons de uma acirrada discussão, pela janela aberta da sala de estar.


- Meu filho é um garoto normal. Não é nenhuma dessas aberrações! – um homem esbravejava.


- Ninguém disse isso. Ele apenas pode fazer coisas que os outros não podem – outra voz masculina respondera com tranqüilidade, era a voz de um velho.


- Papai, Brian, por favor! – uma voz feminina interferia – Os vizinhos vão acabar ouvindo.


Um silêncio seguiu-se a essas palavras, até que o homem retrucou, em tom amargo:


- Então, peça ao seu pai pra não ficar colocando besteiras na cabeça do garoto!


-Só tento ajudar meu neto a entender o que aconteceu. – o velho parecia divertido.


- Dizendo a ele que é normal poder se transformar em cão? Grande ajuda!


Sirius piscou, surpreso com o que acabara de ouvir, e cochichou no ouvido de Serenna:


- Acho que vou te ajudar mesmo. Mas não como estou. – ele ergueu a mão imitando o juramento dos escoteiros – Juro solenemente que vou me comportar.


E antes que ela pudesse dizer alguma coisa, ele já se transformara em um cão grande e preto, sentado ao seu lado.


- Black! – ela gritou, assustando-se. – Ah, meu Deus. Por favor, diga que não está acontecendo!


Ela já tentava puxá-lo dali, quando a porta se abriu.


Desconcertada, fitou o garoto prestes a sair, com uma mochila jogada no ombro e expressão aturdida. Parecia estar saindo sem querer ser visto, e parou, olhando interrogativamente para ela. Tinha os cabelos negros e arrepiados, e olhos azuis piscando por trás dos óculos redondos. Ele lembrava-lhe alguém... Instintivamente, olhou para sua testa e constatou, aliviada, que não havia ali nenhuma cicatriz em forma de raio.


- Ufa, que susto! – ela tentou disfarçar – Já ia tocar a campainha. Você deve ser Daniel, não é? Daniel Thompson.


- Sim, sou eu. Como sabe? E quem é você?


- Sere... Sarah Laurent – ela se corrigiu a tempo, e o cão virou a cabeça para ela. Mas não usava seu nome bruxo nesse tipo de visita. Sabia o que o sobrenome “Snape” poderia causar às pessoas, principalmente trouxas com conhecimento da saga potteriana.


Como o garoto continuasse a fitá-la com dúvida, completou:


- Sou representante de uma escola do norte do país – ela observou o garoto levantar a sobrancelha – Vim falar com seus pais sobre sua possível inscrição. Espero que sua mãe não tenha problemas com cães... porque não tive como deixá-lo em um canil, meu apartamento está sendo dedetizado... – Serenna se recriminou intimamente por desculpa tão fraca… Quem em sã consciência dedetizaria o apartamento ainda no inverno?


O menino olhou para o cão, que virou a cabeça de lado, observando-o com igual curiosidade.


- Sem problemas, eu acho...


- Quem está aí, Daniel? – a mãe do garoto viera até a porta e parou, confusa, olhando da mulher estranha para o cão.


Ela tratou de sorrir e se apresentar novamente:


- Bom dia. Sou Sarah Laurent, venho da Escola... – ela se interrompeu. Não podia falar o nome da escola, por enquanto.


Sirius deu um latido baixo, providencialmente, e a mulher olhou para ele.


- Ele é completamente manso, mas se a senhora preferir, eu o deixo aqui fora.... a coleira se partiu, há pouco, mas acredito que não fugirá, nem será roubado.


Seu tom intencionalmente vacilante e receoso foi corretamente interpretado pela mulher, que murmurou um “sem problema” e se afastou para que ela entrasse, seguida pelo cão que se comportava admiravelmente, caminhando suavemente e indo deitar-se aos seus pés, quando ela tirou o casaco e sentou-se na poltrona que lhe foi indicada, sob o olhar curioso de toda a família, agora.


O menino tentara sair despercebido, mas o pai o chamara.


- Daniel, aonde vai? O que leva aí?


- Eu... – ele olhou para o avô, e depois para “Sarah”. Parecia pedir ajuda. – Vou à casa do Fred, entregar-lhe umas coisas que me emprestou.


- Que coisas? – o pai pareceu desconfiado. – Me dê essa mochila, vamos!


- Querido... na frente da visita... por favor!


O Sr. Thompson olhou da esposa para Sarah, que sorriu sem jeito. E ficou vermelho como um tomate.


- Desculpe, senhorita. É que meu filho está com alguns hábitos um pouco...nocivos. Temos que ficar atentos, acho que entende.


- Ler não é nocivo! – o velho retrucou.


- Depende do que se lê, meu caro.


- Eu... – Sarah resolveu intervir – Eu acredito que seria bom que Daniel ficasse, durante nossa conversa. Afinal, é do interesse dele. Garanto que ele vai querer saber algo sobre a Escola.


O garoto sorriu, agradecido, indo sentar-se ao lado do avô, enquanto o pai, um homem de rosto redondo e cabelos claros respirava fundo, como se buscasse uma tranqüilidade que não sentia. Então, ele disse:


- Acho que não ouvi o nome da escola que a senhorita representa, Srta...


- Laurent. – Sarah sorriu. Instintivamente, fez um carinho no cão, coçando atrás de suas orelhas, procurando saber por onde começar, o que fez com que ele encostasse a cabeça em sua perna, com um latidinho satisfeito, e ela soube que teria que agüentar as conseqüências desse gesto de intimidade mais tarde.


Mas o casal continuava a esperar que ela dissesse o nome da escola.


Por que, das outras vezes, sempre parecera mais fácil? Por que casos difíceis nunca aconteciam quando se estava acompanhado de um monitor, aprendendo o serviço? Sirius deu um latido baixo, como se a incentivasse, e ela sorriu para o cão, despertando a curiosidade do velho.


Serenna, ou melhor, Sarah, achou que não deveria aumentar a ansiedade do grupo, por isso respirou fundo e disse:


- O Daniel completou onze anos há pouco tempo, não é certo?


- Sim, na semana passada. – ele próprio respondeu. – E vou para Eton, em setembro.


- Assim como o Justino Finch-Fletchley... – Sarah murmurou, fazendo o menino ficar mais atento. – Mas ele também recebeu a carta de nossa escola, e decidiu-se por ela, o que foi muito bom pra ele, apesar das dificuldades do primeiro ano.


- Eu também não gostaria de ser petrificado – ele retrucou, sorrindo, e Sarah percebeu que ele já entendera. O velho também mostrava um sorriso de reconhecimento.


- Ah, não há mais perigo, certo? Hogwarts ficará feliz em receber você.


O menino agora sorria de orelha a orelha, enquanto o avô murmurava um “eu não disse que eles viriam?” que não passou despercebido ao Sr. Thompson.


- Espere aí um momento... Hogwarts... Que escola é essa? Nunca ouvi falar.


- Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, responsável pela educação dos maiores e melhores bruxos da Grã Bretanha, senhor. Atualmente sob a direção de Minerva McGonagall.


- Uau!


- Minha nossa!


- Não é possível? Que brincadeira é essa?


Todas essas exclamações soaram de uma só vez. Mas o Sr. Thompson se erguera do sofá, com expressão ameaçadora, fazendo Sirius se erguer sobre as quatro patas e rosnar, em represália.


- Quieto, Black, você jurou se comportar! – Sarah o puxou de volta. O cão a encarou por alguns instantes e sentou-se, alerta. Ela continuou a falar:


- Desculpe-me, Sr Thompson. É de praxe que um funcionário do Ministério da Magia venha à casa de um nascido trouxa, para explicar pessoalmente as circunstâncias... especiais em que funciona a escola.


- Nascido trouxa? Que baboseira é essa?


- Desculpe, um nascido não-mágico. Apesar desse caso ter algumas particularidades.


- Perdoe-me a intromissão, mas... – o velho sorriu – de que foi mesmo que você chamou o cão?


- Black. É o nome dele. Combina, o senhor não acha? Embora também goste de ser chamado de “Almofadinhas” pelos amigos.


- Como no livro? – Daniel indagou, retirando da mochila um livro de capa colorida, que Sarah reconheceu imediatamente: “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”.


- Bem, parece que você terá que passar pelo escritório de Ernest McMillan, Daniel. Nascidos trouxas que já conhecem Harry Potter precisam de um feitiço inibidor, pra não saírem contando sobre os livros para os bruxos. Sabe, nem tudo que está nos livros é de conhecimento deles.


- Espere um pouquinho. Agora eu entendi tudo. Que brincadeira é essa? Bruxos e todas essas coisas não existem!


- Brian, por favor – a Sra Thompson pareceu acordar e segurou o marido pelo braço. – Ela pode estar dizendo a verdade!


- Posso, não. Estou! O que preciso fazer para acreditarem que seu filho é um bruxo? – ela foi até o garoto, ajoelhando-se para ficar praticamente da sua altura – Daniel, me conte. Qual foi mesmo o poder mágico que você manifestou espontaneamente? Pode falar.


- Eu... – ele olhou para o pai, que parecia prestes a explodir, depois para o avô, que lhe sorria encorajador, depois para o cão, que latiu no que parecia ser também um incentivo. – Eu me transformei num cão, quando pensei que a casa havia sido invadida por um ladrão e quis averiguar. Isso acontece desde que eu era pequeno, sabe?


- Isso é loucura. Foi só um sonho. Sempre foram apenas sonhos idiotas! Homens não se transformam em cães!


- Tem certeza? – a voz rouca assustou a todos, que olharam para onde anteriormente estava um cão preto, e agora viam um homem moreno, de cabelos soltos caindo até quase os ombros, que ele afastava dos olhos com um gesto displicente, e roupas um tanto fora de moda. Olhos claros como os do velho que agora o fitava, admirado. Mas Sirius se aproximou de Sarah, que se erguera também, e lhe disse em um tom de voz que a fez arrepiar-se involuntariamente – Você não sabe que sensação boa que deu aquela coçadinha atrás das minhas orelhas... Vai ter que fazer isso mais vezes!


- Só em seus sonhos, Sirius Black! – ela retrucou, nervosa, e a risada que ouviu em resposta a fez entender que não teria escapatória.


- Sirius Black? Mas você... morreu! – o garoto exclamou – Meu amigo Fred já leu a Ordem da Fênix, e lá diz que você morreu!


- Bem... – Sirius deu uma piscada marota – Foi isso que todos pensaram. Só que uma bruxa maravilhosa conseguiu atravessar o véu e me buscar de volta... mas você não poderá contar isso ao Fred.


- Não, claro que não! – Daniel sorria.


Marta Thompson segurava o peito, prestes a desmaiar. Somente um forte alto controle a impedira de gritar, ao ver a transformação bem à sua frente.


Brian Thompson olhava de um para o outro, ainda sem acreditar no que estava acontecendo. Depois de alguns segundos, deixou-se cair ruidosamente no sofá.


- Bruxo... – ele murmurava – Querem agora me convencer de que bruxos existem...


- Ora, Brian, como você explica o fato de um cão virar homem, se não for magia?


- Ora, cale-se, Alphard!


- Alphard? – Sirius agora demonstrou sua curiosidade – Tive um tio com esse nome.


- Eu sei. – o velho sorriu – Ele nos visitou quando eu era criança. Soubera que a prima distante pusera seu nome no filho.


- Quer dizer... – Sirius olhou do velho para Sarah, que sorria, como se tivesse lhe dado o troco.


- Quero dizer que sou neto de Isla Black, renegada pela família por ter se casado com ...


- Bob Hitchens – Sarah completou por ele.


- Você sabia disso? – Sirius olhava para Sarah com expressão quase assassina.


- Claro. Está na ficha de Daniel. Tataraneto de Isla Black. Na verdade, ele não é nascido trouxa. É que, por quatro gerações, só nasceram abortos.


- Sério? Nós somos parentes? – Daniel não conseguia acreditar – Eu sou um Black?


- Pelo visto, sim. E também parece que animagia é um traço de família. Como era o cão em que você se transformou?


- Ah, eu não lembro. Como era, mamãe?


Marta olhou para o filho, e depois para aquele homem que dizia ser parente de sua bisavó esquisita. Lembrava-se ainda das histórias que sempre pensara serem inventadas pela bondosa senhora para diverti-la.


Mas Sarah já perguntava para o avô de Daniel:


- O senhor, então, conhece a história da família de sua avó?


- Sim. Conheço. Minha mãe ficava muito triste por não conseguir fazer magia, mas vovó sempre a consolava dizendo que não se incomodasse, pois era amada da mesma forma. Nunca chamou a filha de “aborto”. De tempos em tempos, tinha contato com alguns parentes. O primo Alphard foi o último a nos visitar, logo após sua morte. Ajudou-nos com alguns recursos, minha mãe já era viúva na ocasião e eu era muito pequeno.


- Então não foi apenas por me ajudar que minha mãe o detonou da árvore da família. – Sirius comentou, rindo.


Os dois se encararam e, de repente, estavam abraçados no meio da sala.


- Andrômeda ficará feliz por saber disso. – Sirius disse, quando se separaram do forte abraço. – É a que mais sofre com o afastamento e desmantelamento da família.


- Ei! E eu? Como é que vou pra Hogwarts? Tenho que esperar até julho pela carta de material para ir ao Beco? E eu vou poder conhecer Harry Potter? Ele não morreu ao derrotar Voldemort, né? O livro sete... ninguém me contou ainda...eu quero saber o que aconteceu!


Todos olharam espantados para Daniel. Seu pai, com um suspiro, pareceu finalmente entender que não poderia fazer mais nada para impedir o filho de ser um bruxo. Isso era... “mal de família”...


 


Enfim, tudo tinha dado certo com a família Thompson.


Daniel lhes contara, depois que todos haviam se acalmado, que nunca se interessara pelos livros, mesmo com os colegas sempre falando de sua semelhança com o Harry dos filmes. Simplesmente, não era o seu tipo favorito de histórias, até o dia em que “sonhara” de novo que podia se transformar num cão, e contara isso a Fred, seu melhor amigo. Foi assim que recebeu de Fred o primeiro livro, e depois os dois seguintes. Acabara de ler na véspera o “Prisioneiro de Azkaban”.


- Será que o seu amigo me empresta esse? – Sirius perguntou, cheio de esperança, mas Sarah bateu em sua mão, repreendendo-o. Todos riram, enquanto saboreavam o chá da Sra Thompson, e ficou combinado que, na época de ir ao Beco Diagonal, o casal acompanharia o garoto. Claro, era função de Sarah, como representante do Ministério, mas Sirius foi categórico ao dizer que não deixaria um primo se aventurar sozinho pelo Beco. Teria que ir junto, pra mostrar-lhe os melhores lugares. E piscara, maroto, sofrendo mais uma vez a repreensão de Sarah e rindo com gosto.


Alphard então comentara em tom distraído, dando uma piscadela para Sirius:


- Vocês formam um casal muito bonito, vê-se logo que foram feitos um para o outro.


- Foi o que eu senti desde o primeiro minuto em que a vi... nos meus sonhos! – Sirius respondera, olhando-a com tanta intensidade que ela corara, engasgando-se com o chá.


 


A despedida fora alegre e descontraída, como se todos fossem amigos de muito tempo. Após prometer-lhe notícias por uma coruja, Sarah beijara o rosto do jovem Daniel e apertara a mão dos adultos.


Sirius despedira-se do garoto dizendo que ele era mais feliz, pois merecera um beijo dela. Ele próprio, depois de meses, só conseguira dela aquela coçadinha maravilhosa nas orelhas. E correra dela, para evitar levar um novo tapa, ao som das risadas de Alphard.


 


Agora, caminhavam em silêncio, até que ele perguntou:


- E aí, Sarah? Ou é Serenna? Qual você prefere?


- Minha família e meus amigos antigos ainda me chamam de Sarah, por isso não faz diferença. Mas para você, Sr. Black, é Srta Snape, como sempre. Não me recordo de ter-lhe permitido me chamar pelo primeiro nome...


- Pensei que tivéssemos passado desta fase, depois dos últimos acontecimentos...


- Eu não sei o que você quer dizer com “últimos acontecimentos”, Sr. Black, mas se isso vai significar que vou ser menos incomodada por você, pode me chamar de Serenna. Satisfeito?


- Serenna... – ele repetia o nome devagar, como se saboreasse o som.


- Olha, Black...


- Sirius. Por favor, me chame de Sirius. Custa tanto assim?


Ela revirou os olhos, soltou um longo suspiro, olhou para o rosto risonho à sua frente e decidiu que isso não seria a morte, afinal. E uma vozinha bem sua conhecida se fez ouvir em sua mente, lembrando-lhe que recentemente havia decidido sair da defensiva e deixar as coisas acontecerem… Se era capaz até de colocar uma “coleira” nele… porque não chamá-lo pelo nome?


- Está bem... Sirius. Agora, obrigada pela ajuda. E também, fico feliz por você ter encontrado novos membros da família Black. Acredito que isso vai diminuir essa sua impressão de “ai, meu Deus, estou sozinho no mundo” e você poderá, finalmente, me dar um pouco de paz.


- Diga de novo!


- O que? Que eu espero que você agora me dê um pouco de paz?


- Não. Diga meu nome.


Havia chegado à mesma esquina onde se encontraram horas antes, e Serenna parou, olhando para o chão. Não queria fitá-lo, não se sentia capaz de fazer isso e sair impune.


Mas ele segurou seu braço com uma das mãos e com a outra levantou seu queixo.


- Diga meu nome. – ele a fitava, sério – Não... o primeiro nome – ele completou quando a viu mover os lábios de forma a articular o “B” de Black.


Serenna o encarou, os olhos negros inquietos, até murmurar:


- Sirius.


Ele sorriu.


- Está vendo? Não foi tão difícil. Você não sabe o quanto tenho esperado por isso. Ouvir você falar meu nome de novo.


- Só isso? – ela soltou-se de suas mãos e voltou a caminhar – Você se contenta com pouco, como um...


- Sim? – seu tom era um pouco mais rouco do que o normal. – Como um... o que?


- Como um cão querendo um osso. – ela explodiu.


Sirius soltou uma risada, aquela tão parecida com um latido, depois a abraçou novamente e, verificando que a rua estava deserta, disse em seu ouvido.


- Na verdade, eu queria mais do que isso, sim. E fique sabendo que não sou o tipo de cão que larga seu osso. E, também... acho besteira você perder horas voltando de trem, quando podemos voltar... imediatamente.


E, sem esperar por uma reação dela, aparatou, levando-a consigo.


=================


(1) Harry Potter e o retorno das trevas – Sally Owens


(2) Harry Potter e o segredo de sonserina - Belzinha


(3) Idem (editado em 11/11/11 - aguardem o novo capítulo da Belzinha, está demais!)

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.