Toulose, Marselha e Estrasburg



Capítulo 12
Toulose, Marselha E Estrasburgo

'Conte-me seus segredos
Faça-me suas perguntas'

Na manhã seguinte, quando acordei, a última, já eram 13h. Encontrei Harry deitado na cama, Cedrico olhando minhas fotos de criança e Hermione lendo assiduamente um livro. Iríamos para Toulose mais tarde. Almoçamos e tivemos o resto da tarde livre. Hermione, para variar, estava lendo, Harry e Cedrico optaram por uma partida de Quadribol a dois. Não deu muito certo, mas foi até divertido. Enquanto isso, passei pela piscina e entrei em casa. Subi até o quarto que estava sendo ocupado por Hermione. Abri a terceira gaveta da cômoda e retirei um antigo álbum de fotografias. Segurei-o por algum tempo em minhas mãos. Abri. Na primeira página, uma única foto. Três pessoas estavam sentadas em um lindo campo. A grama estava verde, e as flores pareciam ter nascido para aquele dia. No canto esquerdo, uma linda mulher de cabelos compridos e louros. Não era muito alta, porém muito bonita. Ao lado direito, um homem de cabelos curtos e pretos. Era de uma beleza estonteante. Abraçavam a pequena menina que se encontrava sentada entre os dois. Era loura de cabelos longos e enrolados. Devia ter uns cinco anos. Em seu rosto, um lindo sorriso. Expressava felicidade.
Aquela foto tinha sido tirada quando era pequena. Num grande jardim de uma praça em Paris. Morei em Paris minha vida toda, mas visitamos muitos lugares. Os que mais gostei foram o Canadá, a Austrália, o Chile e a Suíça. O melhor é que passávamos todo o tempo juntos nessas viagens, marcando nossos momentos com muitas fotos. Sempre para guardar na lembrança, o que não era para ser esquecido. Agora, a minha próxima viagem seria a Alemanha. Sabia que não seria a mesma coisa sem meus pais. Eu sonhava em conhecer este lugar. Mas, agora, não sentia mais desejo por isto. Virei uma página do álbum. Duas fotos se encontravam ali. A de minha mãe grávida e a do meu nascimento. Na próxima, um casal se beijava sob algumas pedras, de vista para o mar. Virei todas as páginas e analisei cada foto, relembrando os momentos. A cada página virada, uma lágrima escorrida. Por que minha vida não estava sendo tão justa? Se aquele acidente não tivesse acontecido, eu não precisaria ter ficado em Beauxbatons, trancada por vários dias. Poderia viver normalmente. E feliz, com meus pais. Mas aquilo tudo era apenas ilusão. Sonho. A verdade era uma só. Meus pais estavam mortos e eu, sozinha. Só esqueceria tudo isso quando descobrisse o verdadeiro motivo da morte de meus pais. Era tudo o que desejava. Aquilo não fora um acidente. Fora uma conseqüência e tinha um culpado. O automóvel não caíra daquele penhasco por estar descontrolado. E conseguiram me fazer ficar em casa aquele dia! Talvez tivessem a intenção de matar apenas meus pais. Poderia ter morrido junto, mas tive um chamado urgente, que teria de comparecer à Beauxbatons. Se estou viva até hoje, não é agora que vou morrer sem descobrir o verdadeiro culpado. Não vai ser Melanie Addam ou Draco Malfoy, ou até mesmo Voldemort que irá me impedir de descobrir a verdade.
Fechei o álbum com força. Uma lágrima escorreu e foi parar em meu pescoço. Uma dor me atingiu bem no peito. No lugar do coração.
De repente, um baque surdo na janela. Larguei o álbum no chão e desci correndo a escada. Parei na porta que dava para o jardim. Cedrico estava estatelado no chão, com a vassoura a poucos metros de seu corpo. Corri. Senti a pulsação. Estava vivo. Dei alguns tapinhas em seu rosto, que sangrava muito. Cedrico conseguiu abrir um pouco os olhos, mas não conseguiu falar nada.
- Ced! Pelo amor de Deus! Está me ouvindo? – perguntei.
Não obtive resposta. Levamos Cedrico para cima, com a ajuda de Sam. Colocamo-o no quarto. Após alguns minutos, quando Harry foi tomar um banho e Hermione voltou a ler, Cedrico pareceu retomar a consciência.
- Ced! Tudo bem com você? – perguntei.
- Ah, acho que sim, só um pouco de dor de cabeça, mas o resto está tudo aqui, eu acho! – respondeu.
- Ah, Cedrico! Não brinca! Você me assustou! – suspirei desaprovando seu comportamento – Acho que vou adiar a viagem de Toulose para amanhã! Você precisa descansar!
- Não, não e não! O que é isso? Só por causa de um balaço? Nem pensar! Não vou atrapalhar os seus planos! Nós vamos hoje! Eu estou bem, juro! – respondeu Cedrico.
- Ah, Ced! Mas você precisa descansar! Olha, não vai atrapa...
- Melissa Bittencourt! Acalme-se! Eu estou bem... Já estou pronto pra outra! Juro!
- O.k., mas você já sabe né? – falei – Então nós vamos à noite! Assim você pode descansar mais um pouco!
- O.k...
Ficamos um momento em silêncio.
- Mel?
- Oi?
- Você estava chorando!
- Chorando? Não estava não...
- Estava sim... Estou vendo seus olhos vermelhos e inchados! – falou Cedrico – O que aconteceu?
- Nada não Ced! Deixa pra lá! Agora eu vou tomar banho depois eu passo pra te ver, o.k.?
- O.k.! Obrigada viu?
- Sem problemas! Só não me mate de susto de novo, pois eu posso não sobreviver! – sorri e deixei o quarto.
Entrei no quarto de meus pais, fechei a porta, peguei a chave no cofre e abri a pequena gaveta da escrivaninha. Peguei um caderno. Demorei, pois escrevi algumas coisas no caderno, e lá pelas cinco da tarde, fui tomar banho. Enchi a banheira com o maior número de sais de banho. Tinha espuma pra dar e vender. Era assim que gostava. O banheiro de meus pais era perfeito. Era escondido pelas portas do guarda-roupa, então, ninguém sabia que ali existia uma suíte. Refleti um pouco durante o banho e desci pronta, disposta a comer algo antes de ir. Antes, passei no quarto e para minha surpresa, Cedrico já estava de pé, já tinha tomado banho e estava passando alguma coisa que parecia perfume. Tinha uma fragrância muito boa, e parecia que ocupava aquele andar inteiro. Deixei-o se admirando no espelho e desci sorrindo. Encontrei Harry e Hermione em algo que parecia uma discussão, na sala de visitas.
- Não é por isso, Harry! Você não tem que se meter na minha vida e na do Rony! – bravejou Hermione.
- Eu não tenho mesmo nada a ver com isso! Só estou te falando que está escrito na sua cara que você não gosta mais dele! – falou Harry.
- E quem te disse isso?
- Ninguém! Está escrito na sua testa! Calma Mione, só estou te falando isso porque não é bom ficar sofrendo com isso! Se você não sente mais nada por ele, termina! Por isso vai fazer mal para ambos! – falou Harry.
- Ah, ta bom, Harry! Não quero mais ouvir! Eu acho que eu sei o que eu tenho que fazer da minha vida!
- EI! DÁ PRA PARAR? – gritei – O que está acontecendo? Vocês nunca foram de brigar! Por favor! Essas eram para ser as melhores férias das nossas vidas! – comecei a chorar incontrolavelmente – Não dá pra ter um pingo de consideração, e tentar não discutir? – respirei fundo e observando a expressão preocupada dos dois, continuei - Eu não quero que fiquem falando que eu sou uma coitadinha, mas vocês podiam pelo menos parar de brigar! Não vêem que estou sentindo muita falta de meus pais? Por favor!
Depois disso, saí correndo, esbarrando em Cedrico, que tentou me impedir, mas em vão. Subi a escada e bati a porta. Tranquei-a. Liguei o som alto, e deitei na cama. Chorava intensamente. No rádio tocava uma música linda. Uma das quais eu mais gostava. Aumentei o som. Ouvi baterem na porta.
- Eu não quero falar com ninguém! – respondi.
- Mel! Sou eu, Cedrico! Por favor, vamos conversar?
- Agora não, Ced! Agora não!
Em segundos ouvi a porta destrancar. Cedrico havia usado magia para abrir a porta. Uma coisa da qual eu discordava, mas que era necessária. Continuei com o rosto afundado no travesseiro. Ouvi a porta abrir lentamente. Cedrico entrara no quarto. Em seguida, fechara a porta.
- Mel? – mexeu em meu cabelo após sentar-se na cama – Olha, eu sei que você está triste, mas não liga pra esse dois não! É normal, de vez em quando, brigar com amigos!
- Não, não é normal, Ced! Porque a gente nunca brigou! – levantei o rosto do travesseiro.
Estava com a face inchada e vermelha. Sentei-me de frente para ele.
- Mas a gente nunca teve motivo pra isso! Com certeza eles devem ter um motivo para brigarem assim! – falou Cedrico.
- Mas por que justo nas férias? Convidei vocês porque são os meus melhores amigos, e não para brigar, e sim para se divertir! – uma lágrima rolou pelo meu rosto.
- Eu sei Mel! Olha, eu sei que você está muito triste, porque você acabou de perder seus pais, e ainda se decepcionou com o Wood, mas você precisa se animar! Você me prometeu, não foi? Vamos curtir essas férias o máximo possível, o.k.? Eu vou falar com eles!
- Não precisa! – Harry disse ao entrar no quarto, seguido por Hermione – Mel! Desculpa por aquilo!
- Mel olha a gente se comportou como... Ah não sei! Mas a culpada fui eu! Eu não deveria ter brigado com Harry! – falou Hermione.
- Olha Mione, não foi culpa sua! Foi minha! Eu que não deveria ter te falado aquilo! – afirmou Harry.
Sentei-me na cama. Observava os dois enquanto discutiam. Mais uma lágrima acabara de rolar de meu rosto.
- Escuta vocês dois! – chamei, fazendo os dois olharem para mim – Eu desculpo vocês, mas, por favor, me prometam que não vão mais brigar aqui?
- Eu prometo – falou Harry com um largo sorriso no rosto.
- Eu também! – disse Hermione.
- Está vendo, Mel? Eu sabia que isso ia terminar bem, esses dois não conseguem ficar brigados! – afirmou Cedrico tirando a lágrima que escorrera de meu rosto com o polegar.
Depois, cada um foi para o seu quarto para se trocar, e me levantei para lavar o rosto. Observei-me por um tempo no espelho. Aquela música bonita já não tocava mais. Voltei ao quarto, coloquei uma música triste e abri novamente a gavetinha. Tirei o caderno e escrevi mais algumas palavras. Jantamos, e nos despedimos de Maria. Estávamos indo para Toulose. Sam iria nos acompanhar. Levaria-nos de carro. Já tinha alugado três casas, uma em Toulose, uma em Marselha e outra em Estrasburgo. Deixamos nossas coisas na casa e fomos direto para uma festa. O único incidente foi que Harry bebera demais. Não sei por que, mas gostou tanto de uma bebida francesa, que achou que era fraca e que não iria fazer nada a ele. Ilusão. Resultado? Acabamos voltando para a casa mais cedo do que esperávamos. Harry não conseguia andar, falava tanta besteira que Hermione já não o agüentava mais. Deixamo-lo no sofá da sala, e Hermione e Cedrico saíram, pois Harry não parava quieto. Sobrou para quem ficar cuidando dele? Eu. Harry não falava, resmungava. Estava me deixando completamente irritada. Liguei a TV e coloquei em um canal onde passava um romance trouxa. Quando quase conseguia pegar no sono, Harry resmungava alguma coisa e acabava me acordando. Fora assim o resto da noite. Quando eram 06h30minh da manhã, horário que Harry finalmente dormira, levantei e fui fazer café, afinal, se dormisse àquela hora, não acordaria nunca mais. Sentei-me na mesa de madeira, e fitei a xícara de café em minhas mãos. Comecei a pensar. Harry sofrera tanto quanto eu. Perdera os pais quando pequeno, e cresceu sozinho, pois os tios nem ligavam para ele. Depois que entrara em Hogwarts, quase perdeu a vida várias vezes. Salvou muitas no lugar disto.
- Pensando em quê, Srta. Bittencourt?
Era Cedrico. Estava encostado na porta e me fitava. O som das suas palavras me desviaram de todos os pensamentos e eu pareci surpresa quando o vi.
- Por que acordado tão cedo?
- Não sei... Senti que tinha alguém sozinha! Ah, Mel, desculpa por ontem, não era para você ficar com Harry! – pediu Cedrico com uma expressão de arrependimento.
- Ah, Ced! Não se preocupe! Está tudo bem...
- E você, por que acordada tão cedo?
- Acordada? Eu nem dormi... O Harry ficou resmungando a noite toda... Só agora conseguiu dormir!
- Ah, não acredito! Por que você não foi me chamar?
- Ah, queria deixar você dormir... Afinal, ontem você caiu e se machucou... – falei.
- Ah, Mel! Não sei nem o que dizer para você! Sempre preocupada com os outros! Só você pra cuidar de mim e do Harry!
Cedrico sentou-se de frente para mim. Pegou uma xícara de café, e continuamos conversando.
Estava num estado deplorável. Olheiras e olhos inchado, desejam mais alguma coisa? Definitivamente não. Hermione não demorou muito para acordar. Quando chegou perto da hora do almoço, eu, Cedrico e Hermione estávamos na cozinha, quando Harry apareceu na porta.
- E aí? – mal conseguia abrir os olhos com a claridade intensa - Fiz muita besteira? – perguntou.
- Não! Só não deixou a Mel dormir! – falou Hermione dando uma zombadinha.
- Como assim? Ah Mel, desculpa! – pediu Harry.
- Não, tudo bem... Que isso não se repita! – sorri – Esqueci de avisar que as bebidas francesas parecem, mas não são tão fracas quanto você imagina... Você está melhor?
- Estou com uma dor de cabeça de matar, isso sim...
- Ah, sim... A chamada ressaca! – gritou Cedrico erguendo um brinde à Harry.
À tarde, fomos para o quintal. Enchi uma bexiga com água e escondida, levei-a para onde se encontravam os três. Mirei bem, e joguei direto na cabeça de Cedrico. Dei gargalhadas. Ele veio com outra bexiga, só que errou o alvo porque abaixei. Enchi mais três, e aproveitei que estava distraído, e joguei uma bem na nuca de Harry que gritou por afetar a cabeça. Depois, empurrei Hermione de roupa e tudo na piscina. Estava tão distraída rindo da cara de Hermione, que não percebi que Cedrico estava atrás de mim. Não deu outra. Fui parar na piscina também. Aliás, todo mundo foi parar na piscina, até mesmo Sam. Isso porque estava frio e a água estava quase congelando.
O dia seguinte fora normal. À tarde, fomos para Marselha. Era uma cidade lindíssima. Entramos na casa alugada. Tinha dois andares e era bem tradicional, muito bonita. Fomos dar umas voltas pela cidade antes de irmos para a festa em homenagem a meu pai. Estava marcada para às 22h. Às 20h30min, subi com Hermione para deixar tudo arrumado, deixei-a no quarto dela e segui para o meu. Tomei um banho e abri o guarda-roupa. Estava lá um lindo vestido preto, tomara-que-caia até o joelho. Na barra, alguns recortes no tecido, que o deixavam com mais volume. Fitei-o por um instante. Em seguida desci e encontrei Harry e Cedrico jogando animadamente uma partida de xadrez bruxo.
- Ei, vocês não vão se arrumar, não? – perguntei.
- Ah, a gente já estava indo... – respondeu Harry.
- Ah, ia quase esquecendo... Se vocês quiserem convidar alguém, por que no convite pede para que tenham pares! Mas já que vocês estão aqui e não conhecem ninguém... Um dos dois pode convidar a Hermione! – falei.
- E por que só a Hermione? – perguntou Cedrico.
- Porque como eu sou a representante do meu pai, eu posso ir como bem entender! E se por acaso eu não gostasse da companhia dos dois cavalheiros à minha frente? – a minha voz saiu irônica e maliciosa.
- Ah, mas não vai mesmo! Como representante você tem que fazer um bom papel, portanto... - Cedrico se levantou e fez um gesto muito Cortez – a Srta. aceitaria me acompanhar esta noite?
- Não poderia recusar a vossa companhia, Sr. Diggory... – dei uma risadinha.
Harry achava aquilo tudo muito engraçado. Nunca vira tantos gestos trocados entre damas e cavalheiros. Estava em choque. Olhava para mim e para Cedrico com se estivesse se perguntando “o que é que eu estou fazendo aqui parado?”.
- Ei, Harry, o que é que você está esperando para convidar a Hermione? – perguntou Cedrico.
- Eu?
- Não, a dama lá em cima... – respondi ironicamente – Não estou certa quanto ao nome dela.
- Ah, - ele pareceu meio assustado com a minha resposta – O.k vou falar com ela! – respondeu Harry deixando a sala.
Ele parecia ligeiramente envergonhado.
- Bom, vou subir e me arrumar... – falei – Ah, e por favor, esteja elegante como se melhor companhia jamais pudesse existir.
- Hum, à suas ordens, Srta. – ele sorriu de um jeito elegante – E, por favor, porte-se como uma dama da sociedade e esteja mais bonita do que já é, sendo isso possível ou não, para poder me gabar perante à outros cavalheiros por melhor e mais elegante companhia. – ele sorriu sinceramente, demonstrando se gabar – Te espero às 22h ao pé da escada.
Dizendo isso pegou minha mão em um gesto cavalheiro e beijou-a.
- Não me decepcione Srta.
- Certamente não irei Cavalheiro. – sorri.
Subi apressadamente, quase caí na escada, mas já estava acostumada com isso. Entrei, tranquei a porta e encostei o corpo ao lado de dentro do quarto. O vestido continuava intacto. Fitei-o por mais um instante, e abri o guarda-roupa. Tirei uma sandália preta altíssima, com algumas pedrinhas de brilhante. Era linda. Tinha apenas alguns detalhes, não era uma coisa extravagante. As pedras quase eram invisíveis, mas ao bater de uma luz, ou qualquer outra coisa, brilhava feito diamante. Coloquei-a no chão e observei a roupa inteira. Depois disso, coloquei o vestido e me olhei no espelho. Aquele vestido fora comprado para uma ocasião especial. Coloquei a sandália, e agradeci por Cedrico ser alto, porque cresci uns 10 centímetros. Já eram 21h45min quando ouvi baterem na porta.
- Quem é? – perguntei.
- Sou eu, Hermione!
- O.k. Só um minuto, Mione!
Destranquei a porta e deixei-a entrar. Hermione parou de frente para mim, boquiaberta.
- Porque você não me falou que o seu vestido era tudo isso?
- Tudo isso o quê? – fitei-me.
- É... É... simplesmente maravilhoso! Você está linda, Mel! – falou Hermione.
- Ah, pára com isso você também está!
Hermione usava um vestido azul turquesa e uma sandália um pouco mais baixa que a minha. Estava linda também. Deixara os cabelos soltos, caídos sobre o ombro. Estava perfeita.
- Mel! O Harry veio me convidar pra ir com ele... Que história é essa de par? – perguntou.
- Ah, Hermione! Em festas elegantes, todas devem ter um par! Você já terminou de se arrumar?
- Já... só falta a maquiagem e o perfume!
- Então você não está pronta! – dei risada.
Ela saiu do quarto apressada, quando disse que os meninos nos esperariam no pé da escada as 22h em ponto. Bom, pelo menos Cedrico estaria lá, quanto a Harry...
Abri a gaveta da cômoda e peguei uma caixinha de veludo preto. Abri-a. Dentro havia uma linda correntinha de prata. Dela, caíam filzinhos que terminavam com um coraçãozinho na ponta. Coloquei-a. Era de minha mãe. Adorava aquela correntinha. Parei frente ao espelho e passei apenas uma sombra prateada. No canto dos olhos uma branca, para iluminar o resto. Terminei a maquiagem 22h em ponto. Hermione já deveria ter descido. Ela entraria em crise se visse Harry furioso com ela por ter demorado. Prendi o cabelo num coque, deixando alguns fios caídos. Segui até a escada. Cedrico estava no maior papo com Harry e Hermione. Nem percebeu que eu estava parada no 15º degrau. Enfim, Hermione deu um cutucão nele, e quando se virou, pareceu que ia cair duro. Ficou em estado de choque, seguido por Harry. Hermione apenas sorriu. Desci lentamente cada degrau e cheguei ao último, ficando frente a frente com Cedrico. Ainda bem que não o tinha passado. Ainda continuava mais alto que eu. Harry puxou Hermione pelo braço e os dois foram esperar lá fora, no carro. Cedrico estava estonteante. Gravata borboleta e smoking preto.
- Decepcionado? – ele continuava emudecido.
- Agora tenho motivos mais do que suficientes para me gabar perante meus colegas. – sorriu extasiado.
Fiquei sem graça e corei.
- Então, vamos? – ele deu o braço para que eu o acompanhasse.
- Claro.
Depois seguimos até a festa. Era um lugar muito bonito, no clube mais rico da cidade.
Cumprimentei todos os amigos de meu pai, e depois me juntei a Harry, Cedrico e Hermione.
Bebíamos champanhe.
- Ei, Harry! Toma cuidado com isso aí, hein? Não vai beber muito que eu preciso dormir! – brinquei.
Estava me divertindo. Só dava risada com as besteiras de Cedrico. Mas, ao olhar para o lado, uma surpresa. Quatro pessoas me fitavam. Dois adultos e dois jovens. Era a família MALFOY. Narcisa e Lúcio traziam desprezo no olhar. Ao lado de Lúcio estava parado Draco Malfoy, que deu uma risadinha ao me ver. Mas quem seria a garota ao lado de Malfoy? Era quem eu menos esperava. Melanie Addam. Mas o que todos eles faziam aqui?
Meus pensamentos foram interrompidos por um colega de meu pai.
- Melissa, por favor, vamos começar com a dança no centro do salão, queira, por favor, se dirigir para lá?
- Certamente, senhor.
Aquele era o cara mais mesquinho e insuportável que eu já vira. Chamei Cedrico e juntos, com Harry e Hermione, seguimos para o centro. Uma música lenta. Abracei Cedrico, minha cabeça encostada em seu ombro. Dei uma espiadinha em Harry. Não me agüentei e ri. Hermione parecia constrangida em ter que abraçar Harry. Levantei minha cabeça, até a altura do ouvido de Cedrico.
- Melanie Addam está aqui. – sussurrei.
- O quê? – perguntou Cedrico. Ele fez menção de parar a dança, mas eu insisti para que continuasse.
- Melanie está junto com os Malfoy aqui! Fica atento porque coisa boa não há de ser!
- O.k.
Continuamos dançando normalmente.
- Se divertindo? – perguntou Cedrico ao meu ouvido.
- Certamente.
- Como estou me portando?
Sorri.
- Não podia estar melhor, pois todos os olhares estão focados em nós e em mais ninguém. Ou talvez seja só em você, porque várias damas não parecem tão felizes em saber que você está acompanhado.
Ele fez menção em se gabar, mas eu não estava prestando atenção.
Já era a quinta ou sexta música quando Malfoy fez um sinal para mim. Estava dançando com Melanie. Apontou para a varinha que estava guardada em suas vestes. Em sinal de ameaça. Não tinha medo. A família Malfoy era cruel. Não tinha piedade de ninguém, e Lúcio Malfoy era um Comensal da Morte. Um calafrio percorreu minha espinha. Todos dançavam no centro do salão. Draco tirou a varinha das vestes e apontou para um copo, em uma mesa próxima. Era proibido fazer magia fora da escola, ainda mais na frente de trouxas. Ninguém havia percebido isso além de mim e Cedrico. O copo começara a flutuar. Cedrico avisou Harry, que em seguida avisou Hermione. Não sei por que, mas alguma coisa naquela noite havia me dito para trazer a varinha. Escondi-a no bolso do paletó de Cedrico. Puxei lentamente a varinha deste, Cedrico sussurrou no meu ouvido:
- Cuidado com isso...
- Preciso controlar esse garoto! Ele não tem limites! – sussurrei baixinho – Não se preocupe, não vou fazer nada, apenas vou manter a varinha em mãos!
Nesse momento meus olhos se encontraram com os de Melanie. Tinha ódio ali. Malfoy ameaçou erguer o copo mais alto e deixá-lo cair no chão. Mantinha a minha respiração controlada. Draco soltou o copo, e este foi direto para o chão. Apontei a varinha e impedi que quebrasse. Malfoy não estava de brincadeira. Mexeu no teto do clube, fazendo estremecer, pronto para desabar sobre as pessoas presentes. Tentei segurar o máximo que podia. Mas desta vez quem impediu foi Lúcio Malfoy. Colocou o teto no lugar e deu uma bronca em Draco.
Os dois permaneceram ali, parados. Na saída do baile, Melanie me puxou pelo braço.
- Toma muito cuidado comigo! – me ameaçou, em seguida foi embora, junto com Draco e o resto dos Malfoy.
Quando chegamos a casa, contei tudo a Harry e Hermione. Os dois ficaram em choque. As perguntas de todos eram as mesmas. Por que Malfoy estava na festa? O que eles estavam fazendo ali? E porque Draco estava me provocando?
Fui dormir exausta aquele dia. Não havia esquecido o acontecimento da noite anterior. No dia seguinte, de manhã, aproveitei que Cedrico estava acordado e o chamei.
- Vem comigo! – puxei-o para o corredor.
Caminhamos pelo corredor vazio do segundo andar. Entrei no meu quarto e puxei-o para dentro, fechando a porta em seguida. Atravessamos o quarto e antes de chegar ao banheiro, parei, virada para a parede. Cedrico parecia confuso e estava prestes a perguntar alguma coisa quando pressionei a parede. Com um estampido uma porta falsa se abriu e sorri de volta para ele. Puxei-o escuridão abaixo.
Descemos uma escada e tudo não passava de penumbra. Percebei minha mão gelada tocando a de Cedrico. Continuamos andando e logo nossas mãos se perderam.
- Mel? Cadê você? – perguntou friamente.
Logo as luzes se acenderam e olhei sorridente para ele. Cedrico fitou o aposento parecendo relativamente surpreso.
- O que é isso? – perguntou.
- Isso é meu maior segredo.
Peguei-o pela mão e levei-o até alguma coisa no centro que parecia coberta por um pano cor âmbar.
Toquei o pano e este deslizou, mostrando um enorme piano preto lustrado.
Ficamos assim em silêncio. As lembranças iam e vinham, sem que ninguém as procurasse.
- Sabe o que fazer com este segredo não é? – perguntei.
- Sei... Mas o que exatamente é esta sala?
- É... Ou melhor, era aonde eu vinha para pensar. Para tocar. Escrever. Coisas para serem feitas sozinhas...
Ele deu uma olhada na sala. Escrivaninhas, livros, pergaminhos, penas, tudo na mais perfeita ordem. Abaixei-me para pegar o pano e cobri o piano, Cedrico segurou minha mão.
- Toca para mim? – pediu.
- Eu... Não...
- Por favor.
Sorri, derrotada. Fui até um canto e puxei uma cadeira para ele. Coloquei-a de frente para o piano.
Meus dedos imediatamente ganharam vida e deslizaram pelas teclas, maravilhados com o êxtase do tempo perdido.
Não dissemos uma palavra sobre isso. À tarde, voltamos para a sala, e depois levei Harry, Cedrico e Hermione até o aeroporto. Despedi-me dos três. Ainda tinha uma viagem a fazer. Só que desta vez era para a Alemanha e estaria sozinha.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.