A reconquista da magia antiga



Eles correram para impedir a realização do ritual. Voldemort já se posicionava diante do Portal do Véu e se preparava para abrir uma caixa, quando Harry gritou:
_ Você não vai conseguir!
Ele se virou com uma expressão mista de incomodo e diversão.
_ Oras, se não é o jovem “garoto que sobreviveu”! O que o faz pensar que eu não vou conseguir?
_ Nós vamos lhe impedir – falou Mione se aproximando de Harry.
Voldemort deu uma sonora gargalhada. Olhou para os seis jovens bruxos, lhes deu as costas e abriu a caixa.
_ Estupore! – berrou Mione.
Um jato de luz amarela atingiu Voldemort na nuca e o fez cair de cara na caixa que ia abrir.
_ Sua menina insolente – berrou Belatriz – como ousa ataca-lo pelas costas?
A tia de Draco apontou sua varinha para Mione e gritou o mais alto que pode:
_ Cruccios!
Hermione já conhecia bem aquela dor. Umbridge a atacara na Floresta quando seqüestrou Rony e ela. A jovem ainda fez força para demonstrar o mínimo possível de dor.
Neville puxou sua varinha, apontou para Lestrange e a estuporou com tanta força que a bruxa foi jogada para trás.
_ Não vou deixar que ela faça com mais ninguém o que fez com os meus pais – disse enquanto se preparava para atacar Lestrange mais uma vez.
O barulho da luta atraiu a atenção dos demais e logo muitos comensais apareceram para proteger o Lorde das Trevas.
Era uma batalha difícil. Luna se revelava uma grande duelista. Seus feitiços eram executados silenciosamente e produziam os efeitos mais bizarros. O que ela mais gostava de fazer eram transfigurações. Deixava bruxos com cabeça de doninhas, patas de cavalo no lugar dos braços e caudas de peixes no lugar das pernas. Eram tantos animais misturados que cada bruxo atingido demoraria horas para se livrar do feitiço.
Neville também lutava com afinco. Espantou seis dementadores de uma vez com um patrono corpóreo perfeito. Seus movimentos davam a todos a impressão de que havia recuperado a auto-confiança junto com os pais.
Rony também lutava, não tão bem quanto os amigos ou a irmã, Gina. Ele nunca fora muito bom em feitiços ou duelos, mas não desistia. Lançava para todos os lados os feitiços que passavam pela sua cabeça, de modo que os adversários não conseguiam adivinhar o que ele ia fazer em seguida.
Gina travava uma luta particularmente fácil com um comensal magrelo. Ele mal conseguia se levantar e já era derrubado novamente. O duelo só terminou quando a garota se cansou e deixou o comensal amarrado com um suplicius, do jeito que Mione lhe ensinara dias antes.
Mione também lançava todos os feitiços que conhecia. Usou ápicus, solaris e tudo o que aprendeu naqueles últimos dias e em todos os outros que estudou em Hogwarts. Era sem dúvida, uma das mais brilhantes bruxas naquele local.
Voldemort já havia se recuperado do golpe levado na nuca e retirava um objeto da caixa. Um anel que Harry logo identificou como sendo uma das jóias de Andriax. Em seguida, retirou a varinha que Harry também reconheceu. Voldemort tinha duas das jóias de sua família.
Ele começou a traçar um desenho no chão em volta do Portal do Véu, enquanto pronunciava um encantamento. O Portal começou a brilhar, o véu se agitou e um feixe de luz, vindo de algum lugar do céu, desceu sobre o Portal.
_ Agora – disse Voldemort, os olhos faiscando de ambição – só mais uma peça e eu conquistarei os segredos da Magia Antiga e de todos os bruxos sacrificados nesse portal.
O coração de Harry disparou. Precisava fazer alguma coisa, mas não sabia exatamente o quê. Então, o próprio Voldemort lhe deu a dica que precisava.
_ Bela – chamou o Lorde das Trevas – dê-me o colar agora. Está na hora.
A comensal começou a suar frio. Como iria dizer para o Lorde das Trevas, o grande e temido Lord Voldemort, que não tinha o colar.
_ Não está com ela – falou Harry, tentando aparentar uma calma que não sentia.
O rosto de Belatriz Lestrange perdeu a cor. Voldemort olhou lívido para harry.
_ Que blefe mais ridículo, Potter. Esperava mais de você. – e virando-se para a bruxa ordenou – ande Bela, entregue-me o colar imediatamente!
Mas ela não se movia. Estava petrificada de pavor.
_ Já disse, Belatriz nunca teve uma Andriax, Voldemort! – falou Harry.
_ Como assim? A família dela é nobre. Só ela poderia ter uma Andriax. – respondeu transpirando raiva e frustração por todos os poros.
_ Ah não – falou Harry controlando a ansiedade – a família dela, assim como a sua, sempre pertenceram à escória do mundo bruxo. Sabe, uma mentira bem contada!
_ Cale-se, Potter – berrou Belatriz acertando o rapaz com um cruccios bem no peito.
Ele caiu de costas no chão e gritou. Mione ouviu o berro de Harry e correu para ajudá-lo.
Voldemort olhava de Harry para Belatriz e depois mirava o Portal do Véu.
Mione chegou e quando viu que fora Belatriz a autora do disparo contra o amigo, tomou o duelo para si e começou a medir forças com uma das mais fiéis comensais da morte.
Harry ofegava, as mãos sobre o abdômen. Ajoelhou-se e respirou fundo. Assim que conseguiu se levantar uma cena o chocou imensamente. Belatriz estava fazendo com Mione o mesmo que fizera com Sirius.
Voldemort saíra da frente do Portal e vinha em direção a Harry. Enquanto isso Mione, envolvida pelo duelo, era encurralada sem perceber.
Harry prendeu a respiração e numa fração de segundos, aconteceu: Mione fora empurrada com um simples Estupore que não conseguiu bloquear.
_ Não!!! – berrou Harry, mas era tarde demais. Mione já havia caído através do véu e não aparecera do outro lado do Portal.
Ele se ajoelhou balançando a cabeça. Mas logo uma veste longa e preta parou a sua frente. Voldemort estava ali, ao alcance de suas mãos.
_ Não fique aborrecido, Potter. Assim que eu conseguir o colar, vou poder usar todas as habilidades de sua amiguinha também – disse debochado.
_ Cala a boca – respondeu Harry tentando atingir Voldemort com um feitiço.
Mas ele foi mais rápido e bloqueou Harry.
_ Agora me diga como sabe da Andriax?
Se Voldemort descobrisse – pensou Harry – que a Andriax lhe pertencia, ia acabar torturando-o até conseguir por as mãos na jóia. Então respondeu a primeira coisa que lhe veio à mente:
_ Rony me falou. Ele viu numa das profecias.
Vendo que Voldemort desconfiava de alguma coisa, ele completou:
_ Umbridge também sabia. Rony a avisou no dia em que ela o levou para a Floresta.
Voldemort virou-se furioso e berrou por Belatriz. A comensal correu para ele, mas tentava não olha-lo diretamente.
_ Você me enganou, Bela. Traiu minha confiança, meu afeto!
_ Não, meu senhor, eu não... eu juro que... – ela começou a engasgar, tossir e colocar a mão no pescoço.
Só então Harry percebeu que Voldemort apontava a varinha para ela.
_ Eu lhe disse uma vez que quem mente para mim não mente nunca mais, Bela. Norem!
O engasgo piorou. Agora ela segurava o pescoço com as duas mãos, a língua para fora e os olhos ficando cada vez mais arregalados. Aos poucos seu rosto foi ficando roxo e ela caiu, morta por asfixia.
_ Eu guardei algumas das minhas “criações” só para mim. – disse satisfeito – Agora vamos ver o seu amigo, para que ele me diga onde está realmente o colar.
Voldemort foi até onde Rony duelava e acenou para o comensal parar. O jovem bruxo ruivo suava. Sua respiração estava cansada. Se Voldemort não interferisse, ele seria derrotado rapidamente.
_ Venha comigo, rapaz – ordenou.
Rony nem chegou a questionar. Apenas acompanhou Harry e Voldemort. Eles caminharam um pouco e Voldemort indicou um lugar para que os dois ficassem.
_ Agora Rony, é esse o seu nome não é mesmo? Que tal me contar onde está o colar?
Rony não entendeu do que ele estava falando.
_ Ande rapaz, não me enrole. Você avisou Umbridge de que Belatriz não estava com o colar! Agora preciso que você me diga onde ele está!
_ Eu não sei! Eu só sabia que não estava com ela! As estrelas não disseram mais nada – respondeu apavorado.
_ Eu posso arrancar essa informação de você se eu quiser, rapaz.
Voldemort esticou o braço na altura do rosto de Rony e abriu a mão direita sobre a testa do rapaz. Depois fechou os dedos vagarosamente e começou a puxar uma espécie de fio invisível.
Mas tudo o que vinha da mente de Rony eram imagens inúteis, fragmentos de lembranças de menor importância. O primeiro beijo em Mione, o vôo na firebolt de Harry, o jogo de quadribol em que foi um excelente goleiro, Pitchi pulando feito louca.
_ Não é possível! Você está tentando me enganar! Eu sei que existe essa informação dentro de você. Posso sentir!
Mas nada fazia Rony soltar a informação que Voldemort queria. Irritado por não conseguir a informação, Voldemort fez Rony levitar quase um metro do chão e arremessou o rapaz longe, dizendo:
_ Você não me serve para mais nada!
Rony voou quase quatro metros, bateu a cabeça em uma das pedras do círculo e caiu imóvel. Um filete de sangue escorria de sua cabeça.
Harry assistia a tudo sem poder fazer nada, cada uma de suas investidas contra Voldemort era bloqueada antes que ele conseguisse pronunciar a segunda sílaba.
Voldemort não sabia mais o que fazer. Apenas mantinha Harry sob seu olhar. O jovem ainda tentou fugir e ver se Rony estava bem, mas foi petrificado e amarrado ao Portal do Véu com cordas mágicas. Voldemort tirou a varinha das vestes de Harry e diante do rapaz falou:
_ Só existe lugar para uma dessas aqui, Potter!
E partiu a varinha do garoto em duas.
A batalha continuava do lado de fora do círculo. Mas a preocupação maior de Voldemort era com o ritual feito pela metade.
Harry sentiu que a única coisa que poderia fazer era provocar Voldemort, deixá-lo bem irritado e quem sabe conseguir escapar daquelas cordas.
_ Você fez papel de bobo – riu-se Harry – passou por um velho bruxo ridículo que se deixa enganar por uma qualquer como Belatriz.
_ Cale-se, Potter!
_ Fico aqui tentando entender como foi que caiu nessa cilada? Sempre ouvi falar maravilhas a seu respeito, mas é tudo balela, não é mesmo?
_ E já mandei você se calar!
_ Por que quer que eu me cale? A verdade lhe incomoda, T-O-M? – Harry frisou bem o nome verdadeiro de Voldemort.
Aquilo foi demais. O Lorde das Trevas puxou sua varinha, apontou para Harry, mas antes que ele pudesse atacar, uma voz feminina gritou expelliarmus e ela voou longe.
Atrás de Voldemort, Gina empunhava a sua varinha e olhava desafiadora para ele. Com mais um movimento, ela desfez as cordas que prendiam Harry.
Antes de se soltar por completo, Harry ouviu Voldemort dizer:
_ Accio varinha!
Ele usara a Varinha de Andriax para recuperar a própria varinha. Agora armado novamente, ele apontava para Gina. A jovem estava distraída, vendo Harry se soltar.
Quando ele conseguiu sair, ouviu Voldemort dizendo:
_ Olhe para mim, querida! Uma bruxa talentosa como você... Uma pena, realmente uma pena! Mas me deixe ter o prazer de olhar seus olhos enquanto a vida deixa seu corpo.
Um jato verde, que Harry conhecia como ninguém, desprendeu-se da varinha de Voldemort e atingiu Gina, bem no peito.
Uma luz muito forte brilhou no Portal do Véu, o chão estremeceu. Harry gritava desesperado enquanto via Gina cair, quase em câmera lenta, a alguns centímetros de onde estivera antes.
Tudo parou. Só Harry e Voldemort se mexiam. Bruxos, lobisomens, elfos e todas as criaturas que ali estavam, sem exceção, pararam e esperaram. O que significava aquela explosão?
Eles não conseguiam enxergar dentro do círculo de pedra, a luz, que saíra do Portal do Véu, formara uma parede luminosa em volta de todo o Altar.
Dentro do círculo, Harry estava ajoelhado ao lado de Gina, chorando enquanto segurava a cabeça dela no colo.
_ Bem, – ele escutou Voldemort dizer – acho que não vou realmente precisar do colar.
_ Seu, seu maldito! Você destruiu a vida dos meus amigos por causa desse colar! E agora age como se tudo isso fosse uma brincadeira? – falou Harry mais amargurado que nunca.
Voldemort sorriu.
_ É, exatamente isso! Não preciso mais do colar, Potter. Para falar a verdade, nunca precisei. Sou praticamente imortal. Mais cedo ou mais tarde encontro um meio de me tornar imortal para valer.
Harry explodiu. Agora não adiantava guardar mais segredo. Sozinho ele nunca conseguiria destruir as horcruxes.
_ Eu sei o que você fez. E sei que não está tão forte como diz estar. Sua cobra de estimação foi morta, não é mesmo?
O bruxo olhou nos olhos do menino.
_ Eu cuidei disso pessoalmente. E como você deve se lembrar fui eu quem destruiu o seu precioso diário, não é mesmo? E já sei sobre as outras horcruxes. É uma questão de tempo para você voltar a ser mortal e eu poder lhe destruir.
Voldemort não se mostrou surpreso. Muito pelo contrário. Havia satisfação em seu rosto. Foi deliciado que ele respondeu:
_ Potter, nós somos muito parecidos, você não acha?
_ Eu não sou nada parecido com você! – respondeu irritado.
_ É sim! Agora mesmo! Essa sua vontade de fazer a diferença, de aparecer como Snape sempre me disse... E hoje, essa raiva, esse ódio, o tornam ainda mais parecido comigo. Fiz bem em marcar você como meu igual.
_ Então – respondeu Harry desafiante – deve saber que é o seu igual o único capaz de lhe destruir.
Voldemort riu mais uma vez. Não era essa a reação que Harry esperava. Imaginava vê-lo com raiva ou medo quando soubesse que suas horcruxes não eram mais segredo. No entanto ele parecia bem animado, quase feliz.
_ Hogwarts nunca ensina direito seus alunos – comentou Voldemort, num tom reflexivo, que deixou Harry ainda mais irritado – Sabe, Potter, existe um detalhe sobre as profecias que, pelo visto, você não aprendeu. Elas podem não acontecer.
A última frase foi dita num sussurro audível, como se ele fingisse contar um segredo.
_ Eu não preciso saber toda a profecia para entender do que ela trata. Quando Snape me contou o que tinha ouvido, eu tomei as minhas providências. Sabia que você poderia me destruir. Mas eu não ia deixar isso acontecer.
_ Mas aconteceu! Eu destruí você aquela noite!
_ Seu tolo! – berrou Voldemort – Você acha que um bebê cheirando a leite azedo ia ser capaz de destruir o bruxo mais temido de todos os tempos?
Harry balançava a cabeça sem entender. Aquela era a história que todos conheciam e espalhavam. Até Voldemort confirmara isso, no encontro que tiveram no cemitério, três anos antes. O que ele dizia agora não fazia sentido.
_ Vejo que ainda não entendeu, Potter! Mas não se preocupe, eu faço questão de explicar. Quando soube que você poderia me destruir, eu estudei. Estudei muito tudo o que existia sobre magia negra. Eu já conhecia as horcruxes. Já tinha garantido as minhas seis preciosidades: meu diário, minha varinha, ao medalhão e o anel da minha nobre família, minha querida Nagini e, é claro, o quadro da família Riddle. Aliás, este foi o primeiro. Fiz no dia que assassinei toda minha família trouxa.
Harry respirou fundo. Estava ali desarmado, preso por paredes de luzes, todos os amigos mortos ou feridos. Ele não tinha mais pelo quê lutar.
_ Mas quando você nasceu... Eu percebi que aquelas seis horcruxes eram pouco. Você prometia grandes feitos. E eu descobri um jeito mais eficaz. Descobri a possibilidade de fazer um horcruxe arcádio.
Harry se lembrou da conversa com os amigos no Largo Grimmauld, quando falavam sobre esse assunto.
_ Seria o único jeito de você não realizar a profecia, Potter.
_ Mas de qualquer maneira, eu fiz você enfraquecer. Com a ajuda da minha mãe.
_ Não seja patético! Aquilo tudo fui eu quem fez. Sua mãe se sacrificou por você. Muito bonito! Mas não ia adiantar nada. Eu não queria te matar, Potter. Eu nunca quis!
_ Mentiroso!
_ Não estou mentindo. Estou falando a mais pura verdade! Se você seria o único capaz de me destruir, eu poderia mudar essa situação, colocando em você a única coisa capaz de me manter vivo: uma das minhas horcruxes.
Harry sentiu seu estômago revirar. Era loucura demais! Ele não poderia ser uma horcruxe.
_ Assustado com a possibilidade, Potter? Mas foi isso que eu fiz. Fiz de você o meu horcruxe arcádio. Sabia que você seria super protegido. Que Dumbledore não deixaria nada de mal acontecer a você.
_ Mas e todos esses anos, todos os ataques, no cemitério você tentou...
_ Ah, uma mentira, para ser bem contata precisa ser bem encenada. Enquanto houvesse rumores que eu tentaria acabar com você, a sua segurança estaria impecável.
_ Não pode ser... Isso não pode...
_ Você tem aí dentro uma parte de mim, Harry. Por isso digo que somos muito parecidos.
Harry sentiu a cabeça girar, as pernas começaram a tremer e ele se ajoelhou novamente. Agarrou os cabelos com as mãos e começou a chorar.
As luzes em volta do círculo começaram a girar, provocando reflexos coloridos. Harry e Voldemort se sentiram atraídos pelas cores e começaram a observá-las. Entre as pedras, as luzes formavam desenhos, reprisavam episódios da vida de cada um.
Os dois ouviram um novo estrondo e tudo fez sentido na cabeça de Harry. Ele se levantou e encarou Voldemort de frente. Se fosse preciso morrer, ele o faria. Mas jamais deixaria Voldemort dominar o mundo. Seus amigos não aproveitariam os tempos de paz, mas lá fora havia muita gente que dependia dele.
_ Eu sou capaz de me matar, Tom, se eu souber que isso vai acabar com você.
Havia tanta determinação na voz do rapaz, que Voldemort olhou-o intrigado.
_ O que é isso, Potter? Não seja infantil. Você está completamente desarmado. Não tem como se matar. Pelo menos por enquanto! – disse zombeteiro.
O círculo de luz começou a rodar cada vez mais rápido. Ia aumentando a intensidade da luz, a altura da parede, até que ela se tocou no alto, formando uma tenda de luz que desabou sobre Harry.
O jovem não caiu. Ficou de pé, sentindo toda aquela luz invadir seu corpo. Voldemort, pela primeira vez aquela noite sentiu medo.
Quando a luz se dissipou, Harry abriu os olhos. Encarou Voldemort e disse:
_ O seu maior problema, Tom, é achar que sabe tudo o que precisa saber.
_ Do que está falando?
Neste momento, um bando de bruxos tentou entrar no círculo. Harry, sem ao menos virar na direção deles, fez um movimento rápido com a mão esquerda e uma névoa escura os cobriu, impedindo-os de enxergar qualquer coisa.
_ O que está acontecendo, Potter?
_ Eu não sou seu igual. Nunca fui.
_ Você tem todos os meus dons, Harry. Você fala com cobras como eu, você conseguia cavalgar a mente de Nagini. Aceite, será bem mais fácil!
_ Aceite você, Tom. Eu não tenho os seus dons. Eu APRENDI os seus dons. Minha mãe me ensinou antes de morrer. Ela vasculhou todos os segredos da sua alma. E passou para mim, ela me deu as armas para enfrentar você.
_ Você está delirando, Potter. Acho bom acabar com isso logo! Estu...
Ele foi impedido antes de terminar o feitiço. Mas não fazia sentido, não havia ninguém armado para lhe impedir.
_ Surpreso, Tom? Eu posso fazer outras coisas! – falou Harry, com a voz levemente alterada.
Voldemort foi magicamente suspenso no ar. Os braços e pés afastados, fazendo seu corpo assumir o formato de um X. Sua varinha foi jogada ao chão. Harry apenas lançou-lhe um olhar e ela se estraçalhou por completo, sobrando apenas lasquinhas de madeira.
O bruxo, ali preso, não entendia nada do que estava acontecendo. Como Harry fazia aquelas coisas acontecerem?
_ Vejo que você está com medo, Tom. Até hoje pensei que só tivesse medo de Dumbledore. Mas fico feliz que tenha medo de mim.
_ Não adianta, Potter. Mesmo que tente me destruir agora, enquanto você viver, eu terei a chance de voltar. Você carrega um pedaço de mim.
Voldemort sentiu sua pele se cortar em vários pontos. Cortes pequenos e doloridos.
_ Não me interrompa enquanto eu estiver falando de Dumbledore. Sabe, Tom, ele me ensinou muitas coisas. E acho que para ele, a mais importante, a que eu deveria aprender é que você nunca pôde me tocar.
Voldemort não entendia nada. Via Harry falando e olhando para o alto enquanto puxava um cordão de couro de baixo da armadura.
_ Você enlouqueceu, Potter!
_ Não, eu não enlouqueci. Pelo contrário. Agora sei o que aconteceu de verdade. Preste atenção, Tom, porque eu só vou falar uma vez antes de acabar com você. Minha mãe vasculhou sua alma, me ensinou tudo o que eu precisava saber para me defender de você e depois me cercou com o amor mais forte que pode haver.
“Um amor que você nunca conheceu e por isso tem o coração murcho. Um amor de mãe. Nisso nós somos muito diferentes, Tom. Minha mãe morreu por mim. Enquanto a sua achou que não valia a pena viver por você.”
As palavras de Harry provocaram um acesso de fúria em Voldemort. Mas ele não conseguia se mexer. Tentava lançar alguns feitiços que não precisavam de varinha, mas era prontamente impedido.
_ Então você quis fazer de mim o seu horcruxe arcádio. Tolo! Nunca conseguiu encostar um dedo na minha pele. Como acha, então, que eu poderia carregar em mim uma parte da sua alma imunda? O encantamento que minha mãe fez, não permitiu que sua alma se aninhasse dentro de mim, Tom. Ela simplesmente ricocheteou, me deu uma cicatriz que hoje eu acho um charme e foi parar em outro lugar.
Os olhos de Voldemort brilhavam de raiva, ódio, medo, angústia, confusão. Aquilo não era verdade, era apenas um blefe mal-feito.
_ Não acredita em mim? Eu vou lhe provar! Mas antes, mais uma coisinha, você sabia que seu eu destruir o horcruxe arcádio diante de seu dono, ele morre? Não sabia? Ah, então agora já sabe!
Harry pegou a varinha de Andriax, apontou para o pingente de claraluzia e lançou um feitiço que, até então, lhe era totalmente desconhecido:
_ Aletus alminus arcadium!
Uma luz suave, branca, penetrou na pedra. No mesmo instante, o corpo de Voldemort, ainda suspenso no ar, começou a se agitar e a brilhar. A luz entrava pela pedra do colar e saiu pela pele de Tom Marvolo Riddle.
Ele tentava se contorcer tamanha era sua dor. Os bruxos que estavam do lado de fora viam a luz intensa e ouviam os berros de dor apavorados, sem saber de onde surgiam e quem estaria sendo tão brutalmente torturado. Os comensais, presos na névoa escura conjurada por Harry, sentiam suas marcas arderem e, intimamente, sabiam que seu senhor estava perdendo.
A luz fazia as carnes de Voldemort queimarem, aos poucos ele foi deixando de gritar e seu corpo se desfez numa explosão de luzes. Luzes que desenharam um cervo enorme, pisoteando uma cobra, como no brasão de sua família.
A imagem sumiu, Harry caiu cansado e se arrastou para perto do corpo de Gina. Abraçou a menina e ficou ali, enquanto seus outros companheiros se aproximavam.
_ Harry – chamou Neville – ele, ele se foi?
O rapaz apenas afirmou com um aceno de cabeça e desatou a chorar. Logo estava cercado por muitos bruxos, inclusive pelo Sr° Weasley, que desatou a chorar assim que viu o que tinha acontecido com Gina.
Ada chegou correndo junto com Draco. Ela abraçou o primo e só então Harry conseguiu falar:
_ Onde está o Rony? Achem o rony. Ele o jogou na pedra. Ele bateu a cabeça! Achem...
_ Calma, Potter – pediu Draco – Rony já foi socorrido. Está inconsciente, mas vai ficar bem. A pancada foi forte, fizeram um curativo. Mas não conseguimos encontrar a Granger.
Harry olhou para Ada, depois para Draco e finalmente para o Portal do Véu, que continuava a brilhar de forma esquisita.
_ Ela caiu? – perguntou Ada.
Mais uma vez ele afirmou com a cabeça.
_ Ada, não funcionou. A Gina, eu... Você sabe, a gente fez o eterniuns...
_ Eu sei, Harry. Mas não sei dizer o que deu errado. Sinto muito!
As criaturas não paravam de chegar, fazendo perguntas, falando alto, agitadas com o acontecimento.
_ Tire-os daqui – pediu Harry.
Ada se levantou e nem precisou pedir duas vezes. Usou seu velho truque do olhar e todos se retiraram.
Harry abraçou o corpo de Gina mais uma vez e nada o faria sair dali tão cedo.
_ Harry – chamou uma voz fraca.
Ele olhou para cima, procurando quem o havia chamado. Mas todos estavam calados, olhando para ele com cara de espanto.
Então ele sentiu uma mão puxar seu queixo para baixo e seu coração disparou de alegria. Gina estava viva! Ali, deitada em seu colo.
Ele a abraçou com força e só a largou quando Neville fez a pergunta que todos queriam fazer.
_ Como você sobreviveu, Gina? Eu vi você ser atingida pelo Avada.
A jovem pôs a mão dentro da gola da blusa e tirou um colar de lá.
_ Contei com a ajuda de um presente!
O feitiço atingira o peito da garota na altura em que o pingente do Colar de Andriax ficava. Ele amorteceu o choque, mas a fada de dentro do pingente parecia muito fraca.
_ Você estava com o colar? – perguntou Harry, atônito.
_ Desculpe – pediu ela – mas não tive coragem de deixá-lo sozinho naquela casa. Quando ofereci para escondê-lo para você acabei guardando comigo e usando hoje para dar sorte.
_ Que bom que funcionou! – comentou Luna, que parecia que tinha acabado de sair de uma colônia de férias – Mas onde está a Mione?
A alegria durou pouco. Mione não tinha como ser salva pelo colar. Agora ela teria o mesmo destino incerto de Sirius. Harry imaginou como Rony ficaria quando soubesse.
_ Acho melhor voltarmos para Hogwarts, Harry – sugeriu o Sr° Weasley – Muitos bruxos aqui necessitam de cuidados imediatos.
Eles saíram do círculo de pedras e iam em direção ao resto dos membros da Ordem, quando ouviram um guincho atrás deles.
Rabicho estava transtornado. Empurrava todos que via pela frente, procurava uma varinha. Finalmente achou uma junto ao corpo de um bruxo, pegou-a e apontou para o grupo formado por Harry, Gina, Neville, Luna, Draco, Ada e Arthur Weasley.
_ Vocês o destruíram! Destruíram o meu senhor! Mas isso não vai ficar assim. Vocês terão o mesmo destino daqueles 12 trouxas que eu matei há 16 anos.
Todos foram pegos de surpresa. Não havia como reagir. Rabicho começou a pronunciar alguma coisa, mas uma forte patada quebrou-lhe o braço no meio.
Magoriano investiu feio contra Rabicho. Logo os outros centauros também vieram para cima do animago, que nem teve tempo de se transformar em rato. As patas de um centauro são armas letais. E com Rabicho, não foi diferente.
Eles se preparavam para aparatar quando Ada lembrou:
_ Esperem, nós não podemos deixar o Portal do Véu ali, no meio de um monumento que é visitado por turistas trouxas.
_ Verdade – disse Gina – precisamos tirá-lo de lá.
A pequena comitiva voltou para o círculo de pedras e começou a estudar uma maneira de retirar o Portal dali. A maioria dos bruxos e das outras criaturas já havia voltado para o castelo. Eles ficaram em companhia apenas de Grope e Hagrid, que apesar de bem ferido, continuava de pé e forte.
Depois de inúmeras sugestões, o silêncio reinou entre eles. Sentaram-se desanimados, encostados uns nos outros ou nas outras pedras do círculo. Já passava das duas da manhã quando Draco notou alguma coisa.
_ Ei, Harry, olhe ali – chamou baixinho apontando para o Portal.
O véu esvoaçava de dentro para fora, como se houvesse vento do outro lado. Harry olhou atento imaginou ter visto um vulto grande parado ali, do outro lado do Portal.
_ Você viu? – perguntou Malfoy, confirmando a suspeita de Harry.
_ Vi, acho melhor ficarmos em silêncio. A capa ainda está aí com você?
_ Está, aqui na parte de dentro da armadura. Tome!
Harry se cobriu com a capa e se aproximou o mais silenciosamente possível do Portal.
Estava quase de frente a ele quando foi atropelado por três pessoas que ele não viu quem eram.
_ Parados – ele ouviu o Sr° Weasley dizer enquanto tirava a varinha – quem são vocês e de onde vieram?
O bruxo do meio, que vestia uma roupa antiga, feita de linho cru, retirou a capa que usava. Era um homem moreno, de cabelos longos, olhos pretos e barba bem feita, exibindo um impecável cavanhaque.
_ Sirius! – berrou Harry saindo debaixo da capa e pulando para abraçar o padrinho.
_ Harry, que saudades! Eu ouvi tudo de lá! Você foi incrível!
_ Esperem aí, vocês dois! – berrou mais uma vez o Sr° Weasley – Sirius está morto há dois anos, caiu no portal das execuções. Você é uma fraude.
_ Fraude, Arthur? Quer me ver fazer uma coisa bem legal?
Ele puxou a varinha, deu um leve toque em si mesmo e se transformou no conhecido cachorrão preto. Começou a pular e tentar lamber a cara de Harry, corria atrás do próprio rabo e latia feliz para os bruxos ali.
_ Está bem, eu acredito que você é o Sirius. Mas quem são aqueles outros dois e como você conseguiu sair do portal?
Sirius apresentou os outros dois bruxos como sendo Markus e Monterrey, os dois viraram seus amigos quando ele atravessou o portal. A princípio ele vagou por um pântano escuro, mas conseguiu se transformar em cachorro e logo descobriu um caminho que o levou a um pequeno povoado todo habitado por bruxos e criaturas mágicas.
_ Aurillan – falaram Harry e Ada ao mesmo tempo.
_ Exatamente! Como sabem?
_ Eles são herdeiros do trono de Aurillan também – respondeu Monterrey.
_ Como sabem? – perguntou Harry espantado.
_ Apenas reconhecemos nossos parentes – respondeu Markus.
_ Mas eu vim aqui para trazer alguém de volta, só um instante.
Sirius entrou novamente no Portal e voltou de lá com Mione ainda inconsciente.
_ Ela está bem, mas levou o maior susto quando me viu e desmaiou de novo.
Ele colocou a garota deitada no chão.
_ Agora ele precisa decidir – falou Markus apontando para Harry.
_ Decidir o quê? – perguntaram todos ao mesmo tempo.
_ O destino do mundo mágico. A história é sempre essa. Quem derrota a força das trevas pode decidir pelo mundo mágico. Você pode trazer Aurillan de volta, ou mudar um pedaço de plano existencial. Está em suas mãos, meu jovem.
Era muita responsabilidade. Harry não saberia o que decidir.
_ Posso conversar com você por uns minutos, Sirius?
_ Pode, Harry, claro, mas a decisão é só sua.
_ Eu sei...
Eles se afastaram dos demais e cinco minutos depois retornaram.
_ Já tomei minha decisão, mas primeiro preciso de algumas respostas.
_ Então faça as perguntas – incentivou Monterrey.
_ Como eu fiz tudo aquilo? Que luz foi aquela que saiu do portal e impediu Voldemort de ter ajuda de seus comensais? E como, mesmo com a minha varinha quebrada, eu consegui prende-lo daquela maneira?
_ É uma resposta só para todas as suas perguntas, Harry – falou Markus – Quando ele ativou as três jóias, a magia do portal automaticamente foi acionada. E ela sempre esteve programada para beneficiar apenas o herdeiro do trono. Você recuperou a magia antiga presa no Portal. Agora ela é sua. Faça bom uso dela!
_ Por favor! – pediu Gina timidamente.
Todos se viraram para ela.
_ Diga, princesa – falou Monterrey demonstrando que também sabia sobre Harry e ela.
_ É a fada do colar. Ela parece estar morrendo. O colar amorteceu o feitiço que Voldemort lançou em mim.
Monterrey pegou o colar, mostrou a Markus e falou:
_ Ela só irá sobreviver se a levarmos para Aurillan. Mas você perderá o colar.
_ Não me importa – respondeu apressada – a dívida de gratidão que tenho com ela é mais valiosa que o colar e todas as jóias do mundo.
Os dois bruxos de Aurillan sorriram. Monterrey olhou para Harry e disse, referindo-se à Gina:
_ Fez uma bela escolha, meu príncipe. Mas agora preciso saber qual a sua decisão.
Harry respirou fundo e declarou qual era sua vontade. Markus e Monterrey concordaram com o rapaz. Com alguns gestos e palavras sussurrantes, eles transportaram o Portal do Véu para o local indicado pelo rapaz.
A comitiva iria para lá em seguida. Estavam saindo quando um novo barulho retardou-os novamente.
_ Parece que mais alguém ficou para trás – comentou o Sr° Weasley, preparado para atacar se fosse outro comensal desiludido.
Eles correram para o lugar do barulho e viram um homem caído, gemendo, com as vestes rasgadas e ensangüentadas.
_ Pai! Você está vivo! – falou Draco se jogando sobre o homem.
Lucius Malfoy estava deitado ali de qualquer jeito. Alguém o havia soltado e colocado ali.
_ Mas nós ouvimos Snape assassiná-lo! Não é possível! – falou Harry.
_ Acho melhor levá-lo daqui – sugeriu Neville – depois ele conta o que aconteceu.
Eles ajudaram Lucius a ficar de pé e um a um foram aparatando em Hogsmeade e de lá seguiram para o Castelo de Hogwarts.
Harry foi o último a deixar o Altar. Deu uma última olhada naquele que tinha sido o cenário de sua última batalha contra Voldemort e se preparava para aparatar quando viu um pergaminho, preso a um pequeno saco de veludo no chão. O pergaminho trazia o seguinte escrito: Aos cuidados de Harry James Potter.
Ele o pegou, guardou dentro da armadura e aparatou.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.