O posto médico



Lupin chegou acompanhado de Tonks cerca de meia hora depois que todos haviam se acomodado. Harry continuava a sua espera na sala de estar e, assim que viu o ex-professor passar pela porta, chamou apressado:
_ Ei, Lupin, será que você tem um tempinho pra mim?
_ Claro – respondeu Lupin, despedindo-se de Tonks com um beijo rápido – o que você quer, Harry?
_ Preciso conversar com você...
Antes que Harry pudesse continuar eles ouviram um grito. Tonks descia as escadas correndo para chamar Lupin.
_ Há comensais na casa, Lupin – disse fazendo sinal para que subissem e os atacassem.
_ Não, esperem! – chamou Harry – Era sobre isso que queria conversar com você Lupin. Lucius e Draco estão hospedados aqui.
Os dois aurores olharam Harry espantados.
_ Como hospedados, Harry? – indagou Tonks – Você se esqueceu que eles são comensais? Será que bateu a cabeça e perdeu a memória? Lucius já quis te ver morto e Draco, bem o rapaz quase matou Dumbledore.
_ Eu sei que ele quase matou Dumbledore, está bem? Ou você também se esqueceu que eu estava lá? Eu vi que Draco não iria fazer aquilo, ele não queria fazer!
Harry falava em voz alta. Lupin e Tonks apenas olhavam o garoto.
_ Eu estive com Lucius ontem, o dia inteiro, dentro do laboratório de Voldemort. Ele teve todas as chances de me matar, prender, entregar minha cabeça numa bandeja de prata para Tom, mas não fez isso. E agora ele está do nosso lado!
_ Como você pode ter tanta certeza, Harry? – perguntou calmamente Lupin.
_ Nós fizemos um Juramento Inquebrável. Eu o ajudaria com Draco e ele me ajudaria a derrotar Voldemort.
Aquelas palavras caíram como um balde de gelo nos corações da auror e do lobisomem. Harry estava determinado a derrotar o Lorde das Trevas.
_ Está bem, Harry. Se você confia, nós também confiamos – respondeu Tonks sentindo que aquela não era a melhor hora para travar uma discussão – Agora nos conte que houve com Draco.
Harry explicou que desde antes de voltar para Hogwarts sabia que Draco estava preso e sofrendo diversos tipos de tortura. Também contou que Voldemort manteve o garoto preso para tentar arrancar de Malfoy tudo o que ele possuía. E por fim, narrou a aventura no Ministério da Magia, onde conseguiram saber o exato local do cativeiro de Draco.
_ Assim, conseguimos marcar um encontro com Malfoy para trocar informações. Ele estava decidido a fazer qualquer coisa para salvar a vida do filho.
_ E como o rapaz está agora? – perguntou Tonks.
_ Ainda continua inconsciente. Mione disse que depois vai preparar uma poção revigorante para ele. Os ferimentos foram muito profundos.
_ Tonks – pediu Lupin – será que você pode nos deixar a sós por um instante?
_ Está bem, eu vou ver como estão Gina e Mione – disse a mulher e saiu da sala.
Lupin trancou a porta e sentou-se, como da outra vez, de frente para Harry.
_ Agora – disse – quero que me conte tudo. Tudo o que você viu lá dentro do laboratório e o local onde ele está escondido.
O rapaz contou todas as aventuras do dia para o ex-professor. Especialmente a parte em que avistou Fenrir. Falou da doença de Nagini e do que aconteceu quando atacaram o dementador-mestiço.
_ Isso é muito grave, Harry. Realizar experiências de mestiçagem ou de ampliações de poderes é extremamente perigoso! Ele não teve muito tempo para realizar essas experiências e muitos efeitos ainda não foram testados.
_ Mas tem algo ainda pior – disse Harry – eu achei o Florean.
_ Sério? E onde ele está?
_ Morto. Foi assassinado com um feitiço que chama Spinossa. Ele faz os ossos da pessoa se transformarem em espinhos e rasgarem a vítima de dentro para fora.
Harry chacoalhava a cabeça como para tentar apagar as imagens do velho sorveteiro gritando pouco antes de morrer.
_ Eles também estão criando novos feitiços?
O rapaz apenas assentiu com a cabeça.
_ Onde fica o laboratório? Ele precisa ser destruído imediatamente.
Harry ia responder, mas a porta da frente se abriu com um estrondo. Os dois correram para ver o que estava acontecendo.
O Sr° Weasley entrava empunhando sua varinha, fazendo dois corpos levitarem. Harry reconheceu os dois assim que entraram. Eram os aurores Alastor Moody e Quim Shackelbolt.
_ O que aconteceu? – perguntou Lupin, apressando-se em ajudar Arthur.
_ Um ataque ao Ministério. Finalmente Dolores assumiu de que lado está e atacou os aurores lá dentro. Outros funcionaram do Ministério tentaram intervir, mas também foram atacados. Haviam uns 7 comensais lá dentro. A maioria das vítimas foi levada para o St. Mungus.
_ E por que você os trouxe para cá? – perguntou Harry.
_ Porque fiquei com medo que os comensais invadissem o hospital para terminar o serviço. E como a casa é grande e você já tinha deixado a Ordem continuar aqui...
_ Sem problemas, vamos avisar o pessoal para preparar quartos para os novos doentes – disse Harry enquanto subia as escadas de dois em dois degraus.
Depois de acomodar Quim e Olho-Tonto, Harry desceu para a cozinha, procurando Gina e Hermione.
_ Precisamos preparar muitas poções de cura, Mione. E se todos da Ordem aprovarem a idéia que tive, bem, não vamos dar conta sem ajuda.
_ O que você quer dizer? – perguntou Mione.
_ Quero que a casa vire um refúgio de aurores. Quero buscar todos que ainda estiverem no hospital e tratar deles aqui – afirmou Harry.
_ Mas – interveio Gina – não temos experiência nenhuma. Cuidar de dois ou três feridos é uma coisa, mas de 20 é muito diferente.
_ Eu sei, por isso vou sair agora e buscar ajuda. Gina, você vem comigo?
A garota assentiu com a cabeça.
_ E eu? O que quer que eu faça? – perguntou Hermione.
_ É simples, se alguém perguntar diga que fomos buscar mantimentos, que os novos hóspedes precisam se alimentar bem e o que tem na despensa é pouco.
Mione concordou e logo Gina e Harry saíram escondidos, com suas vassouras. Já do lado de fora do esconderijo, Gina perguntou:
_ Onde é que nós vamos, de verdade?
_ Quem você conhece que pode cuidar de um doente melhor que todo mundo?
_ A Madame Pomfrey! Mas como vamos encontrá-la?
_ Ainda não sei, mas vamos atrás de outra pessoa primeiro. Alguém que conhece todas as plantas que podem nos ajudar a preparar remédios e antídotos.
Os dois se certificaram de não ter ninguém observando e levantaram vôo rumo à casa de Neville Longbottom. Chegaram em cerca de 40 minutos.
A casa de Neville ficava no alto de uma colina, quase na beirada do precipício. Era um antigo casarão colonial, com três andares. As paredes pintadas de verde musgo faziam a casa parecer muito séria e triste. Apenas as bromélias e begônias do jardim davam alguma vida aquele lugar.
Harry foi até o portão de madeira branca e procurou uma campainha. Não havia nada parecido e ele abriu o portão e foi até a porta da frente. Também não havia sinal de campainha e Harry bateu com o punho fechado na porta.
_ Ei, mais devagar – falou alguma coisa que Harry não viu.
O rapaz deu um passo atrás, assustado, procurando o que havia dito aquilo.
_ Não precisa se assustar, só não me bata novamente, está bem? Quem é você e com quem deseja falar?
Só então Harry percebeu que o som vinha da porta.
_ Sou Harry Potter e queria falar com Neville, Neville Longbotton – disse ainda inseguro.
_ Um instante, por favor!
Pouco depois a porta se abriu e a avó de Neville apareceu.
_ Sr° Potter, é um gosto revê-lo, mas o que faz aqui tão tarde? – perguntou polidamente a senhora.
_ Eu vim falar com Neville. Nós precisamos da ajuda dele em algo muito sério – respondeu Harry.
_ Entendo – disse com ar pensativo a avó do menino – deve ser mesmo muito importante para você escapar do cativeiro.
Harry empalideceu. Tinha esquecido que a notícia de seu suposto seqüestro tinha saído no Profeta Diário.
_ Agora se quiser me contar o que está havendo, eu terei o prazer em chamar Neville para você.
Em poucas palavras Harry explicou que precisava realizar um pedido de Dumbledore e saiu do castelo durante a festa. O que fez todo mundo pensar que ele havia sido seqüestrado e que para se manter seguro, ele não desmentiu.
A velha bruxa o observou de cima a baixo. Depois pareceu satisfeita com a explicação e chamou Neville. O rapaz apareceu já de pijama. Quando viu Harry fez cara de surpresa e correu para cumprimentar o amigo.
_ Harry, então você está bem? Todos ficaram preocupados...
_ Estou bem sim, Neville, obrigado! Mas hoje eu vim aqui para pedir a sua ajuda. Será que Gina e eu podemos entrar para conversar com vocês?
A avó de Harry fez sinal para que Gina entrasse e eles se acomodaram na sala de visitas. Ela chamou um elfo-doméstico e pediu biscoitos e chocolate quente para todos.
Quando tudo foi servido Harry começou a contar sobre o ataque dentro do Ministério e sobre a resolução de proteger os aurores.
_ É um belo gesto – disse a velha senhora – mas o que Neville tem com tudo isso?
_ Nós precisamos da ajuda dele – disse Gina – Neville é o melhor aluno em Herbologia e sabe todas as propriedades de todas as plantas mágicas ou não-mágicas.
A senhora esboçou um sorriso ao ouvir da capacidade do neto.
_ É sério, - afirmou Harry – sem a ajuda de Neville não vamos conseguir salvar a vida de Moody ou de Shackelbolt.
Neville mantinha a cabeça baixa. Parecia tenso. Por fim levantou-se do sofá e disse:
_ Só um instante, vou buscar minhas coisas, uma vassoura e vou com vocês.
A avó do garoto se levantou para dizer alguma coisa, mas ele a interrompeu:
_ Eu sei que nunca vou ser um auror como meus pais, vovó. Mas eu vou fazer o impossível para ajudar outros aurores. Quem sabe, um dia, eu não consiga curar meus pais? A senhora pode ficar decepcionada comigo, mas já sou um bruxo adulto e vou fazer o que acho certo.
A voz de Neville era decidida, mas suave. Não queria brigar com a avó, mas seus olhos brilhavam ante a possibilidade de fazer a diferença.
A velha senhora apenas abraçou o neto e disse:
_ Eu tenho orgulho de você, Neville. E quando eu contar aos seus pais o que você está fazendo, tenho certeza que também vão se orgulhar.
Neville arrumou as coisas e se despediu da avó. Antes de voarem de volta para o esconderijo Harry virou-se para a avó de Neville e perguntou:
_ A senhora sabe o endereço da Madame Pomfrey? Algumas fraturas precisam de feitiços e ela é a melhor que conhecemos.
_ Deixem comigo, eu a avisarei. Pedirei que ela procure por vocês.
_ É melhor pedir que ela procure o Sr° Weasley – disse Harry para não ter que revelar o local do esconderijo.
Eles voltaram para o Largo Grimmauld, mas compraram algumas coisas no caminho. A história da pouca quantidade de alimento era séria, além disso, precisavam fazer um estoque de ervas e plantas para Neville poder trabalhar.
Chegaram no Largo e Harry passou a Neville a informação necessária para achar a casa. Eles entraram e tudo parecia normal.
Mione continuava na cozinha e agora preparava uma sopa para a janta. Quando viu Gina falou:
_ Nem precisei inventar história nenhuma. Estão todos ocupados cuidando dos doentes.
Enquanto ela falava os dois rapazes entraram na cozinha e Mione exclamou:
_ Neville! Como chegou aqui?
_ Harry foi me buscar – respondeu enquanto guardava as compras em uma prateleira que Harry indicou – Vou ajudar a cuidar dos doentes.
_ Isso é excelente – disse Mione – você é realmente bom com plantas e ervas. E se não estiver cansado acho que já pode começar.
Harry e Gina olharam assustados para Hermione.
_ O que aconteceu, Mione – perguntou a jovem de cabelos vermelhos, imaginando que tivesse acontecido alguma coisa com seu irmão.
_ Fique tranqüila, Percy está bem. Rony veio aqui agora a pouco e me disse que ele recobrou a consciência. Assim que a sopa ficar pronta vou levar um pouco pra ele.
_ Então, o que houve? – perguntou Harry.
_ É o Draco – disse Mione – As feridas não querem fechar e ele continua perdendo sangue. O pai dele não se agüenta de tanto chorar. Fica andando de um lado para outro dizendo que a culpa foi dele por ter se aliado a Você-sabe-quem. Acho que se acontecer algo mais sério, Lucius enlouquece.
_ Draco está aqui? – perguntou Neville, com ar de incrédulo.
_ Depois eu te explico tudo com calma, Neville. Agora precisamos encontrar um meio de fazer o sangramento parar – respondeu Gina – Será que tem algum livro sobre...
_ O que provocou os ferimentos dele? – interrompeu Neville.
_ Um feitiço chamado Suplicius – falou Mione.
Neville começou a mexer nos pacotes que havia acabado de guardar. Tirou uns três tipos de plantas diferentes e falou:
_ É um feitiço antigo, muito forte, mas fácil de tratar. Eu posso fazer o combinado de ervas, só que vou precisar de um caldeirão e da ajuda de um de vocês.
Gina entregou um caldeirão ao rapaz que começou a colocar as ervas e amassá-las com uma grande colher de pau. Em seguida adicionou um pouco de óleo de castanheira azul e levou ao fogo. De dentro do caldeirão saía uma fumaça esbranquiçada, que desprendia um cheiro agradável.
Gina, Harry e Mione acompanhavam os movimentos de Neville imaginando o quanto aquele rapaz teria sido brilhante em Poções se não fosse o professor Snape.
A fumaça assumiu nova cor. Agora ficava laranja e saía do caldeirão em espirais. Neville sorriu e disse para os amigos:
_ Está quase pronta, quando a fumaça ficar azul é a vez de vocês. Preciso que alguém faça aparecer uma corda, no mesmo estilo da Suplicius, só que essa corda vai ser banhada nessas ervas antes de enrolar o corpo do Draco.
_ Eu faço isso – disse Mione – fui eu quem desamarrou ele. Sei exatamente onde as cordas passaram.
Neville deu uma última olhada no caldeirão que estava envolto em uma fumaça azulada e disse:
_ Então me mostre em que quarto Draco está. Precisamos fazer isso com a poção ainda quente.
Eles subiram e chegaram ao quarto onde Draco estava. Lucius chorava ajoelhado ao lado da cama e por um instante Harry pensou que o pior tinha acontecido. No entanto, o peito do jovem bruxo se mexia, o que significava que ele ainda respirava.
_ Lucius – chamou Gina – Nós viemos trazer um remédio para Draco.
O homem olhou para Gina e se levantou. Parecia um zumbi, sem vida. Sua pele conseguiu ficar ainda mais pálida e seus cabelos perderam o brilho. Ele sentou na outra cama e fez um gesto para que todos entrassem.
Neville não se intimidou. Na verdade, ao ver a situação em que o Sr° Malfoy, tão arrogante e presunçoso, se encontrava, teve mais forças. Entrou no quarto e colocou o caldeirão quente na mesa de cabeceira.
Chamou Hermione e pediu que ela fizesse a corda. Quando Malfoy viu a corda saindo da varinha, entrou em desespero:
_ O que é isso? – gritava – Vão amarrá-lo de novo? Vão matar meu filho? Por quê? Por quê? Será que não tem outro jeito?
Harry abraçou Lucius e o tirou da sala. Já no corredor pediu que se acalmasse.
_ É só uma corda parecida, para levar o remédio ao lugar certo, Lucius. Eu jurei que iria ajudar a salvar Draco, não jurei? Então é isso que eu vou fazer. É isso que estamos fazendo. Agora, por favor, acalme-se. Há outros doentes na casa.
A voz de Harry impunha autoridade e Malfoy, do jeito que estava, só conseguiu obedecer.
Voltou para o quarto e ficou observando a corda sair quente, azulada e cheia de ervas do caldeirão e enrolar o corpo mole de Draco. Quando finalmente ela alcançou todos os pontos em que a corda do Suplicius esteve, começou a mudar de cor.
Ficou roxa, depois vermelha e finalmente atingiu um tom de bege, muito semelhante á pele humana.
Neville suspirou aliviado. Fez sinal para que Mione tirasse a corda e falou para Lucius:
_ Pronto, as feridas vão fechar. Você só vai precisar passar o resto da poção que está no caldeirão duas vezes por dia nas feridas maiores. As pequenas estarão boas em duas horas.
Lucius agradeceu e foi cuidar do filho que agora parecia dormir. Era um alívio ver que já não tinha sangue escorrendo das feridas e logo Draco poderia dormir em uma cama limpa.
Neville desceu as escadas e foi para a cozinha. Estava feliz consigo mesmo. Tinha dado certo. Sentou-se numa cadeira e ficou quieto. Logo Mione e Gina vieram atrás.
_ Você foi incrível – disse Gina.
_ Obrigado! Mas agora eu to cansado. Acho que vou arrumar um canto para dormir.
_ Ah, antes disso toma um prato de sopa. Você não vai dormir de barriga vazia – disse Mione enquanto servia janta para o rapaz.
Ele comeu, agradeceu as meninas e foi atrás de Harry para saber onde iria ficar. Achou o rapaz em frente ao quarto que Malfoy estava.
_ Como eles estão? – perguntou.
_ Você fez um trabalho excelente – respondeu – Draco não está sangrando mais e Lucius parece bem mais calmo.
Neville ficou olhando para dentro do quarto, perdido em pensamentos.
_ O que foi? – perguntou Harry.
_ Nada, só estava pensando o quanto é irônico salvar a vida de alguém cuja tia quase matou meus pais.
Harry olhou o rapaz a sua frente. Neville tinha amadurecido nos últimos anos. Desde a Armada de Dumbledore ele havia criado uma confiança em si próprio que antes não existia. E naquela noite tudo foi posto a prova. Ele enfrentou a avó e ainda enfrentou seu desejo de vingar o estado de saúde dos pais.
_ Você é um grande bruxo, Neville – foi só o que Harry conseguiu dizer e indicou um quarto para que ele pudesse ficar.

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