SEU CORAÇÃO É UMA ILHA



CAPITULO 5 – SEU CORAÇÃO É UMA ILHA

“Depois de quase cinco anos, fico indagando se tomei a decisão certa. Penso nos prós e nos contras. Penso como privei meu filho de conhecer o pai. Como privei Harry de saber que tem um filho. Como privei meus pais de embalarem o neto. Como privei meus irmãos de encherem o sobrinho de presentes. Eu pensei nisso tudo. Não sei se fiz a coisa correta em escondê-lo e de me esconder todo esse tempo. Sei que se tivesse contado para Harry sobre o bebê, ele teria vindo voando. Mas isto era tudo o que eu não queria. Que ele voltasse por obrigação. Voltasse pelo filho. Acho que fiz tudo errado.”

Cinco anos depois...

A casa da família Lovegood era gigantesca. Ficava numa rua tranqüila do Brooklyn, ao lado de tradicionais pizzarias italianas. Tinha quatro andares e um sótão, uma pequena escadaria que dava na calçada e flores nos canteiros das janelas.

O sótão, lugar onde a família coloca tudo o que não é mais usado, está lotado de brinquedos, roupas velhas, documentos e móveis antigos.

Uma mulher no alto dos seus vinte anos estava ilhada no meio de caixas, papéis e fotos antigas. Sua alvíssima pele e seus cabelos vermelhos contrastam com o chão de madeira escura. Seus olhos azuis viajam nas lembranças geradas por fotos do seu passado.

Tirava as fotos das caixas com cuidado como se não as manuseasse corretamente, iriam se desfazer.

Ao ver uma das fotos, Ginny sorri.

Ela e Luna rindo à beça numa das festas da Sala Comunal da Grifinória.

Ela lembra daquela festa muito bem. Nesta festa, ela tinha trazido Luna para festejar uma vitória do quadribol com os Grifinórios apesar de ela ser da Corvinal.

Elas riam de bobagens que Neville falava enquanto tirava a foto.

Ginny balança a cabeça e ri.

Puxa outra foto e vê Ron e Hermione na biblioteca. Eles sorriam e Ron fazia caretas fazendo Mione sorrir mais ainda. Bobos apaixonados. Só eles não viam isso.

Puxando uma última, vê ela e Harry.

Ginny dá um sorriso triste. Foi um pouco antes da morte de Dumbledore. Eles sorriam felizes, desconhecendo totalmente o futuro que viria. Todas as tragédias e separações que se seguiriam.

Ginny dá um suspiro copioso.

A porta se abre e aparece uma mulher morena com aproximadamente 45 anos, com um largo sorriso.

- Oi, querida.

- Oi, mãe.

- O que está fazendo?

- Remoendo o meu passado.

Elizabeth sorri.

- Na verdade, - continua Ginny. – vendo o que vou levar na mudança.

- Ah. – Elizabeth diz, um pouco nervosa.

Ela se senta numa poltrona cheia de poeira, olhando Ginny.

- Aconteceu alguma coisa? – Ginny pergunta.

- Luna escreveu para John.

- Ela e tio Mark estão bem?

- Estão. Mas...

- Mas...

- Aconteceu algo, mas não é com eles que aconteceu.

- O que foi?

- Foi na sua família, Ginny.

Ginny não responde, fica muda de desespero. “Na minha família?”

- Seu pai morreu.

Ginny arregala os olhos e olha Elizabeth com profundo choque.

- Querida...

- Não... – e começa a chorar.

Elizabeth corre até ela, e a abraça a consolando.

- Querida, Luna escreveu dizendo que ele estava doente. Ninguém sabia responder o que ele tinha. Mas ele não sentiu dor, nem nada, foi em paz.

- Não pude me despedir do meu pai. – com a voz embargada de tanto chorar. - Não pude lhe mostrar o Eddie.

- Calma, querida. Como você podia saber?

Elas ficam lá abraçadas, chorando.

- Hey, o que aconteceu? – vem uma voz da porta.

- O que está fazendo aqui há essa hora, seu vagabundo?

- Ai, mãe, credo. Sai mais cedo da aula, por quê?

- Tenho certeza.

- O que houve?

- Meu pai morreu na Inglaterra, Paul. – disse Ginny.

- Ah, meu Deus.

- Eu preciso de um cigarro. – ela diz levantando.

Atravessa o sótão, e desce as escadas correndo.

Corre no quarto e pega o maço de cigarros, o acendendo prontamente. Segue para a varanda, onde pode ver a parte sul da ilha de Manhattam, e traga o cigarro profundamente. As lágrimas lhe caem, molhando seu rosto e alcançando seu colo descoberto. Um vento frio bate no seu corpo, lhe dando um arrepio.

Alguém se aproxima e a abraça por trás. Pelo perfume, sabe quem é. Fecha os olhos e relaxa ao sentir o calor do corpo do marido.

- Eu soube. Papai me contou. Como está? – pergunta ele.

- Você não sabe?

- Eu imagino.

- Eu vou ter que ir lá, Richard.

- Lá onde?

- Pra casa. Quero ver minha mãe, meus irmãos.

- E ver o pai do Edward.

- Não me venha com ciúmes agora, Richard. Agora não. – ela se vira para ele, ficando furiosa, jogando a bituca na rua. – Meu pai está morto. Isso não pode significar nada pra você, mas significa muito pra mim.

- Desculpe, Gin, eu... eu... é que só de você falar em casa, na Inglaterra, me vem à idéia de você ver esse cara e...

- Chega, Richard. Que droga! Você parece um relógio quebrado. Sempre repetindo a mesma coisa. É chato, e maçante! Justamente agora, num dos piores momentos da minha vida, você vem com essa. Por favor!

- Desculpe... devia...

- Exatamente! Devia ter ficado quieto! – ela grita.

Fica parada, fitando o marido com ódio.

“Que audácia!”

Ela lê algo no olhar do marido.

- Não. – ela diz.

- Não o quê?

- Você não vai comigo.

- Como não? Sou seu marido, esqueceu?

- Não, não esqueci.

- Gin...

- Não estamos negociando. A conversa acabou aqui, Richard.

Richard abaixa a cabeça, contrariado e sai pela porta.

Ginny se volta para o horizonte, e acende outro cigarro.

Ela olha para o cigarro na mão e ri.

– Ah, pai... tenho certeza que ficaria doido de vontade pra experimentar isso... – e dá uma risadinha.

- Hey! – Paul aparece atrás dela, com Eddie no colo.

Ginny se vira e os vê.

- Hey, garoto! Bateu em alguém na escola hoje? – ela pergunta.

- Não, mãe.

- Ótimo! Não quero ser chamada de novo pra falar com a professora.

- Tava chorando, mãe?

- É querido, estava.

- Por quê?

- Porque alguém que mamãe gosta morreu. Alguém que você não conheceu, mas quando estiver mais velho vai entender.

A criança arregala os enormes olhos verdes, sem entender.

Ginny o pega no colo, e abraça o filho.

- Ah, filhinho! – e volta a chorar.

Ela olha o filho, e vê aquele cabelo preto e os olhos verdes. Verdes brilhantes, como os de Harry.

Edward é a imagem e semelhança de Harry. Não só na aparência como no temperamento. Tinham até o mesmo jeito de andar, o mesmo jeito de sorrir e de falar. Era uma cópia perfeita.

- Você vai para a Inglaterra? – pergunta Paul.

- Vou. – responde ela. – Vou enfrentar o meu pavor, e vou rever minha família.

- E rever um certo alguém também?

- Nem começa, Paul. Já basta Richard me infernizando com aquele ciúme estúpido.

- Mas não vai me dizer que você não está nem um pouquinho curiosa em vê-lo.

- Não, Paul. Não estou. Se não tivesse acontecido algo tão extraordinário como a morte do meu pai, ficaria bem longe daquela parte do Oceano.

- Ele é lindo, mesmo?

- Ah, sua bicha assanhada! – diz ela, sabendo o que ele quer. - Quer ir comigo?

- Claro que eu quero. Sempre quis ir às baladas de Londres.

- Paul! – Ginny censura.

- Tô brincando! Não vou fazer isso durante o funeral do seu pai.

- Só depois, né, seu maldito!

- Claro que não, tenho que prestar meus pêsames a você, a sua família e o seu gato de olhos verdes.

Ginny ri do cunhado. Apesar de que, Paul é muito mais que cunhado. É mais amigo e confidente do que jamais Richard sonharia em ser.

- Hey, filhinho, quer jantar?

- Quero.

- Vai ter que comer todos os legumes, se não, não tem chocolate de sobremesa. May fez brigadeiro.

- Ah, mãe.

- Não tem mais. Vai, desce pra jantar com tio Paul. Mamãe precisa dar uns telefonemas. – e põe o filho no chão.

Os dois descem as escadas.

A tristeza volta a tomar conta do seu coração. Fecha os olhos e as imagens do pai e da sua infância vem a sua mente.

As lágrimas voltam a cair.

- Estou indo, mãe. Estou indo.

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Londres no dia seguinte...

Paul senta Eddie no balcão da loja de aluguel de carros.

- Não tem uma maneira bruxa de a gente chegar à casa da sua mãe? – diz ele, pegando a mamadeira de água da criança.

- Não. Eu não aprendi a aparatar. E... bom... mesmo que soubesse não poderia aparatar com Eddie, você e as malas.

- Mas o Richard usa a lareira lá de casa. – diz ele segurando a mamadeira, enquanto Eddie bebe água.

- Paul, eu não vejo minha família há cinco anos, ia ser um pouco estranho, eu simplesmente aparecer na lareira da casa da minha mãe.

- Mas seria mais rápido.

- Sra. Lovegood, aqui está o contrato. – diz uma funcionária.

Ginny assina o contrato do aluguel do carro. E pega a sua via para pegar o carro no estacionamento.

- Você sabe dirigir até lá? – pergunta Paul.

- Acho que sim.

- Acho? Ginny não quero pegar a estrada e acabar caindo em Glasgow.

- Não se preocupe, a gente chega lá.

- Como não me preocupar? Estou em um país estranho, com gente que não conheço, não sei como chegar a lugar nenhum, e você não quer que me preocupe?

- Paul, eu não sei aparatar, mas sei fazer magia. Relaxa.

Paul dá um gemido de insatisfação.

- Sua mãe é pirada, sabia. – ele diz para Eddie. – Espero que você tenha puxado para o gato de olhos verdes.

- Vamos embora, Paul. – diz ela, pegando o molho de chaves do BMW alugado.

Eles andam até o estacionamento da loja de aluguel de carros, desviando de pessoas apressadas no terminal do aeroporto. Ginny carrega Eddie, enquanto Paul leva as malas.

- Como estão as coisas com Richard? – ele pergunta.

- As de sempre, na verdade.

- Ah, não, você nunca me escondeu o jogo. Diz o que está acontecendo.

- É a mesma coisa de sempre, Paul. Richard tem me sufocado nestes quatro anos. Ele é um bom marido, trata Eddie como se fosse filho dele, mas...

- Mas...

- Eu não sei. Há quatro anos, Richard me encantava com aquele jeito rebelde e selvagem. Adorava aquele jeito ambicioso e sedutor dele. Eu tinha 17 anos, meu filho nem tinha um aninho. O mundo trouxa era algo novo e sedutor. Achei que ele seria um cara ideal pra mim. Mas agora... depois do casamento percebi que ele queria mais que uma esposa, queria um objeto para mostrar. E eu não sou assim, Paul. Eu sou uma inglesa do interior fugindo de um... uma guerra. Só isso. Não quero ser quem eu não sou. Eu fugi do que eu era, e me arrependo.

- Acho que você ta mudando de assunto.

- Não, não estou. Tudo o que eu sentia por Richard, acabou, Paul.

- Ele sabe disso?

- Acredito que sim. Nosso casamento já acabou há algum tempo. Não sei se posso dizer que acabou, mas esfriou há muito tempo.

- E se vocês tivessem tido filhos?

- Duvido. Filhos não é a solução, Paul. E outra, eu não posso mais ter filhos, lembra?

- É, eu sei.

- Quando eu penso nisso, eu me lembro do meu pai, que não chegou a conhecer o neto.

- Ele ia ser muito coruja?

- Totalmente. Ele ia babar. Ele babava em qualquer criança. Se passaram cinco anos, quem sabe alguns dos meus irmãos não tenham lhe dado netos.

- Um dos seus irmãos casou, não foi?

- Foi. Talvez Gui já tenha meia dúzia de filhos.

- A mulher dele era muito gostosa?

- Paul!

- Ah! Tô brincando. Tava querendo te animar um pouquinho.

- Como posso ficar animada, Paul? Estou indo para o funeral do meu pai.

- Desculpe, querida. Vamos logo, que eu tô morrendo de fome, e você mesma diz que sua mãe é divina na cozinha.

Ginny balança a cabeça, enquanto embala o filho quase dormindo.

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Ao abrir a porta do carro, Ginny lembrou de uma coisa importante.

- Paul?

- O quê?

- Lembrei de um pequeno detalhe.

- Qual?

- Aqui se usa a mão esquerda.

- Todo mundo usa mão esquerda.

- Na direção, seu burro.

Paul entende e arregala os olhos.

- Ah, meu Deus. – ele exclama.

- Como eu vou dirigir isso? – ela murmura.

- O que que foi que eu disse? Eu sabia. A gente deveria pegar um táxi.

- Não, eu consigo.

- Não, Ginny, você ta louca?

- Deixa de ser frouxo, Paul.

- Eu não tô sendo frouxo.

- Um dia, eu e Ron roubamos o carro do meu pai. Acho que eu ainda lembro.

- Que idade você tinha?

- Não sei. Onze.

- Onze? ‘Cê ta louca!

- Eu dou um jeito, Paul. Vou usar o mesmo feitiço que meu pai usou no carro dele.

- Ah, meu Deus!

- Relaxa, Paul!

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Ginny, depois de enfeitiçar o carro, conseguiu colocá-lo na rua, para o desespero de Paul, que não acreditava muito que ela ia conseguir.

Em poucos minutos estavam na estrada. Ginny adorava dirigir. Tinha tirado sua licença quando tinha 17 anos, logo após casar com Richard.

Ele tinha lhe dado um BMW conversível de presente de casamento. E andava com ele por toda a Nova Yorque. Eddie adorava passear com a mãe. Ouviam rádio e iam tomar sol em Long Island. Ela adorava aquela paz e tranqüilidade.

O rosto do seu pai apareceu na sua mente. Como ele adoraria conhecer Nova Yorque. Ele sempre adorou coisas trouxas.

Outras lembranças invadem sua mente.

A perspectiva de encontrar sua família lhe aperta o coração.

Como estará sua mãe? Gui e Fleur? Jorge? Fred? Carlinhos? E Ron? Será que ele e Mione finalmente se acertaram?

E Harry? De pensar nele, seu coração dispara.

Vai ser realmente um momento complicado ao vê-los. Explicar sobre a fuga, sobre Eddie, e dizer a verdade. Dizer que a história de perder o bebê foi mentira. Encarar Harry e lhe dizer que lhe escondeu um filho.

Depois de cinco anos e um casamento, como reagiria ao vê-lo?

Procurou no fundo do seu coração, o que ainda sentia por ele. E por mais que tentasse negar, o amor incondicional ainda estava lá. Escondido. Refugiado. Adormecido.

Mas estava lá. E isso a amedrontava mais que tudo.

Suspira alto. Vira para o lado e vê Paul dormindo tranquilamente.

No banco de trás, Eddie também dorme.

- Ah, o que eu fiz pra merecer isso?

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Ps: E aí, o que acharam? Sim, eu casei Ginny. Repetindo: drama é conflito. Vamos ver como vai ser o 6ºcap. Façam suas apostas. Como Ginny vai reagir ao ver Harry? Vai abraçá-lo? Ou ser indiferente?

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