Querendo ou não, eles eram ami

Querendo ou não, eles eram ami



Lily abriu e fechou a porta de seu dormitório com tanta ferocidade que suas amigas, que antes conversavam, pularam da cama em que estavam sentadas e arregalaram os olhos para a pessoa na frente delas que parecia estar possuída.


A ruiva estava mais vermelha que seus cabelos, se era possível tal feito. Respirava desreguladamente. Suas narinas estavam grandes, como as de McGonagall quando ela mesma ficava nervosa.


As garotas se entreolhavam jogando uma na outra, pra ver quem iria perguntar o que estava acontecendo, porém temiam a reação da amiga que agora caminhava de um lado pro outro com a mão direita posta em cima de seu coração, tentando, possivelmente, se acalmar.


Katie tomou coragem, e perguntou para a amiga:


- Lil. Que aconteceu? – a amiga parou de andar de um lado pro outro se virando com ferocidade para Kay, que prendeu a respiração.


- Potter – apenas disse essa palavra, com os dentes cerrados, olhando para a amiga loira, e com os punhos fechados.


Novamente sua respiração ficou descontrolada. Ela encarava Katie, Marlene e Alice, talvez esperando que elas se pronunciassem, ou talvez esperando que elas falassem mal de James, falando que não valia a pena ficar daquele jeito, ou talvez esperando que elas a acalmasse com muito chocolate.


Porém elas somente olharam para a amiga, mostrando que estavam interessadas em saber o que aconteceu, e queriam que ela continuasse a falar.


- O energúmeno do Potter passou dos limites, mais uma vez. – disse, tentando se acalmar. – Eu estava voltando do meu encontro com Brand, e ele começou a me encher, quando Brand foi embora. Fiquei tão nervosa que eu gritei com ele. Mas o desgraçado riu de mim e me beijou. Ele.me.beijou – disse esganiçada. – O idiota simplesmente me beijou como se eu tivesse dado permissão pra isso. Como se eu quisesse isso. Ele simplesmente me forçou a beijar ele. E eu dei um tapa na cara dele, que na minha opinião não foi forte o bastante. – rosnou, com os dentes cerrados.


Foi para sua cama e se sentou, porém começou a socar seu travesseiro várias e várias vezes, rosnando em cada uma delas, e proferindo algo como "aquele estúpido" "filho de trasgo" "tomara que morra atropelado por um caminhão" "eu vou arrancar a cabeça dele".


Suas amigas somente olhavam a ruiva nervosa, descontar no pobre travesseiro, que não tinha nada a ver com aquilo. Não queriam falar nada, porque era provável que ela enlouquecesse e descontasse nas amigas, pois já tinha acontecido aquilo.


Ela tinha ficado nervosa por algo que James fizera, e quando suas amigas tentaram a acalmar, ela descontou nelas falando que elas deveriam dar suporte a ela, e não tentassem acalmá-la.


Elas ficaram sem se falar durante três dias.


Quando os socos começaram a cessar as amigas decidiram falar.


- Isso foi muita sacanagem da parte dele – Katie disse.


- Sim. Ele não tinha o direito de fazer o que ele fez Lily – Marlene concordou.


- Além de tudo, era seu dia de encontro. Nada podia afetar isso – Alice continuou.


- E o pior de tudo é que eu esqueci como foi o beijo do Brand – Lily disse, parando de socar o travesseiro, e finalmente olhando suas amigas.


- Você o quê? – suas amigas perguntaram em uníssono.


- Você beijou Brand? – Alice disse animada, batendo palminhas.


- Definitivamente eu vou matar o James – Marlene disse apoiando a amiga que deu um risinho.


- Conta – Katie disse também animada. E então Lily narrou da entrada de Hogwarts até a parte do beijo.


- Foi maravilhoso o beijo dele – concluiu. – Era tão... Tão... terno – sorriu sonhadora, fazendo as amigas rirem. – Sério, não riem. Foi muito bom. E aquele sorriso dele depois do beijo, ah. A melhor coisa que eu poderia ver naquele momento – se jogou na cama de barriga pra cima e com suas pernas para fora desta, conseguindo esquecer por um momento o porquê de estar nervosa.


- Vocês vão sair de novo? – Katie perguntou.


- Não sei. Ele só disse boa noite e foi embora.


- Pelo menos ele não falou "a gente se vê por ai" – disse Marlene com desprezo.


- E isso não é bom? – Alice perguntou.


- Claro que não. Isso é a frase com menos impacto pra "adeus, nunca mais te vejo, e se ver finjo que não vejo".


- Quê? – Katie riu desdenhosa.


- É sério Kay. Eu já sai com milhões de garotos que falaram isso e nunca mais olharam na minha cara – Lene disse se jogando, como Lily, na cama em que estava sentada. Katie e Alice se entreolharam e riram fraco.


- Só espero que ele não dizendo nada, não quer dizer nada – Lily disse.


- Você quer sair com ele de novo Lils? – Alice disse.


- Claro que sim – Lily disse. – Foi o melhor encontro que eu já tive na minha vida. – As amigas se entreolharam e riram, jogando seus travesseiros na amiga que reclamou, porém riu com elas.


- Só espero que ele saiba quem é que comanda essa relação – Marlene completou.


- Meu Merlin, você e esse "comando de relação" – Kay ironizou. – Quando vai acabar?


- Nunca.


- Nunca diga nunca – Alice disse e fez o mesmo que suas amigas, se jogando em sua cama.


-x-


- Cara, onde você tava? – Sirius disse assim que James passou pela porta.


- Julgando pela cara vermelha – Remus disse – você tava beijando a Lily e recebeu um tapa em troca. – Sirius riu do amigo.


- Você sempre supõe isso – James disse indignado se jogando em sua cama.


- E não foi isso? – Peter se pronunciou.


- Foi – James disse com um risinho.


- Você tem que parar com isso James – Remus disse.


- Por quê? – se levantou da cama pra olhar para o amigo.


- Porque você tá acabando com a Lily. Você não percebe como ela fica depois das gracinhas que faz com ela. Mas eu percebo.


- Ficou sentimental depois que beijou ela Aluado? – James riu desdenhoso.


- Você é impossível – Remus disse e se levantou. Quando estava pra sair do quarto completou. – Só espero que você pare antes de realmente machucar a garota.


Silêncio.


James olhou para Sirius que assistia tudo aquilo com um riso de lado, meio cético. Ele achava graça do comportamento de Remus, pois, mesmo sendo amigos, ele nunca demonstrara preocupação pela ruiva. E agora, do nada, ele começa a falar dessas coisas. Isso era muito estranho.


Porém deixou pra lá esse pensamento, e novamente se jogou em sua cama, com um braço atrás de sua cabeça e outro na barriga.


Ouviu Peter desembrulhar algum doce e comê-lo, e Sirius levantar da cama. Levantou um pouco a cabeça e viu o amigo indo em direção a porta.


- Vai sair agora Almofadinhas? – disse, e o amigo se virou olhando-o divertido.


- Tenho um encontro.


- Agora? – levantou uma sobrancelha. – Em vez de aproveitar o dia em Hogsmead... – Sirius deu sua risada que mais parecia um latido de cachorro.


- Esse é outro – disse e saiu, fazendo James rir pelo nariz e voltar a sua posição original.


-x-


O dia seguinte amanheceu cinza, com as nuvens carregadas tampando o calor do sol, fazendo parecer estar anoitecendo em qualquer lugar que andasse pelo castelo.


Lily acordara primeiro e apressava Marlene que se demorava para arrumar, como sempre. Porém naquele dia ela queria sair o mais rápido possível pois tinha um porquê.


Não queria topar com James Potter. Não queria que ele estragasse seu dia com uma simples palavra, com um simples olhar, com um simples sorriso.


Ela não queria ouvir sua voz, sua risada, que seja. Sabia que não estava com paciência, muito menos com James.


Mas ela não conseguiu apressar Marlene, e elas demoraram como sempre, somente tendo Alice saído antes para ficar com Frank.


Depois de longos minutos Lily, Kay e Lene desceram as escadas dos dormitórios, mas foi somente Lily colocar o pé no último degrau da escada que ouviu a voz que fez seu dia, que mal começara, ser o pior dia que já havia vivido até naquele momento.


- Lily, meu lírio, bom dia – James disse sorridente e galanteador, porém sua feição não durou nem cinco segundos, pois a ruiva deu um tapa forte em sua face, dando seu melhor olhar de desprezo, em seguida passando por ele, indo direto ao buraco do retrato. Todos que estavam na Sala Comunal naquele momento ficaram olhando sem entenderem nada, e começaram a rir da cara que James fizera. – Que droga, Evans – gritou para as costas da garota, que agora sumia pelo corredor. Ele fechara a cara, e nem suas admiradoras, que acenaram freneticamente a ele quando se encontraram, fizera-o mudar de feição.


- Que bom dia caloroso da ruiva, Pontas – Sirius disse rindo do amigo.


- Não enche, Black – disse e saiu pisando forte.


-x-


O dia passou e não acontecera mais nada. James ficara carrancudo o dia todo pelo tapa de Lily, e ela achara a melhor coisa que acontecera naquele dia, pois ele não a importunara em momento algum.


Brand a encontrou no jardim sozinha, olhando para a Lula Gigante e ficou conversando com ela a tarde inteira daquele domingo, nem parecendo que tinham tido um encontro no dia anterior, e tivessem conversado também a tarde toda.


Alguns momentos ele se aproximava dela, passando a mão em seu rosto ou em suas mãos. Ela ficava corada pois não era acostumada com aquela atenção e intimidade do sexo masculino, porém ela gostava dos toques do garoto, e sorria a todo momento.


Porém em momento algum ele a beijou, e ela queria que isso acontecesse.


Depois do dia passado, depois de seu beijo, quando ela foi dormir, ela ficou pensando nele. Pensando em como os lábios macios de Brand encontrara os seus, como ele os puxou para si antes de aprofundar o beijo. Ficou pensando em como ele apertou sua cintura gentilmente, como ele acariciou seu rosto bem no fim do beijo.


Entretanto ela tinha que sair dali e ir pra biblioteca estudar. Às vezes ela odiava ser essa aluna aplicada e desesperada. Mas as pessoas esperavam isso dela, então ela tinha que se esforçar, e não deixar que outras pessoas dissessem que ela não merecia seu lugar no mundo mágico.


Se despedira dele, depositando um beijo em sua bochecha, e fazendo-o sorrir.


 


Estava há meia hora na biblioteca e esta estava silenciosa. Ela achara estranho. Normalmente era ela pisar na biblioteca que milhares de pessoas apareciam e começam a conversar e não a deixava estudar. Ou eram suas amigas ou eram os marotos, principalmente James.


Mas ele não estava lá.


Ela parou para pensar. Ela não o tinha visto em lugar algum desde o incidente antes do café da manhã. Não o tinha visto tomar café da manhã nem comer o almoço.


Enquanto ela estava no jardim com Brand também não o vira azarando ninguém.


O que era estranho.


Porque era só ela virar o rosto e tinha a imagem de James azarando sonserinos.


Será que ele ficou bravo? Será que ele ficou magoado? Isso não é do feitio do Potter. Ele não liga pros sentimentos de ninguém, por isso que ele me beijou logo depois que ele me viu dando tchau pro Brand.


É o jeito que o Potter é. E ele nunca vai mudar. Nem por nada, nem por ninguém.


Pra que eu to pensando nele? Foi a melhor coisa que aconteceu, ele não vir mais falar comigo. Era o que eu sempre quis. Que ele parasse de me irritar. E eu consegui.


Finalmente consegui.


Só queria entender porque ele ficou daquele jeito. Eu ouvi ele gritando comigo. Será que ele ficou realmente irritado? Será que finalmente eu fiz Potter ficar irritado comigo?


Ou será que ele cansou definitivamente? Isso não parece com ele. Ele não desisti tão fácil com isso.


Meu Merlin, eu magoei o garoto.


Ah, que se dane. Ele sempre fez o pior comigo, por que eu tenho que ficar com pena dele agora?


Ele sempre foi um escroto, insensível, estúpido, energúmeno, idiota comigo. Sempre me fez chorar de raiva, sempre me deixou irritada só pra rir da minha cara de brava, sempre me agarra do nada pra me beijar, mesmo eu não querendo, mesmo eu dando sempre tapa na cara dele.


Mas eu acho que eu não deveria ter dado um tapa na cara dele do nada. Se bem que não foi por nada. Eu tenho meus motivos. Ele só deve ter achado que eu já tinha superado sobre ontem. Mas eu não superei. Nunca vou superar. Ele é sempre estúpido comigo, eu nunca vou me esquecer disso.


Eu não deveria me sentir tão mal assim por alguém que sempre me irritou. Por que eu to desse jeito. Por quê?


-Lily? – ouvi meu nome e levantei meu rosto, que estava enterrado em minhas mãos. Era Lene e Kay. Katie tinha me chamado.


- Sim ­– respondi. Elas se sentaram a minha frente me olhando com o cenho franzido.


Você tá bem? – Lene perguntou. – Você tá meio pálida. Você ficou sem comer de novo? – disse repreendedora.


Não, Lene. Calma. Eu comi direito. Só tava... Pensando – respirei fundo. Ambas ficaram me olhando inquisidoramente, mas eu abanei a mão, fazendo para que esquecessem. Não queria que elas soubessem sobre meus pensamentos preocupados pelo Potter.


Se eu dissesse consequentemente elas iriam falar que eu gostava dele, lá no fundo. Ficava brava com ele, gritava com ele, mas eu gostava dele, e não conseguiria viver sem.


Mas até agora não vi ele e, olha só, estou indo muito bem.


A gente precisa te falar uma coisa – Katie disse. Foi a minha vez de franzir o cenho. – Enquanto você tava passando o dia todo com o Brand...


Como vocês sabem...


Vocês estavam num local público – Marlene disse me cortando.


Enquanto estava com Brand – Kay disse retomando – James passou o dia inteiro na Sala Comunal.


E? – perguntei pensando onde elas queriam chegar com isso.


Ele não saiu mais da Sala Comunal. Só saiu no café da manhã, mas não foi pro Grande Salão. – Lene disse.


E isso tem a ver comigo porque... – tentei não demonstrar nada, porém minha barriga decidiu dar uma volta.


Foi por causa do seu tapa Lil – Katie continuou. – Ele ficou magoado dessa vez.


Magoado? Magoado? – disse enfatizando a segunda vez. – Ele me beija a força e quando eu dou um tapa nele ele que fica magoado?


Não precisa ficar na defensiva Lilian – Marlene disse.


Eu não to na defensiva. Só estou explicando os fatos. Ele realmente achou que eu tinha superado o que aconteceu ontem? – agora minha voz ficara uns decibéis mais alto pois algumas cabeças curiosas se viraram pra onde estávamos. Kay fez sinal para que eu abaixasse a voz. Respirei fundo. – Olha eu não ligo se Potter ficou magoadinho comigo. Por mim ele pode sentar debaixo do Salgueiro Lutador e esperar ele fazer o serviço.


Credo Lily – Kay me repreendeu. Eu dei de ombros. – Dessa vez ele realmente sente muito. – ri em desdenho. – É sério. Você acha que ele ficaria desse jeito por um tapa seu se ele não se importasse? – ela disse com mais convicção, o que me assustou.


Katie estava defendendo Potter. Ela sabia o quanto eu odiava que ela fazia isso, porém fez. Talvez dessa vez tinha um porquê.


Todos os meus pensamentos anteriores vieram pesar minha consciência. Minha barriga mais uma vez deu uma cambalhota, e eu esperava conseguir segurar meu almoço nela.


Não era possível que ele realmente se magoara comigo por conta do tapa. Ele é inacreditável.


Sempre fazendo coisas pra me fazer sentir mal. Por que ele fez isso? Por que ele me beijou? Por que depois no outro dia me cumprimentou como se nada tivesse acontecido? Por que agora ele não tinha saído do Salão Comunal? Tudo isso pra me dar uma lição? Tudo isso pra fazer eu me sentir mal? Me sentir a vilã da história?


Eu devo ter ficado muito tempo presa em meus pensamentos pois minhas amigas começaram a me chamar.


Eu acho que você deveria ir falar com ele – Katie disse e eu a olhei indignada.


Dessa vez eu tenho que concordar com ela Lily – Lene a apoiou. O que me fez ficar muito irritada.


Não vou fazer isso – me levantei rapidamente, fechando meus cadernos e saindo da biblioteca antes de elas começarem a falar novamente em como Potter estava arrependido por tudo e magoado com minha reação.


-x-


Sai batendo o pé firme, somente mandando Sirius calar a boca. Eu não precisava dele fazendo gracinhas sobre a Evans me batendo.


Como ela ousa fazer isso? Do nada? Eu só dei oi pra menina e ela vem e me bate? Ela deve ter algum problema, só pode.


Tá certo que ontem eu beijei ela depois do "encontro" dela com o Brand que nem resultou em nada. Esse cara é muito lerdo.


Eu nem precisei de encontro e consegui um beijo da Evans, tá certo que ela não cedeu nem nada, mas eu consegui.


Ah, mas foi tão bom poder sentir de novo aquele perfume dela perto de mim, poder sentir a pele quente e macia entre meus dedos, os lábios, também macios, apertados contra os meus.


Pensei que até esse ponto ela já teria esquecido do que aconteceu, já tinha deixado pra lá. Mas essa menina é muito rancorosa, por Merlin. Por que ela só não pode esquecer isso?


E por que ela tem que depositar a raiva dela toda em mim? Daquele jeito ainda? No meio de todo mundo? Eu fui dar oi pra ela e ela vem com um tapa na minha cara.


Sentira meu corpo fervilhar de raiva por conta dessa garota. Sentira meu pulso se fechando e quando vi meu nós dos dedos já estavam brancos de tanto que os apertei.


Nunca tinha sentido tanta raiva como senti. Talvez somente no dia em que Ranhoso a chamara de sangue-ruim. E eu ainda tentara ajudá-la, e ela fora ingrata, como sempre.


Tá certo que está errado alguém ser chamado desse jeito, mas ela poderia ao menos me agradecer não é mesmo? Sei que meus métodos para "punir" as pessoas são meio, inortodoxos, porém eles são eficazes. Nunca mais ouvi Snape chamá-la daquilo novamente.


Ela realmente deveria me agradecer por ajudá-la.


Mas ela é tão orgulhosa que nem isso ela admite.


Eu que sou trouxa de pedir desculpas pra ela no dia que a chamei de ratinha de biblioteca. Tá, aceito que foi terrível falar isso, por isso pedi desculpas para ela. Ela aceitou, o que foi surpreendente. Mas isso acontece uma vez em cada mil.


É impossível conseguir um obrigado de Lilian Evans. Pelo menos pra mim é. Porque eu percebo que com todo mundo ela é doce, só comigo ela me recebe nos tapas.


Já to ficando cansado disso. Cansado de ser maltratado pela Evans, cansado de levar tapas enquanto só estou beijando ela, nada de mais.


E hoje foi a gota d‘água.


Nem percebi onde ia. Deixei meus pés me guiarem. Porém eles só fizeram dar voltas no castelo, pelas passagens secretas já conhecidas.


Não estava com vontade de ir pra Sala Precisa, nem pra Hogsmead, muito menos pro Grande Salão. Então voltei para a Sala Comunal, que não tinha muitos grifinórios. Consegui o melhor lugar da sala, poltrona em frente a lareira que a essa hora não estava acesa.


Passei o dia inteiro lá, pensando, tentando me acalmar. Mas a cada momento que meu cérebro me fazia reviver o episódio de mais cedo minha respiração começava a se descontrolar e sentia meu corpo tremer de raiva da ruiva.


Não estava certo aquilo. Não podia estar.


Por que eu me irritara daquele jeito? Eu já estava acostumado com seus tapas. Porém não teve xingamentos nesse, e nem uma explicação. Só foi um tapa.


Tenho certeza que com aquele Adams ela nunca faria isso.


Adams.


Pfft.


Lufano.


Por que ela escolheu um lufano a mim? Um grifinório? Melhor apanhador de quadribol há muitos anos? Com cabelo e corpo incrível? Com mil garotas atrás de mim?


Certeza que foi porque ele era mais acessível.


Mas, qual é, eu to aqui, todos os dias, a chamando pra sair. E ela vai e aceita sair com Brand Adams? Isso é ridículo. E por que eu me importo tanto com isso? Eles nem chegaram a se beijar nem nada.


Não que eu tenha visto.


Merlin, será que eu peguei baba do Adams? Será que eles se beijaram antes de eu beijar a Evans?


Argh.


De repente uma lâmpadazinha dentro da minha cabeça se acendeu, ligando todos os pontos que eu demorei a tarde toda pra ligar.


Ele tinha beijado ela. Antes de eu os ver. Aquele beijo na bochecha foi o beijo extra, o de despedida.


Ah, eu sou muito idiota.


Foi por isso que ela ficara tão brava comigo quando eu comecei a brincar com ela. Foi por isso que ela gritou mais alto que eu já havia ouvido.


E foi por isso que ela me bateu hoje de manhã.


Mas o motivo ainda foi o mais estúpido de todos.


Só por causa do que tinha acontecido no dia passado.


Mas garotas são assim não é? Guardam tudo dentro de si mesmas e depois despejam em cima do primeiro cara que elas veem.


O buraco do retrato se abriu pela milésima vez naquele dia, mas dessa vez eu olhei, e vi a Evans entrando por ele.


Seus materiais estavam protegidos sob o peito dela e sua feição não era das melhores. Seu rosto estava meio rosa, do jeito que fica no final de um dia que nós discutimos. Seu cenho estava franzido, mostrando que ela não estava pra ninguém.


No momento em que ela atravessou o buraco seus olhos caíram em mim. Não demonstrei nenhum sinal de que iria falar com ela, ou rir, ou sorrir, ou fazer qualquer coisa. Ela continuou andando, porém ainda me encarando com aqueles olhos verdes vibrantes e tão intensos, cheios de raiva.


Ela desfez o contato quando não dava mais para me olhar e subiu as escadas pisando firme. Sério, eu conseguia ouvir os passos da garota de onde eu estava.


Respirei fundo e me estiquei na poltrona em que estava sentado. Coloquei meus braços atrás da minha cabeça fechando os olhos.


Eu continuava com um resquício de raiva, e, mesmo a vendo, esse resquício não sumiu.


Se ela quisesse que eu largasse do pé dela eu o faria.


Definitivamente me cansei de tentar entender essa garota.


Antes era curiosidade, mas agora eu temia que fosse outra coisa. O melhor a fazer seria cair fora antes que eu me envolvesse.


Como nunca tinha acontecido antes comigo eu não iria saber lidar com isso. Então eu deveria, realmente, me distanciar disso.


Mas eu sabia, lá no fundo, que seria impossível de fazer.


Mesmo ela claramente me odiando, mesmo que me batesse, mesmo que me desprezasse, Lilian Evans me cativava. E não encher mais o saco dela somente para me divertir com o jeito que ela ficava brava seria muito difícil de fazer.


Mas eu estava disposto a isso.


Eu não preciso dela. Não precisava me enfeitiçar com ela, não precisava me encantar mais com ela.


Lilian Evans, desse dia em diante, estava morta pra mim.


-x-


O domingo passou mais lento que o de costume para a maioria das pessoas. Depois que Lily saiu brava da biblioteca, suas amigas esperaram um pouco pra depois irem pro Salão Comunal. Elas não queriam brigar com a ruiva, pois sabia que ela ainda estava brava com o Potter.


James ficara mais algum tempo no Salão Comunal até seus amigos chegarem e se sentarem com ele. Não perguntaram onde ele estava o dia todo, pois sabiam que tinha passado o dia todo no Salão. E mesmo com Sirius o chamando pra fazerem brincadeiras pelo castelo, o ânimo do garoto não melhorou.


Lene e Kay ainda estavam no Salão da Grifinória, no cantinho em que costumavam ficar. Porém foram para perto dos garotos, para jogarem conversa fora.


Querendo ou não eles eram amigos.


Eram da mesma casa, da mesma sala, do mesmo ano desde o primeiro ano de todos em Hogwarts. E mesmo com as brigas entre Lily e James eles se juntavam e conversavam.


Como Marlene era puro-sangue ela conhecia James há muito tempo, por seus pais trabalharem no Ministério da Magia. Todas as festas de Natal que os Potter davam eles iam, e consequentemente Sirius ia, então os três sempre ficavam juntos, conversando.


Então, querendo ou não, eles eram amigos.


Seus grupos se juntavam de qualquer maneira. E, infelizmente para Lily, isso não iria mudar tão cedo.


- Me diz, o que deu na cabeça da ruiva hoje de manhã? – Sirius disse olhando para Katie e Marlene. As duas se entreolharam apreensivas, pensando se deveriam falar. Marlene teve a coragem.


- Ela ainda tá brava com o James – o maroto que estava olhando as chamas da lareira, na mesma hora olhou para a garota.


Ainda? – franziu o cenho.


- Você agarrou ela do nada – Marlene disse.


- Ela tava gritando feito louca – tentou se defender.


- E por que ela tava gritando? – Katie disse. O garoto parou por um momento lembrando-se do que aconteceu. Sorriu amarelo.


- Porque eu irritei ela. – disse passando a mão em seu pescoço. Marlene sorriu vitoriosa.


- E você ainda acha que ela tava louca hoje de manhã? – a morena olhou para James, ainda sorrindo.


- Mas ela deveria esquecer isso não é? – Sirius interviu, ajudando o amigo. – Ela não deveria guardar mágoa nem nada. – Marlene olhou para ele com uma sobrancelha erguida.


- Ela tem todo direito a isso – disse fazendo-o rolar os olhos.


- Só estou dizendo que ela não deveria viver no passado.


- E esse é o seu lema não é Black? – Marlene ironizou. – Nunca viver no passado. Sempre fazer coisa diferente da que fez no dia anterior. – Ele olhou-a com o cenho franzido. – E por causa disso você fica com uma garota diferente a cada dia.


- Isso tudo é ciúmes McKinnon? – ele riu de lado. – Tem Black pra todas – piscou para a garota fazendo-a rir em desdenho.


- Só no teu sonho.


- Você sabe que ainda falta você pra completar minha promessa né? – levantou uma sobrancelha galante. Marlene rolou os olhos.


- Como que o assunto passou pra promessa do Sirius? – Remus interviu. – A gente tava falando que o James deveria se desculpar pra Lily e do nada esse assunto surge?


- Eu não vou me desculpar com a Evans, Aluado.


- Você quem tá errado James – Katie se pronunciou.


- Se ela não quer mais falar comigo Kay, isso é problema dela. – o garoto voltou a olhar para as chamas da lareira. – Não vou me preocupar mais com isso. – Katie olhou-o meio surpresa.


Ela sabia que James tinha algo pela Lily, mas com essa indiferença dele fazia-a duvidar se ainda restava algo.


Não respondeu, e com isso a roda ficara silenciosa. Ficaram olhando pro nada, sem falar mais nada.


Ao passo que ficava mais tarde um a um subia para seus dormitórios para dormirem e se prepararam para uma nova semana.


A noite passou e a manhã surgiu, com o sol escondido atrás das nuvens cinzentas de Outubro. O tempo estava meio frio, porém não impediu que todos levantassem de suas camas e fossem para suas aulas naquele começo de semana.


Todos levantaram com preguiça, tentando tirar o cansaço para começar aquela manhã de segunda feira. Alguns estavam com esta disposição, outros não, como Marlene, Sirius e surpreendentemente Lily que sempre tentava ter bom humor de manhã.


Mas naquela manhã ela nem tava se importando com aquilo. Se arrumou rapidamente e desceu para o café sem esperar pelas amigas. Katie, Marlene e Alice apareceram juntas à porta do Salão Principal procurando a amiga ruiva entre os emaranhados de cabelos que estavam na mesa da Grifinória, que por sorte eram poucos, por ainda estar cedo.


Encontraram-na devorando seu pedaço de pudim, raspando o fim do caldo do prato o mais rápido que conseguia.


No momento em que as três se sentaram no banco ela levantara.


- Bom dia pra você, Lily – Marlene disse sarcástica.


- To atrasada.


- Nós temos a mesma aula – continuou como se fosse óbvio.


- Então você também está atrasada – respondeu e saiu de perto delas. As três garotas olharam-na andar rapidamente pelo corredor entre as mesas das casas. Perceberam que os garotos entravam no Salão naquele exato momento, e Lily aparentemente percebera, pois passou como um jato com a cabeça baixa.


- Isso é ridículo. Até mesmo pra Lily que tem esses ataques de personalidade a cada dois meses – Marlene rolou o olho assim que não conseguiu mais ver o cabelo ruivo da amiga.


- Dá um desconto Lene – Alice pediu. – Ela ainda está brava com o James. E quando ela tá brava com alguém ela não quer nem olhar nos olhos dessa pessoa.


- Desculpa Lice, mas eu to com Lene nessa – Kay disse. – Lily e James sempre brigaram, mas ela nunca agiu dessa maneira. Ela sempre tenta não falar com ele, mas fugir dele é novo.


- Mas ela tem razão de fazer isso – Lice continuou. – Ele estragou o encontro dela com o Brand. E foi bom, pelo que eu entendi.


- Sim, mas ela tá exagerando, isso você não pode negar – Marlene disse. Alice ficou quieta por um momento e, com um suspiro, concordou com a amiga. Lene continuou – A gente tem que dar um jeito dos dois voltarem a se falar.


- Isso nunca vai acontecer – Katie disse olhando para os garotos que acabaram de sentar na mesa da Grifinória absortos em algo que Sirius falava. – Lily não vai falar com Potter até ele se desculpar com ela. E você, Lene, ouviu ele ontem falando que não ia se desculpar com ela.


- Ele nem vai tentar nada? – Alice franziu o cenho? – Porque, não sei vocês, mas eu acho que James tem uma quedinha pela Lily que ele não gosta de admitir.


- Eu também achava isso Lice – Katie concordou. – Mas ontem quando ele disse que não iria se desculpar ele foi tão indiferente que eu to começando a ter dúvidas sobre isso.


- Vocês são tão ingênuas – Marlene rolou os olhos enquanto colocava suco de abóbora em seu copo. – Ele só tá fazendo isso pra não parecer fraco. Pra não parecer que toda vez que Lily estourar com ele, ele vai lá correndo atrás dela pedir desculpa, mesmo se for culpa dele.


- Você consegue mesmo ler pessoas – as garotas olharam para onde vinha aquela voz com tom sarcástico e viram James parado ao lado de Marlene que estava ao lado de Alice. Katie, que estava a frente delas, sorriu amarelo para o garoto. Ele sentou-se ao lado da amiga, somente tendo passado uma perna pelo banco. – Eu não vou pedir desculpas pra Lily porque eu não me importo se ela está brava comigo ou não. Eu não poderia me importar menos – disse com uma naturalidade que fez Katie duvidar ainda mais se havia sentimentos dentro dele que ele, orgulhoso, não iria admitir.


- Nem se você foi o culpado? – Alice alfinetou.


- Não fiz nada de errado – ele sorriu de lado. Ficaram se encarando por alguns segundos até Marlene quebrar o silêncio.


- Você veio até aqui pra ouvir a conversa dos outros ou você tem algo importante pra fazer?


- Na verdade, McKinnon, eu tenho sim. – ele disse se acomodando mais no banco. – Eu queria saber se vocês não teriam alguns Fogos Filibusteiro sobrando. – sorriu com todos os seus 32 dentes, marca registrada de James Potter quando queria algo que seria difícil conseguir.


- E eu posso perguntar pra que você os quer, Potter? – ela levantou uma sobrancelha sorrindo de lado.


- Você não me pergunta o que eu e os marotos tramamos e nós não contamos que foram vocês que explodiram o banheiro da sala dos professores no ano passado – sorriu de lado, canalha, fazendo Marlene ficar em silêncio por alguns segundos e em seguida abrir um sorriso grande.


- Vocês não tem provas.


- Você não sabe – ele deu-lhe uma piscadela. Ela fungou.


- Acho que sobrou da última vez que nós usamos... – disse pensativa.


- No dia da volta a Hogwarts – ele completou.


- De novo, não pode provar que fomos nós – dessa vez ela quem deu uma piscadela. – Vou ver o que posso fazer por você, Potter.


- Obrigado, Lene – mudando totalmente a feição de seriedade para sua cara natural de uma criança crescida somente na aparência física. Depositou um beijo em sua testa e saiu para se juntar com os amigos e, ela imaginou, contar as novas.


- Você vai ajudar os garotos a pregar uma peça com alguém? – Alice perguntou meio intrigada.


- Não é pior do que a gente faz – Katie disse e riu consigo mesma, comendo sua torrada com geleia de morango.

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Primeiro eu quero me desculpar por ter demorado tanto para postar novo capítulo. Minhas provas finais estavam chegando e eu não conseguia me concentrar em mais nada. Tentei escrever um bom capítulo e na minha visão ele está ótimo. Prometo que o próximo sairá mais rápido, porque já estou escrevendo ele.
Bru Mckinnon Black: não tem problema, o importante é que você sempre comenta, e eu sempre fico feliz quando vejo seu comentário. Espero que não esteja cansada de esperar por momento sirius x marlene porque ele está chegando, prometo.

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Comentários (2)

  • LeleCangane

    Ai meu Deus, a Rainha e o Rei do drama estão de volta hahahaha! Você adora fazer isso, não é, senhora Mariana Menezes, complicar o que já estava complicado, é a sua cara. Lembro bem da minha situação aquela vaca da Kun chegou na Apaixonada pelo Maroto. Continua, hein!!

    2016-02-20
  • Bru Mckinnon Black

    Oiiiii...eu sei que eu sumi, mas é porque simplesmente esqueci da vida e de todas as fics que eu estava acompanhando! Hahaha, culpa da correria de final/inicio de ano!!! Enfim agora eu estou de volta e mais uma vez preciso dizer que estou louca para ler o próximo cáp! Ai não tenho nem o que falar do Jay e da Lily, esses dois são muito teimosos! Ah, fique tranquila eu espero o tempo que for preciso, contanto que tenha um momento entre o Six e a Lene! Bjoss

    2016-02-08
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