Problemas de Lily e Detenção

Problemas de Lily e Detenção



As aulas depois do almoço foram a mesma coisa pra todos, menos, é claro, pra Lily, porque James percebera que ela iria sempre fugir dele e ele chegava mais cedo do que ela, e empurrava os seus amigos para que se sentassem juntos, e deixassem a carteira livre para a ruiva. E ela, bom, sempre se atrasava, porque andava mais devagar que todos, e parava pra conversar com as outras pessoas, mas logo se arrependia por isso.


As duas últimas aulas foram as de Poções. Mesmo tendo grandes mesas, e finalmente Lily poderia sair de perto de James e ficar com suas amigas, não melhorou muito por ter os sonserinos na mesma sala.


Surpreendentemente haviam várias pessoas que tiveram excelentes N. O. M ‘s. A sala só tinha grifinórios e sonserinos. Na mesa em que Lily estava, todos os outros estavam também, por exceção de Peter, o único que não conseguira nota suficiente para continuar.


Mesmo com seis pessoas numa mesma mesa, a mesma não estava apertada. As garotas estavam lado a lado e na frente dos marotos, que estavam iguais a elas. A sala ainda estava normal, com poucos murmúrios, até que o professor Slughorn chegara e cessara a conversa.


- Bom dia alunos. – disse com um sorriso amarelo. Poucos responderam de volta, e um deles fora Lily. Para ela essa era a melhor aula, tirando feitiços. Ela conseguia fazer tudo tão perfeitamente que era difícil falar que ainda era estudante, e estava lá para aprender mais coisas, pois sempre sabia de tudo. – Vocês já estão sabendo de tudo, porque com certeza todos os professores já falaram como vai ser esse ano. – todos concordaram, e Lily baixou a cabeça.


Repudiou-se novamente por ter pensado o que não deveria pensar. Prometera para sua mãe que não iria pensar que a escola já estava acabando, mas ela o fez do mesmo jeito. Era incrível como ela queria pensar nisso, mesmo que machucasse. Talvez gostava de se machucar. Mas pelo menos ela se lembrava de todas as coisas que ela passara naquela escola até aquele dia. Talvez era por isso que gostava de pensar que acabaria daqui dois anos. A fazia sentir falta de tempos passados, a fazia se sentir mais viva do que antes.


- Lily? – Marlene que estava ao seu lado cutucou a amiga. – Tá tudo bem?


- Tá. Por quê? – olhou para a amiga.


- É que o professor acabou de falar que devemos pegar nossa dupla das salas e ir fazer a poção – ela apontou o quadro negro.


- Quê? – perguntou assustada, com os olhos arregalados. Ela tinha que preparar Veritaserum. E sua dupla tinha que ser James que estava olhando-a com um sorriso torto. Ela suspirou e foi até ao seu lado. – Tá bom Potter, você corta os ingredientes e eu faço a mistura.


- Você gosta de mandar né? – disse rindo, mas já pegando o primeiro ingrediente que estava na sua frente.


- E você gosta de me irritar né? – disse sem olhar para ele.


- Você se irrita por qualquer coisa.


- Na verdade não.


- Ah é, verdade. Você só se irrita com a minha exuberante presença.


- Que século você tá? Dezessete? – disse irônica, por fim o olhando por dois segundos e se voltando para seu caldeirão que soltava uma fumaça meio branca.


- Só me responde uma coisa ruiva – James disse parando de fazer o que antes fazia e se virando para olhar para a garota. Ela revirou os olhos pelo apelido, mas se virou para olhá-lo. – Por que você é assim só comigo? Com todas as pessoas você é a mais gentil e educada, mas comigo só me falta colocar numa caixa de fósforos.


- Isso não é uma má ideia – disse fazendo cara de pensamento.


- Se atenha à pergunta – foi a vez dele de revirar os olhos.


- Por que eu deveria ser gentil com você? – ela levantou uma sobrancelha.


- Você sempre tem que responder com uma pergunta. – revirou os olhos novamente. – Eu acho que não há necessidade de você ser grossa comigo, porque eu nunca te fiz nada.


- Óbvio que você iria esquecer. Tão típico – ela riu irônica, falando meio baixo e se virou novamente para o caldeirão.


- O que disse? – James continuou a encará-la.


- Não sei por que não sou gentil. Instinto – disse um pouco alto, e mudando a resposta. Obviamente ela não queria que ele soubesse o porquê de ela odiar ele tanto. E, bom, se ele esqueceu isso, não seria ela quem iria trazer tudo a tona. Seu peito ardeu um pouco, se lembrando do acontecimento. Na verdade dos dois, um seguido do outro. Ele balançou a cabeça em sinal de não ligar mais e voltar a fazer o que estava fazendo antes.


Finalmente a aula acabara e Lily foi a primeira a sair, o que surpreendeu suas amigas, e fez com que elas fossem atrás para saberem o porquê.


- LILY – Katie gritava sobre as cabeças que acumulavam o corredor das masmorras. Marlene e ela tentavam passar por todos, empurrando-os sem querer, e levando xingamentos. Mas elas não ligavam. O cabelo ruivo ia desaparecendo na multidão, mas mesmo assim poderia ainda vê-lo, pois era o único cabelo cor de fogo daquela escola.


Ambas continuavam gritando e empurrando todos, e recebendo ainda mais xingamentos. Desceram todas as escadas e não encontraram Lily. Saíram do saguão e foram em direção ao Grande Salão. E lá estava uma cabeleira ruiva, uma das poucas pessoas que estavam sentadas na grande mesa da Grifinória.


- O que deu em você? – Marlene disse, se sentando na frente dela, e Katie se sentando ao lado da ruiva.


- Tava com fome – ela sorriu amarelo pegando um pãozinho que estava na sua frente e cortando-o com a mão. Pegou o pote de geleia de morango e passou um pouco no pedacinho de pão.


- Ah tá. Até parece – Katie riu, um pouco irônica. – Conta.


- É só que... – ela suspirou – Só que o Potter esqueceu o porquê de eu o odiar tanto.


- Mas ele sabe que foi por causa disso que você o odeia? – Marlene levantou uma sobrancelha.


- Ele disse que nunca tinha feito nada comigo – Lily riu irônica, mordendo seu pão.


- Ah, mas você conseguiu consertar a pulseirinha – Katie disse amigável.


- Mas não foi só por causa da pulseirinha né, Katie – a ruiva olhou para a amiga ao seu lado, sorrindo fraco.


- É, eu sei o que ele fez. Mas já passou, Lily. Foi há três anos – continuou.


- Mesmo assim. Feriu meu orgulho – disse, tentando brincar, mas não sorriu muito.


- Isso ai. Não se esqueça do que ele te fez ruivinha – Marlene disse, meio brincalhona. Lily fez cara de repulsa com o apelido.


- Nunca mais diga isso, por favor.


- Desculpa – sorriu amarelo.


- Enfim, eu ainda tenho que entregar a capa pra ele. Acho que vou agora fazer isso antes que ele veja – Lily disse, se levantando.


- Quer que a gente vá com você? – Katie disse olhando a amiga.


- Não. Vai dar muito na cara. Depois eu vejo vocês. – acenou e saiu do Grande Salão.


Algumas pessoas ainda estavam saindo das salas e aglomeravam o Hall de Entrada, fazendo a passagem de Lily ser dificultada. Tentou ir o mais rápido possível antes de James entrar em seu quarto. Sua capa estava escondida no malão da garota, para que ninguém a vesse lá e a chamasse de ladra. Se bem que eram poucas as garotas que entravam no dormitório dela e de suas amigas.


Finalmente depois de dez minutos no tumulto conseguiu chegar na Sala Comunal da Grifinória. Ia subindo as escadas para ir pro seu quarto, mas uma garotinha entrou na sua frente. Era Milly Hanfield, a pequena garota que idolatrava Lily.


- Oi Lily – disse com a voz fininha. Lily se assustou um pouco.


- Oi Milly – disse apressada. – Como vai?


- Ótima, e você? Tá aqui seus livros, não te encontrei mais cedo pra entregá-los, mas tá aqui – disse um pouco rápido estendendo três livros de capa azul escuro.


- Ah é, tinha me esquecido deles. – ela pegou e sorriu, tentando ser delicada. Olhou para a garota mais alguns segundos e teve uma ideia para sair de lá. Conhecia Milly o suficiente pra saber que ela iria querer alongar essa conversa até a noite, na hora do jantar se Lily não desse uma boa desculpa. – Milly, preciso de um favor. Uma pequena missão – falou fingindo animação.


- Sim – a garotinha disse sorrindo abertamente, se segurando para não dar pulinhos de emoção.


- Eu preciso que você fique aqui até James Potter chegar, e que você prenda ele. Preciso entrar no quarto dele sem ele notar.


- Tudo bem. E se eu não conseguir enrolar ele?


- Você vai conseguir – tentou passar segurança, duvidando um pouco. Milly era uma garotinha muito gentil e esperta, tentava se espelhar em Lily, mas às vezes ela não conseguia identificar o limite para que Lily não se irritasse com ela. Mas numa coisa ela era boa: jogar conversa fora. Isso iria manter James afastado de seu quarto.


A ruiva correu até seu dormitório largando os três livros em sua cama de qualquer jeito e correndo para seu malão abriu-o rapidamente começando a procurar a capa. Logo seus dedos tocaram no tecido fino da capa. Pegou-a, escondendo em suas vestes e saiu correndo para o quarto masculino.


Quando chegou ao quarto dos quatro marotos abriu a porta abruptamente, mas levou um susto. Os quatro garotos já estavam no quarto. Ficou olhando de um para o outro, e eles a olharam de volta.


- Não sabe bater? – James perguntou irônico. Ela se recompôs.


- Sei, mas como era o seu quarto nem me importei em ser uma pessoa educada – disse Lily.


- Muito educada essa garota que você gosta, James – Sirius disse irônico.


- Gosto de irritar – James disse, tentando não ficar sem graça com o pequeno comentário do amigo. Lily revirou os olhos.


Mais rápido do que nunca, ela precisaria pensar em uma desculpa por estar lá. Não tinha pensado na possibilidade dos garotos estarem em seu dormitório. Olhou para Remus que mexia em seu caderno, e teve uma ideia.


- Eu vim aqui pra pedir suas anotações emprestadas Remus. De transfiguração – ela disse indo para perto do garoto. Olhou para baixo e viu um malão. Tentou ver suas iniciais. “Perfeito”, pensou. Era o malão de James. Foi mais pra perto do malão.


- Ah. Claro. Me deixa procurar aqui – Remus disse e foi para a cama ao lado daquela em que estava anteriormente. Lily ficou de costas para o malão e cruzou os braços. Tirou a capa do bolso de suas vestes. Descruzou-o, aproveitando que todos os olhos estavam em Remus, e deslizou a capa para o malão de Potter.


- Por que você quer as anotações dele? – Peter disse olhando para a garota


- Hãn? – ela nem prestara atenção, estava tentando colocar a capa de volta em seu lugar de origem.


- Verdade. Pensei que você copiava tudo – James disse olhando para a menina.


- Eu perdi uma parte porque você não parava de falar com o Sirius sobre coisas fúteis – disse levantando uma sobrancelha.


- Então tava prestando atenção em mim ruivinha? – James disse maroto, e ela revirou os olhos.


- No dia que eu prestar atenção em você Potter, Merlin descerá até a terra pra te dar um oizinho. E se ele fizer isso eu te dou um beijo – disse com um sorriso de lado, brincando com o garoto que sorriu. Remus percebera o sorriso, pensando onde ele já tinha visto. Ela foi até ele pegar as folhas. – Obrigada – ela sorriu, e ele sorriu de volta. Ela viu os três risquinhos, agora mais nítido, no canto dos olhos do garoto, e seu estômago afundou. Tentou afastar esse pensamento antes de dar bobeira na frente dos garotos. Passou por Sirius, só que ele a parou e sussurrou:


- Boa ideia de se esconder na capa e colocar os fogos embaixo da mesa da Sonserina sem ninguém ver – ele riu maroto, olhando para ela.


- Não fale o que você não pode provar – ela riu, marota, olhando-o desafiadora. Ele deu sua risada/latido.


- Que vocês estavam falando? – James perguntou assim que a garota fechou a porta.


- Que dia é melhor pra gente sair – ele disse maroto. James fechou a cara, e se virou fingindo mexer em seu malão, bagunçando-o, sem nem perceber que a capa estava por cima. Agora ela já tinha ido para o fundo do malão.


- Espera ai. Você tá com ciúmes Pontas? – Sirius disse rindo, olhando para as costas do garoto.


- Claro que não. Por que eu teria ciúmes dela? – disse, ainda mexendo em suas coisas.


- Eu acho que ele gosta dela – Remus disse, entrando na conversa.


- Mas o James não gosta de ninguém – Peter disse, inocente.


- Obrigado Rabicho, por ter essa imagem sobre mim – James disse irônico. Peter sorriu amarelo.


- Você gosta da Lily, Pontas – Remus disse com convicção.


- O quê? A lua cheia chegando e bagunçando seu cérebro? – James disse, finalmente olhando para os amigos.


- Tá na defensiva? – Sirius disse, rindo.


- Claro que não – disse meio alto. O amigo riu novamente.


- Olha, eu vi o sorriso que você deu quando ela disse em te beijar – Remus disse.


- Claro. É meu sorriso galanteador – James disse, tentando mudar o ponto de vista.


- Mas eu vi ele hoje quando eu fui acordar vocês. Aposto que você tava sonhando com a Lily. Você gosta dela e não quer admitir – concluiu.


- Eu só gosto de irritar ela, nada mais. Só quero irritar a foguinho – James disse revirando os olhos.


- E dar uns beijinhos – Sirius disse, rindo de novo.


- Fazer o que se ela beija bem? – disse maroto para o amigo. Remus revirou os olhos.


- Por que você continua negando? Tá claramente explícito, na tua cara, que você gosta da Lily. Gostar de alguém não é tão ruim assim – Remus disse, mas James nem quis ouvir, foi para o banheiro. Ele suspirou olhando para Sirius. – Por que ele não admite?


- Por que ele é James Potter. Não se apaixona pelas garotas. As garotas é que se apaixonam por ele. – Sirius disse encolhendo os ombros. Remus revirou os olhos de novo. Pegou seu livro de poções e começou a lê-lo deitado em sua cama.


James olhava para o seu reflexo no espelho do banheiro. Os cabelos bagunçados, espetados, rebeldes, negros como a noite. Os olhos castanho-esverdeados por trás das lentes de seu óculos redondo.


Não estava entendendo a si próprio quando se tratava de Lílian Evans. Ele adorava vê-la brava, ficar da cor de seus cabelos. Adorava roubar um beijo ou outro dela. Mesmo ela não correspondendo, e mesmo que não fosse realmente um beijo de verdade, ele sentia a maciez dos lábios da ruiva. E gostava disso. Quando a agarrava pela cintura, puxando-a para si, sentia a respiração da garota pesada, tentando se soltar dos braços dele. Sentia também o leve cheiro de seu perfume, um pouco doce. Aquele cheiro doce não era enjoativo como os demais que ele já sentira.


Por sempre ficar com várias garotas, praticamente três a cada semana, sentia uma mistura de cheiros de perfume. Ia dos mais doces até os que irritavam seu nariz. Cada garota tinha seu próprio cheiro. Misturava o cheiro do perfume com o do sabonete. Era sempre assim. Até parecia que as garotas tomavam banho antes de encontrá-lo.


Mas mesmo com todos os cheiros diferentes, o que mais gostava era o de Lílian. O cheiro doce, não muito forte, e delicado que emanava de sua pele era o melhor jeito de ficar chapado, como uma droga ilícita, que quando tomada, parecia que o mundo era um lugar melhor, parecia que estava vivendo no melhor momento, parecia que nunca iria sair daquele momento, e não queria sair.


Por alguns instantes aquele cheiro pregava na camiseta branca e fina do garoto, e ali ficava. Mas logo saía quando chegava em seu dormitório. E quando o cheiro ficava em sua roupa ele gostava de levantá-la até suas narinas para então cheirá-la, deixar aquele cheiro vivo em sua memória.


E, também, mesmo levando um tapa ardido em sua face logo depois do beijo roubado, ele ria, porque conseguia sentir a maciez dos lábios de Lily, conseguia sentir o leve cheiro doce de seu perfume, e conseguia que este cheiro ficasse por alguns segundos grudados em si próprio. Esse, para ele, era um momento bom, e nunca iria parar com aquilo.


Fechou o buraco da pia para logo em seguida abrir a torneira para enchê-la quase por completo. Abaixou a cabeça, pegou um pouco da água em suas mãos e jogou em seu rosto nem se importando se molhara sua roupa ou seu cabelo. Levantou-se e olhou novamente para o reflexo, agora com gotículas de água descendo por todo seu rosto.


Será mesmo que ele estava gostando da ruiva? Ele nunca sentira isso antes na sua vida. Sempre pensou que depois que saísse de Hogwarts iria trabalhar em alguma coisa, e ainda continuaria saindo com várias garotas ao longo da semana. Sempre pensou que sua vida iria ser igual a que tinha na escola. Mas agora ele não sabia de mais nada.


-x-


- Eu ainda não acredito que a Minerva colocou a gente de detenção. E ainda por três dias – Marlene disse, andando ao lado de Lily e Katie. Estavam indo para a sala dos troféus, onde deveriam encontrar os marotos e os monitores, Ana Rinkel e Tate Hudson.


- Ainda tá nisso Lene? – Kay disse, rindo.


- Sim. Porque ela não tem nenhuma prova de que realmente foi a gente que fez isso.


- Nós nos entregamos por bobeira. Não deveríamos ter sentado lá no fundo – Katie continuou.


- Se não fizéssemos isso não teríamos nossa brincadeira – Marlene disse como se fosse óbvio – Pelo menos valeu a pena. Viu a cara das Black? Impagável – riu com gosto. O som de sua risada ecoou pelo corredor deserto e mal iluminado.


- Tenho que admitir. Foi bem engraçado – Katie por fim concordou – Lily? – olhou para seu lado direito. A ruiva não tinha dito uma palavra sequer durante o trajeto até ali. Somente estava andando. – Tá tudo bem? – a amiga pôs a mão no braço da garota.


- Hãn? Ah! Tá. Tá tudo bem sim – sorriu fraco.


- Tá pensando no Remus? – Lene levantou uma sobrancelha.


- Não – mentiu, descarada. Não conseguiu enganá-las. Suas amigas olharam-na desconfiadas. – Tá bom, eu to pensando nele – disse derrotada.


- Lily, quanto mais você pensar, mais vai ser difícil diferenciar se é amizade ou... – Katie não terminou a frase.


- Eu sei. É que hoje, quando fui entregar a capa, quero dizer, colocar de volta no malão do Potter sem ele perceber que a gente roubou – as amigas reviraram os olhos – eu peguei as anotações do Remus e...


- Espera ai. Você não anota tudo? Não é por isso que nunca fala com a gente? – Lene disse.


- Eu tive que inventar isso porque não pensei que eles estariam no quarto. Enfim, eu agradeci e sorri simpática. Ai ele vai e sorri e aparecem as ruguinhas nos cantos dos olhos dele. Pra que ele fazer isso? Pra quê?


- Isso ai é falta de homem – Marlene riu.


- Cala a boca que o assunto é sério – Lily ficara um pouco vermelha. Não sabia o porquê.


Você não pode se desesperar Lily – Katie disse.


- Mas eu to tá bom? – ela elevou a voz um pouco, andando meio rápido e gesticulando as mãos, nervosa. – Eu não senti nada parecido com isso na minha vida. E eu não consigo entender o que é, não sei explicar, não sei falar o que to sentindo, não sei reagir a isso, não sei nem mais ser natural perto da pessoa que eu passava um bom tempo junto. – acabou suspirando cansada, sem fôlego. Não queria ter gritado, porque qualquer um poderia ouvir. Odiou ter que admitir aquilo, mesmo que fosse para suas amigas. Mas não teve jeito. Estava consumindo cada segundo desse dia. E era somente o primeiro.


Um vulto se projetou no cruzamento dos corredores. Elas pararam, surpresas. Ele andou mais um pouco até elas e se revelou ser Remus. “E agora?”, Lily pensou. Ele poderia ter ouvido tudo, e talvez tinha se ligado que era dele de quem ela estava falando. Ela estava muda, estática, gelada. Só olhava para o garoto a sua frente e xingando Merlin mentalmente pelo que estava acontecendo naquele momento.


- Pensei ter ouvido sua voz delicada – Remus disse, em tom de ironia, só que ela não entendera. Naquele momento não raciocinava muito bem. Marlene e Katie riram, um pouco exageradas. Lily olhou de soslaio para elas e fingiu rir. – Só tá faltando vocês.


- A Lily tava surtando um pouquinho – Marlene disse pra quebrar a tensão que Lily tinha posto naquele espaço. Remus deu uma risadinha. O estômago de Lily afundou, pela quarta vez naquele dia.


- Por quê? – ele se virou para olhar a ruiva, que ainda estava estática. “Espera ai, como é que se respira mesmo?”, pensou.


- Por causa de um menino – Katie disse inocentemente, e Lily virou somente a cabeça em sua direção, lentamente. Katie foi fuzilada pelo olhar sanguinário de Lily. Marlene não conseguia controlar o riso. Tentava respirar, rir e parar de rir ao mesmo tempo. Não era um bom som de se ouvir. Kay se encolheu perante o olhar da amiga.


- O que ela quer dizer – Marlene interviu, antes que Lily voasse no pescoço da pobre loira – é que Lily tem uma pequena queda pelo irmão do Luke – e foi a vez de Marlene ser metralhada pelo olhar da ruiva. Ela arregalou os olhos, e com isso fez com que parecesse que mataria um búfalo, tamanha era sua raiva.


- Daquele garotinho? – Marlene assentiu. – O irmão dele não é o da Lufa-Lufa, é? – assentiu de novo – Oh, James não vai ficar feliz.


- Pera o quê?- finalmente Lily olhara para o menino, e conseguira se mexer, não acreditando no que ouvia. “E o que Potter tem a ver com isso?”


- Bom – Remus tentou escolher as palavras certas, Lily começara a ficar da cor de seus cabelos – Ele... Odeia... Não... Ele não gosta muito do Adams. James acha que Adams quer se mostrar só porque ele é artilheiro do time da Lufa-Lufa. – Lily riu irônica.


- E por acaso Potter não faz o mesmo com aquele maldito pomo? – levantou a sobrancelha.


- Vai entender o James né? – Remus riu nervoso, passando a mão na nuca. – Mas a questão é que ele não gosta de te ver com outros garotos. – “Ui, palavras erradas”, Marlene e Katie pensaram ao mesmo tempo.


- Por quê? – Lily tentou se controlar. Sentiu seu rosto esquentar ainda mais, e seu sangue borbulhar por todos os vasos sanguíneos distribuídos pelo seu corpo.


- Porque ele tá atrás de você. E eu tenho quase certeza que ele gosta de você – ele sorriu meio fraco, mas desta vez Lily não prestou atenção. Seu cérebro trabalhava a mil tentando pensar numa maneira de matar Potter do jeito mais doloroso que existia.


- Ele não tem coração. É impossível ele gostar de alguém. Já te disse isso. E ele não tem que se meter na minha vida, principalmente a pessoal. Então estou pouco me importando se ele vai gostar disso ou não – ela disse em tom mais alto, mais vermelha, e tremia. Não se importava se essa historia do irmão de Luke era verdadeira, mas só de pensar que Potter iria ficar bravo por algo que Lily fizesse, a fez ficar brava e esquecer todo o resto. Ele não tinha o direito de fazer isso. Não tinha nada com ela. Nem amigos eles eram. Ele não iria controlar sua vida.


- É melhor irmos. Já estamos atrasados – Remus disse temendo o que viria a seguir se ele continuasse nesse assunto. Lily tentou se acalmar e seguiu o garoto e suas amigas até a sala dos troféus, onde já estavam todos.


- Não sabem ver hora? – Ana Rinkel foi a primeira a se pronunciar, com sua voz fina, rascante.  As garotas reviraram os olhos. Ela só queria irritá-las e se possível colocá-las mais algumas noites em detenção, elas pensaram.


- Sabe o que é? Nós achamos que você se perderia na escola por ser burra e cega. Então demos uns minutinhos pra você, como vantagem – Marlene disse irônica. Lily e Katie tentaram se controlar. James e Sirius não conseguiram e riram abafados. Todos ali, menos Tate Hudson, sabiam do ódio entre as quatro garotas.


-Tá muito engraçadinha pra quem ficou de detenção três dias – Ana alfinetou. Marlene revirou os olhos – Até hoje nunca fizeram alguma anotação ruim sobre mim. Quanto mais uma detenção – se vangloriou.


- É porque você lambe a bunda de todos os professores pra te adorarem porque você não faz por merecer. Não é boa o suficiente pra isso – Marlene alfinetou de volta. Ana começara a ficar vermelha. Tate tomou conta da situação.


- Bom, a professora McGonagall nos disse para dividi-los em grupos – ele começou – um grupo ficaria com a Ana aqui na sala dos troféus e o outro na biblioteca, comigo.


- E quais vão ser os grupos? – Lily disse.


- Ele não terminou de falar, sem educação. – Ana disse com sua voz fina, irritante.


- Hudson? – Lily complementou apenas olhando para o garoto, que deu uma risadinha. Ela deu uma boa olhada para ele. Até que ele não era tão feio assim.


Ele era bem alto, esguio. Muito magro. Não tinha músculos e por isso as veias de seu braço faziam relevo sob a pele muito branca. Seus cabelos eram loiros, quase platinados, lisos, jogados de qualquer maneira em seu rosto. Seus olhos eram pretos, bem escuros, muito escuros mesmo. Parecendo uma sala fechada, sem nenhuma janela ou lâmpada para iluminá-la.


- Bom, decidi separar os meninos e as meninas – todos soltaram um muxoxo. – Desculpem, mas vocês podem se distrair e terem de ficar mais um dia – disse compreensível. – Com a Ana vão ficar Pettigrew, Black e Greengrass. – a garota suspirou – Comigo vão ficar o resto: Evans, McKinnon, Potter e Lupin. – todos assentiram – Então vamos – começou a andar rumo à biblioteca, e os quatro foram atrás dele.


- Olha o destino nos deixando juntos ruivinha – James disse para a parte de trás da garota, mas especificamente a bunda e coxa. Ela não usava a capa, e o babado de sua saia se mexia conforme seu quadril. Ela e Marlene estavam à frente dele e de Remus. A garota nem se importou de se virar e fuzilá-lo com seu olhar.


- Destino que se chama Minerva McGonagall, que nos forçou a isso. Acho que isso não é destino não Potter. É um mau karma pra mim – disse irônica, ainda olhando para frente.


- Depois diz que não gosta dela. Só fica tentando chamar a atenção da garota – Remus sussurrou para somente o amigo ouvir. James olhou-o com a sobrancelha levantada.


- Para com essa história. Não existe nada – sussurrou de volta.


- Um dia eu vou falar “eu te disse” com um ar vitorioso – Remus disse com um sorriso travesso, fazendo James revirar os olhos.


- Ai que saco. Ter que ficar arrumando a biblioteca até mais de dez horas – Marlene disse, fingindo cansaço. Lily riu.


- Vai passar rápido. Te garanto.


- Mesmo com Potter toda hora te chamando de ruivinha? – Marlene disse rindo.


- Nem me lembra disso. Nossa – disse arregalando os olhos um pouco, se lembrando de algo – Eu e o Remus ainda temos que fazer nossa parte da ronda.


- Vai ficar bem? Sozinha com ele? – ela levantou uma sobrancelha.


- Vou ver no que vai dar. Vai ser bom ficarmos sozinhos né? – disse mais para si, tentando se convencer, do que para sua amiga que deu de ombros.


-x-


- Eu nunca tenho sorte na vida. Incrível – Katie disse começando a tirar os troféus das prateleiras e colocá-los no chão. Fez cara de tédio.


- Por quê? – Sirius disse achando graça da garota.


- Porque eu to aqui com ela – apontou Rinkel com a cabeça.


- Menos conversa e mais trabalho – disse com a voz fina. Sirius riu fraco também tirando os troféus.


- Estranho nós ficarmos juntos né? – ele disse com certo ar de malícia.


- Você quer que eu te azare de novo? – Katie o olhou e levantou uma sobrancelha.


- Já tive o suficiente por hoje, obrigado – ele riu, ela o seguiu.


- Vocês não estão sozinhos – uma voz meio baixa disse, embaixo deles. Peter estava tirando os troféus da prateleira debaixo.


- Nós sabemos – Katie respondeu e riu fraco.


- Me fala Kay – Sirius olhou para ela, que continuou a tirar troféus. – Foi tão ruim me beijar? – ela suspirou, parando de novo o que estava fazendo e o olhou.


- É ruim pensar que sou só mais uma na lista gigante de Sirius Black, e é isso o que significa pra ele. Mais um número.


- Nunca pensei dessa forma.


- Mas deveria – ela sorriu fraco – Tenho certeza que várias garotas sentem o mesmo. Dezenas delas. – ela riu, um pouco mais forte, e ele a acompanhou.


- Vocês querem mais um dia de detenção? – a voz fina e rascante apareceu atrás dele, que se sobressaltaram e voltaram a tirar os troféus das prateleiras empoeiradas.


-x-


Estavam há uma hora limpando a biblioteca. Parecia que era um trabalho interminável. Lily estava pegando todos os livros das mesas, na parte em que estava responsável, e colocando em seus respectivos lugares. Quando terminava limpava a mesa onde antes havia os livros. James fazia o mesmo que ela. Pouco menos, mas o mesmo. Remus e Marlene trabalhavam juntos, um guardando os livros, e o outro limpando a mesa, ora revezando-se.


James limpara a sua parte rapidamente, não muito bem feita, e foi para onde estava Lily, com o intuito de chateá-la. Queria vê-la com o rosto vermelho, quase da cor de seus cabelos. Ele se divertia com isso. Chegou ao corredor onde ela estava, sem que ela percebesse sua presença, e se pôs a fitá-la. Ela estava na ponta nos pés, tentando colocar um livro na prateleira de cima, mas sem sucesso. Mesmo ela usando salto, não ajudava muito.


Ele a olhou, de baixo para cima, com todas as suas curvas. Sorriu maroto, e foi para onde ela estava, se postando atrás dela, sem que a mesma percebesse. A ruiva estava ocupada pensando em como colocaria aquele livro onde deveria estar sem usa magia.


O garoto chegou bem perto dela, colocando sua boca no ouvido da garota, e sussurrou:


- Você é muito baixinha pra isso – como ele esperara, ela se assustou e gritou abafada, largando o livro, que caíra no chão. Virou-se rapidamente para saber quem tinha feito isso com ela, e não se surpreendeu em saber que era Potter. Ela encostou-se à prateleira e levantou uma sobrancelha.


- Qual é o seu problema, Potter?


- Nenhum. Só que gosto de ficar atrás de você – disse malicioso, com um sorriso de canto em seus lábios finos. Deu um pequeno passo para frente, para acabar um pouco com a distância entre os dois, mesmo esta sendo pequena.


- E eu adoro ficar o mais longe possível de você – ela disse indo pro lado, mas ele fora mais rápido e colocara o braço encostando-o na prateleira de livros, de um dos lados do corpo dela. Ela olhou pra ele de novo, com a sobrancelha arqueada e tentou sair pelo outro lado, mas foi impedida também pelo outro braço dele. – Vai me prender aqui? – perguntou irônica. Ele alargou seu sorriso, tentando mostrar quantos dentes ele conseguia.


- Só quero ficar bem próximo de você – deu mais um passo pequeno, deixando a distância entre ambos em milímetros. Ela começara a respirar pesadamente, tentando pegar algum ar. De repente aquele local ficara quente. O peito da garota subia e descia rapidamente, conforme sua respiração ia ficando mais rápida.


O garoto percebera a inquietação dela por conta de tal ato e riu fracamente, onde seu curto sopro atingiu o rosto dela, fazendo-a sentir um leve aroma de menta. Ele, agora, conseguia sentir o doce perfume dela, bem delicado, e torceu para que grudasse em seu corpo por um longo tempo.


Sem querer demorar mais, James foi aproximando seu rosto do rosto de Lily, olhando de seus dois olhos para sua boca, se lembrando de como esta era macia. A garota, por sua vez, olhava de um olho castanho-esverdeado para outro, um pouco assustada, não sabendo como sairia daquele aperto.


- O que vocês estão fazendo? – Marlene apareceu do nada no começo do corredor, perguntando com fingida inocência, e com um sorriso maroto. Remus e Tate estavam ao seu lado olhando para os dois, ali, encostados um no outro. Lily se assustara com a amiga e empurrara James forte, fazendo-o sair de perto dela.


- Nada – respondeu rápida. Corara ligeiramente.


- Assim, nós deveríamos estar limpando a biblioteca, e não se agarrando nela – a amiga brincou. Lily fuzilou-a com o olhar, e ela apenas riu.


- O que você tá fazendo aqui James? – Remus perguntou, tentando deixar a garota menos sem graça, se isso era possível.


- Eu terminei minha parte – disse sorrindo, vitorioso.


- Sério? – Tate se surpreendeu. James assentiu. – Ajude Lily com a parte dela.


- Eu posso fazer sozinha – disse depressa.


- Mas eu quero que ele te ajude – disse curto. Ela suspirou, com cansaço. James riu fraco. Todos saíram de lá, deixando-os sozinhos. O garoto pegou sua toalha e seu balde com água e trouxe para onde Lily estava.


- Você limpa as mesas e eu guardo os livros – ela disse sem olhar para ele, e colocando os livros em seus respectivos lugares.


- Como quiser – disse, ainda achando graça da situação.


E por meia hora fizeram a mesma coisa. Lily tirava os livros das mesas, e os colocavam em seus lugares, e James ia molhando o pano na água, e passando nas mesas para tirar a poeira que os livros deixavam para trás.


O maroto estava com tédio. Era sempre assim em todas as detenções que ele pegara. Sempre fazia a mesma coisa por horas, e depois da primeira meia hora ficava entediado e tentava fazer alguma coisa engraçada. Molhou o pano mais uma vez, olhando para a água e teve uma ideia.


Deixou o mesmo de lado, e pegou um pouco de água em suas mãos. Lily estava à sua frente, e não via nada. Somente guardava os livros. Ele sorriu de lado e jogou a água nos cabelos da ruiva que se virou rapidamente, brava.


- Que pensa que tá fazendo? – falou meio esganiçada.


- Do que você tá falando? – disse, fingindo inocência.


- Você sabe muito bem – continuou brava, e ele se controlava para não rir. Ela se virou novamente. Ele pegou mais um pouco de água e jogara nela, novamente, que se virou. Ele, outra vez, fez cara de inocência, e mais uma vez ela se virou. Ele riu. Pegou mais um pouco de água, jogando mais uma vez no cabelo dela. Mas dessa vez ela se virou e já pulou em cima do garoto com o punho fechado, socando em cada lugar que conseguia alcançar.


Mas não bastou somente socá-lo, dava tapas em suas costas, bem ardido, fazendo barulhos bem altos. Ele tentava se desviar e segurar as mãos da garota para não atingi-lo, só que ela sempre conseguia soltá-los e bater nele novamente.


- Para... De... Me... Encher – disse pausadamente, entre tapas e socos. Ele ria da situação, e exclamava dor de vez em quando.


Conseguiu segurar uma das mãos dela bem fortemente. Mas ela ainda batia com a outra. Tentava desviar seu rosto das pequenas mãos, mas não o resto de seu corpo. Finalmente conseguiu prender o outro pulso firmemente em suas mãos.


Com as duas mãos da garota seguradas firmes em suas grandes mãos, consegui controlá-la. Puxou-a mais para perto dele, e passou as mãos para as costas de Lily, juntamente com as mãos da garota. Agora estavam colados um no outro. Não tinha nenhuma distância entre ambos. Seus rostos também ficaram pertos. E novamente Lily ficara sem ação.


Seu coração bateu descompassadamente, fazendo seu peito subir e descer descontroladamente, conforme sua respiração rápida. Um pouco pelo esforço de bater no garoto, e outro pela situação atual.


Desta vez Lily se perdera. Ela não estava raciocinando muito bem. Olhava para os lábios finos e bem vermelhos do garoto, somente pensando em como seria bom beijá-los. Porque, mesmo James tendo roubado tantos beijos, não seria a mesma coisa que um beijo de verdade, com direito a apalpações e fincadas de unha, da parte dela, é claro.


Ele olhava dos olhos verdes vivos para a boca rosada dela, e de novo para os olhos. Estavam um pouco arregalados, mas estavam com certo brilho. Um brilho diferente, que ele nunca vira antes. Era pequeno, mas ele percebera mesmo assim, devido a curta distância.


Lily estava parada, estática. Não fazia nada, somente olhava. Sua consciência se fora fazia muito tempo. Deixara-a sozinha com a pior pessoa que deveria ter deixado.


E mais uma vez naquela noite, James se aproximou do rosto da garota, por fim roçando seus lábios. Ele já fechara os olhos, mas ela ainda relutava em fechar os seus próprios. Ainda havia um resto de consciência, que não a fazia aprofundar aquele beijo naquele momento.


- Lily? – Marlene interrompeu o momento pré-beijo de James e Lily pela segunda vez. Ela poderia ter deixado aquilo acontecer. Adorava Lily com James. Eles até que combinavam no pensamento dela, mas devido à posição dos braços da ruiva, ela pensou que Lily realmente não iria querer aquilo. Foi por isso que atrapalhou.


A ruiva se sobressaltou e deu um passo grande para trás, conseguindo se soltar dos braços de James. Aproveitou pegando impulso em seu braço e tacando sua mão bem aberta na face esquerda dele, dando um estalo muito forte fazendo um barulho muito alto na biblioteca quase completamente vazia.


-x-


- Será que tá tudo bem lá na biblioteca? – Katie perguntou, finalmente colocando os troféus limpos nas prateleiras limpas.


- Por que a pergunta? – Sirius disse pegando os troféus das mãos de Peter, que os limpava, e entregando-os para a loira.


- Lily e James no mesmo cômodo nunca dá certo – ela explicou. Sirius deu uma risadinha.


- Mas tem o Remus pra salvar o Pontas.


- Que diabos é Pontas? – Katie olhou-o curiosa.


- É só um apelido – deu de ombros, pegando um dos últimos troféus que fora entregado por Peter.


- Por que desse apelido? – pegou o troféu e guardou na prateleira.


- O cabelo – disse sem muita importância.


- E o seu? Do Remus? Do Peter? Todos vocês tem apelidos né?


- Sim. O meu é Almofadinhas. Do Peter é Rabicho e do Remus é Aluado.


- Por que tanto apelido estranho? – ela riu fraco.


- Ah... Eu... Eu não sei – ele ficara sem graça. Aqueles apelidos eram por conta das suas transformações em animagos, e Remus, em lobisomem. Ele não poderia explicar sem falar sobre isso. E eles eram obrigados a guardar esse segredo, porque serem animagos ilegais, com as consequências de os outros saberem disso, não seria uma boa coisa para eles viverem. E Remus não queria que ninguém soubesse que ele era lobisomem, e não iria trair a confiança do amigo de nenhum jeito.


Katie percebera que ele mentira, e que não iria falar. Então deixou quieto, e guardou o último troféu na prateleira de cima.


- Finalmente acabou – Peter disse, se levantando, e se espreguiçando.


- Disse o que eu diria Rabicho – Sirius também se levantara e estava estalando suas costas e seu pescoço. A garota também se levantou, tirando a poeira de suas vestes.


- Vocês já podem ir pro Salão Comunal – Ana disse recolhendo os panos e baldes com água suja. Colocou a água dos dois baldes em um só, e pegou os panos em sua mão.


- Não quer ajuda? – Sirius disse levantando uma sobrancelha.


- Não precisa – disse cansada. Mas mesmo assim Sirius pegou os baldes e colocou um em cima do outro. Deu alguns passos para frente, mas parou, olhando para trás, vendo que a garota não o seguia.


- Não vai levar esses panos? – olhou para as mãos dela.


- Ah. Claro. Vou – ela disse rápida, e então começou a andar ao seu lado. A garota se surpreendeu por Sirius Black estar ajudando-a. Ele não tinha essa fama. Sua fama era de ficar com todas as meninas possíveis e depois as largar sem dar alguma explicação. Será que ela era alguma dessas meninas estúpidas? Mesmo ela sendo chata e irritante com Evans, Greengrass e McKinnon, não significava que era estúpida. E não significa também que era burra e cega o suficiente de ficar com o maior galinha de Hogwarts. Mesmo não parecendo, era uma pessoa de princípios, e em seus princípios não tinha nenhuma palavra sobre beijar o menino que mais tinha beijado meninas em seis anos, que ela conhecia. – Por que tá fazendo isso? – perguntou desconfiada.


- Só queria ajudar – deu de ombros.


- Não é muito do seu feitio.


- Que bom saber a opinião dos outros sobre mim. – ele riu fraco, e ela o acompanhou. Sirius sempre teve uma ideia dela. A ideia das garotas. Achava que ela era irritante, competitiva, fazia de tudo para que as garotas se dessem mal. Mas olhando agora para ela, longe de Lily, Marlene e Katie, ela não parecia essa pessoa. Parecia uma pessoa cansada de tentar ter algum brilho ao lado das três garotas perfeitas da escola. Cansada de ser posta em segundo lugar em tudo.  Ele a olhou de soslaio e percebera que ela não era feia. Na realidade ela era bonita.


Era loira, com os cabelos que batiam até sua cintura, totalmente cacheados. Seus olhos eram cor de mel. Sua pele era meio branca, um pouco bronzeada. Ela era alta. Não chegava a passá-lo, mas era mais alta que a maioria das garotas. Seu rosto era fino e seus lábios um pouco carnudos. “Esse é meu tipo”, ele pensou maroto. Mas mesmo assim, ele não estava com vontade de fazer nada com a menina. E estranhou isso.


Talvez fosse porque naquele momento ela estava cansada, ou meio vulnerável. Não queria se aproveitar da garota, mesmo que anos atrás ele teria feito isso sem nem pensar duas vezes. Ou mesmo nesse ano. Meio que não se importava se a garota estava bem, ou se estava vulnerável, se queria ou não queria. Ele conseguia o que queria.


Guardaram os baldes e panos em um dos armários de limpeza e foram rumo à Sala Comunal.


-x-


- Finalmente – Marlene disse escandalosa, pulando pelo corredor escuro. Lily riu. – Estou livre. – levantou os braços e girou em volta de si mesma.


- Você sabe que temos mais dois dias de detenção né? – Lily disse, ainda rindo. A garota parou e olhou a amiga, brava.


- Tinha que ser a estraga-prazeres. – revirou os olhos.


- Lílian Evans é tão insensível que estraga a vida até da amiga – James disse atrás das garotas, rindo.


- Não sou eu, nesse corredor, que é insensível Potter. – disse sem se virar para o garoto.


- Quer dizer que sou eu o insensível? – o garoto retrucou.


- Não fui eu quem falou isso. Você falou por si só. – ela se virou, mas continuou andando de costas. Deu de ombros, rindo fraco.


- Acho melhor não discutir com a Lily – Remus disse, colocando a mão no ombro do amigo.


- Sábias palavras Remus – a ruiva disse e se virou novamente, andando ao lado de Marlene. Ela, a amiga e Tate riram do comentário. Remus ficou com o riso segurado na garganta, em respeito ao amigo. Caminharam até o retrato da Mulher Gorda em silêncio.


- Senha? – a mulher do retrato perguntou, com a voz meio embargada. Lily viu uma garrafa de vinho largada no chão da pintura, e a taça na mão gorda da mulher. Ela cutucou Marlene e apontou discretamente. Ambas riram fraco.


- Sopro de dragão. – Tate disse, e ela abriu o retrato.


- Ah, Remus – Lily se virou para o garoto que estava atrás de si. – Ainda temos que fazer nossa ronda.


- Verdade – franziu o cenho. – Tinha me esquecido disso.


- Bom, pensei que vocês lembrariam, porque eu e a Ana já supervisionamos vocês – Tate disse.


- Estávamos tão cansados que nem lembramos – Lily disse olhando o monitor. – Eu preciso pegar meu distintivo. Você tá com o seu? – voltou-se para o amigo.


- To sim. Fico te esperando – disse e encostou-se na parede, dando passagem para os outros. Katie e Peter tinham acabado de chegar.


- Cadê o Sirius? – Remus perguntou. Era o único que sobrara.


- Ele foi ajudar a Rinkel – Katie disse revirando os olhos. Remus riu. Sabia muito bem o que significa “ajudar” na cabeça do amigo. Os dois que tinham acabado de chegar também entraram para a Sala Comunal. Passado alguns segundos Sirius e Ana apareceram. – Demoraram – Remus deu um olhar significativo para o amigo.


- Sirius me ajudou – Ana disse sorrindo.


- Foi, é? – Remus levantou a sobrancelha. Olhou da garota para o amigo. Ela entrou. – Você não presta né Sirius.


- Que foi que eu fiz agora? – disse levantando as mãos, em sinal de rendição.


- Você beijou a Katie hoje, e beijou a Rinkel. Mesmo pra você é muita coisa.


- Juro que não fiz nada com a Rinkel – disse dando um olhar significativo. – Eu bem que queria – sorriu maroto fazendo o amigo revirar os olhos. – Mas não fiz.


- Por quê?


- Sei lá. Não tinha vontade. Ela parecia cansada e vulnerável – deu de ombros.


- E desde quando isso te impede?


- Exatamente. – disse com convicção passando pelo buraco no retrato. – Acho que passo tempo demais com você, e to ficando igual. – terminou, sobre ombros. Lily passara por ele naquele momento.


- Ele deveria passar ainda mais tempo com você. Talvez pare de ser do jeito que é – disse andando ao lado dele.


- Ele não é tão ruim quanto parece. – Remus riu.


- Não condiz com sua aparência, atos.


- Você julga muito Lily – Remus riu fraco e ela corou um pouco.


- Só digo o que penso – deu de ombros.


- Não quero julgar também, mas é que você julgando desse jeito, bom... As pessoas podem pensar coisas ruins sobre você.


- Já pensam só por eu ser nascida trouxa – disse rápida e meio ríspida. Suspirou. – Desculpa, não queria falar assim – ela olhou para ele. – É que é muita pressão sobre mim. As pessoas me julgam desde o primeiro dia. Como julgam os outros nascidos trouxas.


- Deve ser horrível – ele disse franzindo o cenho. Pensou em como seria se as pessoas soubessem que ele era lobisomem. Somente com a lembrança do olhar aterrorizado da pobre criancinha há alguns anos atrás quando o olhou, arrepiou-o. Não quis mais pensar naquilo.


- Tá tudo bem Remus? – Lily disse preocupada, colocando a mão no ombro dele, levando um leve choque pelo simples ato. Ela percebeu que ele não respirou certo naquele instante. Ele respirou mais rápido e descompassado, parecendo que tinha acabado de percorrer uma longa distância correndo.


- Tá sim – tentou mudar de assunto. – E o que foi que aconteceu hoje na biblioteca? – riu um pouco fraco. Lily revirou os olhos e suspirou.


- Potter é um idiota. E o melhor jeito pra ele de me beijar é me agarrar, e me forçar a isso.


- Não parecia que ele tava forçando você – ele riu, agora mais forte. Ela deu um tapa em seu braço, um pouco forte. – Ai – riu novamente. – Mas é sério. A cena que eu vi não pareceu que você tava tentando evitar. Você tava parada. Parecia que tava esperando ele fazer alguma coisa.


- Er... Eu não tava esperando – ela disse meio sem graça. Nem ela tinha entendido seu ato anteriormente. Ela não sabia o porquê de ter ficado parada somente olhando o garoto. – Eu sabia que ele não iria fazer nada. Por isso não fiz nada.


- Você sabia é? Como? – Remus ainda ria.


- Não quero mais falar sobre isso – disse irritada e andou mais rápido.


- Ah Lily. Me desculpa. Não queria te aborrecer – ele tentou acompanhá-la. Riu fraco, meneando a cabeça. – Não seja tão chata – ele disse e passou um braço sobre o ombro da garota, apertando-a contra seu peito largo.


E como acontecera mais cedo, no almoço, o estômago de Lily afundou, e ela não sabia mais respirar direito. “Pronto, não tem mais escapatória”, pensou, desesperada. Olhou para o lado e viu a boca dele sorrindo para ela. Ela sorriu de volta, sem perceber tal ato, ainda olhando para os lábios do amigo.


Respirou profundamente e se virou, tentando esquecer o que estava acontecendo no seu estômago. Parecia que a comida que comera aquele dia iria voltar. Mas no segundo seguinte parecia que ela estava intacta. Parecia que tinha algum bicho voador em sua barriga, descontrolado, tentando sair da mesma, igual a alguma mosca tentando sair de algum lugar, mas só batesse na janela.


Tentou respirar tranquilamente. Logo, logo ele tiraria aquele braço, e ela poderia ficar a uma distância segura. A uma distância em que não desse uma vontade de pular nele e beijá-lo da forma mais selvagem, violenta e sedenta que ela conseguiria no momento.


Mas aquele momento não vinha. E parecia durar uma eternidade. O cheiro do perfume do garoto já estava dentro dela, acordando os instintos femininos da garota. Ela olhava de soslaio e o que conseguia ver era a boca do garoto, sem fazer nada. “Essa boca sem ter outra colada nela, é um desperdício total”, pensou, não tendo muita força para se controlar.


Seu coração batia muito rápido. Três batidas a cada segundo. E ela se perguntava como ele não ouvia aquele coração quase saindo do peito da garota de tão forte que estava sua batida. As mãos dela ainda estavam ao lado de seu corpo. Uma dela sendo esmagada pela lateral do corpo dos dois.


Ela se arrepiava de cinco em cinco segundos. E seus instintos femininos estavam devorando-a por dentro, e não sabia mais o que fazer para controlá-los, porque ela não conseguia mais controlar seus pensamentos, o que não requereria muito esforço.


Então, Merlin atendera seus pensamentos desesperados, e eles acabaram a ronda. Ele se soltou dela e foi em direção a Mulher Gorda. Mas antes ela o chamou:


- Remus. Espera ai – as palavras saíram rápido, antes que ela pudesse pensar no que diria a seguir. Ela ficou o dia todo pensando se deveria falar alguma coisa do que acontecera naquele dia. Decidiu não falar nada, mas naquele momento tinha se esquecido de tudo.


- Sim? – respondeu se virando para ela.


- Eu queria falar sobre... Sobre... Um menino – disse sem pensar, mas se arrependeu depois.


- Oh! Claro. Mas por que eu? – ele disse meio indeciso.


- Eu quero uma opinião masculina – sorriu fraco. Ele assentiu para ela continuar. – Tem esse menino. Que até então eu não sabia que poderia acontecer alguma coisa entre a gente. – ele concordou, mostrando que estava prestando atenção – Não tinha acontecido nada até então. Mas hoje aconteceu. E foi novo. Algo que nunca tinha acontecido comigo antes. E não sei se eu queria que isso acontecesse, porque pode ficar estranho entre a gente. Mas é bom o que to sentindo quando fico perto dele. – ela parou e respirou profundamente.


- Eu acho que sei de quem você tá falando – ele disse, assim que ela parou de falar.


- Sabe? – o coração dela começou a acelerar. Disse com expectativa.


- Sim. Do irmão do Luke. Aquele que a Marlene disse que você tem uma queda. – o coração dela desacelerou. Ela franziu o cenho, meio desapontada. “É você seu idiota”.


- Ah é. É sim, o Brand. – concordou, meio relutante, e mentindo. – Então... O que eu devo fazer?


- Bom, eu acho que você deveria falar pra ele isso. Se é novo, e você nunca sentiu, pode ser que você goste de verdade dele, e não que não seja uma mera paixonite. – disse carinhoso.


- Tem razão – ela sorriu, e ele acompanhou-a sorrindo também. – Acho que vou falar pra ele sim.


- Que bom que te ajudei. – ele disse e a puxou para um abraço acolhedor. Os braços dele foram para as costas dela, inteira, e os dela foram para o pescoço dele. O rosto dela também estava no pescoço de Remus e ela sentiu o perfume do garoto mais forte naquele momento, e se arrependeu por não ter coragem o suficiente de contar logo a verdade. Sentiu-o apertar ela mais contra seu corpo e ela sorriu, involuntariamente. Separaram-se e foram cada um para seu próprio dormitório.


-x-


- E entããããããão – Marlene cantarolou assim que Lily fechara a porta atrás de si.


- Não aconteceu nada – disse desapontada.


- Que houve? – Katie disse.


- Eu disse, sem citar nomes, o que eu tava sentindo, que era novo e tal, que nunca tinha sentido isso antes. Ai ele disse que sabia de quem eu estava falando. – as amigas pararam de respirar. – E ele disse que era o Brand – elas reviraram os olhos.


- O Remus é muito lerdo – Marlene disse.


- Ele não falaria isso se você não tivesse inventado isso naquela hora – Lily disse se despindo e colocando seu pijama.


- Eu tava tentando arrumar a caca que a Kay fez – Marlene apontou para a loira.


- Eu só tava tentando ajudar – disse com as mãos levantadas, em sinal de rendição.


- Que seja – Lily deu de ombros. – Tá claro que ele não gosta de mim. E não vou me expor a isso.


- Mas Lily... – Katie começou, mas foi cortada pela amiga.


- Mas nada Kay. Vou deixar do jeito que está – dito isso entrou em sua cama e puxou o cortinado. As amigas perceberam que esse seria o “boa noite” da amiga e fizeram o mesmo que ela. Foram dormir.

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Primeiramente me desculpem pela demora. Eu tava com bloqueio e demorei pra postar, mas está ai, um capítulo gigante. Segundo, quero dedicar esse capítulo pra Bru McKinnon Black porque ela foi linda e comentou primeiro, obrigada anjo. Terceiro, a Fran lindona me ajudou na parte Jily da biblioteca. E quarto, por favor comentem. Com o comentário de vocês faz com que eu não tenha vontade de largar, e que eu tenha inspiração pra escrever capítulos maiores e melhores. Só isso, obrigada por lerem.

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Comentários (3)

  • LeleCangane

    Adorei o capítulo, Má! essa fic está ficando otima! Beijos 

    2016-02-17
  • Morgana Pontas Potter

    Gostei, gostei!Tô meio atrasada para comentar, né? kkkkAchei interessante vc fazer o ship Remily, é bem original! 

    2014-08-31
  • Bru Mckinnon Black

    Capitulo DIVOOOO!! Hahahah!! Eu estou amando!!! Continuaaaaa!bjs 

    2014-07-08
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