Aquele do dia seguinte



- Relaxa Lily! Vai ficar tudo bem – Marlene disse, olhando para a amiga.


- É Lily – Katie concordou. – Vai ficar normal entre vocês dois.


- Eu to sentindo que não vai ficar – Lily disse impaciente tomando um pouco de seu suco. Olhou para a porta do Salão Principal, pela milésima vez no último minuto, e seu estômago se afundou vendo que os marotos entravam pela ela. Sentaram-se ao lado delas; James no meio de Lily e Remus, Sirius ao lado de Marlene, que estava ao lado de Katie, fechando com Peter.


Lily olhou significativamente para Remus, enquanto este pegava torradas e as colocava em seu prato.


- Bom dia Remus – ela disse, forçando o sorriso, para que não ficasse tremido. Ele somente sorriu sem mostrar os dentes, por milésimos de segundo, e depois voltou para suas torradas.


A garota olhou para suas amigas se esforçando para não derramar nenhuma lágrima. Kay e Lene a olharam de volta, franzindo o cenho, e tentando entender o que acabara de acontecer, apesar de já saberem o que era.


- Você tá linda hoje ruivinha – James disse sorrindo galante. Mas Lily não fez nada. Somente ficou olhando para frente. O garoto franziu o cenho, estranhando a atitude da garota. Ele pensou que ela iria revirar os olhos e falar algo como “você tem titica de coruja na cabeça” ou “você é um narcisista ridículo” ou até mesmo “a Lula Gigante tem mais inteligência que você”. Ele até pensou em sua voz irônica, debochada, e em como ela fica quando revira os olhos. Mas não aconteceu nada daquilo que esperava acontecer. – Eu disse que tá linda, lírio – continuou, mais perto dela, e falando um pouco mais alto. Ela suspirou se virando para olhá-lo.


- Hoje não Potter – e virou-se novamente para frente. Novamente, James, surpreendeu-se e deu uma risada seca.


- Tá de TPM ruiva? – perguntou, tentando irritá-la de alguma maneira.


- Eu disse hoje não – ela disse alto, se levantou abruptamente. Várias cabeças se viraram para ver a garota sair do Salão Principal rapidamente.


- Oi Lily – Luke disse para o vento, pois a garota nem percebera que ele acabara de passar por ela. – O que deu nela?


- Sei lá – Katie encolheu os ombros, e Marlene a imitou. Luke sentou-se no lugar em que antes Lily estava.


- Ela deve tá de TPM mesmo – James disse começando a tomar seu café da manhã.


- Não enche Potter – Marlene disse meio brava, olhando para ele.


- Também tá McKinnon? – Sirius se intrometeu, olhando para o lado, onde ela estava.


- Não começa, Black – ela também se virou, um pouco brava. Ele riu curto, e se virou para sua comida.


- Não acredito que Remus vai fazer isso com ela – Katie disse quase sussurrando, somente para Marlene ouvir.


- Pensei que ele iria agir diferente – Marlene disse, olhando de soslaio para o garoto. Ele pegara outro livro para ler. Dessa vez sobre Transfiguração – Acho que aqui não é um bom lugar pra falar sobre isso.


- É. Tem razão. Daqui dez minutos bate o sinal. Vamos ficar esperando Lily na sala. – Katie disse.


- Será que ela vai?


- Ela ainda é Lilian Evans. Não vai ser por isso que vai faltar na aula.


- Por isso o que? – James se intrometeu, tentando entender a conversa sussurrada das garotas.


- Não te interessa – Marlene sorriu cinicamente, fazendo-o rir seco.


- Tem algum problema com a Lily? – Luke disse, parecendo preocupado.


- Parece que ela se enganou a respeito de algo – Marlene disse com a sobrancelha levantada, ainda olhando para o garoto. Levantou-se e saiu do Salão, acompanhada por Katie.


- As mulheres são tão estranhas – Luke disse franzindo o cenho.


- Tem algumas que são piores que isso – Sirius disse, fazendo o garotinho rir. – Qual é sua aula agora?


- Herbologia.


- Não vai dar pra gente te levar. É lá nas estufas.


- Não tem problema. Eu consigo ir – ele sorriu, terminando de comer seus ovos com bacon. Sirius sorriu de volta. Olhou ao redor, percebendo algumas garotas o olhando, iludidas. Sorriu e piscou para elas. Elas deram risadinhas, e começaram a cochichar. Ele riu, meneando a cabeça.


-x-


Lily tinha ido para o sétimo andar, e sentou no chão, encostada em uma armadura. Queria ficar sozinha naquele momento. Ela ainda tentava entender o que tinha feito.


Repudiou-se por ter se exposto daquela maneira para Remus, e de tê-lo beijado. Mas mesmo assim ainda pensava que ele não iria deixar o acontecido interferir na amizade dos dois. Por tanto tempo foram amigos íntimos. Ela sabia de alguns segredos dele, e ele sabia de alguns segredos dela. Ele sempre a ajudou, e ela sempre retribuiu. Eram como irmãos.


Mas parecia que ele não pensava mais assim.


No momento que ele somente sorriu, forçadamente, aquele momento, foi pior que enfiar uma faca que tenha ficado no fogo por um dia inteiro, bem direto no seu coração.


Aquele foi o pior sentimento que sentiu em toda a sua vida. Foi o pior momento que vivenciou. Foi a pior coisa que podia ter acontecido com ela. Mas mesmo assim ela juntou todas suas forças para não chorar na frente dele.


Ela não entendia o porquê de ele ter feito isso. Ela disse que não significou nada, e que queria que ficasse normal. Pensou que iria ficar normal entre os dois.


Pura ilusão.


Estava se odiando por ter posto em risco a amizade tão querida deles. Odiava-se por ter acabado com uma amizade de anos em somente cinco minutos. Não entendia a si mesma, o porquê de ter feito o que fez. Ela deveria saber que o que sentia por ele nos dias passados era somente o coração dela tentando enganá-la. Tentando fazer com que ela se agarrasse em alguém porque precisava disso.


Fazia tanto tempo que não ficava enrolada com algum menino, que seu subconsciente se agarrou ao primeiro que foi gentil com ela. E o infeliz foi seu melhor amigo.


Ela odiava ainda mais seu subconsciente de tê-la traído daquela maneira. Pondo um fim em uma das mais importantes amizades que ela tinha.


Mas ainda odiava mais, acima de tudo, seu impulso. Impulso de ter falado para Remus que gostava dele, que era algo diferente. Impulso por ter se jogado em cima dele e de tê-lo beijado, sozinha, sem que ele fizesse mais nada. E impulso por ter falado que não era nada. Que se enganou naquilo.


Não que ela tivesse mentido para ele. Não. Porque ela realmente não gostava dele, não o amava. Ele era somente seu amigo mais importante, e querido.


Mas no momento ela ficara tão envergonhada e surpresa de ter descoberto que era tudo coisa de seu subconsciente que nem pensou direito no que deveria ou não falar.


Ela deveria ter explicado melhor o que era aquilo, o porquê de ter feito aquilo. E jurar que não iria fazer mais nada, que não iria comentar nada disso com ninguém. Queria ter falado que tava tudo bem, e que a amizade não deveria se corromper por mero deslize, pela estupidez que ela tinha feito.


Mas ela não fez.


Ela não teve forças para olhá-lo nos olhos e dizer tudo. Ela estava assustada. Como uma garotinha. Como uma garotinha que se assusta quando um galho seco bate em sua janela por causa do vento. Por ouvir os móveis de madeira se estalar, como sempre fazem, e pensar que é algum monstro andando pelo seu quarto, tentando assustá-la.


Ela não disse nada. Não fez nada do que queria ter feito. Somente correu, pra se esconder e pensar que foi um sonho. Que nunca acontecera. Que no dia seguinte eles iriam se abraçar, como irmãos, e ele ainda iria se importar com ela.


Mas lá estava ela, ouvindo o sinal bater, sentada no chão frio de mármore, chorando silenciosamente, tentando tirar o peso enorme que estava esmagando seu coração. Mesmo que fosse muito e ela teria que ficar dias e dias tentando tirá-lo para não esmagá-lo, fazendo com que ele partisse em mil pedaços.


Respirou fundo três vezes, tentando se acalmar. Ela não podia deixar isso abalá-la. Mesmo que já o tivesse feito. Limpou seu rosto encharcado e se levantou.


Deveria já estar na sala. E foi pra lá que ela andou.


-x-


As meninas estavam preocupadas. Fazia cinco minutos que batera o sinal para a aula de Defesa contra as Artes das Trevas, e não tinha nenhum sinal de Lily. Geralmente o professor chegava depois de dez minutos do sinal batido, para dar tempo a todos para chegar na sala.


Mas Lily não estava lá. E elas ficaram preocupadas.


Ela não era disso, não se atrasava nas aulas. Só se fosse armar alguma peça. Mas tinham certeza absoluta que não era isso.


Toda hora que chegava alguém na sala elas olhavam, para ver se era a Lily, mas nunca era.


Todos já tinham entrado nela, e esperavam o professor, que estava cinco minutos atrasado, como normalmente.


- Cadê a Evans? – James perguntara olhando de uma pra outra, com o cenho franzido.


- Preocupada com ela James? – Marlene disse com a sobrancelha levantada e com um sorriso de canto. Ele revirou os olhos.


- Ela não se atrasa né?


- A gente não sabe onde ela tá – Katie disse cortando sua amiga, para que não prolongasse a conversa. Olhou para a porta e suspirou, apontando.


No instante que o professor passara pela porta, Lily apareceu. James foi se sentar em seu lugar; à frente de Sirius e Remus. Lily chegou, sem olhar para ninguém, e se sentou ao lado do moreno.


Não demorou nem cinco minutos e caiu um pedaço pequeno de pergaminho. “Onde você tava?”, ela leu, conhecendo a letra de Marlene. Escreveu: “Depois te falo”.


- Não quer que ninguém saiba? – James disse baixo, olhando para ela.


- Por que a pergunta? – disse irônica com a sobrancelha levantada. Ele riu fraco, e ela sorriu de lado.


E de repente o estômago do garoto afundou. Virou-se para frente rapidamente, assustando a garota, que nem ligou muito, pois o professor acabara de começar a falar.


“O que foi isso James Potter?”


“Isso o quê?”


“Não tente fazer joguinhos com sua consciência babaca.”


“Que joguinhos?”


“Para de ser infantil.”


“Eu não sei do que tá falando.”


“Sabe sim. Por que seu estômago afundou?”


“Fome.”


“JÁ DISSE PRA PARAR COM OS JOGUINHOS.”


“EU NÃO SEI TÁ BOM. ELA SÓ SORRIU, E ELE AFUNDOU.”


“Você gosta da Evans.”


James balançou a cabeça tentando não parecer louco ao discutir com sua consciência.


Sua consciência errada e idiota, que não sabia diferenciar fome de gostar de alguém.


Ou será que ela sabia?


“Não. Eu não gosto da Evans. Só gosto de zoar ela, e a ver ficar brava. Vê-la ficar vermelha de tão brava. Vê-la revirar os olhos tão engraçadamente quando acha que estou sendo estúpido ou ridículo, ou seja, o tempo todo. Ficar olhando para ela de cinco em cinco segundos pra ver se ela já parou de ser tão linda assim. Caralho, eu gosto da Evans”.


O garoto respirou fundo muitas vezes, tentando fazer seu coração parar de palpitar incessantemente e descompassado. Seu peito subia e descia rapidamente. Arfava. Tentava se controlar. Mas não tinha muito sucesso.


 Lily olhou para ele com o cenho franzido, percebendo o peito dele subir e descer muito rápido. Mas do que deveria em apenas meio segundo.


- Tá tudo bem Potter? – ela disse baixo se virando para ele.


- Hãn? – se assustou – Ah claro. Sim. Perfeitamente bem. – disse olhando para ela, forçando um sorriso. Ela continuava com o cenho franzido.


- Tá com falta de ar? – sussurrou, chegando perto dele. E foi aí que ele sentiu o cheiro pouco doce do perfume da garota entrando pelas suas narinas.


“Pronto. Já era. To com o cérebro embaralhado.”


- Eu to. Faz respiração boca a boca em mim? – disse sem pensar, dando um selinho rápido na garota, antes dela perceber. Foi então que se arrependeu.


A cor do rosto da garota começou a ficar vermelho sangue. Jurava que conseguia ver fumaça saindo de seu coro cabeludo. Ela arfava também. Sua expressão mudou e ela poderia matar um rinoceronte com as próprias mãos.


TAP.


Todo mundo se virou na hora para ver o que acabara de acontecer e riram da cena: James acariciava sua face esquerda, vermelha, com a marca dos dedos da garota, com uma careta de dor e Lily cruzara os braços, olhando para frente, bufando.


- Algum problema ai atrás? – o professor Hughes olhou para os dois com um sorriso divertido nos lábios.


Shaw Hughes era o professor mais “desejado” em Hogwarts. Ele lecionava há três anos, e era bem novo. Não passava de trinta anos. Era bonito. Muito bonito. Todas as garotas tinham uma queda por ele, até as mais novas, que nem sabia o que isso significa direito.


Ele tinha cabelos loiros, bem claros, com os olhos igualmente claros, cor de mel. Era bem alto, quase dois metros, e seus músculos eram bem definidos. Geralmente as garotas o via correr pelo castelo bem cedo, antes mesmo de todos acordarem. Não importando se estava muito frio ou muito quente. Todos os dias ele corria. E algumas garotas, na concepção de Lily, Marlene e Katie, eram estupidamente retardadas por acordarem mais cedo que costumam acordar e se sentarem nos bancos, fora do castelo, só para ver o professor passar por elas e dar um sorrisinho de bom dia.


- Nenhum – Lily respondeu seca. Ele concordou com um aceno de cabeça, e voltou pra aula.


- Até parece que não tá acostumada com isso ruivinha – James disse ainda passando a mão em sua bochecha.


- Não vou discutir isso com você Potter – disse sem se virar para ele.


- Por que você é sempre assim? Tão estressada com tudo? – ele ficou olhando para ela, esperando pela resposta, mas não veio nada. Ela só respirava um pouco rápido, e olhava para o professor. Ele riu fraco e se virou para o professor.


Outro pedaço de pergaminho voou e parou em frente à Lily. Novamente era a letra de Lene.


“Você não quebra a sua mão toda vez que dá tapa no James?”


- Eu sinto seu osso quebrar no meu rosto – James sussurrou virando para ela e rindo. Ela só olhou pra ele brava, com a sobrancelha erguida. Ele riu novamente, se virando para frente.


“É bom descontar a raiva em alguém”


Escreveu e mandou de volta.


“Mas não em quem não tem nada a ver com isso


- Isso o que? – James disse, olhando-a novamente.


- Isso é particular – disse brava. Ele pegou o pergaminho dela rapidamente e o escondeu na mão.


- POTTER – gritou, e novamente todos olharam para ela.


- Algum problema Srta. Evans? – o professor perguntou novamente. Ela poderia falar que Potter tinha pegado seu bilhete, mas ia ter que falar que estava trocando bilhetes enquanto deveria prestar atenção na aula.


- Nenhum professor – disse meio corada. Não gostava muito desse tipo de atenção. Ele voltou a explicar a matéria. – Me dá esse pergaminho Potter. – virou-se para o garoto.


- Ou o quê? – ele riu fraco, vendo-a ficar cada vez mais vermelha. Escreveu sem ela olhar. Mandou para as garotas. Lily bufou de impaciência e ele riu mais ainda. O pergaminho voltou para Lily, e ela o segurou firmemente na mão. Ficou da cor de seus cabelos. Tinha duas frases. Uma de James e outra de Marlene.


“Ela me ama, e se machuca só pra tocar em mim. E é, eu não tenho nada a ver com isso, mas como eu disse, ela me ama, e só quer tocar em mim.”


“Isso é um amor incondicional.”


Olhou para o lado, onde as duas estavam. Ambas riam silenciosamente, tentando não fazer barulho para não chamar a atenção do professor.


- Incendio – apontou sua varinha para o pergaminho e este se reduziu a cinzas em segundos. Marlene, Katie e James riram.


-x-


O dia passou como se nunca fosse acabar. Torturante. Lily sempre sentava atrás de Remus, porque todas as aulas que ela tinha, ele também tinha, e incrivelmente James tinha. E como o moreno era seu parceiro nas aulas sempre tinha que se sentar com ela, o que a irritava profundamente.


James quem tinha causado isso. Ela tinha certeza. Ele não tinha confessado, e ela também não iria perguntar pra ele se tinha feito eles se sentarem juntos na primeira aula do ano. Tinha certeza também que suas amigas tinham o ajudado. Ele deveria ter pedido pra elas sentarem juntas, e deixar Lily sozinha pra que ele se sentasse com ela.


Peter não sentava mais com Remus, como de costume, por conta disso. Remus sentava-se com Sirius, sendo que ele era inseparável de James.


Por tudo isso ela achava que sentar do lado de James não era pura coincidência, e sim porque ele fez isso acontecer.


E como sempre ele a chateava nas aulas. Em todas elas, porque ele sempre estava. Em todas. Não dava nenhum descanso. Parecia que o tapa que recebera na primeira aula não mudou em nada. Como sempre. Ele poderia apanhar o dia inteiro, repetidas vezes, mas ainda continuava chateando-a, fazendo-a ficar com raiva, e ficar vermelha. “Ele deve ser sado masoquista, não é possível”, sempre pensava isso.


Até parecia que ele gostava disso. Gostava de vê-la nervosa. De receber inúmeros tapas dela. Mas nesse dia ela não estava muito a fim de notar o que ele falava. Só notou na primeira aula porque ele quase começou a beijá-la dentro da sala de aula.


James, obviamente, não sabia o porquê de ela estar ignorando todas as coisas que ele fazia ou falava. E estava preocupado. Assustado. Ela amava dar tapas na cara dele. Amava deixar a marca de sua mão pegando fogo na face dele. Só que naquele dia estava diferente. E ele percebera isso desde o café da manhã.


Começou a pensar sobre o bilhete de conversa entre Lilian e suas amigas, sobre ele não ter nada a ver com isso. Nada a ver com o quê? Ele queria saber. Talvez fosse por isso que ela estava estranha. Ela tinha escrito que era bom descontar a raiva em alguém. Ele queria saber por que ela estava brava.


Assim, todos os dias ela estava brava. Com ele. Mas naquele dia não era por causa dele. Ela já estava assim antes de ele ter falado alguma coisa.


Aquele dia era o dia mais estranho que já vivera até agora.


Estavam na aula de Feitiços. O almoço já tinha passado, e, James percebera, Lily mal comera. Suas amigas tentaram persuadi-la. Mesmo que ele estivesse tão longe delas ele conseguiu ouvi-las dizer que ela deveria se alimentar direito, senão iria passar mal depois.


Mas ela, como sempre teimosa, não queria comer mais que um pedaço da carne do dia. Saiu do Salão Principal rapidamente sem se preocupar com as amigas a chamando.


Estavam todos na aula, sentados como antes estavam na aula de DCAT. James olhava para Lily sem que ela notasse, pra ver se ela estava distante igual aos dias atrás. E novamente ela estava com o olhar fixo em algum ponto na parede, atrás do professor.


Ela mal anotava o que ele falava, e, mesmo o maroto não anotando nada em nenhuma aula, ele sabia que o professor estava falando coisa importante.


Ele lutou muito com seu consciente durante um minuto pra não falar com ela, pra não mostrar que estava preocupado com o que ela estava fazendo, mas mesmo assim a cutucou de leve.


- Lily? – ela se virou para olhá-lo, com a cara meio brava. – Tá tudo bem com você? – ela assentiu e virou para o professor. Continuou. – Você tá tão distante daqui da sala, nem tá prestando muita atenção. Certeza que tá bem?


- Eu to Potter. Muito bem – se virou para ele novamente, esboçando um sorriso, e voltou, mais uma vez para o professor à frente deles. Ele suspirou. Já sabia que não iria conseguir nada mesmo com ela. Mas não custou ter tentado.


Ficou quieto por um instante, pensando. Tentou lembrar se tinha feito algo horrível com ela, tão horrível que a fizesse ficar daquele jeito. Mas não conseguiu lembrar-se de nada. Ele fez todas as coisas que era acostumado a fazer com ela, todos os dias.


Foi então que em um lapso se lembrou do café da manhã, quando Lily dera oi para Remus e ele não foi educado como sempre era com ela. “Será que é isso? Será que eles brigaram por causa de alguma coisa?”


- Lily? – cutucou a garota novamente.


- Quê Potter? – ela se virou para olhá-lo com uma expressão de raiva. Ele podia deixar pra lá, e não perguntar, não mexer com a vida pessoal dela. Mas ele sabia muito bem que não iria conseguir fazer isso. Ele iria perguntar de qualquer forma.


– Você brigou com o Remus? – ela levantou uma sobrancelha, e engoliu em seco.


- Por quê? Ele te disse alguma coisa? – disse um pouco rápida.


- Não. É só que eu te vi cumprimentando ele no café da manhã e ele mal olhou na sua cara.


- Não... Não é nada. Não foi nada – se virou para frente rapidamente, antes que ele pudesse falar mais alguma coisa.


-x-


- Vamos Lily – Marlene a cutucava repetidamente.


- Não.


- Por que nããããão? – continuou cutucando-a. Estavam na biblioteca. Todas estavam no horário livre. Mas somente Lily tinha pegado um livro de Feitiços para fazer o trabalho que o professor pedira.


- Por que eu to com a cabeça muito cheia Lene.


- E é por isso que deveria entrar na marotice – Katie reforçou.


- Katie, lembra que você é a menos pirada de nós duas? A que não entra em confusão? – Lily levantou uma sobrancelha olhando para a amiga a sua frente.


- Eu sei. Mas problemas drásticos requerem medidas drásticas. Por favor. Pelo menos vai tirar Remus da sua cabeça.


- Acho isso impossível – a ruiva suspirou, abaixando a cabeça.


- Ah Lily. – Marlene disse fazendo a amiga levantar a cabeça – Por favor, não sinta pena de você. Ele é um babaca por ter feito o que fez. Não deixe ele estragar seus dias. Vai. Vamos bolar alguma coisa pras sonserinas. – ela olhou significativamente para Lily, que demorou um pouco antes de suspirar.


- Tá. Vocês venceram – Kay e Lene deram palminhas, rindo de leve.


- E o que nós vamos fazer com seu alvo preferido Marlene? – Lily olhou para ela com um sorriso de lado. O sorriso que antes estava na morena se alargou, mostrando todos os seus dentes.


-x-


- Remus? – James estava deitado em sua cama, com os braços atrás de sua cabeça, olhando para o céu meio embaçado que estava atrás da janela. Somente Remus estava no quarto com ele. Sirius tinha ido se encontrar com a “garota da semana”, era como eles chamavam quando James ou Sirius saía com garotas, e Peter estava na cozinha, tentando pegar mais bolo da sobremesa do almoço.


- Hãn? – ele estava lendo Estudos Avançados no Preparo de Poções deitado de barriga pra baixo em sua cama.


- Você e a Lily brigaram? – disse sem hesitar. Remus olhou para o amigo por cima do livro. Engoliu em seco.


- Por... Por quê?


- Porque você nem cumprimentou ela no café da manhã. E normalmente você dá um sorriso tão grande que quase rasga sua boca de fora a fora. – se virou de lado para olhar Remus que revirou os olhos.


- Não é nada.


- Ela disse a mesma coisa quando eu perguntei isso pra ela – ele levantou uma sobrancelha.


- Você virou investigador agora? – Remus fez o mesmo.


- Por que tá tão nervoso? Por que tá na defensiva? – James se sentou na cama franzindo o cenho. – Foi uma pergunta inocente.


- Não tem nada de inocente em você James – virou-se na cama para deitar de barriga pra cima e de costas para o amigo.


- Se eu não te conhecesse diria que está escondendo algo de mim Remus.


- Você me conhece muito bem James.


- Eu sei. – deu uma pausa olhando a parte de trás da cabeça do moreno. – E eu sei que você tá mentindo. – Remus largou o livro em sua cama e se virou para encarar James.


- Como é que é?


- Eu sei que você está mentindo. Eu sei que vocês dois brigaram. A sua cara entrega.


- Tá claro que não me conhece. – saiu do quarto sem esperar James responder. O garoto respirou fundo olhando a porta recém fechada. Deitou-se novamente em sua cama com os braços atrás da cabeça.


- Eu vou descobrir o que os dois estão escondendo. Ah se vou – disse antes de fechar os olhos pra ver se conseguia tirar um cochilo rápido antes da última aula do dia.


-x-


- Vai logo Lily, para de enrolar. Você sabe que é você quem vai fazer isso – Marlene disse empurrando a amiga para entrar na estufa antes que a professora chegasse.


- Eu sei Lene. Para de me empurrar criatura – se virou para olhar a amiga. – Eu vou fazer isso. É só meio... nojento – fez cara de piedade.


- Todas nós achamos – Katie interviu. – Mas você não falou “eu não” – deu de ombros e a ruiva revirou os olhos.


Entraram na estufa olhando de um lado para o outro pra ver se tinha alguém por perto. Tinham algumas pessoas, mas estavam longe, e não conseguiriam ver direito quem era as três pessoas que estavam invadindo a estufa quando não tinha ninguém nela. Lily pegou a caixinha que estava por baixo de sua capa, abrindo-a com uma cara de nojo.


- Essa foi a pior ideia de toda. – ficou em frente a um dos vasos que estavam em cima das mesas grandes.


- Que isso. Lembra dos explosivins? – Marlene disse incentivando-a. As três deram um riso curto lembrando a marotice daquele dia. – Vai logo.


- Eu preciso de um papel – disse olhando em volta da estufa. Achou um pedaço de pergaminho solto na mesa da professora Sprout.


Colocou a caixa à sua frente, novamente com cara de nojo. Dentro dela tinham vários lagartos pequenos que se contorciam uns em cima dos outros. Cavou um pequeno buraco na terra que estava nos vasos com Ditamno, uma pequenina planta, parecida com cogumelo. Pegou alguns lagartos e colocou no buraco. Fez isso em todos os vasos daquela mesa.


A aula de Herbologia era com Sonserina. Elas sabiam que os sonserinos não iriam sentar na mesma mesa que os grifinórios. Então elas só tinham que chegar mais cedo e sentarem na outra mesa, para que as mesas, com os vasos cheios de lagartos, sejam onde os sonserinos irão sentar.


O resto do plano seria com Katie e Marlene.


Ultimamente estava difícil fazer bons planos para as marotices. Elas tinham feito muitos nos outros anos, que esgotaram suas criatividades. Os marotos sempre tinham uma nova a cada semana. Se bem que colocar os sonserinos de cabeça pra baixo não fosse realmente uma marotice, mesmo eles considerando isso.


As garotas só faziam esses planos, pra ninguém perceber que foram elas quem fizeram. Elas não encaravam os sonserinos e lançavam azarações. Mas ultimamente Marlene tem feito isso. Como Sirius e James.


Lilian e Katie desaprovavam. Algumas vezes. Porque nas outras os sonserinos mexiam com elas, e eles mereciam ficar com o tornozelo grudado no teto. Mesmo isso sendo coisa dos marotos, elas sabiam a azaração.


Voltaram correndo para o castelo, antes que alguém entrasse na estufa.


-x-


- Quando vai explodir? – Katie perguntou para Marlene, olhando para os lados, nervosa.


- Katie. Sossega. Vai entregar a gente – Marlene disse entre dentes.


- Quem vai fazer o que mesmo? – continuou. Marlene revirou os olhos fazendo Lily dar uma risadinha.


- Você os engrandece e a Lene explode – Lily sussurrou. A loira assentiu, ainda nervosa. Sirius, que estava à frente de Katie virou para ela.


- Tá tudo bem Katie?


- Sim. Por quê? – falou rapidamente.


- Toda hora você tá me batendo – ele sorriu de lado. – Posso pensar que é uma vingança pessoal sobre o beijo? – ele levantou a sobrancelha fazendo Kay revirar os olhos.


- Não tem nada a ver Sirius. Acha que o meu mundo gira em torno de vocês – foi a vez dela de levantar a sobrancelha. Ele riu.


- Eu disse pra você relaxar. Já já entrega a gente pros marotos – Marlene a olhou meio brava. Ela suspirou. – Eu te dou o sinal. – assentiu.


Como elas tinham previsto, os sonserinos não se sentaram na mesma mesa que os grifinórios. Elas tinham chego mais cedo que o costume e sentaram-se onde combinaram.


Já tinham se passado cinco minutos desde quando a professora começara a falar sobre as plantinhas que estavam no vaso. Marlene achava que era a hora perfeita, senão já iriam começar a mexer nos potes e iriam descobrir os lagartinhos. Sussurrou “agora” para Katie, que se virou para ela, fingindo conversar, tampando a boca.


- Engorgio – disse, olhando para os vasos dos sonserinos. A terra começou a subir, mas elas sabiam que era somente os vermes crescendo. Katie sorriu de lado e se virou novamente para a professora.


- Só quero ver a cara da Ophelia – Marlene disse baixo para Lily, que deu uma risadinha. E fez a mesma coisa que Katie, tampando sua boca e murmurando – Bombarda.


Um segundo depois os vasos começaram a explodir, um por um, sujando o rosto de todos os sonserinos com a gosma dos lagartos. As garotas começaram a gritar, tentando limpar, e os garotos começaram a se enfurecer. Os grifinórios na mesma hora começaram a gargalhar, olhando para eles. As meninas seguiram o embalo para não suspeitarem de nada.


E pela primeira vez no dia Lily não estava pensando em Remus, e em como ele a evitou naquela manhã.


As garotas não conseguiram segurar as lágrimas, causadas pelas gargalhadas, como tantos outros grifinórios.


As sonserinas continuavam a gritar, e os sonserinos estavam possessos tentando fazer com que a professora Sprout tirasse pontos da Grifinória.


- Acalmem-se – a professora tentava falar sob os gritos. – Parem de gritar. – continuavam a rir – SILÊNCIO – finalmente gritou, fazendo todos cessarem a risada, ou, no caso das garotas e dos marotos, colocarem a mão na boca para abafar o riso. – Eu quero saber quem foi que fez isso.


- Claro que foram os de costume – gritou um sonserino.


- Foram o Potter e o Black – Snape disse, em meio à concordância.


- E me diz seboso: como consegue ver na bola de cristal que fomos nós sem que o nariz atrapalhe? – James disse fazendo irromper outra explosão de risos, da parte dos grifinórios.


- JÁ CHEGA – a professora gritou novamente. – Eu vou descobrir quem foi. E quando descobrir essa pessoa ficará um mês na detenção. – as garotas engoliram em seco, fingindo não se preocupar. A professora limpou tudo com um simples floreio com a varinha e retomou a aula.


- Boa brincadeira. Mas acho que foi usada. Nós já fizemos isso – Sirius disse olhando para Katie que levantou uma sobrancelha.


- Vocês já fizeram muitas brincadeiras, mas com certeza essa é nova.


- Então tá confessando que foram vocês.


- Você que acha isso – ela sorriu de lado fazendo Sirius rir fraco e prestar atenção na aula, novamente.


-x-


- Essa deve ter sido uma das melhores brincadeiras que já fizemos até hoje. Viram a cara da Ophelia? – Lily falava olhando para o teto de sua cama. – Sem ofensas Katie.


- Seria ofensa se você me ligasse a ela – disse, também deitada olhando o teto de sua cama.


- E o melhor de todos – Marlene parou, para suas amigas prestarem atenção nela. – Desconfiam dos marotos – sorriu abertamente.


- Melhor coisa, com certeza – Lily disse rindo fraco.


- Eu disse que iria ser bom Lily. Sempre escute meus conselhos – Lene disse olhando para a amiga.


- Se eu fizesse isso já estaria a sete palmos do chão – disse se virando para olhar o céu através da janela de vidro. Ele ainda continha um pouco do azul do dia, mas já começava a ficar laranja por conta dos raios de sol se escondendo. Era uma visão linda, na definição de Lily. Ela sempre adorou o por do sol. Talvez porque a vista da janela de seu quarto dava quando acontecia. Ela nunca viu o sol nascer em sua casa, e em Hogwarts ela acordava depois de ele já ter surgido no céu.


Gostaria que algum dia conseguisse ficar acordada para finalmente ver o nascer do sol. Ou que acordasse antes do mesmo nascer. Provavelmente seria mais fácil a primeira opção.


- Mas pelo menos não pensou naquilo – Katie disse se sentando na cama e levando um olhar reprovador de Marlene. A loira deu de ombros.


- Obrigada por isso. Eu precisava mesmo – disse se sentando, como Katie. – Mas é que agora eu não tenho mais o que fazer. E involuntariamente fico pensando.


- Vamos bolar outra – Lene disse rapidamente.


- Não. Agora não. Depois. – se levantou de sua cama indo em direção à porta.


- Pra onde vai? – Katie perguntou.


- Andar um pouco. – saiu, deixando as duas amigas sozinhas no quarto.


- Eu acho que deveríamos falar com o Remus – Katie continuou.


- Se a gente mexer com isso a Lily vai ficar irada. Melhor não fazer nada – Marlene negou com a cabeça.


- E deixar ela pra baixo desse jeito? – a loira levantou uma sobrancelha. Lene deu de ombros. – Não sei se você percebeu, mas ela mal presta atenção nas aulas.


- Eu percebi.


- E ainda não quer fazer nada? – Katie levantou um pouco sua voz.


- Ficar brava não vai adiantar de nada.


- Mas se importar vai.


- E quem disse que eu não me importo? – Marlene também levantou a voz.


- Não está parecendo.


- Eu me importo muito com a Lilian, Katie. Me importo mesmo. Mas não vai adiantar nada a gente ir falar com o Remus se depois disso a Lily não falar mais com a gente.


- Mas a gente pode tentar. Não vai custar nada.


- Pode custar a paciência da Lilian. Você não tá entendendo – Marlene ficou frente a frente com a garota, que tinha se levantando.


- Eu to entendendo que você não quer tentar arrumar isso por medo da Lily não falar mais com você. Ela vai entender.


- Você conhece a Lily? – perguntou, sarcástica.


- Conheço muito bem. Depois de um tempo brava ela vai esquecer.


- Eu não quero me meter na vida da Lily, Katie. E você não deveria – apontou o dedo pra garota.


- Eu vou. E você não vai me parar – saiu do quarto, batendo a porta forte. Marlene respirou fundo, passando as mãos no cabelo tentando se acalmar.


Era difícil perder sempre a paciência por tão pouco. As amigas dela eram acostumadas a sempre vê-la brava com alguma coisa, mesmo que fosse mínima. Mas a parte difícil era ficar brava com uma de suas amigas, principalmente por algo que não precisava ter ficado.


Mas quando se tratava de ajudar uma amiga que ela tinha certeza que não gostava que se metesse na vida dela, ela tentava ficar de fora, e tentar fazer com que não se metesse nos problemas dessa amiga.


Ela sabia que se aborrecesse Lily a garota não iria ficar bem durante alguns dias. Ela iria descontar em todos, mesmo que estes não tivessem nada a ver com o ocorrido, e ia ficar martelando durante dias, e não iria prestar atenção nas aulas. E depois ficaria maluca tentando ir atrás do tempo perdido.


Ela conhecia Lily muito bem pra saber que não deveria se meter na vida dela pra não tirá-la do sério e consequentemente atrapalhar o então perfeito currículo escolar da amiga.


Mas Katie parecia não pensar assim. Ela queria ajudar sempre. Ela sempre tinha boas intenções, e pensava que iriam entender o porquê de ela ter feito o que fez, mas normalmente as pessoas não entendiam, e ficavam bravas com ela. E demoravam pra voltar a se falarem normalmente.


Marlene sabia que era boa intenção, mas Katie não deveria fazer nada. Deveria deixar Lily resolver todo o caso sozinha. Sem interrupções. Mesmo que fossem das amigas.


Respirou fundo novamente e se deitou. O jantar não saia antes das sete, e ainda eram cinco horas da tarde. Tentou relaxar, deixar a raiva e o aborrecimento pela briga ocorrida mais cedo de lado.


-x-


Lily tinha acabado de sair de seu dormitório. Seus pensamentos voltaram para Remus. Involuntariamente, é claro. Se ela conseguisse controlar isso certamente não o faria. Pensaria em o que comeria naquele jantar.


Mas não estava com fome. Como no almoço.


Desceu as escadas que dava para a intersecção dos dormitórios, mas parou ao ouvir seu nome. Abaixou-se para que as pessoas não a vissem. Era Ana Rinkel e sua amiga de cabelos negros que sempre estava perto.


- ... entregar a Evans.


- Eu não vou entregar ela pra McGonagall, Tracy.


- Mas deveria – a garota falou meio brava.


- Por que você quer que eu faça isso? – Ana cruzou os braços.


- E por que você não quer fazer isso? Que eu saiba você odeia as três. E você viu o cabelo gigante e vermelho cor de água de salsicha da Evans entrando nas estufas. A McGonagall vai ficar grata por você falar que foram elas quem colocaram os bichos nos vasos.


- Eu não vou falar nada.


- Qual é o teu problema?


- Qual é o seu? Você tomou minhas dores por acaso? Que eu saiba não somos melhores amigas. Só andamos juntas quando você não tem mais nada pra fazer. Eu sou seu estepe e você toma minhas dores? – Rinkel começara a falar alto.


- Só quero fazer elas pegarem detenção, como você sempre quis. E estragar o currículo da Evans pra que você possa ser a melhor da escola.


- Isso quem decide sou eu e não você. E esse plano nem tá mais em execução. Eu nem penso mais nele. E você não deveria, já que não tem nada a ver com você. – a garota começou a descer os degraus, mas parou e se virou para olhar a morena. ­– E espero que você não abre o bico pra ninguém. Aliás, não foi você quem viu a Evans. Você não deveria falar por mim. – desceu o resto da escada. A morena foi em direção a Lily, que se esgueirou para trás do vaso com uma planta com folhas gigantes. A garota passou por ela sem notá-la, e ela respirou fundo.


- Olha por onde anda, Greengrass – ouviu a garota gritando rude, e viu sua amiga passando por ela.


Iria chamá-la para contar o que acabara de ouvir, mas não o fez. Ela ainda queria ficar sozinha e ver a amiga agora não conseguiria mais. Com certeza ela iria pra fora. Marlene não estava com ela, e a loira não tinha que estudar agora. Então não tinha o porquê de se sentar na Sala Comunal.


Levantou-se e foi até onde dava pra ver toda a Sala Comuna. Viu a amiga andando e olhando para todos os lados. Parecia procurar alguém. E achou.


- Remus. Vem aqui agora. Preciso falar com você – disse parando em frente ao garoto que estava com seus três amigos sentados nas cadeiras mais confortáveis.


- O que você tá fazendo Katie? – sussurrou para si mesma. Ouviu a voz de Sirius:


- Se eu fosse você, Aluado, iria sem objeções.


- Cala a boca que eu não te mencionei Black – a ruiva percebeu que a amiga estava brava. Muito brava. E ela sabia o que a loira iria fazer, se não interrompesse. Saiu correndo até onde estava.


- Katie – falou um pouco alto olhando significativamente para a amiga. – Te achei. Vamos?


- Não. Eu preciso falar com ele – a garota firmou o pé e cruzou os braços.


- Mas isso é mais importante – Lily se prostrou a sua frente.


- Com certeza não é.


- Katie – segurou o braço da amiga. – Esquece isso e vamos.


- Não vou Lily.


- Isso não tem a ver com você.


- Mas tem com você.


- Então me deixa resolver do meu jeito.


- Só quero ajudar Lil – franziu o cenho.


- Eu não quero sua ajuda Katie. Me deixa fazer do meu jeito. – as duas ficaram se encarando por alguns segundos até a loira suspirar e murmurar “Ok”.


- Só eu que não entendi isso? – James disse olhando de uma para outra.


- Você não tem nada a ver com isso – Lily se virou para o garoto.


- Queria muito ter a ver com isso. Parece emocionante – sorriu de lado, sarcástico fazendo Lily revirar os olhos e murmurar “Babaca”.


A garota passou o olho por Remus por dois segundos, na hora que ele a olhava. Nesses segundos deu um olhar de desprezo, tentando transmitir algo, e empinou o nariz.


- Vamos Katie? – a loira concordou e saiu da Sala Comunal, junto com a ruiva. – O que tava pensando Katie? – disse assim que a porta se fechou atrás das duas.


- Eu já disse. Eu queria te ajudar.


- Mas eu não quero ajuda. Se quisesse eu pediria.


- Eu sei Lily – Katie colocou uma mão no braço da amiga – mas eu queria fazer alguma coisa.


- Agradeço, mas me deixa resolver isso sozinha. Ele tava achando que eu não tinha contado pra ninguém. Nem pra vocês. Agora ele percebeu que contei. E ele pode contar pra todo mundo e vão saber a idiotice que fiz. – Respirou fundo, tentando conter as lágrimas que já queimavam seus olhos, tentando saltar pelas suas órbitas.


- Desculpa, Lily. Me desculpa – a loira abraçou a amiga forte, passando conforto.


- Tá tudo bem – Lily murmurou.


As duas foram pro jardim. Ainda era a primeira semana de aula, e os alunos do primeiro ano ainda estavam fascinados por Hogwarts. Estavam andando de um lado pro outro, olhando tudo, tocando em tudo, tentando passar pela cabana de Hagrid, mas, sempre que davam um passo de sua casinha, ele saia e ralhava. E os pequenos estudantes saíam correndo para o castelo. Lily ria, vendo aquela cena, sentada em um dos banquinhos junto a Katie.


- Eu me lembro do meu primeiro ano aqui. Queria tanto saber dos segredos de Hogwarts que ficava horas na biblioteca – Lily disse, rindo fraco, enquanto olhava os primeiranistas.


- Foi onde conheceu Remus – Katie arriscou. – Eu sei que você não que falar sobre isso... – começou.


-Exato. Por que ainda tá falando? – olhou para ela.


- Mas ainda acho que deveria esclarecer as coisas com Remus – continuou nem se importando com a pergunta da amiga.


- Eu já disse Kay. Eu vou resolver do meu jeito – disse cansada, olhando para frente. O professor de DCAT, Hughes, estava fazendo a caminhada do pôr do sol. Algumas alunas estavam observando-o e cochichando, dando risadinhas.


- Aparentemente esse não é o melhor jeito.


- Mas é o meu jeito.  Eu sei o que eu estou fazendo – olhou significativamente para a amiga. – Já vai passar. Você vai ver.


- Eu só não aguento ver o que acontece com você e não poder fazer nada. Você tá meio que se descuidando nas aulas, e você sabe disse – a ruiva, concordou. – Depois você fica toda paranoica. Para de comer só pra recuperar o tempo perdido, não sai da biblioteca, dorme de madrugada e acorda quando o sol nasce. Eu sei como você funciona Lily. Só quero ajudar.


- Katie, eu agradeço o que tá tentando fazer. Mas se não se importa é o MEU problema, e não seu. Não se mete. – disse começando a ficar nervosa. Ninguém entedia que Lily não gostava que cuidassem da vida dela. E, aparentemente suas amigas, depois de seis anos, ainda não a conhecia o suficiente para ficar longe de seus problemas. Katie virou para frente, se encolhendo. Lily fechou os olhos, se lamentando pelo que acabara de acontecer. Suspirou, profundamente. – Kay, desculpa. Você sabe como eu fico exaltada quando se enfiam na minha vida.


- Mas eu não sou qualquer um pra me enfiar na sua vida – ainda olhava pra frente.


- Não. Não é. Você é minha melhor amiga, junto com a Marlene. Mas eu devo resolver meus próprios problemas.


- Quando eu tenho os meus eu peço ajuda a vocês – agora ela se virou para encará-la. Franziu o cenho.


- Sim, mas eu sou diferente. Eu peço conselhos, mas gosto de resolvê-los sozinha.


- Tá – se virou novamente.


- Ah Katie. Por favor, não fica brava.


- Não to – disse áspera.


- Tá sim. – ela cutucou a amiga no braço. – Kay – cutucou de novo. – Kayzinha – novamente. Ela se virou para a amiga com cara de nojo.


- Kayzinha nunca mais – as duas riram. O professor estava passando por elas.


- Bom dia meninas – disse meio ofegante olhando para as duas. Elas acenaram com a cabeça.


- Ele piscou pra você Kay – Lily brincou e a loira empurrou-a de leve.


- Uh! Aquelas não gostaram – apontou para um bando de garotas. Tinham cinco, provavelmente do quarto ano. Elas encaravam as duas, cochichando. Lily e Katie eram maduras o suficiente para não ficarem “bobas” perto do professor. Elas só acenavam para ele, assim como Marlene, de um jeito simpático. Diferente das outras garotas que ficavam de risinhos, e bobinhas apaixonadas pelo professor, que na visão das três era a atitude mais ridícula de garotas de 14, 15, 16 e 17 anos podiam tomar. O professor só era educado com as alunas, e elas ainda achavam que ele queria alguma coisa.


Corriam boatos pela escola, como sempre, que ele foi visto com uma aluna do sétimo ano, no primeiro ano dele como professor na escola, em algum armário de vassouras. Como sempre todos falaram sobre e inventavam mais coisas, aumentando-as, fazendo com que o professor ficasse com a pior imagem possível.


O professor Dumbledore o chamou em sua sala para conversar com ele sobre isso, pra saber se era verdade ou não, conforme os boatos. Ele negou. E como não tinha nenhuma prova concreta não aconteceu mais nada. Dizem que às vezes, tentando pela sorte, ele fica com alguma garota do sexto ou sétimo ano em algum armário de vassoura. Mas ninguém mais o viu saindo de algum armário de vassoura com ou sem aluna. Mas mesmo assim continuam tais boatos.


- Nós estamos na mira dele esse ano – Lily disse rindo das garotas do quarto ano.


- Na mira?


- Ele sai com meninas do sexto e sétimo ano.


- Ah – elas riram. – Que momento mágico não? – disse irônica. Riram novamente.


- Já tá escurecendo. Vamos subir – Lily disse e Katie concordou. Passaram pelos corredores cumprimentando as pessoas, porque, querendo ou não, eram conhecidas. E todos queriam dar oi para elas. As duas davam oi de volta. Marlene não.


Ela tentava passar a imagem estereotipada de popular. Daquelas que mandam as pessoas saírem de seu caminho, que fazem maldades com os “não populares”, que não ligam pra ninguém se não elas próprias. Mas era somente imagem, brincadeira de Marlene, porque no fundo ela não tinha intenções de machucar as pessoas sem terem feito nada. Ela só queria brincar, e deixar as pessoas com certo medo dela, para que ela pudesse proteger as amigas. Principalmente Lily dos sonserinos.


Lily e Katie não ligavam de serem populares, porque as duas sempre conversaram com todas as pessoas do castelo, não se importando com nada. Mesmo Katie que vinha de uma família de puro sangue. Seu pai era irmão da mãe de Ophelia. Mas se deserdou um ano antes de casar com a mãe de Katie, que era puro sangue também, mas daquelas famílias que não se importavam com tal detalhe.


A loira sempre viveu em uma mansão, mas não se importava com isso. E mesmo sendo puro sangue, seus pais não menosprezavam, e não a fizeram menosprezar os nascidos trouxas ou meio puros. Só se irritavam quando tinham jantar de família em sua casa no Natal ou no Ano Novo.


Chegaram ao retrato da Mulher Gorda do Salão Comunal e ouviram a voz da Marlene gritando com uma pobre alma. Tentaram descobrir quem era, mas a risada latido de Sirius era estridente, e não deixava dúvidas de que era ele.


- SEU ESTÚPIDO ARROGANTE. – ouviram Marlene assim que entraram no Salão Comunal. – VOCÊ É UM PORCO IDIOTA. NUNCA MAIS TOQUE EM MIM.


- Não faz tanto drama McKinnon – disse entre risos.


- DRAMA? – afinou a voz, sem querer - VOCÊ ACHA QUE ISSO AQUI É DRAMA? ISSO AQUI É VOCÊ NÃO TENDO RESPEITO ALGUM POR ALGUÉM.


- Não é pra tanto. – ainda ria. Todos os olhares dali estavam neles, prestando atenção em cada palavra.


- CLARO QUE É PRA TANTO. VOCÊ NÃO TEM RESPEITO PELAS MULHERES, E NUNCA VAI TER. TODAS AS GAROTAS QUE VOCÊ BEIJOU VÃO ME APOIAR DIZENDO QUE VOCÊ É UM PORCO ARROGANTE. – ela tirou a varinha do bolso tão rápido que não teve tempo dele pegar a sua própria. – EXPELLIARMUS – gritou forte e intensamente. Sirius voou dois metros de altura, caindo do outro lado em um sofá. Sua varinha caiu do outro lado da sala. As garotas aplaudiram Marlene, e ela sorriu, satisfeita. – Nunca se esqueçam desse dia onde Sirius Black foi vencido por uma garota – disse olhando para todos. Subiu para seu dormitório.


- Que houve aqui? – Lily tinha sua atenção toda naquele momento para a briga, nem percebendo onde estava e quem estava do seu lado. Perguntou sem nem olhar antes. Mas ouviu um:


- Bom... – era Remus. Ela se assustou. Olhou pro lado dele e viu James.


- Que aconteceu James? – frisou seu nome, olhando para o garoto, fingindo nem se importar que Remus estivesse do seu lado. O garoto vendo aquela situação ergueu uma sobrancelha, rindo de lado.


- Pra isso que eu sirvo então?


- Se não quiser responder ótimo – se virou, começando a andar.


- Não. Espera ai que eu te conto – ouviu o garoto atrás dela, fazendo-a virar para olhá-lo. Ele ria de lado ainda.


- Pra que tá rindo? – ela levantou uma sobrancelha, permanecendo séria.


- Nada, é que, esse seu joguinho com o Remus tá ficando cada vez mais interessante.


- Não tem nenhum joguinho.


- Ah é? – levantou novamente a sobrancelha. – Então o que aconteceu agora foi...?


- Nada. Não aconteceu nada. Só queria ouvir por você – disse arqueando as sobrancelhas. Ele riu, irônico.


- Não subestime minha inteligência Evans.


- Então não me irrite Potter.


- Sempre tem resposta pra tudo.


- Pra coisas idiotas vindas de você, claro. – ela cruzou os braços, fazendo-o dar uma risada curta. – Vai me falar o que aconteceu ou não?


- Claro. – fungou rindo. – O meu bom amigo Sirius estava ao lado de sua amiga Marlene. Só estavam conversando...


- Duvido muito – disse.


- Posso terminar? – ele levantou, mais uma vez a sobrancelha, fazendo a garota suspirar nervosa. Ele riu, adorando vê-la nervosa por uma simples coisa. – Enfim, estavam conversando, ou discutindo sobre alguma coisa sem relevância. E sem querer Sirius apertou a bunda da Marlene.


- Sem querer? – disse, desacreditando.


- Quer contar a história Evans? – ela rolou os olhos. – Pois é, sem querer. Não foi culpa dele se ela estava tão perto assim. E ai deu no que deu. Você ouviu até que o começo da discussão. Onde as primeiras palavras cruelmente ditas por sua adorável amiga foram “O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO SEU CACHORRO MISERÁVEL?” – disse em falsete. Lily riu de sua ignorância.


- Com certeza ela estava perto o suficiente dele pra que ele apertasse sua bunda, com toda certeza. Ela deveria estar com a bunda virada pra ele também, e falando “aperte minha bunda Black” – disse irônica. Ele rolou os olhos.


- Se não quiser, não acredite Evans. É a verdade.


- Ah sim, eu estou concordando com você Potter.


- Você adora ser irônica né?


- Só com você – disse rindo de lado, fazendo-o franziu o cenho.


“Isso foi estranho”, pensou. “Por que ela disse isso?”. Ficou olhando a garota sair de perto dele, subindo as escadas para seu dormitório.

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Me desculpem por tanta demora. Acho que foram dois ou três meses sem atualização. Mas eu explico. Eu tava começando a ter provas e meus professores me lotaram de trabalho.Tive que fazer três pra uma semana. E ai eu não conseguia terminar o capítulo. E eu queria que ele ficasse bom, com algum conteúdo emocionante, e não só a Lily triste sabe. E foi por isso que demorei, porque não tinha ideias para esse conteúdo. Mas ai finalmente veio a ideia, só que eu não conseguia escrever e entrou a semana de provas, onde ferrou ainda mais. Hoje eu fiz minha penúltima prova. E vou ter a última nessa sexta. Então, pra compensar, vou escrever um pouco do próximo capítulo, um sneak peek, e vou postar aqui. Então, até o próximo, e obrigada por terem lido. 

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Comentários (2)

  • LeleCangane

    Adorei o cap, Má! Estou com dó da srta. Lily precipitada e desesperada Evans kkkk Mas tambem, o Remus, coitado, ficou sem entender nada kkkk Enfim, estou adorando, não vou te abandonar <3

    2016-02-20
  • Bru Mckinnon Black

    Ameiiii!!! Ah, e eu estou muitoooo feliz que você volto!! Hahaha

    2014-11-29
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