Quinto Capítulo



CAPÍTULO V


 


 


 


Era tarde quando Harry finalmente se levantou da mesa, vendo o mundo embaçado, o corpo entorpecido graças ao vinho. Os soldados haviam se retirado ou dormiam nos bancos, roncando, enquanto os servos ocupavam os cantos do salão iluminado pelo fogo da lareira e de um candelabro perto da cabeceira da mesa. Mesmo a adorável Sally estava quase adormecida a seu lado, e ele sentiu vontade de deixá-la, mas ela se mexeu quando ele se levantou.


 


Lançando um olhar ardente, Sally se espreguiçou, o movimento deliberadamente enfatizando os seios generosos dentro do corpete justo. Vendo-a acordada e ansiosa, Harry facilmente assumiu seu papel. Tomando-lhe a mão, conduziu-a a alcova escura sob a escada que levava a seu quarto.


 


Ela riu quando ele espalmou as mãos contra a parede, prendendo-a entre os braços. Sua cabeleira negra brilhava, bem como a curvas dos seios, e Harry mergulhou para beijar aquela pele macia. Entretanto, apesar dos encantos de Sally, não sentia o sangue ferver, o prazer costumeiro não se apresentava.


 


Irritado, Harry a segurou pela nuca e lhe trouxe a boca para junto da sua, com graça e habilidade. Ela emitiu um gemido fraco e se agarrou a seus ombros, entreabrindo os lábios ansiosa, e ele respondeu ao desejo. Provocando-a, o calor tomando conta de seu corpo, impedindo qualquer outra sensação.


 


Mas não aconteceu. Embora a mulher que se insinuava fosse jovem e ardente, o beijo seguia insípido. Harry tentou novamente, usando toda a sua habilidade e aproveitando a paixão da moça, mas o encontro continuou insatisfatório. Exatamente como tudo o mais em sua vida.


 


Recuando, ele sentiu uma onda de desespero tão grande que estremeceu. Jamais uma bela mulher falhara em despertá-lo, em abstraí-lo de si mesmo, mas ali estava ele, vazio e desanimado, embora a abraçasse. Que atitude tomaria quando mais nada o fizesse se sentir vivo e real, quando nada mais o tirasse da beira do abismo que o consumia por dentro?


 


Sally fitou-o ardente e Harry fechou os olhos, incapaz de encarar a ansiedade dela. Aquela mulher não tivera uma vida fácil e nunca conheceria uma existência livre. Ela teria que acordar cedo pela manha embora tivesse ficado acordada até tarde, ansiosa pela excitação que ele podia lhe dar. E ele se sentia um patife por não querê-la realmente, por não se excitar com o beijo e por não lhe dar o que ela ansiava.


 


Mas não podia. E se tentasse explicar, ela não entenderia. Como poderia, com sua vida simples? Ela acharia suas lamentações incompreensíveis, já que ele nascera no privilégio, no luxo e numa família que, se não amorosa, pelo menos o tolerava. Ele não podia lhe dizer que sempre fora diferente do resto dos irmãos, que só sentia parentesco com Draco, embora não tivesse uma perna ruim para justificar sua melancolia.  


 


Afastando-se da parede, Harry voltou o rosto.


 


— Vá, volte para o seu filho — murmurou, sem se importar em amenizar a dispensa. Afinal, o desapontamento dela não podia ser pior que o dele, que teria que enfrentar a noite sozinho.


 


 O dia seguinte amanheceu úmido e melancólico, dando a Harry uma desculpa para permanecer em Hogsmeade, ainda que a estadia antes tão convidativa não parecesse mais pertinente. Ao desjejum, sentiu o olhar de Sally e, pela primeira vez, viu-se desconfortável sob o escrutínio de uma mulher.


 


Harry não sabia exatamente o que acontecera na noite anterior, mas sentia uma espécie de culpa por não honrar a reputação. Bebera demais? Meneou a cabeça, cético, pois o vinho nunca afetara seu desempenho. Estreitou o olhar ao ver Hermione à janela, atenta ao céu, aguardando a ordem para partirem, apesar do tempo. Seria ela a afetá-lo? Discretamente, ajeitou-se por baixo da túnica, mas tudo parecia no lugar.


 


Talvez o olhar ameaçador dela o deixasse inquieto. Sim, devia ser isso, pensou Harry, pois a outra possibilidade era sombria demais para se contemplar. Já sentia a escuridão corroendo-o, censurando-o de tal forma que o vinho e as mulheres já não lhe proporcionavam o conforto costumeiro. Levantando-se de repente como que para escapar do mau agouro, foi para a cozinha. Talvez uma cerveja mantivesse a desolação sob controle, por enquanto.


 


Uma vez servido de uma caneca pesada, Harry procurou um canto longe do calor dos fogões, onde olhos femininos não o alcançariam com intenções maliciosas ou lascivas. Ali, sorveu o refresco em paz até Filch encontrá-lo.


 


— Aí está o senhor! A Srtª. Granger o procura.  


 


— Aposto que sim — murmurou Harry.


 


O empregado pareceu perplexo ao vê-lo num banquinho, escondido na despensa, mas com certeza não estava mais confuso do que ele mesmo.


 


— Quem você vê diante de seus olhos? — indagou Harry, concentrado na caneca.


 


Filch piscou enquanto puxava um barril e nele se sentava com um grunhido.


 


— Ora, meu lorde de Hogwarts, claro.


 


— Mesmo? — questionou Harry, erguendo a mão para afagar o mesmo cacho de cabelo familiar e o mesmo maxilar que barbeara pela manhã. — Estava pensando... já que não me sinto eu mesmo. — Sorveu um gole de cerveja.


 


— O que aconteceu, meu senhor? — perguntou o mordomo, com uma expressão preocupada.


 


— Não tenho certeza, mas acho que esta é a primeira vez em minha vida que me escondo das mulheres — confidenciou Harry, triste. — Um fato inusitado.


 


Filch inclinou a cabeça para trás e riu com vontade.


 


— Bem, se aquela com a touca mandou-o para o canto, eu não o culpo. Ela é do tipo assustador, sempre com o cenho franzido.


 


— Não assustador, exatamente — começou Harry, detendo-se ao perceber que defendia Hermione. Tomou outro gole de cerveja. --- Irritante, eu diria.


 


Assentindo sabiamente, Filch pediu mais cerveja e recostou-se na parede.


 


— Veja bem, há poucas mulheres de quem eu diria isso — observou Harry.


 


— Bem, se o senhor não é um especialista em mulheres, então não sei quem seria — respondeu o mordomo, pegando a caneca que urna serva lhe passava.


 


— Obrigado — disse Harry, aceitando o elogio como se fosse seu dever. Havia pouca coisa de que se orgulhava, mas sua reputação era indiscutível. — Sempre achei que já tinha nascido com um fraco pelo sexo frágil — comentou, apoiando a cabeça contra a parede áspera atrás de si.


 


Sim, sempre fora fascinado pelas mulheres, sob todos os aspectos, e, graças a uma adorável peregrina de passagem por Hogwarts, iniciara-se nas alegrias da companhia feminina bem jovem. Talvez devido a esse primeiro encontro, preferia um certo volume em suas parceiras, o que não significava que fosse exclusivista ou que não admirasse outras mulheres. Oh, como admirava...


 


Na verdade, havia muito as tinha em alta estima, desejando-as e precisando delas, não apenas pelo prazer que proporcionavam, como pela suavidade e ternura impossíveis de se encontrarem em companhia masculina. Embora nunca admitisse aquilo era parte da atração que sentia. Franzindo o cenho, pensou em Hermione Granger, aquela que não tinha nem um osso no corpo. Não admirava o fato de ele não a procurar.


 


— Seu irmão Ronald alega que o senhor nunca encontrou uma mulher de que não gostasse — observou Filch, rindo.


 


— Bem, não tenho tanta certeza — respondeu Harry. Afinal, tinha seus padrões e algumas mulheres, incluindo a rígida Hermione, não se adequavam. Ante as costas retas dela, o queixo erguido, a dignidade, queria destruir aquilo, arrancar-lhe aquela expressão de desaprovação do rosto e eliminar de vez a atitude desdenhosa dos lábios. — Ela me dá dor de cabeça — murmurou, sorvendo outro gole de cerveja.


 


— Quem?


 


— Aquela mulher Granger, a rapariga magricela sempre de cenho franzido. O que acha que ela tem debaixo daquela touca? — indagou Harry.


 


Filch riu.


 


— Acho que, se alguém pode descobrir esse alguém é o senhor.


 


Harry estremeceu.


 


— Acontece que não quero descobrir — declarou, embora soubesse ser mentira. De fato, talvez estivesse curioso em relação aos cabelos... Mas isso não significava que se empenharia em conseguir algum tipo de jogo com a moça carrancuda.


 


— Bem, se não quer pensar em mulheres, tenho algo que vai distraí-lo — declarou Filch. Abriu uma pequena bolsa à cintura e lançou um par de dados no piso. Harry riu e se esqueceu de todos os seus problemas, por ora, ao menos. No final da tarde, o jogo já se tomara bem maior, com vários cavaleiros aderindo e uma boa quantia em moedas mudando de mãos. Como sempre, Harry se saía bem, seu sucesso em qualquer jogo bastante notório. Na verdade, pela primeira vez desde que embarcara naquela jornada, sentia-se em casa, à vontade e se divertindo, até Hermione aparecer.


 


— Aí está o senhor! — exclamou ela, lançando um olhar azedo que o fez se sentir como um garotinho faltoso chamado diante do pai.


 


A sensação era quase desagradável, pois ele já passara da idade de sentir culpa por qualquer motivo. Ora, era adulto e um Potter, e não se deixaria intimidar por aquela magricela! Armado de cerveja e encorajado com a sorte, lançou lhe um olhar severo.


 


— Está falando comigo? — Erguendo a sobrancelha, falou num tom que cessou todas as conversas paralelas instantaneamente. Os dados rolaram, fazendo barulho no súbito silêncio e todos observavam o lorde e a moça que escoltavam.


 


— Claro! — afirmou Hermione, rompendo o silêncio. Mantinha o nariz erguido, olhando-o de cima, já que Harry encontrava-se agachado junto ao chão.


Ele se irritava com algo naquele olhar. Devagar, ergueu-se, endireitando o corpo até ficar mais alto do que a mulher que se atrevia a falar com ele daquela forma.


 


— Entenderá a minha confusão — murmurou ele.


 


— Veja, não ouvi o meu título. Com certeza, conhece-o, o sinal de deferência a mim devido? Mas talvez eu deva lembrá-la. É meu senhor — comunicou sério. Nunca exigira submissão de ninguém, mas também nunca vira uma mulher ousar afrontá-lo diante de toda a comitiva. Às vezes, uma dama podia tornar-se possessiva em relação a ele, ou querer demais dele, mas mesmo essas que ele desprezara nunca ousaram tratá-lo daquela forma.


 


Quem essa Hermione Granger achava que era?


 


Harry aguardou a atenção totalmente voltada aos olhos castanhos, que faiscavam de ódio. Por um momento, quase se viu enfeitiçado pelo movimento daquelas cores que lembravam puro chocolate. Selvagens e indomados, eles refletiam a mulher séria diante dele. Ora, mas ninguém tinha olhos mutáveis. Era só uma ilusão de óptica, decidiu, franzindo o cenho.


 


— Meu senhor — retificou Hermione, com dentes cerrados.


 


— Sim? — atendeu Harry, mantendo a expressão neutra, embora sentisse um triunfo agradável com aquela pequena capitulação. Havia algo recompensador em irritá-la, mesmo que ela raramente reagisse a suas provocações. Imaginou o que teria de fazer para obter uma reação espontânea dela, tirá-la daquela atitude rígida, e sentiu um desejo repentino e agudo pela submissão total daquela jovem.


 


 


— Pergunto se o lorde pretende partir hoje ou vai desperdiçar as preciosas horas do dia jogando? — O desdém dela era palpável e Harry sentiu o impacto. Por que se afetava tanto com aquela mulher pouco atraente?


 


— A julgar pelo clima, diria que a segunda opção — respondeu Harry, dando de ombros.


 


— Mas quase nem está nevando — protestou Hermione.


 


Harry estivera tão entretido no jogo de dados que nem notara o tempo passar, esquecendo-se completamente da tarefa de escoltá-la. Sentiu uma pontada leve de culpa, que logo desapareceu ante a expressão indignada de Hermione.


 


— Não pode pensar em se prolongar aqui até a primavera!


 


— Não discutimos isso ontem? --- indagou Harry, abafando um bocejo enquanto os soldados perdiam o interesse na conversa e voltavam ao jogo. Encarou-a. — Eu juraria que a senhora me disse que não tinha muita pressa.


 


Para seu prazer, Hermione empalideceu com a provocação, confirmando sua desconfiança de que ela tinha pressa em chegar no País de Gales. O quê, além do temperamento deplorável, a motivava? Um amante? Com certeza, não, porque ela nunca entregaria o controle a outro. Era mais provável que quisesse contar novas moedas, decidiu Harry. Bem, que esperasse.


 


Hermione não respondeu e o silêncio perdurou, até Harry erguer a sobrancelha, interrogativo. Ela parecia cerrar os dentes, pensou ele, satisfeito. Então, Hermione desviou o olhar. Para se recompor? Quando voltou a encarar Harry, tinha os lábios franzidos daquele jeito típico.


 


— Mesmo assim, gostaria de chegar antes que salteadores tomem conta de minhas terras.


 


— Ah, então é isso o que a preocupa — retrucou Harry, embora sentisse que havia algo mais por trás da urgência. — Bem, eu lhe asseguro que desbarataremos todo e qualquer pretendente à sua herança. — Sorriu contido, satisfeito ao ver que ela parecia cerrar os dentes novamente.


 


— Não poderá, se nunca chegarmos, não é? — rebateu Hermione.


 


— Chegaremos lá, senhora. É que algumas coisas simplesmente não podemos apressar... — acrescentou ele, a voz quase um ronronar, insinuando outros significados.


— Com efeito — murmurou ela. — E o senhor parece ser uma delas. — Deu meia-volta e partiu as costas rígidas, ombros delicados muito tensos, enquanto alguns homens riam abafado.


 


Harry voltou-se e calou-os com um olhar. Não importava o que ele achava daquela mulher, seus soldados deviam respeito a ela.


 


Ainda que de má vontade, ele mesmo sentia um pouco de respeito pela Srtª. Granger. Mas ganhara a discussão, não ganhara? Então, por que se sentia vagamente insatisfeito com o encontro?


 


À noite, Harry quase desejou estar na estrada, em vez de refestelado no salão morno de Hogsmeade.


 


O jogo de dados se tornara desinteressante logo após a interrupção de Hermione e seu jantar se temperara com o olhar de Sally, que perdurara após a refeição.


 


Devia simplesmente tê-la tomado no colo, levado para o quarto e acabado logo com aquilo, mas não gostava da sensação de obedecer ao desejo de outra pessoa. Isso lhe lembrava demais a relação que tinha com o pai. Aquela jornada lhe fora imposta e, em meio aos resmungos de Hermione e o peso da responsabilidade, começava a se sentir tenso e sobrecarregado. A cada dia era mais difícil assumir a atitude irreverente que sempre mantivera e se entregava ao vinho com renovada ansiedade.  


 


Finalmente, fugiu para o estábulo, onde o jogo de dado recomeçara, mas estava sem sorte e terminou num canto, observando e bebendo. Mas o desejo por companhia feminina crescia dentro dele, acompanhado da frustração.


 


Com certeza, havia alguém ali, alguma outra virgem que o excitaria como Sally não conseguia... Levantou-se e atravessou o pátio obscurecido. Parara de nevar e surpreendia-se por Hermione não o estar incomodando para que partissem. Talvez ela tivesse desistido de procurá-lo, decidiu, sem muita satisfação com a ideia. Não que quisesse irritá-la. Não. Estava cansado dela e de sua atitude severa.


 


Harry desejava uma mulher que não fosse uma virgem de gelo, alguém macia, ardente e receptiva, não alguma megera que o julgasse. Sem destino, vagou pelo pátio enlameado, entre os prédios diversos dentro das muralhas. Uma leiteira, talvez? Mas não havia ninguém na fria estrutura de madeira que abrigava o gado, exceto um garoto que assentiu ao vê-lo.


 


Dentro da casa, Harry só vira mulheres mais velhas, pouco mais que camponesas, que provavelmente ajudavam na cozinha ou na lavanderia. Hogsmeade simplesmente era pequena demais para abrigar muitos residentes, muito menos às mulheres bonitas que ele preferia. Afinal, tinha seus padrões e uma reputação a manter, que se comprometera terrivelmente na noite anterior.


 


Com determinação sombria, entrou no salão e deteve-se nas sombras junto à porta, só para ver-se fitando a única mulher que parecia imune a seu charme. O interesse cresceu e ele franziu o cenho com a excitação, convencendo-se de que era o desafio que ela representava, e mais nada... que o excitava. Não era como se a desejasse.  


 


Dando as costas a Hermione, Harry vagou pelos cômodos da velha construção, notando descontraidamente o quanto o local era bem mantido e outros detalhes. Seu pai não esperaria menos dele. Ficou mais deprimido ao pensar no duque. Se Hermione voltasse a Hogwarts com reclamações, sua desgraça seria completa. Era isso mesmo o que queria? Imaginou não pela primeira vez, se sequer devia voltar para casa.


 


Mas para onde iria? E o que faria? Fora preparado para pouca coisa além de uma vida de ociosidade, com pouco dinheiro. Um ótimo Potter, ele era. Sem terras. Sem riqueza. Sem poder. Os pensamentos atormentados tornavam mais opressiva à escuridão a seu redor e foi à cozinha atrás de mais vinho.


 


Quando finalmente voltou ao salão, nem Sally, nem Hermione estavam à vista e ele tomou sua cadeira, sentindo-se muito mais velho do que a própria idade. Tremia de frio, apesar do fogo na lareira. Recostou a cabeça e fechou os olhos contra a perspectiva de outra noite sozinho.


 


v   


 


E foi assim que Hermione o encontrou.


 


Fugindo de outra noite insone, ela descera ao salão, detendo-se bruscamente ao identificar a figura inconfundível sentada à cabeceira da mesa, adormecida após tanto beber. Mesmo assim, quando o fitou, mal registrou o motivo de ele estar dormindo ali, tal à beleza da visão.


 


Os cabelos escuros e brilhantes desciam pelo rosto, as feições bonitas iluminadas pelo brilho fraco da lareira. Uma mecha lhe decorava a testa, acima das sobrancelhas, quase tocando os cílios espessos que repousavam sobre as faces. Mesmo assim, não era a aparência que a atraía, mas algo maior, uma força misteriosa que estava além de seu controle. Com certeza, ali estava o homem de seus sonhos, não o Harry Potter que ela conhecia. Combateu o desejo irresistível de estender a mão e tocá-lo.  


 


— Não devia estar na cama? — A voz grave surpreendeu-a, pois ele mantinha os olhos fechados.


Como Stephen adivinhara que ela estava ali? Imaginou, combatendo um arrepio. Devia ter ouvido seus passos, convenceu-se, mas não podia saber quem estava ali. De repente, sentiu vontade de fugir e ao mesmo tempo, de ficar.


 


— E então, senhorita? — indagou ele, e Hermione concluiu que ele talvez tivesse captado seu cheiro, embora ela dispensasse os perfumes. — O que faz acordada no meio da noite?


 


Hermione simplesmente fitou-o, confusa com o turbilhão de emoções. Por que estava ali? Ela mesma não entendia e, com certeza, não admitiria que fora atraída para fora do quarto pela sensação de alguém sofrendo, um sentimento tão forte que suplantara sua relutância natural em atender a tais estímulos. Apesar disso, sentia o desespero que parecia emanar do homem diante dela.


 


Uma ilusão, nada mais. Estava tão enganada quanto às tias, pois ninguém sofria ali. Só havia um bêbado arrebatado pelo vinho. Irritada com a percepção, facilmente descontou no homem.


 


— O que o senhor está fazendo? — questionou áspera. — Precisamos partir amanhã cedo.


 


— Na verdade, estava pensando na senhorita — respondeu ele.


 


Hermione ficou atônita, o coração disparando ante as palavras. Ele a atraíra até ali? Não, devia estar brincando, pois ela mesma não jurara que ninguém possuía tal poder? O acaso os colocara ali. Ou, mais provavelmente, um jogo de probabilidade da parte dele. Afinal, por que ele pensaria nela?


 


Como que sentindo seu ceticismo, ele continuou, a voz rouca ainda mais sedutora na escuridão, e Hermione enrijeceu-se contra o feitiço.


 


— Na verdade, estava imaginando por que a senhora não se afeta com meu charme legendário. Importa-se em me esclarecer? Acredite ou não, a maioria das mulheres me acha irresistível.


 


Ele inclinou um pouco a cabeça e ergueu os cílios devagar, só o suficiente para vê-la, e Hermione sentiu o calor brotar no corpo, até se sentir entorpecida, lânguida e, ao mesmo tempo, viva. E ele achava que ela não se afetava? Tratava-se de um equívoco que ela sofreria para preservar.


 


— Bem? — indagou ele.


 


Mas Hermione não tinha a intenção de discutir o charme dele, real ou falso. Aquele homem já era mais do que convencido. Meneou a cabeça e recuou um passo, avaliando-o com olhar clínico.


 


— O senhor está bêbado.


 


— Eu nunca fico bêbado — respondeu ele, tranquilo.


 


Não adiantava perder tempo discutindo, enquanto a aurora despontava, concluiu Hermione, e a percepção deixou-a ainda mais zangada com ele.


 


— Vá para a cama — disse ela.


 


— É um convite? — rebateu ele, erguendo as pálpebras preguiçosamente.


Ela sentiu a intensidade do olhar, apesar do semblante casual.


 


— Não. O senhor pode dormir na mesa, então, se preferir, como um bêbado. Não preciso de um alcoviteiro e, sim, de uma escolta — respondeu, negando todas as sensações que contrariavam suas palavras.


 


— Ah, voltamos à importante viagem — observou ele, fechando os olhos, como que a dispensando.


 


— Sim, e, se quer mesmo saber, um dos motivos de eu não gostar do senhor é que não considera nada importante, exceto suas necessidades egoístas. Olhe para o senhor. — Inflamando-se, Hermione fez um gesto abrangendo a pose desleixada do lorde, a taça diante dele. Agarrava-se à raiva, desesperada para evitar a atração que rejeitava veementemente. — O senhor tinha tudo, um nome distinto, um lar maravilhoso, uma boa família, mas o que fez? Destruiu tudo com a bebida — disparou ela, tendo apenas as palavras como sua única arma contra as sensações que ele lhe despertava. — O senhor é um fracasso.


 


Mesmo aquela acusação dura, que a deixou trêmula, foi incapaz de provocar uma reação.


 


— Ah, andou conversando com meu pai. Ele a incitou a isso? — indagou Harry, erguendo a sobrancelha para fitá-la.


 


Hermione ficou atônita e desapontada com a expressão casual. Ele não se mexia nem para se defender? Não se abalara com o que ela dissera? Não se importava com nada? Meneou a cabeça, não vendo mais diante de si o homem de seus sonhos, ou melhor, nenhum tipo de homem.


 


— Não acredito que seja um Potter — concluiu. Com isso, voltou-se e seguiu para a escada, não se detendo nem quando ouviu a resposta dele;


 


— Nem eu. Nem eu...


 


 


 


 


 


 




Olá, galera!! Desculpe a demora em postar, para recompensar postei os dois caps....


Desculpem também os erros de ortografia hehe


 


Vou tentar postar o sétimo amanha que vai estar cheio de surpresas...


 


Bjss, comentem!!!

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