Terceiro Capítulo

CAPÍTULO III

 

 

 

Hermione correu para o pátio, procurando a figura alta de Harry Potter em meio aqueles que cuidavam dos preparativos para a jornada ao País de Gales, mas ele não estava em parte alguma. Não sabia se ficava aliviada ou preocupada. Viu o duque destacando seis batedores entre os soldados, aparentemente despreocupado com o fato de o líder designado estar ausente, desde a tarde do dia anterior.

 

Hermione era quem mais se conscientizava do fato, pois passara horas infrutíferas procurando Harry, na esperança de convencê-lo a ficar. Mas como convencê-lo se sequer conseguia encontrá-lo? Na noite anterior,  todos quem questionara sobre o paradeiro de Harry desviaram o rosto, ou tossiram, ou ficavam com as bochechas vermelhas, levando-a a concluir que ele fora se distrair com alguma criada. Mesmo assim, a qualquer momento ele deveria aparecer, não?

 

Hermione o aguardara até bem além de sua hora de dormir, percorrendo os corredores até os criados se recolherem, sem, no entanto, ser recompensada. Acabara acordando tarde pela manha, o que lhe causou novo incomodo, pois gostava de estar preparada para tudo. Tivera de arrumar o baú às pressas e descera correndo ao salão, certa de que teria chance de falar com Harry, mas só encontrara mais frustração.

 

Agora, restava-lhe observar a movimentação. O duque deu novas instruções aos servos que carregavam mantimentos e voltou para o salão, deixando o filho Draco encarregado de coordenar os trabalhos. Hermione franziu o cenho, pois costumava se responsabilizar pela organização de toda e qualquer viagem da qual participasse. Embora estivesse grata pela escolta, aborrecia-se por ser relegada à posição de viajante, em vez de líder. E se se esquecessem de algo importante? Hermione não estava acostumada ao convívio com homens e não punha fé na habilidade deles de se preparar adequadamente...

 

Teve os pensamentos interrompidos por um grito de prazer da tia Molly.

 

— Aí está você, querida! Ora, começávamos a nos perguntar o que a detinha... — Marota, deu uma piscadela.

 

Já acostumada, Hermione aceitara o comportamento incompreensível das tias e nem se incomodou em interpretar o sinal incomum de Molly, pois não tinha tempo para bobagens naquela manhã.

 

--- Por que não me acordaram? — questionou a irritação evidente.

 

Minerva lançou um olhar esmagador à irmã e adiantou-se:

 

--- Achamos que precisava descansar minha querida. Afinal, você tem uma jornada longa e cansativa pela frente.

 

— E precisa se cuidar — acrescentou Molly, sorrindo como uma gata que secara um pires de leite.

 

Hermione estreitou o olhar.

 

— O que estão aprontando? — Facilmente, imaginava as tias planejando todo tipo de travessura enquanto ela dormia.

 

— Ora, nada — declarou Molly, a expressão inocente, mas não era adepta da dissimulação e Hermione aprendera a ler suas intenções ao longo dos anos.

 

As tias lhe escondiam algo.

 

Hermione franziu o cenho enquanto olhava o comboio. O tempo se esgotava e ainda não vira Harry. Embora o atraso pudesse significar a intenção dele de não se apresentar para a tarefa, era pouco provável que afrontasse o pai dessa maneira. Não tinha tempo a perder.

 

— Prometa que vai se comportar enquanto eu estiver fora — exigiu Hermione, pegando as mãos de Molly.

 

--- Ora, claro, querida — disse a tia, como que ofendida pela simples insinuação.

 

— Prometa — repetiu Hermione. — Nada incomum, nada de previsões, nada... de bacia — especificou, baixinho.

 

— Nós prometemos — declarou Minerva. — Não prometemos mana?

 

— Claro. Eu prometo querida — declarou Molly.

 

— Mas, veja! Tenho algo para você, não que você precise de auxílio, claro. — Procurou algo entre as dobras das vestes. — Ah, aqui está! — Sorrindo contente, pressionou algo duro na mão de Hermione.

 

Abrindo os dedos, Hermione fitou o objeto e franziu o cenho.

 

— Ametista — identificou.           

 

Por um instante, fitou a pedra, até se lembrar do significado: proteção contra a embriaguez. Sobressaltou-se. É exatamente o tipo de coisa que prometeu não... não pretendia salvar ninguém, muito menos Harry Potter.

           

Molly a interrompeu, aproximando-se mais.

           

--- Tente convence-lo a usar isso, querida --- ela aconselhou, dando um tapinha no braço de Hermione.

           

--- Esta pedra não me ajudara em nada! --- Hermione reclamou erguendo a voz em sua irritação.

           

--- Calma Hermione. Tudo ficara bem --- Minerva disse, olhando para Molly de uma maneira que a fez ficar em silencio.

           

Os dedos de Hermione, que olhava de uma tia para a outra, fecharam-se em torno da ametista. O rubor na face de Molly só fazia suas suspeitas aumentarem.

           

--- O que quer dizer? O que ficará bem? --- perguntou, sabendo que uma simples afirmação podia ter significado muito diferente quando pronunciada por uma de suas tias. --- O que fizeram? Tem algo a ver com a morte de meu pai?

           

--- Oh, minha nossa, não! --- Molly exclamou, aparentando genuína surpresa, o que fez Hermione suspirar aliviada. A ultima coisa que queria era que aquelas senhoras adoráveis se envolvessem com assuntos perigosos.

           

--- Claro que não --- Minerva enfatizou ressentida.

           

--- Oh, vejam! Aí esta ele! --- Molly exclamou animada. Hermione acompanhou seu olhar e se deparou com Harry Potter montado em um grande corcel. Finalmente, o homem que tanto aguardava estava ali, mas Hermione ainda demorou um bom tempo para lembrar por que o procurava, por isso apenas permaneceu a admira-lo.

           

Ele parecia magnifico. Independentemente do que tivesse feito durante a noite, parecia muito bem disposto, sua força evidente pela maneira de lidar com o fogoso animal, com o sol da manha iluminando seus cabelos escuros e a pesada capa pendendo sobre os ombros largos. Hermione percebeu que segurava a respiração, então engasgou e tossiu horrorizada por ficar boquiaberta diante de um homem que não tinha qualquer qualidade interior.

           

Erguendo os ombros, encheu os pulmões com o ar da manha, um sopro fresco que clareou sua mente. Voltou-se para as tias, que sorriam bondosamente.

           

--- Adeus, querida --- disse Minerva.

           

Hermione logo se viu envolvida por abraços calorosos, sentindo um leve aroma de hortelã e lavanda. O perfume das tias a acompanharia, e ela piscou surpresa com aquele sentimentalismo.

           

--- Comportem-se enquanto eu estiver fora --- ela advertiu.

           

--- Mas é claro! --- Molly disse, parecendo afrontada --- Cuide-se também.

           

Hermione já seguia na direção de Harry quando ouviu Molly gritar:

           

--- Cuide dele, também! Não se esqueça da preda preciosa!

           

--- Não sei não... --- ela ouviu Minerva murmurar. --- Tenho minhas duvidas quanto ao salvador dela. É provável que ela tenha a missão de salva-lo.

           

Como sempre, Hermione não compreendeu as palavras delas, embora suspeitasse estar indo em direção ao objeto de discussão das tias.

Hermione contraiu os lábios, desgostosa, pois, não importava o quanto ele parecesse arrojado, sabia que o homem não era confiável para liderar uma escolta decente a quem quer que fosse. Pelo contrário, ele provavelmente cairia na primeira vala que passassem zonzo de embriaguez, e ficaria ali até a primavera.

 

Sua displicência ficou evidente já no atraso em se apresentar, deixando que outros organizassem, e tratou de expirar o ar que inadvertidamente retivera nos pulmões.  

 

Obviamente, ele não tinha nenhuma vontade de fazer aquela jornada. Se conseguisse convencê-lo a abandonar todo o fingimento e ficar em Hogwarts... Embora tivesse pouco tempo, estava determinada a tentar. Cruzou o pátio, evitando servos, cães e as últimas declarações de boa viagem, e estacou ao lado da montaria.

 

— Olá! — cumprimentou Hermione, e foi ignorada.

 

— Olá! — repetiu impaciente.

 

Finalmente, Harry olhou-a de cima. Embora se considerasse armada contra o charme, Hermione sentiu um tremor dominá-la novamente sob o escrutínio do belo rosto másculo, como que presa a um feitiço. De magia. Por um momento fugaz, Harry quase a fez acreditar novamente em poderes místicos.

 

Era pecado um homem ser tão bonito, pensou Hermione. Ao ver um cacho dos cabelos dele cair displicente sobre a testa, precisou se segurar contra o impulso de colocá-lo no lugar. Infelizmente, Harry pareceu ciente de sua reação, pois ergueu levemente a sobrancelha. Então, ele sorriu um movimento tão calculado que Hermione saiu de seu estado de transe e tratou de expirar o ar que inadvertidamente retivera nos pulmões.   

 

— Srta. Hermione — saudou ele, a voz grave e rouca, envolvendo-a como uma carícia. Mas Hermione estava ciente dele naquele instante, e convenceu-se de que o tom que tanto a afetava-se devia simplesmente ao álcool que ele consumira. Bebida demais e noitadas, afirmou a si mesma, apesar do arrepio na espinha.

 

— Chega disso — desdenhou Hermione, severa. — Quero falar com o senhor. Seriamente.  

 

Harry ergueu a sobrancelha novamente, mas deixou de sorrir.

 

— Na última vez em que tentei conversar com a senhora, acabei com um corte no lábio, portanto, perdoe minha relutância em continuar urna conversa enquanto montado num corcel irrequieto.

 

O cavalo escoiceava e agitava a cabeça, mas Harry parecia capaz de controlá-lo com as mãos e coxas fortes. Mais do que capaz, pensou Hermione, engolindo em seco. Voltou a encará-lo.

 

— Está com medo de cair? — indagou incrédula.

 

Ele desdenhou.

 

— Preocupa-me que a senhora, delicada e esperta, possa fazer algo para provocar Hades. Não tenho tempo nem energia para bancar o herói.

 

— Hades? — indagou Hermione. O cavalo tinha o nome de um deus do mundo das sombras? — Está planejando cavalgar até o inferno?  

 

Harry fechou a expressão e a atitude arrogante desapareceu com o olhar severo.  

 

— Talvez. — Então, deu de ombros, um movimento descontraído que pareceu muito forçado. — Pelo jeito, essa jornada se enquadra na categoria.

 

Hermione aproveitou a abordagem do assunto, escapando à distração momentânea.

 

— Era sobre isso que eu queria discutir — adiantou-se.

 

Harry ergueu a sobrancelha e sorriu com aqueles lábios tentadores.  

 

— A senhorita quer assegurar o meu divertimento na jornada? — questionou a voz reverberando nos nervos dela.

 

— De certa forma, sim. — Hermione teria prazer em arrancar do belo rosto aquele sorriso convencido. — Acho que o senhor devia ficar em casa.

 

— Com certeza — ronronou ele, sem entender realmente. — A senhora mudou de ideia?

 

— Não, mas acho que o senhor devia.

 

Harry ergueu a sobrancelha novamente.

 

— Como?

 

Hermione respirou fundo e encarou-o, superando o brilho do desgosto, tentando alcançar o homem interior.  

 

— Embora eu tenha de viajar ao País de Gales, o senhor não é obrigado a ir comigo.

 

— Como descobriu? — ironizou ele, áspero. Já não se esforçava para encantá-la, e Hermione percebeu que preferia o homem sarcástico e cínico ao galã arrogante. Talvez conseguisse convencê-lo.  

 

— Seria muito simples, mesmo, se o senhor ficasse aqui. Não preciso de escolta além dos batedores.  

 

Harry fitou-a longamente, como se ela falasse um idioma estrangeiro incompreensível.  

 

--- Quer que eu desafie o meu pai?

 

Harry lançou a cabeça para trás e riu como se acabassem de lhe contar uma piada muito boa. Superado o ataque, ele adotou uma expressão sombria.

 

— Creia-me, senhorita, nada me agradaria mais do que vê-la perdida em seu próprio país, mas ninguém desafia o duque. Nem mesmo eu.

 

— Mas... — Hermione não completou o protesto, pois Harry fez a montaria dar meia-volta.

 

— Pegue sua montaria, Sra. Granger — ordenou ele e, sem outro olhar, conduziu o cavalo para frente do comboio, Hermione apenas fitou-o desanimada enquanto as carroças começavam a se deslocar. Alguém, um dos inúmeros servos de Hogwarts, trouxe seu cavalo, uma montaria adequada a senhoras, e ajudou-a a montar. Viu-se tomada por uma sensação de decepção, bem como de ansiedade à ideia de juntar-se a Harry Potter na estrada. Não era nada, convenceu-se, só a tensão que a assolava desde que o pai a convocara e, então, ao receber a notícia da morte dele.

 

 

 

Hermione tentou se conformar enquanto tomava seu lugar entre os viajantes. Era tarde demais para tentar qualquer manobra. Nem o duque, nem seu filho lhe deram atenção e teria de seguir em frente, à mercê da liderança equivocada de outra pessoa. Era um sentimento ruim, que só acrescentava peso a seu fardo. Iria como se não tivesse controle sobre sua vida e caminhasse rumo a algum destino sombrio.

 

A sensação de mau presságio perdurava em Hermione, enquanto o dia passava de ruim em péssimo.

 

Acostumada a administrar a casa Granger de forma eficaz, Hermione sentia-se como uma serva em sua própria jornada, o que não a agradava nem um pouco. Não levou muito tempo para perder toda a paciência com sua suposta escolta. Harry comportava-se exatamente como ela previra, avançando lentamente em atitude desleixada. Mal haviam deixado o feudo e pararam para uma refeição prolongada no meio da manhã, durante a qual Harry se alimentou pouco e bebeu muito.

 

Quando retomaram a jornada, Hermione imaginou como ele conseguiria montar e controlar o animal. De algum modo, ele foi em frente, conversando com os soldados, provocando risadas divertidas. Hermione, já nervosa, irritou-se, porém controlou-se, apesar do passo de lesma do cortejo.

 

Quando ele ordenou que parassem antes do pôr do sol, Hermione revelou seu descontentamento, sem ser ouvida. Em qualquer conversa, Harry ou bancava o sedutor, ou a dispensava sumariamente. Impaciente com o comportamento contraditório, ela teve vontade de atirar vinho naquele nobre rosto insolente durante o jantar. Alarmada com as próprias tendências violentas, achou por bem evitar qualquer comunicação com Harry e se retirou para o pequeno quarto na abadia onde pediram abrigo.

 

Sozinha, Hermione experimentou um mau humor como não sentia havia anos. Embora acostumada a certo isolamento, sentia falta da companhia alegre das tias com uma intensidade inesperada. Rosa, uma criada mais velha que a acompanhava, tentou animá-la, mas foi inútil.  

 

— Estaríamos melhor se não tivéssemos ido a Hogwarts — resmungou Hermione. — Na verdade, viajaríamos muito mais rápido só com nossos batedores.

 

— Ah, mas temo não ser tão corajosa quanto a senhora — observou Rosa. — Devo admitir que fico contente em ter o lorde Potter e os soldados lá fora, em vez de Tom, Will e seus primos. Eles não passam de serviçais e não poderiam nos proteger.

 

Hermione desdenhou.

 

— Até agora não vi nada mais ameaçador do que o tempo. Nem me importaria em testar esses tais soldados, com Potter como líder. Acho que a única espada que ele é capaz de manejar é a que fica entre as pernas.

 

Rosa reprimiu uma risada e então suspirou.

 

— E que espada hábil. — Sorriu esperta para Hermione. — Ou assim ouvi dizer, veja bem.

 

Hermione simplesmente ignorou o comentário, apenas mais um na longa ladainha de admiração que Rosa emitia. Os suspiros constantes de Rosa pelo líder da escolta só a irritavam. Ninguém, além dela, enxergava o palerma que Harry Potter realmente era?

 

--- Está acostumada a tomar a frente em tudo, Hermione, mas uma mulher deve ceder seu lugar a um homem mais cedo ou mais tarde — observou Rosa, alheia ao efeito incendiário de suas palavras.

 

--- Não tenho a intenção de me submeter a um homem muito menos à incompetência de Harry Potter --- afirmou Hermione, fitando a serva. — Aquele beberrão, cabeça-dura e arrogante não vê nada além de sua própria taça de vinho!  

 

Constatou desânimo.

 

— Srta. Hermione Granger! Ora, eu nunca a ouvi falar assim, nem se comportar de forma tão maldosa.

 

Hermione franziu o cenho ante a reprimenda, mas sabia que Rosa tinha razão. Durante anos, cultivara uma atitude reservada, distanciando-se ao máximo das loucuras passionais dos Granger. Mas Harry Potter parecia capaz de destruir sua determinação alcançada com muito esforço com um olhar apenas, fazendo aflorar o temperamento havia muito subjugado. Hermione franziu os lábios. Tal excesso de sensibilidade não era bom. Combateu as emoções indesejadas buscando a tranquilidade que antes lhe vinha facilmente. Antes da chegada de Harry.

 

— Talvez seja melhor deixar de lado as preocupações com a viagem e com as habilidades de lorde Potter olhando para o futuro — sugeriu Rosa, tirando Hermione de seus pensamentos sombrios. Alarmada, ela fitou a criada com severidade e deparou com um sorriso largo de incentivo. Rosa prosseguia alegremente, como se discutissem algo tão inofensivo quanto o clima.

 

— Suas tias juram que a senhora nem precisa da bacia para prever, basta qualquer espelho de água — comentou ela.

 

Hermione prendeu a respiração.

 

— Rosa, não fale bobagem — censurou, e olhou cautelosa o vão da porta do pequeno quarto. Felizmente, ninguém podia ouvir através das espessas paredes de pedra. Expirou aliviada e voltou-se para olhar as janelas fechadas.

 

--- Quer que eu faça uma previsão do nosso futuro? --- ela perguntou sombria. — Meu palpite é de que morreremos congeladas numa vala enquanto o líder da companhia bebe até o entorpecimento. — Apesar das palavras, sabia que não haveria vala nenhuma, nem mortos, mas sim água. Algo a ver com água, corrente e fervente.

 

Hermione fechou os olhos para aplacar a força da imagem e meneou a cabeça para dispersá-la.

 

Uma ilusão, apenas isso, uma ilusão evocada pelas divagações supersticiosas de Rosa e a menção daquela bacia ridícula que as tias viam como um tipo de ajuda divina. Gemendo baixinho, preparou-se para dormir, determinada a se esquecer do acompanhante irritante por algumas horas. Mal fechara os olhos e ele surgiu em seus pensamentos mais uma vez.

 

— Hermione?  

 

Ela piscou confusa ao ouvir seu nome sussurrado na escuridão, mas reconheceu a voz imediatamente. Grave e gutural, o som lhe provocava um arrepio na espinha, ao mesmo tempo em que seu corpo parecia transformar-se num líquido quente.

 

— Hermione...

 

Ao ouvir novamente seu nome, ela recobrou a consciência, estranhando que o chamado não contivesse a arrogância usual que sempre associara ao dono da voz. Voltou-se e lá estava ele, tomando-a nos braços, e ela se entregava ao calor e à sensação enquanto o corpo musculoso, nu e tentador, a envolvia.       

 

Tocaram os corpos suados, experimentando- se, e então se separaram enquanto ela implorava mais. Finalmente, ele se posicionou sobre ela, o olhar tão penetrante que a deixou sem fôlego, e ela soube que toda a magia, todos os mistérios do universo estavam ao alcance de sua mão.

 

Engasgada, Hermione despertou e sentou-se na cama. Com o coração batendo freneticamente, olhou ao redor no quarto em penumbra, esperando ver Harry Potter a seu lado, com os músculos protuberantes à luz das velas, buscando-a. Respirou fundo, aterrorizada com os pensamentos, e percebera que só a pequena forma de Rosa partilhava sua cama.  

 

Ainda abalada, Hermione sentiu o pânico diminuir.  Claro que ele não estava ali. Nem um canalha como Harry Potter se infiltraria em seu quarto e imporia a uma mulher relutante. Impor? Relutante? No silêncio, pensou ouvir a voz desdenhosa parodiando sua escolha de palavras e saiu da cama tentando fugir á excitação. Apesar do frio noturno, Hermione sentia-se quente e nervosa naquele quarto estranho.

 

Aproximando-se da porta, abriu-a sem fazer barulho e saiu ao corredor da abadia em busca de alívio da atmosfera sufocante do quarto minúsculo.

 

Imediatamente sentiu a carícia do ar frio que e trava pelas janelas estreitas no alto da câmara abafada. O frescor a encheu de energia e ficou ali parada por algum tempo, respirando fundo, tentando dissipar a lembrança do sonho perturbador.

 

Mesmo assim, desavisadamente, e mais forte do que nunca, veio à dúvida: teria sido apenas um sonho ou fora uma visão? Hermione meneou a cabeça, incapaz sequer de admitir a possibilidade. Toda aquela conversa com Rosa sobre previsões a deixara sugestível. Só isso, convenceu-se, exceto que não se lembrava de ter sonhado de forma tão palpável, nem quando criança, quando ainda acreditava em poderes místicos. Não, fora algo totalmente diferente e estremecia com a lembrança. Tudo parecera tão real. Pior tão familiar, tão glorioso, tão...

 

Um som fraco ecoou pelo corredor e Hermione fitou o espaço iluminado apenas pelo fogo de uma lareira. Sem dúvida, algum servo realizava alguma tarefa, pensou, apesar do coração novamente disparado. Continuou fitando a escuridão como se procurasse algo que não sabia o que era.  

 

Finalmente, ela o viu. Ele estava sentado no chão, apoiado contra a parede, à cabeça inclinada para trás e os olhos fechados. Provavelmente, estava tão bêbado que não conseguira chegar ao quarto, concluiu Hermione, desgostosa. Então, corno se sentisse seu olhar, ele abriu as pálpebras. Harry pareceu olhar direto para ela, para sua alma, vendo tudo, incluindo as imagens que haviam perturbado seu sono.

 

Hermione não desviou o rosto, sentindo algo pulsar e fluir entre eles na escuridão até toda sua percepção de Harry Potter parecer errada. Ele era o homem do sonho, não aquele tratante irresponsável, e ela sentia uma necessidade quase irresistível de ir a seu encontro. Ele precisava dela, mais ainda do que ela precisava dele. Alarmada com a noção estranha, piscou atônita. Que tipo de feitiço era aquele?

 

Rompendo qualquer ligação que imaginara entre eles, Hermione voltou-se para a porta de seu pequeno quarto e entrou. Instalou-se na cama, trêmula e determinada a não mais sonhar.

 

 

 

 

 

Olá galera, mais um cap....

Gostaria que comentassem ok?? Pra saber o que estão achando!!

 

Bjs

Ate mais...

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.