Segundo Capítulo



CAPÍTULO II


 


 


Hermione não sabia como acabara no elegante castelo de Hogwarts, tentando parecer grata por uma oferta de escolta que só a desanimava. De algum modo, seu plano de voltar ao País de Gales a levara ali, complicando um assunto já difícil. Era obra das tias, claro. Quando sugeriram buscar o conselho do senhor feudal, Hermione não vira motivo para incomodar uma figura tão ilustre com seus problemas insignificante mas elas foram inflexíveis.


 


Inflexíveis demais. Embora não pudesse provar, Hermione desconfiava de que havia algo além de uma simples preocupação por sua segurança por trás daquela visita. Ansiosa, observou Molly e Minerva. Embora, com seus esforços, a casa das tias tivesse se tornado mais convencional, as duas continuavam imprevisíveis. Como prever quando agiriam de forma totalmente inadequada?


 


Tal como prever um longo casamento para o duque, pensou Hermione, franzindo o cenho à lembrança. Também ouvira os murmúrios dos criados após a previsão, certamente, cuidando para ignorá-los. Durante anos, empenhara-se em desfazer a impressão que os camponeses tinham de suas tias, embora os rumores teimosamente persistissem, como que desafiando todos os seus esforços.


 


Por que se surpreendia? Era como se tivesse passado a vida toda procurando alguma aparência de normalidade, negando a herança questionável da família. Embora amasse as tias e fosse grata pelo lar que lhe haviam proporcionado, no fundo invejava as filhas dos camponeses por sua existência comum. Quantas vezes não desejara trocar de lugar com qualquer uma, mesmo a  mulher mais pobre da vila, e se ver livre dos olhares de esguelha que sempre recebera simplesmente por ser uma Granger?


 


Não importava que as tias tivessem concordado em abandonar as práticas que tinham lhe conquistado aquela singular reputação. Os comentários persistiam e, obviamente, alcançavam lugares tão distantes quanto Hogwarts. Hermione franziu o cenho. Embora os murmúrios não fossem ameaçadores, permanecia alerta, com a consciência de que os mesmos camponeses que imploravam ajuda em um dia podiam se voltar contra suas tias no outro.


 


Fora um erro vir, percebeu Hermione, mas quisera agradar às tias antes de partir para o País de Gales. Nunca imaginara que o duque de Hogwarts fosse se interessar por mulheres que arrendavam uma pequena propriedade.  Esperara que ele, no máximo, lhes desse alguns conselhos, mas uma escolta? E mandar um de seus filhos junto?


 


Todos conheciam os rapazes, claro, uma família de cavaleiros, cada um mais alto e forte do que o outro. Não faltavam histórias sobre suas façanhas, embora Hermione desconfiasse de que muitas haviam sido tão enriquecidas que toda a verdade se perdera. Verdade ou mito, Hermione não queria contato com nenhum dos filhos do duque. Uns poucos soldados desconhecidos se adequariam às suas necessidades, muito mais que um Potter, que tornaria sua rota conhecida por onde passassem.


 


Com efeito, os Potter eram grandes demais, bonitos demais, famosos demais para passarem despercebidos, de modo que Hermione não via vantagem na companhia deles. Agora, estava presa a esse Harry, o mais falado dos sete irmãos. Ao contrário dos demais, conquistadores de terras em batalhas e terror dos salteadores, Harry ganhara reputação unicamente por ter roubado a inocência de varias donzelas.


 


Oh, as pessoas comentavam sobre seu charme e boa aparência, mas Hermione nunca se impressionava com falsos dons.  Agora, comprovava que Harry Potter não passava de um beberrão preguiçoso, pronto para se livrar da tarefa imposta pelo pai. Ele não lhe seria útil! Na verdade, ele seria um estorvo para alguém que queria completar a viagem sem delongas, sem paradas desnecessárias em tavernas bem providas de empregadas bonitas.


 


Era como se o destino se manifestasse para estragar seus planos bem traçados, refletiu Hermione, irritada. Mas não se deixaria abater. Esforçando-se para ignorar tais presságios, lembrou-se de que sempre controlara a própria vida, esquivando-se aos caprichos da providência, e não desistiria diante de um pequeno revés. Havia muito em jogo. Determinada a realizar a tarefa, ela sentiu uma onda de energia tomar seu corpo.


 


Iria para o País de Gales e a escolta era bem-vinda, exceto por Harry. Se conseguisse encontrar uma maneira de deixá-lo para trás... Voltou-se para o anfitrião e imaginou se conseguiria convencer o duque.


 


— Senhora?


 


O sussurro junto ao ouvido de Hermione foi como uma carícia, morna e agradável, mais do que um som. Ao se voltar para identificar a origem, ficou surpresa ao ver-se frente a frente com Harry Potter.


 


Hermione mal disfarçou o espanto, considerando que ele era muito bonito visto assim de tão perto. Muito bonito. Parecia um anjo caído, um sonho sombrio do paraíso vindo à terra disfarçado de mortal. Com certeza, aquele homem tinha mais em comum com o demônio que com um ser superior. Mesmo confusa, percebeu que ele estava perto demais e recuou.


 


 


Hermione passou a respirar com mais facilidade, imaginando se tanta atração se deveria a algum feitiço que ele talvez lançasse sobre mulheres desavisadas, O que sua família faria nesse caso? Imaginou a ideia absurda se impondo. Embora rapidamente descartasse a possibilidade, a desconfiança.


 


Sempre prática, Hermione sabia que não era o tipo de mulher que inspirava os desejos passionais pelos quais Harry era famoso. Sendo assim, ele tinha outro motivo para abordá-la daquela maneira inesperada, ou apenas praticava as habilidades junto a mulher mais próxima, só para se manter em forma. Estreitou o olhar, ainda mais desconfiada. O que ele, estaria tramando?


 


Hermione não teve tempo de chegar a uma conclusão. Harry graciosamente ocupou o lugar a seu ludo à mesa, roçando a coxa musculosa na dela com uma familiaridade que a irritou, além de deixá-la quente e latejante. Que tipo de magia era aquela?


 


— Senhora? — murmurou Harry.


 


A voz grave era sedutora, um som rouco que fez Hermione pensar em lençóis de linho, macios e sensuais. Piscou zonza com as imagens de lençóis e cama, as cobertas desarrumadas, os travesseiros dispersos. Com um meneio de cabeça, livrou-se dos pensamentos indesejáveis. Sem dúvida, Harry Potter fazia qualquer mulher com sangue nas veias pensar em intimidades, concluiu, contraindo os lábios, desgostosa. Aquele homem fazia jus a sua péssima reputação.


 


E não era apenas a voz dele que a seduzia. Ele era alto, como os irmãos, de ombros largos e corpo musculoso, mas não excessivamente musculoso. Considerando a família de cavaleiros bonitos, agora entendia por que ele era considerado o mais belo. As feições eram proporcionais e agradáveis, os cabelos escuros cascateavam até os ombros. E os olhos... Hermione sentiu o pulso acelerar, pois eram de um verde esmeralda rico e sedutor, insinuando segredos a serem revelados em quartos obscurecidos, pecaminosos e tentadores, enquanto os lábios formavam uma curva sensual e convidativa. Resumindo, Harry Potter exalava prazeres maliciosos.


 


Felizmente, não estava interessada.


 


— Sim? — respondeu ela. — Quer alguma coisa?


 


Com isso, Harry sorriu um processo lento e provocante, obviamente desenvolvido para insinuar e Hermione imaginou se ele praticava diante do espelho. Aquele sorriso estudado a irritou, pois não tinha tempo para tolices! Queria se livrar do presunçoso, não ser alvo de suas atenções indulgentes.


 


— Gostaria... --- começou ele, e Hermione sentiu um arrepio, apesar do esforço para não se afetar. O que havia naquela voz que lhe dava aquela vontade de fechar os olhos e se deixar envolver por cada sílaba? — Ou melhor, desejo apenas me apresentar a senhora, saudá-la adequadamente, já que serei a sua escolta..  


 


Ele usava toda sorte de palavras com duplo sentido, porém sua máscara era tão evidentemente falsa que Hermione convenceu-se de que não se afetara. Era isso que o tornava tão famoso? Sim, ele tinha rosto e corpo muito bonitos, além da voz sedutora e postura firme, um tanto primitiva. Mas era como uma capa rica e polida envolvendo uma arca vazia. Só podia concluir que mulheres que lhe renderam a reputação eram extremamente ingênuas ou cegas a tudo, exceto aos atrativos mais superficiais.  


 


Quando ele parecia voltar à carga, Hermione afastou-se da mesa.


 


— Não se incomode — declarou. Por algum estranho motivo, sentiu algum desapontamento, embora soubesse que Harry Potter não lhe seria útil em nada. Ele não era nem mais nem menos do que esperara. Além disso, o que levara Harry a se tornar um nada com certeza não era de sua conta.


 


— Como? — Harry encarou-a, visivelmente confuso.


 


Hermione percebeu que ele poderia ser realmente bonito se não elaborasse tanto seu personagem.


 


— Não precisa se incomodar comigo — esclareceu Hermione, dispensando-o.


 


Harry pousou a mão no queixo enquanto a observava atentamente.


 


— É mesmo? — questionou, em voz tão rouca que Hermione sentiu um arrepio no corpo. Mas o efeito dissipou-se quando ele estreitou o olhar... a atitude era tão ardente que não atingiu o âmago dos olhos verdes, já obscurecidos devido ao efeito do vinho.  


 


Quando ele ergueu as sobrancelhas, como que indagando sugestivamente, Hermione não se conteve e desdenhou:


 


— Eu realmente acho que não seguiu sua vocação. Deveria ser um trovador. — Indiferente ao espanto de Harry, Hermione começou a se levantar. — Com licença, mas tenho assuntos a tratar com seu pai.


 


— Mas...


 


 Aparentemente Harry não estava pronto para dispensá-la, pois se levantou abruptamente, promovendo um violento choque entre sua boca e o topo da cabeça dela.


 


 


— Oh, desculpe-me — murmurou Hermione, fitando os olhos verde-esmeralda lacrimejantes de dor. Aparentemente, o lábio inferior dele machucara, mas com certeza ele não corria risco de vida. — Eu preciso ir — repetiu.


 


Hermione seguiu ao encontro do duque, ignorando Harry, que a acompanhava de perto, embora ela não entendesse o porquê.  Pediria ao conde que mantivesse seu filho irresponsável em casa, mas teria que fazê-lo sem ofender, uma vez que Potter cedera um de seus filhos para escoltá-las. Isso exigiria muito tato, uma habilidade que sempre faltara nela, mas estava determinada.


 


Algo inquietava Hermione, porque Harry Potter não prometia apenas atrasar a jornada na estrada com suas paradas para atender aos instintos lascivos. Sua cautela em relação a ele devia-se a algo mais profundo e primitivo, um instinto talvez. Embora ela geralmente ignorasse tais sinais, todas as observações que fizera sobre ele até então apenas corroboravam sua impressão de que deveria se manter o mais longe possível daquele homem.


 


Junto à cabeceira da mesa, Minerva tagarelava com o senhor e a senhora do castelo, mas Hermione conseguiu aproximar-se o bastante para falar ao duque. Tratava-se de um homem imponente visto de perto e Hermione respirou fundo para ganhar coragem e empreender sua resolução.  


 


A insegurança era dispensável. Quando o duque se voltou em sua direção, Hermione constatou a forte integridade que cobria todo seu ser. Era surpreendente tal reação, uma vez que bloqueara a sensitividade havia muito. Imediatamente, enrijeceu-se conta o impulso natural. Mas algum resquício perdurava, pois se sentia à vontade diante daquele homem com ar mais paternal do que de poderoso senhor feudal. Por alguns segundos, a noção fez se esquecer do motivo de sua presença diante do duque.   


 


— Será que posso lhe falar em particular, meu senhor? — indagou Hermione, aproveitando um momento de distração das tias.


 


Quando o duque assentiu, ela se aproximou.


 


— Meu senhor, estou muito grata por sua generosidade. Jamais esperava que alguém da sua posição se interessasse por alguém como eu. — Fez pausa de avaliação e viu o duque curvar levemente os lábios, como se estivesse surpreso com sua manifestação.


 


— Entretanto...


 


Hermione arregalou os olhos.


 


— Como?


 


— Entretanto — repetiu o duque. — Algo a perturba nesse arranjo. Por favor, fale abertamente.  


 


Em vez de se encabular ante a perspicácia, ela se sentiu incentivada com o olhar gentil do lorde feudal. Respirando fundo, revelou sua apreensão:


 


— É seu filho, meu senhor. Sinto-me verdadeiramente grata pela escolta, mas lhe asseguro que uns poucos soldados são mais que suficientes para minhas necessidades. O seu filho não precisa ir também.


 


Entrecruzando os dedos, Hermione aguardou ansiosa enquanto o duque trocava um olhar rápido e cúmplice com a jovem esposa. Quando se voltou, ele sorria triste.  


 


— Eu lhe asseguro minha querida, que não precisa temer Harry.


 


— Oh, eu não tenho medo dele! — protestou Hermione, pois não havia nada menos provável do que ela se encolhendo de medo ante um bêbado atrevido. — Só estou convencida de que ele pode se revelar mais um estorvo do que ajuda. — Deteve-se, ciente da própria extrema franqueza, e ouviu a duquesa tossir excessivamente.  


 


Ela tinha a estranha sensação de que aquele homem via mais do que ela queria revelar. Mesmo assim, era um absurdo imaginar que a família de cavaleiros valorosos possuísse tal capacidade. Afastando o pensamento, ergueu o queixo e mais uma vez encarou o duque.


 


— Tenho certeza de que sabe que as pessoas nem sempre são o que parecem — observou ele, as palavras refletiam tão bem os pensamentos de Hermione que ela não conseguiu disfarçar a surpresa. E, como se tivesse previsto tal reação, ele sorriu gentil. — Harry também é mais do que aparenta.


 


— Claro que tem razão, meu senhor — amenizou Hermione. — Mas não é realmente necessário que ele me acompanhe.   


 


— Mesmo assim, suas tias fazem questão de Harry. — As palavras, embora ditas com suavidade, tiraram a tranquilidade de Hermione.


 


— Não sei o que ouviu de minhas tias, meu senhor, mas lhe asseguro que elas não possuem nenhuma habilidade além da que qualquer mulher possui.


 


O duque sorriu, mas não disse nada, e Hermione viu sabedoria no silêncio. Ele não discutiria com ela. Como não queria se aprofundar naquele assunto, ela decidiu tentar outra abordagem. Apesar da concordância, Harry deixara clara sua relutância em escoltá-la, fato que ela não mencionara ainda.  


 


— Ele não quer ir — observou Hermione, contundente. Infelizmente, o duque não se alegrou com a verdade contida na declaração.


 


--- Talvez — concedeu, inclinando a cabeça. — Mas Harry nem sempre sabe o que é melhor para ele.


 


Quando Hermione ia contra-atacar, o duque calou-a um olhar.


 


— Ele precisa se afastar, precisa realizar uma tarefa diferente de seu cotidiano, precisa enfrentar um novo desafio. — Inclinou-se para frente. — Na verdade, eu lhe agradeceria senhora, por presenteá-lo com essa responsabilidade, que se adequará muito bem a ele. E desejo a ambos uma jornada bem-sucedida.  


 


Com aquele comentário enigmático, o duque acenou, indicando-lhe uma cadeira vazia, e Hermione entendeu que, embora tivesse pedido com graça, seus protestos contra Harry foram indeferidos. Por algum motivo, o duque não cederia e ela teria mesmo de viajar presa ao filho dele.


 


Embora tentasse aceitar a derrota, Hermione contraiu o lábio à ideia de sofrer na mão daquele mulherengo imprestável. Mas já tentara tudo a seu alcance... menos pedir ao próprio Harry. A relutância dele disfarçada de preocupação com o clima e outras trivialidades logo sobressaltara a seus olhos.


 


Talvez conseguisse convencê-lo a permanecer...


 


Infelizmente, quando Hermione olhou para o local onde o vira pela última vez, não o encontrou. Uma rápida busca pelas mesas revelou o outro filho do duque presente em Hogwarts, mas nenhum sinal de Harry. Talvez já tivesse fugido ao dever, animou-se Hermione. Embora não tivesse muita fé nessa possibilidade, desejou que Harry desse um jeito de não realizar a vontade do pai, de alguma maneira.  


 


 


 


Simplesmente, não entendia. Já aplicara todo seu encanto e táticas apuradas em Hermione, só para vê-la fugir como uma corça assustada.


Ou melhor, ela não parecia assustada. Ao contrário, Hermione Granger parecia ter a força de um touro premiado, bem como uma personalidade implacável. Mas não havia dúvida de que fugira... direto para a proteção do duque.  Ainda ressentido com o fato de Cho ter preferido um Potter tão mais velho, vira o bastante. Que Hermione admirasse o duque o quanto quisesse, pois ele não se importava.


 


Afinal, não estava interessado na moça, convenceu-se, mesmo que os olhos dela apresentassem o tom de castanho mais incomum que já vira. De toda a prole gerada pelo atual duque Potter, somente Ronald tinha olhos castanhos, mas nem se comparavam aos de Hermione.


 


 


Olhos de feiticeira. A ideia surgiu de repente, e Harry desdenhou. Todos aqueles comentários sobre poderes místicos já o faziam imaginar coisas. Afastou a ideia enquanto descia a escada. Em vez de desperdiçar seu charme com uma estranha comum, emburrada e deslumbrada com o poder do duque, encontraria conforto no seio de alguma mulher mais dócil.


 


Havia algum tempo, Harry perseguia certa viúva e imaginava se a notícia de que partiria pela manhã lhe renderia um presente de despedida particularmente agradável. Sorriu de expectativa, só para se lembrar do lábio dolorido. Testando o ferimento, percebeu que teria que ser criativo naquela noite. Apertou o passo, excitado com a iminência do prazer, mas o som de uma porta se abrindo o deteve. Apesar do vinho, não perdera a capacidade de reconhecer uma possível ameaça. Voltou-se rápido e quase grunhiu de desânimo ao ver a mulher baixa e gorda que reconhecia como uma das esquisitas Granger. Seria Molly?


 


— Oh! Estou tão contente em vê-lo — disse ela, apressando-se em sua direção antes que pudesse desaparecer nas sombras do pátio. — E você, não é? — insistiu, inclinando a cabeça para fitá-lo com uma expressão estranha.


 


— Depende — murmurou Harry. Do que a senhora deseja, acrescentou mentalmente, praguejando contra si mesmo por ter-se demorado à saída do salão.


 


— Oh, ora, você está me provocando! É você, claro! Eu vi imediatamente, mas só queria me certificar. Como está o seu lábio? Deixe-me ver. — Molly o segurou pelo queixo e lhe examinou a boca como se avaliasse um garanhão que pretendia comprar. Obviamente, a família toda era doida.


 


Quando Harry afastou a cabeça, ela emitiu um som que lembrava o cacarejar de uma galinha velha.


 


— Devia colocar um pouco de arnica aí. Ajudaria — aconselhou ela. — Quer um pouco? Acho que trouxe comigo, mas não pode contar a Hermione, porque ela não gosta que pratiquemos a arte da cura.


 


Harry recusou enfaticamente, embora o lábio ardesse com o movimento, mas a ideia daquela mulher cuidando dele só inspirava terror.


 


--- Não, obrigado, eu só...


 


--- Claro, tenho certeza de que Hermione não pretendia machucá-lo de forma alguma — continuou Molly. Harry tentou protestar afirmando que não estava machucado, mas a mulher não lhe dava chance de falar. — Você precisa perdoá-la, entende, porque ela anda tão absorta ultimamente! Ora, ela não sabe que você... — Molly vacilou, sorriu nervosa e adotou uma expressão de culpa. — Mas a nossa querida Hermione normalmente não é tão desajeitada. Na verdade, não existe moça mais graciosa. Com certeza, você notou?  


 


— De fato, atacar com a cabeça deve exigir grande agilidade — murmurou Harry, mas a tia não notou o comentário ferino.


 


— Oh, nossa, que espirituoso! — disse ela, dando-lhe um tapinha de brincadeira no braço.


 


O que havia com essas mulheres Granger? Alguma inclinação natural à violência?


 


--- A nossa Hermione é espirituosa também, e uma garota muito inteligente. Ela aprendeu a estudar textos antigos bem cedo e tem muito conhecimento no assunto, embora se recuse a usá-lo — comentou Molly, corando. --- Ela é uma garota orgulhosa, sabe, e tornou-se prática. Ora, não sei como nos arranjaremos durante sua ausência, porque ela administra tão bem. A casa é modelo de decoro e eficiência graças a ela! Você viu o quanto ela é capaz — acrescentou Molly, dando-lhe uma piscadela, como se partilhasse um grande segredo.


 


Antes que Harry protestasse, ela prosseguiu falando as virtudes da sobrinha. E tudo o que ela disse só confirmava sua própria impressão de que a jovem Hermione representava tudo o que ele abominava. Praticidade, responsabilidade e eficiência não eram qualidades que angariavam sua simpatia, mas sim seu desprezo uma reação que a séria Hermione já provocara sozinha.


 


Finalmente, quando a volúvel Molly parou para tomar fôlego, Harry desvencilhou o braço.  


 


— Eu preciso ir. Entenda, tenho um encontro com uma mulher que não é nem sensata, nem prática. Felizmente. — Harry ficou satisfeito por finalmente deixar a mulher sem fala.  


 


— Oh, não! Assim não vai dar... — protestou Molly, assim que se recuperou, mas Harry já se dirigia ao estábulo. — Vá, então, mas você não tem escolha, sabe. É o seu destino. — As palavras proféticas e sombrias chegaram fracas, mas Harry as ouviu e estremeceu.


 


Seu destino, pensou amuado, era suportar tipos como Molly e a irmã, além, certamente, da sobrinha delas.


 


 


 


 


 


 


Olá galera, mais um cap pra vcs... Espero que gostem, posto mais um amanhã!!! Comentários são bem vindos!!


 


Só pra avisar e aconselhar quem quiser ler outra fic, minha amiga estará postando uma nova adaptação de Nora Roberts, no mesmo loggin ok?? Fica a dica...


 


Bjss até mais!!

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