Stuped







Narrado por Sirius Black


 


 - Lily, você canta mal. – conjecturei. E não adianta me olhar assim, não! É melhor ser sincero agora, do que deixa-la completamente iludida. – Sua voz é péssima. – acrescentei. – Se quiser cantar, é melhor nascer de novo. 


 Lily revirou os olhos para mim.


 - Muito encorajador da sua parte, Sirius. – resmungou, e cruzou os braços, chateada. – Obrigado.


 Dei um sorrisinho falso.


 - Por nada, querida.


 Estávamos eu, Lily, Marlene e Katherine no jardim, sentados na beira do lago, gastando todo o nosso período livre ensinando Lily a cantar. Quer dizer, elas estão, porque eu só estou deitado curtindo a maravilhosa atividade de fazer nada. Nem preciso dizer que está sendo uma perda de tempo, né?


 Katherine jogou um olhar feio para mim.


 - Não desanime, Lily. – disse.


 - Você melhorou bastante. – essa foi Marlene, que estava sentada de pernas cruzadas, com o violão no colo. – Vamos tentar de novo.


 Fiz uma careta.


 - De novo? – lamentei. – Vocês não se cansam de ouvir essa porcaria?


 Todas resolveram me ignorar. Bando de ingratas.


 Lily respirou fundo e Marlene começou a tocar no violão a música que tínhamos composto juntos. Ótimo. Recomeçou a tortura.


 Veja bem, não me entenda mal. Eu não queria deixar Lily sem esperanças para conquistar o James. Eu só queria que ela percebesse que, infelizmente, Kate tinha razão: aquele plano era um fiasco. Isso ficou bem claro quando uma cantora ótima como a Kate não conseguiu consertar o lamento de pelicano que era Lily cantando.


 Acredite, estou sendo generoso. Não quero que ela passe vergonha na frente de Hogwarts inteira. O que provavelmente vai acontecer, porque essas garotas estão sendo muito teimosas e não estão me ouvindo.


 Olhei para o lado e vi James, à alguns metros de nós, sentado com a namorada (e quando digo ‘sentado’, quero dizer ‘tentando-arrancar-a-lingua-da-Blake’) e suas seguidoras. Sabe uma coisa que eu não entendo nesse casal? Como é que conseguem ficar se beijando tão intensamente, quando se tem não sei quantas garotas em volta para observar?


 Bom, pelo menos lá deve estar melhor do que aqui.


 - Quer saber? – fez Kate, alto o bastante para interromper Lily em pleno refrão. – Eu vou buscar um cálice de água para você. Sua garganta parece estar meio seca. – e se levantou.


 - Ótima ideia. – responderam Lily e Marlene juntas.


 - Há! – eu ri, enquanto Kate se afastava. Alguns indivíduos do sexo masculino se viraram para olhar. Se Remus visse isso... – A garganta seca é o menor dos problemas.


 Marlene me mandou um olhar matador.


 - Pare, Sirius. – ordenou.


 - Parar de dizer a verdade? – perguntei, inocente.


 - Pare de agir como um idiota. – ela me corrigiu e se voltou para o violão.


 Senti que fervia por dentro.


 - Agora eu sou um idiota?


 Ela nem se dignou a olhar para mim para responder. 


 - Você sempre foi.


 - É mesmo? E porque? Porque eu sou honesto? – questionei. – Porque estou dizendo a verdade, em vez de mentir como você está fazendo? – o veneno escorria da minha voz.


 Marlene continuou com os olhos grudados no violão.


 - Você sabe cantar, Sirius?


 - Não. – e nem queria tentar.


 Ela tirou uma nota qualquer do violão.


 - Então, se você não sabe, porque está ridicularizando uma amiga que está tentando aprender? – murmurou, calma demais para o meu gosto. – Por um acaso Lily já fez isso com você?


 Minha garganta fez um nó. A resposta era ‘não’. Lily nunca me ridicularizou. E tenho a impressão de que nunca o faria.


 - Pelo menos ela está tentando aprender. E você? – perguntou. – O que está fazendo?


 Maldita Marlene. Merecia um soco por me deixar sem resposta.


 - Se está de mal-humor, guarde para si mesmo. Ninguém tem a obrigação de ficar te aturando, entendeu? – continuou ela, parando de tocar por um minuto para jogar o cabelo para trás. – Hogwarts é bem grande. Se estiver incomodado com a Lily, pode muito bem se mudar.


 E voltou a tocar calmamente.


 Já disse que odeio ela? Não? Pois é eu odeio ela. A culpa de todo o meu mal-humor é de Marlene. Foi ela quem me deixou falando sozinho ontem e foi passear no jardim com aquele imbecil chamado Jack Não-Sei-Das-Quantas. Desde que esses dois ficaram conversando no treino de quadribol, parecem que fizeram um pacto de sangue, porque não se desgrudam mais.


 Mesmo assim, nada disso era culpa de Lily. Não tinha porque eu ficar descontando tudo isso nela.


 - Desculpe. – murmurei, pegando a mão dela amigavelmente.


 Lily me mostrou a língua.


 - Eu ‘tô cagando e andando para você, Black. – disse, fingindo estar mal humorada.


 Sorri. Ela sorriu de volta e apertou minha mão.


 Marlene me jogou uma piscadela, basicamente me dando os parabéns por ter me desculpado. Não pense que acabou aqui, Marlene. Fiz as pazes com a Lily, você ainda é a garota que me deixou falando sozinho ontem para ir passear com um pateta.


 Mas esse assunto a gente resolve depois.


 - Kate está voltando. – anunciei, ao ver a loirinha andando pelo jardim com um cálice na mão. Lily e Marlene se voltaram para olhar.


 Foi nesse momento que a coisa começou a desandar. Como eu sei disso? Bem simples. Nós não fomos os únicos ao ver que Katherine estava voltando. Boa parte da população masculina (e solteira) presente no jardim pareceu ter notado a mesma coisa. E, ao olhar de relance para onde estava James, percebi que Anne Blake também havia notado.


 Kate chama a atenção de gente para caramba, né? ‘Tô chocado. É melhor Remus se cuidar.


 Enfim, o fato é que a Blake se levantou e foi em direção a Kate, arrastando consigo o namorado e seu grupinho de loiras gostosas (Susan estava junto, não deu para deixar de notar).


 - O que a Blake quer com a Kate? - perguntou Marlene.


 


 Narrado por James Potter


 


 - Que vai fazer, Anne? – perguntei, enquanto eu (e as amigas delas, claro [não sei porque essas mocreias ficam nos seguindo o tempo todo]) e ela andávamos pelo jardim de mãos dadas em direção à Kate, que estava com um cálice na mão (sabe-se lá para que).


 Anne me deu um selinho estalado.


 - Relaxe, Jay-Jay. – e sorriu. – Você já vai ver.


 Eu não conseguia entender o que ela queria com a Kate. Que eu saiba, as duas nunca foram amigas. Principalmente depois que a Anne a envergonhou na frente da escola toda no Recital de Natal do terceiro ano (não que eu tenha presenciado a cena, mas as noticias correm mais rápido que corredor de maratona nessa escola).


 Bem, talvez Anne quisesse se redimir. Ainda mais sabendo que Kate é minha amiga.


 - Ei, McCanzey! – chamou Anne.


 Kate parou de andar e se virou para nós. Fez uma careta discreta ao ver Anne, mas abriu um sorriso ao me ver.


 - Oi. – cumprimentou, amigável.


 Anne chegou perto dela e tirou o cálice das suas mãos.


 - Oi. – disse, com um pinguinho de ironia na voz. – Você trouxe água? Que bom, estava morrendo de sede. – e deu um longo gole no cálice.


 Mas o que...?


 - Muito engraçado. – fez Kate, perdendo a simpatia, mas parecendo cheia de paciência. Ela tentou pegar o cálice de volta, mas Anne se esquivou e riu, parecendo debochada.


 O que diabos...?


 - Anne, que está fazendo? – perguntei, tentando chamar a atenção dela. Anne riu alto quando Kate tentou pegar o cálice de volta de novo. – Não faça isso. – pedi, vendo que uma brincadeira não era uma boa maneira de se reconciliar com a Kate. Afinal, ela podia levar para o lado pessoal.


 Minha namorada se virou para mim, com uma sobrancelha levantada.


 - Quieto, Jay-Jay. – mandou.


 


 Narrado por Marlene McKinnon


 


 - Acho melhor irmos até lá, Lily. – sugeri, colocando o violão de lado.


 Lily começou a se levantar, as sobrancelhas juntas, sem tirar os olhos da cena.


 - Também acho. – disse ela. – Não sei você, mas não estou gostando nada disso.


 Concordei com a cabeça e também me coloquei de pé, ao lado de Lily.


 - Ei, relaxem. – Sirius nos impediu, agarrando o pulso de nós duas com as mãos, também de pé. – James está lá. Se acontecer alguma coisa, tenho certeza de que ele vai interferir.


 Bem, isso era verdade. Mas, assim como Lily, não relaxei. Continuei vigiando a Blake.


 - Espero que sim. – disse Lily. – Um passo errado da Blake para cima da Kate, e eu enfio a mão na cara dela.


 E eu soube que ela estava falando sério. Quando Lily diz ‘enfiar a mão na cara’, ela quer dizer no sentido literal da expressão. Não, não estou brincando. Acredite, é melhor James mexer os pauzinhos, ou isso aqui vai acabar em pizza.


 Fiquei ao lado de Lily, olhando a cena. Kate tentou pegar o cálice da Blake de novo, mas a vadiazinha desviou mais uma vez. James disse alguma coisa, mas se calou quando a Blake falou sabe-se lá o que para ele.


 Franzi a testa. Ele era o que, o cachorrinho dela?


 A Blake disse alguma coisa para minha amiga e todo o bando de vaquinhas dela começou a rir alto. Depois ela apontou para a Kate de cima a baixo, fazendo-a abaixar a cabeça, envergonhada por algum motivo.


 Foi aí que eu percebi que James não ia fazer nada. Porque naquele momento, Anne Blake empurrou a Katherine para o chão e jogou o cálice d’água na cara dela, e ele ficou lá, parado, só olhando. 


 Os garotos tinham tirado o dia hoje para serem imbecis?


 Quando dei por mim, Lily já estava na metade do caminho, andando dura até o grupinho que cercava Katherine.


 - É melhor a Blake ter seguro de vida. – resmungou Sirius, olhando Lily, preocupado.


 Nós dois saímos correndo atrás da Lily. Se a Blake não der ré na vassoura e se mandar, ela vai apanhar duas vezes hoje.


 - Blake. – chamou Lily, parecendo calma. – O que pensa que está fazendo?


 Anne Blake se virou, um sorriso maldoso brilhando no rosto.


 - Vejam só, meninas, quem veio defender a amiguinha! – exclamou. O bando de barangas riu. – Estou só colocando essa garota no lugar em que merece. Entrem na fila, porque daqui a pouco será a vez de vocês.


 James continuou de cabeça baixa e vi Sirius olhar para ele, inquisidor, como se cobrasse uma atitude. Como ele não fez nada, Sirius foi ajudar Kate a se levantar e deu o próprio casaco para ela, que estava molhada por causa da água.


 Examinei Kate. Ela estava com o rosto e a blusa molhados, suja de terra e com uma expressão humilhada. Seja lá o que for que aquela anta disse para minha amiga, conseguiu deixa-la sem reação. Ah, a Blake mexeu com a Katherine errada!


 - Eu é que vou mandar você para o lugar em que merece. – ameacei. – Acredite, você não vai gostar nada de lá.


 Lily e eu nos postamos na frente de Katherine, como uma barreira, e encaramos o grupinho de loiras.


 - Ui. – fez a Blake. – O que vão fazer? Bater na gente? – perguntou, desafiadora. – Por um acaso se esqueceram que eu sou monitora?


 Eu e Lily nos entreolhamos. Por Merlin, ela acha que nos assusta com aquele distintivo!


 - Você é que parece ter se esquecido. – eu disse, olhando-a como eu olho quem xinga a minha mãe. Ou seja, bem calma, porque eu não ‘tô nem aí para a minha mãe. Ela é tão vaca quanto a Blake. – Acabou de agredir outra monitora. – apontei para a Kate.


 Blake arregalou os olhos, como se tivesse acabado de se dar conta disso. Ela é tão burra! Como é que consegue?


 - Se não der o fora daqui, faço você engolir seu distintivo junto com os seus dentes, entendeu? – disse Lily e deu um passo na direção da Blake. – E aí veremos como você se vira sem ele.


 Blake vacilou um pouco, mas procurou não demonstrar. Sabe, eu não a julgo. Lily sabe ser assustadora quando quer. Blake era mais alta do que Lily, então deu um passo à frente para olhá-la de cima.


 - Eu piso em você antes de conseguir encostar em mim. – debochou. - Porque não procura alguém do seu tamanho, coisinha patética?


 Dei um passo à frente e encarei a Blake olho no olho. Graças a Merlin éramos da mesma altura.


 - Olhe à sua volta, Blake. – ordenei. – Tem uma centena de alunos aqui que viram quem foi que começou. – apontei um dedo na cara dela. – Se isso aqui acabar nas mãos de Dumbledore, você vai acabar levando a culpa, com distintivo ou não. Então eu sugiro que você dê meia volta e vá agarrar seu namoradinho, já que é só isso o que você sabe fazer. Porque se continuar aqui, eu e a Lily vamos descer o braço em você. E além de levar a culpa, vai levar uma surra que nunca mais vai esquecer. – fingi limpar a sujeira do ombro dela, com um sorrisinho. – Entendeu?


 Blake engoliu em seco e deu um passo para trás, sem responder.


 - Ah, se não tiver entendido, é melhor nem tentar. Porque só com dois neurônios, você não aguenta. – essa foi Lily (é claro).


 Sirius começou a gargalhar alto atrás de nós. Escandaloso. Eu segurei a risada e Lily deu sorriso maroto. Até as seguidoras da Blake estavam segurando o riso. E todo o pessoal que havia se amontoado ao nosso redor, com esperança de que pudesse rolar pancadaria, estava rindo também.


 Por fim, todo o grupinho de loiras saiu jogando o cabelo, feito um bando de clones alienígenas. O pessoal começou a se dispersar, saindo aos poucos, comentando entre si os pontos altos da discussão e chateados por não ter rolado uns chutes e pontapés.


 - Obrigado, meninas. – disse Kate, entrando no meio de mim e de Lily e passando um braço por nossas cinturas. – Por um minuto, achei que ela fosse me azarar.


 Eu passei o braço ao redor da minha loira oxigenada, abraçando-a de lado.     


 - Blake não é nem louca de tentar te azarar. – assegurei. – Ela sabe que se fizer isso, eu e Lily vamos enterrá-la viva e dançar em volta da tumba.


 Kate riu.


 - Vocês são o máximo.


 - Sabemos disso. – disse Lily, com uma piscadela.


 Sirius revirou os olhos para nós.


 - Vocês não deviam se achar demais, pois tudo o que é demais sobra, tudo o que sobra é resto e tudo o que é resto vai para o lixo. – recitou.


 Nossa, de onde ele tirou isso?


 - Acontece que eu sou feita de material reciclável, meu bem. – rebateu Lily.


 Joguei a cabeça para trás e gargalhei, sendo seguida por Sirius. Kate bufou e saiu do meio de nós duas, provavelmente se perguntando do que se tratava aquela conversa esquisita.


 - Vamos voltar para castelo. – disse ela. – Deixei minha varinha no dormitório e preciso me secar antes da próxima aula.


 Todos concordamos e nos viramos para ir em direção ao castelo. Ninguém conseguiu dar mais de dois passos. Um doce para quem adivinhar porque.  


 


 Narrado por Katherine McCanzey


 


 James nos esperava, parado com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa. Nossa, e eu aqui achando que ele tinha dado o fora junto com a namorada dele. Meu dia ‘tá cheio de surpresas, hein? Estou começando a achar que teria sido saudável faltar à aula hoje. 


 - Você está bem, Kate? – ele me perguntou, cauteloso.


 Sim e não. Fisicamente, eu estava muito bem, mesmo toda molhada e suja de terra. Mentalmente, estava me sentindo meio humilhada. Porque?


 Bem, como todos vocês sabem, eu e Remus nos beijamos (AAHH, MEU MERLIN! NÃO DÁ NEM PARA ACREDITAR! ELE FOI TÃO CARINHOSO, MEIGO E FOFO! EU FUI À LUA E VOLTEI NA VELOCIDADE DA LUZ!). Nenhum de vocês deve saber, mas a Blake viu tudo (AQUELA VACA MALDITA AGORA RESOLVEU SE METER NA MINHA VIDA AMOROSA?!). Outra coisa que vocês também não sabem: a Blake anunciou isso para quem quisesse ouvir.


 Não que eu tenha vergonha de ter beijado o Remus, pelo contrário, achei simplesmente fantástico. Mas a Blake me fez ver isso de um jeito diferente. Ela apontou para mim, para as minhas roupas, para o meu jeito. Chamou minha atenção para o que eu digo, o que eu faço. Para os meus livros, o meu cabelo. E me perguntou porque eu pensava que Remus gostava de mim. Porque eu pensava que ele tinha gostado do meu beijo. Porque eu pensava que era boa o suficiente para ele.


 E foi como se a Blake soubesse de tudo. Foi como se ela soubesse quem eu era e no que eu me transformava. Como se estivesse ali para me lembrar. Para me acordar do sonho.


 No fundo, ela nunca soube de nada.


 - Estou sim. – acabei respondendo, pensando que não valia o esforço explicar a James o porque de eu não estar.


 Marlene deu um passo, colocando metade do corpo na minha frente, como que para me proteger.


 - Não graças a você. – acusou, incriminadora. – Ainda bem que estávamos por perto, porque se dependesse de você, Potter, não consigo sequer imaginar o que teria acontecido.


 Isso era bem verdade. Mas eu não queria jogar nada na cara dele e muito menos cobrar uma atitude.


 - Lene... – chamei, colocando uma mão no ombro dela. – Não precisa fazer isso.


 - Acho que preciso sim. – resmungou Marlene. – Alguém precisa dizer o quanto ele foi ridículo.


 James encarou Marlene, sério.


 - Eu não pude fazer nada, está bem? – se defendeu, parecendo irritado.


 Lily veio se postar do meu outro lado, os braços cruzados.


 - Não pode porque? – questionou, parecendo tão irritada quanto Marlene. – Porque era a sua namorada quem estava agredindo a Katherine?


 James olhou Lily de cima a baixo com o nariz franzido, como se ela fosse alguma coisa repugnante. Ou talvez só estivesse com raiva.


 - Anne não agrediu ninguém, ‘tá legal? – defendeu ele. – Ela só...


 - ... jogou um cálice d’água em mim. – completei, baixinho. – Me empurrou. Me humilhou na frente de todo mundo. – e dei um sorriso chateado para o ruivo. – Você foi incapaz de me ajudar a levantar. - pelo menos isso ele podia ter feito, não podia?


 A carranca raivosa de James se quebrou em um olhar culpado na minha direção.


 - Não me julguem, ‘tá? – pediu. – Eu realmente não tinha o que fazer.


 Marlene riu, sarcástica.


 - Bem, que tal se você cobrasse dela uma atitude decente, como faz com todo mundo, todos os dias? Que tal se você mesmo pegasse o cálice dela? Que tal se você mandasse ela parar?


 - Eu tentei fazê-la parar! – jurou James.


 - E o que disse à ela? – continuou Marlene. - Seja o que for, não parece ter feito muito diferença.


 E não fez mesmo. Para falar a verdade, nem dava para chamar o que James fez de tentativa. Ele só pediu para a Blake parar uma vez e depois ficou assistindo tudo como um bom cachorrinho.


 - O que queriam que eu fizesse?! – desesperou-se James. – Azarasse ela?!


 - Que tal se você defendesse sua amiga? – disse Lily simplesmente, com uma sobrancelha levantada. – Teria sido uma boa idéia.  


 James ficou da cor de seus cabelos, apertando os lábios em uma linha fina.


 - Droga! – exclamou. – Estou tentando me desculpar!


 - É mesmo? – retrucou Lily. – Não precisaria se desculpar se tivesse tomado uma atitude.


 James deu um passo à frente e ficou encarando Lily de cima.


 - Porque não segura a língua, Evans? – sugeriu maldosamente. – Que eu saiba, era você quem costumava humilhar as pessoas em público.


 Acho que ele estava falando das vezes ela azarou Lucy Snape. 


 Lily encarou James nos olhos sem pestanejar.


 - Que eu saiba, era você quem costumava defende-las. – rebateu. – Quando foi mesmo que trocamos de lado?


 Isso fez James dar um passo para trás, sem responder. Ele pareceu lutar para encontrar uma resposta.


 De uma coisa eu estava certa: Lily quando se apaixonou por James, parou de fazer todas as coisas erradas (das quais nunca se orgulhou) por ele. Se James está apaixonado pela Blake, o que estaria disposto a fazer por ela?


 Isso é tão estranho. O amor não costuma mudar as pessoas para melhor?


 - Entendam. – pediu James, por fim. – Eu não podia contrariar minha namorada para ajudar uma amiga. Existem coisas mais importantes.


 Foi como uma facada. Doeu bem mais do que deveria. As palavras dele rasgaram meu coração ao meio e depois o queimaram pedacinho por pedacinho. Perguntei a mim mesma o que teria acontecido se fosse Remus à dizer uma coisa dessas. Provavelmente eu cairia em coma.


 As palavras dele não atingiram só a mim. Marlene arfou indignada. Sirius permaneceu quieto, como fez a conversa inteira. Segui seu exemplo e não disse nada. Não queria brigar.


 - Já chega.  – resmungou Lily. – Não estou aqui para ficar ouvindo essa palhaçada. – acrescentou, pegando a minha mão e me levando em direção ao castelo, com Marlene em nosso encalço.


 Sirius deu um tapinha no ombro de James, antes de seguir a gente. Ele pegou minha mão livre e me deu um beijo no topo da cabeça.


 - Não ligue, Kate. – sussurrou amigavelmente. – Não foi o que ele quis dizer.


 Senti Lily apertar minha mão e Marlene sorriu para mim, tentando me confortar.  


 - Eu e James. Amigos. – debochei, com a voz rouca. – É assim que a gente conhece as pessoas.


 


 Narrado por Remus Lupin


 


 NA VERDADE TUDO ACABA POR MUDAR! O QUE SINTO AGORA NÃO PODIA IMAGINAR! MEU CORAÇÃO SABIA E ME REVELOU! MOSTRANDO NOVAS EMOÇÕES, MEU MUNDO TRANSFORMOU! SÃO TANTAS COISAS PERDIDAS NA ESTRADA, MAS ESSE TEMPO PASSOU! AGORA EU SEI! HÁ MUITO O QUE APRENDER! A VIDA É PARA VIVER SEM MEDO DE PERDER! AGORA EU SEI! HÁ MUITO O QUE SENTIR! SE O CORAÇÃO PEDIR! A PARTE DE MIM ESQUECIDA! ME CHAMA DE VOLTA QUE EU VOU, VOU, VOU! CONTIGO EU VOU!


 Para a sua sorte, eu cantei tudo isso mentalmente, então ninguém me ouviu. O que foi? Não ‘tá reconhecendo a música? Vai me dizer que nunca assistiu Irmão Urso 2?


 Sim, eu conheço filmes trouxas. Meu avós eram trouxas, ué! Tem alguma coisa contra?


 Porque eu estou cantando Irmão Urso? Não tenho a menor idéia [risos constrangidos]. Desde que beijei Katherine, essa música tem estado na minha cabeça.


 Não, você não leu errado! Eu beijei a Katherine!


 Sim, eu sei que é esquisito eu pensar em Irmão Urso nessas horas, mas não pude evitar. Kate me disse que esse era o seu filme preferido na primeira vez em que conversamos (eu sei que foi uma coisa ridícula para se perguntar para uma garota, mas não me julguem, eu só quis conhecê-la um pouco mais).


 Entrei saltitante na aula de Feitiços, esperando encontrar o lugar ao lado de Kate vazio. Porque, sabe, eu não tive chance de conversar com ela no café da manhã, então esperava ter essa chance agora.


 Mas não rolou. Lily é quem estava sentada ao lado dela. Então acabei fazendo companhia ao James, que não estava com uma cara nada boa.


 - Eai, ruivo? – perguntei, me sentando ao seu lado e retirando o material de Feitiços da mochila.


 James bufou, irritado.


 - Me chame assim de novo e, juro por Merlin, vai ganhar a pior azaração da sua vida. – ameaçou.


 Ui, ele ‘tá nervosinho!


 - Que mal humor é esse? – questionei, curioso. Como alguém podia estar de mal humor em um dia tão lindo?


 James não me respondeu, mas jogou um olhar chateado na direção de Kate, Sirius, Marlene e Lily. O que? Eles haviam brigado? Todos eles?


 Pensando bem, em circunstancias normais, Lily estaria dando em cima de James nesse momento, Marlene e Sirius estariam rindo da cena e Kate provavelmente estaria ralhando com todos eles. Agora parecia que todos estavam ignorando a existência de James totalmente.


 - Eu perdi alguma coisa? – perguntei, lançando um olhar cuidadoso na direção do meu amigo cabeça de cenoura.


 James me ignorou, olhando em outra direção.


 Bufei, impaciente.


 - Vamos... – encorajei. – Que foi que houve?


 - Nada demais. Só um desentendimento. – com isso ele quis dizer ‘briga’, ou seja lá como quiser chamar.


 Fiz que sim com a cabeça, pensativo.


 - Você se desentendeu com quem? – o que era uma pergunta meio óbvia, já que até Lily estava ignorando James (veja bem, ela nunca ignora ele).


 James suspirou, cansado e massageou os olhos.


 - Você foi a única pessoa com a qual eu ainda não me desentendi, Remus.


 Caaaaara, ele brigou com TODO MUNDO?!


 - Uau. – disse eu, meio chocado. – O assunto deve ter sido sério.


 Porque é que os babados sempre acontecem quando eu não estou presente?!


 - Não foi sério. – negou James. – Eles exageraram.


 Olhei para o resto do grupo que estava sentado na nossa frente, provavelmente ouvindo tudo o que dizíamos. Era meio difícil acreditar que todos haviam ‘exagerado’ ao mesmo tempo, ainda mais quando tinham opiniões tão diferentes.


 - Sei... – resmunguei, meio incerto. – Qual foi o motivo do desentendimento?


 - AH! – fez James, jogando os braços para cima, desesperado. – Eles queriam que eu ficasse contra a minha namorada!


 - Sério? – perguntei, com uma sobrancelha levantada. Bom, ‘tá certo que ninguém gosta daquela lacraia loira, mas nenhum de nós jamais disse ao James que não deveria ficar com ela (até porque ninguém quer ficar se metendo nos rolos dele) e muito menos que deveria ficar contra ela. – Porque?


 - Não interessa o porque! – ora, mas é claro que interessa! – O fato é que a Anne é minha namorada e eu tenho que ficar do lado dela! Não concorda?


 Parei para pensar.


 - Depende. – respondi, sincero.


 James me olhou, incrédulo.


 - Depende do que?


 - Do que ela fez.


 James deu de ombros, fazendo pouco caso, e olhou para o próprio tinteiro, provavelmente meditando se deveria ou não me contar. Enquanto ele se decidia, estendi o braço e capturei uma mecha do cabelo de Katherine, que estava sentada na minha frente, e enrolei-a no dedo. A garota estremeceu de leve, o que me fez sorrir.


 A mecha de cabelo dourado era macia e brilhante, tão delicada quanto ela, e cheirava a shampoo. Deixei que caísse na palma da minha mão para sentir a textura.


 - Ela fez uma brincadeira sem graça com a Kate. – respondeu James, incerto.


 Opa. Brincadeira? Com a Katherine?


 Virei-me para ele e levantei a sobrancelha.


 - Que tipo de brincadeira? – perguntei, desconfiado. E não ouse me julgar, falou? Eu vou lá saber o que ‘brincadeira’ significa no vocabulário de Anne Blake?


 - Ah, nada demais... – desconversou James, pigarreando. – Derrubou a Kate no chão e jogou água nela.


 Viu? Não falei?


 - O que?! – exclamei, batendo o punho na mesa.


 - Foi uma brincadeira inocente! – esclareceu James.


 Ah, mas é claro que foi!


 - Inocente?! – perguntando, sem querer acreditar que ele estava dizendo aquela merda. – Agora eu sei porque tudo mundo está te ignorando.... Humilharam sua amiga em público e você foi à favor?!


 - Eu não fui à favor! – defendeu-se. – Mas também não fui contra...


 - Ou seja, você não fez nada. – encerrei o assunto, entredentes. – Como pôde?


 James fechou a cara para mim.


 - Não posso ficar contra a Anne só porque ela ridicularizou uma garota!


 COMO É QUE É?!


 - Que tal levar em conta o fato de que essa ‘garota’ – fiz aspas com os dedos. – é sua amiga?


 James fez um som de irritação, parecendo um rosnado.


 - Você não está sendo nada compreesivo. – acusou.


 - Quer saber, Potter? – eu quase cuspi as palavras para ele. – Eu sabia que você era um idiota, mas não a nível executivo!


 


 


 

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Comentários (3)

  • L.Oliveeira

    O.M.G! JAMES SEU... FILHO DE UMA... não irei me estressar... MENTIRA, ELE TÁ QUERENDO LEVAR UMAS PORRADAS! QUE BOSTA FOI ESSA? NUNCA PENSEI QUE ELE FOSSE TÃO... Juro por Deus, Merlin, Zeus, Poseidon, Hades e o Rio Estíge que se não acontecer pelo menos um soco na cara ou do James ou dessa piranha da Anne, eu serei obrigada a entrar nessa fanfic e fazer o serviço por mim mesma. E eu pensando que ele era leal... Ele tem que ficar sendo ignorado mesmo. Ele merece. Coitada da Lily!, ela até aprou de implicar com os outros por ele! E ele me vem confiar numa vagabunda? Estou MORRENDO de raiva! Ai, que ódio! Ele vai ter que rebolar para se desculpar com TODO MUNDO e eu quero ler logo! Depois dessa, necessito de mais posts! James idiota.

    2013-09-04
  • And Allegra

    Simplesmente o James foi um completo babaca! Ele simplesmente merecia sobre uma "brincadeirinha" dessa para ver se é bom, eu espero que ele sofra para ver como está sendo idiota e super concordo com o que a Lana Sodré disse. Estou torcendo para que o Remus e a Kat se acertem, que o James sofra bastante, que a Lily ignore ele por um tempo e que ele perceba como sente falta dela. Beijos!

    2013-09-03
  • Lana Silva

    Se James fosse meu amigo eu não sei se voltaria a falar com ele...Fiquei p da vida aqui ...Sério. Como ele pode ser tão influenciavél ? Tão banana ? Tão idiota ? Tão filho da mãe...Cara, fiquei mortissima de raiva dele. Cara, ela é amiga dele, se fosse com Lily eu teria ficado maluca, ainda mais com Kate ? Acho que é muita loucura querer ficar do lado de uma namorada dessa, uma garota com defeitos interminaveis que ainda acha legal sair humilhando os outros por ai. Se eu tivesse um namorado assim ele viraria ex sem que eu pensasse duas vezes, poxa...James vacilou feio. Você não imagina o quão chateada tom com ele. E aos outros...Bem, tô feliz que até mesmo Sirius esteja o ignorando. Cara, depois dessa, acho que ele tem quer rever os conceitos dele, porque se o garoto que defendia a amiga, Lucy, deixa uma outra amiga ser humilhada dessa forma nem merece ser chamado de amigo. Eu adorei o capitulo, embora tenha ficado muito chateada com James. Pisou feito na bola...Beijoos! 

    2013-08-23
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