Eu + Você







Narrado por Marlene McKinnon


 


 And I, am feeling so small


 “Pequeno”? Que p*rra é essa? Definitivamente não é um bom termo.


 And I, am feeling so small [risca a palavra]


 Vejamos… Como continuar? Se “pequeno” não encaixa... Merlin, minha criatividade foi parar nas cucuias. Melhor pular para o próximo verso.


 It was over my head , I know


 O que? O que eu sei? Ah, essa é fácil. Eu não sei de nada. Viu? Nem precisei pensar para responder essa.


  It was over my head, I know nothing at all


 Hum… Soa bem. Isto é, se você é Sirius Black e não liga de admitir que é completamente burro! Espera, mas eu acabei de fazer isso. Que merda. Melhor riscar, não ficaria bem na música. Além do mais, eu não sou burra. Se fosse Sirius à escrever essa música, ele bem poderia usar essa frase.


 It was over my head, I know nothing at all. [risca a frase]


 Vê se pára de pensar em Sirius, Marlene! Mas que inferno! Se ficar pensando em coisa ruim, vai acabar estragando a música.


 Como assim, “Sirius não é uma coisa ruim”?! É claro que é! Ele é um energúmeno egocêntrico, babaca e imbecil! Quer dizer, ele ficou engolindo aquela loira oxigenada durante o café da manhã inteiro! Foi preciso um grito da Lily para separá-los... Isso é uma falta de respeito do caramba!


 And I, will stumble and fall


 O que? “Engraçado” e “bom amigo”? Espera... Estamos falando do mesmo Sirius? Até parece que vocês não conhecem ele!


 Não estou implicando coisa nenhuma! Eu só acho um absurdo um casal ficar se pegando no meio do Salão Principal, impedindo gente como eu de comer sem vomitar as tripas!


 Merlin, eu disse “casal”? Credo! Susan Blake e Sirius Black NÃO são um casal!


 I‘m still learning to love


 Ai, nossa! Acabei de me tocar que as iniciais deles são iguais! Susan Blake e Sirius Black! SB! Misericórdia, só pode ser um sinal divino! Será que os deuses estão me dizendo que Sirius vai acabar namorando Susan Blake?


 Não. Sirius não namora ninguém. Ele nunca namorou e nem nunca vai namorar! É a ordem natural das coisas!


 Mas, e se...?


 Just starting to crawl


 “Rastejar”? “Apenas começando a rastejar”? Minha santa Morgana, que negócio é esse?!


 Just starting to crawl [risca a frase de novo]


 Não tem ninguém rastejando aqui (à não ser Sirius, que está de quatro por aquela sirigaita já faz tempo).


 PARE DE PENSAR EM SIRIUS!


 Quem liga se ele quer dar uns malhos naquela coisinha?! Ele que se dane! Eu estou cagando e andando para isso! Além do mais, nada do que acontece com aquele crápula é da minha conta!


 Say something, I‘m giving up on you


 E daí se Sirius estiver se apaixonando pela Blake? E daí se eles decidirem estabelecer algum tipo de relação duradoura? E daí se eles se casarem?


 Ela que faça bom proveito dele!


 I‘m sorry that I couldn‘t get to you


 Pelo menos os filhos deles serão bonitinhos e não terão problema nenhum com romance quando crescerem. É claro que não vão puxar a beleza da mãe, porque Susan Blake é um tribufu. A parte bonita virá de Sirius, óbvio.


 É, isso não dá para negar. Ele sempre foi muito bonito. E conseguia me convencer de qualquer coisa com aquele sorriso.


 Anywhere, I would‘ve followed you


 Porque eu estou pensando tanta baboseira?! Sirius e Susan não vão namorar, nem se casar, e consequentemente não terão filhos! Eu terei um ATAQUE se isso acontecer! E não tem absolutamente nada a ver com ciúmes, antes que você, leitorzinho de quinta categoria, me pergunte!


 Exato. Nada de namoro, amor, casamento ou filhos. Que Sirius apareça na minha frente agora e declare sua paixão por Susan Blake se alguma dessas coisas for verdade!


 - “Estou desistindo de você”? De quem você está desistindo, Lene?


 Paralisei. Sirius? O que diabos ele estaria fazendo aqui? Será que acabei falando a última frase em voz alta? Merlin trouxe Sirius até mim, para que este declare seus sentimentos pela Blake? É isso o que dá ficar pensando em gente podre, só atrai coisa ruim!


 Marlene, deixe de ser idiota! Isso é tolice! Não, não é ele... Só pode ser minha imaginação. É isso mesmo, estou tendo alucinações.


 Que merda! Sou muito jovem para caducar.


 - Si... – minha voz saiu meio rouca. Pigarreei. – Sirius? É você?


 Uma risada inconfundível soou logo atrás de mim.


 - E quem mais seria?


 Jesus, Maria e José! Se bem que não tem razão alguma para que algum desses três apareça aqui para falar comigo.


 Droga.


 - Oi. – cedi, meio aborrecida. O que ele estava fazendo aqui?! Duvido muito que tenha vindo até aqui dizer que está perdidamente apaixonado pela Blake...


 E, afinal, onde é que ela está?! Ocupada demais para se agarrar com Sirius?! 


 O garoto se sentou ao meu lado, no chão. Aliás, eu nem disse onde estou, né? Bom, assim que sai do Salão Principal (depois do meu pequeno desentendimento com o Potter), segui para as minhas aulas do dia, o que soa meio estranho, levando em conta meu histórico, mas eu precisava pegar as anotações das aulas para Kate (normalmente é Remus quem faz isso, mas eles estão brigados, então sobrou para mim e Lily). Depois que cumpri meu dever estudantil, descobri que tinha um horário livre um pouco antes das quatro da tarde, e decidi relaxar um pouco, antes de ir pegar a Kate na Ala Hospitalar para mais uma noite daquelas.


 Em outras palavras, estou sentada no chão de um corredor qualquer, escrevendo no verso do meu dever de Adivinhação. Ou estava, até essa ameba vir me interromper. 


 Produtivo, não?


 - O que está escrevendo? – ele perguntou.


 Bufei.


 - Nós dois sabemos que você acabou de ler sem a minha permissão. – acusei.


 Sirius riu, sem graça.


 - Desculpe? – pediu, provavelmente fazendo aquela cara irresistível de cachorro abandonado que derrete até o coração da McGonnagal.  


 Como se eu me importasse!


 Dei de ombros.


 - De que adianta? Você só faz o que quer mesmo...  – disse.


 Sirius não respondeu. Apenas suspirou, parecendo cansado.


 Ei, não me olhe assim! Eu sei que Sirius está sendo legal e educado, e que eu fui grossa e estúpida. Mas ele bem que merece! Quer dizer, aposto que a Blake não está disponível agora, por isso ele veio me procurar!


 Ignorando completamente a presença dele, abri a bolsa, joguei minha pena, meu tinteiro e meu dever de adivinhação lá dentro. Fechei o zíper de uma vez, com mais força do que o necessário.


 Pensando bem, acho que Sirius deve ter mesmo me procurado para conversar numa boa. Se eu continuar aqui, ele vai se lançar em um relato interminável sobre sua atual ficante, exatamente como fez da última vez que conversamos.  


 NÃO É CIÚMES! 


 Ignore a frase acima. Ela foi escrita só para o caso de algum leitor mal amado considerar as palavras “Marlene” e “ciúme” na mesma frase.


 Eu estava prestes a me levantar e dar o fora dali, quando Sirius resolveu se pronunciar:


 - Acho que a gente precisa conversar... – disse. Senti o olhar dele arder no meu rosto. – Não ‘tô a fim de continuar sem saber o porquê de você estar agindo assim.


  Olhei para ele. Sirius estava encostado na parede, as pernas esticadas. Os dois primeiros botões da camisa estavam abertos, as mangas dobradas até os cotovelos. Os cabelos caindo em cima dos olhos. Suspirei. Até de uniforme ele conseguia ficar charmoso.


 Foco, Marlene.


 - O que quer dizer? – perguntei, tentando não olhar para o pedacinho de peitoral que aparecia pelo espaço aberto da camisa.


 Sirius se sentou meio de lado, para me olhar de frente.


 - Você está me ignorando à dias. – explicou ele.


 - Não estou, não. – neguei. Eu sei que é verdade, mas não significa que eu tenha que admitir isso.


 - Está sim. – teimou Sirius. - E, quando é obrigada a falar comigo, como agora, fica me tratando mal.


 Uau, estou admirada com a percepção desse garoto!


 Levantei a sobrancelha.


 - Você está imaginando coisas. – cruzei os braços. – Não seria a primeira vez.


 Sirius revirou os olhos.


 - Olha, se eu fiz alguma coisa, eu peço desculpas. Não quis magoar você.


 Que babaca! Ele pensa que estou magoada só porque parou de falar comigo! Como pode ser tão cheio de si?! Eu não estou magoada!


 - Você não fez nada. Não estou te ignorando. Não estou magoada. – grunhi, irritada.


 Sirius juntou as sobrancelhas.


 - Não mente para mim.


 Não estou mentindo! ‘Tá, talvez tenha ficado um pouco estressada, mas definitivamente não estou magoada.


 Estou?


 É claro que não! Pare de pensar besteiras, Marlene.


 - Pode ser sincera comigo? – continuou Sirius, antes que eu pudesse responder. – Por dez minutos?


 Opa. Não acho que seja uma boa idéia. Sinceridade demais nunca é bom.


 - É uma proposta perigosa. – salientei.


 - Não me importo. Só quero saber o que está acontecendo.


 Dei um sorrisinho enviesado.


 - Se eu contar, vou ter que te matar. – comentei, analisando minhas unhas. Não, não estou brincando.


 Sirius riu, ignorando meu tom venenoso.


 - Qual é, Lene? – suplicou, em um tom quase manhoso.


 “Qual é, Lene?” Boa pergunta. Qual é a sua, Marlene? Porque tem tanto medo de dizer ao Sirius que está brava com ele por causa daquela metida à besta da Blake?


 Papagaio, estou falando muito em terceira pessoa hoje...


 - Olha só, não estou muito confortável com relação à essa conversa. – disse. Droga, fui sincera sem querer!


 Sirius pareceu pensativo por alguns instantes. Depois sorriu para mim.


 - Nem eu... – admitiu. Pegou minha mão e começou a brincar com os dedos, distraidamente. – Vamos fazer o seguinte: eu pergunto o que quiser e você tem que responder. Com toda a sua sinceridade.


 Um arrepio subiu pela minha espinha quando ele entrelaçou os dedos nos meus.


 Não ‘tô gostando nada disso.


 - E se eu não quiser responder? – concentração, concentração, concentração...


 Ele fez que não com a cabeça.


 - É obrigatório.


 Isso ‘tá me cheirando a furada...


 - Depois será a sua vez?


 - Sim.


 Respirei fundo e tirei minha mão da dele. Provavelmente vou me arrepender disso mais tarde:


 - ‘Tá, eu topo.


 Nós dois nos ajeitamos, para ficarmos de frente um para o outro. Cruzei as pernas, ajeitando a bolsa no colo, evitando olhar para Sirius. Podia sentir ele se movendo perto de mim, mas me concentrei em ajeitar a barra da saia, como quem não quer nada. Minhas mãos tremiam.


 Marlene, vê se relaxa! Respira, expira, respira, expira...


 Uh, Merlin, esse negócio de sinceridade não pode ser saudável!


 - Certo... – começou Sirius. Rezem por mim, por favor... – Porque está tão brava comigo?


 Ah, que ótimo! Já começamos com o pé direito. Esse dia está com tudo para terminar em desgraça!


 - Porque você prefere ficar com Susan Blake do que ficar comigo. – respondi rápido.


 Estou oficialmente ferrada.


 Sirius arregalou os olhos e eu tive uma vontade quase incontrolável de rir.


 - Isso não é verdade! – ele negou.


 Revirei os olhos.


 - É claro que é! Você não desgruda mais dela! Ficam se agarrando pelos corredores feito um daqueles casais apaixonados dos filmes trouxas! E, além disso, você não pára de falar dela, até quando está comigo! – Sirius abriu a boca para falar, mas eu continuei: - Isso me deixa tão... Às vezes você me deixa louca de raiva!


 ‘Tá legal, esse desabafo foi totalmente desnecessário.


 - Isso não significa que eu prefira ficar com ela! – ele se defendeu.


 Existem muitos argumentos contra essa afirmação, Sirius, querido.


 - Então porque você se afastou de mim?! – exclamei. Senti um negócio esquisito no estomago e alguma coisa pinicou meus olhos.


 Credo! Se controla, mulher! Já houveram choros demais nessa fanfic.


 - Porque você decidiu ficar de agarração com o Jack!


 Jack? O que diabos Jack tem a ver com isso?


 - Uma coisa não tem nada a ver com a outra!


 - É claro que tem!


 - Eu e Jack somos amigos!


 - Estou vendo essa grande amizade!


 - Quanta ironia, Black! Quando foi que ficou desse jeito?


 - Não mude de assunto!


 Fechei a cara totalmente.


 - Eu não me lembro de ter assumido compromisso nenhum com você, seu imprestável!


 - E nem eu com você!


 - ENTÃO PORQUE SE IMPORTA?! – gritamos juntos.


 Silêncio.


.


.


.


 Não vou responder.


.


.


.


Acho que ele também não vai.


 Eu sabia que essa droga não ia dar certo. Olha só para a gente! Brigando feito cão e gato!


 Olhei para Sirius, desafiadora. Ele sustentou o meu olhar.


 - Comecei a sair com a Susan pelo mesmo motivo que saio com qualquer garota: porque ela é bonita. – Sirius falou, rendido.


 Bonita? Susan Blake? Não aceito essa...


 - Uau. – foi esse meu comentário brilhante.


 Sirius deu um sorrisinho.


 - Não pretendia continuar com ela por muito tempo...


 - E porque não?


 - Porque ela é um porre. - senti um sorriso pronto para se abrir ao ouvir Sirius dizer isso. Mas me contive. – E porque percebi que você estava distante.


 Então ele não é um insensível completo. Estou um pouco surpresa.


 - Se é assim, porque ainda está com ela?


 - Bem simples: porque você começou a sair com o Jack. E eu fiquei furioso.


 Levantei uma sobrancelha. 


 - Furioso? Porque?


 A palavra “porque” está sendo super valorizada nesse capítulo. Ignorem.


 - Estava com ciúmes de você, Lene. Só por isso.


 Senti meu queixo despencar. Estava prestes a falar qualquer coisa, mas Sirius tomou as rédeas:


 - Porque está com o Jack?


 Ah, essa é fácil. Porque ele é lindo, ele é divertido, tem um bom papo, é muito fofo, tem boas idéias, é gentil, educado, inteligente... etc, etc, etc... Duvido que Sirius queira ouvir alguma dessas opções.


 Dei de ombros.


 - Porque ele é uma boa companhia. – acabei dizendo.


 Mesmo com minha resposta resumida, Sirius não pareceu muito feliz.


 - A “companhia” dele é melhor do que a minha? – quase pude ouvir as aspas na fala dele.


 Suspirei.


 - Não. – e questionei: - A “companhia” de Susan é melhor do que a minha?


 Sirius riu de leve.


 - Não. – e questionou: - Porque não estamos juntos, então?


 Cruzei os braços, carrancuda.


 - Porque você é um tremendo canalha.


 Ele riu de novo. Eu quis rir com ele, mas me segurei. Ainda não estava tudo resolvido.


 - Se eu terminar com a Susan, ainda vou ser um “tremendo canalha”?


 Enrolei uma mecha de cabelo em um dedo, um pouco abalada pela felicidade que essa possibilidade me causou.


 - Se ver livre dessa garota só vai melhorar seu convite social. – acabei dizendo.


 - Posso dizer o mesmo sobre o Jack.


 Fiz uma careta e joguei a mecha de cabelo para trás do ombro.


 - Jack é um cara legal. – o que é bem verdade!


 Sirius fez uma cara horrorosa, como se eu tivesse acabado de amaldiçoar a família inteira dele, o que, de fato, não aconteceu. Eu só defendi meu grande amigo Jack Torrance.


 Levantei as sobrancelhas para ele.


 - O que sugere? – sacudi os braços, meio histérica. - Que eu e você fiquemos juntos?


 Não querendo ser chata (mas já sendo), eu acho que essa história de casal nunca acaba bem. Porque? Bom, os casais normalmente se apaixonam (mais cedo ou mais tarde), e eu sou inteligente o suficiente para saber que se apaixonar é uma roubada.


 Uso o caso Lily/James para comprovar minha tese.


 Mas, enfim... Sirius está me olhando com uma cara sonhadora.  


 - É exatamente o que eu sugiro. – ele diz.


 - Acha que vai dar certo? – eu digo.


 - Acho. – e os olhos dele brilharam quando disse isso. Ele pegou minha mão de novo e deu um beijo na palma. Depois sorriu DAQUELE jeito. Sabe, AQUELE jeito? Pois é.


 Isso é um golpe baixíssimo.


 Sirius parecia tão confiante (e lindo). Será que ele realmente acredita que podemos ser um casal?


 Bom, se ele continuar acariciando minha mão desse jeito, eu também vou acabar acreditando. E muito, pelo visto.


 Encarei minha bolsa, pensando a respeito. Depois levantei os olhos.


 - Porque acha isso? – perguntei, olhando nos olhos dele. Sem desviar o olhar, e com determinação, Sirius respondeu:


 - Porque eu gosto de você, Lene. – ele franziu a testa. – Gosto demais de você. – e riu. – Acho estou me apaixonando.


 Ai, caramba.


 


Narrado por Sirius Black


 


 Observei o rosto de Lene se transformar em uma careta de surpresa. E depois ficar meio verde e enjoado, como ela estivesse prestes a vomitar. E, então, ela parecia uma assassina psicopata, louca para me jogar um Avada Kedrava. De repente, ela começou a engasgar, e eu tive certeza absoluta de que ela ia vomitar.


 - Minha Santa das Causas Perdidas... – arfou, soltando a mão da minha e se abanando. – Que encrenca!


 Concordo. É uma encrenca daquelas.


 Senti baixar um arrependimento. Não deveria ter sido tão sincero assim. Que grande idéia, Sirius! Marlene provavelmente nunca mais vai olhar na sua cara!


 - É... – comecei, sem saber exatamente o que fazer. Peguei um de meus livros e comecei a abaná-la. – Talvez tenha sido um pouco demais, né? – pigarreei. Marlene parecia prestes a ter um ataque cardíaco enquanto eu tentava me explicar. Ela colocou a mão na própria testa. – Vamos... fingir que eu não disse nada e... Quem sabe... Bom... - Marlene riu de mim. Acho que eu parecia um completo idiota. – Você tem razão, foi mesmo uma proposta perigosa.


 Marlene começou de novo com aquela mudança repentina de humor, enquanto eu me preocupava com o fato de estar completamente perdido. A garota à minha frente começou a gargalhar audivelmente, e eu só conseguia pensar que Lily tinha posto alguma coisa no suco dela.  


 O riso de Marlene foi ficando mais leve, até que acabou. E então ela começou a chorar.


 Paralisei. O livro que eu estava segurando foi parar no chão.


 Certo. Essa não era exatamente o tipo de reação que eu estava esperando.


 - Lene... – chamei, enquanto ela se debulhava em lágrimas. A boa notícia é que ela não está mais mudando radicalmente de humor. A má notícia é que ela está engasgando nos próprios soluços.– Vê se não me apavora, ‘tá? – embora eu já esteja apavorado. Eu ri, nervoso, enquanto me aproximava dela. Eu pretendia passar o braço pelo ombro dela e, quem sabe, lhe oferecer um lenço (se é que eu tenho um). Mas, assim que cheguei um pouco mais perto, Marlene abraçou meu peito e escondeu o rosto no meu pescoço. – Eu peço desculpas. – prometi, acariciando os cabelos dela. – Pára de chorar, por favor... Eu não sei o que fazer. Diz para mim o que eu faço.


 Marlene soltou uma risada. Sua respiração bateu no meu pescoço e eu me arrepiei todo. Senti sua mão subir do meu peito para a minha nuca. Os dedos dela se enrolaram no meu cabelo.


 Foco. Foco. Foco.


 - Ei, o que eu disse foi tão ruim assim? – perguntei, tentando criar uma distração. – Está chorando de desespero, ou de felicidade?


 Marlene engoliu o choro.


 - Você é um cretino. – xingou, com a voz embargada.


 Poxa, muito obrigado. Eu declarei para ela os meus sentimentos mais profundos e é assim que ela me agradece?


 - Já me chamaram de coisas piores. – respondi. – Isso quer dizer que está chorando de desespero?


 Marlene fungou. Acho que estava começando a se acalmar. Merlin seja louvado!


 - Provavelmente. – foi a resposta dela.


 Um nó se formou na minha garganta. Que droga. Acho que estou prestes a levar um fora da garota que eu mais gosto em toda Hogwarts (sim, em Hogwarts, porque fora da escola tem a minha mãe, e não tem mulher que ocupe o lugar dela no meu coração). Tentei me convencer de que a situação não era tão mal quanto parecia.


 - Porque? – tentei soar divertido. – Não sou tão ruim assim...


 Lene levantou a cabeça para me encarar. Ela secou o rosto e balançou a cabeça negativamente para si mesma. Parte de mim queria que ela ainda estivesse me abraçando. A outra parte estava feliz por poder encará-la.


 Quanta contradição. Eu, hein?


 - Você não é tão ruim assim... É bem pior. – fiz uma careta, aborrecido. Marlene me encarou com carinho. - Não estou chorando por causa disso. – e sorriu para mim. Ela levantou a mão e afastou alguns fios de cabelo da minha testa. – Nem sei porque estou chorando. Acho que é porque nós dois estamos oficialmente ferrados.


 Será que Marlene estava dizendo o que eu achava que estava dizendo? Você acha que ela está dizendo o que eu acho que ela está dizendo? Sim? Ótimo. Isso só prova que não estou ficando louco.


 Ainda assim, acho melhor verificar...


 - Se for um casal oficialmente ferrado, por mim tudo bem...


 - Tem certeza de que daremos certo como casal?


 - Não tenho certeza de nada. Só quero ficar com você... Isto é, se você quiser ficar comigo. – pausei. – Você quer? – murmurei. Minha voz saiu um pouquinho mais esperançosa do que eu gostaria.


 Marlene abriu um DAQUELES sorrisos. Sabe... AQUELE sorriso? Pois é.


 - Provavelmente. – brincou ela, a mão macia deslizando pela minha bochecha.


 Senti que estava sorrindo também.


 - Não acha que essa é uma resposta muito vaga? – provoquei, pegando a mão dela. Perdi a conta de quantas vezes fiz isso hoje.


 - Provavelmente. – e apertou minha mão.


 Eu ri.


 Ela também.


 - Posso beijar você? – perguntei. – Responda com sinceridade. – brinquei.


 Marlene levou a mão até minha nuca e puxou meu rosto. Ela mordiscou minha boca uma... duas vezes... Passou a língua, de leve, pelo meu lábio inferior e se afastou alguns centímetros, beijando o cantinho da minha boca.


 Puxei o rosto dela de volta e a beijei. O polegar de Lene fez o contorno do meu maxilar e senti aqueles arrepios que tanto me fizeram falta quando estava com Susan.


 Marlene desceu a boca e beijou meio queixo, baixando até meu pescoço e indo até a orelha. Ela descruzou as pernas e se sentou no meu colo, voltando a me beijar. Os braços de Marlene estavam em volta do meu pescoço e eu desci as mãos para a cintura dela. Pedi passagem com a língua e aprofundei o beijo.


 Marlene suspirou entre meus lábios.


 Fiquei meio tonto.


 - Hum... – resmunguei, descendo a boca para o pescoço dela. – Vou levar isso como um ‘sim’. – e a beijei de novo.


 


   


 


 

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