25 de Dezembro de 1972



25 de Dezembro de 1972


 


Querida Lily,


 


Você está aqui pra passar o Natal em casa. Acabei de sair do banho e estou me demorando a descer para a ceia porque precisava escrever isso aqui. Claro que estas são palavras que você jamais lerá e que, creio eu, nem desconfia que se passam na minha mente e no meu coração.


         Espiei você se arrumando pela fresta da porta do seu quarto. Você está tão linda com o seu vestido rodado verde-menta com renda marrom nos punhos e na barra. Você parece um lindo sorvete de menta com pedaços de chocolate. Sinto falta da época em que eu te ajudava a se vestir, a pentear os cabelos, a colocar aquela corrente dourada com um pingente em forma de sol. Lembro que a mamãe dizia que tinha nos dados essa corrente – a sua com um sol e a minha com uma meia lua – para que soubéssemos que mesmo que não pudéssemos nos ver, estaríamos sempre perto uma da outra.


         Eu confesso que dói bastante ver você fechando a mala para voltar para a sua escola. Dói quando você coloca os livros novos que ganhou de Natal entre as suas roupas perfeitamente dobradas, separa suficiente papel de carta e envelopes pra poder escrever pra casa. Confesso que adoro receber as suas cartinhas escritas com capricho, com passarinhos e flores desenhadas nas bordas das folhas. Dói ver aquele trem partindo. Dói saber que não a terei por perto.


         Sei que a evito quando você está aqui. Sei que a ignoro, que não respondo suas perguntas, que ando pela casa com o nariz empinado como se a sua presença não fizesse diferença. Eu sinto muito, mas é a única forma de não sentir a sua falta. Talvez, se eu a odiar, não vou sentir tanto a sua falta quando você for embora.


        


Sinceramente,


Tuney.

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