OutBack



                                   
         Capítulo 9
– OutBack


        FINAL



 


— Rony, estamos chegando! — acordou-o Hermione.


 


  Sonolento, o ruivo abriu os olhos e viu pela janela do ônibus quando o veículo cruzava o portal da cidade que possuía uma placa imitando os monólitos do deserto, com os seguintes dizeres:


 


“Welcome to Alice Springs!”


 


 


  O que chamou a atenção dele, porém, não foi o fato de finalmente estarem chegando à cidade, mas sim de vislumbrar as primeiras imagens do arenoso deserto Australiano, o Outback. Ao fundo, emoldurando as estradinhas pouco movimentadas, as ruas arborizadas e, ao ganharem o miolo do centro de Alice Springs, as construções de arquiteturas campestres, Rony podia sentir o intangível terreno colossal e obsoleto, misterioso e silencioso, que fazia a fama daquele país.


 


  Hermione, maravilhada ao seu lado, também não podia deixar de comparar a diferença abrupta da realidade chuvosa e cinzenta de Londres com o clima seco, avermelhado e límpido dali.


 


  O ônibus finalmente chegou ao seu destino final, não numa rodoviária, mas próximo a um parque, no centro, como costumava ser em cidades pequenas. Os viajantes começaram a se levantar e saírem em fila do veículo, e Rony e Hermione esperaram que a massa deixasse o local para que pudessem descer com mais tranquilidade.


 


— Segundo o Alex, o veículo para Yulara, que teremos que pegar amanhã, parte do centro da cidade, ao lado do parque municipal. — observou Hermione quando eles pararam na calça com as bagagens nas mãos — Creio que seja aqui.


 


— Provavelmente. — concordou ele, sentindo as pernas formigarem depois de muitas horas sentados.


 


— Está cansado? — ela perguntou.


 


Rony maneou a cabeça. 


 


— Queria usar a varinha pelo menos uma vez para fazer essas mochilas levitarem no caminho até a hospedaria.


 


— Tenha um pouquinho mais de paciência, Ron.


 


— Tudo bem, eu tenho. — ele suspirou enquanto atravessavam a rua — E quem sabe ainda não ganho aquela massagem que você está me devendo.


 


—Como assim? — a morena perguntou, fingindo-se de desentendida.


 


— Se eu não te conhecesse poderia jurar que você esquecia-se das suas promessas. — sorriu-lhe galanteador.


 


***


   A hospedaria que Alex reservou para eles tinha um bom preço como pedido por Rony, mas nem por isso era sinônimo de espelunca. Na verdade tratava-se de um recanto simples, contendo como vista todo o noroeste além de Alice Springs, o deserto.


 


  Uma lua grande, completamente platinada, despontava no findo horizonte quando os dois entraram no quarto. Havia somente uma cama de casal, o que de maneira nenhuma desagradou Rony ou Hermione, uma mesinha de pedra, e surpreendentemente um frigobar.


 


  Rony jogou sua mochila na poltrona mais próxima e deixou-se deslizar com as costas estiradas, na cama. A morena, que parecia exausta, sentou-se ao lado. Ele quis puxa-la para cima de si, mas achou que tal gesto seria muito ousado e mal interpretado... pelo menos nas atuais circunstâncias.


 


— Ron... talvez você devesse...


 


— Dar um jeito de dar notícias para minha família? — adivinhou seu pensamento — Eu sei. Pensei nisso durante a viagem. Preciso mesmo.


 


— Um patrono?


 


— Minha mãe me esganaria por não poder ouvir minha voz, mas estou vendo que este é o único modo agora.


 


— Lembro-me de ler em algum livro sobre como reconhecer nosso povo entre os trouxas, no continente oceânico... Preciso pensar... Talvez tenhamos acesso a uma lareira.


 


— Enquanto você pensa, será que seria grosseria eu tomar um banho? — e sentou-se.


 


— De maneira nenhuma! — exclamou, tapando o nariz com a ponta dos dedos.


 


— Quê?! Eu não estou cheirando mal...! — informou e lançou-se num abraço repentino contra o corpo dela.


 


— Para Ron! Para!  — gritou Hermione, rindo ao mesmo tempo que tentava desvencilhar-se do abraço.


 


     Ele realmente havia suado a beça durante a viagem.


 


 


***


 Mesmo com a certeza de um dia seguinte cansativo e apreensivo, Hermione deu-se a chance de relaxar durante aquele resto de noitinha em Alice Springs. Depois de Rony foi à vez de ela entrar e tomar uma refrescante ducha. Vestiu calça jeans e uma blusinha leve, secou os cabelos, os ajeitou com a ajuda de um feitiço eficiente, e saiu do banheiro. Ele já a esperava, de pé ao lado da janela, parecendo completamente abobalhado pelo satélite lunar.


 


— A lua está muito bonita hoje. — ponderou.


 


Hermione se aproximou dele, na janela, e ficou inebriada pelo perfume e pela forma simplória, mas charmosa como Rony estava vestido. Calça e camisa de algodão, cabelos jogados para trás e as mãos enfiadas no bolso como de costume.


 


— Vamos? — o chamou.


 


— Qual é o plano?


 


— Jantarmos e procurarmos alguma lareira encantada.


 


— Adoro o modo como você põem as coisas, Mione. — ironizou, não se esquecendo de segurar a mão da namorada quando saíram da hospedagem e começaram a caminhar para o centro da cidade.


 


***


 


   Hermione foi a primeira a acordar na manhã seguinte. Sentia uma forte dor de cabeça que se propagava do fundo dos olhos até a base da nuca. O quarto ainda estava escuro. Olhou para o relógio de ponteiros fluorescentes na parede e ficou mais tranquila por saber que tinham uma hora e meia, antes da partida do transporte para Yulara, do parque. 


 


  Enlaçando-a pela cintura estava a mão grande e protetora de Rony, que ressonava baixinho.


 


  Haviam tido uma noite encantadoramente divertida, como ela não pensou que teriam ali, em meio às buscas. Jantaram um mega lanche, do qual nem ele aguentou terminar, beberam refrigerante compulsivamente enquanto caminhavam por uma exposição de cartazes pelo parque, sobre os animais nativos do país, depararam-se com uma apresentação de dança local aborígene de um evento cultural, dançaram, suaram e riram... riram até que seus estômagos pedissem clemência.


 


  Em meio a tudo isso ainda conseguiram localizar um pequeno estabelecimento bruxo, através das dicas que Hermione ainda lembrava-se de como identificar a bruxaria nos países da Oceania, e encontraram uma bendita lareira para que Rony pudesse se comunicar com a Toca.


 


   O clima estava tenso por lá. A Sra. Weasley gritou e ameaçou o filho antes de derreter-se em lágrimas e implorar para que ele voltasse. Pelo menos eles haviam dado a notícia. E o primogênito dos Weasley chegou a prometer que até o fim da semana eles estariam em Londres com o Sr. e a Sra. Granger também. 


 


   Talvez fora isso que contribuiu para a quebra da tensão na morena. Rony andava tão otimista com a solução logo adiante, que era impossível não se contagiar-se. Chegaram à hospedaria tarde, e bem cansados. Se houvesse um resquício de bebida alcoólica nos refrigerantes ela podia jurar que o namorado estava embriagado. Mas não. Era mais provável que estivesse feliz, quando abraçou-a e aplicou beijos quentes e sensuais nela assim que voltaram a ficar sozinhos no quarto.


 


   Ela rapidamente freou a situação com a proposta tentadora de massagear as costas dele, e ele, derrotado de cansaço, aceitou de prontidão. Tirou a camisa, revelando costas sardentas e firmes, deitou do seu lado na cama e recebeu as mãos quentes e suaves dela. Por fim adormeceram abraçados...


 


   Agora ela acordava cansada por ter dormido pouco e ainda estar com o corpo fatigado.


 


—Ron! — cutucou o namorado na escuridão.


 


— Uh... — ouviu-o resmungar, sonolento.


 


—Está na hora de levantar.


 


— Que horas?


 


— Agora são 4:00.


 


— Não... temos nem mais uns... 10 minutinhos?


 


—O ônibus sai às cinco e meia, Ron. Quero estar nele.


***


 


  Bocejando, Rony acompanhou Hermione para dentro do primeiro ônibus que partiria em direção a cidade turística de Yulara. Levaram alguns suprimentos do frigobar para comer durante a viagem que tinha o tempo estimado de 5 horas de duração.


 


  A paisagem foi ficando mais selvagem e remota conforme avançavam OutBack adentro. O clima árido, a vegetação rasteira, os primeiros monólitos avermelhados, cangurus em famílias inteiras saltando pelas planícies. Rony grudou os olhos contra o vidro da janela, fascinado com a abundância da vida mesmo tendo um deserto como palco. Hermione, como sempre, estava coberta de razão:
 


  A Austrália era linda!


 


 Muitas vezes teve vontade de comentar algo que lhe chamava atenção durante o percurso, mas sempre que olhava para a namorada a encontrava pensativa e distante. Sua cabecinha mergulhava em mil incertezas e ele não via a hora de sanar todas elas. 


 


  Chegaram à cidade de Yulara no auge do Sol, às duas da tarde, e sentiram o mormaço assim que saíram do veículo.  Yulara era muito pequena, praticamente um vilarejo, repleto de resorts, hotéis e hospedagem em geral. Duas ruas principais abarrotada de lojas com suvenires criativos, pronto para atrair turistas entusiastas, e uma imensa alameda com os mais variados restaurantes.


 


  A população local, entrementes, era destoante de todo aquele comércio turístico. Muitos aborígenes e seus descendentes, os nativos do deserto, moravam em casinhas simplórias na periferia. Os motivos para eles estarem ali eram dos mais diversos, indo de desapropriação de terras até guerra tribal. A Austrália não estava livre como um país que tratava sem desigualdade seus nativos primitivos. 


 


  O que mais chamava atenção em Yulara não era sua cidade ou suas peculiaridades, e sim, ver, como uma sentinela sobre a cidade, o imenso monólito de Uluru.  O motivo pelo qual aquele vilarejo havia sido criado. Muitos carros e ônibus iam e vinham das ruas que levavam até a imensa montanha, que ficava há aproximadamente 1 km da periferia da cidade. Eles sabiam que parte da investigação talvez acontecesse lá, mas primeiro tinham de se concentrarem no plano inicial.


 


  Ficou estabelecido que iriam começar a varrer as hospedagem que encontrassem pelo caminho na busca pelos pais de Hermione. Entravam nas recepções, perguntavam pelos nomes, se estavam registrados em algum quarto, e se por acaso alguém não colaborasse, lançavam muito discretamente um feitiço Imperius para arrancarem a verdade da pessoa sem delongas.


 


  Depois de passarem por quinze hospedagens, Hermione começou a perder as esperanças. Sentou-se derrota a beira de um banco na rua, com Rony ao seu lado, descansou o corpo, castigado pelas horas de caminhada, e olhou a esmo para a rua, com uma vontade eloquente de gritar e chorar.


 


  Perdera os pais para sempre, tinha certeza. Só por sua estupidez, por sua ideia idiota de tirar-lhes a memória e jogar-lhes do outro lado do mundo, já lhe valia uma passagem só de ida para Azkaban, pensou.


 


— Vamos encontra-los. — disse Rony ao seu lado.


 


  Ela não respondeu. Se o fizesse poderia perder o controle, gritar em plena rua, e dizer a ele para parar com aquela bobagem de otimismo. Hermione realmente não queria ser grosseira com o ruivo, sabia que ele não merecia.


 


—Escutem vocês! Escutem o sussurro de Uluru! — gritava um transeunte vindo pela calçada. Tinha a pele morena, o rosto pintado com tímidas faixas brancas, e vestia-se como um civil, calça jeans e camisa, não como um aborígene como suas feições denunciavam ser. —A cada noite ele sussurra por mais daqueles que andam violando seu sagrado corpo e levando pedaços dele!


 


  Hermione e Rony encararam o homem que vinha vindo à direção deles.


 


— Sim! Sim!  Meus senhores... para cada um que arranca um pedaço de Uluru a condenação é certa! Vocês... — e apontou para eles. Rony aproximou-se de Hermione caso o sujeito tentasse algo mais além de berrar diante dele — Vocês que vem de fora, que tomam uma parte de Uluru para si, saibam que essa parte não vós pertence. Retire um pedaço e durante a noite será mais um sussurro noturno ao longe. Os dingos vão lhes carregar de suas camas, arrastar até as entranhas do sagrado, como toda noite faz com aqueles turistas que não o respeitam.


 


— Como assim? — perguntou à morena.


 


— Não fique falando com ele, Mione! — disse Rony, mas ela o ignorou, prestando atenção às palavras do aborígene.


 


— Quero dizer que ninguém será poupado. Durante a noite vem à redenção. Isso anda frequente, ultimamente.


 


— Turistas? Para onde eles vão?


 


— Os violadores vão para lá! — e apontou para monólito ao longe — Se perdem lá. Os dingos vêm buscar quando a noite chega! 


 


***


 


—É só um amontoado de pedra. — ponderou ele quando a excursão vespertina ao redor de Uluru terminou.


 


  O ônibus que levava para Yulara estava barulhento, abafado e apertado. Hermione encontrava-se espremida contra uma janela e fitou o monólito se distanciando enquanto o veículo se movimentava de volta para cidade. Depositara suas últimas esperanças nas crenças de um nativo. Esperou piamente encontrar o pai e mãe em alguma barraca desmontável, na base da atração, ou algo semelhante. Não havia mais aonde procurar por eles.


 


   Ao encontrarem a terceira hospedaria da qual se instalariam desde o início da viagem, Rony se convenceu de que aquela seria a última noite deles ali. Não adiantava procurar a esmo. Não rendia continuar as buscas na pele de um trouxa. O mais sensato a fazer era voltarem, convocarem alguns bons amigos que eles e Harry conquistaram durante o período de guerra e se unirem numa investigação minuciosa e, de preferência mais ágil do que ônibus e caminhadas.


 


  Exausto pelo dia perdido que teve, Rony arrastou-se até a recepção do chalé e pediu um quarto para dois. Hermione permanecia calada, o olhar vazio, ao seu lado. Toda a graça e alegria da qual viveram juntos na noite passada não deixara vestígios nela naquela noite.


  


— Mione, nós vamos voltar com alguns aurores em peso. — tranquilizou-a, afagando seu ombro. Os dois caminhavam lado a lado em direção à porta do quarto.


 


—Lembra-se do que ele disse... O nativo na rua? — perguntou ela.


 


  Ele pensou.


 


— Lembro-me dele gritar e cuspir em nós.


 


— Não, Rony! — impacientou-se — Ele disse que a noite a montanha sussurra. Que os turistas desapareciam e só se ouviam seus sussurros de madrugada.


 


—Ah, Hermione! Como assim? Está levando a sério o que um nativo supersticioso diz?


 


  Ela fingiu não se importar. Fitou a sombra negra de Uluru ao longe com os olhos cheios de renovada determinação. Rony não gostou nada do brilho deles.


 


— Não! Pode parar! Já fomos até o limite por aqui. Não há nada para fazer embaixo daquela montanha à noite.


 


— Então você vai ficar? — questionou-lhe de modo desafiador.


 


— E você também! — exclamou irritado. — Escute aqui, Hermione. Eu venho te entendendo à viagem inteira, relevando. Mas chega. Agora já deu! Isso está virando uma obsessão.


 


— Querer minha família de volta é obsessão para você?


 


— Não ponha palavras na minha boca. Agir compulsivamente em busca deles é que é! Acabou para nós, aqui. Conforme-se. Agora vamos deixar para pessoas que entendem de investigação.


 


   Hermione não podia acreditar no que ouvia. Jamais entregaria os pontos. Jamais. E agora estava claro que também não poderia contar com mais ninguém para ajuda-la. Nem mesmo Rony sabia a importância dos seus pais na sua vida.


 


   Onde ela estava com a cabeça para acreditar que ele a ajudaria até o fim?


 


  Sem dizer uma palavra, mas encarando-o rancorosamente, Hermione tomou as chaves da porta da mão dele, entrou no quarto e deixou-o sozinho do lado de fora.


 


  Rony ficou atônito no meio do caminho. Tudo o que ele temia, aconteceu: Eles brigaram feio, e por um motivo sério. Chateado, tentou compreender o que se passava pela cabeça da namorada e ponderou que o melhor seria deixar o dia de amanhã vingar. Voltou para recepção, pediu o quarto ao lado do de Hermione, e preparou-se para uma noite longa da qual provavelmente mal pregaria o olho.


 


   Ao encostar a cabeça no travesseiro seus pensamentos começaram a fervilhar. A promessa que havia feito a ela, há dias no expresso de Hogwarts, de que ajudaria a resgatar a família a qualquer custo, martelava dentro dele. Ele falhara na busca, e por puro fracasso ou acaso do destino, estavam muito longe de qualquer pista do Sr. e da Sra. Granger. E devia, para honrar sua promessa, pelo menos ir atrás da pista eloquente do velho aborígene, não porque acreditasse que pudesse encontrar algo de fato, mas porque Hermione queria, acreditava.


 


   Levantou-se da cama, vestiu-se e decidiu que iria mesmo ao Uluru noturno. Lembrava detalhadamente da instrutora no ônibus, avisando os turistas sobre o perigo daquela região ao cair do Sol. Dos cães selvagens do Outback, os dingos, e de casos de pessoas que quase foram devoradas vivas por eles. Tinha algo a seu favor que mais ninguém tinha, a magia, e ali, no deserto, longe de qualquer trouxa poderia usa-la a vontade para se defender.


 


   Então se deu conta de que estava sem sua varinha. Ela havia ficado na mochila de Hermione, que por ser mais espaçosa, não corria o risco de se quebrar. Não queria de forma alguma que a morena o acompanha-se na perigosa investigação, e decidiu bater na porta do quarto, ser incisivo ao pedir sua varinha e mandar que ela ficasse esperando-o até ele voltar.


 


  Entretanto, quando bateu no quarto e descobriu a porta entreaberta, seus piores receios se concretizaram.


 


   Hermione não estava lá dentro e nem a vista. Ela era teimosa e tinha tido a mesma ideia que ele. Rony ficou angustiado.


 


***


  Teimosia e determinação, duas virtudes das qual ninguém poderia dizer que Hermione não possuía. Se Rony não quisesse acompanha-la, tudo bem. Ela tinha pernas, um cérebro ágil e atitude suficiente para aparatar sozinha aos pés colossais da rocha mística dos aborígenes.


 


  Yulara era há um quilometro de distância, mas o silêncio ali era tão impenetrável que não dava para se escutarem nem vestígios de civilização. Poderia subir a montanha, mas já o havia feito durante o dia. O que ela planejava mesmo era emprenhar-se pelas fendas e adentrar as famosas cavernas.


 


  Colocando a varinha em Lumus, Hermione circundou a pedra até deparar-se com um vão grande suficiente por onde pudesse escorregar o corpo. Ali dentro era estranhamente refrescante e gelado. Ouvia barulho de água ao longe, mas a luz da varinha só conseguia alcançar as pedras vermelhas ao seu redor. O que esperava encontrar ali não sabia, mas tinha uma estranha intuição.


 


  Num repente um filete de luz bateu em algo diferente de uma pedra ou um buraco.          Andou três passos e tropeçou em algo fofo. Com um feitiço mais elaborado pediu iluminação máxima e foi então que viu. Pelo menos trinta pessoas estiradas numa clareira, desacordadas ou... mortas. Trêmula, começou a procurar nos rostos vestígios dos pais, mas foi surpreendida antes que pudesse identificá-los entre os demais, por um rosnado alto. Olhou para cima e viu um imenso cachorro amarelo a exibir-lhe os caninos. Do lado direito mais outro, e ao seu lado outro, e outro. Preparou-se para atacar, era ela ou os dingos ferozes. Então seu queixo caiu e ficou horrorizada ao jogar a luz da lanterna em cima dos animais outra vez, e constatar que não eram animais.


 


***


 


Seu coração quase veio para garganta quando o grito de Hermione cortou a noite. Rony correu pelas fendas, varinha na mão, e tentou desesperadamente identificar em qual daquelas entradas as lamúrias da sua namorada reverberaram para fora. Espremeu-se numa fenda negra e começou a iluminar o caminho, hesitante. Era certo que o grito que ouvira era o dela e começou a pedir mentalmente que nada de mal lhe tivesse acontecido. Como era escuro lá dentro ela poderia muito bem ter se assustado ao escorregar no chão.


 


Estarrecido, parou quando sentiu o pisar estranho. Iluminou seus pés e teve que conter o próprio berro porque não esperava deparar-se com o que fitou. Rostos, mãos, braços e corpos. Pelo menos trinta pessoas estateladas no chão. Abaixou-se sobre a primeira, um homem de meia idade, tocou em seu pulso, estava gelado, mas havia pulsação. As pessoas estavam vivas.


 


 O nativo acertara. Os sussurros, à noite, um cenário improvável e sem sentido, mas que se encontrava ali. Entre as pessoas, aliviou-se ao ver dois rostos muito conhecidos: Os pais de Hermione. O Sr. Granger barbudo, a Sra. Granger descabelada, e ambos completamente desacordados. Preparou-se para usar o feitiço Enervate neles, mas foi interrompido por um novo grito de Hermione. Ela estava na gruta ao lado.


 


***


  Uma fagulha de esperança preencheu-a ao ver seu ruivo surgir por um dos lados da gruta com a varinha em punho. Ela sabia, dentro dela, que ele viria salvá-la.


 


  E depois veio o medo. Ainda sentia-se atordoada e confusa, mas conseguia fazer as contas. Rony era somente um e eles eram quatro.


 


— Mione, tudo bem? O que houve?


 


  Ela estava ajoelhada e com um pequeno corte no rosto, no meio da gruta. Rony aproximou-se e dois dingos surgiram por de trás dela, rosnando.


 


—Tudo bem, Mione. — ele disse, entre os dentes — São somente animais selvagens. Fique bem parada que vou estupora-los.


 


— Ron... — murmurou, vendo uma figura negra surgir às costas dele — não são animais. São animagos... Cuidado atrás de você!


 


  Tarde demais. O sujeito que havia se transformado em humano acertou Rony com um golpe entre as costelas que o fez tombar no chão. A varinha dele voou. Hermione viu de esguelha os dois bruxos que estavam ao seu lado se transmutando em sua forma humana também. Correu e caiu de “peixinho” pegando a varinha no ar.


 


  Numa agilidade inacreditável, estuporou o bruxo perto de Rony e desviou de um feitiço inferido pelo outro. O ruivo recuperou o fôlego após o golpe e, sem varinha, lançou-se de corpo contra um terceiro homem que se preparava para agarrar sua namorada. Ela encontrou uma brecha para estupora-lo também, lançando seu corpo longe dele, fazendo um baque surdo contra a parede.


 


  E, numa torrente frenética, o teto esfarelou e não suportou os golpes bruxos dentro da caverna. Rony agarrou Hermione pela cintura e começou a correr para gruta ao lado para escaparem do desabamento. Não olharam para trás durante a corrida, mas tiveram certeza, quando enfim estavam a salvo do soterramento, que somente eles dois haviam sobrevivido.


 


— O que aconteceu ali? Quem eram eles? — perguntou Rony arfando, com as mãos apoiadas nos joelhos.


 


— Não sei ao certo. Tudo o que me disseram era que eram comensais e estavam numa nova empreitada para restabelecer o poder sangue-puro.


 


— Porque aqui? Como?


 


— Algo haver com formar um exército alienado. Eles não tiveram tempo de dizer... Estavam capturando trouxas turistas. Os deslumbrados são os mais fáceis de capturarem, o líder deles disse.


 


— Mione, seus pais estão aqui. Eu os vi. Estão desacordados, mas respirando.


 


Os olhos da morena encheram de lágrimas. Os de Rony também.


 


***


  O ministério chegou meia hora depois. Cercaram a área com magia para enganar trouxas e começaram o procedimento para investigar os animagos comensais, soterrados nos escombros. Os turistas desacordados foram reanimados e tiveram suas memórias dos últimos estranhos momentos entre serem reféns de dingos e acordarem numa gruta, removidos.


 


   Rony envolveu os ombros de Hermione com um dos braços e deu seu apoio moral enquanto ela aguardava ansiosa que uma funcionária especializada do ministério inicia-se os procedimentos para trazer a memória dos seus pais.


 


— Eles parecem felizes. — comentou o ruivo, vendo o Sr e Sra. Granger conversando animadamente sobre as peculiaridades de Uluru com a funcionária, logo adiante.


 


— Sim, parecem. — concordou ela, acariciando a mão dele. — Ela me disse que eu fiz um feitiço muito forte para a memória antiga deles não voltar, por isso estão tão excêntricos assim. Mas vai ficar tudo bem, os funcionários do ministério são muito competentes.


 


— Estou contente. — disse ele com sinceridade.


 


Hermione fitou-o com ternura.


 


— Como me encontrou aqui, afinal?


 


—Não era tão difícil supor depois da nossa última conversa. Além do mais eu iria vir aqui também, conferir as coisas, mas sem você, claro.


 


   Ela sorriu e abraçou-o apertado. Ron não criou resistência e retribuiu aquele quente abraço.


 


— Não sei o que seria de mim sem você. Desculpe, Ron, por ter sido antipática, arrogante e indiferente durante essa viagem.


 


— Você estava no direito...


 


— Não, — interrompeu-o com o dedo indicador em seus lábios — Eu não tinha direito de te tratar daquele modo. Não tinha o direito de não te dizer pelo menos um bom dia naquela primeira noite em que dormimos na mesma cama.


 


— Não tem mais importância. — e para ele não tinha mesmo. Hermione só precisava aninhar-se em seu peito, para nada mais no mundo inteiro ser digno de relevância.


 


— Tem sim! E eu prometo tentar ser mais complacente agora que minha vida vai, finalmente, voltar ao normal.


 


— Não faça promessas que não pode cumprir. — brincou ele.


 


Ambos riram. Então, Hermione voltou a ficar séria, trouxe o rosto do namorado para junto de si e disse no fundo dos seus olhos.


 


— Obrigada por estar comigo em todos os momentos.


 


— Vá se acostumando. — alertou Rony, beijando-a docemente.


 


— HERMIONE! FILHA! — espantou-se uma voz as costas dela.


 


Imediatamente Hermione e Rony descolaram os lábios e olharam na direção da voz. A Sra. Granger os fitava com os braços cruzados e um sorriso no rosto. Tinha o brilho amoroso de uma mãe que reconhece a filha. Ao seu lado postava-se o Sr. Granger, que embora exibindo um olhar paternal, não sorria para eles.


 


— Mãe! Pai! — ela exclamou felicíssima.


 


— Porque está beijando... esse rapaz, Hermione? — perguntou o pai.


 


Os dois coraram. Rony bem mais que ela, e sem jeito, Hermione anunciou:


 


— Mãe, pai, tem uns assuntos que eu queria conversar com vocês. Dentre eles é que... O Rony é meu namorado.


 


Rony sorriu envergonhado para os sogros.

**********************************************************

 


Olá queridos leitores!


 


Chegamos ao fim de mais uma história e estou muito feliz de ter compartilhado ela com vocês.


 


Em Todos os Momentos inicialmente seria uma short mesmo, e volto a dizer que a intenção era focar um pouco mais da relação do casal logo no pós-guerra. Por isso não dei ênfase e nem quis me aprofundar no sequestro dos pais de Hermione ou na procedência de seus algozes.


 


 Quem lê minhas fics está acostumado com essas explicações, mas aqui, realmente queria trazer uma pequena saga, sem pormenores.


 


Consegui terminar tudo em um único capítulo pelo mesmo motivo. Nada de rodeios. Agora estou com mais tempo para BlackJack e Os Convidados, mas podem ter certeza que levarei todos os momentos felizes com os comentários carinhosos que tive de vocês nesta fic.


 


Mas para encerrar com chave de ouro, gostaria de uma última interação dos meus leitores, tanto dos que comentavam sempre, quando dos envergonhados. São duas simples perguntas que adoraria que respondessem:


 


 1)    Qual sua cena favorita em toda a fic?


 


2)    Qual outro tema ou enredo que você gostaria de me ver escrever aqui no site?


 


          Então respondam e não esqueçam, comentem sobre o final também.


 


            Grande Abraço A Todos e MUITO OBRIGADA PELO CARINHO, COMENTÁRIOS, INCENTIVOS E TUDO MAIS.


                                                                                                        VAN VET


 


Dos comentários anteriores...


 


Hermione Jean G. Weasley: Sim, NC não combina aqui. Seria meio forçar a barra. Fico feliz por você estar assídua em BlackJack e também gostando de Os Convidados. Aqui acabou, mas nos encontramos por lá.


 


Lumos Weasley: Fique tranquila, BlackJack vai estar lá para quando você tiver um tempinho livre. Responda o questionário e diga o que achou do fim.


Neuzimar de Faria: E acabou, mais singela ainda do que eu achei que acabaria... kkkk. Sabe que eu acho que o Rony não se espantaria muito se visse um Ornitorrinco?! Talvez até dissesse que o Hagrid se esqueceu de mencionar ele em alguma aula de criaturas mágicas! Hahahah!


 


MioneJackson: Bem, a notícia boa ficou condensada, e virou apenas um capítulo longo. Espero que ela tenha levado a um final satisfatório e que você tenha gostado. Responda ao questionário, quero saber sua opinião!



 

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Comentários (7)

  • Andréa Martins da Silva

    Amei sua fic. Bem elaborada. É muito bom ver o carinho e os cuidados entre eles. Mas senti falta de uma cena romântica no final. Porém, isso não tirou o brilho da sua fic. Parabéns. Vou procurar outras fics suas.  

    2013-10-30
  • MioneJackson

      Ahhhhhhhh mas já acabou ='( fics perfeitas como essa deveriam ter dezenas de capitulos amei  eu gostei de varias cenas: eles no trem indo pra toca comendo feijoezinhos de todos os sabores muito fofo quando ele falou: Faria isso e muito mais.  a preocupação do Rony com a Mi ele não eh mais o legume insensivel kkk a parte do hotel também foi muito foda, a Mione como sempre tomando a iniciativa amei varias partes.Respondendo a segunda pergunta o que eu gostaria que voce escrevesse, você já vai escrever na proxima fic Nunca ignore o verdadeiro amor 2 Romance, Misterio, suspense e Romione mistura mais que perfeita to muito ansiosa ate lá escritora favorita bjs    

    2012-08-31
  • lumos weasley

    Gostei do final. Acho que a minha cena favorita é o Ron no avião, achei muito divertida. Não sei bem, sendo romione eu tenho certeza que vou gostar.Bjs! 

    2012-08-26
  • Hermione Rosier Black Malfoy

    eu ainda me lembro de quando fiz o pedido,e como fiquei maravilhada de ver o primeiro post de-em todos os momentos-lembro como se fosse ontem,eu fiquei tão feliz em ter uma fic feita por um pedido meu,e mais feliz ainda pela autora ter sido voce Van....escrevendo perfeitamente como sempre,e encantando a todos com suas palavras,vou guardar cada capitulo na memoria,cada momento de alegria,curiosidade,ansiedade e tudo mais...obrigado...é dificil escolher a cena preferida,mas eu gostei muito do cap. antes da viagem em que eles se beijam e tbm tem o momentinho do harry-senhor-tocha-humana-potter...morri de rir quando li suas notas finais naquele dia...tambem adorei quando eles estavam no expresso.....adorei tudo na verdade.poque essa fic é maravilhosa.....onrigado por te-la feito...vou sentir saudades dela.....bjs,Imy     

    2012-08-24
  • willi santana

    ahhh Van não se preocupe, como voce falou ficou sem rodeios, mas com todos os detalhes importantes pra fechar comchave de ouro! sua escrita é delicisa!! sério, agente mergulha na história e tem cada partizinha montada, com sua relevancia, na nossa mente! sua histtória foi incrível, e cabe, perfeitamente, dentro dos 19 anos. Todo processo de amadurecimento dos dois, os silencios, as aproximações, as conversas, as desculpas, a compreensão, at a forma madura como eles brigaram... foi mara!!! e toda a ceitação do novo estado civil dos dois!! fantastico! bem sobre as cenas preferidas, olha ttem algumas.... mas eu posso dizer: quando eles vão fugir da toca, e Ron revela que não vai deixar a garota que ele ama ir sozinha nessa busca de jjeito nenhum; quando Hermione o beija no quarto em seu colo, num pedido explicito de 'desculpe, apesar de eu estar um porre, eu te amo'; Quando ron acha a enfermeira simpática (eu imaginei a cara de mione e ri demais!!); a cena em que mione fala da forma como ama ron e Harry (super importante); e lógico, esta ultima cena 'filha, porque voce esta beijando esse rapaz? *bochechas coradas ultimo nível* um baque para o senhor Granger, não?! hehe   e, óbvio, que voce esta nos devendo uma nic, néh moça?! poderia ser após eles voltarem da Austrália, com um pedacinho da relação Ron - pais da mione..... assim só pra voce não esquecer, viu!!! mas uma fic incrível, como são todas suas!   beijo e ate a próxima!

    2012-08-22
  • Neuzimar de Faria

    Olá, que pena que acabou! Mas acabou bem, gostei do final.Quanto às perguntas: gostei muito quando, lá no primeiro capítulo, o Rony, cheio de amor e solidariedade, diz à Mione que vai ajudá-la a encontrar os pais. Bacana.Agora, um tema que gostaria de propor é o de um possível reencontro entre Harry e os Dursley, após a Batalha de Hogwarts. Gostaria que alguém, que escreve tão bem quanto você, pensasse nesta possibilidade.Outra coisa: notícias quanto à " A Origem dos Dementadores"? Você poder responder lá no "Black Jack"? Bjs. Até lá. 

    2012-08-21
  • Andye

    Como assim "Conluída"? Pensei que ainda tivesse mais uns dois ou três capítulos :) Sobre o questionário: Eu gostei de muitas coisas na fic, da presença constante deles, da cena quase NC (:P), as do refrigerante em latinhas... Enfim... Tão envolvente que dá dó saber que acabou.  Também adorei demais esse último capítulo. A história do cara que cuspiu neles, junto com os dingos comensais... amei...Sobre outro tema, não tenho o que sugeriri agora, adoro histórias de época e tenho me saciado com BlackJack...Despedindo-me por aqui e deixando um coment lá no menu da fic... <3  

    2012-08-21
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