O Primeiro Dia





Capítulo 3 - 
O primeiro dia


 
 


    Camberra, capital da Austrália, era uma cidade movimentada. Sua população ultrapassava os 350mil habitantes, seu parlamento fora construído no topo de uma colina encarrapitado por uma rotunda gigantesca a fitar tudo e todos de cima, e o crepúsculo transformava-se num espetáculo a parte, tarde após tarde.  


   


   Uma Hermione sem preocupações provavelmente estaria pegando o primeiro ônibus que parasse na frente do parlamento, pois eram quase infinitos os cartazes que nas ruas convidam os turistas e locais para apreciarem as últimas exposições dentro do museu que fazia parte daquele prédio. Mas uma Hermione com a mente impregnada em desassossego estaria exatamente assim, da forma como Rony estava vendo - observando os transeuntes na rua, pela janela, a cada segundo, e calada, perdida em pensamentos. 


 


 - E então, você já escolheu? - perguntou o ruivo, tentando tira-la de seus devaneios. 


 


 A morena olhou para o cardápio diante de si, para ele, e pareceu estar vendo tudo pela primeira vez. 


 


- Acho que só vou querer um suco. - limitou-se a responder. 


 


 Estavam dentro de uma lanchonete de beirada de esquina, no centro da cidade. Haviam acabado de chegar por meio de uma chave de portal, um trunfo conseguido por Rony no ministério. A viagem o deixara exausto e faminto, ainda mais porque foram transportados para os arredores de uma colina abandonada, há alguns poucos quilômetros da civilização. Não era possível que ela também não estivesse assim.


 


- Acho melhor você se alimentar, afinal ainda temos que procurar um hotel para nos hospedarmos. Ou seja, mais caminhada pela frente... 


 


- Onde conseguiu dinheiro para isso? Comida, hospedagem, transporte... - disse ela, inesperadamente. 


 


 Rony corou fracamente. Não via relevância em lhe informar que gastara todas suas economias de dinheiro bruxo, trocando-os no beco diagonal, em Gringotes, por moeda australiana. 


 


- É por isso que não quer comer?! - ele perguntou com azedume. - Não importa. Eu vou pedir ovos com pães torrados na chapa para nós, está bem? - apesar de soar como uma, não era uma pergunta. Era uma afirmação. 


 


  Hermione encarou-o com os olhos semicerrados, enquanto ele erguia a mão para garçonete e fazia um pedido para dois, sem saber se ela queria ou não comer. Sabia que Rony fizera alguma coisa errada, mas não ilícita, para conseguir financiar aquela busca. 


 


- Eu pedi o seu pão mais dourado, como você costumava comer lá em Hogwarts, e quando vai à Toca.  - disse, quando a garçonete se distanciou. 


 


  "Droga! Ultimamente estava se tornando quase impossível ficar aborrecida com Rony."


 


 - Qual vai ser nosso próximo passo? – perguntou, tentando focar suas energias no que vieram fazer ali. 


 


 - Eu andei observando e o hospital onde seus pais foram vistos fica nas proximidades do centro. Podíamos ir até lá, dar uma sondada, fazer algumas perguntas. 


 


  A garçonete voltou com dois copos de suco do mesmo sabor, e depositou-os na frente de cada um. Rony pegou um canudo, afundou-o no copo e sorveu os primeiros goles. 


 


- Eu pensava que as comidas dos trouxas fossem muito diferentes das nossas, mas eu estou vendo que não. Suco de maracujá e pão com ovos eu como no café da manhã em casa. 


 


 Hermione observou Rony enquanto rasgava o lacre de seu próprio canudo e o depositava no copo. Podia jurar que o humor dele encontrava-se nas alturas. Isso a fazia pensar se o motivo daquela felicidade toda era porque viajavam juntos e estavam, de fato, sozinhos pela primeira vez na vida. 


 


- Bem, nós podemos... - começou ela, e parou para tomar um gole de seu suco. Instantaneamente uma careta formou-se em suas expressões. Estava azedo, azedo pra valer. - Nossa, esqueceram de botar açúcar nisso aqui!  


 


- Oh, deixe-me ver. - a morena empurrou o copo para ele, que experimentou compartilhando do mesmo canudo dela. - É... tem razão. Garçonete? - a atendente desencostou o umbigo do balcão e perguntou o que desejavam - Açúcar, por favor.  


 


  A moça pegou um açucareiro da mesa vizinha, que estava vazia, colocou entre os dois, e saiu sem dizer nada ou transparecer estar com vontade de trabalhar. 


 


  Rony observou enquanto Hermione misturava o açúcar no copo e utilizava o mesmo canudo que ele colocara a boca para sorvê-lo. Era um sentimento curiosamente gostoso saber que a morena não tinha nojo de compartilhar o mesmo canudo que ele. Sabia que aquele pensamento era incoerente, afinal já haviam se beijado, mas, ainda assim, era prazeroso. 


 


  Hermione pousou a mão esquerda no tampo da mesa, enquanto falava e gesticulava com a direita.


 


- Essa tal de enfermeira Charlene, ela atendeu meus pais?


 


- Hã... - ele tentou buscar os dados do dossiê na memória - de acordo com os documentos que consegui foi ela quem cuidou dos curativos do seu pai, quando ele, aparentemente bateu a cabeça num chafariz de praça. Ela fez aquele procedimento esquisito que os trouxas fazem, sabe?Costurar a pele, algo bizarro assim.


 


- Sim, dar pontos. Oh, isso quer dizer que o machucado foi feio. O que eu fiz com meus pais! – e levou a mão a cabeça, num gesto de desolação. 


 


 Sem hesitar, - ele estava se tornando bom nisso - cobriu sua mão na mão dela, que continuava sobre o tampo, e, deixando um toque quente na pele dela, disse:


 


- Mione, você precisa ficar calma. Se cada vez que nós avançarmos nessa busca eu te ver se culpando, vou ter, seriamente, de lançar um Petrificus Totalus quando sair na busca dos seus pais. 


 


- Você não ousaria... - disse ela exibindo seu semblante mais intimidador. 


 


- Depois desses anos todos acha que essa sua cara me intimida?  


 


  A garçonete voltou com dois pratos nas mãos. Então, dando-se conta de que partilhavam um toque de mãos, que já evoluíra instintivamente para um entrelaçar de dedos, encabularam-se, soltaram-se e afastaram-se, nessa ordem, deixando a funcionária depositar os pedidos na mesa.


 


 O pão mais dourado foi para Hermione.  


                                                 ***

  Antes de procurarem uma hospedagem, por mais que Rony houvesse tentando convencer Hermione, a morena estava implacável quanto ao desejo de ir até o hospital municipal de Camberra, para conversar com a tal enfermeira Charlene. Com as mochilas nas costas e a barriga cheia, o ruivo experimentou um pouco do que seria aquela busca. Já tinha em mente que aquilo não estava sendo umas férias merecidas ao lado dela, como uma recompensa pelos últimos meses; Mas, no seu íntimo, sonhava em vê-los mais tranquilos, enquanto procuravam os pais dela pela Austrália. 


 


 Um pensamento idiota, ele sabia. Afinal, se a situação fosse inversa era bem provável que ele estivesse tão preocupado quanto ela. 


 


 O problema era que Hermione simplesmente não relaxava. 


 


 Qual a diferença de irem primeiro no hotel, descarregar as bagagens e esticarem o esqueleto por uma horinha, antes de saírem na caça ao bendito Hospital? O que ia mudar na investigação, conseguir uma informação algumas horas antes do previsto?


 


  Pois bem. Por mais que quisesse frear as atitudes aceleradas dela, fora ele que organizara tudo aquilo. Não encontrava uma brecha para limitar-la. Nem mesmo sentia-se a vontade para iniciar uma discussão ou algo do tipo... Talvez fosse a primeira vez que via-a realmente fragilizada, salvo a vez em que fora torturada na mansão Malfoy. 


 


 - Mione, espera eu! - ele exclamou, quando ela atravessou a passos apressados para o outro lado da rua. 


 


- Vamos, Ron... 


 


- Ei, eu estou levando nossas mochilas, né! Dá um desconto.


 


  Mas Hermione já havia virado a esquina para alcançar uma avenida principal que se iniciava a esquerda. Com os ombros doloridos, Ron correu esbaforido para segui-la e, pra sua sorte, assim que virou a esquina, deu de encontro com um prédio retangular com várias janelinhas pequeninas, onde num letreiro escarlate, encimando-o lia-se: Camberra Hospital.


 


  Só podia ser Merlim conspirando a seu favor, pelo menos uma vez naquele começo de viagem! 


 


  Logo quando entrou no hospital, Hermione levou um susto com a quantidade de gente espalhada pelos assentos estofados da recepção. O hospital que deveria ser publico, encontrava-se lotado. Sabia a tamanha bobagem que era olhar para o rosto de cada uma daquelas pessoas esperando que alguma delas fossem seus pais, mas mesmo assim olhou.


 


   Rony vinha surgindo do saguão de entrada, carregando as bagagens dos dois. Parecia exausto, mas resistia paciente, contendo a vontade de fazer o que sabia de melhor quando uma situação não o agradava: reclamar.


 


  Ela própria sentia o cansaço se abater sobre suas costas. Viajar numa chave de portal da Europa para Oceania não era uma experiência física tão simples como aparentava. Entretanto, precisava somente naquele dia, sentir que avançava um pouquinho que fosse ao caminho que a estreitava no paradeiro dos pais.


 


  Parou atrás de uma mulher que trocava informações com a única atendente da recepção e esperou sua vez chegar, com impaciência. Rony alcançou-a e ficou ao seu lado.


  


— Acho que nunca entrei num hospital trouxa antes. — ouviu-o murmurar. — Você vai perguntar por Charlene?


 


— Essa é a ideia.


  


— Próximo. – disse a voz suave da moça da recepção. Hermione era a próxima da fila.


  


Rony e ela encostaram-se no balcão.


  


— Pois não? – perguntou a moça, muito bem maquiada.


  


— Humm... estou procurando por uma funcionária de vocês, em particular. Seu nome é Charlene. Acho que sua função aqui é enfermeira. Não sei o sobrenome.


  


—Não a necessidade. Charlene é única, e também bem conhecida por aqui, mas o problema é que ela está de folga hoje.


  


  O rosto de Hermione desmanchou numa expressão de desânimo.


 


— É algo urgente?


 


— Bem, mais ou menos. — disse ela, já formulando outra pergunta. — Existe como você ver se uma pessoa deu entrada aqui, nos últimos meses?


 


— Qual seria o nome? – disse a moça, realmente querendo ser solícita, se dirigindo para o computador para iniciar a pesquisa.


 


  Rony viu-a trabalhando com curiosidade. Sempre quis entender como aquele objeto trouxa, muito parecido com a tal da televisão, funcionava.


 


— Tente William Granger.


 
   Depois de seus dedos percorrem loucamente um teclado com diversas letras aleatórias, ela disse a Hermione.


 


 — Não. Nada no sistema.


  


— Então Carolyne Granger.


  


  Novamente nenhum resultado. Rony percebia que a morena travava uma luta interna para não se deixar abater com aqueles obstáculos.


  


— Vocês não pedem documentos para qualquer paciente?— questionou Hermione.


  


— Se essas pessoas passaram apenas pelo pronto-socorro seus registros saem automaticamente do sistema em um mês.


  


— Certo. Obrigada então. — disse a morena, deslizando com o olhar vago, para fora da recepção.


  


  Rony a seguiu, mas não sem antes perguntar se a tal Charlene viria com toda certeza na próxima manhã.


 


   De volta na rua movimentada e barulhenta depois da à hora do almoço, Hermione levou as mãos à cintura e concluiu:


 


— Por enquanto temos de nos contentar em esperar a Charlene voltar da folga dela.


  


— Então você viu que a melhor coisa no momento é irmos procurar um lugar para descansar, recarregar as baterias e começar mais animados, amanhã de manhã?


 


 — É, Rony. Você venceu. Vamos para um hotel.


  


— Não que seja um ponto final... Ainda temos que andar por aí até achar algum.


  


— Passa minha mochila aqui. — e estendeu a mão para pegá-la dos ombros de Rony. — Ron, deixa eu levar.— pediu, quando ele recuou.


  


— Pode deixar. Nem tá pesado. Da próxima vez você faz um feitiço igual aquele que tem na sua bolsinha.


  


— É uma boa ideia. — disse, exibindo um sorrisinho cansado. — Qualquer coisa te faço uma massagem nas costas pra compensar. — argumentou descontraidamente, seguindo pela calçada.


  


  Rony perdeu-se por poucos segundos, dentro dos seus pensamentos, imaginando-se recebendo uma massagem das mãos de Hermione.


  


  Ela falara brincando, só podia ser. 


 


Pessoal! Depois desse hiato monstro, estou voltando aqui EM TODOS OS MOMENTOS. Esse final ficou parecendo música do Roberto Carlos, né?... kkkk
E também gostaria de pedir que fossem visitar uma nova fic minha, um projeto meio diferente, um contexto inexplorado onde estou inserindo Ron e Hermione, e mais personagens de HP. Tô sentindo um certo preconceito nela, porque apesar de ser shipper Ron/Hermione, não foco a fic 100% no casal, todos eles são trouxas, e a Mione já começa a história casada com o Krum. É, eu sei que vocês devem estar me lançando algumas maldições imperdoáveis, mas peço que me deem uma chance de mostrar um enredo diferente, mas que ira prende-los e emociona-los tanto quanto. 
Vão conferir porque eu tô empolgadaça(essa palavra nem existe, eu sei) lá.
O link da fic é:
http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=43771

Por enquanto é isso. Até o fim da semana, aqui de novo! 
BJOS! 

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Comentários (4)

  • Andréa Martins da Silva

    Parece besteira, mas compartilhar o canudo mostrou intimidade entre eles. Ficou legal essa parte. Sem falar que a promessa da massagem mexeu com ele. rsrsrsrs

    2013-10-30
  • Hermione Rosier Black Malfoy

    q bom q voltou........eu gostei desse cap. imaginei assim mesmo a mione...rsrsrso rony coitado,é tao fofo *-*pode deixar q assim q der,eu dou uma passadinha lá na nova fic..gosto de fics diferentes,inovar...bjs   

    2012-07-20
  • Andye

    Finalmente... Posta logo que eu tô adorando está por aqui e certamente vou ler a outra... Também gostode enredos diferentes...

    2012-07-07
  • willi santana

    ahh voltou pra nós!!! van, eu ADORO aforma como voce escreve sério, perfeito demais!!! essa fic ta incrível!! não demora a postar amore!!

    2012-07-06
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