Caçando Pistas

Capítulo 6 - Caçando Pistas

 

  Por um milagre ou encantamento muito forte, que Rony não viu lançarem sobre ela, Hermione aceitou comer algo antes de irem à suposta agência de turismo do amigo de Charlene. E o que antes seria um café da manhã, emendou-se num almoço.
 

 Entraram num restaurante muito agradável, simples, mas com uma varadinha que possuía uma visão panorâmica para as montanhas aquém do centro da cidade. Hermione pediu inicialmente um pão com carnes frias e suco de frutas.
 

 Saber que seus pais haviam se envolvido com a polícia a deixou chocada em primeira estância, mas, estar com a certeza de que teria mais alguém que possivelmente sabia o paradeiro deles, causou-lhe uma provisória tranquilidade. A fome veio mais voraz no que nunca e suas manias também.
 

— Santo Merlin, Rony! Esse bacon não vai sair correndo do seu prato. - advertiu horrorizada em ver o ruivo enfiando uma garfada gigantesca na boca.
 

— Eu...t-con... for-me. - justificou-se de boca cheia.
 

—Eu sei, mas não precisa comer feito um esganado. Eu estou com pressa de encontrar meus pais, mas não é pra tanto.
 

Ele engoliu o resto da comida e comentou, balançando o garfo no ar:
 

— Isso que eu chamo de uma virada. Hoje de manhã você nem me disse bom dia quando acordou.
 

"Pronto, saiu" pensou ele, ainda chateado com a forma como ela despertara para ele, naquela manhã.
 

  Hermione crispou os lábios, meio sem jeito diante da observação dele. Uma cobrança estranha, e, ao mesmo tempo muito justa. Podia optar pela desculpa imediata, ou pelo o que fazia mais parte da sua índole:
 

— Isso é uma indireta?
 

—Não. É apenas um comentário. - murmurou, abaixando a cabeça para seu prato.
 

  Claro que não era só um comentário. Rony tinha aquela forma cifrada de deixar as mágoas sentimentais que sentia por ela, no ar.
 

— Eu estava preocupada em chegar tarde demais no Hospital e não encontrar a tal Charlene, por isso acordei rápido. - em partes sim, e em partes porque não sabia como lidar com Rony como seu namorado, ainda que em seus pensamentos isto já fosse um fato.
 

  O primeiro beijo havia sido iniciativa dela, mas com o fim da Grande Guerra quem se tornara mais atirado fora ele, como se a provação final em Hogwarts o tivesse transformado em alguém que não deixava as coisas para trás. Como fora quando reuniu provas e preparativos para eles poderem viajar para Austrália. Como estava sendo agora, numa cobrança descarada por mais carinho da parte dela.
 

— Tudo bem, eu entendo. – ouviu-o dizer, embora não transparecesse nenhuma convicção.


Ela achou melhor mudar de assunto.
 

— Sabe o que quer dizer Brunch? - começou, referindo-se ao pedido do qual dos dois haviam feito.
 

— Claro que não. O que?
 

— É a junção do café da manhã com o almoço. Pense: Breakfast com Lunch. É um termo norte-americano para quem acorda tarde e faz uma refeição que una as duas ao mesmo tempo. Por isso que nós temos ovos, carne, frutas...
 

—Estava demorando a Mione sabe-tudo voltar. - sorriu.
 

— Vou encarar isso como um elogio. - ela riu de volta.

                                                      ***


  O parque central era um jardim comunitário muito bem decorado, repleto de árvores com copas altas rodeando sombra fresca e uma brisa pura em quem passeasse por lá.

 
 Enquanto caminhavam até os comércios que ladeavam o parque, Rony não pode deixar de vislumbrar diversos casaizinhos sentados na grama aparada, fazendo um piquenique e curtindo o resto de tarde aos beijos e abraços. Fez uma anotação mental de que aquele tipo de programa seria um dia compartilhado entre ele e Hermione, só não conseguia prever quando.
 

 Nem de longe o ruivo sentia-se a vontade para demonstrar seu carinho para com a morena. Uma barreira invisível como daquelas realizadas tão bem por ela, de feitiços de proteção, parecia erguer-se sobre eles. Era uma inibição sutil. Ela parecia que ia se partir feito uma boneca de porcelana, com os nervos a flor da pele do jeito que andava, e Rony simplesmente não conseguia aproximar-se sem dar a entender que estava sendo oportunista.
 

 Isso fora muito bem demonstrada naquela manhã.
 

 Será que aquela indiferença foi o modo que ela encontrou para dizer isso? Mas fora ela, tão e somente ela, que começou a seduzi-lo quando sentou em seu colo e dispôs-se a beija-lo. Que tipo de homem Hermione Granger achava que Rony Weasley era para não ceder aos carinhos da mulher por quem se estava apaixonado?
 

  As mulheres eram confusas, confusas e confusas.
 

  Hermione olhou para o ruivo e viu que ele exibia um o olhar distante, por isso teve de gritar para chamar sua atenção:
 

— Rony!
 

  Ele saiu do seu transe de pensamentos desconexos.
 

—Ah, sim?
 

— Acho que aquela é a agência do amigo da Charlene. Vamos!
 

 Atravessaram a rua e entraram num comércio de fachada envidraçada. As paredes eram decoradas com diversos cartazes de pacotes de viagem e um pôster gigantesco do outback australiano encimava a parede dos fundos da loja. Abaixo, duas escrivaninhas esperavam clientes para fechar negócio. Numa delas estava um jovem muito atraente, que se levantou e começou a encaminhar-se na direção deles.
 

 De pele bronzeada, tatuagens tribais ao redor dos bíceps desnudos e bem trabalhados, e olhos estupendamente verdes, o rapaz aproximou-se deles.
 

— Bom dia! – saudou sorrindo sedutoramente.
 

 O cara era boa pinta. Rony pensou, esforçando para não se sentir inferior perto do sujeito. Foi impossível não olhar no rosto de Hermione e tentar encontrar alguma expressão que denotasse interesse. Ela parecia mais ansiosa do que qualquer outra coisa.
 

— Estamos procurando o Alex. – adiantou-se o ruivo avançando um passo a frente para ficar num ângulo que ocultasse Hermione parcialmente.
 

 Com sorte o rapaz seria apenas um funcionário vestido inadequadamente para o serviço de vendedor.
 

— Sou eu. — respondeu sorridente.
 

— Viemos por indicação de Charlene. — disse a morena, avançando um passo para perto do tal Alex.
 

— Ah, sim. Charlene, sempre tão adorável. — e tocou no ombro de Hermione com delicadeza.
 

  Rony sentiu um bolo de raiva formar-se no seu estômago. Mais que cara mais petulante! Precisava retomar o controle da conversa e trazer a atenção toda para si.
 

— Não amigo, você não entendeu. — interveio sério - Somos parentes do casal de turista que andou nadando no chafariz do parque há alguns dias. Charlene atendeu-os no hospital e disse que você vendeu um pacote de viagem para eles.
 

 Alex pareceu levemente desapontado por não estar lidando com uma venda. Porém, com uma simpatia irritante, sorriu solicitamente, contornou uma escrivaninha e pediu para os dois se sentarem diante dele.
 

— Vocês são o que dos turistas? Filhos? – questionou, novamente cravando seus olhos em Hermione.
 

— Ela é filha, eu sou o namorado dela. — disse Rony, a frase saindo tão inevitável quanto um soluço.
 

  O ruivo não desviou o olhar de Alex, mas sentiu a morena observa-lo de modo analítico por ter dito aquilo. Desejava virar-se e estudar melhor os olhos dela, para saber que tipo de sentimento passeava ali por ouvi-lo dizer aquilo, e tão enfaticamente. Rony sentiu que a partir daí ela estava preparada para conduzir o interrogatório, visto que ele já havia imposto ao sujeito, quem era quem.
 

— Preciso saber para onde você vendeu esse pacote para meus pais? – quis ela saber.
 

— Claro. Hã... – Alex abriu uma gaveta lateral da escrivaninha e fuçou nuns papéis, trazendo um folder a mesa — Seus pais compraram o pacote rústico de exploração ao Outback.
 

 Hermione pegou o folder e leu:
 

OutBack Extreme: Duas semanas que mudaram sua vida.
 

— Quando estava datado para eles partirem?
 

 Alex novamente fuçou na gaveta, mas desta vez trouxe um pequeno livro para mesa. Folheou atentamente, e logo em seguida disse:
 

— Foi há uns quatro dias atrás que o grupo partiu.


 Suspirando ruidosamente, a morena sentiu-se mais perto do que nunca de sua família.
 

— Quero comprar um pacote deste. Preciso seguir os mesmos passos que eles.
 

— Certo, mas moça, o próximo grupo parte só daqui quinze dias.
 

— Existe alguma outra forma de eu chegar ao Outback por essa rota do pacote que eles compraram? — questionou, aflita.
 

 Alex fitou as próprias mãos, pensativo. De repente ergueu a cabeça e olhou para os dois com relativa pena.
 

— Sempre existe. — sua voz não transmitia empolgação.

                                                     ***
  

Queridos leitores que estão sempre comentando (estou adorando isso), hoje estou sem tempo de responder aos feedbacks anteriores porque queria postar ainda esta tarde. No próximo, prometo estar respondedo a todos!
 
BEIJOS!!! 
    

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