chapter 11



Estar em cima de uma vassoura, a vários metros do chão, sentindo o vento, esquecendo de tudo... Aquilo era muito natural para mim. Bem, pelo menos eram normais até eu estar vestindo um uniforme de quadribol de verdade e saber que, daí algumas horas eu estaria jogando quadribol de verdade. Eu, logo eu, estava tão nervosa que não havia comido nada o dia todo.


- Você não pode voar sem comer direito, Chuck. – Hermione insistia.


- Eu não quero. – Falei pela nona vez.


- Algum de vocês me ajude a convencê-la. – Hermione pediu à Ron e a Harry.


- Ela está certa, Chuck. – Harry falou. – Ainda mais depois de ontem...


- Não insistam, ok? – Eu já estava a ponto de perder a paciência com aquela preocupação toda.


- Eu tenho um pouco de medo dela. – Ron falou com a boca cheia. – Eu vou apenas comer minha comida e não insistir em nada.


Tentava procurar em minha memória todos os truques para não ficar nervosa que Vitor havia me ensinado, e então eu ficava mais nervosa ainda, porque lembrava que Vitor e eu não estávamos mais conversando. Eu sabia que aquilo ia passar, mas enquanto não passava, eu ficava remoendo. Eu estava exatamente fazendo isso quando alguém encostou em meu ombro. 


- Charlotte. – Identifiquei a voz de Kathy.


- Kathy. – Falei. – Por que Charlotte? Eu vou parar de responder se alguém me chamar de Charlotte...


- Só queria lhe desejar boa sorte. – Ela me interrompeu. - E te dizer para comer algo. De forma alguma você subir em uma vassoura sem ter comido algo.


- Eu não estou com fome. – Repeti.


- Claro que não, você está nervosa. – Kathy veio com toda aquela sabedoria para cima de mim e pior, na frente dos meus amigos.


- Não estou não. – Eu fiquei com vergonha.


- Está sim. Pare de tentar mentir para mim, eu te conheço desde... Sempre. – Kathy disse, tentando me irritar.


- Cale a boca! – Falei.


- Você não devia falar assim com ela. Ela é uma professora. – Hermione disse.


- É, mas antes disso ela é minha tia. Uma tia muito irritante que acha que sabe tudo sobre mim. – Falei. – Eu não estou nervosa. Eu apenas não estou com fome.


- Você sempre está com fome. Coma ou você não vai jogar. – Kathy me deu bronca.


Eu estava tão nervosa com ela me tratando daquela forma. Mas tinha o poder de me impedir de jogar. 


- Eu vou comer. – Me rendi colocando uma garfada na minha boca.


Comi calada, embora os três estivessem sempre me olhando, esperando que eu dissesse algo. Não demorou muito para Angelina, a capitã do time, nos chamar para conversar. Todas as estratégicas que ela havia montado estavam me deixando nervosa.  O grande problema era, eu sabia que eu era boa. Vitor, que entendia muito mais que qualquer um dos meus colegas de time, havia criado uma incrível confiança em mim em relação a como eu jogava. Mas um jogo de verdade era diferente de estar na quadra particular dos Krum, sendo treinada por Vitor e sem ninguém na platéia. Além do que, toda a minha tentativa de entrar para o time usando um passe elaborado, havia acabado com meu repertório de passes que eu executava com perfeição. Claro, nos treinos eu havia treinado outros passes, mas nenhum deles eu havia executado bem o suficiente para apresentá-lo para uma platéia de inúmeros alunos, professores e, principalmente, Kathy. 


Enquanto Angelina continuava com seu discurso de capitã do time, eu tentava me recordar de todos os elogios que Vitor já havia me feito, para ver se aquilo faria com que eu me sentisse mais confiante.


- Vamos lá Grifinória, vamos ganhar! – Angelina disse.


Já estávamos no campo, mas a partida ainda não havia começado. Eu respirei fundo e fechei meus olhos e tentei me concentrar. Senti uma mão sobre meu ombro e então olhei para trás. Era Harry com o mesmo sorriso de sempre.


- Boa sorte, não que você precise. – Ele me desejou.


- Talvez pra você, apanhador. – Eu falei séria. – Não existe “sorte” para quem é artilheiro.


Madame Hoch então nos disse para subirmos em nossas vassouras. A partida começou. 


Eu, Angelina e a pequena Weasley partimos para o ataque. 


Dez, vinte, trinta pontos no placar da Grifinória, e isso só nos primeiros dez minutos de jogo. Infelizmente, nenhum deles eu havia marcado, e ter isso em mente me fazia ficar mais nervosa. Não que eu estivesse sendo um desastre, devo admitir que até aquele momento eu fiz bloqueios excelentes, nenhum jogador do time da Lufa-Lufa havia chegado perto dos aros.


Depois de meia hora de jogo, e um placar de sessenta pontos a zero para a Grifinória eu comecei a perceber o que estava acontecendo. 


Eu era boa em marcar pontos, e eu não estava tendo a chance de fazer isso. Angelina estava facilitando para Gina, sempre a colocando na frente dos aros, e assim ela marcava os pontos. Se Angelina estava fazendo isso, a opção que eu tinha era fazer o que eu sabia melhor: Jogar sozinha. 


Consegui tirar um goles das mãos de um dos artilheiros lufanos e voei em direção ao aro mais próximo. Mas nem a minha vassoura seria rápida o suficiente, o goleiro estava próximo então eu arremessei de onde estava. E, talvez sorte existisse, porque o goles entrou no gol. 


Eu sorri. 


Era isso que eu precisava. Honestamente, eu estava me esforçando para jogar em um time, fazer parte dele, mas se minha capitã achava que eu não mereceria fazer o que eu sabia fazer de melhor, eu iria jogar do melhor jeito que eu conhecia: Sozinha, dependendo apenas de mim.


E uma vez que eu tinha marcado um gol, eu não parei mais. Claro que eu havia desobedecido a todos os comandos de Angelina, havia saído de minha posição inicial, perambulado pelo campo e atacado muito mais ferozmente o time adversário que o previsto, mas em mais meia hora, nosso placar havia pulado de sessenta para cento e quarenta, e minhas manobras eram responsáveis por oitenta dos pontos, sendo que Gina e Angelina havia marcado trinta pontos cada uma.


 Estávamos com cinqüenta pontos a mais que a Lufa-Lufa, e eu estava pronta para marcar mais um gol, quando passei por Harry, que voava em busca do pomo. Ele estava próximo ao pomo, quando avistei um balaço indo violentamente em sua direção. Quando percebi que Harry não tinha visto o balaço, eu lancei o goles para Gina e voei em direção ao balaço, que me acertou no ombro direito, me fazendo desequilibrar e  quase cair da minha vassoura. Eu fiquei pendurada, segurando na vassoura com a mão esquerda.


Um dos gêmeos veio ao meu resgate.


- Dê-me sua mão, senhorita. – Ele me disse, me estendendo a mão.


- Não creio que seja possível, acho que aquele balaço quebrou meu braço. – Eu respondi.


Então ele voou para mais perto de mim e me ajudou a subir na vassoura.


- Obrigada. – Eu disse sorrindo.


- Disponha. – Ele sorriu em resposta.


Naquele meio tempo em que eu havia sido atingida por um balaço, Gina marcou um gol e Harry pegou o pomo, encerrando a partida e fazendo com a Grifinória fosse vencedora.


Os dois times desceram para o gramado. Eu não sabia se segurava minha vassoura ou meu ombro, então Ron se aproximou de mim.


- Aquilo deve ter doído! – Ele me disse.


- Doeu. Muito. – Eu falei. – Aliás, ainda dói.


- Quer que eu segure sua vassoura? – Ele me perguntou.


- Por favor. – Eu falei. – Eu acho que eu preciso ir para a enfermaria.


- Pode ir, eu guardo sua vassoura no vestiário. – Ron me disse.


- Obrigada Ron. Você jogou bem. - Eu sorri em resposta e me virei


- Você também! – Ele me respondeu, mas eu já estava de costas.


Então eu me dirigi até a enfermaria. A enfermeira falou sobre como Quadribol era perigoso e que eu tinha dado sorte, já que eu estava apenas com um ombro deslocado. Logo ela me liberou, e eu fui para o Salão Comunal, carregando as minhas proteções e minha capa nas mãos. Mal dei cinco passos para dentro do Salão Comunal e já ouvi Angelina gritando comigo.


- Charlotte Hayes, o que você acha que você estava fazendo? – Angelina gritou comigo.


Surpreendentemente o Salão Comunal inteiro se silenciou. Eu respirei fundo antes de dizer qualquer coisa. Eu sabia muito bem o que eu havia feito, desobedecido a minha capitã. Mas havia marcado oitenta pontos enquanto fazia isso.


- Além de marcar o maior número de gols do time? – Eu usei o máximo de arrogância que consegui.


- Isso é um time, Hayes! E eu sou a capitã! Você tem que obedecer as minhas ordens. – Ela continuava a gritar.


- Nós ganhamos por minha causa. – Modéstia era definitivamente uma coisa que eu não conhecia.


- Nós ganhamos por causa do Harry. – Angelina respondeu.


- Ele só pegou a droga do pomo porque eu entrei na frente do balaço, do contrário ele estaria na enfermaria com metade da cabeça aberta. – Eu até então não estava gritando, mas tirar meu crédito de ter protegido Harry era demais.


- Você acha que é só você aparecer em Hogwarts, subir na sua vassoura super cara e achar que é a estrela do time? Você está usando o mesmo uniforme que mais seis pessoas, o que te faz achar que você pode jogar sozinha?


- Você é a capitã? Então aja como uma. – Eu levantei minha voz, finalmente. - Eu estou usando o mesmo uniforme que mais seis pessoas, você mesma acabou de dizer, então você deveria me tratar da mesma forma que você trata qualquer um deles. Eu estou usando o mesmo leão que você. Bem, não mais.  


Então eu joguei tudo que eu carregava no chão.Depois, lembrando que eu estava com uma blusa por baixo do uniforme, eu tirei a camiseta e joguei na direção da capitã. 


Acho que ninguém esperava que eu dissesse ou fizesse qualquer coisa parecida com aquilo. E grande parte desejava que eu não tivesse dito o que eles haviam escutado. Eu apenas fiquei parada apreciando os olhos assustado de Angelina para mim. Eu estava esperando ela dizer algo.


- Você não... – Angelina começou a falar, mas eu a interrompi.


- Boa sorte procurando uma nova artilheira. - Com essa frase eu encerrei a discussão e caminhei calmamente para o dormitório.


Assim que entrei no dormitório, comecei a tirar o resto do uniforme. Logo a porta se abriu e Hermione entrou no quarto.


- Eu vou avisar, cuidado com o que você fala. – Falei. – Não tente me convencer de que agi errado.


- Eu só vim ver como você está. – Ela falou.


- Eu estou mais nervosa que o normal.


- Eu estava falando do ombro.


- Já está melhor. – Eu já havia vestido uma calça jeans e um moletom e estava deitada na minha cama, tentando me acalmar.


 Hermione então caminhou para perto de mim e se sentou na cama.


- Doeu muito, Chuck? 


- Na hora muito, mas até eu chegar à enfermaria a dor já havia diminuído. – Falei.


- Todo mundo está falando de como você joga bem. – Hermione me disse. – E como você foi corajosa em levar a balaçada para que Harry não fosse atingido e pudesse pegar o pomo. Ele quer te agradecer, inclusive.


- Não foi nada demais. – Falei. 


- Claro que foi.


- Claro que foi, doeu muito! – Falei rindo.


Hermione também riu.


- Ron jogou bem. – Mudei de assunto. – Você falou isso para ele?


- Falei, mas acho que um elogio meu sobre quadribol não vale de nada para ele. – Ela disse. – Logo que eu falei, ele me contou que você havia dito para ele que ele havia jogado bem.


- Claro que ele te contou. Esse é o jeito dele de dizer “Olha Hermione, a melhor amiga do seu admirador-nada-secreto Vitor Krum disse que eu joguei bem”. – Expliquei para ela o que era óbvio para mim.


- Aposto que não. – Hermione me respondeu. – Falando em Vitor...


- Nós não fizemos as pazes ainda. – Falei.


- Mas vocês vão fazer. – Hermione disse.


- Espero que não, não sei como eu contaria para ele que eu desisti do time. – Falei lembrando do que eu havia dito pouco tempo atrás.


- Você não desistiu de verdade, não é? 


- Se a capitã do time não faz questão de que eu me sinta parte dele, eu acho que eu não deveria ser. Não que ela faça isso pelos motivos certos. – Expliquei.


- Ela vai pedir desculpas e implorar para você voltar. – Hermione insistiu.


- Talvez. Não sei.


- Você está brincando? A Grifinória inteira te adora, te idolatra. Ela vai ser linchada se não te implorar pra voltar. – Hermione atestou o que eu imaginava e esperava.


- Ai, massagem para o ego. – Eu disse sorrindo. – É tão boa, mas tão perigosa.


- É, claro, não que você precise...


- Eu definitivamente não preciso.


Continuamos conversando, até que nosso relógio biológico nos lembrou que estava na hora do jantar. Se minha fome não fosse tanta, eu ficaria lá, deitada, relembrando meus gloriosos dias como jogadora da Grifinória. Eu até estava cogitando ficar lá e passar fome, mas Hermione insistiu tanto que eu acabei cedendo.


Mal apareci no Salão Comunal, senti os olhares fixos em mim, inclusive Harry e Ron, que logo vieram ao nosso encontro.


- Nós já estávamos pensando que vocês não apareceriam! – Ron disse. - Vamos, eu estou morrendo de fome.


Então nós começamos a andar. Ron e Hermione apressaram o passo, ficando um pouco distante de mim e de Harry, que estava andando ao meu lado. Assim que saímos do Salão Comunal, Harry começou algo que eu gostaria de ter evitado: Agradecimentos.


- Acho que tenho que te agradecer. – Ele disse, parecendo estar um pouco envergonhado.


- Não foi nada. – Eu tentei desconversar.


- Você quase caiu da sua vassoura. – Harry insistiu.


- Mas eu não caí.  – Respondi séria.


- Você foi para a enfermaria. – Ele falou.


- É, fui, mas eu já estou bem. – Eu tentava ao máximo fazer com aquela conversa acabasse.


- Sério, Chuck. – Ele segurou, me fazendo ficar parada no corredor, enquanto Ron e Hermione caminhavam na nossa frente. – Você está brava comigo?


- Não. – Eu disse. – Mas não vejo motivo para tanto agradecimento, não foi algo tão importante assim, só um ombro deslocado.


- Não foi isso que você disse no Salão Comunal. – Harry usou um argumento meu contra mim, esperto.


- É, mas eu não fui sincera lá. – Menti. – Eu estava nervosa com a Angelina e eu precisava jogar algumas coisas na cara dela... Sério, não foi nada demais.


- Pra mi foi. – Harry insistiu. – Então apenas diga “De nada” e volte ao normal, ok?


- Tudo bem. – Eu sorri. – De nada.


Então voltamos a caminhar pelos corredores.


- Você não desistiu mesmo de estar no time, não é? – Harry me perguntou.


- Eu desisti mesmo. – Falei. – Sou uma mulher de palavras.


- Você não pode desistir. – Ele prosseguiu a conversa.


- Eu posso, eu desisti você estava lá, você viu. 


- Você é boa demais para...


- Mas eu sou orgulhosa demais para aceitar tudo que a Angelina fez e disse. – Expliquei.


- Se ela te pedir desculpas, você volta? – Harry parecia firme em me convencer a permanecer no time.


- Harry? – Eu parei de andar e respirei fundo.


- Oi? – Ele fez o mesmo.


- Desista, ok? Essa foi a única vez que eu tomei uma balaçada por você. – Encerrei a conversa.


Finalmente entramos no Salão Principal e, como esperado, todos os olhares se voltaram para mim. 


- Eu vou morrer de fome, mas eu não vou entrar aqui. – Eu estava pronta para virar as costas e sair de lá quando Harry me desafiou.


- Medrosa. – Ele usou uma das palavras que eu mais odiava.


Eu respirei fundo e comecei a andar, sendo consumida pelos olhares. Então nos sentamos na frente de Ron e Hermione.


- Esqueci de te perguntar Chuck. – Ron começou a falar com a boca cheia. – Seu braço melhorou?


- Você é incapaz de engolir? – Hermione perguntou nervosa.


- Eu estou bem. – Falei rindo. 


Então eu comecei a comer o mais rápido possível para poder sair de lá.


- Você é incapaz de mastigar? – Harry me perguntou.


- Eu estou começando a me arrepender de não ter deixado aquele balaço te acertar. – Falei com a boca cheia.


- Você não teria coragem! – Harry disse. 


- Não me teste. – Eu falei


- Nem teria como. – Harry me respondeu. – Você afirma que saiu do time.


- Por sinal, você estava brincando quando disse isso, não é? – Um dos gêmeos apareceu.


- Não, eu mantenho minha palavra de trânsfuga. – Respondi.


- Trânsfuga? – Harry, Ron e os dois gêmeos me perguntaram.


- Desertora. – Respondi.


- Essa palavra também não faz parte do nosso vocabulário. – O outro gêmeo falou.


- É uma pessoa que renega seus princípios e... Deixe. – Falei ao perceber que nenhum deles estava realmente interessado na aula de vocabulário.


Finalmente a fome fez o assunto mudar, e logo que eu pude, me despedi das pessoas e fui dormir.
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-nota da autora:
Essa autora está muito feliz! Tenho que agradecer de coração 
Alexis_watson_Jheni weasley  e a nova leitora  stephaniee s! Comentários fazem muito bem pro ego (haha) e para a continuidade da história, é bom saber que vocês estão gostando do caminho que eu estou seguindo! Bem, continuem comentando e votando na fic que eu continuarei postando o mais rápido possível!
love ♥, hell 

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Comentários (2)

  • Alexis_watson_

    De nada!Ah,amei o cap.Quero ver se a Angelina vai implorar para a Chuck voltar para o time!!!!

    2011-11-22
  • stephaniee s

    Não precisa agradecer não! É só continuar postando rápido que você mantém os leitores muito felizes também *-* kk Ótimo capitulo, como sempre! *-* Adorei demais a reação dela com a Angelina. Ah Chuck, eu definitivamente adoro esse seu jeito teimoso e orgulhoso...  Adoro ela e o Harry também. Amei ela ter sido a heroína dele, e não o contrário, como quase sempre acontece. Então, parabéns, poste logo e beijos. Até! :D

    2011-11-17
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