chapter 9



Eu havia guardado aquele triunfo apenas para mim: Eu iria a um almoço de negócios com os maiores nomes de produção de vassouras do mundo bruxo. Claro que eu iria como acompanhante do Vitor e ninguém daria a mínima para mim, mas ainda assim aquilo era incrível. 


Havia passado horas arrumando meu cabelo, minha maquiagem e escolhendo a roupa e sapato que eu iria usar e finalmente eu me olhei no espelho e gostei do que vi. Depois de ter olhado no espelho e ter odiado o que eu vi várias e várias vezes, eu me considerei aceitável. 


Tudo que eu sabia sobre moda se resumiam em uma frase: Preto não dá pra errar. Mas todos os vestidos pretos que eu havia levado, segundo Kathy, não eram apropriados para tal situação. Então eu tive que improvisar e, sorte a minha que em uma das minhas férias, o tédio era tanto que eu havia aprendido a costurar no estilo trouxa, já que eu não podia usar mágica. 


Kathy havia conseguido para mim a quantidade de tecido que eu precisava, então durante toda a semana, no meu tempo livre eu tentei copiar o modelo de um dos vestidos que eu havia visto em uma das revistas trouxas que eu havia contrabandeado para Hogwarts. A revista era bem antiga e o comprimento de vestido era no meio da canela da garota que o vestia, algo que eu resolvi mudar. Nem as saias das garotas de Hogwarts era tão longas. Então lá estava eu, usando um vestido delicado demais para mim. As alças delicadas, a cintura marcada e a saia rodada pareciam fazer de mim outra pessoa. Uma pessoa que não tinha somente dentes bonitos.


Tentei esconder minhas olheiras e cara de cansada com a maquiagem, talvez por sentir obrigação em parecer algo que Kathy diria como “mais apresentável”.  Além do que, eu tinha que admitir que um pouco de blush e de rímel não faziam mal a ninguém.


Eu ainda estava olhando meu reflexo quase irreconhecível no espelho quando Hermione entrou no quarto.


-Vitor já chegou. Ele pediu para te avisar. – Ela disse.  - Você está bonita.


- Obrigada. – Eu agradeci.


Eu peguei uma blusa de frio e saí do dormitório. Eu ainda estava descendo as escadas quando avistei Vitor. Ele se virou para mim e abriu aquele sorriso que eu gostaria de ver todos os dias. Eu caminhei até ele, que estava sendo assediado por vários garotos e garotas.


- Sabe Vitor, uma das coisas que eu não gosto em você é o incrível fato de você nunca estar sozinho. – Eu disse isso olhando com cara feia para todas as pessoas que o cercavam.


- Mais de um mês sem me ver e essa é a primeira frase que você me diz? – Vitor disse.


- Pra demonstrar meu carinho. – Eu falei antes de abraçá-lo. – Senti sua falta.


- Por incrível que pareça, eu também. – Ele me disse assim que eu o soltei do abraço.


Eu bati nele com a minha blusa de frio. Vitor foi com a mão em direção do meu cabelo, eu conhecia aquele gesto, ele estava pronto para bagunçar meu cabelo.


- Não, não, o cabelo não. – Falei. – Demorou para eu arrumá-lo.


- Desde quando você se arruma tanto? – Vitor perguntou.


- E por favor, essa discussão de novo não. – Pedi. – Nós devíamos ir.


- Vou só me despedir da Hermione. 


Vitor pegou em meu braço e me puxou na direção de Hermione, que conversava com Harry e Ron.


- Achei que vocês já tinham ido. – Hermione disse educadamente.


- Vitor queria se despedir. – Falei e revirei os olhos. 


Vitor ficou algum tempo em silêncio olhando para Hermione e sorrindo. Eu não acreditava como ele ficava patético quando falava com ela.


- Foi um prazer revê-la, Hermione. – Vitor finalmente disse algo.


- Obrigada. – Hermione não sabia o que dizer. – Também é sempre bom te ver.


Com apenas duas frases trocadas por Vitor e por Hermione, Ron já estava vermelho de raiva. Mas, por mais engraçado que Ron estivesse, por mais envergonhada que Hermione estivesse e principalmente, por mais patético que Vitor estivesse, eu só conseguia me concentrar na forma como Harry estava me olhando. Ele parecia no mínimo surpreso.


- O que? – Perguntei para Harry.


- Nada. – Ele me respondeu envergonhado.


- Nós temos que ir. – Falei para Vitor. – Até mais.


- Até mais. – Vitor disse antes que eu o puxasse pelo braço para longe dali.


Nem dei tempo de Hermione ou qualquer um dos garotos responderem a despedida de Vitor. Nós caminhávamos pelo corredor quando eu resolvi dar um conselho para ele.


- Você precisa parar de ser ridículo, Vitor. 


- Ridículo? – Ele me perguntou sem entender. – Eu acho que eu sou charmoso.


- Não enquanto você está babando. 


- Eu não estava babando...– Ele me falou.


- Você estava babando tanto... – Eu o interrompi, apenas para ser interrompida de novo.


- Harry Potter parecia estar olhando muito para suas pernas. – Vitor me provocou. – Quer explicar isso.


- Não. – Eu falei e sorri. – Estava tão preocupada em ver quanto tempo você ia ficar babando pela Hermione que eu nem percebi se ele estava olhando para mim.


- Pare de mentir, você até perguntou “O que?” para ele. 


- Achei que ele tinha dito algo. – Menti.


Nós já havíamos saído de Hogwarts, então Vitor segurou em minha mão e aparatou. E lá estávamos, em frente a uma mansão enorme e linda.


- Uau. – Foi a minha única reação.


Vitor sorriu para mim e nós entramos na casa. Ele me apresentou para um enorme número de pessoas. Não demorou muito e o almoço foi servido.


Durante todo o almoço, a única coisa que aconteceu foi os patrocinadores puxando o saco dos jogadores, as acompanhantes dos jogadores puxando o saco dos jogadores, os jogadores adorando isso e eu entediada. Eu queria muito que chegasse o momento apropriado para dizer para Vitor que eu havia achado respostas para algumas das perguntas. 


Depois de tanta paparicação, Vitor e eu nos despedimos das pessoas e fomos para Hogwarts. Nós nos sentamos em um banco no jardim. Ele começou a me contar as coisas que não conseguia explicar nas cartas que trocávamos, e eu lhe contei as descobertas que eu meus novos amigos havíamos feito. Eu nem havia lhe dito que nós planejávamos descobrir mais coisas quando Vitor me perguntou como eu havia descoberto aquelas coisas.


- Você me conhece Vitor, eu daria um jeito de descobrir todas essas coisas. – Eu lhe disse.


Então ele ficou calado, o que não era muito comum dele quando ele estava ao meu lado.


 -Sabe Chuck, eu fico muito preocupado. – Ele começou a dizer. – Certas coisas são melhores a gente não saber.


- Eu prefiro saber a verdade. – Eu falei. – Eu vejo todos os dias pessoas que não fazem idéia do que está acontecendo. Algo está acontecendo, algo perigoso e que pode mudar a vida de todo mundo e, no final das costas eu estou muito orgulhosa da Kathy.


Vitor continuou calado.


- Você tem que ser egoísta, não é mesmo? – Ele me disse nervoso. – Indo atrás de coisas que não são para você saber. Se esse tipo de informação não é dita à você,  existe um motivo. Você sabe que, se alguém usar a poção da verdade em você e te arrancar essa informações, ou pior...


- Porque você está dizendo isso? – Eu realmente não estava entendendo. 


- Eu estou dizendo isso porque alguém tem que te dizer isso. Melhor que esse alguém seja eu... Chuck, pare de ser teimosa. Nós estamos tentando te proteger...


- Você sabia? Você sabia e você não me contou nada? 


Vitor não soube o que dizer e, honestamente nada que ele dissesse seria bom o suficiente para me convencer de que ele havia feito isso por uma boa razão. Eu apenas virei as costas para ele, abandonando-o em um dos corredores de Hogwarts. Eu fui instantaneamente para o Salão Comunal da Grifinória, eu não queria que Vitor viesse me perturbar e meu quarto era o único lugar que eu poderia fazer isso.


Eu estava tão concentrada em segurar meu choro até chegar no dormitório que ignorei as várias tentativas de Hermione de me chamar. 


- Se Vitor me procurar diga apenas que eu não dou a mínima se no próximo jogo ele cair de sua vassoura e quebrar a cabeça. O qualquer coisa do gênero. Por favor. – Em meio a meu percurso eu arranjei forças para prender meu choro e fazer esse pedido para Hermione.


E com essa frase eu subi as escadas e entrei no dormitório. Eu engoli o choro, eu tão estava decidida a não fazer isso virar um hábito que consegui me controlar.


Resolvi tomar um banho e tirar toda aquela maquiagem. Depois eu coloquei meu pijama e me deitei. 


Eu não conseguiria dormir nem se Brown e Patil me permitissem, então eu me levantei da cama tão nervosa quanto fui deitar, peguei o primeiro livro que eu vi na minha frente e fui para o Salão Comunal. 


- Você nunca dorme? – Perguntei ao ver Harry sentado em uma poltrona.


- Não tenho tido muito sono ultimamente. – Ele me respondeu.


Eu caminhei para perto da lareira e me sentei no sofá.


- Eu posso? – Perguntei em referência a fazer companhia à ele.


- Claro. – Ele respondeu antes de se calar novamente.


Abri meu livro e vi o marcador de página que eu estava usando: Uma foto minha e de Vitor, no meu primeiro ano em Durmstrang. Não pude deixar de sorrir, mas logo que me lembrei do que ele havia feito e arremessei a foto em direção ao fogo.


  - Está tudo bem? – Harry arriscou.


Eu não queria falar, mas eu precisava.


- Não... Ele sabia! Você acredita nisso? Todas as coisas que a gente tentou desesperadamente descobrir, ele sabia. E ele não me disse nada e eu pensei que nós não devêssemos guardar segredos dos nossos amigos, mas ele guardou e agora eu estou... 


- Acalme-se. – Ele se aproximou de mim e se sentou ao meu lado. – Ele quem?


- Vitor. – Falei tentando conter as lágrimas. – Ele sabia. E deve saber mais, mas eu não consegui perguntar nada para ele, o que foi melhor agora que eu estou pensando... Ele não ia me dizer nada. Ele disse que eu devia deixar as coisas como estão e se elas não me são ditas é por algum motivo... Eu não estou fazendo nenhum sentido.


- Não muito, mas eu acho que eu entendi.


- Desculpe. Eu não devia te fazer ouvir isso... Mas até Heathcliff não me agüenta mais.


- Não tem problema. – Ele falou.


Ficamos em silêncio.


- Se te conforta, eu sei o que você está passando. – Harry começou dizendo. – Ninguém me deixa fazer nada a respeito dessas mortes e eu odeio me sentir impotente. Então eles não me dizem nada, e então eu me sinto tão impotente quanto estúpido.


- Nós confiamos tudo um no outro. A idéia dele não ter me confiado algo que eu me interessava tanto... Esse é o pior.  – Expliquei. – Não sei, só queria parar de pensar nisso.


Então nós ficamos em silêncio de novo.


- Porque você gosta tanto de livros? – Ele me perguntou. 


- As histórias me ajudam a esquecer. – Respondi a primeira coisa que veio na minha cabeça.


- Esquecer o que aconteceu com seu pai?


- Começou por ser uma parte do mundo da minha mãe que eu queria conhecer. Depois se tornou algo para matar o tempo enquanto meu pai não vinha me visitar. Mais tarde, quando eu desisti de esperar por meu pai, era algo para quando Vitor não estava por perto e, finalmente, quando eu fui para Durmstrang, ler era uma válvula de escape.  – Eu lhe expliquei.  – Não que ler livros trouxas não me trouxesse mais problemas em Durmstrang, mas em certo ponto da minha vida, mais um problema era mais fácil de ligar do que tirar o que me fazia esquecê-los.


- Com Vitor sendo seu amigo e sua tia sendo professora, como... 


- Acredite em mim, em uma escola que não são aceitos bruxos nascidos trouxas, uma garota de onze anos lendo livros trouxas é colocada sem dó em um dos aros da quadra de Quadribol. – Eu o interrompi.


- Como é que você desceu? – Harry me perguntou assustado.


- Qual das vezes? 


- Sério? Mais de uma?


- Até perdi as contas... – Eu respirei fundo. – Não pense que eu quero que você tenha pena de mim, eu não quero. Só estou te contando isso porque é bom você saber que eu consigo agüentar muita coisa. E porque você parece interessado.


- Tudo para você tem que ter um motivo? – Ele parecia irritado. – Nós não podemos estar apenas conversando?


- Nós não estamos apenas conversando. Você está me investigando e tudo bem por mim. – Falei. – Você não pode ser tão bonzinho a ponto de você realmente só queria saber se eu estava bem...


Ele ficou me olhando em silêncio por certo tempo, parecendo estar chateado. Foi aí que eu percebi.


- Você é. – Eu disse pasma. 


- Você pareceu triste, eu fiquei com pena. 


- Brava. – Eu o corrigi. – Eu estava brava. Estou brava. Não precisa ter pena de mim.


- Desculpe por me preocupar...


- E não se preocupe também. 


Eu havia ficado, de certa forma ofendida. Eu não gostava de ser do tipo que parecia precisar de algum tipo de ajuda. Mas eu havia prometido a mim mesma que eu devia me esforçar para que aquele convívio desse certo.


- Gr... Desculpe. – Eu pedi.


Ele apenas sorriu em resposta. 


- Eu acho que eu devia te pedir desculpas também... – Harry começou a falar. – Sabe, pelo comentário dos dentes...


- Não se preocupe. – Falei. – Mesmo que aquele fosse um comentário irônico, foi provavelmente um dos comentários sobre mim mais agradáveis que eu já ouvi.


Ele riu. Eu sorri em resposta e abri meu livro, na tentativa de ler os dois últimos capítulos. O silêncio predominou o Salão Comunal enquanto isso. Assim que terminei de ler fechei o livro, insatisfeita. Eu sabia que Charles Dickens era um grande autor, eu sabia que “Great Expectations”, o livro que eu estava lendo, era um livro consagrado da literatura inglesa, mas o livro não havia causado qualquer grande impressão em mim. Atirei o livro para o lado e cruzei os braços.


- Se um livro é dito bom por todos os que entendem disso, eu necessariamente devo gostar dele? - Eu havia me feito essa pergunta em voz alta.


- Você está me perguntando? – Harry me tirou do transe.


Eu estava envergonhadíssima. Não me assustava que os outros alunos me achassem no mínimo esquisita. Além de tudo eu tinha o hábito de conversar comigo mesma, em voz alta.


- Eu falo sozinha. – Expliquei. – Quando alguma coisa me incomoda muito.


- Você não ter gostado do livro te incomoda muito? – Ele me perguntou. – Você está precisando rever seus conceitos.


- Como você sabe que eu não gostei? 


- Você estava fazendo careta enquanto lia.


- Eu gosto de livros, mas certas coisas eu jamais vou entender. – Expliquei minha frustração.


- Por exemplo? 


- A obceção trouxa por órfãos. – Falei sem pensar. – Desculpe...


- Você não precisa pedir desculpas sempre que disser a palavra “órfão” na minha frente. – Ele me disse. – Qual a história?


- Great Expectations? É sobre um garoto chamado Pip, que é órfão. Daí em certo ponto do livro ele ajuda um fugitivo que no futuro o ajuda a se tornar um cavalheiro rico.  Mas antes do fugitivo ajudar ele, ele se apaixona por uma garota chamada Estella que trata ele muito mal. Então ele vai para Londres, fica rico e importante, as pessoas que trataram ele mal pedem perdão, blá blá blá e ele termina com a Estella, que na verdade era filha do senhor que ajudou ele a ficar rico. 


- Parece legal. 


- Eu prefiro Jane Eyre. Pelo menos ela não terminou com alguém que a humilhou. Pelo menos não propositalmente...


- Ela é órfã também?


- É. Ela e, pelo que eu li, um dos personagens do próximo livro que eu pretendo ler também.  Até a literatura inglesa está com o objetivo de me lembrar que meus dois pais estão mortos.


- Isso não é uma coisa que você consegue esquecer. – Ele me falou.


- Eu consigo. – Protestei. - Sabe, meu pai cometer suicídio não foi a pior coisa que ele fez. Ele nunca esteve por perto, eu o via duas vezes por ano, no Natal e no meu aniversário, e nas duas vezes ele sempre estava muito cansado de algo que ele não me dizia o que era. Além do que, meu pai não foi um grande personagem de alguma história. Se minha vida fosse um livro, o nome dele seria citado tão poucas vezes que ele deveria vir com o complemento “que dizia ser o pai da jovem heroína”.


Ele ficou em silêncio. Foi quando eu percebi que eu estava falando isso 


- Des...


- Não peça desculpas de novo. – Ele me interrompeu. – Eu entendo. Meus pais morreram e eu não tive contato com eles e isso é horrível. Mas a idéia de que algum deles ter evitado estar ao meu lado durante quinze anos é tão triste quanto. Talvez mais. Eu posso entender porque você diz isso, você não precisa se desculpar.


 - Certo. – Falei.


- Qual é o próximo livro que você vai ler? – Ele me perguntou, mudando o rumo da conversa.


- Morro dos Ventos Uivantes. 


- É sobre o que o livro? 


- Amor. Eu acho, considerando que essa era a segunda coisa que os trouxas mais são obcecados. 


- Sem órfão? – Ele me perguntou rindo.


- Tenho quase certeza que um dos personagens é órfão. – Falei.


Nós dois rimos.


- Está tarde. – Eu lhe disse e me levantei. – Acho melhor eu ir dormir.


- Boa noite. – Ele me disse com um sorriso.


- Boa noite. – Eu sorri de volta. – E obrigada.


- Não há de que. –Ele me respondeu.


E então eu fui dormir.
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nota da autora:
queridos leitores, tenho que agradecer novamente os comentários da Jheni wesley e da Alexis_watson_ ! Espero que vocês estejam gostando e continuem comentando na fic!
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Comentários (1)

  • LariSiq

    Estou adorando a fic! E olha que eu quase nunca comento! Não para de postar tá? hahaha

    2011-10-22
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