Começando do Zero...



N/A: / Lisa entra segurando um lencinho;

Oi, pessoas! Como estão? Espero que muito bem! Eu estou bem também, acho; nada muito grave, só me recuperando de uma gripe chata que não larga da minha garganta. Peço desculpas, mais uma vez, pela minha imensurável demora. O caso é que, além da jornada tripla de estudo, universidade, e faculdade do lar (Como um amigo meu diz: Lavar roupa I, Lavar pratos VIII, Introdução à Utensílios de Cozinha, etc.); das minhas vicissitudes; e do meu adorado, amado e idolatrado perfeccionismo... Acho que eu, lá no recôndito do meu ser; lá no fundo do fundo do fundo do meu inconsciente – a redundância “não” é mera questão de ênfase... risos –, eu estava com receio de terminar a fic. Por quê? Bem, porque, tecnicamente, esse é o último capítulo de “Como os Nossos Pais... Ou Quase”; e, a cada linha que eu escrevia do capítulo, eu pensava nisso e morria de saudades dos pequeninos... T.T. E eu sou uma pessoa muito chata e possessiva, que odeia despedidas.

Durante esse tempo foram muitos risos, alegrias, tristezas, raivas e reflexões... Entre outras coisas mais. Da minha parte, tudo isso junto, além de meu já mencionado perfeccionimo, que me fazia fazer e refazer a cena, buscando deixá-la da melhor forma para vocês. n.n.

Escrever uma fic durante muito tempo não é a mesma coisa que você escrever fic curtas ou uma de vez. Você sente certo saudosismo – pelo menos no meu caso – e um carinho especial por cada coisa que você escreveu... Eu sei disso perfeitamente. Tudo tem que ter um fim! Eu me conformo – acho –, mas... Acho que o fim de CNP vai levar um pedaço do meu coração com ele. T.T. / Lisa com olhar de “Vou sentir falta de vocês...” /

‘Tá, tudo bem, eu sei que ainda temos um epílogo, mas ele é mais centrado em Tiago e Lílian, e não teremos a “alma” da fic, que são as crianças; também sei que temos pequeninos na estacionada “Éramos Sete em Nove” (ESN) – que eu pretendo acabar. XD. Mas, bem, as crianças de ESN são as crianças de ESN, e as de CNP são as de CNP... Apesar de serem as mesmas, as circunstâncias são diferentes e... Bem, acho que vocês entenderam.

Enfim, CNP vai deixar muitas saudades (acho que já disse isso). Agradeço a todos que sempre acompanharam a fic (e é claro que aqui também se inclui os que pegaram a vassoura voando... XD.); que jamais desistiram dela – e que, consequentemente, não desistiram de mim (apesar de ter motivos...T.T). Agradeço por cada leitura; por cada comentário; por cada “eu amo/gosto/adoro a tua fic”; por cada incentivo; por cada crítica; por cada riso, cada choro, cada alegria (por cada sentimento dedicado a fic); por cada pedido de atualização; por cada ameaça de morte; por cada espera (im)paciente... (Mais um) Enfim, obrigada por tudo! n.n.

Acho melhor eu parar por aqui, antes que eu comece a chorar... T.T. Desculpem-me por essa N/A sem graça, mas é que eu nunca fui boa em lidar com despedidas...

Eu vou responder aos comentários do capítulo anterior no epílogo, certo? Ou então aqui mesmo, só que mais tarde (eu pensei em fazer isso antes de postar, mas não queria demorar mais... T.T).

Beijos!!! E espero que gostem desse último capítulo!!!
/ Lisa sai enxugando as lágrimas /

8º Dia – Começando do zero... ou nem tão zero assim.

Lílian observava com um olhar perdido a lua crescente que brilhava no céu, recostada de modo displicente no vão da varanda. Os pensamentos corriam pela sua mente, mas ela sabia que não era capaz de captar nada com precisão; era como se tivesse, por aqueles instantes, perdido a capacidade de raciocinar. Sorriu de leve, encolhendo-se ainda mais na blusa larga que usava quando uma brisa fria soprara ao seu encontro. Ela não sabia ao certo quanto tempo permaneceria assim, até que foi dispersa da sua distração pelo ruído da porta do quarto sendo aberta bruscamente, dando passagem a um rapaz de cabelos arrepiados a ostentar um largo sorriso no rosto, conduzindo por magia o que lhe parecia ser uma bandeja farta de comida. A mesma atravessou velozmente o quarto, derramando um pouco de suco de laranja na passagem, fazendo a ruiva arquear uma sobrancelha antes de ela parar a sua frente, ainda a flutuar.
-Você não está achando que eu vou comer isso, não é mesmo? – ela insinuou, esboçando um sorriso meio trocista, mirando a bandeja a sua frente com certa desconfiança. – Esqueceu que eu não confio muito nas suas habilidades culinárias, Potter?
Tiago não disse nada, apenas sorriu e adentrou o quarto com um passear da mão livre pelos cabelos, fechando a porta com o pé sem muita cerimônia. Lílian não conteve um revirar de olhos quando o breve estrondo que a ação do maroto proporcionara chegou até os seus ouvidos.
-Existem pessoas nessa casa que ainda estão dormindo, ou será que você se esqueceu desse ínfimo detalhe, Tiago Potter? – ela o censurou, estreitando os olhos. Tiago apenas encolheu os ombros e suspirou. Com um aceno com a varinha, o maroto desfez o feitiço na bandeja, por notar que Lílian já a segurava.
-A comida é segura. – ele proferiu num ar descontraído, se aproximando dela a passos calmos e girando a varinha entre os dedos. Lílian notou que da ponta dela saíam faíscas meio douradas, que, ilusoriamente, formavam um círculo uniforme à medida que o rapaz aumentava a velocidade com a qual girava o objeto. – Eu peguei algumas sobras do jantar, então, acredito que não deva ser uma refeição tão ruim assim. – ele, subitamente, parou de girar a varinha e a segurou firmemente. Com um ar meio arteiro, Tiago segurou a bandeja e cerrou os olhos antes de se aproximar da ruiva. Selou seus lábios ao dela, antes de lentamente beijá-la de modo cálido, ao que foi prontamente correspondido. – Eu estou com fome, você não? – completou, cessando o beijo, ainda de olhos fechados, e a esboçar agora um fraco sorriso.
-Não. – ela respondeu num ar falsamente sério, interpretando o que ele realmente queria dizer com aquelas palavras. – Afinal, diferente de você, eu não pareço habitar um monstrinho no estômago para que necessite comer tanto assim. – completou, corando furiosamente ante o olhar malicioso que ele lhe lançara.
-Acho que eu não precito dizer nada, não estou certo? – comentou num tom casual, tomando a bandeja para si de modo gentil e acomodando-se na cama, sendo logo seguido por uma Lily ainda mais envergonhada. – Isso deu fome. – explicou, antes de pegar uma torrada para si e devorá-la com gosto.
-E eu simplesmente não sei para onde vai tanta comida. – ela emendou, depois de um tempo em que apenas se limitou a observá-lo atacar a bandeja como um esfomeado.
-Isso se chama digestão, Lily. – ele começou num ar meio professoral. – Primeiro você ingere os alimentos. Assim. – ele explicou, antes de abocanhar uma quantidade generosa de uma fatia de bolo. – Depois, você começa a mastigar... – continuou, explicando as palavras com o próprio gesto. – Há algumas substâncias que são absorvidas logo no começo e...
-Eu sei como é isso, Tiago, não precisa me explicar. – ela disse, desanimada.
-Mas você não acabou de me falar que não sabe para onde vai tanta comida?
-Sim, eu disse, mas não foi no seu sentido literal. – ela lhe lançou um olhar feio ao notar que ele estava querendo rir. – E pare de falar de boca cheia, é falta de educação.
-É nojento. – o maroto completou, rindo um pouco, já sem nenhuma comida na boca. – Eu não estava falando de boca cheia, Lily, apenas estava lhe dando uma explicação prática do assunto.
-Eu não queria uma explicação prática do assunto, Tiago.
-E o que você queria, afinal? – perguntou, intrigado.
-Eu só comentei o fato de você comer tanto. Só isso. – ela comentou, impaciente.
-E qual é o problema de eu comer tanto? – ele arqueou uma sobrancelha exageradamente. – Você nunca ouviu a história de que, quando estamos em fase de crescimento, precisamos comer para ficarmos grandes e fortes? – falou num tom de gracejo, antes de beber um gole de seu suco. – Pois bem, eu estou em fase de crescimento. – ele estufou o peito, orgulhoso. – Estou quase da altura do Sirius, sabia?
-Acho que o seu cabelo certamente deve ter ajudado nessa constatação. – Lílian brincou, rindo um pouco.
-Certo, eu confesso: os cabelos ajudaram um pouco. – ele falou num falso resmungo. – Mas eu falto só quatro dedos para ficar com a mesma altura dele, segundo as paredes de pedra do nosso dormitório. – ele arqueou a sobrancelha. – Só que confesso que medir a nossa altura a cada seis meses por causa de uma aposta perdeu a graça depois que Sirius começou a ganhar em disparada.
-E o que ele ganhava com isso? – Lílian perguntou, desconfiada.
-Por que você acha que a maior coleção de figurinhas de sapos de chocolate entre os marotos é a dele? E por que você acha que eu odeio tanto comprar sapos de chocolate?
Lílian revirou os olhos, soltando um fraco riso, acomodando-se melhor na cama, a fim de ficar ao lado do rapaz. Um súbito silêncio pairou entre os dois, no qual Tiago se optou por saciar sua fome e Lily permaneceu a observá-lo como se estivesse com o pensamento muito distante dali.
Passou-se algum tempo até que Lily reparasse que o maroto estava perto de terminar o seu “lanche”. Um pouco insegura por saber que não podia mais ficar adiando algo praticamente inadiável, abraçou os próprios joelhos e apoiou o queixo no mesmo, deixando escapar um longo suspiro. Viu Tiago preocupando-se em sumir com a bandeja com o que lhe pareceu ser um demorado aceno de varinha, para logo depois escorar as costas na cabeceira da cama, sendo amparado por um travesseiro que estava entre eles. O silêncio que antes poderia ser ligeiramente agradável, agora havia se tornado constrangedor e inquietador.
-Lily... – ela ouviu Tiago chamá-la, baixinho, como se estivesse receoso de quebrar aquela prolongada falta de comunicação que foi estabelecida entre eles. A ruiva apenas desviou o olhar do lençol (que até o momento era algo muito interessante para ser observado) e voltou-se para ele, num gesto mudo de quem dizia estar prestando atenção no que quer que ele quisesse lhe dizer agora. – Eu acho que, bem, eu acho que nós deviamos conversar. – ela assentiu, sem nada acrescentar. – Eu sei que tudo aconteceu há pouco tempo e, para falar a verdade, eu acho que ainda estou muito surpreso por as coisas terem tomado essa dimensão, mas simplesmente não devemos agir como se... Como se não tivesse acontecido absolutamente nada, não concorda?
-É... – ela se manifestou, rouca; a cor do seu rosto se fundia absurdamente com a dos seus rubros cabelos. – Aconteceu. – murmurou, encarando-o firmemente com seus orbes esverdeados. Tiago, porém, quebrou o contato quando passou a mirar suas próprias pernas, mordendo de leve o lábio inferior, esboçando um ar meio pensativo.
-Certo, vamos lá. – ele começou, dizendo isso mais para si mesmo do que para ela, antes de passar a mão pelos cabelos e respirar fundo. – Eu não faço a mínima idéia do que dizer numa hora dessas, mas sinto que preciso dizer algo. O problema é que eu... – ele tornou a olhar para a ruiva, tão ou mais envergonhado do que ela. – Eu... Bem... – ele riu de leve, como que para espantar a repentina timidez que imperava em seu ser. – Eu não sei ao certo como dizer... – ele soltou um longo suspiro. – Eu fiz algum mal a você? Te machuquei em algum sentido, ou... – ele tornou a respirar fundo. – O.k., na realidade, eu só queria saber de uma coisa. E, sendo sincero, estou com medo de saber da resposta. – ele fez uma feição que demonstrava certo receio antes de prosseguir. – Mas eu quero que você seja sincera, Lily. – ela assentiu calmamente. – Eu queria saber se você está arrependida por nós... Por nós... Você sabe. – Lílian arregalou os olhos um pouco e ficou ainda mais vermelha. – Você não precisa responder, se não quiser. – ele emendeou rapidamente. – Talvez eu tenha sido um pouco direto demais, mas eu só gostaria de saber se tudo isso significou para você o mesmo que significou para mim e...
-Eu não estou arrependida. – ela falou num tom pausado e doce, fazendo Tiago parar de falar (além de gesticular de modo exagerado) e sorrir, aliviado, como se aquela simples frase tivesse a capacidade de tirar um peso enorme de suas costas. – Agora, se eu disser que cometemos uma loucura, você vai achar que é algo estúpido e idiota da minha parte?
-Não. – ele falou, rindo, sentindo-se um pouco mais à vontade. – Eu só acharia que foi algo insano, mas bom. – ele pareceu ponderar por alguns instantes antes de prosseguir. – Bom não, muito bom. – ele lançou um dos seus sorrisos mais maliciosos e se Lily não estivesse tão envergonhada, o repreenderia de imediato. – Não estúpido ou idiota. Seria estúpido ou idiota se eu te perguntasse o que eu podia fazer ou deixar de fazer, não? – ele a observou com os olhos castanho-esverdeados brilhando assustadoramente. – Aliás, você não parecia ter achado isso algo tão estúpido e idiota a pouco tempo atrás.
Lílian acreditou que não mais conseguiria ter outra cor em sua face senão a dos próprios cabelos e, abandonando a posição que outrora se encontrava, deu um tapa no braço do rapaz, arrancando alguns risos do mesmo.
-Pára com isso, Tiago! – ela o censurou, com um meio sorriso a brincar nos lábios carmim. – E pára de me olhar dessa maneira seu... Seu pervertido!
-Pervertido? Eu? – ele se fez de inocente. – Ora, ora... Você não quer que eu comece a falar de você aqui, quer, Srta. Evans? – ameaçou, fazendo uma expressão tipicamente marota.
-Você-é-um-idiota! – acusou entre dentes, completamente constrangida. Lílian soube que Tiago só estava fazendo aquelas breves insinuações para descontrair um pouco, tentando abrandar o nervosismo de ambos, e internamente sorriu.
-Sério? – ele questionou, rindo. – Lily, Lily; você não estava me dizendo isso a algumas horas atrás...
-Tiago Potter! – ela o repreendeu, ficando furiosamente vermelha. Tiago sorriu e capturou seus lábios de modo carinhoso, não tendo nenhuma objeção por parte dela.
O contato durou alguns breves instantes e, tão logo se separaram, trocaram um olhar sério que se tornou ligeiramente significativo. Aquela conversa ainda não estava acabada.
-Olha, Lily, eu quero que você saiba que o que eu quero ter contigo é algo sério. – ele recomeçou a falar, abandonando o ar descontraído de outrora e substituindo o mesmo por um mais susudo. – E que eu não discordo de você por pensar que tudo ocorreu rápido demais, afinal, eu também penso o mesmo; e tão pouco discordo quando você diz que foi tudo uma loucura. – ele respirou fundo, parando alguns instantes para observar as suas reações. Lily se mantinha igualmente séria e, talvez, esse fato incentivara o maroto a prosseguir. – Então, se você quiser começar do zero... – ele silenciou por alguns instantes, parecendo avaliar a situação. – Ou nem tão zero assim... – corrigiu de modo rápido, uma sombra de um sorriso aparecendo em seus lábios quando ela arqueou uma sobrancelha numa feição visivelmente divertida e desconfiada. – Eu estou disposto a aceitar a sua decisão. – tornou a adquirir um ar mais sério, passando a mão pelos cabelos lentamente. – Saiba que o que eu quero com você é muito mais do que apenas uma noite. – prosseguiu num ar meio rouco. – Eu posso ser imaturo ou idiota às vezes, mas eu tenho uma certeza nessa vida: eu quero me casar com você, Lílian Evans; e se não for com você, eu não quero mais ninguém.
Lílian sentiu o coração falhar uma batida e um calor estranho e inebriante envolver todo o seu corpo ao ouvir aquelas palavras; contudo, não sabia o que pensar ou como agir naquele momento. Sua cabeça doía com o turbilhão de pensamentos que lhe invadiram ao mesmo tempo e ela se sentiu ligeiramente sem ar. Ao mirar o rapaz, Lily via algo diferente nele, porém Tiago ainda era o mesmo. Era algo confuso e estranho, mas ela sabia que estava acontecendo o mesmo com ela. Recordou-se de uma conversa que teve com sua mãe em que ela dizia que as pessoas costumavam mudar, mesmo que sutilmente, quando acontecia isso. E, sendo sincera consigo mesma, ela sentia essa mudança. Talvez com Tiago também estivesse ocorrendo o mesmo.
Ela notou que olhos castanho-esverdeados de Tiago ainda a miravam silenciosamente, como se esperasse uma resposta, entretanto, a presença daquele olhar não a pressionava. Era como se ele apenas esperasse qualquer tipo de comentário que ela dissesse à respeito de tudo aquilo que estavam passando e tentaria entender qualquer que fosse a decisão dela. Ela queria dizer várias coisas, mas não conseguia dizer nada; permaneceu assim durante longos minutos, e quando finalmente encontrou a sua voz, sentira que o que seus lábios falaram era a última coisa que ela gostaria de dizer numa ocasião como aquela...
-Você nunca... também...?
Tiago arregalou ligeiramente os olhos e seu rosto ficou tão rubro quanto os cabelos acaju de Lílian. Inesperadamente, a ruiva riu nervosamente e mordeu o lábio inferior, envergonhada com sua própria falta de tino.
-Desculpe, eu não deveria ter perguntado uma coisa dessas. – ela respirou profundamente. – É que eu estou um tanto quanto nervosa e confusa, não sei bem o que eu estou dizendo realmente.
-Ah, tudo bem, eu só... – ele pigarreou longamente e desviou o olhar do dela, corando um pouco mais. – Não.
-Não? – ela perguntou, confusa.
-Sim... Digo, não. – Tiago parecia prestes a explodir a qualquer momento de tão vermelho que estava. – Digo, eu nunca fiz algo desse tipo antes. Eu sempre fui zoado pelo Sirius por causa da minha pieguice, mas isso é mais do que simples beijos ou um bom amasso, não é? Queria que fosse com alguém mais certo, e não com a primeira que eu visse pela frente e me desse a oportunidade de fazer isso. – ele respirou fundo e abraçou as próprias pernas, um tanto quanto nervoso. – E esse alguém mais certo eu sempre soube que seria você, de alguma forma. – ele fez uma breve pausa antes de sorrir timidamente para ela e prosseguir. – Isso também soou meio piegas, não?
Lily negou com um meneio de cabeça em resposta, sentindo os olhos um pouco marejados. Tiago a mirava, ainda na mesma posição, com a face ligeiramente inclinada em sua direção e a cabeça apoiada nos joelhos. Num gesto gentil, a ruiva acariciou o rosto dele e beijou de leve seus lábios antes de recuar lentamente com um suspiro.
-Eu sei que não é isso o que você realmente quer, e eu também não sei se essa é mesmo a decisão mais correta para se tomar no momento. – ela murmurou num tom embargado, evitando o olhar dele, cabisbaixa. Os cabelos rubros deslizaram lentamente com o seu movimento e formaram uma cortina flamejante sobre o seu rosto. – Mas, Tiago, será que eu e você... Será que nós podemos... Nós podemos ser... Amigos?
-Amigos? – ele repetiu num fio de voz. – Mas, Lily, eu pensei que...
-Não! – ela exclamou de imediato, erguendo o rosto a fim de novamente encará-lo. Tiago havia erguido a cabeça dos joelhos e a estudava firmemente, esboçando uma feição fechada e incrédula. Suspirou antes de prosseguir. – Não é nada disso que você está pensando, Ti; dizer que eu quero ser sua amiga não significa que eu não queira nada com você. – seguiu num tom mais brando, fechando os olhos, como quem busca um pouco de coragem, e posteriormente abriu-os, inspirando fundo. – É que, como você mesmo disse, nós fomos rápidos demais.
-Mas, Lily, eu... – ele tentou dizer algo, mas ela o interrompeu com um olhar significativo. Tiago não insistiu, visto que o impacto da confissão dela ainda o afetava consideravelmente.
-Há mais numa relação do que simplesmente troca de beijos e carícias. Talvez eu esteja errada, mas eu sinto que ainda temos muito a descobrir sobre o outro. E sobre si mesmo também. – ela respirou profundamente. – Eu não sei se você pode ficar irritado comigo, mas eu sinto que preciso de tempo.
-Mas... Amigos, Lily? – ele questionou, ainda incrédulo. – Eu juro que pensei que depois de tudo o que aconteceu, você realmente me amava e que teríamos... – ele parou de falar, passando uma das mãos demoradamente pelos arrepiados cabelos e meneando a cabeça de leve. – Eu, sinceramente... Eu não sei o que pensar sobre isso. – declarou, inconformado.
-Eu só preciso de um tempo para pensar e assimilar melhor as coisas, Tiago. – ela tornou a explicar lentamente. – Isso não significa dizer que eu não amo você de verdade. – ela se aproximou, meio receosa, e pousou uma das mãos sobre o ombro dele, apertando-o de leve. – Você acha que chegaríamos a tal ponto, se eu não soubesse que sentia o mesmo? – ela corou um pouco quando ele a mirou de forma penetrante, mas manteve-se firme. – Talvez eu quisesse isso tanto quanto você queria.
Um silêncio acalentador se instalou entre eles e ambos encararam-se por um longo período, como se esperasse do outro uma reação qualquer. Por fim, Tiago respirou fundo e diminuiu a intensidade do seu olhar, desviando-o de leve para baixo antes de voltar a fitá-la.
-Ah, tudo bem, eu sou patético. – ele resmungou, sorrindo um pouco. – Mas... Amigos, Lily? – ele repetiu, agora num tom mais alegre do que outrora. – Sabe, eu esperava, assim, um pedido de casamento com direito a chuva de pétalas de rosas e champagne... – completou num dar de ombros. Lílian revirou os olhos e retirou a mão do ombro dele, mas não conseguiu se afastar muito, visto que ele, num gesto rápido, a segurara pela cintura e a trouxera para perto de si. Lily esboçou um ar repreensivo ao notar que ele havia começado com gracejos. – Ou então, se você não aceitasse que o nosso casamento fosse amanhã, visto que ainda não conseguiu um vestido ideal de noiva, eu me contentaria com um noivado excessivamente curto. – ponderou num ar estranhamente sério, mas pela proximidade entre os rostos, Lily reconheceu a sombra de um sorriso no canto dos lábios do rapaz.
-Tiago... – ela o repreendeu num tom entoado e risonho.
-Agora, por exemplo, se você não aceitasse o noivado, eu te pediria em namoro... – ele prosseguiu, como se não tivesse sido interrompido. Lílian o encarou de modo falsamente emburrado. – Amizade colorida, então? – insistiu, com um dos olhos semi-cerrados num típico olhar pidão. Ela apenas arqueou uma das sobrancelhas e, com certa dificuldade, cruzou os braços. – Certo, eu desisto! – exclamou, soltando-a lentamente, ao que ela riu, baixinho.
-Ir à Hogsmeade com você seria um bom começo, não acha? – questionou, sorrindo.
-Bom... – Tiago pareceu ponderar a proposta. – Se o que você quer é um tempo para, provavelmente, nos conhecermos um pouco mais... – ele começou num ar descontraído. – Além do que já nos conhecemos, é claro... – acrescentou num sorriso tipicamente malicioso, tendo um olhar fuzilador de uma envergonhada Lily como resposta. – Eu acho que seria um bom negócio se as visitas a Hogsmeade fossem acompanhadas de encontro às sextas, em algum lugar específico e de sua ou minha escolha. – ele esboçou um ar que denotava formalidade. – Não concorda? – Lílian lhe lançou um olhar atravessado e Tiago riu. – Certo, estava brincando. – confessou, de imediato, rindo mais um pouco. – Tudo bem, Lils, eu te entendo. – ele deu de ombros. – Para quem esperou por tanto tempo, acho que esperar um pouco mais não vai fazer tanta diferença assim.
-Eu acho melhor aos sábados, os encontros. – ela falou, constrangida.
-Isso é um namoro, então? – insistiu, fazendo seu olhar mais pidão novamente, aproximando o rosto do dela lentamente e esboçando um sorriso meio forçado e suplicante. Lílian riu e espalmou a mão no rosto dele, entortando um pouco os óculos do rapaz no processo.
-Talvez...
-Ah, qual é, Lily! – ele exclamou, indignado, empertigando o corpo e ajeitando os óculos num gesto altivo. – Por que tanto receio em um simples pedido implícito de namoro?
-Bom, posso levar em conta os anos em que eu praticamente o odiava com todas as forças do meu ser?
-Só se odeia alguém que se quer ser e não pode; alguém que é tão igual a você e você não admite; alguém que vai de encontro aos seus interesses por serem os mesmos que os seus; ou alguém que você quer ter e não confessa a si mesma que gostaria de ter. – ele a trouxe mais para perto de si pelos ombros. – Ainda nega que você se encaixa na última das opções?
-E onde se encaixaria o Snape nos seus diversos motivos para se odiar alguém, Sr. Potter? – gracejou, meio pomposa, fazendo Tiago arquear uma sobrancelha.
-Ah, o Ranhoso? Bem... – Tiago coçou a nuca, pensativo. – O Ranhoso é um exceção à regra, sabe.
Lílian revirou os olhos, divertida.
-Então, o que você me diz? – ele persistiu e Lílian notou que havia um quê de ansiedade em sua voz. – Se você quiser, eu posso tentar fazer oficialmente, mas creio que será um desastre. – ele comentou, com o rosto meio corado. Lily tornou a rir.
-Você não vai desistir nunca, não é? – ela falou, num ar desanimado.
-Eu desistir de te chamar para sair algum dia? – Tiago questionou num meio sorriso. – Obrigar você a aceitar meu pedido implícito de namoro não vai ser muito diferente. – ele encolheu os ombros e suspirou. – Vou dar tudo de mim e mais um pouco, porque há muita coisa em jogo além de um simples passeio à Hogsmeade agora. É de uma vida inteira que estamos falando.
-E quanto ao meu tempo? – ela perguntou, tentando parecer séria. Talvez não fosse tão errado começarem daquela forma; talvez ela só estivesse insegura e essa insegurança fazia com que algo tão certo lhe parecesse ser tão errado, às vezes.
-Se o que você quer é tempo, prometo que o primeiro presente que eu vou dar a você vai ser um relógio...
-Tiago! – Lílian o repreendeu, meio corada, ao que ele gargalhou gostosamente.
-Você devia ser menos insegura, Lily; se levarmos em conta, não há mais nada que você possa temer que eu faça com você agora.
Lílian lhe lançou um olhar fulminante e depois suspirou, derrotada. Ele tinha toda razão, afinal.
-Eu aceito namorar com você, Potter, se isso significa você parar de me encher pelo resto da vida para obter uma resposta positiva da minha parte.
-Lily, alguém já lhe disse que você não é nem um pouco romântica? – ele retorquiu num ar entediado antes de sorrir como um garoto que ganhou sua primeira vassoura de Quadribol e beijá-la com ardor. – Ah! – ele exclamou, descolando os lábios num gesto rápido. – Eu preciso te mostrar uma coisa!
Lílian abriu os olhos, ainda meio atordoada com o súbito sumiço dos lábios de Tiago sobre os seus, ainda a ponto de ver o maroto sair da cama afobadamente e correr em direção à porta, batendo-a fortemente ao passar. Lílian resmungou algo sobre as crianças acordarem e, antes que pudesse se perguntar o que raios ele iria fazer, a porta se abrira novamente, deixando à vista um Tiago extremamente ofegante, segurando um grosso livro nas mãos.
-Posso saber a razão para tanta agitação? – Lílian questionou, observando-o se aproximar a passos calculados dela, agora ostentando um meio sorriso no rosto meio afogueado pela corrida.
Tiago não disse nada a um primeiro momento, apenas sentou-se em frente à ruiva, e, colocando o livro que carregava em cima do colchão, empurrou-o para a ruiva esboçando um ar falsamente sério.
-Primorosa Lílian, queira apreciar a suprema inteligência do seu... Namorado. – ele falou num ar meio pomposo, fazendo a ruiva querer rir. – Sabe que nem sonhando eu imaginava que, um dia, iria dizer isso? Eu sou Tiago Potter, namorado de Lílian Evans.. Isso não soa bem para você?
-A quantidade de comida que você ingeriu agora há pouco está afetando absurdamente o seu cérebro, não? – Lílian questionou numa sobrancelha arqueada, fazendo Tiago rir um pouco.
-Não, não; apenas defino o meu estado como alguém estupidamente feliz. – ele avaliou, enquanto ela abria tranquilamente o livro a sua frente, lançando um olhar meio de esguelha para ele.
-Isso soa meio contraditório, Tiago. Como pode alguém ter uma suprema inteligência e ser tão estúpido ao mesmo tempo? – ela questionou num meio sorriso. Tiago esboçou um ar falsamente intrigado.
-Bom... – ele encolheu os ombros. – Eu posso ser muitas coisas. E não se esqueça que você está falando com Tiago Potter.
-Oh, estou lisonjeada... – ela rebateu num falso resmungo. – E o que é isso...? – ela prosseguiu, lançando um olhar meio desconfiado para o livro que agora folheava. – Um livro de runas? – completou, analisando uma das páginas com os olhos estreitados. – Isso não me parece nenhuma runa conhecida... Não por mim.
-É um diário. – Tiago comentou calmamente, passeando a mão pelos cabelos. – E, antes que você diga que é meu, ele pertencia a meu avô. – ele estudou Lílian demoradamente, fazendo-a franzir o cenho um pouco ao notar que ele não prosseguia em sua explicação.
-Certo, isso é um diário. Ele pertencia a seu avô. – ela fechou o livro calmamente, desistindo de tentar analisá-lo. – E qual a informação importante disso?
-Bom, nós, os Potters, às vezes temos uma mania excêntrica de ficar inventando coisas...
-Isso não me é nenhuma novidade, principalmente se essas invenções forem utilizadas para pregar peças nos outros. – ela o encarou com censura. Se lembrava muito bem do surto de mãos com vontade própria que assolara os alunos de Hogwarts, principalmente os sonserinos. Lily meneou a cabeça ao lembrar-se que Snape pegara uma bela detenção quando tentou desfazer o coque da Mcgonagall durante a aula de Transfiguração. Também fora esse mesmo surto que a fizera tentar arrancar a capa do maroto a sua frente quando saíam das masmorras, deixando-os numa situação bem embaraçosa no corredor; mas, atualmente, ela não podia dizer que não fora engraçado ela tirar a capa do rapaz enquanto despejava impropérios por saber que era alguma armação dele, e da vergonha que teve quando o Slughorn os pegou com ela por cima dele no chão, além da raiva do sorriso inocente que ele esboçara quando o professor pediu para que os dois o acompanhasse. Pior do que isso foi ouvi-lo declamar algo como quando, idade, também, jovens, apaixonados e vigorosos numa mesma frase, enquanto oferecia aos dois um pouco de cerveja amanteigada, ignorando o fato de que havia vários grifinórios e sonserinos presentes na hora em que eles se “atracaram” e que aquela não era uma ocasião meio favorável para ficar aos agarros com alguém em um corredor.
-No que está pensando, Lily? – ele a dispersou dos seus pensamentos, atraindo a sua atenção para si. A ruiva sentiu o rosto esquentar ao notar que Tiago parecia saber exatamente o que ela pensava, pois esboçava um enorme e malicioso sorriso.
-Acho que eu estou começando a entender onde você quer chegar. – ela desconversou, rouca. Tiago sentiu uma vontade quase que incontrolável de gargalhar, mas se conteve, preferindo transformar o seu sorriso num ligeiramente afetado.
-É um diário de experimentos, por assim dizer. – ele explicou, sem deixar de sorrir. – Aliás, muito interessante... – ele deixou a frase no ar e Lily lhe deitou um olhar repreensivo, que foi sutilmente ignorado pelo rapaz. – Mas nada para você se preocupar, Lils, não é interessante o bastante para que eu me dê o trabalho de usar em Hogwarts. – completou rapidamente, num ar tão inocente que fez Lily ter plena desconfiança das suas palavras.
-Se o Snape, do nada, virar um morcego no Salão Principal, não vou precisar pensar muito para saber que tem dedo seu e do Black nessa história, Tiago Potter.
-Ah... – ele fez um gesto displicente com as mãos. – Garanto que se nós fizermos isso, ninguém vai notar a diferença.
-Tiago! – ela o repreendeu, arrancando uma gargalhada alta do maroto.
-Ah, nem vem com essa, Lily; você não pode me dizer que não acha que o Ranhoso se pareça com um morcegão ambulante.
-Tiago! – ela tornou a repreendê-lo, entre um riso e um ar sério. – Ah, cala essa boca! – completou, quando ele voltou a rir, jogando um travesseiro nele, ao que ele prontamente amparou. – Então, quer dizer que os nossos amigos foram vítimas de algo louco que seu avô inventou? – ela concluiu num ar mais sério.Tiago assentiu calmamente, recuperando o fôlego. – Tiago, eles vão poder voltar ao normal? – acrescentou, preocupada. – Você sabe como fazer o antídoto? Isso vai deixar alguma espécie de seqüela neles? E...
-Calma, Lils, deixa eu terminar! – ele exclamou, meio risonho.
-Então termine logo, oras! Você é lerdo demais para contar as coisas, Potter. – retorquiu, emburrada.
-Eu não sou lerdo; só acho divertido ver você se remoendo de curiosidade. – ele falou num ar falsamente ofendido. – Inventar isso foi um processo muito longo, mas meu avô disse que valeu a pena no final. O mais interessante é que ele testava em si mesmo e... – Lily deitou-lhe um olhar de impaciência e ele inspirou fundo. – Ah, certo, eu conto. Meu avô a chamou de poção juvenescere, ou poção do rejuvenescimento. – ele deu de ombros. – Não que a intenção inicial dele fosse voltar terminantemente à sua juventude, ele alegou que realmente seria divertido fazer isso de modo temporário e que não se preocupou muito em achar um ingrediente que a tornasse algo mais definitivo. Aliás... – ele coçou de leve a nuca, pigarreando de leve antes de prosseguir. Lily notou que ele evitou olhá-la nos olhos desde aquele momento. – O vovô mencionou que era uma ótima maneira de testar em futuros genros e noras.
Lílian engasgou com a própria saliva, fazendo Tiago, mais do que tudo, fitar o teto com o rosto ligeiramente corado.
-Como assim testar?
-Ah, testar, sabe? – ele gesticulou exageradamente, fazendo Lílian erguer a sobrancelha, desconfiada. – A idéia de que o vovô tinha do objetivo de um matrimônio era constituir uma família e perpetuar a geração dos Potter na sociedade bruxa através de futuros descendentes, então...
-Espera um pouco. – ela o interrompeu, séria. Tiago ainda evitava seu olhar, o que fez com que ela ficasse um pouco corada. – Você está me dizendo que todos os futuros Potters passam por isso? – Tiago assentiu vagamente. – Sua mãe passou por isso, seus tios passaram por isso, seus primos passaram por isso e... E eu também passei por isso? – Tiago tornou a assentir, mordendo o lábio inferior, se atrevendo a mirar Lily, meio receoso.
-Potter, você está querendo me dizer que foi você quem armou tudo isso? – ela inquiriu, numa expressão tipicamente ameaçadora. Tiago se levantou da cama num sobressalto, colocando as mãos na frente do corpo de uma forma um tanto quanto protetora, como se esperasse o pior.
-Claro que não! – ele berrou, quase histérico. – Lily! Isso pode ser até uma tradição de família, mas isso não significa que o Potter envolvido nesse tipo de teste esteja ciente do fato. E nem que... – ele pigarreou longamente. – Nem que, digo, isso também não significa que ele seja considerada uma futura Potter. – ele disse num fôlego só, além de ter usado um tom de voz que beirava a um breve resmungar. A feição de Lílian se suavizou um pouco e Tiago passou a mão pelos cabelos longamente, achando seguro voltar a se sentar na frente dela calmamente. – Sou tão vítima quanto você nessa história... Bem, eu acho.
-Eu acho. – ela repetiu, ainda mais vermelha. – Eu não gosto muito de “achismos”, Potter. – ela o encarou de modo penetrante. – E quem me garante que você não tinha a mínima idéia de que isso poderia acontecer?
-Sirius. – ele falou num tom sério. Lily cruzou os braços e arqueou a sobrancelha, cética. Tiago lançou um sorriso nervoso a ela ao notar que a palavra de Sirius não tinha muita credibilidade na sua concepção. – E o Remo. - prosseguiu, enfatizando o nome do amigo mais do que o necessário. – Além do Pedro, é claro. – ele respirou fundo ao notar que a expressão da ruiva não havia mudado. – Os três estavam muito estranhos quando vieram para cá, eu devia ter desconfiado de alguma coisa...
-Como assim, eles estavam estranhos? – ela questionou, meio intrigado. Tiago esboçou um ar envergonhado.
-O Almofadinhas. – Lily lançou um olhar estranho a ele, fazendo-o rir de leve. – Desculpe, o Sirius. – corrigiu num meio sorriso. – O Sirius sabia que eu estava completamente apaixonado por você e, provavelmente, pode ter deixado escapar essa informação na frente dos meus pais. – ele revirou os olhos calmamente. – Até imagino a reação deles ao saberem disso. – ele suspirou profundamente. – O caso é que eu e os outros marotos já havíamos planejado passar as férias aqui. Sirius, no entanto, achou que seria uma boa idéia convidar você e as garotas... Não que meus pais tivessem concordado com isso rapidamente e nem que tivéssemos que ouvir um longo falatório sobre... Bem, sobre tudo o que os pais imaginam que jovens fazem quando estão longe das vistas deles e que eles não deviam fazer em hipótese alguma. – ele sorriu largamente. – Eu enviei uma carta para Lisa, sob ameaça mais do que expressa de Sirius, pedindo para que convidasse as outras garotas também; incluindo você, obviamente. Por eu ter recebido a resposta da Marlene, imagino que ela deva ter jogado o encargo para ela no caminho. – ele deu de ombros. – O caso é que, com isso, podemos dizer que as bases do plano estão formadas. Sirius, certamente, deve ter contado isso ao Remo e ao Pedro, então...
Lílian ainda se mantinha em silêncio, seu ar carrancudo demonstrando que não estava gostando nem um pouco daquela história. Tiago arriscou um breve sorriso e prosseguiu calmamente.
-Está tudo aí no diário. – ele comentou, deitando-se de lado na cama, apoiando o peso do corpo em um dos braços e olhando fixamente para Lily. – Sabe aquele armário da sala que ninguém conseguiu abrir porque a maçaneta dele mordia quem tentasse? – ele não esperou resposta. – É nele que estão guardadas as poções, digo, as garrafas de cerveja amanteigada que tem o conteúdo misturado a essa poção. – Tiago respirou fundo. – Bem, à medida em que eu conseguia decifrar tudo o que estava escrito no diário, eu percebi como as coisas facilmente se encaixavam. Nós dois subimos mais cedo naquela noite. Meu pai provavelmente pode ter dito a Sirius antes da viagem como abrir aquela droga de armário e ele pode ter oferecido as garrafas aos outros; Remo e Pedro poderiam já saber do suposto plano que meu pai e Sirius tramaram, creio eu, assim também como afirmo que eles devem ter contado para as garotas antes de pô-lo em prática. – ele silenciou por breves instantes, como quem toma fôlego. – Cada garrafa ingerida, ou seja, a cada 250 ml consumido de qualquer líquido que contenha essa poção faz a pessoa regressar três anos na sua idade atual. O resultado não é imediato, a poção leva cerca de seis horas para surtir efeito, porém, leva cerca de uma semana para casa inserção de 250 ml perca seu efeito gradativamente.
-E isso quer dizer que... – Lílian começou, meio confusa.
-Eles vão acordar com oito anos hoje; daqui a uma semana, eles vão estar com onze; e assim sucessivamente. – Tiago explicou, sorrindo serenamente para Lílian, que ainda se encontrava sentada na cama com o diário a sua frente. – E quanto mais distante você estiver da sua idade natural, menos recordações você tem da sua própria existência. – Tiago silenciou e pelo olhar que ele lhe lançou, Lílian presumiu que ele deixou o fato em aberto para futuros questionamentos dela. Respirou fundo.
-E por que eles nos tratam como se nós fóssemos os pais dele? – ela inquiriu com o cenho franzido. – Não é um tanto quanto... Estranho demais?
Tiago riu baixinho antes de responder.
-Bom, um pouco. – ele fez um ar meio desinteressado. – Mas o caso é um tanto quanto engraçado também. O primeiro casal consideravelmente adulto que entrar no campo de visão deles são considerados seus verdadeiros pais. Eles não tiveram muitas opções, não é mesmo? – ele inquiriu num meio sorriso.
Lílian ficou em silêncio por breves instantes antes que se manifestasse.
-Mas... E como você conseguiu decifrar isso em tão pouco tempo?
Tiago riu um pouco e esboçou um ar pensativo.
-Minha mãe... – murmurou num tom meio distante. – Ela, sutilmente, me fez recordar essa língua estranha que o vovô criou, mostranto algumas coisas que ela e meu pai tinha guardado da minha infância. – Tiago corou um pouco ao notar que Lílian ficou ligeiramente curiosa ao ouvir a palavra infância e procurou prosseguir o mais rápido possível. Era algo muito embaraçoso falar desses tempos. – Quando eu encontrei esse diário em meio aos livros nas estantes daqui, quase que de imediato eu reconheci essa grafia, então essa foi a primeira linguagem que testei. Para minha não tão intensa surpresa assim, ela se encaixou perfeitamente.
-Certo. – Lílian falou com desânimo. – Mas, ainda assim, descobrir tudo isso não resolve absolutamente nada. Ainda não temos o antídoto. E se eu tiver que aturar um Sirius com onze anos de idade, eu juro que me jogo dessa varanda.
-Ele não vai ter onze anos hoje, vai ter oito. – Tiago corrigiu, sorrindo largamente. – Então, você ainda terá que esperar mais uma semana. – Lílian olhou feio para ele.
-Oito anos. – ela bufou de raiva. – E eu não estou brincando, Potter. – ela ressaltou, cruzando os braços calmamente. Tiago, no entanto, apenas riu baixinho. – Posso saber qual o motivo da graça?
-Nenhuma em particular. – ele respondeu, ainda rindo. – Só fique certa de que eu estarei lá embaixo para te amparar quando você cair. – ele insinuou, inclinando para frente a fim de se aproximar dela. Lílian ficou da cor dos seus cabelos. – Só que, infelizmente, não vai ser necessário. – ele tornou a se afastar num meio sorriso antes de se sentar novamente na cama.
-Como assim, infelizmente? – ele questionou, desconfiada, ignorando o outro comentário dele. – É divertido para você me ver toda destroçada no chão por que você não aguentou me segurar?
-Hum, eu sou bruxo, mas minha varinha é só um enfeite. – ele avaliou numa sobrancelha arqueada, num tom falsamente sarcástico. Lílian tornou a olhar feio para ele. – E o infelizmente significa dizer que eu não vou ganhar nenhuma espécie de recompensa por te salvar de um final tão trágico, porque não vai ser mais necessário você pular da varanda. – ele sorriu marotamente, fazendo-a menear a cabeça num meio sorriso. – Porque, bem, eu descobri o antídoto.
-Descobriu? – Lílian o mirou, meio cética.
-Descobri, e é aí que você entra na história. – Tiago falou depois de revirar os olhos. Lílian riu um pouco enquanto ele se ajeitava na cama, ficando na posição de lótus, buscando algo por entre as páginas do diário. Esboçando um ar maroto, ele entregou uma folha de pergaminho nas mãos de Lily.
A ruiva o observou de modo curioso, começando a abri-lo calmamente, mas teve sua atenção desviada por Tiago, que andava de gatinhos pelo colchão da cama antes de ocupar o seu lugar e enfiar-se debaixo das cobertas.
-O que você pensa que está fazendo? – ela inquiriu, indignada.
-Indo dormir? – Tiago questionou, se aconchegando nas cobertas e suspirando. – Estou exausto.
Lílian ficou vermelha e arqueou uma sobrancelha para o namorado.
-E o antídoto?
-Bom, você é Lílian Evans, a melhor aluna em poções, não é? – ele insinuou, ainda de olhos fechados. – Você é o orgulho do Slug; suas mãos nasceram sabendo como se mexe o conteúdo de um caldeirão e cortar raízes. – ele suspirou longamente. – Eu só sou um pobre rapaz que se esforça muito para tentar alcançar tal magnitude, sem sucesso. Minha presença, então, pode ser completamente dispensável.
-Tiago Potter! – ela o repreendeu, revoltada. O rapaz riu de leve, transformando o riso em gargalhada quando ela arrancou as cobertas de cima dele.
-Ah, Lils, onde está o seu espírito de trabalho em grupo? – ele gemeu num ar falsamente manhoso. – Meu trabalho foi traduzir e o seu é fazer a poção, oras. Não é um acordo justo?
-Não me lembro de ter concordado com isso. – ela resmungou, tornando a puxar as cobertas que ele ainda tentava colocar novamente sobre si. – E eu também estou cansada, Potter! Acha que cuidar de oito crianças é fácil? – questionou, cruzando os braços e olhando feio para ele. Tiago apenas sorriu ligeiramente para ela.
-Vou ignorar que você acabou de me incluir nessa colocação. – disse num falso resmungo. – Mas, Lily, eu não posso te ajudar. – ela o mirou, cética. Tiago respirou fundo. – Sério. Essa poção só pode ser preparada por mulheres.
-E por que eu deveria acreditar em você, Tiago Potter? – ela inquiriu pausadamente. Tiago apenas ergueu um pouco o tronco, a fim de encará-la melhor, e encolheu os ombros, antes que voltasse a se aconchegar na cama. – Você está sendo sincero?
-Eu estou ciente de que traduzi tudo perfeitamente, Lils. Agora... – ele parou alguns instantes, lançando-lhe um olhar significativo. – Se você acha que eu só estou tentando me aproveitar da situação, corra o risco de me permitir fazer a poção. Se você quer que nossos amigos regressem ainda mais na idade, então, eu faço.
-Você pode ter se equivocado, Tiago. – ela falou, esperançosa. Não lhe agradava nem um pouco a idéia de ficar com a cara enfiada num caldeirão borbulhante enquanto Tiago dormia tranquilamente. Também não queria dar o braço a torcer e pedir para que ele ficasse lhe fazendo companhia. Pelo que conhecia de Tiago, ele estava esperando que ela fizesse isso. – Você traduziu muito rápido, não? Pode ter deixado passar algo.
Tiago corou furiosamente e Lílian estreitou os olhos, desconfiada.
-Hã, não necessariamente. – ele coçou a nuca, meio envergonhado. – Eu achei o livro há dois dias. Na noite em que, bem... – ele pigarreou longamente. – Você sabe. – falou, mio rouco. – Foi isso que eu estava fazendo quando eu disse que fui ver a... Bem, você sabe quem é. – ele suspirou. – Desculpe mais uma vez pela minha estupidez.
-Tudo bem. – Lily disse, sinceramente, sorrindo levemente ante a vergonha do rapaz ao falar sobre aquele assunto. Aquilo parecia tão distante na mente da ruiva que ela não se deu ao trabalho de se sentir magoada por isso. – O.k., então. – ela completou num falso resmungo. – Mas isso não significa que você possa dormir enquanto eu... – ela parou de falar ao notar o sorriso triunfante que ele esboçara. – Hum, pode ir dormir, Sr. Lily-eu-estou-exausto... Onde eu arranjo um caldeirão e os ingredientes? – emendou, orgulhosa.
Tiago lançou-lhe um sorriso ligeiramente trocista antes de erguer o tronco e se aproximar do rosto dela, encarando-a com um ar divertido.
-Se você pedisse, Lils, eu até podia pensar em te fazer companhia enquanto você a prepara. – falou com ares de riso. Lílian, meio corada, apenas arqueou a sobrancelha para ele e cruzou os braços.
-O caldeirão e os ingredientes, Potter. – ordenou pausadamente.
-Hum, você é quem sabe. – Tiago falou, rindo. O maroto observou-a por vagos minutos antes de beijar de leve os labios dela e se afastar. Alguns acenos de varinha depois, um caldeirão e pequenos frascos de ingredientes voavam até o quarto e pousavam delicadamente no chão do recinto.
-Aí estão. – disse Tiago calmamente. – Bom trabalho, ruiva. – um sorriso maroto povoou os lábios dele enquanto o rapaz se enfiava debaixo das cobertas e procurava uma posição confortável para dormir.
Lily lançou-lhe um último olhar de censura antes de reprimir um praguejar. Correu o olhar pelo pergaminho em mãos e se levantou da cama, sem nenhuma delicadeza. Logo depois, sentou-se no chão e começou a separar os ingredientes, lendo de forma minuciosa as instruções dadas pelo rapaz.
A poção começava a ferver quando Lílian desviou os olhos dela e observou o maroto ressonante de modo significativo. Seus lábios se curvaram num meio sorriso quando uma breve idéia se passou pela sua cabeça.
(...)
Um praguejar alto ecoou pelo quarto segundos antes de algo chocar-se contra o chão num baque surdo. Ouviu-se um riso prendido em meio ao borbulhar enfadonho de uma poção azul-celeste enquanto uma mão tornava a mexê-la delicadamente.
-O que foi agora, Lily? – o rosto emburrado de Tiago apareceu por detrás da cama. Os cabelos estavam mais desalinhados do que o normal e os óculos estavam tortos em seu rosto corado. A ruiva sorriu de modo inocente.
-Eu acabei cortando errado uma raíz por causa do sono. Vou precisar de mais uma. – ela falou como quem não quer nada. Tiago revirou os olhos.
-Tem mais no frasco, Lily. – ele falou, impaciente, ajeitando os óculos no rosto.
Lílian observou os frascos ao seu redor com o cenho franzido e depois sorriu alegremente.
-Ah, é mesmo. – murmurou num tom nada convincente. Tiago suspirou resignado.
-Mais alguma coisa?
-Sim.
-Diz, então.
-O que vem depois das raízes? – ela questionou, fazendo o pergaminho com os passos da poção voar até as mãos de Tiago, que o amparou por puro reflexo. – Eu não estou entendendo muito bem.
-Você tem que aumentar o fogo e mexer quinze vezes no sentido anti-horário. A poção, a essa altura, terá que adquirir um tom dourado. – ele leu num tom quase mecânico. – Posso voltar a dormir agora? – questionou, desconfiado, amassando o pergaminho e jogando de volta para ela, praticamente se arrastando de volta à cama em seguida.
-Pode.
-Já é a terceira vez que você me diz isso e é a terceira vez que eu caio da cama. – ele a observou de modo penetrante. A sombra de um sorriso passou pelos lábios de Lílian.
-Eu não tenho culpa se sua letra é um garrancho e eu não a entendo, Tiago. – disse inocentemente, voltando a mexer a poção de forma concentrada.
-Não seria mais fácil dizer que você deseja companhia, Lils? – a ruiva corou, mas se manteve impassível. – Sabe, existem maneiras mais eficazes de pedir isso do que ficar me lançando feitiços de choque. – ela corou mais ainda.
-Eu não estou fazendo isso porque desejo companhia. – Lily murmurou, rouca. – Mas não nego que é egoísmo de sua parte ficar dormindo enquanto eu fico preparando essa droga de poção. – Tiago riu de leve.
-Hum, a meu ver, você acabou de se contradizer. – ele murmurou, se levantando da cama e indo de encontro a ela. – Tudo bem; eu posso te fazer companhia, mas quero algo em troca.
-Eu não...
-Posso usar a sua perna? – ele a interrompeu, sentando-se ao seu lado. Lily olhou para ele, desconfiada. – Assim você evita me dar choques, pois também vai tomar.
-Isso não evita você de dormir, contudo; você só está trocando o travesseiro. – ela retorquiu em resposta. Tiago encolheu os ombros e fez ar de desentendido.
-Posso? – insistiu.
-Faça como quiser. – ela disse, como quem não se importa. Tiago julgou isso como um sim e descansou a cabeça no colo dela, suspirando. Durante os minutos que se passaram, o maroto se limitou apenas a observar Lily prosseguir com a poção num ar concentrado.
-Tão séria... – ele comentou, rindo um pouco. A ruiva o olhou por breves instantes, ainda esboçando o ar sisudo.
-Eu não pedi uma companhia falante. Só quero algo mais justo.
-Algo mais justo? – Tiago inquiriu, cético. – Eu passei quase duas noites em claro traduzinho isso, Lílian; você só precisa ficar acordada por um tempo para concluir a poção e ainda quer me manter acordado depois de tudo o que eu fiz? Falou a justiça em pessoa. – concluiu, rindo.
-Meus olhos estão pedindo para serem fechados, Tiago. – Lílian confessou, rapidamente. – Eu preciso de uma pequena distração que me mantenha acordada.
-Uma distração não-falante. – ele retorquiu num ar brincalhão. – Ah, ótima distração, não?
-Pelo significado da palavra você pode deduzir o porquê disso.
-Mas, mesmo assim, você disse que precisava de uma pequena distração, não? Se ela é ou não é falante, continua sendo uma da mesma forma. – Tiago rebateu, sorrindo de modo vitorioso quando as bochechas de Lily ficaram vermelhas.
-Você é insuportável, Tiago. – ela falou entre dentres. O moreno gargalhou gostosamente.
-E eu te amo, Lílian. – confessou num ar mais sério. Ela ficou ainda mais vermelha e Tiago percebeu que a mão dela vacilou um pouco sobre a colher que usava para mexer o conteúdo da poção.
-O que eu falei sobre distração, Tiago? – ela murmurou, rouca.
-Dizer que eu te amo pode ser considerado te distrair? – ele inquiriu com a feição mais inocente do mundo.
-Obviamente que sim. – ela falou, parando de mexer a poção, que já adquirira o tom dourado indicado na instrução. – Eu quase perdi a conta. Agora...
-Você deixa ferver por alguns minutos e está pronta. – ele completou, rapidamente.
Lily suspirou, aliviada, e deitou as costas no chão esboçando um ar cansado. Tiago se ajeitou um pouco, de modo a descansar a cabeça na barriga dela, virando o rosto em sua direção.
-Já são três horas da manhã... – ela comentou, pensativa.
-Eu sei.Vai dormir que você está cansada. – Tiago disse, baixinho. – Pode deixar que eu ajeito tudo aqui depois.
-Eu estou com preguiça de levantar daqui...
-Isso é um pedido implícito de “Você pode me carregar, Tiago”? – o maroto questionou calmamente, brincando com uma das mãos de Lily.
-Não. Isso está mais para um “Eu vou dormir aqui mesmo”. Aí, se você tiver o mínimo de cavalheirismo, você pode imaginar o quanto esse chão é duro e vai me conduzir até a cama e me cobrir com o lençol.
-O que significa a mesma coisa. – ele completou, rindo.
-Nada disso, Tiago. – Lily ressaltou, erguendo um pouco o tronco e apoiando-se nos cotovelos, a fim de encará-lo de forma melhor. – Não significa a mesma coisa. Da forma que eu disse, você estará fazendo isso por livre e espontânea vontade. Assim eu garanto que você não pedirá nada em troca depois. – ela sorriu meio de lado.
-Você me acha tão interesseiro assim? – ele questionou, ofendido. – Você está certa em dizer que eu pediria algo em troca, mas acho que o pedido também seria do seu interesse. Aliás...
-Nem vem. – ela falou ao reconhecer o olhar dele e notar que ele erguera a cabeça e já começava a se aproximar dela. – Eu ainda tenho que olhar a poção.
-Você não está olhando a poção agora. – ele disse, voltando a deitar a cabeça sobre a barriga dela.
-Estou atenta a ela, no caso. – ela rebateu calmamente. – Hum, e quando nós vamos dá-la aos outros, Tiago? Logo quando eles acordarem?
-Não sei... – Tiago falou num ar pensativo. – Lily, será que não poderíamos deixar o Sirius assim?
-Assim como? Criança?
-Sim. – Tiago falou numa breve careta. – Ele vai ficar ainda mais insuportável do que é normalmente quando voltar. Eu te garanto, Lils, o Almofadinhas está melhor assim.
Pelo que Lílian conhecia de Sirius e Tiago, ela entendeu perfeitamente o que o maroto estava falando. Um sorriso divertido povoou a sua face e ela meneou a cabeça calmamente.
-Você só está dizendo isso porque sabe que ele não vai nos deixar em paz por causa do namoro. – Lílian avaliou, rindo. – Mas eles não precisam saber dele agora, precisam?
Tiago a mirou, meio cético, e depois sorriu de modo malicioso.
-O que você está propondo, Lils?
-Ah, você sabe... As garotas podem ser tão ou mais insuportáveis do que o Sirius. Em Hogwarts vamos ter mais chance de escapar deles. – ela falou, ficando automaticamente com as bochechas rubras. – O que são alguns dias?
-Você vai escrever para mim o resto das férias? – Tiago perguntou num tom meio carente.
-Claro que sim! – ela falou, sorrindo. – Mas por que você está perguntando isso agora? Ainda temos um dia inteiro pela frente. Só vamos embora amanhã, esqueceu?
-Sim. Eu perguntei por perguntar. – ele falou, rindo. – Também quero conhecer sua casa e seus parentes, certo? – ele a olhou com um ar malicioso. – Principalmente...
-Não termine a frase, Potter. – ela resmungou, vermelha, obrigando-o a tirar a cabeça de sua barriga e se erguendo um pouco mais, a fim de estudar a poção. O tom dourado estava ainda mais saliente. – Ah, ela está pronta. – ela comentou e, com um gesto da varinha apagou o fogo.
Alguns instantes depois, todo o conteúdo do caldeirão estava lacrado em pequenos frascos, que foram largados, junto com o mesmo e um livro escuro, em cima da penteadeira do cômodo. O casal caminhou tranqüilamente de volta à cama e as luzes tornaram a se apagar.

***

Sirius empertigou o corpo e permaneceu assim, estático, ao notar uma pequena movimentação no corredor. Com os olhos ligeiramente estreitados, percebeu que a pessoa se aproximava e, num gesto rápido, segurou firmemente o que tinha em mãos, escondendo-o de qualquer jeito embaixo do travesseiro antes de se jogar na cama com um sobressalto, fitando o teto como se estivesse profundamente entediado. Segundos depois, as batidas de leve na porta confirmaram suas suspeitas.
-Sirius, você está aí dentro? – a voz lhe chegou meio abafada, mas foi suficiente para arrancar uma ligeira careta no rosto do garoto, que abandonou o estado inertemente tedioso e buscou debaixo do travesseiro o objeto que guardara.
-Ah, é você... – murmurou à guisa de “Entre”. A porta do quarto se abriu, dando passagem a outro garoto, que fechou a porta timidamente ao passar. – Por um instante, achei que fosse a mamãe. – explicou enquanto o garoto se aproximava da cama.
-O que você está fazendo, Sir? – ele inquiriu, meio desconfiado, sentando-se em frente ao irmão e mirando o estranho objeto que ele tinha em mãos. – E o que é isso...?
-Isso? – um sorriso diferente brotou no rosto do moreno. O outro assentiu, sem notá-lo. – Ah, isso? Bem, não é nada importante.
-Não é nada importante...? – ele questionou enquanto o irmão, meio alheio, revirava o objeto em todos os ângulos possíveis, analisando-o. – Onde você conseguiu?
-Ah, eu afanei. – disse num dar de ombros. – Só não sei como funciona...
-Mas isso...
-É. – o irmão interrompeu, parecendo entediado. – É um carimbo, ou algo assim.
-Mas isso é trouxa, Sir! – o outro exclamou, alarmado. Um sorriso, agora caçoador, brotou no rosto de Sirius. Ele parou de analisar o carrinho e mirou o irmão como se o desafiasse.
-Sim, ele é. Você vai me dedurar para a mamãe por causa disso, Reg?
-Eu... – Régulo começou, mas sua fala foi entrecortada por um grito rouco. Sirius pulou de susto e, instintivamente, olhou para porta... Mas não havia mais porta. Para falar a verdade, não havia mais nada. Até mesmo o tal do Reg e o carimbo tinham sumido. Tudo havia ficado estranhamente negro...
Algo lhe disse que ele devia abrir os olhos. Sirius demorou um tempo para absorver essa informação enquanto aquele grito contínuo ecoava em seus ouvidos. Quando finalmente acordou, notou que o grito vinha de dentro do recinto que ele se encontrava. Mais precisamente, de alguém que estava ao seu lado.
-RÉGULO, ACORDA! – berrou instintivamente, mau-humorado, puxando o seu travesseiro e tacando-o no garoto que dormia na cama ao lado antes de cobrir a cabeça com as cobertas, ainda resmungando algo como o irmão ser medroso o bastante para vir sempre dormir no quarto dele. O grito cessou e Sirius suspirou, aliviado. Agora era só esperar o sono vir novamente e dormir mais um pouco.
Infelizmente, alguém não estava muito satisfeito em ver Sirius dormir, pois quando o maroto tornava a pegar no sono novamente, a porta do quarto se abriu de chofre e uma leve agitação se fez presente no quarto.
-O que aconteceu? – quatro vozes perguntaram ao mesmo tempo, extremamente preocupadas.
-Pesadelo. – uma voz extremamente rouca respondeu e Sirius, num ligeiro bufo de raiva, arrancou as cobertas de cima de si e observou os presentes. Algo estalou em sua mente, dizendo que aqueles eram os seus irmãos... Apesar de não ter nenhum Régulo do sonho no meio, pelo que ele se lembrava. Mas não se atentou muito a isso.
-Será que vocês podem ser um pouco menos barulhentas? Tem gente aqui querendo dormir.
-Oh, ouviram isso, meninas? – Marlene disse, meio cantarolante. – Ele quer que a gente faça menos barulho... – quatro risinhos, automaticamente, foram ouvidos.
-Conte para a gente o que aconteceu, Remo. – ressaltou Lisa, empinando o nariz para o maroto da cama ao lado e voltando-se para o outro, que ainda estava muito pálido. Sirius esboçou uma carranca e olhou feio para Remo, como se ele dizer algo fosse considerado uma grande ofensa e traição.
-Eu... – ele olhou de um para outro, indeciso. Alice e Marlene já estavam andando para o extremo do quarto, a fim de observar um Pedro meio assombrado. – Hã... Bem... Desculpe Lisa, mas eu não quero falar sobre isso. – Sirius esboçou um sorriso intimamente satisfeito. A “irmã” apenas deu língua para Sirius e cruzou os braços, se sentando na ponta da cama de Remo, como quem dizia que não sairia dali assim tão fácil.
-Foi lobisomem. – Pedro comentou, ainda de olhos esbugalhados, tremendo involuntariamente. Os olhos de Sirius brilharam e as meninas miraram Remo, surpresas. O rosto de Remo ficou muito vermelho e ele lançou um olhar de censura para Pedro. Este, contudo, prosseguiu. – Você disse antes de gritar; eu tentei acordar você, mas... Você... Bem... Fez um barulho estranho. – falou, quase num guincho.
-Uau; eu nunca sonhei com lobisomens! – exclamou Sirius, fascinado. Alguns olhares de reprovação recaíram sobre ele, mas ele não pareceu se intimidar com isso. – Ah, qual é, eu só tenho sonhos normais! E isso não tem nenhum graça!
-Não tem nenhuma graça sonhar com lobisomem, Sirius. – advertiu Remo num tom ainda mais rouco. – Nenhuma graça mesmo.
-Mas você podia contar para seu irmão como foi... – disse rapidamente. – Digo, desabafar é bom. – contornou ao ver a feição desaprovadora que os outros exibiam. – Ajuda a vencer todo esse negócio, sabe, de medo e tudo o mais. – completou num dar de ombros.
-Você é a única pessoa que eu conheço que acha legal ter pesadelos, Sirius. – repreendeu Belle num revirar de olhos. – Acho que o Remo não deveria falar mais sobre o pesadelo com a gente.
-Mas ter pesadelos é legal! – Sirius retorquiu, parecendo ofendido. Depois, soltou algo entre um suspiro derrotado e um bufo de raiva ao ver que os outros irmãos poderiam achar tudo de um pesadelo, menos legal ou divertido. – ‘Tá bem; eu admito que sou único.
-Ainda bem que você é único, irmãozinho! Se existisse dois Sirius Black, o mundo estaria perdido! – Alice falou, rindo. As “irmãs” a acompanharam.
-E se vocês fossem quatro, não seriam tão chatas. – ele rebateu num resmungo. As garotas se entreolharam, sem entender, e tornaram a rir novamente. Remo meneou a cabeça levemente, imaginando o que o “irmão” quis dizer com isso, e Pedro os olhava, completamente confuso.
-Nós somos quatro, Sirius, ou será que você não sabe contar? – Marlene insinuou, divertida. Sirius fez uma feição falsamente espantada.
-Sério? É que vocês são tão iguais que nem parece que são quatro. – falou num meio sorriso. As meninas abandonaram o ar risonho da face.
-Como se vocês três não fossem a mesma coisa. – Belle rebateu, apontando para ele, Remo e Pedro. – Acho que se alguém falar que o céu é verde, os outros concordam.
-Mas o céu é azul! – Pedro falou com o cenho franzido. – Eu já sei as cores, sabia?
-A gente sabe, Pedrinho, mas aposto que se o Sirius e o Remo falasse que é verde, você também ia concordar. – respondeu Alice calmamente.
-Eu não! – o garoto falou, parecendo ofendido.
-A gente não é assim. – murmurou Sirius, carrancudo. – Eu não diria que o céu é verde. Também não ia concordar com isso. Eu não sou burro.
-Mas a Belle só disse isso como exemplo, seu idiota! – Lisa falou num bufo de raiva. – Não que eu acredite que ele não seja burro... – ela completou, baixinho, para Marlene, que prendeu o riso.
-É só uma comparação. – completou Belle, de súbito.
-E vocês entenderam muito bem o que a gente ‘tava querendo dizer. – avaliou Marlene em seguida.
-Só não querem dizer que sim. – concluiu Alice, cruzando os braços calmamente.
Sirius apenas lançou um olhar estranho para as quatro e depois para Pedro, parando, por último, em Remo. Este, por sua vez, reprimiu um riso, um pouco menos pálido do que antes.
-Cara, meninas são esquisitas demais! Elas completam tudo o que a outra fala! – exclamou, num tom falsamente alarmado. As quatro reviraram os olhos em resposta.
-Meninos... – Alice disse num resmungo. – Meninas, vamos descer? – ela questionou, ao que as outras assentiram num murmúrio.
-Também concordam com tudo que uma delas fala... – Sirius cantarolou, aparentemente para o nada. As meninas, que àquele ponto já começavam a sair do quarto, voltaram-se para ele bruscamente. Remo tentou se manter sério ao passo que Pedro ria baixinho.
-Sirius, não irrita! – Marlene falou, numa cara fechada.
-Eu? Eu disse alguma coisa aqui, Remo? – ele questionou, num tom ligeiramente inocente.
-Eu não ouvi. – eles esboçaram sorrisos idênticos, ao que Sirius voltou o olhar para Pedro.
-E você, Pedro, ouviu? – ele questionou, ao que o “irmão” negou com um meneio de cabeça. Sirius se voltou para as garotas, esboçando um sorriso gigantesco. – É, meninas, vocês estão ouvindo coisas.
As garotas não disseram nada, apenas lançaram um olhar irritado para o maroto-mirim antes de retomarem seu caminho. O sorriso de Sirius se transformou num meio de lado enquanto ele mirava as “irmãs” com uma feição zombeteira.
-Menin... – ele começou, mas foi interrompido por um coro de “Sirius!”, que o fez gargalhar gostosamente. As garotas sairam do quarto esboçando um ar aborrecido e, quando a porta se fechou bruscamente, Sirius mirou o “irmão” calmamente.
-Agora me conta o sonho, Remo. – ele disse, ainda ofegante pelo riso. Remo empalideceu consideravelmente e Sirius revirou os olhos, entediado. – Ah, qual é! Você não vai ficar com medo, vai?
-Parecia verdade, Sirius!
-Era sonho!
-Dá medo... – Pedro comentou, olhando de forma receosa para Remo. – Não conta não. – Sirius lançou um olhar fuzilador para o loiro.
-É só tapar o ouvido que você não ouve. – ele murmurou antes de voltar o olhar para o outro “irmão”. – Conta!
-Não conta! – Pedro disse, quase num guincho.
-Conta sim! – Sirius falou num tom mais firme. – Ele era todo peludo e com dentes grandes?
Remo não disse nada, apenas assentiu ainda mais pálido.
-E o que mais? – perguntou com os olhos cheios de expectativa.
-Ele me mordeu... – murmurou, ainda mais lívido.
-Ah... – Sirius comentou, meio evasivo. Talvez estivesse esperando uma luta daquelas em que Remo enfrentava o animal somente com as mãos e terminava com uma fuga estratégica do lobisomem. – Bom, mas foi um sonho, não? – completou num ar compreensivo.
-É. Foi um sonho. – ele comentou num tom rouco. – Vamos descer? Eu estou com fome.
Os três se levantaram e seguiram o caminho até a cozinha em estranho silêncio. Sirius podia reparar que Remo, de quando em quando, olhava para as próprias mãos como quem certificava alguma coisa; Pedro lançava olhares receosos para ele, como se imaginasse que a qualquer instante ele viraria um lobisomem e correria atrás deles.
-Será que a gente vira lobisomem se for mordido em sonho? – Remo questionou quando alcançaram o último degrau da escada.
-Acho qu... – Sirius começou, mas parou de falar ao notar que as garotas estavam sentadas no sofá, parecendo meio entendiadas.
-Papai e mamãe ‘tão dormindo. – Alice se precipitou antes que ele perguntasse alguma coisa.
-E a comida? – Pedro perguntou, franzindo cenho. Elas encolheram os ombros em resposta.
-Sem comida. E a porta do quarto ‘tá trancada. – Lisa completou, parecendo desolada. Houve um silêncio solene em seguida enquanto os marotos-mirins cercavam a mesinha de centro, esboçando um ar contrariado.
-Hum, o que vamos fazer? – Belle questionou depois de um tempo. – Da última vez que a gente fez comida... – ela murmurou ao que os outros caretearam em resposta. – Sirius? – ela chamou o moreno, que tinha espalhado o metade do tronco por cima da mesa e estendia molemente os braços.
-Hum...?
-Idéia? – ela inquiriu, parecendo contrariada.
-Eu ‘tou com fome, Belle. E quando eu ‘tou com fome...
-Ele não pensa em mais nada. – Remo completou o raciocínio, sorrindo fracamente. – Bem, eu tenho algo... Bombas de bosta.
-Bombas de bosta...? Bombas de bosta...?– Sirius se ergueu um pouco, soltando um leve bufo de raiva. – Eu não vou comer bombas de bosta, Remo! – Sirius completou ao que o “irmão” revirou os olhos e meneou a cabeça; os outros prenderam o riso.
-Não é pra comer, idiota! É pra gente jogar no corredor! – ele explicou lentamente.- Eles sentem o cheiro, saem do quarto e... – a feição do moreno ficou ainda mais carrancuda.
-E onde a gente acha bombas de bosta? –inquiriu num tom cético. – Acha mesmo que papai ou mamãe deixam em qualquer lugar...?
-É... Tem razão. – Remo falou num suspiro e todos novamente silenciaram.
-A gente podia tentar abrir a porta? – Lisa disse num meio sorriso.
-Você não disse para a gente que ela ‘tá trancada? – Remo falou, desconfiado. Sirius prendeu o riso.
-Eu sei, mas, sei lá, igual aqueles desenhos... – ela explicou, lançando um olhar feio para Sirius. – A gente chutava a porta e...
-... Quebrava a perna? – Sirius completou, zombeteiro. – Ótima idéia, maninha. – ele ironizou ao que os outros prenderam o riso.
-Dê uma idéia melhor, então, oh, gênio! – ela retorquiu, cruzando os braços.
-Não dá; eu ‘tô com fome!
-Deixa de mentira, Six, você só diz isso porque não ‘tá com idéia! – Marlene falou, rindo.
-Quando eu ‘tô com fome... É só a gente vê; idéia boa é só minha ou do Remo. Vocês não pensam nada! – Sirius disse, obtuso.
-A gente não pensa nada? – Marlene questionou, com uma sobrancelha arqueada. – Você e o Remo é que não deixa a gente dizer nada, Sirius!
-Claro, vocês só falam besteiras! – ele falou num meio sorriso. – Olha, e se a gente chutar a porta? – ele fez voz de falsete, fazendo Lisa ficar vermelha. Remo e Pedro prenderam o riso enquanto Sirius ria alto.
-Pelo menos eu dei uma idéia; diferente de você, que queria comer bombas de bosta. – a garotinha resmungou, terminando com um meio sorriso. As meninas prenderam o riso e Remo teve um estranho acesso de tosses; Pedro, por sua vez, tentou se manter sério.
-Não é legal idéia que não é boa... Você só fala besteira, Liz.
-Mas a gente pode bater na porta e gritar...? – Alice questionou num tom receoso, antes que Lisa retrucasse. Sirius revirou os olhos.
-Mais que coisa mais idiota... – ele disse num resmungo breve.
-Você é um cha-to, Sirius. – Lisa retorquiu num ar sisudo. – A gente só quer acordar o papai e a mamãe; a gente não quer destruir a casa. – ela se virou para Alice, que parecia igualmente aborrecida. – Legal, Lice! A gente não pensou nisso...
-Claro, meninas não pensam. – Sirius murmurou, soltando um fraco risinho. As garotas olharam feio para ele.
-Você é tão chato, Six! – Marlene falou num ar irritado. Sirius riu baixinho. Aparentemente, era uma pequena diversão para ele aborrecer às “irmãs”.
-Eu pensaria nisso primeiro que vocês, se não estivesse com fome. – ele falou, estufando o peito e sorrindo largamente. As meninas o olharam com um ar de impaciência e morosidade.
-Oh, sim... Comendo bombas de bosta? – Lisa questionou, rindo. As outras abafaram um risinho antes que todas elas levantassem e seguissem escada acima, tomando rumo ao quarto onde Lílian e Tiago estavam. Os garotos logo as seguiram, meio contrariados.
Não demorou muito para que as sete crianças se aglomerassem em frente à porta do quarto dos “pais”, mas era evidente que o motivo de todas olharem fixamente para a porta durante um longo período e se entreolharem constantemente era o pequenino pensamento que ocupavam suas mentes ao pressentirem uma iminente bronca por causa da futura quase travessura.
-A gente bate primeiro e grita, ou grita primeiro e bate? – Alice se manifestou, ligeiramente receosa.
-A gente já bateu na porta. – Belle lembrou num suspiro. – Acho que só grita.
-Papai e mamãe vão brigar com a gente se a gente só gritar. – Marlene falou, piscando demoradamente. – A gente bate e depois grita.
-Mas a gente já bateu antes! – Lisa discordou, indignada.
-Mas se a gente só gritar...
-Será que vocês podem parar de brigar? – Sirius protestou num tom baixo e sisudo.
-A gente não ‘tá brigando, Six! – Marlene disse calmamente. – A gente só está vendo se grita, bate, ou grita e bate.
Sirius respirou fundo.
-Será que vocês só sabem dizer isso? – o maroto-mirim disse, carrancudo.
-E você só sabe resmungar? – Alice falou, sorrindo de leve.
-E o que você está fazendo aqui? – Lisa questionou, irritada.
-Vendo a idéia de vocês. Não vai dar certo...
-A gente vai ver... – Marlene desafiou. – Então, o que a gente faz?
-Eu já estou cansado! Vamos gritar! – completou Sirius num tom mais entusiasmado.
-Ué, você mesmo não disse que isso era idéia idiota e não ia dar certo, Sirius? – Alice questionou, rindo baixinho.
- Eu... – o moreno começou, corando um pouco. – Eu não disse nada disso.
-Disse sim!
-Não disse!
-Disse sim!
-Não disse!
-Disse sim!
-N...
-Ah, parem de brigar! – Lisa protestou, impaciente. Os dois cruzaram os braços e deram língua para ela.
-A gente não ‘tá brigando! – protestou Alice, sisuda. – É o Sirius que não quer falar que não disse que a idéia que a gente teve era idiota.
-Eu não disse!A idéia da Alice é gritar e bater, a minha é gritar! A minha é mais legal que a sua!
-É tudo igual, Sirius! – Alice exclamou, indignada.
-Não é não!
-É...
-CHEGA! – Remo berrou, irritado. Alice e Sirius pararam de discutir, enquanto os outros trocavam olhares.
-O Remo gritou! – Pedro falou, alarmado. – A gente nem tinha dito que era para gritar...
-Eu só gritei porque vocês... Ah, porque vocês estavam irritando! – Remo explicou, meio corado.
-Não podia! – Pedro retorquiu, sisudo.
-Mas ele gritou e não deu certo. – Sirius disse num tom rouco e entendiado, colocando o ouvido na porta, a fim de escutar se havia algum indício de movimentação do outro lado. – Papai e mamãe não acordaram... – ele se afastou, meio frustrado. – Eu disse que era uma idéia boba!
-A idéia de gritar foi sua, Sirius. – Alice resmungou, lançando um olhar irritado para ele.
-Minha não, foi o Remo! Ele gritou ‘Chega’. – o moreno falou num ar pomposo. – Eu não gritei!
Alice bufou e revirou os olhos enquanto Marlene e Belle meneavam a cabeça, incapazes de dizer qualquer coisa. Lisa, por sua vez, corou furiosamente e estreitou os olhos para o “irmão”.
-Por Merlim, Six, como você pode ser tão obifuso! – a garotinha falou com certa birra.
-Eu... Quê? Eu não sou obifuso! – o moreno retrucou, carrancudo. Ele lançou um olhar significativo para Remo, como quem dizia implicitamente não saber o que raios era obifuso e queria saber se ele sabia. Remo apenas encolheu os ombros, intrigado; vendo que o “irmão” não sabia, Sirius empertigou o corpo e esboçou um ar superior. – E você fica dizendo que eu sou ob-não-sei-o-quê... Aposto que nem sabe o que é!
Ouviram-se risos prendidos quando Lisa esboçou um ar envergonhado.
-Ah, sei sim! Mamãe sempre fala que o papai é obifuso quando ela ‘tá com raiva dele. – a pequena disse, convicta. – Você é também, porque eu ‘tou com raiva de você.
Dessa vez, Remo foi o único que prendeu o riso.
-Não é obifuso! É obtuso! – o maroto-mirim explicou quando notou que era o centro das atenções. Lisa aparentou estar ainda mais envergonhada e Sirius gargalhou gostosamente.
-Ah, é tudo igual! – ela tentou emendar, meio rouca. – O Sirius é obtuso! – este parou de rir automaticamente.
-Não sou não... – Sirius retorquiu, ofendido.
-Obtuso! - a garota pirraçou, mostrando a língua para ele. O rosto o “irmão” ficou ligeiramente corado.
-Não sou não!
-Obtusoooo. – ela cantarolou, jubilante; os outros se entreolharam, entendiados. Sirius pareceu ainda mais aborrecido.
-Lisa!
-Ob... Ai! Você pisou no meu pé!
– Lisa protestou, ao que Sirius esboçou um largo e inocente sorriso.
-Desculpe. – ele disse num tom nada convincente. A “irmã” olhou feio para ele, ao que ele aumentou ainda mais o sorriso. – Ainda sou ob-sei-lá-o-quê?
-É! – Lisa ressaltou, teimosa. Sirius estreitou os olhos para ela e Remo bufou de raiva.
-Vocês vão começar com isso de novo?
-Claro que... – Lisa começou, mas parou quando sentiu uma nova pisada no seu pé. – Sirius, isso dói!
-Diga que eu não sou isso aí! – ele disse, irritado. – Ou eu vou te beliscar!
-Eu não disse nada! – Lisa resmungou em resposta.
-Mas ia dizer!
-Vai dizer que leu o que eu ‘tô pensando, é? Não pode saber o que eu ‘tô pensando!Você nem sabe fazer magia, bobo! – a garotinha protestou, sisuda.
-Você quer brigar, é? Eu não brigo com meninas!
-Porque sabe que vai perder! – Lisa comentou, com o rosto vermelho.
-Não, porque menina é fraca! – Sirius disse, cruzando os braços com certa pompa.
-O...
-CHEGA! – Remo berrou, uma segunda vez; Sirius e Lisa silenciaram, emburrados. O garoto de cabelos claros olhou automaticamente para Pedro, que se preparava para dizer algo, e prosseguiu. – Eu sei, Pedro, não precisa dizer. E, Sirius, fica quieto!
-Eu? Quieto? – Sirius urrou, lançando um olhar indignado e ofendido para o “irmão”. – Elas, Remo! Elas ficam pirraçando!
-A gente não!– Lisa retorquiu de imediato. – Você é que é...
-Não sou não!
-Querem parar! – dessa vez foi Belle quem gritou, impaciente. – A gente precisa acordar o papai e a mamãe!
-A idéia de vocês não deu certo. – Sirius falou rapidamente. – E agora, o que a gente faz? – ele olhou automaticamente para Remo, que esboçava um ar pensativo. Os olhares dos dois se encontraram por um breve instante e o maroto-mirim sorriu largamente.
-Tive uma idéia!

***

Lílian abriu os olhos preguiçosamente e reprimiu um bocejo. Piscou várias vezes para espantar o resquício de sono que a acometia e, quando a imagem captada pelos seus olhos entrou em foco, ela sentiu o rosto esquentar ao tomar consciência da face de Tiago Potter tão próxima a sua, que queimou ainda mais quando ela relembrou tudo o que ocorreu na noite anterior.
Num ímpeto, a ruiva se sentou na cama e arregalou os olhos, observando Tiago com profunda insegurança. O rapaz se remexeu um pouco, dando indícios de que estava despertando, e ela, instintivamente, prendeu a respiração.
-Lílian? – ele murmurou com a voz embolada de sono, cerrando um pouco os olhos na tentativa de enxergar melhor, soltando um breve gemido em seguida. – Ah, meu braço está dormente... – ele resmungou um pouco. – Você é pesada, Lils. – ele explicou antes de sorrir um pouco. – Então, hum... – ele estreitou ainda mais os olhos e soltou um breve muxoxo em seguida. – Bom dia, ruivinha. – completou, erguendo o tronco e movimentando de leve o braço que, instantes atrás, estava sob ela.
Lílian torceu um pouco as mãos, sentindo-se meio atrapalhada e completamente emvergonhada, antes de abrir a boca e fechá-la em seguida. Por fim, respirou fundo e se esforçou para responder.
-Ah... D-dia. – balbuciou, rouca, e silenciou. Tiago sorriu meio de lado e voltou a atenção para o seu braço, parecendo despreocupado.
-Então... Você dormiu bem?
-Sim. – Lílian respondeu num murmúrio.
-Está tudo bem contigo? – ele questionou, ainda a achar o braço, que já não estava mais dormente, muito interessante.
-‘Tá.
-E você perdeu a capacidade de me responder com algo mais que monossílabos...? – ele questionou, agora a observando de soslaio.
-Eu... – ela começou e se virou para ele, intrigada. Tiago esboçava uma feição meio risonha. – Ora essa! – ela resumiu num bufo de raiva. O moreno gargalhou gostosamente.
-Hum, tivemos um progresso: você disse duas palavras. – Tiago comentou ao que ela revirou os olhos. – Você ainda está envergonhada... Depois de tudo?
-Eu... – ela pigarreou antes de prosseguir. – É claro que não! Eu só...
-...Estou envergonhada, Ti. – ele completou num tom de falsete, numa tentativa de imitar a voz dela.
-Não... – ela falou, baixinho. – Eu só... – ela silenciou por alguns instantes. – Sabe, você aqui e eu... A gente... Então, então eu pensei que... Bem, imaginei... Casados. – ela completou num fio de voz, meio atrapalhada.
-Casados? – Tiago repetiu num sorriso homérico ao mesmo tempo em que buscava os seus óculos em cima da mesa de cabeceira. – Ora, eu pensei a mesma coisa... Então, sabe, eu cheguei à conclusão de que podemos nos casar um pouco depois da formatura... O que acha, Lily? – ele insinuou, voltando a encará-la com uma sobrancelha arqueada enquanto ajeitava os óculos.
-Tiago, nós já conversamos sobre isso... – ela o repreendeu, tentando se manter séria.
-Eu sei, mas vamos ter mais de um ano! E você sabe, Lils, você sabe que não vai conseguir viver longe de mim por muito mais tempo. – ele disse num sorriso maroto, passando a mão pelos cabelos.
-Consegui por seis anos, creio que posso esperar mais um pouco. – ela rebateu, falsamente sisuda.
-Mas nesses seis anos, eu sempre estava presente, de alguma forma. – ele comentou, risonho. – É claro que seus pensamentos não eram dos melhores a meu respeito, mas... Eu sei que, lá no fundo, você mal podia esperar pelo embarque de Hogwarts para rever o tirano e arrogante do Potter. E agora que você o tem, por livre e espontânea vontade, e sabe porque sempre mal podia esperar para vê-lo, para quê esperar mais? Eu sou destinado a você, Lily.
Lílian, automaticamente, revirou os olhos, apesar de estar com a face mais vermelha que seus rubros cabelos.
-Céus, eu não mereço isso...
-Se você não quisesse, inconscientemente, me ver, jamais teria aceitado vir para cá, a princípio. – Tiago comentou pomposamente, lançando um olhar vago para o teto.
-Você só diz isso porque não conhece a Petúnia. – ela resmungou em resposta.
-Isso significa dizer que, para você, eu não era tão ruim assim... – ele disse num sorrir meio de lado.
-O que você pretende que eu diga, afinal, Tiago Potter? – ela inquiriu, desconfiada.
-Simplesmente que você me ama desde a época em que eu descobri que amava você. – ele disse num encolher de ombros, lançando um olhar de esguelha para ela.
-Desde quando?
-Desde que eu te vi pela primeira vez... – ele começou, mas parou ao vê-la esboçar um ar incrédulo. – Certo, bem, na verdade foi quando eu descobri que olhava para você mais do que o necessário.
-E... – ela murmurou, incitando-o a continuar. Tiago coçou a nuca, confuso.
-Eu não sei ao certo... Quando dei por mim, já estava te chamando para ir à Hogsmeade comigo. Os marotos diziam sempre que eu estava gostando de você e não percebia, até que eu caí na real e... Bem, estou aqui. – ele disse e silenciou. Lily percebeu que ele esperava uma resposta e pigarreou novamente antes de responder.
-Ah, bem, eu... Também não sei. Talvez minha situação seja a mesma.
-Hum, então quer dizer que você ficava balanceada quando eu te chamava para sair ou quando eu te beijava, sem querer? – ele questionou, visivelmente interessado. Lílian estreitou os olhos e se levantou da cama, num ímpeto.
-Como eu vou saber? Eu estava, todas as vezes, com raiva demais para me dar conta de que estava a sentir ou não isso. – ela resmungou, tomando rumo ao guarda-roupa e evitando o olhar do maroto. Sua face estava evidentemente corada.
-Nenhuma vez? – o moreno insistiu num tom meio decepcionado. – É algo difícil de acreditar... – completou num ar meio malicioso.
-Você já está querendo saber demais, eu não quero que seu ego infle até a lua, Potter. – Lílian disse, revirando as roupas dentro do guarda-roupa. Tiago a observava atentamente, ainda sentado em cima da cama.
-Posso interpretar isso como um sim, Lílian Evans? – perguntou entre risonho e desconfiado.
-Como quiser. – ela disse, jogando uma peça de roupa para ele e uma toalha ao se virar bruscamente para ele. – Eu vou tomar um banho. E seu limite territorial é aquela porta ali. – ela falou, apontando para a porta falsa do guarda-roupa que dava acesso ao banheiro.
-O.k.; mas, bem, eu tenho uma pergunta... – ele olhou para as roupas na mão dela e depois as que estavam caídas sobre o seu colo. – Qual foi sua real intenção ao me dar uma roupa e uma toalha também, Lily? – completou num sorriso maroto.
Lílian corou furiosamente e, com os olhos estreitados, sentou-se ao lado dele na cama e o estudou fixamente.
-Você vai primeiro. É mais seguro. – ela murmurou mecanicamente. Tiago riu em resposta e selou os lábios ao dela de leve.
-Vou deixar a porta aberta; se quiser... – ele insinuou num tom rouco. Lílian enfiou a toalha dela no rosto dele e reprimiu um sorriso.
-Vai logo, seu pervertido de uma figa. – ela resmungou ao que Tiago tornou a rir enquanto se levantava e dirigia até o banheiro lentamente. Lílian meneou a cabeça quando percebeu que ele realmente havia deixado a porta entreaberta.

***

-Atchim! Atchim! Atchim!
-Quer controlar essa droga de espirro?
-Eu não tenho culpa se tenho alergia! Olha quanta poeira nesse negócio!
-Então, por que você não ficou lá fora, como da outra vez, espiando?
-Papai e mamãe estão dormindo. – ouviu-se um breve fungar. – Eles jamais imaginariam que a gente... a gente... A...A...A...Atchim! Atchim! – mais um novo fungar. – E também, eu queria ver o sótão!
-Já viu, não é? Agora... Cai fora! Seu espirro é irritante!
-Não mais do que você, irmãozinho.
-Ah, vocês dois, calem a boca! – uma terceira voz foi ouvida num tom repreensivo. Sirius e Lisa trocaram um olhar irritado antes de bufarem de raiva (quer dizer, Lisa bem que tentou, mas seu ato foi interrompido por um novo espirro).
O recinto era, resumidamente, grande, penumbroso, rústico e muito empoeirado. A única iluminação que tinham eram fachos de raios de sol que chegavam até eles através de algumas telhas transparentes do local. O espaço, em sua maioria, estava ocupado por baús, pilhas e pilhas de caixas, alguns objetos estranhos quebrados e móveis velhos, quase todos eles encoberto por panos amarelados pelo tempo. No canto oposto à entrada do sótão, de frente para os garotos, havia um velho e grande armário preto, que por algum motivo as garotas sempre achavam assustador. Pedro parecia compartilhar do mesmo pensamento que elas, mas em proporções muito maiores.
-Aqui tem fantasma? – o pequeno perguntou, olhando para os lados, assustado.
-‘Tá cheio deles, é melhor você... – Sirius se pronunciou de imediato, observando o “irmão” com um sorriso divertido. – Cuidado, tem um atrás de você! – ele berrou num tom falsamente assustado. Pedro soltou um grito muito parecido com um guincho e se abraçou a Marlene, escondendo o rosto. O moreno gargalhou gostosamente.
-SIRIUS! – as garotas o repreenderam, irritadas. Houve um pequeno ruído de algo se chocando contra alguma coisa, mas isso passou despercebido por todos.
-Ah, ele é um medroso! – o garoto protestou, como quem não se importa. As garotas olharam feio para ele e depois tentaram acalmar um mais do que assustado Pedro. – Remo, você acha mesmo que vai ter escada aqui?
-Não sei, pode ter. A gente procura.
-E se a gente não achar, Remo? – Sirius questionou, entediado, enquanto começava a retirar os panos de cima das coisas de forma descuidada (mais precisamente, os jogando para cima e espalhando ainda mais poeira ao seu redor); a crise de espirros de Lisa ficou ainda mais forte.
-VOCÊ QUER... – a garota de cabelos castanhos começou, mas foi interrompida por seguidos espirros. Sirius observou a “irmã” e esboçou um ar inocente.
-Ah, desculpe, Lisa. Quer um abraço de desculpas? – ele estendeu os braços, sorrindo largamente. O pijama escuro que usava estava salpicado de pontinhos brancos; até mesmo o seu cabelo estava cheio de poeira.
-Sai de perto de mim! – a garota berrou, horrorizada, e Sirius gargalhou gostosamente, parando ao ouvir um grande estrondo.
-O armário mexeu! – Pedro disse num guincho, tornando a se esconder, dessa vez atrás de Alice, que era uma das mais próximas da entrada do sótão. – Será que é um... Um bicho-papão? Ele vai pegar a gente e... – a voz morreu na garganta do garoto, quando o móvel tremeu mais uma vez. Sirius, que estava a poucos passos dele fixou os olhos azuis no armário, meio fascinado.
-Não é nada disso, Pedro, deve só ter um bicho qualquer aí. – Alice falou, tentando acalmar o garoto, que tremia.
-Pode ser diabretes ou fadas mordentes? – Marlene falou, observando as “irmãs”, meio assustada.
-Eu quero sair... – Pedro murmurou num choramingo, se abraçando a Lisa agora, que espirrou mais uma vez.
-Mas e se for mesmo um bicho-papão? – Belle insistiu, lançando um olhar estranho para o armário, que se balançava cada vez mais.
Remo colocou um livro velho de volta no baú e ergueu o olhar para observar as “irmãs” de forma intrigada.
-Do que vocês estão falando? – perguntou, confuso.
-Tem alguma coisa no armário. – Belle quem respondeu, se voltando para Remo. – A gente acha que é um bicho-papão.
-Mas pode não ser um bicho-papão. – Lisa comentou, fungando levemente.
-Ah, então é só a gente não abrir o armário que ele não sai de... – ele começou, virando o rosto na direção do armário, mas seus olhos se arregalaram quando viu o que o “irmão” estava prestes a fazer. – Sirius, não! – ele berrou, rouco.
Tarde demais. Remo, que havia se erguido de súbito e correu para tentar impedir o irmão, parou abruptamente quando um vulto pulou de dentro do armário e começou a tomar a forma de uma pessoa caída no chão.
-Não olhem! – Remo gritou de imediato, para as garotas, ao que elas, invariavelmente, não obedeceram. Elas gritaram e soluçaram quando reconheceram a figura do “pai”, de olhos fechados, expressão lívida e com a roupa ensanguentada.
-Papai! – elas berraram ao mesmo tempo, fazendo menção de se aproximarem, mas foram logo impedidas por Remo, que havia se postado na frente delas com os braços estendidos.
-Isso é só um bicho-papão! O que a gente ‘tá vendo não é verdade! – o garoto de cabelos claros gritou, observando-as com o rosto pálido.
As garotas começaram a falar ao mesmo tempo, num tom evidentemente embargado.
-É só um bicho-papão! – Remo insistiu num grito rouco. – Papai está lá embaixo, dormindo ao lado da mamãe! – ele ressaltou, ao que as meninas se calaram, apesar de ainda estarem assustadas. Pedro, a essa altura, escondia o rosto junto a Lisa e chorava baixinho. Respirando fundo, o pequeno se voltou para Sirius, que observava a cena de olhos arregalados, pasmo e inerte, se aproximando cada vez mais do corpo estendido de Tiago, balbuciando algo lentamente.
Remo correu até Sirius e o segurou firmemente pelo braço. O maroto-mirim pareceu despertar de um transe e olhou confuso para o “irmão”, que agora havia fixado os olhos no corpo do “pai”. Estendido no chão, o bicho-papão-Tiago abriu os olhos amarelados e encarou Remo fixamente segundos antes de tomar a forma de um enorme lobisomem.
O garoto de cabelos claros tremeu ao mesmo tempo em que Sirius exclamava um sonoro “Uau, um lobisomem!”. Puxando o “irmão” pelo braço, mas ainda incapaz de desviar os olhos daqueles amarelados e pastosos, Remo começou a se afastar lentamente do lobisomem com Sirius enquanto o mesmo se aproximava deles de modo sorrateiro.As costas de ambos bateram em Belle e Marlene, ao que Remo arfou, ainda mais pálido, quando o animal mostrou os dentes grandes e afiados.
-Corram! – ele berrou ao que todos se viraram e começaram a correr, desesperados, em direção à entrada do sótão.
A única coisa que eles não esperavam que acontecesse, fosse que o bicho-papão-lobisomem corresse atrás deles.

***

Lílian deitou as costas na cama, observando o teto de modo distraído, ainda tentando assimilar tudo o que havia ocorrido durante aquela última semana. Se alguém lhe dissesse que a sua vida tomaria o rumo que havia tomado, ela, no mínimo, julgaria que aquela pessoa não tinha discernimento algum. Ela riu baixinho ante o pensamento, imersa em seu próprio mundo, e engasgou de leve quando algo pesado e úmido desabou sobre sua barriga.
-Pensando em mim? – a voz ligeiramente grave de Tiago soou num gracejo, próxima a si. A ruiva piscou duas vezes antes de erguer o tronco, apoiar-se nos cotovelos, e encontrar o rapaz, a sua frente, já vestido, a esboçar uma feição divertida para ela.
-O que raios você fez? Jogou a toalha debaixo do chuveiro e deixou lá? – Lílian insinou, retirando a peça de cima do seu colo e se sentando calmamente.
-Achei que você não gostasse de toalha sobre a cama, então, a joguei em cima de você. Também queria chamar a sua atenção e só pensei nisso para consegui-la, já que você parecia estar em outro mundo... – Tiago comentou, pensativo. Ela apenas fingiu revirar os olhos e jogou a toalha de volta para ele; mesmo com Lily errando feio na mira, o moreno inclinou-se para o lado e a segurou firmemente em sua mão, rindo. – Então, vai ser mesmo assim? Eu vou ter que ficar aqui, sem fazer nada? Eu não me importaria de tomar um novo banho. – Lílian não disse nada, apenas lhe lançou um olhar meio fulminante. Tiago tornou a rir baixinho. – ‘Tá bom, Lils, eu só fiz comentar...
-Eu tenho a ligeira impressão de que você não fala essas coisas só por brincadeira. – ela supôs numa sobrancelha arqueada enquanto se levantava da cama e o moreno, automaticamente, esboçou um ar tipicamente maroto.
-Acho melhor eu não responder... – ele disse pondo as mãos no bolso de trás da calça que usava, sorrindo meio de lado para Lily, que estava a uma curta distância de si, a sua frente. A ruiva corou com o olhar que ele lhe lançou.
-Sabe, confesso que às vezes você me dá medo... – ela brincou, fazendo um olhar falsamente assustado.
-Você já sabe a minha resposta. – ele sorriu e deu um passo para trás, abrindo espaço para ela passar. – Se você confia em mim, Lílian, pode deixar a porta aberta que eu não vou fazer nada. – ela arqueou a sobrancelha. – Muito menos espiar... – ele respirou fundo, demonstrando certo pesar. – Apesar de ter vontade.

***

As sete crianças evitaram falar enquanto corriam do lobisomem que os perseguia. Remo, na retaguarda, podia entreouvir a respiração dos “irmãos” tão rápidas quanto a sua. O garoto de cabelos castanhos sentia a garganta seca e comprimida, além de ter a impressão de que o coração estava prestes a sair pela boca de tão rápido que batia. Suas pernas estavam pesadas como chumbo, mas ele se esforçava a mantê-las em movimento.
Remo não sabia ao certo a razão do fato, mas, a cada vez que ele espiava o bicho-papão-lobisomem por trás dos ombros, ele parecia estar ainda mais ágil do que antes. Também ficava, a cada minuto que passava, cada vez maior e mais assustador.
-Por aqui! – a voz de Sirius chegou até ele num tom distante. Como os “irmãos”, o pequeno saltou os cinco últimos degraus e derrapou sobre o piso antes de volver para a direção da cozinha.
O garoto parou no vão da porta, ofegante. Olhou para trás uma última vez e viu o bicho-papão-lobisomem, parado, no meio da escada, aspirando o ar ao seu redor. Engolindo em seco, ele voltou o olhar para os “irmãos”, que agora se armavam de vários utensílios domésticos, como panelas, colheres de pau, garrafas de água, geléia e manteiga.
-Mas o qu... – Remo começou, passando o olhar por todos, meio confuso, quando lhe passaram uma colher de pau e uma tampa de panela.
-Vamos enfrentar o bicho! – Sirius o interrompeu, enfiando uma panela na cabeça do “irmão”, como se fosse um capacete.
-Mas...Quê? V-você ficou louco! Isso é um...
-É só um bicho-papão, Remo! – Sirius falou num tom evidentemente excitado. O “irmão” o encarou como se não o conhecesse. – Você mesmo não disse isso?
-Mas... Se vocês avançarem nele, ele toma outra forma! – Remo disse numa voz sensata, não entendendo muito bem porque Belle lhe passara um caldeirão.
-É por isso que a gente vai ficar na retaguarda! – Sirius disse segurando os ombros do “irmão” com força e girando-o para o outro lado. Remo empalideceu consideravelmente ao ver o que bicho-papão-lobisomem estava a poucos passos de si. – Afinal, o medo é seu e é você quem vai enfrentar o bicho!
-M-m-mas se e-ele me morder...? – balbuciou num fio de voz; os olhos amarelados e vis do animal estavam fixos em si. – A g-g-gente não sabe se...
-Aí, antes que ele te morda, o Esquadrão Black entra em ação!
-Esquadrão... – ele começou, mas, antes mesmo que pudesse terminar, sentiu o “irmão” empurrá-lo com vontade. Remo tropeçou nos próprios pés e desequilibrou, quase dando de frente com o chão. Com alguns passos incertos, ele retomou o equilíbrio e inspirou profundamente.
O pequeno fitou o chão por um breve instante. É só um bicho-papão... É só um bicho-papão..., ele pôs-se a repetir para si mesmo, como se fosse um mantra. Aspirando com força, ele ergueu os olhos; um lapso de determinação perpassou a feição de Remo quando ele empunhou a colher de pau e segurou a tampa da panela e o caldeirão com força. Engolindo em seco, o pequeno olhou bem fundo nos orbes do lobisomem e piscou demoradamente.
-Eu não tenho medo de você! – ele exclamou num fio de voz, apesar de determinado, segurando suas “armas” com uma firmeza maior. O bicho-papão-lobisomem parou por um breve segundo e rosnou em seguida para ele. Remo, instintivamente, deu um passo para trás.
-Bate nele, Remo! – ele ouviu Sirius gritar para ele e prendeu a respiração. Meio desajeitado, o pequeno girou o caldeirão e jogou contra o bicho-papão-lobisomem, que o amparou sem muitos problemas.
Houve um ruído forte, que Remo não soube ao certo o que era. Em seguida, lobisomem soltou um longo rosnado e o pequeno acabou por tropeçar, caindo de costas no chão. Um pequeno gemido escapou dos seus lábios, mas a dor foi devidamente esquecida quando viu o lobisomem avançar lentamente contra ele. Remo começou a rastejar para trás, desesperado, sentindo o hálito quente do lobisomem sobre o seu rosto. Suas costas se chocaram contra uma superfície sólida e, olhando para trás, ele viu que a mesa da cozinha estava barrando a passagem.
As vozes dos “irmãos” estavam muito longe agora, mas os leves impactos do móvel contra si indicavam que eles estavam batendo no objeto, tentando ir em seu socorro. Remo encolheu involuntariamente quando viu a criatura tão de perto. O pequenino comprimiu os olhos e esperou o ataque... Que não veio.
Numa mistura de alívio e confusão, Remo abriu um dos olhos e viu o bicho-papão-lobisomem se virar para observar algo atrás de si. Contente, o pequeno arfou quando reconheceu os cabelos escuros e arrepiados do pai, que apontava a varinha para o bicho-papão com um sorriso divertido no rosto.
-Papai! – ele berrou, rouco, passando, agora, a ouvir as vozes dos “irmãos” do outro lado da mesa. Em meio à confusão de vozes, ele reconheceu o “Droga de mesa...” dito por Sirius.
-Então, o que você tem para mim, seu miserável? – ele ouviu Tiago questionar num ar furioso e, quase que automaticamente, o lobisomem deu lugar a uma estranha imagem verde e cintilante de uma caveira com uma cobra saindo de dentro da boca. Remo não entendeu realmente a razão do medo do pai por aquela estranha figura, mas não gostou muito do arrepio que percorreu sua espinha ao observá-la.
Tiago a fitou, sisudo e meio pálido, antes de estreitar os olhos e crispar a mão sobre o punho da varinha.
-Riddikulus! – ele apontou para a marca de Voldemort e a cobra que saia de dentro do crânio, de súbito, explodiu em vários pontinhos cintilantes e, no lugar dela, começou a sair palavras que certamente Lílian censuraria, se estivesse ali para lê-las. Um breve sorriso transpassou a sua face e ele aproximou ainda mais do bicho-papão, que começava a formar a Marca Negra novamente. – Riddikulus! – ele murmurou uma segunda vez, e fê-la adquirir olhos, que seguiam a cobra (agora bem menos assustadora) com certa curiosidade. A cobra verde pareceu sorrir e abriu uma boca enorme, cheia de dentes, e engoliu a caveira (que esboçou um ar comicamente assustado) e depois arrotou, satisfeita. Remo arqueou a sobrancelha, entre confuso e divertido. Tiago trocou um olhar com ele por um breve instantes antes de voltar para a figura novamente. – Riddikulus! – ele disse uma terceira vez e a cobra cintilante permaneceu quieta. Num brusco floreio, Tiago estreitou os olhos e fez o bicho-papão voar até um pequeno báu e trancou-o lá, fechando a tampa com um baque surdo.
O objeto tremeu consideravelmente sobre o chão e Remo desviou o olhar dele, suspirando aliviado. Logo depois, sentiu-se sufocado por um abraço do pai e, sem ao menos se conter, deixou escapar um longo soluço e abraçou-se mais a ele, permitindo-se extravasar todo o medo que até o momento ocultara dentro de si.
-Papai, eu tive tanto medo... Era só um bicho-papão, mas...
-Eu sei, Remo, eu sei...

***

Quando Lily saiu do banheiro, já vestida, estranhou o fato de Tiago não estar ali, a esperá-la. Ela franziu o cenho, confusa. Dando uma olhadela no recinto, notou que os caldeirão e os frascos com o antídoto que fizeram na noite anterior não estavam sobre a escrivaninha. Deduzindo o óbvio, a ruiva julgou que o maroto já deveria estar lá em baixo.
Ela saiu do quarto calmamente. O corredor estava em profundo silêncio, fazendo-a ter a impressão de que as crianças estavam dormindo. Sorrindo, Lílian finalmente entendeu o que a mãe sempre queria dizer com “as crianças é que dão vida a uma casa”; e ficou ainda mais surpresa ao sentir falta de ouvir Sirius implicando com os “irmãos”, ou eles rindo e gritando por causa de uma brincadeira ou travessura...
-Acho melhor eu parar de pensar nisso. – ela murmurou para si mesma, meneando a cabeça enquanto avançava pelo corredor. Quando viu que as portas dos outros quartos estavam abertas e nenhum dos seus “filhos” estavam lá dentro, Lílian esboçou um ar desconfiado e julgou que eles deveriam estar, escondidos, a tramar alguma coisa. Apressando o passo, a ruiva só passou a ouvir o primeiro sinal de vida dentro daquela casa quando chegou às escadas.
-Então, eu bati na cabeça dele e ele saiu correndo de medo...! – ela entreouviu a voz animada de Sirius dizer com certo orgulho.
-Deixa de ser mentiroso, Six! Você não tinha medo dele! – a voz indignada de Lisa se sobrepôs a de Sirius. – Quem enfrentou o bicho foi o Remo!
-Ora essa, mentirosa é você! Eu enfrentei ele! Eu passei a ter! Ele era grande, peludo e assustador! Eu nunca tinha visto um antes e fiquei com medo sim! – Sirius retorquiu com classe, ao que risos foram ouvidos em seguida devido a um comentário de Alice (“Só assim para ele dizer que tem medo de alguma coisa...”). Lílian também riu um pouco, meneando a cabeça de leve.
A discussão entre os “irmãos” prosseguiu, mas Lílian teve sua atenção desviada por um baú que tremia enfurecidamente. Intrigada, a ruiva tirou a varinha do bolso e se aproximou do objeto sorrateiramente...
-Não abra, Lílian, tem um bicho-papão aí dentro. – a voz de Tiago atraiu a sua atenção, fazendo-a pular de susto.
-Potter! – ela o repreendeu, ofegante. Tiago, que a espiava pelo vão da porta, sorriu serenamente para ela. Outras sete cabeças também apareceram junto a Tiago e gritaram um sonoro e animado “Mamãe!”. Lílian sorriu para eles e voltou a atenção para Tiago, enquanto se aproximava. – Mas...
-Já tivemos problemas demais por causa desse bichinho. – o maroto falou num leve tom irônico, fazendo menção de beijar-lhe os lábios quando notou que ela estava perto de si.
-Como...? – Lílian murmurou, confusa, e Tiago parou abruptamente, afastando-se quando percebeu aquele olhar na ruiva.
-O Esquadrão Black enfrentou o bicho-papão sozinho, mamãe! – Sirius estufou o peito, animado, quando notou que tinha o olhar de Lílian sobre si. Só então ela reparou que todos, inclusive o próprio Sirius, usavam panelas na cabela e seguravam uma colher de pau. A ruiva arregalou os olhos, desesperada.
-Vocês... Oh, meu Deus, vocês estão bem? – ela questionou num tom rouco, puxando um a um para perto de si, verificando se não havia nada fora do lugar. Tiago, instintivamente, segurou Remo firmemente pelo ombro, enquanto o mesmo se mantinha abraçado a ele, ainda um pouco pálido.
-Eu já dei chocolate a eles, Lílian. Estão melhores agora... – Tiago explicou num ar pensativo quando o olhar raio-x da ruiva passava por Marlene.
-Mas é claro que não estão! – ela retorquiu, vermelha, puxando Belle para perto dela. – Olha só para eles, Potter! Estão com fome; estão assustados e... Céus, por que vocês não chamaram a mim ou a seu pai? – ela ergueu-se do chão, mirando Remo com uma atenção especial. Tiago firmou ainda mais Remo junto a si, e Lílian pareceu desistir de examinar o pequeno.
-A gente tentou! A gente gritou e bateu na porta! – Pedro falou num leve fungar. Tiago pareceu muito envergonhado com o comentário e Lílian prestes a entrar em um colapso nervoso.
-Mas isso não foi na hora do bicho-papão! – Sirius falou, como se fosse uma ofensa para ele gritar e bater na porta dos pais, desesperados, só por causa de um bichinho daqueles. – A gente bateu antes porque a gente ‘tava com fome. Aí, como a idéia não deu certo, a gente subiu no sótão para pegar uma escada e subir pela varanda. – o maroto-mirim falou num tom de evidente orgulho.
-E daria certo, acho, se o idiota do Sirius não abrisse a porta do armário em que o bicho-papão ‘tava dentro... – Lisa retorquiu num grunhido. – A gente só tinha que descobrir onde ‘tava a escada...
-Mas foi sem querer! – Sirius emendou, vermelho de vergonha. – E nem foi tão ruim...
-Não foi ruim? Não foi ruim?– Marlene questionou, enfurecida. – Você ficou tremendo quando viu papai no chão, achando que ele tinha morrido! Se o Remo não tivesse te ajudado e o bicho virasse lobisomem, você ainda ‘tava lá!
-Aí você teve a idéia boba da gente brigar com aquele bicho... E colocou o Remo na frente! – Belle prosseguiu num murmúrio. – Depois a mesa voou e... – ela pigarreou um pouco. – Se papai não chega, ele ia morder o Remo e... E...
Houve silêncio e, num ímpeto, Lílian – não se sabe como – envolveu os seis pequenos em seus braços e esboçou um ar orgulhoso.
-Vocês foram tão corajosos... – ela murmurou num tom rouco; Tiago sorriu meio de lado e mirou Remo de esguelha.
-Prepare-se, você é o próximo... – ele comentou num ar divertido antes de bagunçar os cabelos do “filho” calmamente. – Eu estou orgulhoso de você, filho. – ele completou num tom gentil e Remo esboçou um tímido sorriso antes de ser puxado para se juntar ao enorme e maternal abraço de Lílian.

***

Tiago tentava não rir ao ver a feição estranha que Lílian esboçava – uma mistura de culpa, orgulho, alegria e preocupação – todas as vezes que olhava para os “filhos”; e tinha que se controlar ainda mais para não gargalhar com os olhares fulminantes que ela lhe lançava desde que descobrira que ele tinha posto um feitiço silenciador no quarto deles. Entretanto, o que ele não podia negar para si mesmo era que Lílian Evans ficava tentadoramente linda quando o olhava de forma irritada, com o rosto completamente rubro e os cabelos meio desgrenhados; e que ele estava adorando tudo isso.
Agora, sentado à mesa para apreciar o almoço – visto que já passara da hora do café-da-manhã e, horas antes, ele havia empanturrado os “filhos” de chocolate (aliás, Lílian ficara com raiva disso também...) –, Tiago pensava que iria sentir falta de tudo aquilo. Ele sufocou um riso quando passou pela sua mente que, quando os amigos voltassem ao normal, ele poderia começar a tratá-los como se fosse seus filhos crescidos. Talvez isso seja uma boa forma de aborrecer Sirius...
Num meio sorriso, ele dispersou dos seus pensamentos e observou Lílian sentada do outro lado da mesa de cabeceira, ajudando Pedro a almoçar sem se sujar, perguntando-se se seria ruim ele e Lílian terem uma família tão grande assim... E quais razões levaram seus pais a terem um só filho, já que a mesa assim, tão cheia, lhe gerava uma atmosfera tão grande e acolhedora...
-É meu!
-Não, eu vi primeiro!
-Você já comeu a sua! Essa porção é minha...
-Você também!
-É, mas não tem dono... E ‘tá gostoso!

Isso, se eles não se comportassem como um bando de leões, brigando pelo último pedaço de carne. Tiago revirou os olhos, ao observar Sirius, Marlene e Alice brigando pela última porção de pudim largada em cima da mesa– que lhe gerava uma vaga idéia de que era dele. A tigela girava enfurecida na mão dos três, que estavam em pé, ao lado da mesa, e o maroto respirou fundo.
-Comportem-se, crianças! – ele exclamou num tom repreensivo, ao mesmo tempo em que Lílian, do outro lado da mesa, fazia o mesmo. Os três pequenos pularam de susto e, num gesto reflexivo, soltaram a tigela, que veio ter o seu triste fim no chão.
-Lá se vai minha sobremesa... – Tiago gemeu, baixinho.
-Viu, eu disse que era do papai! – Sirius emendou num ar firme. – Vocês não me ouviram!
-Mas você foi o primeiro a pegar, Sirius! – Lisa intercedeu em favor das “irmãs”. – Como você tentou impedir a Lene e a Lice de pegar o pudim?
-Isso não muda nada, as garotas também queriam. – Remo comentou, sisudo. – E eu ouvi o Sirius falando que era do papai.
-Claro que ouviu, você sempre fica do lado do Sirius! – Belle entrou na discussão, olhando feio para Remo.
-E vocês, meninas, sempre ficam do lado das meninas! – Sirius resmungou, sisudo.
-Vocês também fazem isso!
-É, mas vocês são quatro, e a gente é dois! Tem o Pedro também, mas...
Todos começaram a falar ao mesmo tempo, ao que Tiago trocou um olhar cansado com Lílian, que sorriu timidamente para ele.
É, pensando bem, um só já está de bom tamanho... Talvez dois, mas... Jamais sete.
-Silêncio, crianças! Sentem-se agora! – ele ouviu Lílian repreendê-los, ao que eles abaixaram o tom de voz para leves resmungos e voltaram a se sentar à mesa. – O que foi que eu disse? – ela insistiu e todos silenciaram enquanto a ruiva tirava a varinha do bolso e limpava a bagunça.
O moreno continuou a observar Lílian em silêncio e, num ar satisfeito, notou que o copo de suco que a ruiva tomara estava vazio, assim como o dele.

***

Remo, Lisa e Belle eram os únicos que ainda apreciavam o pudim de morango feito pela “mãe” e recebiam os olhares invejosos dos outros três, após a pequena discussão que tiveram. Os sei pequenos travavam uma briga muda entre si, que ficava mais evidente quando Sirius deitava a Lisa um olhar irritado quando ela o provocava ao saborear o pudim de uma forma mais lenta do que o necessário; ou quando Marlene e Alice cochichavam entre si e lançava olhares significativos para Pedro, que acabara de receber da mãe a porção guardada para ele.
Porém, não era quando Sirius se revesava entre olhar irritado para Lisa e cobiçosamente para seu resto de pudim que preocupava Remo. O que afligia o pequeno de cabelos claros era buscar um momento ideal para pôr para fora o que lhe afligia desde quando ele acordara. E o momento ideal, para ele, era quando os outros fossem embora e deixassem os pais tirando a mesa... O que não demorou muito a acontecer.
Entre satisfeitos e insatisfeitos (as conspirações cessaram novamente ante um olhar de censura da Lílian), os pequenos foram saindo, um a um. Remos enrolou um pouco mais, raspando o fundo do seu pote de forma desnecessária, ao mesmo tempo em que tentava controlar a sua respiração descompassada e as batidas rápidas do seu coração. Pelo canto dos olhos, observou os “irmãos” sumirem pelo vão da porta, mas sentiu uma onda de frustração quando notou que Sirius havia parado e o mirou com uma feição séria e irritada.
-Você não vem, ou vai comer o pote também? – ele questionou num ar carregado. Suspirando, Remo presumiu que o “irmão” sabia perfeitamente o que ele estava pensando.
-Pode ir, Sirius, eu já estou indo. – ele resmungou, ainda mexendo com a colher no fundo do pote. Sirius, no entanto, se aproximou dele e tomou um lugar ao seu lado.
-Ah, qual é, Remo! Você não vai perguntar para eles daquele seu sonho, vai? – Sirius protestou num sussuro. Corando furiosamente, o pequeno assentiu.
-Eu estou preocupado, Sirius. Será que eu vou virar lobisomem na lua cheia? – ele questionou, muito rápido e baixo, empalidecendo consideravelmente. – Eles podem saber...
-Foi só um sonho, Remo!E o bicho-papão nem te mordeu nem nada! Você não vai ficar grande, peludo e vai rosnar para todo mundo na lua cheia ó por causa de um sonho idiota!
-Lobisomem não é cachorro, Sirius! – ele resmungou, ainda a brincar com o pote vazio. – E não foi sonho idiota!
-Foi sim! E ele é um cachorro grande! Você viu! – o pequeno disse sem nenhuma convicção. – E qual é o problema de virar um cachorro grande?
-Não é cachorro grande; cachorro grande não morde gente daquele jeito, nem faz a gente sentir muita dor, nem parece gostar de fazer a gente sentir dor e morder mais e mais, nem faz a gente virar cachorro grande também. – Remo falou num tom sisudo, utilizando um tom mais infantil do que o necessário. – Lobisomens são assim, Sirius. Ele podia ter me matado, sabia? Mas ele parecia não querer me matar, parecia que ele queria que eu ficasse como lobisomem também...
-Remo, foi só um sonho! – Sirius insistiu, irritado.
-Não foi sonho, Sirius! Ele me mordeu sim! – Remo retorquiu num tom alteado, surpreendendo a si mesmo devido à convicção que tinha em suas palavras. O pequeno corou furiosamente ao perceber que atraíra a atenção dos pais para si, mas estava tão nervoso que não conseguiu parar de falar. – Eu percebi... Eu tenho a marca... A marca das mordidas... E também tenho mais marcas... Foi sonho... Foi sonho, mas é... É tão... Tão real que...
-Que você pensou que ia virar um? – o pequeno Sirius o interrompeu, lançando um olhar significativo para os pais antes de revirar os olhos. – Francamente, você é muito bobo, Remo!
-Mas... E as... – ele começou, balbuciante, mas parou ao sentir Lílian afagar-lhe os cabelos com carinho. O maroto-mirim sentiu os olhos arderem e ergueu o olhar para mirar a mãe, que lhe lançou um tênue sorriso. – Mamãe, será que eu vou virar lobisomem na lua cheia? – ele murmurmou, tremendo um pouco, ao que Lílian acariciou seus cabelos com uma ternura ainda maior.
-É claro que não, querido. As suas cicatrizes foram ocasionadas por uma queda que você tomou, quando era muito pequenininho... – ele a ouviu dizer numa voz meio estranha. O pequeno desceu o olhar e percebeu que Sirius o mirava, de braços cruzados, com uma expressão irritada.
-‘Tá vendo? Você preocupou a mamãe! Satisfeito? – Sirius o repreendeu, carrancudo, antes de pular da cadeira para o chão. – Vamos brincar, para ver se você esquece essa idéia idiota!
Remo sentiu Sirius segurar o seu braço e começar a puxá-lo da cadeira. Seu olhar automaticamente procurou o pai no recinto, enquanto era arrastado para fora da cozinha, e o pequeno piscou de modo surpreso ao não notar que ele esboçava um ar que, para ele, era indecifrável. Remo nunca vira o “pai” tão sério antes; ele corou furiosamente. Passado o temor, ele se sentia um estúpido por ter pensado em tamanha insanidade e ter preocupado seus pais e irmão à toa...

***

Quando os dois pequenos sumiu de vista, Lílian respirou fundo e enxugou o canto dos olhos antes de se voltar para Tiago. A ruiva se surpreendeu ao ver que o maroto estava atrás de si e ainda mais quando ele a envolveu em um abraço forte e descansou o queixo num seus ombros.
-Você está bem? – ela ouviu-o perguntar numa voz comprimida e, se não fosse a situação, teria rido baixinho.
-Eu pergunto-lhe o mesmo. – Lílian respondeu de volta, num tom gentil, retribuindo o abraço que ele lhe dava.
-Eu estou bem, só um pouco sensível demais... – ele falou, tentando soar divertido, mas não conseguiu seu intento. Houve um curto silêncio antes que ele prosseguisse. – Deve ter sido difícil para ele... Para a família dele. Eu vi e senti o medo dele, Lílian. Eu sabia perfeitamente o que era ser um lobisomem, mas confesso que eu nunca, em todos esses anos, cheguei a imaginar o quanto deve ter sido doloroso para ele carregar essa maldição. Também imagino agora o quanto foi difícil para os seus pais contarem sobre isso para ele e ajudá-lo a aceitar o fato e não se deixar abater por conta disso, quando, na verdade, eles estavam arrasados por dentro e tentavam não demonstrar isso para o Aluado. – ele respirou fundo e se afastou dela; Lílian notou que ele estava um pouco mais calmo agora. – Queria que, pelo menos essa parte, não passasse de um sonho mesmo. Remo não merecia...
-Eu sei.; eu sei. – Lílian disse e, esboçando um ar gentil, acariciou o rosto dele e selou ao seus lábios aos dele de forma delicada. Afastou-se com um tênue sorriso e segurou as mãos do rapaz firmemente. – Agora, vamos manter esses sete ocupados até que eles sintam sono para que a poção finalmente possa agir. – ela completou num ar mais animado.
-Espera um pouco... – Tiago disse, puxando-a de volta quando ela tentou se afastar, e sorriu de forma marota. – Falta isso. – ele completou, beijando-a de forma lenta e apaixonada.

***

O casal e os seus “filhos” passaram boa parte da tarde brincando com jogos de tabuleiro. Ante a presença dos pais, Sirius, aparentemente, desistia de tentar roubar e preferia ganhar devido a seus próprios esforços. Isso ocasionou muitos gracejos dos outros “irmãos”, que já estavam acostumados com os blefes do maroto-mirim. Lílian ficava impressionada com o fato de Tiago sempre vencer a maioria das vezes; ela chegou a pensar que ele não estava jogando limpo, mas, depois de um tempo a observá-lo atentamente, teve que admitir que o rapaz era muito bom nesses jogos (o que explicava o fato de Sirius gostar tanto de roubar quando jogava com os outros, e se empenhar tanto em ganhar de forma limpa quando estava com Tiago. Lílian perguntou-se mentalmente se, quando mais velho, Sirius agia da mesma maneira... E pensou em comentar isso com Tiago depois).
Os primeiros indícios de sono dos pequenos apareceu pelo meio da tarde; Lílian e Tiago logo decidiram levá-los até os seus s quartos, para que fossem dormir. Eles subiram em meio a protestos e a ruiva julgou que ela e Tiago teriam um trabalho ainda maior quando chegassem no andar de cima, mas a visão das suas respectivas camas fez com que os pequenos pararem de reclamar e caminharem até elas como um andarilho, no meio do deserto, ao deparar-se com um oásis.
Satisfeitos, os dois desceram juntos para o andar de baixo e se depararam com uma enorme coruja empoleirada numa das cadeiras da mini-biblioteca, olhando fixamente para eles. Meio geniosa, a coruja apenas levantou a pata para que algum deles pegasse a correspondência pregada a ela. Tiago lançou um olhar divertido a Lílian e sorriu marotamente.
-Deve ser meus pais... – ele falou, pegando a carta em mãos e, após analisá-la calmamente, abriu-a sem muito interesse. – Aliás, é minha mãe. – ele murmurou ao ler as primeiras linhas, mirando Lílian num sorriso. A ruiva ia perguntar se podia ler também, mas, ao notar que Tiago aproximou-se dela e colocou a carta numa posição visível aos dois, ajeitou-se junto a ele e começou a ler.

“Espero que você tenha se comportado muito bem durante esses dias, mocinho! Aliás, querido, está tudo bem com você? E com seus amigos? Tem se alimentado direito?Espero que sim... Você anda muito magro ultimamente, Tiago Potter. Ah, Sirius me disse que tem uma amiga de vocês que é uma ótima cozinheira; espero que você não esteja comendo qualquer besteira e, principalmente, fora de hora...
Seu pai e eu estamos com saudades... Ou melhor, seu pai acabou de me dizer que sou eu quem está com uma saudade exagerada de você. Mas, o que eu posso fazer? Você passou a maior parte dos seus últimos anos em Hogwarts e, quando fica um tempinho aqui em casa, fica uma semana fora... Mas, bem, vamos ao que interessa.
Alan crê que você deve ter achado e provavelmente traduzido o diário do velho Will, então pediu para que eu poupasse-o dos detalhes (para falar a verdade, seu pai achou essa carta completamente desnecessária e vive resmungando do meu lado enquanto estou escrevendo...). No entanto, querido, se o que eu falei aqui nesse parágrafo foi meio sem sentido para você, e você e a sua amiga ainda estão tentando descobrir o que aconteceu com os seus amigos... A resposta está no livro de capa escura da última prateleira da nossa pequena biblioteca. Está escrito numa língua estranha e... Bem, era a língua usada por seu avô. E se você não se lembra dela – Alan agora está dizendo que acha isso mais improvável do que você não ter descoberto nada –, traga o livro com você quando vierem para cá.
Oh, e quando eu vou conhecer aquela sua amiga, a Lílian Evans? Seus amigos – principalmente Remo – disseram que ela é um amor de pessoa e que eu e o seu pai íamos gostar muito dela. Eu só não entendi muito bem o fato de Pedro dizer que você e ela não são tão amigos assim... Acho praticamente impossível alguém não gostar de você, querido. Sirius falou algo como ela não gostar de muitas coisas que vocês fazem na escola – não que eu goste do que vocês aprontam... –, o que gera certas desavenças entre vocês, mas espero que durante esses dias em que vocês conviveram ela tenha conhecido o seu outro lado. O lado que realmente importa, no caso.
Espero que não tenha ficado muito aborrecido conosco, querido. Mas, bem, essa sutil peça acabou virando uma tradição dos Potter e eu e seu pai não tivemos nenhuma pretensão em quebrá-la. Também quero pedir desculpas a Srta Evans pelo provável inconveniente que ela deve ter passado esses dias... Não deve ter sido fácil cuidar de sete crianças (E também espero que você tenha se saído melhor do que seu pai nessa ocasião; Alan, realmente, foi um péssimo pai para os nossos cinco amigos. Agradeço por ele ter melhorado consideravelmente quando eu tive você).
E, só relembrando, a chave de portal será ativada amanhã, às nove horas. É um álbum velho e vazio de fotografias que está na última gaveta do guarda-roupa do meu quarto e do seu pai( ficou bem trancado durante esse tempo; assim espero... Eu sei bem como são vocês, jovens. Não me traga preocupações futuras, Tiago Potter) .
De qualquer forma, mesmo que atrasada, desejo sorte com a Evans, querido.

Com amor,

Sarah Potter

P.s.: Sirius me pediu para implorar a você que seja bonzinho com ele quando voltar ao normal. Mas, querido, você sabe... Fomos nós quem demos a idéia, então, nada de azarações, sim? Ou ficará de castigo o resto das férias. Você sabe bem o que significa essa palavra, não é mesmo?
P.s.: E, querido, estou tão orgulhosa de você! Temos uma surpresa para quando você chegar em casa...”


Quando Lílian terminou de ler, ficou ainda a mirar a carta, esperando que Tiago se manifestasse. Pelo canto dos olhos, podia ver que o rapaz parecia ligeiramente envergonhado e reprimiu um riso, tentando permanecer séria. Logo, o moreno se manifestou, meio indignado:
-Ela me trata como se eu fosse uma criança. – ele falou, muito vermelho, observando-a de soslaio. – Castigo? Francamente! Oras, eu já sou maior de idade. Não é como se eu ainda tivesse onze anos!
-Não que isso faça alguma diferença, Tiago. – Lílian falou, ainda tentando parecer séria. Tiago lhe lançou um olhar descrente e ofendido, ao que a ruiva riu baixinho. – Mas, bem, você sabe... Os pais costumam ser assim. Para eles, nós nunca vamos crescer.
-Mas isso é vergonhoso! – ele protestou, ainda vermelho. – Eu não devia ter lido essa carta junto com você...
-Ah, foi divertido... – Lílian falou, rindo. – Será que a surpresa tem a ver com Hogwarts? As cartas já podem ter chegado, não? – Tiago deu de ombros.
-É... Acho que sim. Talvez sejam boas notas... O de sempre; sabe?– ele murmurou, sorrindo um pouco. – Mamãe faz um estardalhaço com isso. O grande dia dela, aliás, foi quando ela soube que eu obtive dez NOM’s.
-Você fala como se obter dez NOM’s fosse a coisa mais fácil do mundo. – Lílian falou, cruzando os braços meio indignada. – Eu obtive nove. Mas tudo bem. Eu nunca gostei muito de Aritmancia mesmo... – ela disse num dar de ombros.
-Foi bom você ter saído, a matéria no sexto ano foi bem maçante; mais chata do que História da Magia até. – Tiago falou, rindo. – Eu continuei por continuar mesmo. Acho que minha nota fica próxima a um “P”.
-Mais chata que História da Magia? Se você não gostava da matéria, por que continuou com ela? – Lílian murmurou com o cenho franzido. – Você só fazia dormir nela! Não acha perda de tempo?
-Hum, então você reparava? – ele insinuou, sorrindo meio de lado. Lílian revirou os olhos e ficou com as bochechas rosadas.Tiago gargalhou gostosamente. – Bom, Lils, o caso é que eu gosto da matéria, só não gosto do professor. É ele o maçante; Binns faz qualquer pessoa ter o entusiasmo de alguém que assiste a uma corrida de vermes-cegos para ver uma aula dele, mesmo que o assunto seja espetacular.
-Bom... – Lily falou, rindo um pouco. – Isso é verdade...
Tiago sorriu de volta e o silêncio reinou entre eles. Visto que nenhuma das “crianças” estavam acordadas no momento, pode-se dizer que ele era quase sepulcral. Lily obervou a carta que ainda estava na mão de Tiago, atenta. O maroto fazia o mesmo, mas, diferente da ruiva, seu pensamento estava longe...
-Lily, você pode me passar seu endereço? – o rapaz questionou, de repente, fazendo Lílian pular de susto e o mirá-lo, meio atordoada.
-Meu endereço? Mas para que você que meu endereço, Tiago?
-Hum, você já quer voltar para casa amanhã? – o moreno falou, meio constrangido. – Eu pensei em você ficar lá em casa alguns dias... – ele sorriu de leve. – Você viu... Meus pais querem conhecer você. – Lily corou um pouco.
-Acho que não faria muito sentido para os nossos amigos eu passar uns dias na sua casa, de repente. – ela falou num murmúrio rouco.
-Remo e Pedro já vão ficar. Sirius ainda não entendeu muito bem o sentido de ter uma casa própria, então, continua acampando lá em casa... Nós poderíamos falar com as garotas, o que acha?
-Eu...
-Eu vou pedir para meus pais falarem com eles. – ele insistiu, sorrindo. – Não pegaria bem eu pedir isso, não? E, eu poderia, assim, deixar escapar sem querer que a minha intenção verdadeira é nunca mais deixar você voltar... – ele insinuou, virando o corpo e se inclinando lentamente antes de beijá-la com ardor. Lílian, quando o rapaz se afastou num sorriso, meneou a cabeça lentamente e riu um pouco.
-‘Tá, tudo bem, eu passo. Mas isso não está me cheirando muito bem... Por que temos que fazer isso agora? Eu poderia avisá-los quando chegássemos a sua casa, não? – Tiago encolheu os ombros, esboçando uma feição meio suspeita. Lílian estreitou os olhos, desconfiada. – Tiago Potter, o que você está aprontando?
-A pergunta certa seria o que eu já aprontei, Lily. O que eu já aprontei... – ele disse num sorriso tipicamente maroto. – Que tal começarmos do zero, priminha?

***
Um quarto escuro no qual ele chorava, baixinho. Ele, pálido, lendo um livro na escrivaninha do seu quarto. A visita de Dumbledore à sua casa, após seus pais terem recusado a carta de Hogwarts. A seleção. Grifinória. Aulas. Amigos. Casa dos Gritos. Hogsmeade. Traquinagens. Exames. Animagos. Discussões com os Marotos. NOM’s... A casa de Tiago... A conversa com os pais dele... A idéia do Sirius... A viagem...
Remo abriu os olhos lentamente. Sua cabeça latejava como se ele estivesse sofrendo a pior das ressacas; não que ele já tivesse passado por isso alguma vez, mas imaginava ser mais ou menos assim o que a pessoa sentia quando se encontrava naquele estado. Num suspiro, espreguiçou-se lentamente, ouvindo alguns ossos estalarem. Seu corpo estava exausto, como se tivesse envelhecido muitos anos... Seus lábios se curvaram num tímido sorriso. Não que isso não tivesse ocorrido realmente.
Permaneceu a fitar o teto escuro do quarto pelo que lhe pareceu ser minutos. Seu estômago roncava, mas ele se recusava a sair daquele estado letárgico. Esperava ansiosamente que aquela maldita dor na cabeça passasse logo, de alguma forma...
-Mais que dor de cabeça do inferno! – ele ouviu uma voz lamuriar na cama ao lado. Remo voltou o olhar para Sirius e percebeu que o maroto escorregava os pés para fora da cama, esfregando a mão na testa fortemente.
-Boa noite para você também, Almofadinhas. – Remo disse tentando não rir do estado deplorável do amigo. Rir doía. E, era bom se lembrar, ele não estava muito melhor que o Sirius.
-Ah, Aluado, você já acordou...? – Sirius falou num resmungo.
-Não; estou dormindo ainda... – disse num ar irônico. Sirius apenas olhou feio para ele. Ao ver de Remo, ele não estava muito a fim de retrucar.
-Aliás, você não está achando tudo muito estranho? – ele comentou num ar intrigado.
-Estranho? – questinou Aluado, se sentando na cama um pouco a contragosto.
-É; estranho... – Sirius falou num revirar de olhos. – Estamos inteiros ainda. Cadê a azaração do Pontas e os gritos da Lily? E Tia Sarah não explicou muito bem como essa poção funcionava, então, não tem como saber ao certo como voltamos a ser... nós. – ele parou de falar, olhando atentamente para os lados, dando por falta da cama em que Tiago dormia. – E onde raios se meteu a cama do Pontas?
-Será que ele dormiu em outro quarto? – uma terceira voz se fez presente, ao que os dois pularam de susto e se voltaram para ela numa careta de dor.
-Rabicho! Você que me matar de susto? – Sirius resmungou em resposta. Pedro encolheu os ombros, esboçando um ar envergonhado.
-Desculpe, Almofadinhas. Mas é um tanto quanto óbvio, não? – falou num murmúrio e depois olhou ao seu redor, num ar meio emburrado. – E o que são essas proteções na minha cama?
-Proteção para bebês, Pedrinho. – Sirius respondeu calmamente. Porém Pedro notou o tom meio brincalhão do amigo e fechou a cara, que piorou ao entreouvir a estranha tosse que o Remo deixou escapar. – Esqueceu que você tomou uma dose a mais? – completou num meio sorriso.
-Ah, o.k., esquece. – ele disse num dar de ombros. – Mas eu ainda acho que você roubou naquele sorteio para quem tomaria aquela dose extra. – Sirius não rebateu, apenas alargou um pouco o sorriso.
-Talvez o Tiago tenha preferido dormir sozinho... – Remo comentou, pensativo.
-Ou com a Lily... – Sirius falou num tom muito malicioso.
-E se isso aconteceu, creio que não deva ser de seu interesse, Sirius. – Remo murmurou, meio corado. – Se os dois estiverem bem, poupe-os das suas idiotices por um tempo, sim?
-Oras, Aluado, não seja estraga-prazeres! – murmurou num tom falsamente ofendido. Remo revirou os olhos em resposta. – Hum, será que as garotas já acordaram...? – Sirius murmurou, olhando significativamente para a porta do quarto, que estava fechada.
-Nem sequer cogite ir até lá, Sirius. – Remo o repreendeu, sisudo.
-Eu não pensei nisso. – Sirius emendou, voltando a se deitar na cama de forma meio descolada. – Aliás, Remo, você voltou mais chato, ou só passa a impressão mesmo? – questionou, cruzando os braços sob a cabeça.
-Faço-lhe a mesma pergunta, Almofadinhas. – o outro resmungou em resposta. Sirius sorriu meio de lado para o amigo, mas antes que algum dos três pudesse dizer mais alguma coisa, a porta do quarto se abriu bruscamente.
-Ah, vocês já acordaram! – uma voz exclamou, animada. Remo, instintivamente, puxou as cobertas para cima do corpo, meio desajeitado, deitando-se na cama num gesto rápido. Sirius e Pedro prenderam o riso enquanto Alice adentrava o quarto, seguida das outras garotas, que vestiam roupas leves e confortáveis.
-Se não estivéssemos, já estaríamos por causa de tanto estardalhaço. – comentou Sirius divertidamente. – Por que vocês, mulheres, têm de ser tão escandalosas?
-Oh, obrigada pela consideração, Sirius, mas nós gostamos de aparecer um pouco, de vez em quando. O que não é muito diferente de você. – Belle retrucou, rindo. – Gente, algum sinal da Lily ou do Tiago?
-O Tiago sumiu, junto com a cama dele e... – Pedro respondeu, de imediato.
-Com a cama dele? – Lisa perguntou num tom suspeito, interrompendo o rapaz bruscamente. – O que raios Tiago queria tirando a cama dele do quarto? E onde está a nossa amiga? Vocês... – ela apontou acusadoramente para os três marotos, lançando um olhar estranho a Remo, que permanecia enrolado até o pescoço com as cobertas. – prometeram que nada de errado aconteceria com a Lily. E nós só concordamos com isso porque, bem, parecia um tanto quanto divertido e poderia fazer com que os dois se entendessem mais rápido.
-Você deveria ter pedido a promessa ao Tiago, Lisa. Ele quem ficou com a Evans esse tempo todo. – Sirius falou, descontraído. Lisa o olhou com uma sobrancelha arqueada.
-Mas...
-Nós não sabemos o paradeiro da Evans, no entanto. – Pedro prosseguiu, interrompendo a garota, parecendo um tanto quanto aborrecido.
-É. Achamos que vocês saberiam. – Sirius completou. – Mas, bem, não saímos do quarto, então, digo que eles podem estar em qualquer lugar... Vocês procuraram no resto da casa, por um acaso? – ele questionou com o cenho franzido.
-Não. Não procuramos. – Marlene murmurou num dar de ombros. – De qualquer forma... – ela prosseguiu, mas parou de falar ao notar Remo, ainda completamente estático. – Ué, aconteceu algo de errado com a volta do Lupin?
Sirius soltou uma gargalhada alta, ao que Remo lançou um olhar feio para ele, ficando furiosamente vermelho. Pedro prendeu o riso, olhando a cena num ar divertido. Alice, Belle e Lisa voltaram o olhar para o maroto, parecendo um tanto quanto confusas; porém a última parecia ter uma vaga idéia do que o comportamento anômalo do Remo poderia significar.
-O nosso Remmie aqui é um gentleman. – Sirius falou num ar zombeteiro, deitando-se de lado e erguendo um pouco o tronco, sustentando o peso em um dos braços. Qualquer resquício da dor de cabeça que sentia parecia ter desaparecido no momento. – Para ele significa um ultraje aparecer na frente de tão distintas damas de forma tão descomposta...
As garotas trocaram olhares e sorrisos entre si, antes de se voltarem para Remo; este, por sua vez, pareceu ainda mais envergonhado por ter se tornado novamente o centro das atenções.
-Oras, Remo, não se acanhe! Se nós fóssemos à piscina, o veríamos com menos trajes, não? – Marlene comentou, sorrindo. – Mas não posso negar que é uma atitude muito linda da sua parte ser respeitoso conosco. – ela falou, antes de olhar acusadoramente para Sirius. – Você devia seguir o exemplo dele, Black.
-Eu sigo quem diz que o que é bonito precisa ser mostrado, Mckinnon. E o Remo, definitivamente, não é um desses que costuma dizer esse tipo de coisa... – Sirius rebateu num meio sorriso. – Aliás, querem que eu tire a blusa, garotas? – completou, malicioso.
-Pare de se exibir, Sirius! – Lisa resmungou, muito vermelha. O maroto gargalhou mais um pouco.
-De qualquer forma... – ele prosseguiu, como se não tivesse sido interrompido. – O Remo não iria entrar na piscina.
-Não? – Belle perguntou, intrigada.
-É. – Sirius falou vagamente. – Ele não pode. – ele se virou para Remo, que parecia encará-lo de forma significativa e temerosa. Almofadinhas, por sua vez, não precisava de muito para saber que ele estava se referindo às finas cicatrizes que tinha em todo o seu corpo, principalmente na região do tronco e das costas; uma delas em especial, que ficava rente ao pescoço e descia até o final dos ombros, foi a que selou a maldição que carregava. – Você tem alergia, ou algo assim, não é mesmo, Remo?
Remo apenas assentiu calmamente.
-E também não sei nadar, de qualquer forma. – completou num tom completamente rouco. As garotas pareceram ligeiramente satisfeitas. Remo soltou um suspiro aliviado e, esquecendo um pouco seu lado gentleman, ajeitou-se na cama, recostando as costas na cabeceira e permitindo que a coberta escorregasse até o seu colo, revelando uma camisa roxa de mangas largas que iam até os seus cotovelos.
O silêncio tomou conta dos presentes. As garotas permaneciam de pé no meio do quarto, aparentemente pensativas. Pedro esboçava uma feição irritada e sonolenta ao mesmo tempo, enquanto Sirius voltara a fechar um pouco a cara, parecendo se lembrar da sua cabeça ligeiramente latejante.
-Você não estão com dor de cabeça? – ele disse num resmungo. As quatro voltaram o olhar para ele lentamente. Pedro, em particular, ficou ligeiramente interessado na resposta das garotas. Remo também aparentou estar um pouco atento, parecendo se recordar de que estava na mesma situação. Porém, antes mesmo que uma das quatro respondesse, um grande estrondo foi ouvido, seguido de um grito meio agudo, assustando a todos.
-O que foi isso? – Marlene, Alice e Pedro questionaram, preocupados. Os outros encolheram os ombros antes que todos se entreolhassem significativamente. Num rompante, os três rapazes se levantaram das suas respectivas camas, buscando de forma instintiva a varinha nos bolsos do pijama e no criado-mudo, mas não as encontraram.
Entre um resmungo e um bufo de raiva, Sirius se dirigiu até o guarda-roupa, sugerindo que os outros procurassem pelas suas respectivas varinhas, visto que elas não se encontravam em nenhuma parte mais visível do quarto. As garotas partiram para onde estavam alojadas, mas acabaram por parar no corredor ao ouvirem um novo estrondo, seguido de um novo grito agudo.
-Tiago Potter, volte já aqui! – a voz de Lily se fez presente, num tom meio estranho.
-Nem morto, Evans!
-Ah, desistam das varinhas! – Sirius reclamou, entre curioso e intrigado, fechando a porta do guarda-roupa com força. – Vamos descer de uma vez! Ver Tiago Potter fugindo de Lílian Evans não é algo que se vê todos os dias... – ele comentou, ao que os outros riram.
Logo, os sete jovens começaram a avançar pelo corredor, descendo as escadas rapidamente. Quando chegaram ao térreo, correram o olhar pelo cômodo. A primeira coisa que avistaram de esquisito na sala foi as cadeiras da mini-biblioteca caídas no chão, um dos sofás brancos meio torto – como se alguém o tivesse puxado ou empurrado do seu antigo lugar – e a porta que dava acesso à piscina meio aberta. Mais uma troca de olhares se seguiu entre eles antes que o silêncio fosse novamente quebrado pelas vozes de Lílian e Tiago, vindas do lado de fora da casa:
- Você está louca! Só pode ser...
-Ah, o que é que custa... Não vai doer nada...
Sem pensar duas vezes, o grupo se aproximou sorrateiramente da porta de vidro, temendo serem vistos pelos amigos antes de descobrirem o que raios estavam fazendo.
-Parece que os dois estão gripados... As vozes deles não estão estranhas? – comentou Pedro casualmente, ao que os outros assentiram calmamente.
- Não é pela dor, Evans, é porque isso é nojento! De onde você tirou essa idéia maluca?!
-Mas isso é algo que só pode ser feito por um garoto e uma garota juntos, Ti...E, bem, você é um garoto! Prometo não contar para ninguém!

-Não são só as vozes... Eles também. – Lisa comentou num tom estranho, quando se viu do lado de fora da casa, poucos passos depois do vão da porta. – Mas eles não teriam coragem de... Teriam? – ela completou, lançando um olhar significativo para Sirius, que estava ao seu lado, e que, como os outros, parecia compartilhar da mesma dúvida dela. – O Tiago sim, mas a Lil... – ela parou de falar bruscamente ao sentir alguém jogar-se bruscamente contra ela, abraçando-a por trás. E esse alguém, particularmente, não ultrapassava muito da metade das suas costas. – Oh, Merlim, eles tiveram. – ela completou, num ar meio desesperado, enquanto os outros se voltavam para ela.
-Mãe, me salva, dessa louca! Ela tentou me atacar! – um Tiago falou, num tom meio desesperado. Como se, de repente, a morena tivesse contraído uma doença contagiosa, Sirius pulou para longe dela e se escondeu atrás de Remo, utilizando-o como um escudo.
-Mas o que foi que aconteceu, Sirius? – Belle questionou, meio surpresa com o súbito movimento do maroto, ao mesmo tempo em que Lily, ainda dentro da casa, murmurou um “Isso é mentira, mãe, ele só está dizendo isso para me deixar de castigo!”. Sirius apenas mumurou um “São dois agora” como resposta.
-Deixa de ser mentirosa, Evans! – Tiago resmungou, sua voz soando abafada. – Você entrou no meu quarto e tentou... Tentou... Tentou fazer aquilo comigo!
-Tentei nada!
-Tentou sim! Ela ‘tá doida, mamãe!

Lily e Tiago – enterrando ainda mais o rosto nas costas de Lisa – prosseguiram a pequena discussão que travavam. As garotas apenas se entreolharam, sem entender – menos Lisa, ela ainda estava perplexa demais por ter sido chamada de “Mãe” – e automaticamente olharam para o único rapaz visível no recinto ( já que Pedro, de alguma forma, também havia sumido), procurando respostas. Remo extremamente corado apenas revirou os olhos e meneou a cabeça lentamente.
-Ah, pelo Amor de Merlim, deixa de ser covarde, vocês dois! – Remo falou num tom aborrecido. Tiago e Lílian silenciaram automaticamente, pensando que era com eles. – Você quer fazer o favor de me largar, Almofadinhas? E, Rabicho, quer sair de onde raios você está?
-Mais nem morto! Eu sou muito jovem para isso! – Sirius resmungou em resposta e as garotas puderam jurar que ouviram algo muito parecido com um guincho em algum lugar perto delas.
-Ótimo... – Remo falou, ainda aborrecido. – Hum, Tiago, você quer sair detrás da sua... – ele pigarreou longamente, sentindo a face esquentar. – Mãe? – ele lançou um sorriso tímido para Lisa, que arqueou uma sobrancelha. – E, Lily, quer vir aqui, por favor?
-Ah, não! – Tiago, que já estava se afastando de Lisa, tornou abraçá-la fortemente ao ouvir as últimas palavras de Remo. – Ela aqui, não!
-Deixa de ser idiota, Potter. – Lílian resmungou, aproximando-se lentamente, lançando um olhar meio de esguelha para Tiago. – Er... Ele ‘tá exagerando, pai. – ela falou, olhando para Remo, enquanto seu rosto adquiria um tom escarlate. Seu cenho se franziu ao ver que o Sirius se escondia atrás dele. – E o que houve, tio Sirius? – ou melhor, o tio Sirius.
-Hã... Nada demais. – ele falou num tom aliviado. As garotas, que passaram a entender o que tinha acontecido, prenderam o riso.
-Com medo de uma criança, Sissi? – insinuou Belle, num ar divertido. Sirius resmungou algo como resposta, ao que elas tornaram a prender o riso.
-Ela não vai te fazer mal, Tiago. – Remo falou num tom sereno.
-Tem certeza? A Lily não ‘tá atrás de mim, ‘tá? – o pequeno questionou, meio rouco. Sua voz soando abafada pelo fato de ele ainda manter o rosto enterrado nas costas da “mãe”. Lílian meneou a cabeça e revirou os olhos, enquanto corava furiosamente.
-Sim.
-Você tem certeza,tio Remo? Tem certeza que a prima não ‘tá aqui?
-Hã... – ele falou, meio desconcertado. – Tenho.
-Então, ‘tá bom. Eu saio.
-Espera... – Sirius disse, achando seguro parar de usar Remo como um escudo e espiando por cima do ombro do amigo. – Se ele é o tio Remo, quem é o pai?
Como se respondesse a sua pergunta, Tiago, de mansinho, espiou por trás da “mãe” e o observou por um breve instante, antes de olhar encarar Lisa confusamente.
-Ué, o papai perdeu a memória, mamãe?

***

“Interessante saber que, mesmo se tomada a poção ao mesmo tempo, há a possibilidade das pessoas acabarem por se tornar primos, e não irmãos, como outrora pensei. Basta apenas que, ao acordarem, ambos se deparem com adultos diferentes.
A Jane jurava que o Andrew Whitehorn, artilheiro dos Cannons, era o seu pai, só porque a primeira “pessoa” que viu ao acordar foi o pôster dele pregado no quarto das garotas. No entanto, Anthonny, que me viu a primeira vez e dizia ser meu filho, jurava que o Andrew era o seu tio.
Ah, mais interessante saber ainda que, como percebi por esse pequeno deslize, fotos de pessoas são igualmente eficazes... Realmente proveitoso.”



N/A: Bom, beijos e até o epílogo!

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