Capítulo 10



A neblina densa das ruas londrinas imprimia um ar etéreo as ruas. Pessoas caminhavam com seus sobretudos negros e chapéu sobre a cabeça, arrumando a gola de suas vestes para tentar diminuir o frio que insistia em penetrar em seus pescoços através das roupas, caminhando de modo rápido a fim de tentar fugir do frio que era trazido pela noite.


Não era muito diferente com a pessoa que caminhava sorrateiramente, escondendo parte de seu rosto na gola que mantinha erguida e de cabeça meio baixa. Olhos azuis mexiam-se, olhando de um lado para o outro atrás de óculos escuros, que eram semi-escondidos por baixo do chapéu.


Rony Weasley precisava despistar o que quer que tentasse segui-lo.


“Não é tão difícil... olhar para os lados algumas vezes e...”


Nesse momento, sentiu uma terrível dor na ponta do pé direito e viu-se repentinamente correndo enquanto tentava se equilibrar, até conseguir chegar à um poste e não acabar estatelado no chão.


“... não tropeçar no desnível de calçada...”


- Está tudo bem, senhor? – perguntou um homem que passava por ali. Seu semblante parecia preocupado enquanto Rony se recompunha.


- Claro, claro... – respondeu Rony nervosamente, sorrindo – Esses desníveis são terríveis, sempre nos pegam desprevenidos.


- Com certeza. – respondeu o homem desconhecido, enquanto fazia um sinal leve e erguia o chapéu – Tenha uma boa noite.


- Você também. – Rony respondeu, mas simplesmente só fez o sinal com a cabeça, sem retirar o chapéu.


Ambos voltaram a andar. Rony não podia acreditar que tinha acabado de cometer uma gafe daquelas. Mas esqueceu rapidamente enquanto tomava caminho por alguns becos, sempre atento – ou o melhor que achava que estava fazendo – para chegar à Sede.


Logo prostrou-se à frente de uma porta, batendo três vezes. Passou-se pouco tempo até alguém falar lá de dentro aos sussurros:


- Quem bate? – a voz parecia mais um rosnado do que alguém a falar.


- Um mensageiro de Luz. – respondia Rony com ar automático, mas em tom bem baixo.


- E o que traz em seu bolso? – perguntou novamente, aos sussurros ainda, a pessoa desconhecida do outro lado da porta.


- Uma carta de Trevas. – voltara a responder e, nesse momento, a porta finalmente foi aberta.


Um homem de estatura levemente baixa, por estar encurvado, demonstrava uma carranca das menos amistosas possíveis em seu rosto enquanto encarava Rony, que já adentrava o recinto.


Assim que o fez, retirou o casaco, chapéu e óculos, colocando-os no mancebo(*) que encontrava-se próximo a porta.


- Esses jovens de hoje em dia que nem mesmo cumprimentam os mais velhos... – rosnava o velhinho de mau-humor, com as mãos nas costas e se dirigindo a algum aposento vagarosamente.


- Tenha uma boa noite também, senhor Flaming! – respondeu Rony, fazendo uma careta com a rabugice do velho auror aposentado.


O recinto em que se encontrava era uma mansão bem cuidada. Obviamente, sua mãe esteve fazendo com que todos os aurores desocupados ajudassem na limpeza e deixarem o lugar impecavelmente limpo e bem apresentado. Era o método dela se sentir menos tensa.


Pensando nela, lembrou-se também de não encontrá-la ou provavelmente não conseguiria alcançar o objetivo do que viera fazer ali.


Apressou-se em pegar um corredor próximo a escadaria, que dava para o segundo andar. Pior é que não dava para saber onde seu pai se encontrava, já que era ele quem normalmente gostava de comandar coisas relacionadas à trouxas e sua segurança. E pelo que via nos jornais... ele estava tendo bastante trabalho.


Passou por algumas salas, onde ouvia o treinamento de alguns novatos por alguns aurores.


- SE NÃO PRESTAREM ATENÇÃO, ACABARÃO SENDO MORTOS! LEMBREM-SE! VIGILÂNCIA CONSTANTE! – berrava um auror enquanto Rony passava por uma das portas.


Finalmente, viu alguém pelo corredor que parecia não ter nada para fazer, abordando-o.


- Por favor, sabe onde se encontra meu pai, Arthur Weasley? – perguntou. Não reconhecia aquela pessoa, devia ser um novo recruta.


- O senhor Weasley se encontra no fim do corredor. Na sala à esquerda, onde fazem as reuniões. – o novato apontou na direção que Rony já seguia.


- Obrigado! – respondera, saindo correndo, sem esperar resposta do garoto que parecia querer informar mais alguma coisa quando saíra correndo.


Quando chegou, a porta estava trancada. Não podia crer que eles trancavam a porta. Mas antes de pensar em alguma idiotice, a porta fora aberta, saindo vários aurores e por último seu pai. Os cabelos flamejantes dos Weasley eram inconfundíveis, mesmo que estivessem meio ralos na cabeça de seu pai.


- Pai! – Rony chamou sorrindo, obtendo a atenção dele.


- Rony! Que surpresa! – falou enquanto abria um sorriso e abrandava as expressões meio sombrias do rosto ao ver um dos filhos. – Como você está? Já falou com sua mãe? – perguntava enquanto começava a caminhar ao lado dele para a única direção possível.


Rony tinha agora praticamente a altura de seu pai, mas continuava meio desengonçado ao caminhar.


- Ainda não falei com mamãe... sei que ela vai querer me prender aqui dentro. Não que eu não esteja com saudade, mas...! – ele falou, tentando consertar a provável gafe anterior.


- Já entendi, meu filho, já entendi. – respondeu animadamente o senhor Weasley, rindo da confusão de seu filho. – Já deve ter reparado que ela anda atarefada com esta enorme mansão e seus habitantes, não?


- Percebi... alguns meses sem aparecer e ela faz todo esse milagre. Incrível. – ele comentou enquanto o senhor Weasley o levava a sala, para poderem conversar com comodidade.


- Mas, diga-me, o que o fez aparecer aqui? – ele perguntou enquanto sentava-se no sofá e indicava para Rony fazer o mesmo.


- Além de reclamar daquelas senhas e contra-senhas da porta? – Rony revirou os olhos enquanto se largava no sofá. Era óbvio que não achava nada divertido aquilo.


- Filho, mas isso é uma segurança a mais! Quando vi os filmes de espionagem trouxas, eles utilizavam esse método muito peculiar para saber quem eram traidores e quem não! – falou o senhor Weasley começando a ficar mais animado conforme falava. Era sempre assim quando começava a falar sobre seus objetos de estudo.


- Mas já temos o feitiço Fidelius, pai! – exclamou Rony incrédulo.


- Já não conseguiram penetrar em outros feitiços Fidelius em pequenas filiais que fizemos, Rony? Não, temos de ter mais segurança. Se alguém tentar se infiltrar, nós saberemos com essa tática!


Rony reparou que o pai não iria tirar aquelas frases. Teria de suportá-las, por mais que ele rebatesse dizendo que se o feitiço Fidelius não os escondia, então nada poderia os esconder ou proteger. Além disso, não viera ali para discutir sobre aquilo. Suspirou, enquanto tomava um ar mais sério.


- Bom, mas eu realmente não vim discutir isso, pai... foi por outro motivo. – disse, fazendo o pai trocar a animação pelas expressões sérias, encarando-o intrigado.


- Sua procura ainda está infrutífera? – o pai não sabia o que tanto Rony procurava, mas sabia que era uma missão muito importante.


- De certa forma, está... mas, ainda assim, não é esse o motivo. – nesse momento, Rony relaxou no sofá – Pai, você lembra daquela garota que trouxe para casa faz uns anos?


- Sim... – observou uma certa reticência vinda de seu pai ao respondê-lo. Notou quando ele contraiu as sobrancelhas num ar intrigado e pensativo.


- Você lembra o nome dela? – tornou a perguntar de modo relaxado, sem dar muita importância ao estranhamento de seu pai.


- Lembro mais ou menos, era bem diferente do normal... mas para que tantas perguntas agora? Isso já faz dez anos! – falou seu pai de modo surpreso. De todas as coisas que esperava ouvir, aquela era a última.


- De acordo com a última comunicação que tive com Hermione, Harry está procurando por uma garota. Não me lembro exatamente o nome da garota que esteve hospedada em nossa casa por aqueles quase 6 meses, mas acredito que seu nome não tenha nada a ver com o da garota que ele procura. Mas achei incrível a semelhança... além disso, sabe como Hermione pesquisa minuciosamente as coisas antes de entregar algo... ela foi encontrada na porta de uma casa trouxa por volta dos 8 ou 9 anos... não é interessante a linearidade?


O pai observou-o com um ar realmente sério daquela vez. Parecia bem pensativo.


- Você realmente me deixou curioso... mas Hermione deu-lhe a descrição dela para você ter certeza da semelhança?


- Na verdade, ela me deu isso... – Rony retirara do bolso o pedaço de papel amarelado do jornal envelhecido e entregando-o ao pai.


Este pegou o pedaço de jornal, analisando-o. Percebeu, pelos olhos que se mexiam, que lia a reportagem logo abaixo. Ele retraía a sobrancelha conforme ia lendo.


- Realmente, ela é idêntica... e, pelo que vejo, ela carrega o presente de Natal que os aurores que me incumbiram de cuidar dela por aquele período mandaram-me entregar. Mas, pelo pouco que me lembro, o nome dela não é esse...


- Achei que também pensaria isso quando visse. – Rony apoiou os cotovelos nos joelhos, encarando fixamente a sua frente – Como não conheci muito a garota, pois só tive alguns dias das minhas férias de verão vendo-a, achei que você pudesse me falar mais dela. Afinal, você voltava para casa todos os dias.


- Uma boa lógica. Mas você sabe que não fui eu que fiquei mais tempo com ela. – nesse momento seu pai sorrira marotamente – Está tentando evitar um confronto com sua mãe do assunto que sabe que ela vai falar demais.


Rony revirou os olhos e remexeu-se com desconforto no sofá, fazendo caretas de desgosto.


- Tudo bem, admito! É por isso mesmo. Quando a garota sumiu lá de casa, ela ficou dias me enlouquecendo e só parou, por Merlin, porque Harry e Hermione nos visitariam e você tinha deixado claro que era para manter segredo! Que era algo confidencial do Ministério!


- Agora que você me lembrou disso... ela estava envolvida em um caso particularmente difícil. George e Wilson estavam cuidando do caso e me pediram para cuidar dela por um curto período de tempo, pois ela era uma testemunha e não achavam seguro o modo como o Ministério queria cuidar dela. Era um caso confuso e meio crítico, mas não me especificaram muita coisa... além disso, estava empolgado porque ela era uma trouxa. Ou pelo menos era o que achavam...


- Pai! É isso! – Rony até mesmo pulou do sofá, assustando seu pai – Poderíamos perguntar a esses seus amigos! Então, saberíamos detalhes. Eles provavelmente pesquisaram a vida dela. Teríamos tudo na mão! – nesse momento, virou-se para encarar seu pai com um largo sorriso em seu rosto. – Sabe onde eles estão agora? – perguntou Rony parecendo se animar mais a cada segundo, afinal, não precisariam perguntar nada à mãe se já havia gente que sabia ainda mais.


- Sei, mas...


- Vamos lá, não podemos perder tempo! – Rony praticamente já estava na porta, só pela pequena afirmativa, com o rosto corado de excitação.


- Acalme-se, Rony! Nada é tão simples assim! – ele falou, fazendo Rony encara-lo com um misto de ansiedade e dúvida.


- Como assim? – perguntou erguendo levemente os ombros e fazendo um sinal negativo com a cabeça. – É só fazer umas perguntas e ouvir a resposta. O que tem de complicado nisso?


- Eles estão mortos! – havia um quê meio irritado em sua voz e ele respirava fundo. Havia até mesmo se erguido do sofá quando praticamente gritara aquela frase.


Rony paralisou por alguns instantes, encarando o pai estupefato. Logo após, gradativamente, perdia a cor. Mais mortes causadas pela guerra?


- Em que confronto eles morreram? – perguntara Rony com a voz sumindo. Provavelmente, pelo jeito que o pai havia dito, eles eram bons amigos. Apesar de que seu pai era rodeado de bons amigos.


- Eles... – nesse momento, o semblante que parecia dolorido começou a relaxar e ganhar uma expressão de esclarecimento. Ele ergueu o jornal que ainda estava em suas mãos, olhando algo que parecia não ter dado valor no momento em que o lera. – Rony, preciso fazer umas pesquisas. – nesse momento, ele saiu correndo, passando por Rony pela porta.


- Pai, espera! – gritou Rony enquanto o via desaparecer, ainda escorado no batente da porta, já que seria obviamente atropelado se não tivesse saído do caminho de seu pai.


- Converse com sua mãe, ela ficará feliz em vê-lo! – ele berrou enquanto sumia no corredor.


Mas o que raios ele tinha visto naquele momento no jornal?


 


 


Hermione encontrava-se agora na Estação de King Cross com uma carta em mãos. Utilizava roupas trouxas, pois não estava em um lugar apropriado para utilizar roupas bruxas. Lia-se no envelope: “Carta de Convocação”.


“Pareço não estar tendo muita sorte nessa infiltração. Obviamente, não sairei viva desse encontro com o Lorde das Trevas em pessoa. Mas não adianta me precipitar, talvez uma hora minha sorte mude e quero crer que seja logo. Minha vida depende disso.”, pensava Hermione enquanto olhava em volta, procurando a pessoa que a “guiaria”, pois como era de fora do país, obviamente não sabia como encontrar a estação 9 ¾.


Logo alguém se aproximou. Era incrivelmente fácil saber diferenciar um comensal da multidão de trouxas. Primeiro, porque eles se vestiam muito mal. Depois, a careta de desgosto que eles pareciam não fazer nenhuma questão de esconder dava para notar a quilômetros.


- Srta Lavransdatter? – falou ao se aproximar, recebendo um sinal positivo de Hermione. – Por favor, me acompanhe. – falou enquanto virava-se, sem esperar qualquer reação.


Hermione o seguiu em silêncio, colocando a carta em seu bolso. Poucos minutos depois, estavam na estação escondida magicamente. Era manhã, o que significava que chegaria apenas à noite a Hogwarts. Na carta falava gentilmente para que ela levasse algo para comer, pois a viagem era “longa”.


Logo Hermione estava fazendo o normal caminho que, quando estudante, sempre fazia no retorno às aulas. Pena que daquela vez estava ali para motivos que não eram estudos... como tudo era mais fácil na época de escola... os objetivos eram mais claros, a escola não significava que estava próxima de entrar em um túmulo e outras coisinhas tão banais...


As horas foram passando enquanto ela encarava a janela, vendo as paisagens mudarem gradativamente.


Quando finalmente caiu a noite e ficou claro que chegariam em pouco tempo, a porta de sua cabine foi aberta, assustando-a levemente. Acreditava que estava sozinha no enorme trem.


- Bem Vinda, Srta Lavransdatter. – cumprimentou educadamente um homem que não conhecia, mas provavelmente a recíproca não era verdadeira. De certa forma, já estava acostumada. Mas estranhou o fato de ele não ter dificuldade ao pronunciar seu falso nome. – Sou Wiltord e por um curto período de tempo eu irei acompanhá-la para que não se perca dentro do grande castelo de Hogwarts. Dizem que veio de outro país. Noruega, certo?


Hermione simplesmente sorriu ligeiramente ao perceber o porquê de não ter tido dificuldade. Não esperava encontrar alguém muito comunicativo, muito menos inteligente e amigável.


- Correto, Sr Wiltord. - respondeu, tentando não demonstrar nada, apenas mantendo o leve sorriso em seus lábios. Não sabia se ficava com uma aparência arrogante ou algo mais amável. Por isso, decidiu-se por manter-se no muro.


Wiltord era um homem bem alto, mas não tinha um físico atlético, o que ela pôde notar quando ele adentrou a cabine e sentou-se frente a ela. Na verdade, seu corpo era magro e de uma pele pálida, indicando que pouco fazia exercícios, além de nunca sair de lugares cobertos. Os cabelos negros eram curtos, um pouco abaixo da orelha, e lisos, boa parte dos fios era jogado para a esquerda. Os traços de seu rosto eram bonitos, amigáveis, principalmente pelo leve sorriso acolhedor que existia em seus lábios, convidando a uma conversa agradável por horas à fio. O óculos de aro fino lhe dava uma aparência de inteligência e acentuava a íris castanha.


Nunca imaginou que houvesse alguém para lhe dar as boas vindas, muito menos que esse alguém fosse tão diferente do que imaginava dos Comensais da Morte.


- Gosto da Noruega. - ele continuou, naquela voz amável - Um belo país, uma pena que deva ter perdido seu sotaque pelo tempo que passou aqui. Mas não a chamaram para que eu fique batendo papo com a senhorita. Vim apenas lhe dar alguns avisos importantes antes de guiá-la pelo castelo. Na verdade, acredito que vim apenas reforça-los...


Hermione continuou emudecida, enquanto ele voltava os olhos para a janela e encarava-a, momentaneamente perdido em pensamentos.


- Primeiro, pode trocar sua roupa, afinal estamos quase chegando a um local onde trouxas não podem nos ver. – ele sorriu e Hermione só notou naquele momento que ainda usava a camiseta amarela com alguns estampados em vermelho e uma calça jeans azul.


- Ah, claro... Volto daqui a pouco. – Hermione levantou-se, pegando a muda de roupas que trouxera em uma sacola, saindo da cabine e indo para a logo em frente, fechando as portas para ter privacidade.


Retornou após alguns minutos, já trocada. Não queria ficar chamando atenção com aquela roupa extravagante, por isso trocara sua blusa por uma acinzentada e pôs uma calça social de um tom cinza chumbo. Ficava bonito, ela gostava de se vestir, apesar de tudo.


- Então, sr Wiltord. Ao que se refere quando diz sobre avisos que necessita reforçar? – ela perguntara assim que adentrou a cabine novamente, arrumando suas coisas meticulosamente em sua sacola. Percebia que ele analisava o que fazia tão meticulosamente quanto ela estava arrumando.


- Reforçar os prováveis primeiros avisos que a senhorita deve ter recebido. Primeiro, sobre Lacbel, apesar de achar que...


- Lacbel? – Hermione ergueu uma sobrancelha na direção dele. Poderia ser mal-educado interromper, mas do que exatamente ele estava falando?


Ele observou-a momentaneamente espantado. Repentinamente, adquiriu um ar levemente amedrontado, como se tivesse falado a pior das blasfêmias. O que havia dito de errado?


- Não posso acreditar que não a avisaram sobre Lacbel! – podia perceber que ele parecia apavorado. – Por Merlin, que sorte que achei que deveria reforçar os avisos obrigatórios que devem dar aos novatos! – aliviou-se um pouco quando ele disse aquilo, pois sentiu-se repentinamente descoberta.


- Pode ser que não dei o devido valor... – tentava amenizar, mas, pelo que via, o aviso era extremamente urgente para ser ignorado daquele modo.


- Não, esse aviso todo novato escuta. Para a própria segurança. – havia um ar realmente sombrio ao falar aquilo no semblante de Wiltord.


Hermione começou a ficar levemente preocupada. Quando ele havia dito sobre os avisos, imaginava ser sobre Bellatrix, a comensal lunática de Voldemort. E afinal... quem era Lacbel ou o que era Lacbel para temerem tanto?


- Sobre o quê eu acabei não sendo avisada? – ainda mantinha a calma, apesar de tudo.


- Melhor eu contar desde o começo. Assim tudo se tornará mais esclarecido ao invés de dar apenas um aviso solto. Sinta-se com sorte, você ouvirá a versão mais fiel do relato, pois fui um dos que presenciaram o show de horrores.


Hermione não conseguiu disfarçar uma expressão de incredulidade. Achava que ele estava fazendo uma tempestade em copo d’água. O que teria acontecido de tão horrível? Ele ter se enfurecido e lançado uma Maldição Cruciatus em alguém?


- Primeiro, compreenda que Lacbel não foi recrutado como normalmente fazemos. O próprio Lorde das Trevas apareceu com ele cerca de um ano atrás. Os boatos de que “um monstro” mudou o curso da guerra não são mentiras. É a mais pura verdade. Talvez as únicas coisas fantasiosas são que ele tornou nossos soldados mais fortes. Mentira. Ele, literalmente, ganhou as batalhas sozinho.


Hermione arregalou os olhos e sentiu aquele frio na espinha. Nem mesmo conseguia falar enquanto seu cérebro tentava processar tanta força e habilidade. Onde Voldemort conseguiu isso? Teria sido a procura de um recruta perfeito que o fizera começar a perder? Enquanto tentava processar, ele continuava seu relato.


- O Lorde das Trevas ordenou para que todos nunca tocassem em Lacbel. Mas, depois do primeiro impacto da aparição dele, do medo começamos a sentir inveja. Lacbel se tornou como um guarda-costas dele, como acontece até hoje. Poucas vezes Lacbel faz uma missão longe dele.


Que fato interessante”, pensou Hermione.


- Mas... - ela ia perguntar sobre Bellatrix, mas não podia. Ela não sabia nada de dentro dos comensais. Precisava fazer outra pergunta rapidamente – por que o Lorde ordenou que nunca tocassem nele?


- Esse é o ponto crucial da história, senhorita. Lacbel, desde que apareceu, usa uma capa negra por cima de seu corpo e um capuz. Ele nunca tira e veste roupas que, quando precisa expor parte de seu corpo, como um braço ou uma mão, está também encoberto. Se tivéssemos ideia do que ele faria quando o tocássemos, não teríamos nem sequer imaginado fazer a loucura. Foi por causa dessa capa que aconteceu.


Ele dava um suspense tão grande que Hermione já estava sentindo seu coração ficar mais acelerado. Mas não podia ficar com medo naquele momento.


- O que aconteceu? Acredito que alguém tenha tentado retirar a capa... – ela falava num tom lógico e ainda frio, mas curiosa para saber o que tanto era temido.


- Queríamos desacreditar Lacbel. Ele tinha aparecido e pegado a posição mais desejada de todos. E do nada. – ele gostava de enfatizar aquilo. Podia sentir ainda um tom de inveja. – Então, fizemos um desafio... quem teria a coragem de desobedecer a ordem do Lorde das Trevas e arrancar a capa dele. Um de nós teve a coragem... ou estupidez o suficiente.


Ele estreitou os olhos e respirou fundo antes de continuar numa voz gutural.


- Aconteceu no Átrio do Ministério da Magia... O Lorde das Trevas estava indo pegar um dos elevadores e Lacbel, como sempre, ia logo atrás dele. O nome do comensal era Crabbe... devia ser por isso que fez aquela loucura. Era um dos mais inúteis, devia estar querendo se mostrar. Ele teve a coragem – ou burrice – de ficar na frente de Lacbel, impedindo que passasse, e foi com a mão diretamente no broxe esquisito que ele usa.


- Broxe esquisito? – perguntou, retraindo as sobrancelhas. Não era comum alguém denominar um broxe de “esquisito”.


- Sim, broxe esquisito... é como sabemos diferenciar Lacbel dos outros comensais. Ele usa um broxe dourado que mais parece um medalhão. Quando se chega mais perto, pode-se ver um dragão desenhado em alto relevo. Se aquilo não estivesse na altura do pescoço, poderíamos dizer com certeza que seria um medalhão.


Hermione fez um sinal de que compreendia e um movimento com a mão para que prosseguisse com o relato, apesar de achar muito estranho a descrição do tal broxe. Nunca vira nada parecido com aquilo antes.


- Bom, assim que ele tocou Lacbel... Lacbel pegou no braço dele. Crabbe paralisou imediatamente. Todos nós paramos para ver. Nunca me arrependi tanto por ter feito algo. Crabbe ficou paralisado por segundos, sem mover um músculo. Nem ele, nem Lacbel. De repente, teve uma luz muito ofuscante e Crabbe começou a gritar. Ainda ouço os gritos de agonia dele em meus pesadelos. Quando voltamos a enxergar, ele estava no chão, parecendo receber a Maldição Cruciatus. Mas não era. Ele estava, literalmente, queimando por dentro! Alguma coisa começou a atacá-lo e perfurá-lo de verdade, foi assim que descobrimos que estava queimando. Ele não parava de gritar enquanto as coisas continuavam a atacá-lo. Depois de minutos, tudo que sobrou dele foi algo melequento, numa poça de sangue quente. - ele fazia um ar tão sinistro que tornava o relato ainda mais sombrio do que já era.


Hermione estava horrorizada. Sabia que Crabbe, pai ou filho, tinham pouco do dom da inteligência, mas ainda eram bem ruins... no entanto, não desejaria uma morte tão horrenda dessas para nenhum inimigo seu. Mas, pelo visto, Lacbel pouco parecia se importar em matar. E do pior jeito. Respirou fundo, tentando não demonstrar o quanto estava assustada.


- E o Lorde das Trevas? – perguntou, pois, pelo que se lembrava, ele estava indo para os elevadores. Como ele não pôde ter visto toda aquela cena ou ouvido estando lá? – O que fez?


- Depois de tudo, enquanto ainda estávamos chocados, ele só falou isso: “Isso é o que acontece quando não dão ouvidos às minhas ordens...”. Então, deu as costas e Lacbel continuou a segui-lo. Como se não houvesse acontecido nada...


Hermione podia ter certeza de que ele estava falando sério, pois em momento algum ele parecia ter dado uma pequena deixa de que estava se divertindo em assustá-la. Não, parecia que aquilo era real.


- Bom, é por isso que sempre avisamos aos novos recrutas. Nunca. Jamais toque em Lacbel. Não, se deseja continuar vivo ou morrer de forma rápida e indolor. Ele não é misericordioso, acredite. – ele suspirou, parecendo ter retirado um grande peso dos ombros quando os relaxou. – Além de saber desse aviso importante, lembre-se também que Lacbel nunca fala, jamais segue ordens de ninguém, além do próprio Lorde das Trevas, e é um dos mais fiéis. É bem difícil dizer quem é mais fiel. Bellatrix ou ele.


- Bellatrix? – perguntara Hermione vendo a brecha perfeita – Quem é?


- Antes de Lacbel aparecer, Bellatrix costumava ser o braço direito do Lorde das Trevas. – ele falara de modo automático. Com certeza, ele era confiável.


- E como ela se sentiu... hum... depois de ser... “dispensada”? – perguntou de modo sutil, fazendo-o erguer os olhos de modo maroto. – Creio que não muito feliz...?


- Ficou furiosa. Desde o dia que Lacbel apareceu, Bellatrix, assim que encontra com ele longe do Lorde das Trevas, quer tentar matá-lo de todo o jeito. Isso me fez lembrar do outro aviso que preciso lhe dar. Lembre-se de tentar evitar cruzar com ela. Bellatrix é inconfundível, ela é completamente louca pelo Lorde e tem um temperamento instável. Por isso, nunca se sabe quando ela vai decidir querer te atacar porque está de mau-humor. Ultimamente, ele está meio perene... o mau-humor, claro. – ele sorrira com ar maldoso.


- E como ela ainda não morreu, se Lacbel deve ser bem mais forte que ela? - perguntou impressionada. Sabia que Bellatrix era maluca, mas não a tal ponto.


- Acredito que o Lorde deve ter dado alguma ordem para que Lacbel não a mate. Normalmente, quando ocorre esses encontros, Lacbel simplesmente a ignora e esquiva-se quando ela tenta tocá-lo. – falou com ar natural, como se esses encontros já fossem completamente comuns.


- Existe mais alguém com problemas mal resolvidos com quem eu deva tomar cuidado? - ela perguntou, achando que provavelmente devia ser importante ter uma lista de todos os propensos excêntricos da área. Além do próprio Lorde das Trevas, é claro.


- Os mais problemáticos eu já alertei. O resto é só você ter paciência. Espero não ter te intimidado contando essas coisas, mas é importante avisar para não ocorrer outro fato desagradável. Boa sorte com o seu encontro com o Lorde. Deve estar muito honrada. – ele sorriu enquanto ouvia o trem parando. Chegaram à estação, obviamente devia ser quase meia noite.


- Muito. – sorrira forçadamente nesse momento. Ela realmente preferia dispensar essa “honra” por sua vida. Mas não havia mais volta.


- Siga-me, senhorita. – ele falou, levantando-se da cabine e abrindo a porta – Acabamos de chegar. Em poucos minutos você já estará dentro do castelo de Hogwarts. – ele sorrira amigável. Era encorajador, mas realmente nada conseguiria realmente deixa-la relaxada.


Levantou-se e o seguiu. Logo ela descobriria se acabaria numa cela, num túmulo ou outro lugar ainda pior... inteira ou aos pedaços.




 


(*) Mancebo é onde se pendura os casacos e chapéus. Normalmente encontrasse próximo da porta de entrada e saída.

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