Capítulo 4




Apesar do acordo recém estabelecido, Harry se isolara um pouco, apenas para pensar. Se ficasse desviando seus pensamentos com conversas fúteis ou com mais informação do que sua cabeça podia guardar, iria endoidar e não descobrir nada. Ele precisava caminhar devagar, mas constantemente, já que não tinha a mínima idéia de quanto tempo teria para descobrir o que era necessário.


De certa forma, era esquisito Lacbel estar pedindo para que descobrisse sobre si, se tinha medo de se revelar. O que descartava a idéia de que fosse medo. Tinha outro porquê... E ele ia ter de descobrir. Mas ele não sabia nem mesmo por onde começar. Literalmente, ele ia ter de fazer aquele trabalho por caridade, pois Lacbel não podia lhe dar absolutamente nada. Mas por que ele não tinha como lhe dar nem mesmo um favor? Era comum, em meio bruxo, haver dívidas, mesmo entre inimigos declarados.


Havia ainda mais coisas estranhas. Ele era um inimigo, ele deveria ser a última pessoa a quem pedir essa ajuda. Ou era a pessoa mais indicada por não ter escolha sobre o que fazer, além de jogar conversa fora o dia todo? Afinal, pelo que notara, nenhum comensal se atrevia a chegar minimamente perto sem ter ótimos motivos para fazê-lo e, mesmo assim, contra a vontade.


Obviamente, porque deviam ser uns covardes. Lacbel era uma pessoa legal. Esquisita, mas legal. Mas isso não vinha ao caso, ele tinha coisas mais importantes para pensar!


Por que seus feitiços não fizeram efeito em Lacbel? Simplesmente não haviam feito efeito nenhum, tinha completa certeza. Olhou de esguelha para a capa. Com certeza devia ser a capa... Devia ter algum tipo de feitiço... E aquele medalhão esquisito...


Harry olhava desconfiado para aquela capa e para o dourado chamativo em seu pescoço. Logo, levantou-se da tábua onde estivera sentado, pensativo, e começou a andar de um lado para o outro da cela. Quantos feitiços de proteção poderiam ser usados para tornar um objeto indestrutível e intransponível? Em sua jornada à procura das Horcruxes - e que, ironicamente, o fizeram parar ali - lera muitos livros sobre proteções. Poderia haver qualquer feitiço naquela capa... Ou até mesmo nas roupas.


Roupas. Lembrava-se que Lacbel tinha comentado que apenas precisava usá-las. Seria as roupas a solução do mistério? Mas e quanto a aparatação sem barulho que produzira? Não, na verdade, para aquilo havia uma explicação. Um feitiço denominado de Passos Etéreos que o fazia andar rápido como a luz. Mas era uma magia extremamente complicada de se dominar e avançadíssima. Exigiria um controle absoluto de magia para poder fazê-la com tanta naturalidade quanto Lacbel fazia.


Não sabia exatamente quantos bruxos conseguiram dominá-la. Dumbledore e Voldemort talvez tivessem conseguido. Lacbel era a sua única prova viva. Isso tornava fácil vencer qualquer batalha, se seus oponentes não conseguiam nem mesmo te enxergar. Agradecia por Dumbledore ter-lhe emprestado aqueles livros, tinha várias noções de feitiços, aprendera muito.


Talvez os poderes de Lacbel com Voldemort pudessem ser igualados. Estava ficando tonto de tanto andar em círculos, mas estava entretido demais em seus pensamentos engajados em tentar desvendar aquelas teias para notar que começava a pender lentamente para o lado.


Poderia haver um elo entre eles? Espere, já não começava a viajar demais nas suas hipóteses? Nesse momento, ele sentiu uma dor terrível no joelho ao bater com ele contra a sua tábua.


- Ai! - ele exclamara, começando a pular com uma perna só, ouvindo uma tosse seca das grades. - Não ria! - ele reclamou, de mal-humor, enquanto se sentava e massageava o joelho, fazendo com que a tosse ficasse cada vez mais forte.


Quando conseguiu enxergar, Lacbel estava com uma das mãos dentro do capuz, obviamente tampando a boca. Suspirou. Demorou um pouco até Lacbel tirar a mão de lá, finalmente voltando a sua posição normal.


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Percebera que dera muitas coisas para ele pensar, pois, após algum tempo, ambos estavam em seus próprios cantos. Estava pensando ainda se ele cumpriria sua palavra. Necessitava urgentemente dela, nem que fosse mínima. Apesar de ser teimoso, todo metal ainda podia enferrujar e dobrar. Tocava distraidamente o medalhão em seu pescoço. Já virara um hábito, como se ainda tivesse esperanças de que aquilo não estivesse ali, algum dia.


Mas sempre estava.


O prisioneiro começou a se mover. Lacbel olhara-o, intrigado, percebendo-o começar a se empolgar com seus próprios pensamentos. Seus passos eram um pouco rápidos e viravam com brusquidão quando estava para chegar à parede. Ficara a observá-lo, percebendo que aquele movimento poderia não dar muito certo. Mas apenas observou, sem interrompê-lo.


"Mais um pouco." pensava, quando o joelho passou de raspão pela tábua. "Quase, acho que na próxima." continuava, enquanto observava-o cada vez mais próximo da tábua. "É agora!" havia pensado, logo se ouvindo um "Ai" sonoro, e colocou as mãos diretamente na boca, abafando um riso.


Dor. Maldita dor, mas não conseguia parar de rir da cena, disfarçando-a em tosse. Estava paralisado, de novo. Demorou para conseguir se controlar e readquirir seus movimentos, retirando a mão do lugar.


Algumas vezes se perguntava quando sofria menos, mas sempre caía em um paradoxo inexplicável. Que, consequentemente, o fazia perguntar-se por quanto tempo ainda conseguiria suportar aquele sofrimento sem fim determinado.


 


 


Acordara bem disposto naquele dia, mesmo com seu joelho ainda latejando um pouco de dor. Se não estivesse naquela cela fria e desolada, ele poderia dizer que o céu estava límpido e ensolarado. No entanto, o céu de Lacbel estava parecendo estar bem nublado e tempestuoso, pois não parava de andar de um lado para o outro, apreensivo. Nada característico de Lacbel ficar tão agitado assim. Ou esta seria uma resposta positiva de que, lentamente, Lacbel estava "relaxando" perto dele?


- Algum problema? - perguntara após muito tempo à Lacbel, pois este não parava de se mexer. Andava de um lado para o outro sem parar.


- Segunda Terça-feira. - respondera simplesmente, deixando-o encucado. Mas que raios! Por que Voldemort dera à Lacbel a tarefa de contar as Terça-feiras do mês?


- Que droga que acontece na Terça-Feira? Qual a distinção de ser a primeira, segunda ou terceira? - ele perguntara, simplesmente sem compreender nada.


- Ele precisa fazer a "manutenção". - dissera enquanto continuava a andar, sem nem se dar ao trabalho de olhá-lo para isso, continuando a se mover incessantemente.


- Manutenção? - Harry perguntara, sem entender. Como assim, Voldemort precisava fazer a manutenção? Será que fazia diferente dependendo da Terça?


O capuz virara-se para ele e Harry compreendera. Ele ia ter que também descobrir o que significava aquilo, se quisesse saber a resposta. Pelo visto, ele teria muito trabalho pela frente. Bom, já era um grande passo. Recebia charadas ao invés de nenhuma resposta!


No entanto, vê-lo daquele jeito agitado fazia-o ficar também apreensivo, como se ele mesmo estivesse esperando pela tal da "manutenção". Não dava para saber o que devia ser isso. Será que Voldemort tinha de renovar os contratos com o demônio para manter Lacbel ao seu lado? Não seria mais fácil fazer um contrato mais longo a semanalmente? Ou o preço era muito alto? Mas espera... Ele estava partindo de uma premissa preconceituosa. E se Lacbel fosse uma criatura que precisava de um certo... Alimento um pouco não característico e por isso estava agitado? Mas, no entanto, se fosse um outro ser, vindo de outro plano, provavelmente precisava de algo ainda mais esquisito. Mas e se não fosse nada disso? Era um ritual para manter sólido um espírito dentro daquela capa? Todas as suas hipóteses anteriores iriam por água abaixo! Todos os feitiços que tinha pensado simplesmente não precisariam nem existir!


Harry não aguentava aquela dúvida. Lacbel era o que, na realidade? Existiam milhões de possibilidades, entre as quais ele não conseguia se decidir no que pensar, e a "manutenção" poderia ser qualquer coisa. Decidira tentar sanar sua dúvida do modo mais fácil. Perguntando.


- Diga-me, você é algum tipo de criatura? - Dependendo da resposta, seu cérebro poderia se focar em alguma coisa.


- Não posso responder à isso. - fora a resposta quase imediata. Harry estava quase querendo implorar para que parasse de caminhar.


No primeiro instante, Harry teve certeza de que era. Mas depois, pensando melhor, poderia ser que não fosse. Não dava para ter certeza de nada com as informações que tinha. Eram apenas cogitações que se encaixavam mais do que coincidentemente e ele não sabia se era um jogo ou a verdade com as situações apresentadas. Na verdade, aquelas situações eram genéricas, dando para encaixar-se de várias formas na mesma figura negra.


Voldemort foi esperto ao não revelar absolutamente nada sobre Lacbel. O medo do desconhecido e as cogitações que poderiam fazer iriam aumentar o medo de quem encarasse o tão temido Comensal da Morte. Eu mesmo não tenho a mínima noção do que pensar sobre ele, mesmo convivendo com ele diariamente.


Se ele fosse uma criatura, Lacbel não responderia sua pergunta, temendo um afastamento...


Se ele não fosse, Lacbel também não responderia, talvez por ordens de Voldemort.


De todo o jeito, ele ia ficar sem respostas. Frustrante!


Trabalhar com incógnitas não era exatamente o forte de Harry... Nunca fora muito bom em matemática. Por que a vida não poderia ser mais simples, com respostas diretas, sem dubialidade, sem segredos...?


Vida mais simples? Segredos? Olha quem estava falando. Harry, mesmo sendo filho de pais bruxos, havia sido obrigado a morar em uma casa onde não existia magia e seus habitantes o odiavam. Sua vida era um inferno. Quando finalmente foi para Hogwarts, quando seus problemas diários não eram ter de aturar seus tios intragáveis, mas sim ter aventuras fantásticas e tornar sua vida realmente emocionante, foi quando começou a viver. Uma vida complicada, cheia de segredos e suspeitos. O único problema... Harry sempre indicava a pessoa culpada para confiar e a pessoa inocente para suspeitar.


E agora? Será que estava confiando na pessoa certa? Lacbel era de confiança mesmo? Mas Voldemort sendo o inocente? Brincou, né?


Mas, em um choque elétrico, assim que observou a capa que perambulava de um lado pro outro, aquela resposta-enigma lhe veio a mente. "Tem muitas coisas que eu sei das quais você não sabe, e muitas coisas que você sabe das quais eu não sei.". Vida? Era isso mesmo que ele estava pensando? A resposta era Vida?


Se fosse pensar assim, fazia muito sentido mesmo. Dumbledore era a prova disso! Ele nunca havia contado sobre sua vida – a única coisa que sabia com certeza era a luta dele com Grindelwald – e ele jamais imaginaria todas aquelas coisas. Sua irmã aborto, a briga entre irmãos, o porque de Aberforth não se dar bem com ele... Tudo porque ele não sabia o que ele tinha vivido. O mesmo, obviamente, acontecia com ele. Muitas pessoas só viam que ele havia derrotado Voldemort com um ano, mas não sabiam todo o inferno que passara na casa de seus tios trouxas.


E, no caso de Lacbel, ele pensou com o coração aos pulos, só sabiam que mudara o curso da Guerra, para fazer Voldemort vencer e nada mais.


Era coincidencia demais para não ser a resposta certa!


- Vida? - ele falou, fazendo Lacbel parar e olhá-lo. - "Tem muitas coisas que eu sei das quais você não sabe, e muitas coisas que você sabe das quais eu não sei.". É vida, não é? - ele falou, com os olhos arregalados ao perceber a resposta.


- Isso mesmo. - respondera Lacbel, sentindo certa satisfação ao fazê-lo. - Você compreendeu o enigma, mas tem mais coisas em que você precisa pensar. - dissera, deixando Harry frustrado. Como assim, mais coisas para ele pensar?


Após alguns segundos, ele percebeu a outra parte da qual falara. Ele havia feito uma pergunta e a resposta era o enigma.


- A minha pergunta. - ele lembrou-se idiotamente. Estava concentrado demais no enigma para se lembrar da pergunta. Por que as coisas não podiam ser diretas? Por que tinham de ser sempre em partes!?


Lembrava-se da sua pergunta. Estava intrigado do porque servia Voldemort se não gostava de fazê-lo e ter consciência de ser mais forte que ele, ou igual. Vida... O que poderia ter isso a ver com vida? Harry não via qualquer ligação entre essas duas coisas. Mas havia conseguido riscar várias outras coisas das suas outras dúvidas.


A sua idéia sobre Pacto ou Voto Pérpetuo se extinguira imediatamente, pois para que alguém iria responder algo relacionado com vida se estava preso à Voldemort com coisas imediatistas? Voldemort não era o tipo de pessoa que gostasse de perder tempo conquistando as pessoas à toa. Isso poderia dizer que Lacbel não devia ter medo da morte...


- Você não tem medo de morrer? - Harry perguntara repentinamente, fazendo Lacbel observá-lo, por algum tempo, talvez processando a pergunta que fizera com tanta brusquidão.


- Depende da morte que fale. - dissera, deixando Harry intrigado.


- Ah, morte... sabe, sem respirar, acabar batimentos cardíacos... - ele dissera, fazendo Lacbel se virar completamente para ele.


- A Morte que finaliza tudo. - simplesmente dissera, de modo sombrio, fazendo Harry até estremecer um pouco.


- É, essa daí... - ele dissera, mas intrigado. Que outro tipo de morte poderia haver?


- Não, eu não tenho medo. - dissera simplesmente, olhando para o outro lado. Mas havia alguma coisa... Como se a frase fosse dita de modo direto propositalmente, para omitir uma informação.


Sentou-se na tábua, sentindo uma leve apreensão. Achava ter tocado em um assunto levemente tenso naquele momento, mas recebera uma resposta concreta. Mas não satisfatória. Seu instinto dizia alto que Lacbel escondera uma informação valiosa, quando dissera tão diretamente a resposta para aquilo.


Decidiu voltar seus pensamentos para a questão principal que era importante saber. O que exatamente era Lacbel.


Retirara de sua lista todas as criaturas que poderiam ser conjuradas, pois vida indicava algo mais longo que apenas aquele "um ano". Apesar de não ter ajudado o tanto que gostaria, ainda assim já era algum avanço. Sobrara agora apenas as criaturas que podiam ser convocadas de outros lugares e as criaturas mundanas, como Vampiros, Humanos, Lobisomens Anciões e outras tantas criaturas, retirando Dementadores.


Mas como poderia filtrar mais essas informações? Como poderia obter uma resposta sem que Lacbel percebesse?


Isso, Lacbel não podia perceber... ele precisava fazer valer o célebre ditado "Jogar verde pra colher maduro". Seria o único método viável, se quisesse ganhar terreno naquele jogo. Seus pensamentos estavam meio desorganizados, então aquilo deveria ser testado assim que conseguisse organizar-se, quando tivesse reciclado o máximo possível de informações.


Harry sentou-se ao chão, apoiando os cotovelos nos joelhos e sua cabeça entre as mãos, com ar extremamente pensativo. Achava que a resposta seria fácil depois que descobrisse o enigma, mas parecia que tinha piorado. Lacbel produzira um segundo enigma de propósito? Lacbel queria lhe fritar os miolos de tanto pensar?


Apesar de ficar repentindo sua pergunta e a resposta, nada lhe vinha milagrosamente à mente.


Aquela resposta-enigma não parecia ter sido de grande ajuda na sua procura. Finalmente, parara, pois não iria conseguir achar resposta nenhuma com o cérebro tão quente, e aliviou-se quando ouviu os passos do comensal que trazia a comida. Tinha ido até a tábua, olhando para a silhueta negra que agora tinha parado, ficando estático ao ouvir os passos. Isso lhe deu praticamente certeza de que Lacbel estava mesmo demonstrando o que sentia para ele.


No dia anterior, após ter aceitado a proposta, Lacbel pedira para que fingisse não estar querendo se aproximar dele quando algum comensal viesse. Achara o pedido estranho? Claro. Pensara sobre o assunto? Claro. Descobrira a resposta? Talvez. Como sempre, as respostas jamais eram concretas... E aquelas que eram, tornavam-se incompletas.


O que imaginava é que Lacbel sentia-se constantemente vigiado por Voldemort. E aquela amizade ilícita não deveria ser descoberta. Bom, aquela amizade não deveria existir nunca, afinal, onde já se viu um carcereiro sendo amigo do prisioneiro que guarda? Se aquilo era um sonho, estava realmente interessante.


O comensal chegou, olhando para dentro das grades em direção à ele. Entregou a bandeja à Lacbel, era praticamente o mesmo procedimento todos os dias em dose dupla. Após ele ter saído, fora de encontro às grades, sentando-se ao lado. O bom de Voldemort ter escolhido um lugar tão desolado, é que qualquer pessoa que se aproximava era ouvido a metros de distância. Isso tornava as situações ilícitas quase impossíveis de serem flagradas.


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Lacbel estava ainda um pouco reticente sobre o prisioneiro. Não sabia se ele iria realmente passar pelo seu teste para ver seu real interesse em descobrir mais. Na verdade, ele deveria ser muito mais esperto e perspicaz, afinal, ele poderia arrancar informações de cada resposta que lhe dava, até mesmo antes de terem feito aquele desafio.


Mas já ficara satisfeito por seus pequenos progressos, como decifrar o seu primeiro enigma. Já era um enorme avanço, em sua opinião. Quantas pessoas tinham consciência de que tinha tido uma vida antes de se tornar comensal? Apenas duas. O Lorde e o prisioneiro. Mas isso não chegava nem milimetricamente perto do que gostaria que ele descobrisse. Em realidade, ele estava se arriscando terrivelmente só por conversar com ele... E isso era mais acentuado, agora que começara a ajudá-lo propositalmente.


Enquanto almoçavam, viu que ele parecia pensativo enquanto comia. Ao menos, poderia dizer que ele se esforçava, mas no ritmo dele... Poderia demorar demais. Muito mesmo. Não se importara, só de ter uma pessoa interessada, mesmo sabendo do que era capaz e não podendo receber nada em troca, já era suficiente. Desde quando se contentava com tão pouco? Já fazia muito tempo...


Ouviu-o cantarolando, logo após ter terminado. Era uma música de... Natal?


- O que está cantarolando? - perguntara, fazendo-o observá-lo, os olhos verde vivo pareciam intrigados, levemente assustados...


- Uma música natalina. Isso me faz relaxar e meu cérebro fica menos tenso. - ele respondera, mas ainda olhando-o intrigado - Erm, tem algum problema com isso? - perguntara levemente, parecendo constrangido.


- Não. Só faz... Algum tempo que não escuto... - falara com ar levemente reticente, voltando-se para seus joelhos, que grudou mais ao corpo e as mãos que ficaram prensadas - Pode continuar.


Mas ele só foi continuar após alguns segundos, provavelmente observando-o. Natal...


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Harry ficara levemente assustado quando a voz de Lacbel soara imperativa sobre o que estava cantando. Poderia-se até dizer que estava exigindo que respondesse àquela pergunta. Justo Lacbel, que era tão indiferente e impessoal quanto ao que fazia. Ele poderia ficar pelado lá dentro que provavelmente Lacbel não se importaria. No entanto, por estar cantarolando uma música natalina, Lacbel repentinamente havia se incomodado. Mas por quê?


Mesmo depois de ele tê-lo deixado cantarolar novamente, ficara reticente. Mas o fizera, porém agora com os olhos atentos na silhueta negra, que repentinamente tinha entrado naquela posição da Quarta-feira. Porque uma simples música de Natal faria Lacbel voltar àquele estado de letargia?


Por que falara tão reticente sobre não ter escutado músicas natalinas fazia "algum tempo"? Sentira uma conotação levemente mentirosa em sua fala, o que o fizera lembrar-se do dia anterior, quando lhe dissera que a mentira só era aceita dependendo do quanto você parecesse acreditar nela na hora que falasse. Lacbel estava escondendo alguma coisa em relação ao Natal... Só podia!


Com um frio na barriga, percebera que Lacbel estava lhe dando pistas sobre si mesmo desde a semana passada! Droga, Harry não possuía uma suma memória para lembrar-se de todas as irritações que fizera para Lacbel, nem todas as perguntas. Agora, Harry teria de fazer um esforço sobre-humano em sua memória para arrancar o máximo possível de informações.


Mas agora descobrira um método para adquirir as respostas que queria. Precisava fazer o comentário certo, do modo certo e no momento certo. Dependendo da resposta que Lacbel lhe desse, ele poderia saber finalmente algo mais concreto do que apenas charadas e enigmas. Era um jogo que ele precisava vencer. Tanto por ele, quando pelo perdedor...


Mas aquele não era o momento para testar, pensar ou cogitar, ele precisava relaxar, mas aquela canção estava fazendo-o se preocupar com Lacbel. Isso era verdade, vai que Lacbel se transformava num zumbi de novo? Seria culpa dele, ainda iam achar que estava tentando fugir de novo. Mas, em certo ponto, acabara por descobrir um ponto fraco dele. Mas seria possível que Lacbel fosse... sensível? Cada vez estava piorando mais a sua confusão.


Tentara trocar de música. Mas se trocasse e Lacbel saísse de sua letargia, ficaria extremamente intrigado, pois provavelmente haveria de ter acontecido alguma coisa em algum Natal para deixar Lacbel em estado tão letargico.


Lacbel acordara. Sim, comprovadamente acontecera algo em algum Natal que fora extremamente marcante. Isso já diminuía uma boa parte da lista de cogitações sobre o que poderia ser... E, o mais palpável, para seu espanto... Era de que fosse um humano. Na verdade, também cogitava se não fosse um anjo. Por Merlin, e se fosse um anjo? Como Voldemort tivera a cara de pau de aprisionar, sabe-se lá com o que, um anjo para servir a propósitos tão negros?


- Que música é essa? - Lacbel perguntara, dessa vez, muito menos agressivo. Era apenas uma curiosidade.


- Música trouxa, uma das bandas que mais gosto. - sorrira, relaxando com Lacbel fora de seu estado anormal. Pensara... Seria o momento perfeito para o seu teste. – Infelizmente, faz algum tempo que não escuto, só posso cantarolar as que me vêm na telha. - falara, mas observando Lacbel atentamente naquele momento. Lacbel parecia não saber ou não se lembrar de música, o que indicava que "algum tempo" significava, na verdade, "muito tempo".


- Parece divertido. - falara de modo natural e ele sorrira. Lacbel caíra em sua armadilha.


- Você cresceu com uma família trouxa. - sentenciou, assustando Lacbel.


- O-o que? - ele gaguejara, parecendo estar incomodado com a acusação repentina.


- A expressão "me vêm na telha" é trouxa. Se fosse um bruxo puro-sangue ou alguma outra coisa, você teria perguntado o que seria isso. Mas você respondeu-me naturalmente, como se tivesse entendido perfeitamente. - explicara, sorrindo de canto - Isso indica que você é um humano.


- Posso ter compreendido o sentido da frase. - contra-argumentara, o que ele sorrira.


- Sinto lhe informar que a sociedade bruxa Puro-Sangue não é a suma inteligência humana. Além de não terem interesse nenhum em tentar entender como trouxas pensam, poucos puro-sangues se interessam em adentrar a essa "sociedade inferior", como eles os denominam. Isso porque eles são o mais perto de humanos possíveis e convivem com eles. - ele dissera convicto, sorrindo vitorioso.


- Você é mais inteligente do que eu supunha. - Harry aumentara seu sorriso ainda mais com o elogio. Conseguira dar um gigantesco passo naquele momento.


Mas ele não era o único satisfeito.


- Mas ainda assim eu não consegui ver a relação entre Vida e Servidão à Voldemort. - ele suspirara, novamente apoiando os cotovelos em seus joelhos e a cabeça em suas mãos, com ar pensativo. - E agora, sabendo que foi criado por trouxas, ou ao menos conviveu bastante tempo com eles... Continua sem fazer sentido. - sua voz era minimamente frustrada. Trouxas, Voldemort, Servidão, Vida... Que relação poderia haver nisso? Mas decidira sorrir. Não podia se frustrar tão rápido. - Mas EU sei mais que todo mundo. EU sei que é um humano e ainda teve convivência trouxa. - estava triunfante, o seu ego estava na lua.


Naquele momento, alguns andares acima, Lord Voldemort sorria.


- Parabéns, Harry Potter... Quem sabe não seja você a solução para os meus problemas? No final, parece que vai ser mais útil que meus comensais em meus propósitos. - a voz fria e aguda soou cinica e satisfeita, enquanto via, através de uma bacia cheia de água, Harry Potter sentado perto das grades, voltando a cantarolar com ar animado, encarando o chão de pedra cinzenta.

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