Incertezas
Quando se deram conta, já estavam em abril. Sem nenhum acontecimento interessante, o mês se passou tranquilo. Lílian agora estava frequentando a biblioteca mais do que em qualquer época do ano, devido a "proximidade" dos exames finais. Além disso, já estava fazendo uns exames simulados para os N.I.E.M's. Era um tanto exagerada, mas ninguém a conseguia convencer disso. Os marotos continuavam como sempre: Pedro e Maggie juntos pela escola, e o mesmo acontecia com Lene e Remo, que finalmente já haviam parado de ser a fofoca do momento. Tiago continuava ficando esporadicamente com Camilla Mackerel, e Sirius continuava como sempre. Uma menina por semana. No mínimo. Melissa e ele nunca eram vistos juntos. Ou mantinham muita discrição, ou não estavam mais ficando. Como nenhum dos dois jamais mencionara nada a respeito da provável volta, poucas pessoas sabiam onde estava a verdade. Melissa não contara nada as amigas, pois se já tivesse o feito, suas colegas de quarto já teriam contado para toda a escola. O que, deduz-se, ela não contara nada as amigas. Mas não por falta de pressão.
- Eu sei que você e o Sirius estão ficando de novo. - Marlene insistiu, em uma certa quinta-feira.
- Sabe? Que bom. - ironizou a outra loira, lançando um olhar do tipo "não-aqui-nem-agora", fazendo menção ao fato de que nõ estavam sozinhas em seu dormitório.
- Não me olhe com essa cara. - retorquiu Lene. - Todo mundo já sabe.
- Esse povo - ela fez questão de dar ênfase ao desprezo na voz - é muito fofoqueiro. A vida é minha, eu faço o que eu quiser,
- Isso foi uma confissão? - intrometeu-se Lílian.
- Vão cuidar da vida de vocês. - ela rebateu, grossa.
Enquanto isso, em um dormitório perto dali...
- Se você falar ruivinha mais uma vez, eu vou vomitar. - reclamou Sirius.
- E eu vou quebrar a sua cara. - completou Remo, irritado.
- Ha ha ha. - ironizou Tiago. - Depois que começou a namorar com a Lene, o Aluado tá muito mais chato que eu.
- É, - concordou Pedro - e ele ainda fica se achando.
- Vocês é que deviam arranjar uma namorada. - replicou Remo.
- Eu já tenho. - respondeu Pedro.
- Eu também. - Tiago concordou.
- Quem? - perguntaram os três, em coro.
- A Lílian, ué, quem mais poderia ser?
- Ela te odeia, Pontas. - foi sincero Rabicho.
- Ela não me odeia. Ela me ama, apenas não descobriu ainda. E quando descobrir, ficaremos juntos. Pra sempre.
- E eles foram felizes para sempre. - implicou Lupin, fazendo menção ao final de contos trouxas.
- E eu tô muito bem assim. - disse Sirius.
- Discordo. Você sente falta da Melissa. - implicou Tiago.
- Sente mesmo. - concordou Remo.
- Não, não sinto.
- Não sente por que já superou o grande amor que sentia por ela, ou por que ainda estão juntos? - indagou Tiago.
- Essa, - disse Sirius, saindo do quarto - foi a coisa mais idiota que eu já ouvi na vida. - Ele bateu a porta com força, irritado. Saiu de sua Casa, ainda bufando. Deixou os pés decidirem aonde devia ir. Pensava furiosamente em tudo o que ouvira naquela noite. Eu? Apaixonado? Até parece, riu-se ele, absorto em pensamentos. Não podia negar, contudo, que Melissa era apenas mais uma. Mesmo que não sentisse nada por ela - e odiava admitir que sentia -, fora a única menina em toda a sua vida que lhe dera um fora. E não chorara por isso. Até o desprezara. E desde então, jamais pedira para voltar com ele, nem tentara qualquer reaproximação. No entando, também não era fria, nem mantinha distância. Ela agia como se ele não existisse, ou melhor, como se não ligasse para sua existência. E o pior de tudo isso, não era fingimento. Ou fingia bem demais. Ele não se permitia acreditar na primeira opção. Quando deu por si, estava em um corredor, deserto àquela hora, do quarto andar. Resolveu voltar à sua Casa quando verificou que já passava de meia noite. Quando já estava alcançando a Mulher Gorda, ouviu uma voz bastante conhecida às suas costas. Se virou para olhar. Melissa Lewis estava beijando John Lloyd.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou Sirius, indo ao encontro dos dois. Melissa abriu um sorriso, enquanto John encarava os próprios pés.
- Oi Sirius. - ela cumprimentou, indiferente. - Estávamos ficando.
- O quê? - ele perguntou, confuso.
- Estávamos ficando. Você perguntou o que estava acontecendo e eu respondi.
- E você me diz isso assim, tranquilamente?
- Você quer que eu diga como? - ela perguntou, franzindo o cenho. Uma de suas mãos estavam na cintura de John, que ainda contemplava o chão, mudo. - Eu posso gritar isso também, se fizer questão.
- Ah, vá a merda, Lewis. - ele ralhou, bufando de ódio. Que garota mais sem noção. Cínica.
- Credo,[i] Si[/i]. Você costumava ser mais gentil [i]antes[/i]. - Ela sublinhou as últimas palavras. E então, sorrindo, puxou John pelo braço e passou reto pelo garoto, que ainda estava bufando. Melissa suspirou. Quanto mais distância que mantivesse de Sirius, seria melhor para ela. Para os dois. Ainda mantinha o semblante impassível, mas quando chegou ao seu dormitório, gritou:
- IDIOTA! - e foi o suficiente para as quatro acordarem. Suas amigas levantaram na mesma hora, e foram para perto dela. A menina tinha os olhos marejados. As outras duas limitaram-se a arregalar os olhos, e xingar Melissa por ter as acordado. Lene e Lil trocaram de roupa e as três saíram do dormitório. Desceram as escadas e sentaram-se, cada uma em uma poltrona, e Melissa começou a falar.
- Desculpa, Lil, desculpa mesmo, mas...
- Do que você ta falando? - Perguntou a ruiva, sem entender.
- Eu fiquei com o John. - ela confessou, corando.
- De que John você está falando? - perguntou Lene. Lílian estava chocada demais para falar.
- John Lloyd. John da Lil.
- John Llyod. John da Lil. - a ruiva repetiu as palavras. - Por quê? - Melissa mordeu o lábio.
- Não sei. - respondeu por fim, após segundos de hesitação. Lílian arqueou as sobrancelhas, desconfiada, mas não fez alguma objeção. Melissa continuou. - O que realmente importa, e não Lil, não estou menosprezando seus sentimentos, nem o John, - ela acrescemtou, quando Lílian abriu a boca pra protestar - o pior é que o Sirius tava passando na hora e viu.
- Pior? - admirou-se Lene. - Foi bem melhor assim. Aí ele vê o quanto ele gosta de você logo.
- Mas eu não quero isso. - Melissa rebateu.
- Espera. Deixa eu raciocinar. - pediu Lílian. - Você gosta do Sirius, ele provavelmente sente algo de diferente por você, mas você não quer que ele goste de você?
- É. Ou não. Sinceramente? Não sei. - ela suspirou. - Eu não sei se gosto dele. Quero dizer, eu gosto. Mas achei que tinha superado. Mas toda vez que eu encontro ele, tenho que fingir que não tô nem aí pra ele.
- Então, todas as vezes que você age como se nada tivesse acontecido, é tudo fingimento? - perguntou Lil.
- Mais ou menos. Eu não gosto mais tanto dele quanto antes. Eu meio que superei uma parte. Mas não o todo. Vocês conseguem me entender? - ela perguntou, e as amigas apenas assentiram silenciosamente. - Mas ele ainda mexe comigo de um jeito esquisito. Não é aquela coisa de meu coração dar pulos quando eu o vejo, mas me afeta. Mesmo que pouco, mas afeta. E eu não aguento mais fingir que não ligo pra ele, se toda vez que ele fala comigo, eu quase tenho uma recaída. E ele sempre aparece em um momento ruim, na pior hora possível.
- E você... - Lene hesitou. - Você pensa em fazer algo em relação a isso?
- Eu não faço a menor ideia. É isso que me irrita. Odeio ter que olhar pra ele, odeio ter que falar com ele, odeio ter que fingir que não me importo com ele, odeio ficar longe dele. - Os olhos de Melissa se encheram de lágrimas. - Odeio qualquer coisa relacionada a ele, odeio quando não tem algo relacionado a ele. - E ela não pode conter, a enxurrada de lágrimas que jorravam de seus olhos. Tudo o que estava suportando há vários dias agora vinha a tona, sem que ela permitisse. - Odeio que ele exista, odeio ter conhecido ele, odeio ter me apaixonado por ele, odeio ter terminado com ele, odeio ter tentado superar ele, - ela agora enxugava as lágrimas em sua camisa - odeio ter que superar ele, odeio que ele sinta algo por mim, odeio o jeito dele de falar, odeio o jeito dele de rir, odeio o jeito dele andar, odeio tudo que tenha algo a ver com Sirius Black. - Finalmente, ela parou de chorar. Lílian e Marlene a olhavam com o semblante confuso, diante do que haviam acabado de ouvir. Melissa contara tudo a elas, tudo o que relutara em contar por medo e insegurança. As duas finalmente agora entendiam o que se passava na cabeça confusa da amiga. Por fim, depois de vários segundos de silêncio, Lílian levantou-se e abraçou a amiga.
Marlene repetiu o gesto, e as três juntas foram para o dormitório. Sirius Black decidiu que já ouvira demais. Desfez o feitiço da desilusão que o ocultava de ser pego, e foi para seu dormitório. Os pensamentos borbulhavam em sua mente.
***
- Não, Pontas, eu não vou falar com ela. - repetiu Sirius, pela milésima vez.
- Mas devia.
- Pra quê? - perguntou Sirius, vestindo a camisa do uniforme da escola, após o banho. - Pra eu ouvir ela dizer que me odeia? Não, obrigado. De idiotas assim já tem você.
- Ha ha ha. Tá, Almofadas, faz o que quiser. Só não venha reclamar depois, quando eu estiver com a minha ruivinha e você sem a Mel.
- E alguma vez eu já reclamei? - ele perguntou, sorrindo. - Pra você, é Evans, Potter! - ele fez uma voz de falsete, imitando a ruiva. Tiago riu, porém não estava prestando atenção no amigo. Tinha que fazer algo para juntar Melissa e Sirius. Mas para isso, precisava da ajuda de seus amigos. E iria pedi-la o mais rápido possível.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!