A descoberta da descoberta



O mês de fevereiro se passou rapidamente, e com ele o inverno. O castelo, que antes estava completamente coberto de neve, agora era recoberto de flores que caíam das copas das árvores, principalmente nos jardins. E foi em um desses dias que os quatro marotos estavam conversando.
- Quando é a próxima lua cheia? - Sirius perguntou, olhando para Lupin.
- Em uma semana. - respondeu o garoto.
- Já? - espantou-se Tiago. - Então a gente já tem que pensar na próxima desculpa. Acho que elas - indicou com a cabeça Lene, Mel, Lil e Maggie conversando, do outro lado do jardim - estão começando a desconfiar.
- Acho que não, - falou Remo, pensativo - porque elas nem perguntam mais. Acho que elas meio que acreditam...
- Ou disfarçam muito bem. - completou Sirius, sem intenção de fazer o amigo pensar naquela hipótese. Remo não conseguia imaginar, nem por um segundo sequer, que as meninas sabiam de seu "segredo". A hipótese lhe parecia ridícula, pois sabia que sua condição não bem vista pelos outros.


***


Marlene mais uma vez andava pelos corredores de Hogwarts. Como sempre, seu encontro com o seu ficante era última sala vazia do lado Oeste do corredor do quinto andar. Desta vez, ele não estava esperando por ela, como de costume. Os dois haviam combinado de que sempre um chegaria antes, para evitar que fossem pegos de novo, além de deixar um bisbilhoscópio enfeitiçado para detectar qualquer tipo de movimento perto da porta. Na verdade, eles raramente ouviam o barulho do bisbilhoscópio apitando, pois estavam realmente muito ocupados. A garota já estava a ponto de ir embora, quando a porta se abriu e Tom entrou. Ele foi de encontro aos lábios dela, porém ela recuou e disse:
- Você demorou.
- Ah, fala sério. Toda vez eu que chego primeiro. E agora você pode sentir como é esperar... - Mal terminou a frase, o garoto a beijou, fazendo-a desligar-se do resto do mundo. Ela correspondeu, aprofundando o beijo e colocando uma das mãos em suas costas, passando as unhas por sua camiseta. Ele ousou abrir o primeiro botão da camisa dela, e como ela não fez objeção, abriu os restantes, e em pouco as camisas dos dois jaziam esquecidas no chão. O bisbilhoscópio apitou várias vezes, entretanto nenhum dos dois se incomodou com isso, apenas continuaram se beijando, confiando em que a pessoa estava um pouco longe da porta, pois eles o enfeitiçaram para captar movimentos em um raio de cinco metros. Desta vez, porém, a pessoa estava bem perto da porta, e a abriu com um feitiço. Os dois não perceberam que não estavam mais sozinhos, e continuavam se beijando como se não houvesse mais ninguém naquela sala. Remo Lupin pegou as camisas do chão e tossiu para anunciar sua presença. Os dois se separaram imediatamente, assustando-se com a presença do maroto. Os dois haviam esquecido que sempre havia ronda nesta hora. A loira corou quando foi pegar a camisa e vesti-la, e seu rosto se tornou completamente rubro quando ela viu o olhar do maroto fixar-se em seu sutiã. Tom também pegou sua camisa com Remo, e vestiu-a rapidamente. Os dois tentavam ajeitar os cabelos, e Marlene tentava esconder marcas em seu pescoço.
- O que os hormônios não fazem... - comentou Lupin, alternando o olhar entre os chupões no pescoço de Lene e o rosto de Tom.
- Você, hum, - disse a garota, visivelmente desconfortável com a situação - vai nos dedurar?
- Não sei, - ele respondeu - pois vocês estão andando pela escola fora do horário permitido. Isso é contra as regras, e como monitor, tenho que fazer com que elas sejam cumpridas. - Os dois respiraram aliviados. Pelo que haviam entendido, Remo iria apenas dizer que estavam andando pela escola. Não se agarrando pela escola. Porém, findando a felicidade de ambos, continuou: - Além de que vocês estavam, desculpem-me pelo termo, seminus.
- O quê? - exasperou-se Tom. Se isso fose para seus arquivos, provavelmente chegaria aos ouvidos de toda a escola.
- Seminus? Você não acha que está exagerando, Lupin? - perguntou Marlene, ofendida com o termo.
- Talvez. Porém, na falta de termo melhor, falarei isso. Ou então, posso detalhar como vocês estavam enroscados um no outro de tal forma que eu não consegui distinguir de quem eram as mãos. Sem contar nas costas arranhada dele, e o seu pescoço cheio de chupões. Ah, é claro, e o fato de que vocês dois estavam sem camisa. Sinceramente, analisando a situação, seminus não me parece um termo ruim.
- Merda. - disseram Marlene e Tom juntos, resumindo os seus sentimentos. Iriam ganhar outra detenção, e o garoto estava a ponto de ser suspenso do time de Quadribol.
- Porém, - disse Lupin, como se não tivesse sido interrompido - o nosso diretor está ocupado, e eu não acho que este seja um motivo de extrema importância a tratar com ele. Por isso, desta vez vocês passam. - Ele concluiu, indicando a porta. Os dois saíram, sem sequer dizer uma palavra um ao outro. Eles tomaram direções opostas, mas logo Remo caminhava ao lado de Marlene. Mas só foi quando chegaram, após atravessar o buraco do retrato, e na frente de muitos grifinórios, foi que Remo comentou:
- Ah, e a propósito, belo sutiã.


***


Lílian acordou no meio da noite, por causa de um grito. Abrindo os olhos, viu Marlene, que devia ser a autora de tal som, em cima de sua cama, a varinha em punho. A menina estava com os olhos arregalados e vermelhos, e as mãos trêmulas. Ela seguiu a direção da figura do olhar de Marlene e viu uma senhora, cujos traços do nariz e boca eram muito parecidos com o da amiga. O dormitório ainda estava vazio, a não ser pelas duas, o que as deixou ainda mais desesperadas. Marlene balbuciava palavras como "minha mãe", as duas não estavam entendendo bem a situação. Lílian pediu a amiga que ficasse calma, e foi correndo no dormitório dos meninos. Abriu a porta, ainda arfando, e corou na mesma hora. No quarto estavam Tiago e Remo, os dois deitados na cama, conversando, os dois sem camisa. Lílian nunca percebera, mas Tiago, se comparado a Remo, poderia ser classificado até como fraco. O monitor exibia braços muito musculosos, e de lá o olhar de Lílian se desviou para seu abdômen, muito definido. Ela corou mais ainda quando percebeu que os dois garotos perceberam o que ela estava olhando, e olharam para ela. Tiago querou o silêncio:
- O que você quer aqui? - Ele perguntou de maneira ríspida, visivelmente irritado pela garota, que com a visão dos garotos momentaneamente se esquecera do motivo de sua visita.
- A Lene... a mãe dela... - Ela tentou, mas antes de completar a frase, lágrimas escorriam de seu rosto, a garota apavorada pela visão que acabara de ter. - Vamos. - Ela puxou as mãos dos dois, arrastando-os pelas escadas até chegarem no dormitório. Marlene chorava, incapaz de compreender o que se passava. Remo se colocou na frente dela, e instantaneamente a imagem da mãe da menina morta desapareceu, transformando-se em uma lua. Um bicho-papão, concluíram todos, aliviados.
-Riddikulus - Ordenou Lupin, e no mesmo momento, a lua saiu voando pelo quarto, como se fosse uma bola de soprar que acabara de ser furada. Marlene suspirou de novo, aliviada. Depois, começou a rir da situação.
- Gente, me desculpa por fazer vocês virem até aqui, mas com estes tempos sombrios... - Ela deixou a frase morrer no ar, direcionando os olhos azuis para Lupin, como se perguntasse o que ele iria fazer agora. O garoto entendeu o olhar de Marlene, e com alguns acenos de varinha saiu do dormitório feminino, Tiago em seu encalço, e a frente dos dois o bicho-papão(ainda em forma de lua) flutuando. Após os dois saírem, Marlene e Lílian se entreolharam e começaram a rir. De como foram idiotas em acreditar, de como os dois chegaram, de como...
- Hm, Lene? Tem uma coisa que eu não te contei... - Lílian olhou para a loira, que assentiu, indicando a ela que deveria continuar. - Quando eu fui chamar os dois, lá no dormitório deles, os dois estavam sentados, conversando...
- E daí?
- E daí que eles estavam sem camisa.
- E daí? - Ela repetiu. - O Tiago vive sem camisa. Sempre quando acaba um treino de Quadribol ele tira, no final dos jogos também, de madrugada quando ele tá no Salão Comunal ele tambem tá.
- Tá, eu sei. Mas o Remo...
- Eu nunca vi ele sem camisa. - admitiu Marlene, em voz baixa, ansiando saber o que Lílian iria contar.
- Faz o Tiago parecer fraco. - Ela cotinuou como se não tivesse sido interrompida.
- O quê? Você é louca? Tiago Potter fraco? Ahaaam, o Sirius também. - Terminou Lene, com sarcasmo.
- Não disse que ele é fraco, Lene. Só que, comparado ao Remo, ele é praticamente um garoto do segundo ano.
- Meu Merlin! E você ficou lá, tipo, olhando?
- É aí que vem a parte - ela riscou as aspas no ar - "engraçada". Quando eu entrei no quarto, eles ficaram olhando pra mim, e eu pro Remo... - confessou a ruiva. Marlene começou a rir descontroladamente, segundos depois acompanhada pela amiga.
- E o Tiago? O que ele fez? Ele ficou com ciúmes? - perguntou Marlene, como sempre, atrapalhando-se com muitas perguntas.
- Ele só perguntou o que eu queria lá. Não me chamou de lírio, não fez nenhum comentário por eu estar de pijama, e este ainda é curto. - Marlene riu ainda mais, percebendo que Tiago devia estar com muita raiva mesmo, pois nunca em uma situação comum ele deixaria de reparar nos trajes curtos de Lílian. As duas consultaram o relógio pendurado na parede do dormitório e constataram que já passavam das três da manhã. Antes das duas darem boa-noite uma a outra e irem se deitar, Marlene perguntou:
- Será que ele desconfia que a gente sabe do problema dele?
- Antes eu achava que não, mas por causa do bicho-papão dele hoje, tenho certeza que sim. Nós já estudamos os - ela se forçou a dizer a palavra - lobisomens no ano passado, e ele sabe que eu sei os sintomas. Se ele não falar com a gente direito amanhã, nem estranha. E depois de amanhã já é a lua cheia. - E sem esperar resposta, virou-se para o outro lado e dormiu.


***


- Não Remo, pode deixar que eu faço a ronda sozinha hoje. - Lílian ofereceu, na última noite de lua cheia do mês. O menino estava bem abatido, com algumas marcas roxas no braço, que tentava inutilmente esconder. - Você não está bem, não é mesmo? - Perguntou gentilmente, dando-lhe uma xícara de chocolate quente. O menino limitou-se a murmurar um "obrigado" e virar a xícara de um gole só. Desde o dia em que ele, mesmo que sem querer, revelara a forma de seu bicho-papão ele vinha evitando as duas meninas, e até Melissa, pois tinha certeza que as garotas poriam-na a par da situação. Olhando para o céu, que já estava quase escurecendo totalmente, se despediu dela e saiu. Andou pelos corredores sozinho até a enfermaria, quando encontrou Madame Pomfrey conversando com McGonagall e seus três melhores amigos afastados.
- Elas sabem. - falou quando os encontrou. Os quatro ficaram mudos por um tempo, sem saber o que falar. Tiago, Pedro e Sirius buscavam escolher as palavras antes de usá-las quando o assunto era esse. Eles tinham uma pequena desconfiança de que elas já sabiam do "problema peludo" do monitor, mas jamais se preocuparam com isso.
- Você tem certeza? - perguntou Tiago, quebrando o silêncio.
- Quase. Vocês sabem que a Lílian é muito inteligente, ela sabe reconhecer os sintomas de um monstro como eu. - Os três balançaram a cabeça, num sinal de repreensão pelo uso da palavra. - Foi o meu bicho-papão que a fez ter certeza. E elas sempre perguntavam porque eu estava tão machucad...
- Perguntavam. - interrompeu Sirius. - Não perguntam mais. Acho que elas esqueceram, ou que simplesmente pararam de se preocupar. Ou ainda não ligaram os pontos e não sabem de nada.
- É uma hipótese. - considerou Pedro, recebendo tapas na nuca, tamanha a idiotice do comentário. Remo discordou.
- Elas sabem sim. A Lílian se ofereceu hoje pra fazer a ronda sozinha. E disse que eu não estava bem. E me deu uma xícara de chocolate. - Os outros ficaram calados. Não tinham como contra argumentar a isso. Porém, Tiago arriscou:
- E se ela percebeu as suas manchas e deduziu algo errado? - Tentou, mais esperançoso do que realista.
- Eu sei que elas sabem. - concluiu Lupin por fim. - Vamos. Está na hora. - Os quatro saíram da enfermaria, e foram andando em direção aos jardins. Entraram na Casa dos Gritos pela passagem do Salgueiro Lutador, e quase instantaneamente na hora em que Pedro, o último a entrar chegou, a lua encobriu o céu e Lupin se transformou, seguido pelos outros. Nem sonhavam que, muito longe dali, no dormitório feminino do 7º ano, três meninas tentavam observá-los, apreensivas.


***


Após a semana da lua cheia, Remo se animou um pouco mais. Porém, a dúvida sobre o conhecimento das meninas sobre seu "problema", como preferia falar, estava o consumindo por dentro. Embora uma parte dele tinha certeza que elas não sabiam de nada, pois a maioria dos bruxos tinha horror à lobisomens, outra parte dele acreditava que elas sabiam, e por isso não estavam mais falando com ele. Porém, era ELE que não estava mais falando com elas, e não o contrário. Diante dessa dúvida, resolveu consultar os amigos:
- Vocês acham que eu devo perguntar pra elas se elas sabem?
- Claro que não! - respondeu Sirius na mesma hora. - E se elas não souberem? Aí é que você tá ferrado de vez, porque elas vão encher o saco até saber da verdade.
- É, - concordou Tiago - mas se isso tá te matando, pergunta.
- Onde está o Pedro? - Sirius quis saber.
- Na cozinha, provavelmente.
- Não, - discordou Lupin - provavelmente está com a Maggie, em alguma sala vazia por aí. Mas não mudem de assunto.
- Não estamos mudando. - responderam os dois, em uníssono. Um olhou para a cara do outro e não conseguiram segurar o riso. Logo Lupin também se juntou aos dois, e resolveram que resolveriam esse problema amanhã...


***


Lene entrou no dormitório, batendo a porta com força atrás de si. Lílian e Melissa se olharam, assustadas. A garota estava vermelha de raiva, lágrimas escorriam por sua face.
- O que aconteceu Lene? - perguntou a loira.
- O IDIOTA DO LESTRANGE! CRETINO, IDIOTA, BURRO, IMBECIL. MERDA. MERDA. MERDA.
- Calma, Lene. O que ele fez? - quis saber a outra garota. Marlene precisou respirar fundo várias vezes até se acalmar. Quando finalmente conseguiu dizer algo que não fosse xingamentos, começou a falar.
- Eu tava lá com o Tom, naquela sala vazia do terceiro andar...
- De novo? - perguntaram as duas, em coro.
- O que aconteceu com a boa e velha Sala Precisa? - continuou Melissa.
- Ah, sei lá. É mais por hábito mesmo. Não me interrompam. - ela decretou, respirando fundo mais uma vez. - Aí a gente tava lá, e tal, e o bisbilhoscópio começou a apitar, só que nessa hora a gente já tava sem camisa, - ela corou ao dizer a última afirmativa - e não deu tempo de colocar, e aí a porta abriu, e o BABACA DO RABASTAN apareceu lá, com aquele distintivo de monitor RÍDICULO, - Lílian fez um muxoxo de desaprovação - e ficou falando que ia contar ao Filch, que a gente tava ferrado.
- E aí?- Melissa perguntou.
- Aí ele saiu pra contar pro Filch, a gente ia seguir ele, mas a gente tinha que terminar de se arrumar primeiro, aí quando a gente viu, ele já tinha sumido. Legal. Mais uma detenção.
- Mas o Filch já apareceu e disse que você vai ganhar uma detenção e marcou o horário e o dia?
- Não, mas tenho certeza que logo eu vou estar recebendo uma coruja daquele idiota. - Ela se virou pra Lílian - Lil, não tem como mesmo você tentar falar com o Filch pra ele me livrar dessa detenção?
- Eu já disse mais de mil vezes, Lene. - Os olhos verdes da garota piscaram de forma amigável, como se pedisse desculpas. - Mas eu já te livrei umas cinco vezes, e toda vez que eu tento falar com o Filch agora ele dá uma desculpa e sai. - As três ficaram mudas por um tempo, pensando no que poderiam fazer. Essa seria a décima primeira detenção de Marlene, e McGonagall havia dito que ela poderia ser expulsa se continuasse recebendo tantas detenções.
- Lupin! - exclamou Melissa, que acabara de ter uma ideia. - A Lil não pode, mas ele também é monitor...
- Você é um gênio, Melisa Lewis! – exclamou Marlene, para depois sair correndo do quarto, procurando o monitor. Quando o achou, os dois conversaram e ele disse que iria tentar falar com Filch.
- Mas com uma condição, Marlene. – ele acrescentou.
- Qualquer coisa!
- Você tem que prometer que nunca mais vai sair por aí se agarrando com o Oxley em salas vazias.
- Tá. – ela concordou. – Você disse salas vazias. Isso inclui a Sala Precisa?
- Não. – ele respondeu rindo.
- Obrigada, Remo. Pelo contrário do que muitos idiotas acham, você é um anjo.
- O quê? - Ele perguntou. As palavras escaparam da boca de Marlene sem que ela percebesse. Os olhos do garoto piscaram furiosamente. Nenhum dos dois conseguia acreditar.
- N-nada. - respondeu ela, virando-se de costas para sair dali, mas Remo a agarrou pelo braço.
- Vocês sabem? - a garota apenas assentiu. Ele esperou uma resposta dela, que disse:
- Sim.
- Como? - indagou o garoto. Não conseguia acreditar que aquilo era verdade. - Foi por causa do bicho-papão não é?
- Não. - respondeu Marlene, e o rosto do garoto se transformou em um misto de confusão e incredulidade. Os olhos dele mais uma vez pentraram os dela, e ela pela primeira vez reparou naqueles olhos castanho-claros, quase cor de mel. Ele continuou mudo, em um claro sinal de que ela deveria prosseguir. Ela suspirou, forçando-se a desviar o olhar daqueles olhos incríveis e continuou: - A Lil já sabia desde o quarto ano, quando ela, por conta própria, resolveu estudar os lobisomens. Ela percebeu que você sempre sumia na semana da lua cheia, e ela ficava perguntando onde você ia. Ela sempre teve essa suspeita, mas nunca teve a chance de confirmar. Por isso ela te enchia o saco perguntando. Mas esse ano, a Mel veio pra cá, e não sei se você sabe, mas o pai dela é chefe de uma seção lá no Ministério, que ele tem acesso ao registro de todas as - ela engoliu em seco, o olhar pedindo desculpas - criaturas mágicas. Aí um dia ela tava mexendo em uma pasta dele, e viu nome dos... - Marlene parou de falar abruptamente. Falar aquela palavra machucava-a mais do que poderia prever.
- Lobisomens. - completou ele. Os dois ficaram em silêncio por um tempo, e ela resolveu que deveria encerrar o assunto.
- É isso, Remo. Posso ir?
- Ainda não. - respondeu ele. - E você? Como ficou sabendo?
- Elas meio que deixaram escapar, mas eu já desconfiava também. E, bom, a gente meio que fica olhando quando vocês vão pro Salgueiro Lutador. - Ela não queria continuar a falar, pois sabia que logo ele descobriria que elas também sabiam da animagia dos outros três marotos.
- Então vocês também sabem...? - Lupin estava incrédulo. As meninas haviam descoberto o maior segredo dos quatro.
- Que eles são animagos. Sim, sabemos. E também sabemos que são ilegais, porque a Mel pegou os registros de animagos em toda a Inglaterra e não tem o nome de vocês lá. Finalmente nós entendemos o porquê dos apelidos. Aluado, Almofadinhas, Pontas e Rabicho. - Ela fez menção de sair. Quando já estava com um pé na escada para ir ao dormitório, a voz de Remo a fez parar.
- Então por que ainda falam comigo?
- Quê? - fez a garota, voltando ao lugar onde estavam conversando anteriormente.
- Então por que ainda falam comigo? - ele repetiu.
- Eu é que te pergunto: por que você faz essa pergunta? Será que você não percebe que você NÃO é um monstro? Será que você não percebe que as pessoas que te julgam por ser como você é são um bando de idiotas? A culpa não é sua. Você não é assim porque você quis. E mesmo assim, caramba. Você é um dos melhores alunos desta escola. Você é monitor. Você é um maroto. Você é um dos - ela corou ao acrescentar a última parte - garotos mais desejados desta escola, e com razão. - Ela ficou vermelha da cabeça aos pés, tentando fazer com que não percebesse a última parte da frase. Foram esforços inúteis, ela descobriu, quando viu o garoto dar um sorriso de canto de lábio. Ele foi se aproximando vagarosamente dela, e em segundos os dois estavam com os rostos colados. Ele aproximou o rosto do dela. Ah não, ele vai me beijar, pensou a garota. Porém, quando a disância entre os dois era ridícula de tão pouca, seus lábios se roçaram. Ela agora ansiava por esse beijo. Não, pensou, tendo um lampejo de razão, eu tenho um namorado. Não posso fazer isso com ele. E, reunindo todas as forças que tinha, empurrou-o de leve, fazendo-o se separar dela, sobressaltado. Ela virou as costas e subiu correndo para o dormitório. Somente quando chegou lá, totalmente vermelha, lembrou-se de respirar.

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